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COLABORAGAO Teoria geral do constitucionalismo José Aureno pe Ouivena BaRAcHo Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, Livre-Docente ¢ Doutor em Diretto. SUMARIO. 1 — Antecedentes do constitucionatismo 2 — Principais aspectos do constituctonalismo: temas Jundamentais 3 — Constitucionalismo cldssico 4 — Constitucionalismo social 1 — Antecedentes do constitucionalismo A elaboracéo de uma Teoria geral do constitucionalismo constitui tema essencial para a formulacao dos aspectos da relacéio entre Estado e Constituicéo, tendo em vista o enquadramento juridieo dos fenémenos politicos. As indagacées sobre a Constituiggo do Estado aparecem nos autores classicos de Teoria do Estado. Entendem da necessidade de todo Estado ter uma Constituigéo, Essa abrange os principios juridicos que designam os érgéios do Estado, os modos de sua cria- $0, suas relagdes mutuas, fixam o circulo de sua atuacéo e a situagao de cada um deles no Estado. A palavra, constitucionalismo decorre das primeiras investiga- gGes sobre Constituigao. O significado de “Constituigao”, através dos tempos, coloca-nos ao lado das investigacdes em torno dos classicos gregos, com a tradigéo juridico-romana, com as idéias que surgiram no medievo, com a concepgao juridica germanica e com os sistemas da “common law”. ALESSANDRO PizzoRUsso afirma que na primeira fase dos estudos de direito constitucional existe @ sua vinculagéo com a ideologia politica denominada “constitu- cionalismo” (3). (1) PIZZORUSSO, Alessandro. Leziont dé Diritto Costituzionale, 1 Foro Italla- no, 1964, 3° ed. R. Inf. legisl. Brasilia a, 23 + 91 jul./set. 1986 5 O desenvolvimento do constitucionalismo, pelos estudos de suas manifestacdes doutrindrias e experiéncias institucionais impie- mentadas, mostra o lugar que a Constitui¢éio ocupa. A relagiio com as doutrinas e ideologias, que se manifestam na fixagdo do “Estado constitucional”, no “regime constitucional”, no Estado liberal, no Estado de direito e no Estado social de direito, fornece-nos os ele- mentos essenciais da evolugao do constitucionalismo, com destaque de temas como: significado da Constituicaio, formacio da Consti- tuigéo, contetidos da Constituigéo, variacdes da Constituigao, protecaéo da Constituicaéo, modelos e ciclos constitucionais (*). Esses estudos constituem o fulero da Teoria da Constituicéo, relacionada com o exame da Constituicao e suas implicagdes com a Teoria Geral do Direito e a Teoria Geral do Estado. Esse contato com a Teoria Geral do Direito e do Estado levara a um marco teérico basico no exame da Constituigéo, através do conhecimento de seus conceitos essenciais. O exame da Constituicéio demanda sélida fundamentagao te6rico-juridica. Os questionamentos acerca, da Constituigéo sugerem varias indagagées. Que é uma Constituicéo? Que fungaio tem? Como surge? Diversos discursos partem do exame da palavra Constituigiio € seus equivalentes. Como objeto imediato do constitucionalismo esta a procura do seu significado técnico e axiolégico. Essa metodologia parte da averiguacao de quais so os usos “‘paradigmaticos” da Constituicao, seus uSos € concepcOes originatias de um lado e os usos “modelos” que a palavra comporta. As diversas compreensées que a palavra acoberta estéo em , Locke, Rousseau, Kant, MoNrEsquizv, HAMILTON, , TOCQUEVILLE, JELLINEK, SCAMYIT, KELSEN, LOEWENSTEIN, Burpzav e outros. A tarefa da politica, no que ARISTOTELES estdé de acordo com PiatTao, consiste em encontrar a melhor forma de Estado. Afirma- tiva acolhida, também, na £tica a Nicémaco. Comecamos por juntar (2) VERGOTTINI, Giuseppe de. Diritto Costituzionale Comparato, Padova, CEDAM, 1961; AMORTH, Antonio, Curso di Diritto Costituzionale Compa- ; MANNA, Giovanni, Napoli, 1879; McILLWAIN, C. H, Constitutionalism and the Changing World (1917-1947). New York, 1989; idem Constitutionalism Ancient and Modern (1940). Ithaca, 1987; DI RUFFIA, Biscaretti. Costitueionalismo. Milano, Ed. D. XI, 1962; MATTENCCI, N. Costituzlonalismo, em Dizionario dt Politica, Torino, 1976. 6 R. Inf. legis!. Brosilio a. 23 n. 91 jul./set. 1986 os fragmentos bons que sdo encontrados nas declaragdes de nossos predecessores. Depois de examinar as “Constituigdes” que colecio- namos, trataremos de averiguar que classe de coisas mantém ou destréi as comunidades e quais so as distintas “Constituigdes parti- culares”; a causa pela qual algumas séo bem administradas e outras mal; apds essas investigacdes podemos chegar a uma visio mais penetrante de qual é a “melhor Constitui¢do”, que classe de regulagGes, de leis e de costumes é melhor (). A constatacéo da importéncia desse posicionamento leva AnpRE Havuriou a afirmar que o berco do direito constitucional encontra-se no Mediterraneo Oriental e, mais precisamente, na Grécia. Mais tarde, localiza-se em Roma. ARISTOTELES demonstrou, em obra que infelizmente desapareceu, a existéncia Aquela época de 158 Constituigdes. O didlogo entre Poder e Liberdade, consta- tado em outras sociedades politicas anteriores, é claro na Grécia, pelo que o publicista francés refere-se a uma “constitucionalizagao do poder” (*). O sentido originério de Constituigao remonta 4 Grécia e Roma; sob a denominagao de Athenaton politeia conhece-se o trabalho de ArisTOTELES em que ele analisa a forma, a estrutura e administra- ao do governo de Atenas. A expresso 6 traduzida como Athenien- sium Respublica, conhecida universalmente como a ‘“Constituigio de Atenas”. Potiteia € traduzida pela grande maioria dos filésofos como a expresséo moderna Constitui¢éo. Muitos autores escolhem como ponto de partida a analise do conceito de Constituigao prove- niente de ArisToreLes, especialmente tomando por base a descricio de uma Constituicao, a de Atenas, A palavra “politeia” refere-se & maneira de ser da “polis”, sua forma, estrutura e organizac&o, As indicacdes seguintes revelam a importaneia da teorla constitucional grega, quando destacamos os seguintes aspectos, assinalados por ROLANDO TAMor0 ¥ SALMORAN: @) Politeia (Constituicéo) como forma de ser da “polis”: seu funcionamento indica o tipo de governo e a sua identidade com a “Constituigéo”, oo MAYER, J. P. Trayetoria del Pensamiento Politico (Com a colaboragio de R. H. S. CROSSMAN, P. Kecskemeti, E. Kohn-Bramstedt, C. J. S, Spaigge). Méxleo, Fondo de Cultura Heonémica, 1941, trad. de Vicente Herreno, p. 54. (4) HAURIOU, André. Droit Constitutionnel et Institutions Politiques. Paris, ‘ditions Montchrestien, 1970, 4* ed., pp. 32 € ss; CLOCHS, Paul. La Démo- cratie Athénienne, Paris, Presses Universitaires de France, 1951; MOSCA, Gaetano. Historta das Doutrinas Politicas. Desde a Antigiiidade, completada com as Doutrinas Politicas desde 1914, por BOUTHOUL, Gaston. Rio de Ja- neiro, Zahar Editores 1958, trad. de MARCO AURELIO DE MOURA MATOS; MAILLET. Institutions Politiques et Sociales de L’Antiquité. Dalloz, 1971, 2 ed. R, Inf. legisl, Brosilia a. 23 n. 91 jul./set, 1986 7 b) Constituig&io como distribuigéo de fungdes: a Constituigao (politeia) determina as funcdes dos cidadados ¢ estabelece a orga- nizacio da “polis”. c) Constituicéo como “esquema” ou “padrao ideal’. @) Constituicéio como governo da “polis”. e) Constituigéo como “nomos” ou conjunto de leis (nomos). f) Constituicéio como legislacdo especial: encontra-se uma legislacdo denominada “Constituicdo”, que se pode diferenciar de outras leis. g) Constituigao como regras de competéncia. A “polis” como estrutura juridica e politica foi de suma impor- tancia para a historia institucional. Essa “‘politeia” converteu-se em paradigma, transformando-se no objeto da primeira reflexdo constitucional. A reflexéo constitucional sobre a estrutura e fungdo da comu- nidade politica teve como objeto outras comunidades, com carac- teristicas diferentes. Mas mesmo assim, utilizaram a “polis” como tipo, ou modelo de descricao. Em Roma, a palavra “constitutio” teve grande importancia no direito e na jurisprudéncia. & efetivamente dai que provém: constitutio, onis. Passou a ser usada no Império do Ocidente, em Bizdncio e nos novos reinos europeus: “‘Constitutio, onis, viene del verbo latino “constituere” (constituo, is, ere, stitui, stitutum”) el cual se forma a su vez, de la particula “cum”, que significa son, y del verbo “statuere” (statuo, uis, uere, utum), que significa poner, colocar, levantar, construir, fundar” (*). A palavra passa a ter varios significados como: Estado, postura, condic&o, carater, constituigéo (constitutio corporis), disposicéo, ordem, organizacdo (Constitutio Reipublicae), norma, estatuto, lel. Outras palavras ajudam 4 compreensio de seu significado; constitutum (convengao, acordo, pacto): constituere (construir, fundar, instituir, dispor). No que se denomina de usos forenses de “constitutio”, ROLANDO Tamoyo Y SaLMorAN destaca: o que se estabelece juridicamente (constituere) tem o sentido de criar uma situagio, relagéo de obrigagiio juridica. () SALMORAN, Rolando Tamoyo y. Introducciin al Estudio de ta Constitu- cidn. Tomo I. Et Siguificado de “Constitucién” y el Constitucionalismo. Mé~ xico, Universidad Autonoma de México, 1979, p. 33. a R. Inf. legis!, Brasilia a. 23 n. 91 jul./set. 1986 Com o tempo constitutio passa a indicar um ato legislativo em geral ou seu resultado: “constituere iura (ius)”, estabelecer nor- mas, Expresso que passa a indicar todo tipo de legislacdo prove- niente do “populus”, do pretor, do Senado, do imperador e dos juristas, inclusive o costume juridico (ius moribus constitutum). No Digesto 1.4.1 est dito que a Constitutio é 0 que o imperador ordenava (principi placuit) e que tinha forca ou vigor de lei, aplicada como se fora uma lei (legis vicem obtinet). Para os romanos a fonte de todo direito era 0 populus romanus, inclusive o contido nos “decreta” e “rescripta” do imperador. As constitutiones gerais valiam como lex porque o “populus” assim o dissera, dai que eram obrigatorias a todos. A publica sponsio era um compromisso de todo o populus e as constitutiones valiam como tais. No Império do Oriente as diversas comunidades transforma- ram-se em civitas, onde as constitutiones ocupam lugar de relevo na regulacdéo do Império. Predomina ai a tendéncia de converter todo direito em direito legislado. © publicista mexicano menciona as grandes colecGes de Consti- tuigdes: codices gregorianus e hermogenianus; e o codex theodo- sianus, As Constitutiones so os instrumentos que estabilizam o direito. Esse passa a ser o instrumento tipico da burocracia imperial. O yelho direito criado pelo populus e reformulado pelas responsa dos juristas deixa de existir. Constitutiones significa o arsenal juridico do Império(*). Ocorre significativa mudanca na estrutura politica do medievo, resultante da adapta¢ao do direito publico romano, influenciado pelas condigées feudais, dos costumes locais € da religido crista. Para que a Constituicdo seja entendida como legislacao nego- ciada — Pactos — Cartas, com o estabelecimento de prerrogativas e obrigagées entre governantes e stiditos, tornou-se necessaria a renovacéo das bases da comunidade politica, ocorrida com a chegada da Idade Média. A Constituicéo adquire naquela época, progressivamente, 0 significado de legislac&io, que tem o objetivo (6) FERRERO, Guglielmo. Histéria Romana. Sio Paulo, Livrarla Martins Edi- tora, 1947, trad. de BRENNO SILVEIRA; MOMMSEN, Teodoro. Compéndio del Derecho Publico Romano. Buenos Aires, Editorial Impulso, 1942, 1 e PALMA, Luigi. Corso di Diritto Costituzionale, Firenze, Giuseppe Pellas, Edi- tore, 1877, 3 vols; BURDEAU, George. Une Survivance: la notion de Cons- titution, em L'Evolution du Droit Public, Eudes Offertes @ Achille Mestre, Paris, 1956. de fundamentar e explicar as relagdes de poder dos individuos na comunidade politica (cidades e reinos). Dentro dessa nova conjuntura ocorre a formagéo de um novo conceito de Constituigaéo, A Igreja utilizou o termo “Constitutio” do direito romano, aplicando-o as regulamentacées eclesidsticas, validas para toda a Igreja ou alguma provincia eclesiastica parti- cular. Em seguida, 0 termo voltou a ser empregado na Idade Média. para as disposigdes legislativas do poder temporal. ‘Na Espanha, mostra RoLanpo Tamoyo ¥ SALMoRAN, 0 vocaébulo “Constituigéo” foi usado para denominar as cartas ou fueros outor- gados pelos monarcas as regides, cidades e vilas. As cidades cujos privilégios eram estabelecidos pelas Constituigées (pactos, cartas ou jueros) tiveram grande destaque na vida constitucional do medievo. As Constituicées, como pactos, eram postuladoras de franquias ou liberdades outorgadas pelos principes. Com o surgimento das unides ou ligas de cidades, para defen- der seus direitos (Liga Hanseatica, de Rhin, das irmandades de Castela e Lion, as cidades de Languedoc), renovam as suas formas de reivindicagao. Com elas a Constituigaéo comeca a abranger, além dos privilégios e pactos, a representacdo. Surgem os conselhos ou parlamentos que obtinham o juramento do rei de no violar ou transgredir pactos, nem os direitos por eles consentidos: eram as leis do reino. A partir do século XII ocorre a preocupagdo em obter um reconhecimento contratual dos direitos ou prerrogativas, Apa- recem 0s movimentos para obtencdo de Cartas, nas quais vissem a garantia de seus jura e libertates, As cartas, pactos ou Constituigdes definiam o estado juridico de uma coletividade, de um territério ou de uma cidade. Essas “liberdades” e “‘privilégios” foram paulatinamente desaparecendo, devido ao fortalecimento do poder central das monarquias. ‘Na Inglaterra “Constitution” refere-se, da. mesma maneira, a franquias e privilégios de certos estamentos. As “Constitutions of Claredon” de 1164 referiam-se as relagées entre a Igreja e o Estado. ‘A organizacdo politica repousa em um pacto celebrado entre os governados, que convém em obedecer, e os governantes, que se comprometem a assegurar a ordem e respeitar as condigdes postas a0 seu direito de mandar: respeitar as leis do reino, as liberdades e prerrogativas dos stditos. Aparece a concep¢ao do pactum subjec- tionis, com o objetivo de delimitar as bases e os limites do arbitrio dos governantes. 10 RS Ink. legisl. Brasilia o, 23 n, 91 juli/set, 1986 A mais conhecida dessas Constituigses € a Carta Magna de 19 de junho de 1215, resultante das transacGes entre o rei Jodo e os bardes. Apesar de Constituigéio, as vezes, ser empregada com o sino- nismo de “leges”, do latim, ela passa a significar uma legislagao especial, correspondente a um compromisso basico fundamental. Esse novo entendimento difere do uso antigo. & um compromisso fundamental, leis fundamentais da comunidade ou leis fundamen- tais do reino. Séo aquelas garantidas pela jurisdictio e que estao estabelecidas, por escrito, em certas cartas (id est, Carta Magna) e nos costumes do reino (id est, en el Common Law). Decorrem dos pactos entre 0 povo e os principes, A palavra Constituicdo passa a ter novos significados, com 0 correr do tempo, A nog&ao moderna de Constituigao aparece como resultado de alguns fatores: 1) O aparecimento dos conceitos de “comunidade” e Estado, Com a Teoria do Estado Nacional surge uma nova fase, que visa substituir as principios e a pratica do consti- tucionalismo medieval. O poder politico, em grande parte, disperso entre feudatérios e corporagées, condensou-se, rapidamente, nas maos do monarea ("). 2) Proteedo judicial dos pactos e o nascimento dos civil rights. 3) O aparecimento das Cartas das colénias inglesas norte-americanas. 4) © prestigio da doutrina moderna do direito natu- ral (°). O advento da Constiluigéo escrita dara inicio a uma impor- tante fase do constitucionalismo. Nesse periodo destaca-se a Consti- tuigfo de Virginia de 1776, a tradigéo politica da Inglaterra, a pratica constitucional das colénias inglesas norte-americanas e a filosofia da Europa, na época da Ilustragao. A filosofia politica da época; os direitos do homem que respondiam ao modelo racional da natureza do homem; as idéias que prepararam as novas Consti- tuigdes que deveriam ser votadas por Convencées ou Assembléias Constituintes estabeleciam as novas bases do exercicio do poder ¢ (1D SABINE, George H. Historia de la Teorta Politica. México, Fondo de Cultu- ra Econémica, 1945, trad, de Vicente Herrero, pp. 321 © ss. (8) SALMORAN, Rolando Tamoyo y. Introduccion at Estudio de la Constitu- ida, ob, cit., p. 54; AGESTA, Luls Sanches. Ei Pensamiento Politico det Despotismo ilustrado. Madrid, Instituto de Estudios Politicos, 1953; MIDY, ©. -Henri. Le Régime Constituttonnel. Paris, Garnier Fréres, 1809. R. Inf. fegisl. sitia a. 23 n. 91 jul./set, 1986 W a liberdade do cidaddo. As Constituigdes anunciavam nova etapa do constitucionalismo. As citagdes dos filosofos nos discursos e escritos, na colonia, eram frequentes: Locke, Rousseau, Grocio, PUFFENDORF, BECCARIA € MONTESQUIEU. A Constituicéo Federal dos Estados Unidos de 1787 abre nova fase no uso da palavra “Constitui¢éo”, que passa a significar lel escrita, estabelecida por um érgao especifico — the convention — que determina os limites da aco governamental. Esse entendi- mento recolhe a tradi¢éio constitucional da colénia; supremacia da carta constitucional; repertério de competéncias; a filosofia e a jurisprudéncia inglesa; governo por consentimento; competéncia dos tribunais para conhecer de todas as controvérsias de direito; as idéias da filosofia politica da ilustrac&o; democracia republi- cana; igualdade e laicizacao na Constituigdo. A nogiio de Constituigéo é de grande importancia entre os constituintes franceses. A maneira de criag&o do novo entendimen- to sobre Constituicdo estava ausente da nogio tradicional. Seu carater criador e renovador estava assentado no proprio entendi- mento sobre o orgio constituinte. Nesse momento da evoluciio do constitucionalismo destaca-se a Assembléia Constituinte. A Consti- tuicdo 6 uma regra formal, cuja autoridade provém da qualidade de seu autor. Ela resulta de Atos Constituintes: atos de convengées, de assembléias ou de congressos constituintes. Seu aspecto formal decorre do seu carater predominantemente juridico e convencional. O universalismo da Constituigao escrita 6 uma questo plena- mente reconhecida na organizacao estatal contemporanea. Prati- camente todos os Estados tém Constituigao escrita. Atualmente, ainda que parcialmente, poderemos dizer que carecem delas: Gra- Bretanha, Nova Zelandia e Israel (*), © processo do constitucionalismo pode ser visto por seus antecedentes mediatos e imediatos, conforme constatamos anterior- mente. O periodo que melhor ir contribuir para a sua elaboragao doutrinaria e institucional pode ser assim definido: “Las revolu- ciones inglesa, norteamericana y francesa y el profundo y vasto (9) SALMORAN, Rolando Tamoyo y. Introduccion at Estudio de la Consti- tucién, ob. cit, pp. 71 € ss.; GONAULT, Jacques. Comment la France est Devenue Republicaine. Les Hlections Générales et Partielles d VAssembléc Nationale 1870-1875, Paris, Librairie Armand Colin, 1954; LEPOINTE, Ga- briel. Histoire des Institutions du Droit Public Franeais au XIXe sidcle — 4789-1914, Paris, Editions Domat Montehrestien; DUGUIT, L. Monnier, 1. Honnard, R. Les Constitutions et les Principales Lois Politiques de La Fran- ce Deputs 1789. Parls, Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence, 1952, 7 ed, PRELOT, Marcel. Histoire des 1dées Politiques. Paris, Dalloz, 1970, # ed. 2 - OR, Inf, legist. Brasilia o. 23 n. 91 jul./sel. 1986 movimiento ideolégico que las inspira, dentro del cual influyen decisivamente las concepciones jusnaturalista y contractualista, son los generadores inmediatos del constitucionalismo moderno, cuyas extensas y ramificadas raices hemos examinado en paginas anteriores” (1°), As idéias patrocinadoras do constitucionalismo divulgaram as intengGes que decorreram desses movimentos revolucionarios e das doutrinas que as inspiraram. A necessidade de uma Constituicio eserita teve rapida difuséo no Continente europeu, para depois surgir em varios locais, mesmo bem distantes (‘!). SANTI ROMANO menciona as diversas modalidades que contribuiram para a propa- gacao do constitucionalismo. Pode operar-se pela forga juridica originaria de seus textos ou leis, bem como pela transmigracdo, com modificacdes parciais ou integrais. Santr Romano refere-se ao direito constitucional geral do Estado moderno, cujos caracteres essenciais podem ser indicados com & expressdo constitucionalismo. Esse vocabulo designa as insti- tuigdes e os principios adotados pela maioria dos Estados a partir dos fins do século XVIII, através de um governo constitucional, em oposigéio ao que denomina de absoluto. Para o publicista italiano 0 direito constitucional dos Estados modernos resulta das institui- cées inglesas e outras que delas se derivaram: “A instauragdo nestes outros Estados de ordenagdes constitueionais tendo caracteres mais ou menos seme- Thantes aqueles da ordenacdo inglesa deu-se de diversos modos e com diversas figuras, de forma que seria conve- niente definir e distinguir” (7). As diversas formas de propagagdo das ordenagées juridicas, além dos Estados em que elas se originaram, foram um momento decisivo para o constitucionalismo. A experiéncia inglesa teve deci- siva influéncia nos Estados Unidos, bem como nas ordenacées constitucionais de antigas colénias do Império Britanico. O constitucionalismo na Europa continental teve origens e caracteristicas diferentes, mas nao deixou de ter influéncia de varios (10) QUINTANA, Segundo V. Linares. Derecho Constitucional ¢ Instituetones Politicas, Teoria Emptrica de las Instituciones Politicas. Tomo TI, Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1970, p. 563. (GD PEREZ, Juan Beneyto. Historia de tas Doctrinas Politicas, Aguilar, Madrid, S.A. de Ediciones, 1950, 2° ed., pp. 390 € 88; SIEYES, Emmanuel, Quest-ce que te Tiers Etat? Geneve, Librairie Droz, 1970. (12) ROMANO, Santi, Principios de Direito Constitucional Geral, Sko Paulo, Edi- tora Revista dos Tribunais, 1977, trad. de Maria Helena Diniz, p. 47. R. Inf. logis!, Brasilia a, 23 n, 91 jul./sot. 1986 13 institutos mais gerais e importantes que podem ser remontados ao direito inglés: “1) o instituto da monarquia constitucional (as mo- narquias precedentes eram absolutas): naqueles Estados que nao adotaram a forma de governo republicano, que, naturalmente, implica em maior destaque do governo inglés, pelo reflexo que tal forma de governo tem sobre muitas outras instituigées; 2) o parlamento bicameral: alguns Estados, porém, tém preferido o sistema unicameral e em outros 0 bica- meralismo tem assumido carater absolutamente diverso; 3) 0 instituto da representag&o politica, efetuado com ao menos duas camaras, e cujos membros sao costumei- ramente designados por eleigéo popular; 4) 0 governo de Gabinete e sua responsabilidade perante o parlamento; 5) as liberdades publicas e suas garantias constitucio- nais” (1°), A elaboragao da Teoria Geral do Constitucionalismo, assentada sobre os pressupostos anteriormente referidos nesse trabalho, tem grande significacio na fase do desenvolvimento da Teoria das Constituigoes. Essa comeca por indagar o que é uma Constituigao no regime do Estado constitucional. Cart, Scumrrr afirma que a palavra “Constituigéo” admite uma diversidade de sentidos. Parte de um sentido amplo, sem qualquer significado especifico do termo. Chega ao que denomina Constituiggo do Estado, a unida- de politica de um povo. #, também, um sistema conjugado de normas, que designa uma unidade. Ressalta a formula pela qual entende-se por Constituicdo uma série de leis de certa tipo. Consti- tuigdo e lei constitucional recebem o mesmo tratamento. Cada lei constitucional pode aparecer como Constituicéo: esse conceito & relativo, no afeta a um todo, a uma ordenagao e uma unidade, mas a algumas, varias ou muitas prescrigées legais de certo tipo. A definic&o usual dos tratados e manuais é a de que a Consti- tuigdo é a norma fundamental ou lei fundamental. Para Scumrrr © que se entende por “fundamental” pouco claro, Aplica-se, as yezes, em um sentido tépico, a uma coisa politicamente muito (43) ROMANO, Santi, Principios de Direito Constitucional Geral, ob, elt, pp. BL e 62. “ R. Inf. legisl. Brasilia a. 23 m. 91 jul./set. 1986 importante e inviolavel. No mesmo sentido fala-se, de maneira imprecisa, em direitos “fundamentais” (1), Ao partir para o que designa de significado “teorético-consti- tucionai” dessas acepcoes, para uma. investigacao conceitual, desta- ca as significagoes de: lex fundamentalis, norma fundamental ou lei fundamental. Nessa formulagao da Teoria da Constituicéo a palavra padrio aparece com uma variedade conceitual, da qual emanam diversos contetidos: 1 — Constituicéo em sentido absoluto corresponde & concreta “maneira de ser”, resultante de qualquer unidade politica existente. Constituig&o corresponde a uma situa- co real de conjunto da unidade politica e ordenac&o social de um Estado. O Estado é a Constituicao, isto 6, uma situa- Ao, presente do ser, um “status” de unidade e ordenacao. O Estado deixaria de existir se a Constituicéo desapare- cesse, 2 — A Constituicdo é uma maneira especial da orde- nagiio politiea e social. Significa o modo concreto da supra e subordinac&o, Constituicéio é a forma especial de dominio que afeta a cada Estado e que nao pode separar-se dele. Constituigio é igual & forma de governo. Corresponde a dizer: o Estado é uma Constituigao. A Constituicao é a “forma das formas”, forma formarum. 3 — Constituicdo é 0 prinefpio do devenir din&mico da unidade politica, Entende-se ai o Estado nao apenas como algo existente, em repouso, estdético, mas em constan- te renascer, surgindo de novo. Dos distintos interesses contrapostos, opinies e tendéncias, forma-se diariamente a unidade politica, “integra-se”, de acordo com a expressdo de Rovotr SmMenp. A Constituig&io, no sentido absoluto, pode significar uma “re- gulagdo legal fundamental”, isto é, um sistema de normas supre- mas ¢ ultimas. A Constituicdo é algo normativo. A palavra Estado converte-se em uma ordenacao juridica que descansa na Consti- tuig&o, como norma fundamental. # possivel identificar-se Consti- tuicéo e Estado. A Constituigdo é valida quando emana de um poder (forga ou autoridade) constituinte e se estabelece por sua vontade. (4) SCHMITT, Carl, Teoria de la Constitucion. Madrid, Editorial Revista de Derecho Privado, pp. 3 © ss. R. Inf, logis!. Brasilia a, 23 n. 91 jul./ect. 1986 1s O conceito de ordenacao juridica contém dois elementos com- pletamente distintos: o elemento normativo do direito e 0 elemento real da ordenagéo concreta. A unidade e ordenagio reside na existéncia politica do Estado. Essa fase da Teoria da Constituicao corresponde ao que diz a Teoria Geral do Constitucionalismo, a um dos momentos decisivos da teorizaco dogmatica, racionalista e cientifica do conceito de Constituicéo (4). Apés a definig&o do conceito absoluto de Constituic¢do, ScxmrTT passa ao seu conceito relativo. Essa relativizagéo consiste na passagem do conceito unitario da Constituigao, como um todo, para fixar-se, apenas, na lei consti- tucional concreta, fixado em suas caracteristicas externas e acess6- vias, denominadas de “formais”. A Constituic&o, em sentido relativo, é a lei constitucional em particular. Dai decorrem as especulagées em torno da Constituigao escrita, O “formal” da Constituicéo néo pode consistir na redacdo de algumas prescrigées ou estipulagdes, em documento escrito. Seu carater formal decorre de certas propriedades, seja de pessoa ou de Orgdo que emite o documento. O contetdo e 0 significado da Consti- tuicdo escrita podem ser diversos. ‘As motivagdes que levam a designar como Constituicéo, em sentido formal, precisamente a Constitui¢do escrita séo distintas. A estabelecida de maneira escrita pode ter demonstragdo melhor, tem contetido estavel e é protegida contra modificagées. A “demons- trabilidade” e maior “estabilidade” nao sao suficientes, apesar do sentido rigoroso do formalismo. A Constituicdo escrita deve emanar de um 6rgao, tendo por pressuposto um procedimento reconhecido como 0 adequado. A Constituigdo 6 um pacto escrito, que pode ser modificada por via legislativa. A Constituicao inglesa descansa em atos de natureza distinta, como convengGes, pactos, leis isoladas, costumes e prece- dentes, nao vale como Constituigéo no sentido formal, porque nio aparece escrita completamente em um tnico documento, isto 6, uma codificacao sistematizada, em forma de lei. Existem numerosas leis constitucionais inglesas, sob forma de leis escritas. O Ato do Parlamento de 1911 limitou a colaboragéo da Alta Camara na elaboracao de leis. A Constituicdo, no sentido formal, é aquela que observa a codificagao, através da regulacgdo exaustiva do procedimento de formagio de vontade estatal. £ dai que Scumirr entende que a (5) LA CUEVA, Mario De. Teoria de la Constitucién, México, Editorial Porria, S.A., 1982, com Prélogo de Jorge Carpizo. 16 TR, Inf, legisl. Brasilia e. 23 n. 91 jul./eet, 1986 idéia de uma Constituicdo escrita deve ir além do que se entende por uma codificacéo constitucional fechada, que leva a um conceito absoluto de Constituigao. A Constituigéio dos Estados contém em seu bojo diversas normas legais de conjunto, onde podemos destacar: as prescrigdes organicas sobre as autoridades essenciais do Estado, programas e diretrizes de cardter geral, garantias de certos direitos e numerosas prescricées particulares. S6 esto inscritas na Constituigéo para afasté-las das constantes modificagdes que decorrem das maiorias parlamentares, ocasionais, bem como dos Partidos que podem querer influenciar o contefido da Constituicio, aproveitando a ocasiao para elevar a nivel constitucional postulados dos respectivos os. A reforma constitui um dos aspectos essenciais da teorizagio do constitucionalismo, O aspecto formal da Constituic&io leva ao entendimento de que as mudancas constitucionais esto submetidas a um procedimento especial, que dificulta as alteragdes. Com essas limitagées ou condigdes de reforma protege-se a duracdo e estabili- dade das leis constitucionais, com o aumento de sua forga legal. Esse entendimento leva a uma classificacao tradicional das Consti- tuigdes. Existem Estados nos quais as prescricées legais, sem consi- derago de seu contetido, podem ser reformadas através do procedi- mento de uma simples lei. Nao existe protecdo especial contra as reformas, desde que nao ocorra diferenca entre “leis constitucio- nais” e ‘leis ordinarias”, Em conseqiiéncia da falta dessa dicotomia no se pode falar em leis constitucionais no sentido formal. Bryce fala da antiquada classificagdo das Constituigées, trans- mitida até a sua época, assentada na distinc&o entre “direito escrito” e “direito nao escrito”. Essa classificacdo coloca na catego- ria das Constituicdes escritas as consignadas, expressamente, em documentos ou documentos solenes. Na categoria das nao escritas, aquelas cuja origem nao esté de conformidade com uma. estipula- gao formal, mas no uso. A diviséio que intenta estabelecer essas duas classes de Constituigdes nado estabelece uma linha bem definida, desde que em toda Constituicgo escrita deve haver, e hé, algum elemento nao escrito. Nas denominadas nao escritas existe forte tendéncia para considerar os costumes e os precedentes como obrigatérios. Essa circunstancia faz com que tais escritos sejam quase equivalentes a uma lei formal ditada. ¥ nesse sentido que Bryce considera que as Constituicdes nfo escritas, mesmo que originérias dos costumes, sempre contém alguns estatutos. Examinando as Constituigdes em geral, percebe-se que tanto nas do passado como nas atuais ajustam-se um e outro dos tipos R. Inf, legisl, Brasilia o. 23 n, 91 jul,/set. 1986 7 principais. Umas séo produtos naturais, assimétricos, tanto em suas formas como em seus contetidos, constam de um conjunto de determinados decretos ou estipulagdes de carater diferente e proce- dem de varias fontes. Entremeiam regras consuetudinérias basea- das unicamente no costume e no precedente, mas na pratica tém igual autoridade. Existem Constituigdes que séo obras do esforco deliberado do Estado, que estabelece, de maneira definitiva, um corpo de provi- ‘sdes coerentes, de acordo com as quais e pelas quais o governo deverd se estabelecer e reger. Com esses dados descreve dois tipos de Constituigdes: — Constituigdes de direito consuetudinaério (Common Law Constitutions) ; — Constitulgdes estatuldrias (Statutory Constitu- tions). Na consideracio da histéria e dos atributcs das Constituicées flexiveis, Bryce vé que elas séo mais antigas do que as de tipo rigido. A Constituicao é considerada como a estrutura de uma sociedade politica organizada, através de lei e por lei. Ela fixa as instituigdes permanentes, com fungdes reconhecidas e direitos defi- nidos. As Constituigdes desse tipo, com as denominagées de “flexi- veis” ou “fluidas”, parecem indicar que sao instaveis, carecem de garantias de solidez e permanéncia. Como exemplos para contrariar essas conclusées, BRYCE refere-se a0 que denomina exemplos tipicos: Roma e Inglaterra. A Constituicéo romana é um caso extremo da possibilidade de modificacéio, de maneira sensivel e répida. Para sua Tealizagao necessitava apenas de um voto das “comitia”, seguido do siléncio dos tribunos. Apesar disso, a Constituigéo de Roma, consi- derada em seu aspecto legal, modificou pouco. A Constituicéo flexivel ou da “Common Law” deve, as vezes, sua estabilidade as mesmas condigées que permitiram, partindo de leis isoladas e simples usos, estabelecer uma estrutura de governo firmemente estavel. As Constituicées rigidas tém como carater especifico a circuns- tancia de que possuem uma autoridade superior & das outras leis do Estado. Sao modificaveis por procedimentos diferentes daqueles ditados para as demais normas. E um tipo de Constituigéo mais moderna do que as flexiveis. Marcam uma etapa relativamente avancada do desenvolvimento politico e do constitucionalismo. Coincide com o momento de discriminagAo entre leis fundamentais das outras leis. As Constituigées documentais, contidas em um ou varios instrumentos preparados para fatal fim, sao antigas. 18 R. Inf. legisl, Brosilia a, 23 m, 91 jul./set. 1986 As Constituigdes rigidas utilizam determinados métodos para as suas proprias emendas: 1 — Dio essa fungao ao Legislativo, porém, sob condi- Ges que o obrigam a executa-la de maneira especial e dife- Tente da empregada para aprovacdo dos estatutos ordind- rios. Exigem um “quorum” fixo de membros para temas em consideragdo 4s emendas. 2 — Criacao de uma corporaciio especial para realizar 0 trabalho revisor. Nos Estados Unidos, onde continua- mente ocorriam revisdes de um grande numero de Consti- tuigdes dos diferentes Estados, a corporacao, geralmente, recebe o nome de “Convengao”. Geralmente, é eleita quando se deseja redigir toda a Constituicao, reservando-se 0 povo a ultima aprovacdo do documento. 3 — Esse procedimento consiste na submissio da nova Constituigdo as emendas propostas para sua apro- vacio. 4 — Submissfio das emendas ao voto direto do povo ("*). A Constituicdo absolutamente rigida deveria proibir qualquer mudanga de suas prescrigdes, mas nenhuma delas segue tal enten- dimento, até as ultimas conseqiiéncias. Normalmente, consagram a proibigao constitucional de reforma para algumas de suas prescri- goes, As Constituigées rigidas sao aquelas que prevéem, constitu- cionalmente, a possibilidade de reforma ou revisdes constitucionais. Porém, @ reforma ou reviséo esté ligada a supostas ou procedimen- tos especiais, com maiores dificuldades, Esse principio comporta diversas discussdes, em torno da natureza da revisio e a questio da estabilidade constitucional ¢ reformas inslitucionais. Convém destacar, ainda, os temas como: forga normativa da Constituigéo, conceito e qualidade da Constituicéo (Begriff und (06) BRYCE, James, Constituciones Flezibles y Constituciones Rigidas. Madrid, Tastituto de Estudios Politicos, 1952; CAPITANT. Le Droit Constituttonnet non-écrit, Recueil d’ktudes en THonneur de F. Geny, T. 3; LAFERRIERE., La coutume constitutionnelle, son role et sa valeur en France, R.DP., 1944; CHEVALIER. La coutume et le droit constitutionnel frangals, R.D-P., 1970; MASTRE. A propos des coutumes et des pratiques constitutfonelles: L'utilité des constitutions, RDP, 1973; LEVY. De T'idée de coutume constitutionnelle A Tesquisse d'une théorie des sources du droit constitutionnel et de leur sanction, Recueil d’studes en Hommage @ Ch, Eisenmann. Paris, Cujas, 1974; LEVY, Le role de In coutume et de Je Jurisprudence dans I’élaboration du. droit constitutionnel. Mélanges Watine. Paris, LG.DS, 1974; TROPER. Nécessité fait loi. Réflexions sur la coutume constitutionnelle, Mélanges Offerts au Projesseur R, E. Charlier, Paris, xmile-Paul, 1981. R. Inf. legisl. Brasilia 0, 23 n, 91 jul./eet. 1986 9 Eigenart der Verfassung) ; 0 “hintergrund teorético-constitucional”; a ordem, juridica fundamental da comunidade (Gemeinwesen) ; vontade da Constituigdéo (Wille zur Verfassung); programa norma- tivo (Normbereich); Constituigéio instrumental (Instrument of Government) (*"). A Teoria da Constituigéo de Scumrrr enceta novas indagacdes sobre a natureza da Constituig&o. Aceita-se o conceito de Constitui- g4o como decisaéo de conjunto, sobre o modo e a forma da unidade politica, Tomada em seu sentido positivo surge mediante um Ato do Poder Constituinte. A Constituigao nfo é absoluta, desde que nfo surge de si mesma. As leis constitucionais valem por terem base na Constituicéo e a terem como pressuposto. A lei constitucional para sua validade depende de uma decisdo politica prévia. A Constituicao & intangivel, sendo, também, instrumento de garantia dos direitos fundamentais, Finalmente, Scrmmrr fala no conceito ideal de Constituigéo. & aquela que é designada como verdadeira e auténtica. Por razdes Politicas, responde a um certo ideal de Constituigdo. Entre suas caracteristicas, consigna: — 6 um sistema de garantias da liberdade burguesa; — assenta-se na distincao dos poderes; — € um documento escrito ("4). Um dos pontos essenciais da elaboragio teérica do constitucio- nalismo 6 0 que se refere ao nascimento da Constituicéo: a Consti- ‘tuigdo nasce mediante deciséo politica. unilateral do sujeito de Poder Constituinte ou de uma conven¢do plurilateral de varios de tais sujeitos. A Constituicéo pode ser considerada como pacto, SCHMITT distingue as numerosas Constituigées da Teoria do Estado que dao nascimento, mesmo ficticia ou historicamente, ao Estado como origindrio de um pacto. Intentam dar explicacao juridica de seu nascimento, que deve ser diferenciado dos convenios ou pactas que dao origem ao nascimento de uma Constituigéio. O pacto constitu- cional supée partes existentes e subsistentes, em que cada uma Q7) HESSE, Konrad. Escritos de Derecho Constitucional (Selection). Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1963. Introducelén y traduccién de Pe- dro Cruz Villalén. (18) SCHMITT, Carl. Teoria de la Constituciin, Madrid, Kditorial Revista de Derecho Privado, pp. 41 e 8.; idem, La Defensa de 1a Constitucién. Estudio Acerca de las Diversas Especies y Posibitidades de Satvaguardia de la Cons- titucion. Madrid, Editoriat Teenos S.A., 1983. Trad. de MANNUEL SANCHEZ SARTO, Prélogo de PEDRO DE VEGA. 20 R. Inf. logisl, Brasilia o. 23 m, 91 jul./act, 1986 delas contém em si um sujeito de um Poder Constituinte. Dessa explicagéo podem ocorrer: —o pacto federal, entre varias unidades politicas independentes, é um auténtico pacto constitucional; — 0 “pacto constitucional” dentro de uma unidade politica, Na evolugao do constitucionalismo, o Poder Constituinte é um dos seus principais desdobramentos. Scumrrr considera o Poder Constituinte como a vontade politica, cuja forga ou autoridade € capaz de adotar a concreta deciséo de conjunto sobre o modo e a forma da prépria existéncia politica, determinando assim a exis- téncia da unidade politica, eomo um todo. Das decisées dessa von- tade deriva a validade de toda ulterior regulagdo legal constitucio- nal, Em decorréncia dessa concepgdo surgem algumas conseqiién- cias. A Constituieao nao se apoia em uma norma cuja justica seja fundamento de sua validade. O Poder Constituinte é uma vontade Politica, ser politico concreto. Ele é unitario e indivisivel. Outro ponto essencial 6 o da definigdo do sujeito do Poder Constituinte, que demanda varias explicagoes: a) Para a concepc&éo medieval, s6 Deus tem uma potestas constituens, Dai decorre que: todo poder (ou autoridade) vem de Deus (Non est enim potestas nisi a Deo, Rom. 13,1). b) Na época da Revolucdo francesa, Smrvis desenvolveu a dou- trina do povo, ou melhor, da. Nacao, como sujeito do Poder Consti- tuinte. Surge ai a discusséio sobre a titularidade do Poder Cons- tituinte. Alguns admitem que a Nacéio é o sujeito do Poder Constituinte. Com freqiiéncia os conceitos de Nacio e povo sao tomados como de significados idénticos. Para Scumirr, a palavra Nacdo é mais expressiva e induz menos ao erro. No Poder Constituinte descansam todas as faculdades e compe- téncias constituidas e consagradas na Constituicao. A atividade do Poder Constituinte nao esta rigidamente estabelecida por um procedimento regulado. O povo, titular do Poder Constituinte, néo é uma instancia firme, organizada. A forma natural de manifestacdo imediata do povo é a voz de assenti- mento, ou a repulsa, da populacéo reunida, em aclamagio. Nos Estados modernos esta é uma manifestacdo natural da vida de um povo, sob a forma de opinigo publica. A vontade constituinte do povo é imediata, anterior e superior a todo o procedimento da legislagao constitucional. Nenhuma lei constitucional, nem uma Constituicso, pode selar um Poder Constituinte e prescrever a forma de sua atividade. Na democracla moderna tem sido consagrada a Assembléia Nacional Constituinte, eleita de acordo com os postu- R. Inf. tegisl. Brasilia o, 23 n, 91 jul./set. 1986 21 lados fundamentais do sufrégio universal e igual, como procedi- mento democratico reconhecido. A legitimidade de uma Constituigéo decorre néo apenas de uma situagéo de fato, mas também de como 2 ordenagao juridica, quando forea e autoridade do Poder Constituinte, tem sua deciséio reconhecida (2°). Os temas referentes & natureza e conceito da Constituigao, 0 Poder Constituinte e a Reforma da Constituicéo séo momentos fundamentais da evolugae do constitucionalismo. Terao relevancia essencial para a Teoria da Constituigao e o Direito Constitucional. Esto vinculados & propria criagdo do direito e as relagdes entre direito e Estado. A busca sistematizada da nocéo de Poder Constituinte leva ao que Varosst destaca como a tipologia dos conceitos de Poder Cons- tituinte. Como os fenémenos essenciais da Teoria Geral do Consti- tucionalismo, a doutrina do Poder Constituinte surge com a eclosio das trés grandes revolugdes que deram origem ao nascimento do Estado constitucional moderno: a Revolugio inglesa (1688), a Revo- lugéo americana (1776) e a Revolucdo francesa (1789). Para VANossI so as seguintes as tipologias dos conceitos de Poder Cons- tituinte, alcancados pelas investigagdes da teoria constitucional: a) Conceito racional-ideal: proveniente das idéias de SizvEs, que parte da representagdo para chegar ao Poder Constituinte e & 9 SCHMITT, Carl, Teoria de la Constituctin, ob, cit. pp. 44 € ss; VIAMON- TE, Carlos Sanchez, Derecho Constiuetonal. Tomo I. Poder Constituyente. Buenos Aires, Editorial Kapelusz & Cia, 1945; BONAVIDES, Paulo, Direito Comsticucional. Rio de Janeiro, Forense, 1980, 1* ed., pp. 13 ¢ ss.; Santos, Arict Moacyr Amara: 0 oder Constituinve 1A Natureza ¢ Titularatase do Poder Constituinte Originario). Sugestées Li:erarias, 1980; BARACHO, José Alfze- do de Oniveira. ‘Teoria Geral do Poder Constituuce, Kevisla Braswera de Estudos Politicos. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, n° 32, janeiro, 1981, pp. 7 e s8.; VILANOVA, Lourival. Teoria Juridica da Revolugdo (Anotagdes & margem de Kelsen), em As Tendéncias Atuais do Direito Ptibltco, Estudos em Homenagem ao Professor Aforso Ariros de Melo Franco. Rio de Janeiro, Forense, 1976, p. 475; FERREIRA FILHO, Manuel Goncalves. Direito Constitucional Comparado. I — Poder Constituinte. S80 Paulo, José Bushatsky Editor, 1974; SACHICA. Luis Carlos. Esquema para tna Teoria del Poder Constituyente. Bogota, Editorial Temis, 1978: BONA- ‘VIDES, Paulo, O Poder Constituinte, Revista da Procuradoria-Geral do Es- tado de Séo Paulo, Sic Paulo, n° 10, Junho, 1977, pp. 91 ¢ ss: FERRAZ, Ana CAndids da Cunha, Poder Constituinte do Estado Membro, S60 Paulo, Editors Revista dos Triounais, 1979: SAMPAIO, Nelson de Sousa. O Poder de Reforma Constitucionai. Salvador, Livraria Progresso Editora, 1954; SI¥i- VA, José Afonso da. Curso de Direito Coastitucional Positivo. Da Organt- zaedo Nacional, S60 Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1976, vol. I, p, 25; FAORO, Raymundo. Assembiéia Constitutnte, A Legitimsdade Recuperada. 580 Paulo, Editora Brasiliense 8.A., 1982, 2* ed.; DALLARI, Dalmo ce Abreu. Constituiedo e Constituinte. Sic Paulo, Saraiva, 2982. 2 . R Inf, legisl, Brasitio v. 23. 91 jul./eel, 1986 Constituicaio. Trés sfio as contribuigées de Smyis para o processo do constitucionalismo moderno: — a doutrina do Poder Constituinte; — a doutrina da representagao politica; — a organizacdo do controle da constitucionalidade das leis. b) Conceito fundacional-revolucionario: tem uma variante expositiva nas idéias de Maunics Hauriou (1856-1929), que teve grande destaque na teoria da instituicéo e da fundacéo. Hauriou parte da afirmacao da existéncia de uma superlegalidade constitu- cional, que abrange alo mais que a lei positiva suprema (Constitui- c&o escrita), que inclui todas os prineipios fundamentais do regime. Esses principios integram uma espécie de legitimidade constitucio- nal, colocada acima da Constituicdo escrita. O pressuposto da superlegalidade, que € de filiagdo jusnaturalista, pretende superar os contetidos positivistas do conceito de “supremacia da Consti- fulsso escrita” ou de seu equivalente a “lei fundamental do lo”. Para Haurrov, a organizacéo dessa superlegalidade constitu- cional deve reunir as seguintes condicées: 19) a organizacdo de uma operagéo constituinte, com um Poder Constituinte que esté acima dos poderes gover- namentais e ordindrios, que s40 os poderes constitufdos, com um procedimento especial de reviséio, que da & Cons- tituigéo um cardter rigido; 20) a organizagéo de um controle jurisdicional da constitucionalidade das leis ordindrias. A operacio constituinte 6 a soma do poder e do procedimento, sendo que o primeiro recebe o nome de Poder Constituinte, porque € o poder fundador (**). ¢) Conceito existencial-decisionista. d) Conceito materialista: destaca Vanosst que o marxismo leninismo no se ocupou especificamente do Poder Constituinte, enquanto nocdo propria da ciéncia juridica, Ndo existe uma teoria comunista do Poder Constituinte enquanto “competéncia consti- (20) HAURIOU, Maurice. Principios de Derecho Puiblico y Constitucional. Ma- arid, Instituto Editorial Reus, 2* ed., trad. de Carlos Ruiz del Castillo, pp. 314 @ ss.; idem, La Teorla de la Instituctén y de la Fundacion (Ensayo de vitalismo social). Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1968, trad. de ARTURO ENRIQUE SAMPAY; SALDANHA, Nelson. Problematica da Supremacia Constitucional, Separate da Revista’ Vor Legis, Secio de Doutrina, Sao Pau- lo, Sugestées Literarias, S.A, 1979. R. Inf. legisl. Brasilia a. 23 n, 91 jul./set. 1986 oo 23 tucional de reviséo” (Poder Constituinte derivado). Contrariamen- te, aceita o Poder Constituinte origindrio, isto é, a energia ou potén- cia organizadora da ordem politica, mediante nogdes e conceitos que o marxismo leninismo emprega em sua contenc&o doutrinéria. E 0 caso das freqiientes aplicagdes que essa doutrina faz do “poder politico” (21). e) Conceito dialético-pienério: HELLER procurou demonstrar a conexéo indissolivel entre o mundo real e o mundo cultural. A existencialidade, 2 normatividade e o Poder Constituinte no se acham, certamente, em oposicé0, mas condicionam-se reciproca- mente, Um Poder Constituinte que néo esteja vinculado acs setores de decisiva influéncia para a estrutura de poder, por meio de princi- pios juridicos comuns, nao tem poder nem autoridade e, por conse- guinte, também nao tem existéncia (%). Essa, metodologia de HELLER marca as diferengas entre suas. concepgées e as de Hans KetseN e Cari Scumirr ("). A Teoria das Constituigdes (ADoLFo Posapa) e Teoria Gerai das Constituigdes (Burpzav) constituem dois momentas essenciais para a formutacéo da Teoria Geral do Constitucionalismo, Pogapa indaga o que é Constituigdo, no regime de Estado Constitucional. Salienta que certos Estados se denominam especial e expressamente de constitucionais, circunstancia que indica o valor de uma Constituigéo. Para o publicista espanhol 0 termo Consti- tuic&o, no constitucionalismo moderno, nao tem significado tao amplo, Fala em uma Constituicdo politica como a expressiio juri- dica do regime do Estado, no que diz respeito & organizagao dos Poderes ou instituigdes fundamentais, nas quais esta praticamente encarnado 0 exercicio da soberania e a limitagao da acdo desses poderes, em suas relages com as pessoas. Dai que elas se constituem como sistema ou regime de garantias. Destaca que as Constituicoes, quanto a suas origens, podem set apontadas corso: @) Constituigées que tém o carater de uma Carta outorgada (Constituicio francesa de 1814). b) Constituigdes que sio yerdadeiros statutes fundamentais, elaborados por Assembléias representativas da Nacio ou do povo, Assembléias que recebem o nome de Constituintes ou de Convengoes. (GD CAMPOS, Germén J. Bicart. Marzismo y Derecho Constitucional. Buenos Aires, Edlar Sociedade Anénima Rdltora, 1979. (22) HELLER, Hermann, Teoria del Estedo. México, Fondo de Cultura Beond- mica, 1955, 3* ed., trad, de Luts Tobfo, ob. cit, pp. 267 © ss. (28) VANOSSI, Jorge Reinaldo A. Teoria Constitucional. Vol. I. Teoria Consti- ‘tuyente, Poder Constituyente: fundacional; revolucionario; reformador. Bue- os Alres, Depalma, 1975, pp. 5 € 85. % TRO ind. legisl. Brositio @, 23m. 9T jul./eat. 1986 Posapa aponta, outras indicacées que devem ser salientadas para melhor compreensao do constitucionalismo. Trata-se da divi- so sistematica das Constituicdes em: parte dogmatica e parte organica, A parte dogmdtica das Constituigées contém um sistema de limitagoes da ac&io do Poder Publico, que surgem e se afirmam, historicamente, pelo processo de lutas politicas entre governados € governantes. No que diz respeito 4 elaboracdo doutrinaria e legis- lativa, decorre do influxc das nogées da escola de direito natural, da idéta de direito subjetivo, préprios, naturais, do individuo, frente ao Estado, estimados como anteriores ao mesmo. As Declaragédes de Direito das Constituigées norte-americanas e da Constituic¢éo francesa de 1791, bem como os titulos primeiros de outras, formam a parte dogmatica. Tracam declaracées definidoras ou imperativas, com a consagracéio de determinados principios e normas funda~ mentais. Apés essa interpretacéio, com o exame do significado de sua parte organica, Posapa destaca o valor juridico da Constituicéo. No que diz respeito 4 sua importancia, a parte orgdnica 6 seme- thante & organizagéo e ao funcionamento do Estado e de seus governantes. As disposicdes sobre a organizac¢ao de poderes, deter- minacdo de suas respectivas funcées e as relacoes entre as institui- ges que as desempenham formam a parte organica ('}.. Os temas acima focalizados constituem pontos essenciais da elaboracdo da Teoria Geral do Constitucionalismo, sendo que servem de base para novas investigagdes. Surgem, correntemente, nos doutrinadores nacionais e estrangeiros que se dedicam a definigéo do constitucionalismo, suas origens, transformagdes e institui- goes (2%). @& POSADA, Adolfo. Tratado de Derecho Politico. Tomo Segundo, Derecho Constitucional Comparado de los Principales Estados de Europa y América, Madrid, Libreria General de Victoriano Suarez, 1935, 5% ed., pp. 11 e ss, (2) RUSSOMANO, Rosah. Curso de Direito Constitucional. Si0 Paulo, Saraiva, 1972, B ed., pp. 3 € s&; FERREIRA FILHO, Mantel Gongalves. Curso de Direito Constitucional, SE0 Paulo, Saraiva, 1971, 3* ed., pp. 7 € 85.; ACCIO- LI, Wilson. Instituig6es de Direito Constitucional. Rio de Janeiro, Forense, 1978, pp. 30 € ss.; MOTTA FILHO, Candido. 0 Conteiido Politico das Cons- tituigdes, Rio de Janeiro, Borsoi, 1960, pp. 54 € ss.; BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. S40 Paulo, Saraiva, 1980, 3° ed., pp. 10 ¢ 58; SALDANHA, Nelson. Legalismo € Ciéncia do Direito. Sio Patio, Editora Atlas S.A, 1977, pp. 59 e s8.; dem, O Estado Modern e o Constituciona- lismo, Sio Paulo, José Bushatsky, 1976; TEMER, Michel. Elementos de Di- reito Constitucional. $8 Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1982, pp. 17 ¢ 53; FERREIRA, Pinto, Prinelpios Gerais do Direito Coustitucionat’ Moder- no, S80 Paulo, Editora Revista dos Tribunats Ltda., 1971, 5* ed., Tomos I e II. R, Inf. legist. Brosilio o. 23 n, 91 jul./set. 1986 25 O constitucionalismo, para CaRLos SANCHEZ VIAMONTE, “‘consis- te en el ordenamiento juridico de una sociedad politica mediante una Constitucién escrita, cuya supremacia significa la subordina- cién a sus disposiciones de todos los actos emanados de los poderes constituidos que forman el gobierno ordinario” (**). O constitucionalismo atual é o resultado de um demorado Processo, no qual confluem esforgos de muitos povos e doutrina- dores. Dos ingleses, franceses e norte-americanos ele recebeu as grandes experiéncias e a propria teorizagdo. MaNUEL Garcia-PELAYO destaca que o constitucionalismo inglés é 0 mais jlustrativo, por sua continuidade. Hznrr Mwy, ao se propor a explicacio dos meca- nismos do regime constitucional, forma politica que se distingue essencialmente de todas as outras, afirma que ele responde as necessidades miultiplas da natureza do homem. A evolucéo do constitucionalismo jeva-nos 4 compreensdo dos aspectos institucionais e constitucionais dos regimes politicos, tanto no que diz respeito a sua forma classica como as modificagdes que vém ocorrendo nos mesmos. Essa perspectiva metodolégica leva-nos ao conhecimento da transformacao surgida no seio da Teoria Geral do Constitucionalismo. ViamonTe ressalta as virtudes do constitu- cionalismo, convocando para a luta pela sua implantagéo e para a defesa de sua estabilidade (?"). Com as normas referentes 4 organizacéo e aos poderes do Estado, de maneira sistematizada, ultrapassamos varias etapas do constitucionalismo. Certa fase do constitucionalismo procurou limitar a atividade estatal, mas, com o seu desenvolvimento, novas possibilidades foram apontadas, com 0 objetivo de sua atualizacio e adaptacao as necessidades da sociedade politica contemporanea. (26 VIAMONTE, Carlos Sanchez. EI Constitucionatismo. Sus Problemas. El Or- den Juridico Positivo. Supremacia, Defense y Vigencia de la Constituctén. Buenos Aires. Editorial Bibliowréfica Arventina, 1957, p. 15: MIDY. ©, Henri, Le Régime Constitutionnel. Paris, Garnier Freres, 1869, p. 1; LEPOINTE, Gabriel. Histoire des Institutions du Droit Public Francais qu’ XIXe Sigcle, 41749-1914, Paris, Edition Donat Montohrestien; FERNANDES-MIRANDA, Toreuato. Estado y Constitucién. Madrid, Espasa-Calpe. S.A, 1975, p. 269; DUGUIT, Léon. Traité de Droit Constitutionnel. Tomo Segundo. La Théorie Générale'de L’Btat, Elements, Fonctions et Organes de L’ttat. Paris, E. de Booeard, Successeur, 1928, pp. 160 e ss.; RIOS, Anibal Rey. “El Poder Cons- tituyente” en el Derecho Constitucional Chileno, Santiago de Chile, Editorial Universitaria, S.A., 1962, (21) HERAS, Jorge Xifra. Curso de Derecho Constituctonal. Tomo I, Barcelona, Bosch, 1987, 2% ed, pp. 191 e 5; VIAMONTE, Carlos Sanchez. Manual de Derecho Politico. Los Problemas de la Democracia. Buenos Aires, Editorial Bibliogréfica Argentina, 1959, pp. 111 e ss; idem, Manual de Derecho Coms- titueional, Buenos Aires, Editorial Kapeluse, 1959, 4* ed., p. 6; CASTELO, Juan, Derecho Constitucional Argentino. Buenos ‘Aires, Editorial “Perrot”, 1984, pp. 67 © 58. 26 R. Inf. legist, Brasi 0, 23, 91 jul/set, 1986 Aos estudiosos ndo tem passado despercebida a problematica da ideologia do constitucionalismo. & coerente afirmar que a evolu- ¢ao do constitucionalismo esta ligada ao Estado de direito demo- eratico, desde que este corresponde a distintos regimes constitu- cionais que consagram certos principios basicos em sua elaboragéo de uma Teoria democratica de governo (:*). 2— Prinetpais aspectos do constitucionalismo: temas fundamen- is A Teor'a Geral do Constitucionalismo evidencia-se, normal- mente, pela existéncia de uma Constituicao juridica, pela univer- salizag&o dos direitos e liberdades, com suas respectivas garantias, pelo aperfeigoamento de técnicas juridicas que limitam o poder politico. A primeira Constituigéo, acorde com o movimento e a doutrina do constitucionalismo, foi a inglesa. Surgiu de largo pro- cesso histérico, carecendo de documento articulado e codificado. Como criagao consciente e deliberada, refletida em documento escrito, a primeira realizaco institucionalizada do constitucionalis- mo decorre das Constituigoes das colénias norte-americanas. Como manifestagao do constitucionalismo, por meio de documentos, a Revolucio francesa propiciou; a Declarac&o dos Direitos do Homem e do Cidadéo de 1789; a Constituigaéo de 1791; a Constituigéo de 1793; a Constituigéo de 1795 (Ano III) e a Constituicéio de 1799 (Ano VII). Além de varios dos autores mencionados anteriormente, o constitucionalismo encontra explicagdes e influéncias na doutrina: 0 Espirito das Leis (Livro XI, Titulo VI), de Monresqureu, Comen- tdrios sobre a Lei da Inglaterra, de BLackstonx; Constituicéo da Inglaterra, de Dz Lotme; O Federalista, de MapisoN, HAMILTON e Jay, e Que é 0 Terceiro Estado?, de Strvés. Marto Justo Lous destaca a finalidade e os principios do constitucionalismo; suas técnicas e a enumeracdo dos mesmos. Entre os caracteres do constitucionalismo coloca em primeiro fugar, como finalidade essencial, a preservagao da dignidade da pessoa humana, Como prinefpios, estao dois pressupostos funda- mentais: o império da lei e a soberania do povo: “El “imperio de la ley” o “imperio del derecho” con- siste en la sujecién o regulacién de la actividad de los ocupantes de los cargos del gobierno mediante normas juridicas que estan por encima de sus voluntades psiqui- cas. Dice al respecto el articulo 19 del “Acto de Atenas”, (28) SACHICA, Luis Carlos. Constitucionalismo Colombiano, Bogolé, Editorial ‘Temis, 1977, 4° ed., p. 57. R. Inf. legi a7 aprobado em junio de 1955 por el Congreso Internacional de Juristas: “Los gobiernos tienen la obligacién de respetar los derechos del individuo con arreglo al “imperio de la ley” y de establecer medios eficaces para su ejercicio”. Corresponde sefialar que este “principio”, ademas de ser un “medio genérico” para alcanzar la finalidad propia de todo Estado, consiste en asegurar la estabilidad y continui- dad juridica de los érganos estatales. Debe reconocerse, empero, que en el caso del constitucionalismo el “fin instrumental” aleanza una importancia que no tiene para aquellas doctrinas que atribuyen al Estado otros “fines ultimos” (*). As técnicas de constitucionalismo definem aspectos fundamen- tais para a sua elaboracdo doutrinaria: sy 30) 1) Supremacia das normas juridicas fundamentais: Constituicéio; Declaracao de Direitos. 2) Distingaio entre Poder Constituinte e poderes cons- tituidos: Rigidez constitucional. 3) Diviséo organica e funcional entre os poderes cons- tituidos. Independéncia do Poder Judiciario. Legalidade administrativa. Controle dos Atos Admi- nistrativos. Ombudsman. Provedor de Justica. Defensor do Povo. 6) Controle da atividade dos orgaos estatais. 7) Controle jurisdicional da constitucionalidade: Sistemas de Controle. 8) Designacao, por eleicoes, dos integrantes dos érgéos que exercem o Poder Constituinte e os poderes constituidos” (°°), 4 5) LOPEZ, Mario Justo. Manual de Derecho Politico, Buenos Aires, Editorial m7. Kapelusz, 1973, p. Manual de Derecho Politico, ob. cit., p. 378; PAINE, Thomas. Los Derechos dei Hombre. México, Pondo de Cultura Econémica, 1944; TOBERAS, Jose Castan. Los Derechos del Hombre. Madrid, Reus S.A. 1976; SCHWARTZ, Bernard. Os Grandes Direitos da Humanidade. “The Bill of Rights”. Rio de Janeiro, Forense Universitaria, 1979, trad. de A. B. PINHEIRO DE LEMOS; CLAUDE, Richard Pierre, Uma Perspectia Comparada da Tradigéo Oci- dental dos Direitos Humanos; MIRANDA, Jorge. Direitos do Homem. Lis- boa, Livraria Petrony, 1919; idem, A Declaragéo Universal € os Pactos In- ternacionais de Direitos do Homem. Lisboa, Libraria Petrony, 1977. R, Inf, tegisl, Brositia a. 23 n. 91 jul./sct. 1986 O elenco dos temas essenciais do constitucionalismo moderno, também denominado de classico, constitui uma constante preo- cupagéo. O seu desenvolvimento esta ligado & racionalizagio do Estado e & despersonalizacao do Poder. Dentro desse aspecto 0 constitucionalismo supde: a) uma Constituic&io, normalmente, codificada, isto 6, escrita em um cOdigo sistematico e tinico; d) uma Constituicao cuja reforma torna-se dificil, isto é, depen- dente de procedimentas especiais, uma Constituigéo rigida; c) uma parte dessa Constituicéo dedicada a transcrever a Declaragéo de uma série de direitos individuais (parte dogmatica ou direito constitucional da liberdade) ; d) uma parte dedicada a organizar o poder, seus Orgaos, suas funcées, suas relacées, tendo como principio fundamental a divisio de poderes ou de tuncées (parte organica ou direito constitucional do poder) (*). Referindo-se, ainda, ao constitucionalismo classico, apresenta um esquema sobre pontos importantes de sua evolugéo contem- poranea: @) a Constituigdo dos Estados Unidos divulga mundialmente a forma de organizacGo federal de Estado e a forma republicana presidencialista de governo; b) a Inglaterra introduz, com difusio universal, 0 tipo parla- mentarista; ¢) federalismo, presidencialismo e parlamentarismo passam a funcionar como modelos politicos de imitacao; d) tendéncia progressiva & extensio do sufragio universal, com a eliminacao do sufragio restrito, qualificado, censitario; e) a constitucionalizagao dos Partidos Politicos na maioria dos stados; f) 0 surgimento dos partidos socialistas; g) a superacio da opressdo politica, propria do absolutismo, 6 seguida para a maior emancipagao do homem, sob o ponto de vista social e econémico, com a superagao dos obstéculos que impe- dem aos individuos utilizarem efieazmente os seus direitos; (3) CAMPOS, German J. Bidart. Manual de Historia Politica. Buenos Aires, Kiar Sociedad Anénima Editora, 1970, p, 334; idem, El Derecho Constitu- clonal dei Poder, El Derecho Constitucional del Poder Comparado. El Con- greso. Tomo I, Buenos Aires, Zdiar Sociedad Anénima Editora, 1967. R. Inf. legisl. Brasilia a. 23 n, 91 jul./set. 1986 29 h) os apelos para a intervengéio do Estado. O constituciona- lismo classico sofre profundas modificagdes no século XX, com 0 constitucionalismo social, antecipado pela Constituigéo do México de 1917 e pela Constituicéo de Weimar de 1919, que incorporaram em seus textos os direitos sociais e econémicos (*), O constitucionalismo tem sido um esforco para racionalizar juridicamente o exercicio do poder politico, submetendo sua orga- nizagéo a um ordenamento normativo. A intengio de subordinar o poder ao direito é constante, pode-se falar em um constitucio- nalismo antigo, um constitucionalismo medieval ou um constitu- cionalismo moderne. Cada um tem as suas particularidades (). A evolucio do constitucionalismo tem refletido nas diversas teorias acerca da natureza da Constituicfo, matéria essencial entre os capitulos de Teoria da Constituicéo, onde se propée determinar a esséncia do constitucional (°*). A Teoria Geral do Constitucionalismo tem uma de suas bases em KeELsen, A preocupacgo com a hierarquia das normas, os dife- rentes graus da ordem juridica, a Constituigao no sentido material e no sentido formal, a determinagio da criacéo das normas gerais, 8&0 pontos essenciais para a teorizacio do constitucionalismo. A estrutura hier4rquica da ordem juridica de um Estado pode expressar-se nos seguintes termos: suposta a existéncia da norma fundamental, a Constituigéo representa o nivel mais alto dentro do direito nacional. O termo Constituigaéo é entendido af nfo em seu sentido formal, mas na sua significagdo material. A Constituigao, em seu sentido formal, é certo documento solene, um conjunto de normas juridicas que s6 podem ser modificadas mediante a observag&io de preserigées especiais, cujo objetivo 6 dificultar as alteracdes de tais normas. A Constituigéo, no sentido material, espelha os preceitos que regulam a criacéo das normas juridicas gerais e, especialmente, a criacdo de leis. A Constituigéio, em sentido formal, é 0 documento solene que leva esse nome. Normalmente encerra também certas normas que néo formam parte da Constituicao, em sentido material. A circuns- tancia de se redigir um documento especial e solene, bem como a circunstancia de que a mudanca das normas constitucionais 6 particularmente dificil, tem por objetivo salvaguardar as normas que estruturam os 6rgaos legislativos e regulam o procedimento da (32) CAMPOS, German J. Bidar. Manual de Historia Politica, ob. cit., pp. 336 e 337, (33) SACHICA, Luis Carlos. Exposicién y Glosa del Constitucionalismo Moderno. Bogot, Editorial Temis, 1976, pp. 5 e ss, (34) GOMES, Carlos Mejfa. Teoria de la Constitucién. Bogota, Editorial Temis, 1967. 30 R. Inf. logisl, Brosilic . 23 n. 9T jul/set, 1986 legislatura, A existéncia de uma forma especial para as leis consti- tucionais, de uma forma constitucional, se deve & Constituicaéo em sentido material. Se existe uma forma constitucional, entdo as leis constitucionais tendem a ser distinguidas das leis ordinérias. A dife- renga consiste na criacao, isto é, na promulgacao, na reforma e na ab-rogacao das leis constitucionais, mais dificil que a das leis ordi- nérias, Existe um procedimento especial, na forma determinada, para a criag&o das leis constitucionais, diferente do procedimento de criacio das leis ordinarias. A tendéncia em dificultar a reforma dos fundamentos da ordem estatal decorre da necessidade de continuidade da evolucdo juri- dica. O constitucionalismo classico, revelado através de quase todas as Constituicées, estabeleceu pontos basicos para a sua estrutura- do: a colocacao nas Constituigdes de normas de organizacdo e um catdlogo de direitos fundamentais e de llberdade. & nesse sentido que o regime constitucional vem sendo denominado como regime de garantias juridicas (°5). A Teoria Geral das Constituigdes é capitulo essencial da Teoria Geral do Constitucionalismo. Burpeav parte da afirmativa de que toda organizaciio consti- tucional do Estado, toda analise de sua vida politica levam a um exame de sua Constituicdo. Reconhece que a Constituicdo coloca-se no centro de todas as reflexes que dao nascimento & ciéneia politica. Ao formular sua teoria, lembra que ela é necessdria, para destacar uma nogdo de Constitui¢ao, cujos elementos sao utilizaveis para explicar cada ordem constitucional concreta. Entre a Consti- tuicdo suica, a britanica c a soviética cxistem aparcnicmente dife- rengas profundas. O interesse da Teoria Geral das Constituicées é fazer, provisoriamente, abstracdo das divergéncias de solugdes, para esclarecer a unidade fundamental dos problemas que elas respon- dem. O esforgo dos filésofos, da evolugdo historica, da concordancla entre as experiéncias politicas dos diversos Estados, da vontade dos governados chega a uma nocdo de Constituicéo, na qual importa é conhecer o sentido e a razao de ser dela prépria, bem como a compreensio das regras em torno das quais os direitos positivos tém valor constitucional. Ao tracar o seu plano, com o objetivo de formular uma adequada Teoria Geral das Constituicées, que esta (35) _KELSEN, Hans, Teoria General del Derecho y del Estado. México, Impren- sa Universitaria, 1949, trad. de Eduardo Garela Maynez, pp. 128 e ss.; idem, Teoria Generat del Estado. México, Editora Nacional, 1951, trad, de LUIS LEGAZ LACAMBRA, pp. 325 € 55. R, Inf. Brasilia 6, 23 m. 91 jul./ect. 1986 31 vinculada de maneira intima com a evolucéo da Teoria Geral do Constitucionalismo, destaca BuRDEAU: a) Nogdo de Constituicéo. Multiplicidade dos aspectos do fend- meno constitucional. Constituigio social e Constituigao politica, Constituicdes costumeiras e Constituigées escritas. Constituigio e regime constitucional. A Constituicio como instrumento de liber- dade. Matéria e forma constitucional. Insuficiéncia da distingéo entre Constituicées escritas e Constituigées costumeiras. Formacéo histérica da nogdo de Constituigéo: a teoria contratual. As etapas de formacdo da idéia moderna de Constituigio (ALTHUSTUs, SUAREZ, Escola de Direito natural, Roussrav). Significacéo politica de Constituicgio. b) A Constituigdo como estatuto do poder. Dupia fungo da Constituigéo: estatuto da instituigaio, estatuto dos governantes. Funco ideolégica da Constituig&o. As declaragdes de direitos: as declaragées como técnica de expressao da idéia de direito, Inte- grado entre o texto da Constituigéo e o contetido das dec! Valor juridico das declaracées: as declaracdes como direito positivo e como programa. As garantias dos direitos. O estatuto dos governantes: autoridade e legitimidade. O fun- damento do direito de governar. A Constituigao estabelece a legi- timidade dos governantes. Governo legal e governo legitimo. A teoria de drgiio do Estado: da legalidade e da legitimidade de que ihes reveste a Constituicdo, os governantes recebem a autoridade. ¢) O Poder Constituinte: 0 estudo do Poder Constituinte, do ponto de vista juridico, apresenta dificuldade excepcional, devido & natureza hibrida desse Poder. O poder, para o jurista, liga-se sempre a uma competéncia: sua natureza, seu entendimento, as modalidades de seu exercicio sao determinadas por uma regra ante- tior. Com o Poder Constituinte, nao ocorre o mesmo: ele é afetado por uma significagdo politica, da qual nenhuma exegese pode puri- ficar. O poder do qual ele resulta € rebelde a uma integracio total em um sistema hierarquico de normas e competéncias. Autonomia do Poder Constituinte. Poder Constituinte e poder constituido. Natureza do Poder Constituinte. Origem doutrinéria da idéia de Poder Constituinte. Filosofia e técnica do Poder Cons- tituinte, A supremacia da Constituigdo: em que consiste a superioridade da Constituicdéo. Supremacia material. Supremacia formal da Constituicéo. Titular do Poder Constituinte. Conciliagéo entre a permanéneia do poder origindrio e a existéncia de um érgiio de revisiio. O Poder Constituinte originario, Poder Constituinte insti- 32 R. Inf, legisl, Brasilia a, 23 n. 91 jul./set. 1986 tuido. Exercfcio do poder de revisio: modalidades juridicas e politi- cas do exercicio do Poder Constituinte. O processo de reviséo cons- titucional: as fases de processo de revisio. Costume constitucional. Teoria constitucional e regime politico. d) As sangées no estatuto de poder: A necessidade do poder e a sua legitimidade leva a indagacdes sobre a necessidade de impedir que ele se transforme em arbitrario. A questéo das limitacdes do poder é constante no constitucionalismo. A limitac&o do Estado eo tatuto do poder. Institutos do direito positivo considerados como instrumento da subordinac&o dos governantes a seu estatuto, A eleicdo. Dissolugao das assembléias. A oposicao. Controle da constitucionalidade das leis: controle como corolé- rio da supremacia da Constituigao, Mecanismos de controle. Con- trole preventivo por um érgio politico. Controle por érgéo jurisdt- cional. Corte constitucional ou Tribunais constitucionais. Sang6es juridicas informais: insuficiéncia das sancées organi- zadas. A resisténcia & opressio. €) Nocao juridica de revolucdo: fundamento da validade jurf- dica das revolugées: estabelecimento de uma ordem juridica nova. Governos revolucionarios e governo de fato. Efeitos juridicos das revolugées (**). Na evolug&o do constitucionalismo encontramos pontos essen- ciais, que serviram de base para. a estruturacio dos Estados consti- tucionais democraticos, PAOLO BIScARETT! pt RurFia, tratando da Constituigio moderna, & luz de uma metodologia comparatista, afirma que a quase totalidade dos Estados do mundo contempo- raneo so dotados de uma Constituiego escrita, geralmente rigida. Nao apenas os Estados de democracia clissica, mas, também, os Estados socialistas. Ao iniciar esse exame, BISCARETTI pI RuFFia coloca o problema da Constituicdo dos Estados de democracia classica. Comeca com a Ppergunta: qual o motivo por que a Gra-Bretanha, que forneceu a mais valida contribuigio a0 “constitucionalismo” moderno, recusa até hoje a adociio de um texto constitucional solene? A resposta nao Ihe parece dificil. A particularissima vivéncia constitucional daquele Estado tornou possivel adequar progressi- (G0) BURDEAU, Georges. Trailé de Science Politique. Tomo IIT, Le Statut du Pouvoir dans Uatat. Paris, Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence, 1960; SALDANHA, Nelson. Estado, Jurisdieio © Garantias. Um Capitulo de Histéria Constitucional, Separata da Revista da Procuradoria-Geral do Es- tado, n2 13/18, Sko Paulo, 1960. R. Inf, legisl. Brasilia ©. 23 m. 91 jul./sct. 1986 ° 33 vamente, sem violéncia e sem relevante solugio de continuidade, a propria instituigo ds multiplas exigéncias da sociedade britanica. Permite que a Gré-Bretanha possa conciliar sua tradicional monarquia parlamentar, dotada de um governo intimamente de- mocratico e de plena seguranga social para os cidadfios. A Gri-Bretanha 6 0 tnico exemplo de um grande Estado mo- derno que deixa de recorrer a um texto constitucional solene. Vale- se da coordenada utilizacdéo da legislagao ordindria, da fungéo corretiva das antigas normas consuetudinarias, da jurisprudéncia. e das regras convencionais, conseguindo o que outros Estados do mundo contemporaneo sé tém aleancado por meio de uma série de Constituigées escritas. Os estudos das Constituicées modernas, debaixo do plano com- paratistico, na sua genealogia histérica e nas suas caracteristicas diferenciais essenciais, tornam oportuno relembrar algumas nogées fundamentais atinentes aos diversos significados assumidos pelo vocdbulo Constituigio. Tendo em vista a sua posigéo no constitucionalismo atual, par- timos de certas compreensdes decorrentes de suas transformagoes. Ela vem impregnada da estrutura organizativa fundamental da instituic&o estatal (Constituigéo no sentido institucional). Dentro desse primeiro entendimento, definido como substancial ou objetivo, Constituicaéo indica todo o complexo de normas juridicas funda- mentais, escritas ou nao escritas, que estabelecem a estrutura. essencial do Estado. H&é uma Constituigéo em sentido substancial em todos os Estados. © significado de Constituigdo no sentido formal compreende apenas a norma. juridica distinta daquelas componentes da lado ordinéria, desde que o processo de sua formacéio é mais dificil, solene ¢ demorado. Dai decorrem as distingdes: Poder Legislative ordinério, Poder Constituinte e o Poder de reviséo constitucional. Ocorre, ainda, um outro significado de Constituico quando se pretende indicar um ato normativo solene, que engloba a maioria das normas substancialmente constitucionais. Trata-se de Consti- tuic&o no sentido documental (#7), © Constitucionalismo contemporaneo, tendo em vista as trans- formacées metodoldgicas ocorridas na Teoria da Constituicao e no Direito Constitucional, pode atingir o conhecimento de trés aspectos (SY RUFFIA, Paolo Biscaretti Di. ntroduzione al Diritto Costituzionale Compa- rato Ce '“Forme di Stato” e Le “Forme di Governo”). Le Constituztoni o- derne, Mili, Dott. A. Giuffré Editore, 1969, pp. 399 ¢ ss. 34 R. Inf. fogisl. Brasilia a. 23 n. 91 jul./set. 1986 essenciais da estrutura estatal, pelo exame da composicio e funcio- namento de seus érgios, sob um triplice aspecto: @) estrutura do Estado: o Estado considerado em seus elemen- tos constitutivos; sua formacio; modificacdo, extingao; sua forma e seu sistema de governo; b) composiedo e funcionamento dos érgdos constitucionais: o direito constitucional néo se ocupa de todos os érgaos do Estado, mas dos de natureza constitucional; cuida da disciplina constitucio- nalista dos érgaos administrativos e dos érgiios judicidrios; e) fundamentais do regime politico do Estado: nem sempre os principios fundamentais que informam o regime politico do Estado estao constitucionalizados, isto 6, consagrados em normas constitucionais (#). 3 — Constitucionalismo cldssico O conceito e os “tipos” de Constituicéo aparecem, constante- mente, nos exames em torno do constitucionalismo classico. A Constituigéo do Estado surge como um complexo de regras que exprimem, de maneira unitaria e harménica, os prineipios e insti- tuigdes fundamentais da organizacdo estatal, podendo ser escrita ou nao escrita (consuetudindria) (*). Marcet Prktor, ao examinar as fontes do movimento consti- tucionalista, pergunta de onde vém as idéias novas. Examinando a Franga, aponta as grandes correntes do constitucionatismo. Duas procedem de fontes nacionais: a) Uma histérica reagdo contra 0 absolutismo de Luis XIV, com uma série de escritores, aristocratas em sua maioria: FéNnELon, SAINT-SIMON, BOULATNVILLIERS, MLLE. DE L&ZARDIERE, reclamam o retorno das regras constitucionais, abandonadas pela Monarquia nos seus ltimos anos, Para essa tendéncia, o estabelecimento de uma Constituicaéo nao é uma inovacdo, mas uma renovacao. b) A fonte dogmética. Decorre dos escritos da Escola de Direito Natural e das Gentes. Seu fundador foi o holandés Hucves pe Groor, habitualmente conhecido por seu nome latinizado Grotius. Publi- cou, em 1625, uma obra capital para o desenvolvimento do direito publico interno e o direito ptiblico internacional: De Jure Belli ac (® VIRGA, Pietro. Diritto Costituztonaie. Miléo, Gtuffre Editore, 1979, 9% ly Be Ae (39) MARTINES, Temistocle. Diritto Constitueionale, Milo. Dott. A. Gluffré Edi- tore, 1981, 2 ed., pp. 225 ¢ 226; CROSA, Emilio, Dirttto Costituztonale, Tus ‘Tipogratico-Editrice e Torinese, 1956, pp. 3 e ss.; LAVIE, Hum- ‘Tipologis y Clasificacién de les Constituetones, DIKE (revis- 1, Buenos Aires, 1977; FAYT, Carlos 8. Presupuestos para una reforma constitucional, Revista Juridica de Buenos Aires, Facultad de Derecho y Ciencias Sociales de In Universidad de Buenos Aires, 1958, ITT. R. Inf. legisl. Brasilia a, 23 9, 91 jul./set. 1986 as Pacis. Esse livro teve grande influéncia no pensamento juridico europeu. A Escola de Direito Natural e das Gentes considera a Consti- tuigéio, denominando-a de Lei fundamental, como 0 ato inicial da Soberania, e ao mesmo tempo como fonte de todos os poderes consti- tufdos. Precedendo as leis ordindrias, esta ligada @ origem do Esta- do, que a Escola denomina de “sociedade civil”. De todas as publicagdes, a mais i importante 6 a brochura de Strvs, intitulada Qu’est-ce que le Tiers-ktat? Fez uma precisa dis- tingao entre leis ordindrias e leis constitucionais. A Constituicdo é considerada nao uma obra do Poder censtituido, mas do Poder Constituinte. ¢) A terceira fonte vem do exterior. A seducio sobre a opiniaio desse ractocinio tedrico ver. do exterior, do exemplo americano. La Fayette leva as teorias constitucionalistas do novo mundo (*°). A democracia classica, apesar de suas diferengas, apresenta, na evolugio de seus respectivos sistemas constitucionalistas, earac- teres fundamentais comuns (Gré-Bretanha, Estados Unidos, Fran- (a, Itélia, Suica, Bélgica, Holanda, Estados escandinavos etc.) : @) o poder repousa sobre a teoria da soberania popular; b) 0s governantes siio escolhidos por eleigdes, com sufrigio universal, relativamente livres e sinceras; c) a estrutura de governo implica em certa dis: res (separacao de poderes, tipo americano; colaboracdo de poderes, modelo britanico) ; d) as prerrogativas dos governantes séo limitadas; e) 09 governados gozam das liberdades publicas (liberdade de opinido, de imprensa, de reunido, de associacao e religifio) (7). Dentro dessa ideologia democritica, o constitucionalismo oci- dental orna-se de trés principios essenciais: a) confianca no individuo: civilizagdo greco-latina; cristianis- mo; feudalismo; filésofos do século XVIII, particularmente, ROUSSEAU; b) crenca no valor do didlogo: € facil encontrar no constitu- cionalismo ocidental os caminhos para o didlogo. Podemos destacar entre eles: os mecanismos da representagdo politica; a pluralidade dos Partidos Polfticos; as assembléias deliberativas; separacio de poderes; (4) PRRLOT, Marcel. BOULOIS, Jean. institutions Politiques et Droit Consti- tutionnel. Paris, Dalloz, 1972, 6° ed., pp. 302 a 3¢4. (41) DUVERGER, Maurice, Institutions Politiques et Droit Constitutionnel. Pa- ris, Presses Universitaires de France, 1960, 5* ed., p. 239. 36 0. 23. OF 1986 ¢) © gosto pela organizagéio zacional Q constitucionalismo classico esta ligado & realizagao da democracia governada de BURDEAU, insepardvel do meio social, eco- némico, espiritual e politico decorrente do Estado liberal. A demo- cracia governada é todo um conjunto, um instrumento do Estado liberal. Ao reconstruir a unidade da vida politica, reintegrando os mecanismos constitucionais na rica e complexa variedade de ordens, temos todos os aspectos conjunturais. Estudando as técnicas politicas do Estado liberal, isto é, na formula constitucional que é a democracia governada, o autor esforga por demonstrar a incidéncia da idéia de direito dominante no Estado liberal sobre suas instituigdes (‘*). As preocupagées acerca do constitucionalismo sio constantes, sendo que a maioria delas voltam & Teoria das Constituigdes escri- tas, suas origens e caracteristicas, com os destaques dados As cor- rentes que contribuiram para o seu aparecimento e transformacées. Confrontando “autocracia” e “constitucionalismo”, LoewEns- Tein destaca entre as técnicas caracteristicas do sistema politico do constitucionalismo, em primeira linha, as eleicdes, nas quais diversas ideologias, representadas por candidatos e Partidos, lutam para obter o voto do eleitor. Numa contribuicg&éo essencial para o constitucionalismo contemporaneo, apresenta a classificagao onto- légica das Constituigdes. Tomando a mudanca fundamental que tem sofrido o papel da Constituigao escrita na realidade sécio- Potitica, conclui ser necessdério um novo intento de classificagdo. Essa sua nova andlise aponta trés tipos de Constituigées: norma- tivo, nominal e semantico (#). O constitucionalismo classico néo ficou indiferente 4s trans- formagoes que occrreriam em diversos setores da vida politica ¢ social. ‘ManveL Gancia-PELavo, que aponta uma tipologia dos concei- tos de Constituigées (conceito racional normativo, conceito histé- rico tradicional, conceito sociolégico), refere-se a uma crise do direito constitucional classico. Acrescenta que dos trés conceitos tipicos de Constituicéo acima referidos apenas o racional norma- (42) HAURIOU, André. Derecho Constitucional ¢ Instituciones Politicas. Barce- Jona, Ediciones Arie:, 1971, trad. de José Antonio Gonaaies Casanova, pp. 60 e's, (43) BURDEAU, Georges. Traité de Science Politique, Tomo V. L’Blat Libéral et les Techniques Politiques de ia Démocratie Gouvernée. Paris, Librairie Gé- nérale de Droit et de Jurisprudence, 1953. (44) PRELOT, Marcel, Institutions Politiques et Droit Constituttonnel. Daltoz, 1060, 44 od, pp. 204 ¢ a8. JEANNBAU, Benoit, Droit Constitutional et In- titutions Politiques. Librairie Dalloz, 1972, pp. 98 € s5.; Kar. Teoria de fa Constitucton, Bercelana, Balcones Avich, 910, trad. C6 ALPREDO (GO ANABITARTE, p. 216. 0.23 n. 97 jul/sct. 1986 “37 tivo teve importaneia decisiva para a formagéo da elfncia do delta constitucional (*) No constitucionalismo contemporaneo, mesmo aquele que tem suas raizes classicas e admite as atualizagdes necessArias, ocorrem varias propostas de revisdo da classificagdo das Constituicdes. Jonar Canpizo refere-se as teorias tradicionais, isto é, aquelas que se baseiam, como critério classificador, unicamente nos postulados do texto constitucional. Recorda o critério de Kart LOEWENSTEIN, que, ao propor 0 critério ontolégico, compara. a norma com a realidade, © texto constitucional com sua aplicagéo. A partir dessa compa- racéo, apresenta suas categorias. O publicista mexicano refere-se as diversas tentativas de classificagéo propostas. Entende que, para © conhecimento do sistema constitucional, devemos responder a trés perguntas fundamentais: @) Como estéo estabelecidos e como operam na realidade as garantias e os direitos individuais? 6) Que minimos econémicos e sociais asseguram aos individuos e como operam na realidade? c) Qual é a estrutura do sistema politico? Apés a exposico de suas idéias, aponta a seguinte classificagaio (com referéncias e critérios como: garantias individuals; minimo econémico; estrutura do sistema politico; separagdo de poderes e sistema de Partidos Politicos) : @) democracias; b) quase-democraticas; ) de democracia popular; d) nao democraticas (**). A complexidade constitucional atual vem sendo realgada por autores como Jorce Mrranpa. Reunindo as ligdes de René Davin, LoEWENSTEIN € SANCHEZ AGESTa, Dara aglutinacdo das ordens cons- titucionais existentes, chega a algumas poucas familias ou tipos. ‘Com esse entendimento enumera quatro grandes sistemas ¢ fami- lias constitucionais da atualidade: @) os sistemas constitucionais de matriz britanica; b) os sistemas constitucionais de matriz americana; (43) GARCIA-PELAYO, Manuel. Derecho Constitucional Comparedo. Manuales de In “Revista de Occidente”, Madrid, 1951, 2* ed., pp. $1 ¢ ss; ACHAVAL, Carlos Tagle. Derecho Constitucional. Tomo 1, Introduccién, Buenos Aires, Depalma, 1976, pp. 119 € ss. 48) CARPTZO, Jorge, La Clasificacién de tas Constitucones, Una Proporta. Bole- tin Mexicano de Derecho Comparado, Instituto de Investigaciones Juridicas, México, Nova Série, Ano XIII, n° 88, maio/agosto, 1980, pp. 376 @ 380; WHEA- RE, K, C, Modern’ Constitutions, Oxford University Press, 1967; ROSS, Alf. Qu’est-ce que la démocratic? Revue du Droit Public et de la Science Poti- tique, Paris, Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence, 1950, tomo LXVi, ne 1, Jan/fev., pp. 29 © 35. 38 R. Inf, fegis!. Brasilia a, 23 9. 91 jul./set, 1986 ¢) os sistemas constitucionais de matriz francesa; d) os sistemas constitucionais de matriz soviética (*). O publicista portugués, além de realgar a difuséo de cada um desses sistemas, aponta outros sistemas constitucionais, que de uma forma ou de outra tém vinculagées e influéncias dos quatro padroes referidos, com excegéo de alguns deles. — Outros sistemas constitucionais: — 0 sistema constitucional suigo; — os sistemas constitucionais alemfo e austriaco; — os sistemas constitucionais dos regimes fascista e fascizantes; — os sistemas constitucionais dos paises da Asia e da Africa. Qs diversos sistemas apontados apresentam as particularida- des dos multiplos aspectos do constitucionalismo e as modificagées que sofreram, desde o aparecimento de sua formula classica. Destar cam, também, o processo de universalizagdo do constitucionalismo. Haurrou afirma que o moderno processo de constitucionaliza- go, surgido nos fins do século XVIII, estendeu-se por todo o mundo, de modo progressivo e continuo. Distingue quatro grandes periodos: 1 — O que sucedeu a Independéncia americana e & Revolugao francesa de 1789. 2 — O que seguiu as revolugées francesas de 1830 e 1848, 3 — O que se produziu depois da primeira guerra mundia). apés a queda da Alemanha, do desdobramento do Império hungaro, do Império otomano ¢ do Império ezarista, como o fenémeno da Revolugéo soviética e o nasci- mento da URSS. 4 — Por ultimo, o que se desenrola desde o fim da Segunda Guerra Mundial e que esta no fundamental, ligado com a descolonizagéo do Terceiro Mundo (**). Varias interrogagdes surgem nessa fase do constitucionalismo. Cnantes Canoux faz a seguinte pergunta: Duas nogdes de Consti- tuicio? Ressalta que, sob a cobertura de um vocabulario juridico e politico quase semelhante, Estado liberal classico e Estado socia- lista marxista desenvolvem, em definitivo, duas concepgdes dife- 4 MIRANDA, Jorge; Manual de Direito Constituctonal, Tomo I. Preiminarss A Experiéneia Politico-Constitucional. Introduefo & ‘Teoria da Constituigéo, Cotmbra, Coimbra Editora, 1981, pp. 9 ss.; idem, Tomos II e TIT, 1983. (46) HAURIOU; André, Derecito Consttucioal «, Insituiones Politins, ob, ct. -GUETZEVITCH, B. Les Nouvelles Tendances du Droit ‘MIRKINE. intitle Paris, Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence, 1936, 2 R. Inf. legis!, Brasilia a, 23 n. 91 jul./set. 1986 39 rentes de Constituicéo. A nogéio de Constituicio escrita e rigida, sem duvida, perdeu, em nome do realismo sociolégico, seu rigor classico. Certos autores, como G. BuRDEAU, falam de simples sobre- vivéncia dessa nocao. Ela permanece para caracterizar alguns tragos especfficos que asseguram a preeminéncia da regra juridica como tal. A concepeio marxista, apesar do movimento atual que tende a revalorizar a posi¢éo juridica do texto constitucional, da lugar privilegiado & interpretacdo politica e ideoldgica. Resulta disso que estudo comparativo das Constituigdes se transforma, por vezes, em monélogo ou impasses. Essa interpretagio é reforcada em certos Estados denominados de socialistas-revolucion4rios que subordinam, expressamente, a andlise e aplicagdo das Constituicdes as idéias e principios formulados em uma “Carta da Revolucéo”, que aparece em definitivo como tinico documento essencial, mas que nao tem quase nada de juridico (Constituig&o de Madagascar, 1975, Consti- tuicéo da Argélia, de 1976) (#). Os estudos sobre o constitucionalismo sofreram modificagdes importantes, no que diz respeito 4 sua metodologia, com influéncia da Ciéneia Politica e do Direito Politico nos processos referentes a investigacées dos temas essenciais aos diversos sistemas constitu- cionais. Essas alteragdes permitem indagagdes mais profundas sobre os diversos prismas das instituicdes politicas, consagrados na evo- Jug&o do constitucionalismo, com substanciais buscas sobre o “valor real” das Constituigdes (°°), As Constituicées, usando-se 0 termo em sentido rigoroso, por meio da fixagéo dos fundamentos dogmaticos e organicos da ordem Politica, pretendem assegurar e conseguir a reproducdo das rela- cées sociais burguesas. Jé Ivo D. Ducuacex entende que as Consti- tuigdes comunistas dao deliberadamente a impressio de ser, simplesmente, uma breve parada, uma estacao intermedidria do (49) CADOUX, Charles. Droit Constitutionnel et Institutions Politiques — Théo- rie Générale des Institutions Politiques, Paris, Cujas, 1980, 2 ed, p. 148. (50) DABIN, Jean. Sur la Science Politique, Revwe du Droit Public et de la Scien- ce Politique en France et a L’stranger, Paris, Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence, n° 1, jan/mar., 1954, pp. 5 e 6s.; VILLENEUVE, M. de ls Bigne de. Traité Général de tat,’ Essai d'une Théorie Réaliste de Droit Politique. Paris, +. T, 1829; EISENMANN, Ch. Sur Vobjet et Ja méthode des sciences politiques, em La Sclence Politique Contemporatne, Paris, publi- cago da UNESCO, 1950: LOEWENSTEIN, Carl. Réflexions sur Ja valeur des constitutions dans tune époque révolutionnalre, Revue Francaise de Science Politique, Paris, 1952; PERNIA, Herman Petzold. Constitucién y Ciencia Politics, Estudios de Derecho, Facultad de Derecho y Ciencias Politicas, de Ja Universidad de Antioquia, ano XXXVI Segunda ipoce, vol. XXXV, ns 1975, pp. 145 © ss. 40 R. Inf, legisl. Brosilio a. 23 n. 91 jul./sct. 1986 tipo democratico ou socialista, para a marcha dialética para a utopia comunista em que o Estado e, provavelmente, a Constituigéo desaparecerao. Para a teoria marxista, a constitucionalizacéo do poder é 0 sistema normal de dominaco politica no modo de producio capi- talista, uma vez aleancada a maturidade dessa classe de relagdes de producao (*1). Apesar de todas as transformacdes do constitucionalismo, das interptetacdes ideolégicas e do enriquecimento tematico, so cor- rentes as indagacGes sobre a formaciio do conceito de Constituigéo e da ordenacio constitucional do Estado. Ao lado das formulagées originarias da Constituigéo, como norma fundamental e funda- mento do ordenamento juridico-politico, aparecem as questées de adaptabilidade da Constituicéo as futuras relacées sociais, ante a perdurabilidade freqiiente de algumas Constituicoes (°) 4 — Constitucionalismo social No constitucionalismo de entreguerras ocorre a confluéncia de tendéncias socialistas, liberais, cristas, com influéncias nas Consti- tuicdes, onde j4 comecam a surgir as técnicas planificadoras. Na descrigéo dessas modificacées, PasLo Lucas Verbu ressalta a confi- guracao do Estado de direito, como Estado social de direito. Sente- se a necessidade da constitucionalizac3o das realidades econémico- sociais. Com. as Constituigées da Primeira Guerra Mundial e apés a Segunda Guerra, as Constituigdes européias, antecedidas pela Constituigéo do México, de 1917, consagram os direitos econémicos e sociais (trabalho, seguro social, funcéo social da propriedade, nacionalizagdo, empresas publicas) (3). (S12) NOGUEIRA, J. Vilas, La Constitucién y la Reproducelén del Orden Politico Fund: titucionales, n° 21, Nova Epoca, mai./jun., 1961, pp. 53 € ss.; PACHUKANIS. A Teoria Geral do Direito ¢ 0 Marzismo. Coimbra, Centelha, 1977, trad. de Soveral Martins, (62) SALDANHA, Nelson. Sobre a Formacéo do Conccito de Constituigao Polt- tica. Brasilia, Fundagio Milton Campos, n.° 3, jan/mar., 1977, pp. 32 € 88.; POLETTI, Ronaldo, A Ordenacdo Constitucional do Estado, Politica, Bras{- lta, Pundagdo Milton Campos, n° 8, abr./jun., 1978, pp. 27 ¢ 3s.; DEBBASCH, ‘Charles. DAUDET, ‘Ives. Lezigue de Termes Politiques, fiats. Vie Politique et Relations Internationales. Paris, Dalloz, 1981, 3° ed. p. 86; BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Regimes Politicos. Sio Paulo, Editora Resenha Uni- versitaria, 1977, pp. 146 ¢ 88.; MOUSKHELY, Michel. Union des Repiibliques Socialistes Soviétiques. La notion soviétique de constitutions, Revue du Droit Public et de la Sctence Politique en France et & Pxtranger. Paris, out/dez., ne 4, 1955, p. 894. (3) VERDU, Pablo Lucas. Curso de Derecho Politico. Vol. I, Madrid, Editorial Teenos, 1972, pp. 30 € ss. R. inf, legisl, Brasilio @. 23 n. 91 jul./sct. 1986 a Exnst FoasTaorr aponta as transformagées ocorridas nas Constituigées do Estado de direito, tendo em vista as rapidas alte- ragdes do direito constitucional. Ao mesmo tempo, apresenta o signi: ficado para a doutrina do direito constitucional, da libertacéo ca interpretagao unilateral e positivista da Constituigéo. Smenp concorda que os institutos do direito constitucional devem set reconhecidos pelas suas peculiaridades juridicas. Essas indagacGes tém propiciado discussées acerca da prépria nogéia de Constituicaé2. ForstHorr lembra o titulo do estudo de Burpzav (Une Survivance: la Notion de Constitution) publicado no traba- Tho em: honra de Achille Mestre (L’évolution de Droit: Public, Paris, Sirey, 1956). Coma mecanismo que tem propiciado melhor inter- pretacéo da norma constitucional no ordenamento estatal, lembra- se o papel da Corte Constitucional Federal, que surge como um Grgao constitucional representativo, através de uma justica consti- tucional que pressupoe a divisdo de poderes, mas um conceito espe- cifico da lei constitucional (4). A evolugo do constitucionalismo tem propiciado diversas tipologias das Constituigdes, que vém acompanhando as variedades formais e materiais dos textos que so objeto das classificagées. Varios ensaios objetivam apontar o entendimento que a doutrina apresenta, no que diz respeito as classificagdes das Constituigdes. As teorias tradicionais, que tomam como critério diferenciador os proprios textos constitucionais, distinguem-se da de Kan. Lozwzns- TEIN, que apresenta o fundamento ontoldgico, objetivando comparar a norma com a realidade, o texto constitucional com sua aplicacéo. As orientagées tradicionais encontram em JamMzs Bryce (Cons- tituigdes Flexivels e Constituicées Rigidas) seu maior ponto de apoio, apresentando-as como Constituicées escritas ou estatutdrias e ndo escritas ou consuetudinarias. Dentre as criticas apontadas a essa classificacao destaca-se a que ela acarreta dubledades inter- pretativas, como a que se refere a que, ao lado de toda Constituicéo escrita, existem costumes e decisées judiciais que a completam, ampliam ou modificam. Por outro lado, mesmo na ocorréncia de Constituigces nao escritas, existem estatutos e leis constituclonais. Dentro dessa interpretacio, ALESSANDRO PizzoRusso fala em concep- ¢do judicialista do direito constitucional (*). (34) FORSTHOFF, Frnst. La Transformazione della Legge Costituzionale, em Stato di Diritto in Trasformazione. Miléo, Gluffré-Editore, 1973, pp. 107 e 55.; VANOSSI, Jorge Reinaldo. La democracia politica y democracis soclal, em El Régimen Constttucional Argentino, Ed. Idearium, Universidad de Men- dora, TOIT: idem) tapas y_ transformaciones dl constituctonalismo social det Estado Social de Derecho), Reviste det Colegio de Abo- gatos de bar Plata, Buents Alves, aflo XXIV, mim. 2, 1982. (85) PIZZORUSSO, Alexandro, Lezioni di Diritto Costituzionaie, Edigho de ~“T Foro Italiano”, Roma, 1984, 3* ed. a R. Inf, fegisl, Brasilia a. 23 nm. 97 jul/eat. 1986 Para os partiddrios dessa dicotomia, como Bryce, o critério discricionador assenta-se no entendimento de que as Constituigées pressupéem o principio de que as normas constitucionais possuem uma hierarquia superior, frente as leis ordindrias, pelo que nao sio reformaveis pelo Poder Legislativo, mas por um érgao e procedimen- to especiais. Ao lado dessas, existem Constituigées reformavei através do mesmo procedimento utilizado para alteracdo das nor- mas ordindrias. Outras classificagées tomam critérios diferentes como ocorre com Warare, STRONG, SMITH, Lestiz, WouF-PHILiPs, Bar CAMPOS, Lucas Verpu, TAGLE ACHAVAL, LINARES QUINTANA, QuiROGA LaviE, Imre Kovics e Bopo DENNERWRTZ, LOEWENSTEIN, JORGE CARPIzO (°°). Essas tipologias destacam alguns aspectos inerentes 4 natureza do Estado e da propria Constituiedo ou dao destaque & natureza do Poder Legislativo. Certos modelos destacam andlises dos sistemas constitucionais, sendo que alguns refletem os aspectos formais jé consagrados por BRYCE. Justificando a utilidade da classificacio das Constituigées, antes de propor um critério para distingui-las, JorGz CaRPIzO acen- tua: “podemos reiterar que existem duas dticas para acercar-se deste problema: a tradicional, que consiste em ressaltar as carac- teristicas mais relevantes da Constituigéo escrita ou codificada, isto 6, circunscrever & andlise do que expressa a Constituicdo es- cerita”. De acordo com a outra compreensao, a viséo é ontoldgica, como a de LOEWENSTEIN, ao dedicar-se 4 comparacéo entre Consti- tuigéio escrita ou codificada e a realidade em que é aplicada. Entende, ainda, que o empenho classificador é util ao direito comparado, além de destacar os respectivos sistemas politicos. No (86) BRYCE, James. Constituciones Flezibles y Constituciones Rigidas. Madrid, Instituto de Estudios Politicos, 1952; WHEARE, K. C. Modern Constitutions. Londres, Oxford Paperbacks University Series, 1966; STRONG, C. F. Modern BIDART CAMPOS, German J. Manual de Derecho Constitucional Argen- tino. Buenos Aires, Ediar, 1976; LUCAS VERDU, Pablo. Curso de Derecho Politico. Madrid, Editorial Teenos, 1974, vol. Comparado. Buenos Aires, Editorial Alfa, 1953, t. II; QUIROGA LAVIE, Humberto. Derecho Constitucional. Buenos Aires, Cooperadora de Derecho ¥ Clencins Sociales, 1818; LOEWENSTEIN, Karl Teoria, de la: Constitueion, Barcelona, Ediciones Arid, 19¢4; CARPIZO, Jorge. La Clasificacion de las Constituciones. Una propuesta — Boletin Mexicano de Derecho Comparado. ‘UNAM, Instituto de Tnvestigaciones Juridicas, Nova Série, ano XIII, n* 38, ‘maio/agosto, 1980, pp. 359 ¢ ss. Ro Inf. legisl, Brositia a. 23 m, 91 jul./eet. 1986 43 que se refere 4 importancia politica, leva-nos a destacar qual 6 o methor tipo de Constituicao. No inicio desse séeulo, o movimento constitucional passou por diversas transformagdes. As forgas sociais atuaram com grande vitalidade para essas modificacdes. Ressalta Xnrra Heras que, a partir de 1919, surgiu no direito constitucional a tendéncia para abragar 0 conjunto de vida social. Passaram a estender-se as normas juridicas no apenas a todo mecanismo politico, mas as relagdes econdmicas e sociais. A ampliacéio do contetido dos textos constitucionais tem levado a diversas investigagoes acerca da nocéio de Constitulgao, apesar da, permanéncia de temas basicos para sua conceituacdo. Certos publi- cistas distinguem a Constituic&o em sentido material e em sentido formal, De conformidade com o primeiro enfoque, que tem sua expresso no direito constitucional, ela é entendida como o conjunto de normas concernentes & organizagéo e funcionamento dos pode- res piiblicos, sem distinguir as regras ou formas de sua edigdo: Constituicao, lei organica, lei, resolucdo etc. Na visio formal, a Constituigéio decorre de uma formula cons- tituinte, proveniente de um orgao constituinte, que nao pode ser modificada, a nao ser pela mesma sistemAtica como foi criada ou através de um procedimento especial de revisio, conforme as expres- sdes de CaRRE DE MatBeRc. No interior da Constituic¢ao formal, a homogeneidade das disposicbes nao é evidente. & nesse sentido que CARRE DE MALBERG escreve que existem regras que nfo estéo com- prometidas com a organizacao do Estado, pelo que nao tém carater constitucional intrinseco, mas fazem parte da Constituigio formal. Qualquer que seja o seu objeto, foram estabelecidas pelo orgao cons- tituinte, consagradas que foram pelo ato constitucional. Distin- guem-se, no seio do instrumento “constitucional formal”, disposi- cOes que estabelecem as grandes fungdes entre os poderes publicos ¢ fixam as modalidades técnicas de cada um deles. Encontram-se, assim, mesmo no interior da Constituic&o formal, disposi¢des “ma- teriais” e disposigdes “formais”. Para SrkrHaNz Riaus a distincao € relativa, destacando para seu raciocinio o entendimento de Kexsen: A inconstitucionalidade material é em ultima anélise uma inconstitucionalidade formal (La Garantie Jurisditionnelle de la Constitution, 1a Justice Constitutionnelle) (*). ‘Mesmo com este carater de relatividade, a distingdo é comum na doutrina da teoria juridica, com diversas apresentagoes, Essas (87) KELSEN, Hans. Teoria General del Derecho y del Estado, ob cit,; MAL- BERG. R. Carré de. Teorta Genern! det Estado. Mexico, Fondo de Cultura Econémica, 1948, trad, de José Lién Depetre; KELSEN, Hans. La garentic Jurisdictionnelle ‘de 1a Constitution (La Justice Constitutionnelle), Reoue de Droit Public et Science Politique en France et 4 (#tranger, Paris, 1928. 44 Rh fegitl, Brosifia a. 23 0. 91 jul-/sel. 1986 incursées levam, também, a mitiltiplas indagacées acerca do valor das Declaragées e dos Preémbulos constitucionais. Os classicos ja debatiam o significado das Declaracdes e dos Predmbulos. As Constituigdes de 1791, 1793, do Ano III e de 1848, na Franga, nao se contentaram apenas em colocar as solenes Declaragoes de Direito 4 frente de seus textos, ao lado delas enume- ravam certos direitos que elas garantiam aos cidadios (garanties des droits). O valor das declaragées, predmbulos e garantias dos direitos merecem profundas reflexdes, STEPHANE RIaLs ressalta que as inda- gagdes de Ducurr e Hauriou chocam os juristas, profundamente marcados pelo positivismo formalista. Citando Duautr, destaca esse trecho do publicista francés: o sistema das declaragées de direitos visa determinar os limites impostos & aco do Estado, configura os princfpios superiores que devem ser respeltados pelo legislador constituinte, como pelo legislador ordinério (Jéze, Valeur Juridique des Déclarations des Droits) (°*). ‘Com.as novas Constituicées, os temas referentes ao preambulo, declaracées e garantias voltam a ocupar grandes espacos na litera- tura juridica. O preémbulo cresce de importancia em algumas Constituigées que, além de amplia-lo, dao-Ihe até valor ideolégico e orientador do regime politico. As declaracées, além do crescimento de suas intengées, aparecem ao lado das proclamacées dos direitos econémicos e sociais, ao passo que as garantias crescem, também, em substancia e formulacoes processuais. Todas essas nocées, também, sofreram alteragGes profundas com 0 constitucionalismo social ganhando em dimensao e projegao Nios textos constitucionais. Z1PPELTUS, no exame da origem dos direi- tos fundamentais e do catalogo dos mesmos, sua validade, eficdcia, ressalta que eles tém, principalmente, a funcdo de defender a liber- dade individual, em casos de ingeréncias do poder estatal facilita- doras das ampliagdes totalitérias do Estado. A igualdade formal nao seria suficiente para a plena realizacéo da democracia econémica, social e participativa: “Este principio de um tratamento igual de todos tende.a estender-se para além de uma igualdade politica puramente formal e uma igualdade principalmente econdmica, Por trés duma igualdade apenas de posigées juridicas formais entre os homens pode esconder-se uma profunda desigualdade social” (*), (68) RIALS, Stéphane. Les Incertitudes de la Notion de Constitution sur In Ve République, Revue du Droit Public et de ta Science Politique en France et 4 Tétranger. Paris, Librairie Générale de Droit et de jurisprudence, no 3, maio/junho, 1984, pp. 587 € 88. (68). ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria Geral do Estado. Lisboa, Fundagio Calouste Gulbenkian, 1984, 2° ed., trad. de Antonio Cabral de Moncada. Prefiicio de L, Cabral de Moncada, p, 178; PIZZORUSSO, Curso di Diritto Comparato. Mildo, Giuffré, 1983. R; Inf, legisl. Bro 23 n, 91 jul./sel. 1986 45 Com as transformagées ocorridas nas concepgées individualis- tas da sociedade, que serviram de base as Constituicdes politicas do século XIX, apés a tentativa francesa de 1848, surgem as pressdes de uma sociedade complexa, em que as formas associativas prevale- cem, com evidentes influéncias na vida social. As Constituicdes que vieram apés a Primeira Guerra Mundial Tefletem as novas exigéncias, nao ficam apenas preocupadas com a estrutura politica do Estado, mas salientam o direito e o dever do Estado em reconhecer e garantir a nova estrutura exigida pela sociedade. Aos direitos absolutos da Declaracéo de 1789 contra- péem-se limitagées, decorrentes das superiores exigéncias da coleti- vidade. Aos principios que consagram a atitude abstencionista do Estado impée-se o do art. 151 da Constituicéo de Weimar: A vida econémica deve ser organizada conforme os princfpios de justica, objetivando garantir a todos uma existéncia digna. A Constituig&o de Weimar foi tipica dessa época, apesar da antecedéncia da mexicana de 1917, informadora das Constituicdes sucessivas como as da Roménia, da Estonia, da Lituania, da Polé- nia e da Espanha. A propriedade é garantida (art. 153, C. W.), mas sofre limita- des decorrentes do interesse geral. As Constituigoes contempora- neas, como a italiana e outras, nao sao exclusivamente politicas, mas essencialmente sociais. O direito constitucional n&o resguarda apenas a estrutura e a organizacao politica do Estado, mas ressalta. os fundamentos de sua acdo social (°°), O constitucionalismo contemporaneo sofre diversas influéncias, decorrentes da ampliacao de seu contetdo e de suas exigéncias, sem que na sua férmula de democracia econémica e social tenha abandonado certos temas que lhe sao essenciais ("). (60) CROSA, Emilio. Diritlo Costituzionaie, Torino, Unione Tipogratico-Editrice , 1955, 48 ed., pp. 28 © 88. (Gl) PERGOLESI, P, La Costituzione come fonte di validita delVordinamento slurldico, em Rivista di Diritto Publico, 1937; CERETT, C. La norma costl- tuzionale, em Rfvista di Diritto Publico, 1940; AMORTH, A. It Contenuto Giuridico della Costituzione, 1946; . Saggia sulle tearia della Costituzione, em “Jus”, 195i; BARILE, P. La Costituzione como Norma Giu- ridiea, 1951; DUCLOS, P.'La Notion de Constitution dans YOeuvre de tuant, 1933; ORIGONE, A. Potere costituente, en Nuovo ‘Digesto Italiano; MORTATLC. Le Costiiuenie, 198, BERLIA, ©. De la compétense des oa- semblés costituantes, em Revue du Droit Public, 1945; MORTATI, C. Appuntl sul problema della fonte del potere costituente, em Rassegna di Diritto Publico, 1946; ESPOSITO, C. Leggi vecchie e Costituzione nuova, em Giu- risprudenza Italiana, 1948, IIT; idem, Efficacia delle regole della nuova Cos- tituzione, em Gturisprudenza italiana, 1948, 11 I, F. Leggl vec- (Continua) 23 n, 91 jul./ect, 1986 as R. Inf. legisl. Brasilia Penetrando no campo dedicado a Teoria Geral do Direito, acerca da origem e da fonte mesma do Poder Constituinte, entende que a origem dele é anterior a positividade. O amplo conceito de Poder Constituinte distingue-o, profundamente, do poder de revisio e de interpretacZo da Constituigéo formal. O poder de revisdo aproxi- ma-se da natureza do Poder Constituinte, quando realiza modifi- cagées na Constituicéo formal, de conformidade com as regras pré-constituintes aceitas pelo Poder Constituinte em seu desen- volvimento histérico, Para o publicista italiano, nao é possivel modi- ficar-se inteiramente a Constituig&o, através do exercicio do sim- ples poder de revisdo. A Constituicéo pode ser alterada no seu texto formal, por via de emendas, isto 6, mediante a atuacdo do poder de revisdo. A manifestacaéo mais consideravel de exercicio do Poder Constituinte, além disso, por meios pacificos, é, por meio de fato normativo, produzindo transformagées substanciais nos principios relatives & forma de governo, contrariando a norma constituciona] escrita. A doutrina moderna, através de MIELE, Mor- Tati e Boapio, reagrupando todos esses fendmenos de produgdo juridica, debaixo do conceito unitério de ato normativo, aceita a possibilidade conceitual e material de colocar-se limite “formal” ou “substancial” ao desenvolvimento do Poder Constituinte. Sua caracteristica fundamental é a de provocar a mutacao do regime politico. O Poder Constituinte tem a sua configuracdo mais autén- fica, quando realiza a mutacéo da formula politica, através de um so ato revolucionario, acompanhado ou nao de violéncia. 0 procedimento da emenda constitucional ocorre, ao contrério, atra- vés do exercicio do poder de revisdo, regulado de modo conciso e claro na Constituigéo. O orgao revisor, normalmente, é o Parla- mento, sendo possivel a participacdo popular direta. Por inter- médio do referendum que tem o carater “facultativo” e “suspen- (Continuagdo da nota 61) chie e Costituzione nuova, em Foro Italiano, 1948, IIT; PIERANDRET, F. ‘Validité e invalidita di leggi anterior! alla Costituzione, em Giurisprudenza Italiana, 1949, I; VALASSINA, M. Bon. Di un limite assoluto della potesta normativa in’ materia costituzionale, em Archivio Giuridico, vol. CKXXV; PIERANDREI, A. Efficacia abrogante delle norme della Costituzione, em Commentario ‘Sistematico alla Costituzione Italiana, direcio de A. Levi e P, Calamandrei 1950; RUFFIA, P. Biscaretti di. Sull'efficacia abrogante delle norme delia Costituzione italiana, em Foro ftaliano, 1951; FRANCHINT, F. Efficacia delle norme costituzionali, em Archivio Penale, 1950; GROPPALI, A. Conflitti tra la Costituzione e le leggi ordinarie precedenti, em Studi Giu- ridice e Sociali, 1954; MORTATI, C, Concetto, limiti, procedimento della, revisione costituzionale, em Studi in Memoria di L. 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Procurou-se a adog&o de mecanismos de democracia eco- némica, conciliando-os com as téenicas da democracia politica. A democracia liberal criou instituicdes politicas que pretenderam ser instituigées da liberdade, caracterizadora da atual fase da democracia classica (sufragio universal, equilibrio de poderes, plu- ralismo de Partidos, autogoverno, supremacia da lei). As instituicgdes juridico-politicas tém por objetivo garantir o governo da maioria, respeitando os direitos da minoria. Entretanto, esse critério numérico recebeu diversas interpretagoes que decorrem das novas concepgdes em torno dos mecanismos de sua institucio- nalizagao. As liberdades publicas sofreram transformacdes essen- ciais, devido a fatos de ordem politica, social, econémica e técnica, provenientes da democracia governante ou participativa, encora- jando a intervengio do Estado, com profundas modificagdes no constitucionalismo. Diversos ensaios apontam o aparecimenta de Conselhos Econémico-Sociais em Constituigdes como a da Franca, para a propositura de solucdes de cardter econémico e social. Os principios ideolégico-politicos sio acentuados em diversos regimes politicos, com transformagdes essenciais no contetido dos textos constitucionais. Juan FERNANDO Bapra (El Régimen Politico Ita- liano, pp. 393 € ss.) afirma que a Constituicao italiana de 1947 é tipica da época em que foi redigida, isto 6, refletiu o movimento constitucional do segundo apés-guerra, com caracteristicas acen- tuadas de uma democracia social, frente a juramento formal, ocor- rida com o estabelecimento de uma reptiblica parlamentar (N. Boxsio e F. PIgRANpREI, Introduzione alla Constituzione, Laterza, 1982) (*), As primefiras Constituicdes deram saliéncia a participagao politica, com o grande destaque a cidadania, efetivada pela mani- (6 BARILE, Paolo. La Revisione della Costituzionc, em Commentario Sistema- Hico alla Costituzione Tatiana, Diregfo de Piero Calsmandrel e Alessandro Levi, vol. segundo, Firenze, G, Barbére Editore, 1950, pp. 465 € #5, (3) KRIELE, Martins, Introduccién a la Teoria det Estado. Fundamentos Histé- Ticos de ta Leyittinidad de Estado Constituctonal Democrético, Buenos Aires, Depalma, 1980, trad. de Bugénio Bulygin, pp. $10. (1) BADIA, J, Ferrando (Coordenador), CONDE, E. Alvarez, SEGADO, F, Fer- nandes. COTARELO, J. Garcia Hernandes, J. C. Gonzélez. RIVERO, C, Nu- fie. LOPEZ, M, Pastor. FERRIZ, R, Sanchez, Regtmenes Politicos Actuales (obra coletiva). Madrid, Tecnos, 1980, p. 393; BADIA, Juan Ferrando, Demo- eracia frente a Autocracia, Madrid, ‘Tecnos, 1980, a8 R. Inf. legisl. Brasilie a, 23 n, 97 jul./eet, 1986 festagao eleitoral. Os textos constitucionais, acertadamente, afirma Ferranpo Banta, ofereciam visio parcial e insuficiente da vida politica. A participagao politica reveste-se de varias modalidades, tefletindo # diversidade dos regimes politicos, sendo que ela pode ser por via individual ou por intermédio de grupos, As Constitui- cées proclamam 0 direito de associagdo, A proporedo que as demo- cracias pluralistas determinam a constitucionalizac&o dos Partidos Politicos. Com as transformagées surgidas na teoria democratica classica, aparecem as alteracdes que levam ao Estado social e ao poder intervencionista. A democracia econdmica apresenta concep- c6es diferenciadas, sendo que influenciam a propria concepeao de cidadania, entendida como participagdo em todos os niveis da vida econdmica, social e politica, com resultados na progressiva socia- lizagao e politizagdo dos governados, através da efetiva interven- co nas relacdes de poder. O sistema de valores, as ideologias e instituigées refletem essas novas perspectivas. Esse constituciona- lismo opée-se & democracia individualista, com critérios diferen- ciados. A Teoria Constitucional dos Direitos Politicas © dos Direites Sociais procura, em muitos regimes, coneiliar as duas tendéncias. Opée-se uma concepedo formal e politica de Constituigfo a uma compreensdo material ou social da mesma. A concepcdo tradicional de Constitui¢ao, resultante do cons- titucionalismo classico, compreendia-se como um ato que organiza as bases dos poderes ptiblicos, em oposigao & Constituicao da mo- narquia absoluta. Tratava-se de um ato que materializava as con- quistas das liberdades, tidas como simbolo dos regimes liberais, democraticos e republicanos. Os juristas contemporaneos afasta- ram-se dessa nog&o formal de Constituicéo, aceitando um enten- dimento mais amplo. A concepcao “politica” é mais ampla do que a definicéo “for- mal” da Constituigdo, mas ela nao procura representar a realidade constitueional. Para Prerre Laviene existe pouca diferenca entre 0 exame dos atos que organizam os Poderes Publicos (concepgao politica formal) e a concepgao politica material, Toda definigéo formal de Constituic&o corresponde a uma concepgao da “Consti- tuigiio politica”. Com o tempo nao mais concebia-se a Constitui¢éo como uma simples regra de procedimento politico, mas em sua plenitude social. Os estudos constitucionais passam a receber influéncia da sociologia. Deve ser parte dos estudos sociolégicos, sem abandonar © aspecto juridico da estrutura social. Essa concepgao de Consti- tuicao é diferente daquela dos racionalistas da Revolucdo francesa. Com Ducurr e Haustou surgem outras concepgées juridicas. No seu Traité de Droit Constitutionnel aparece a concepcéo solidarista R, Inf. legisl, Brosilio @. 23 0. 91 jul./set. 1986 rr de Constitui¢éo, Haugiou propée, em sua teoria institucional, defi- nir a Constituigéo como o conjunto de regras fundamentais rela- tivas ao estatuto politico e social do Estado. A expressio Constituigao material ou social aparece em alguns doutrinadores, chegando-se a afirmar que a Constituigéo politica entra em desacordo com a Constitui¢do social, porque essa 6 menos liberal do que a primeira. Entretanto, pensa-se, também, que a concordancia entre a Constituicéo politica e a Constituigao social propicia o estabelecimento de um Estado constitucional estavel. Essas relagdes sdo consideradas essenciais para a vida juridica das instituicées. As normas constitucionais para serem eficazes devem ser garantidas pelo direito. Ao lado da hierarquia das instituigdes, aceita-se uma hierarquia dos direitos individuais e sociais, Como teérico da revolucaio, Smyris fez uma classificagio racional dos direitos individuais, distinguindo-os em: direitos civis e direitos individuais, relacionando-os como direitos civis e direitos politicos, PELLEGRINO Rosst entendeu como incompleta a disting&o, apontando a seguinte discriminacao: direitos privados, publicos e politicos. As coneepgées sociolégicas de Constituigéio provocaram novos entendimentos sobre a distinc&o. A expressio “direitos sociais” deveria ser adotada em substituico aos “direitos politicos”, para compreender as disposicdes fundamentais da legislacéo positiva. Os direitos sociais e os direitos politicos surgem nos textos cons- titucionais, sendo que a nova teoria permitiu a fixacéo dos quadros do direito constitucional do trabalho (*). © constitucionalismo social encontrou a sua melhor interpre- tagdo no momento em que os diplomas constitucionais deram dimensio jurfdica A ordem econémica e social, iniciado com a Constituigaéo mexicana de 1917 e a Constitui¢ao alema de Weimar. O regime dos direitos constitucionais, nos modernos diplomas, tem merecido variadas apreciacdes que ressaltam a amplitude de seu contettdo. Denominados de liberdades piiblicas, direitos huma- nos, direitos fundamentais, direitos individuais, direitos politicos, direitos naturais, As proprias Constituigdes empregam uma ter- minologia constitucional variada. Nesse sentido, AURELIO Guarta, no relacionamento das clas- sificagdes e catdlogos dos direitos constitucionais, afirma que eles séo susceptiveis de mUltiplas discriminacées. Ao mesmo tempo ressalta que, em qualquer circunstfincia, deve-se entender que os (@5) LAVIGNE, Pierre. Le Travail dang lee Constitutions Frangaises 1789-1945, ‘Les Bases Constitutionnelies du Droit du Travail. Paris, Recueil Sirey, 1948, Pp. ld e ss. 50 R. Inf. legisl. Br 23m, 91 jul./sat. 1986 poderes pitblicos promovam as condigées de “liberdade” e “igual- dade” do individuo e dos grupos, para facilitar a participacao de todos os cidaddos na vida politica, econémica, cultural e social. Entende que essa relacdo permite a classificagao material dos direitos na Constituigéo espanhola, sendo que eles figuram nos pactos internacionais subscritos por aquele Estado. De conformi- dade com o texto mencionado, propée a seguinte classificacio: a) liberdades (abstengio dos Poderes Piublicos — direitos de liber- dade frente ao poder); ) direitos politicos (participacio e liber- dade frente ao poder); ¢) direitos econémico-sociais (**). Como resultado de um constitucionalismo democratico e social, convém ressaltar o desdobramento desses direitos constitucionais: @) direitos fundamentais e liberdades publicas: igualdade, direito & vida e 4 integridade fisiea e moral; liberdade ideolégica, religiosa e de culto; direito A liberdade e & seguranca; direito A honra, & intimidade pessoal e familiar, bem como & propria ima- gem; inviolabilidade do domicilio; segredo das comunicagoes; direi- to de eleger livremente a residéncia, circular por todo o territorio nacional, entrar e sair livremente da Espanha, liberdade de expres- sio, difusao e comunicacéo de pensamentos, idéias e opinides, direi- to de receber livremente informacao verdadeira por qualquer meio de difusao; direito de reuniao; direito de associagio; direito de participar nos assuntos publicos e de ascender a funcdes e cargos pliblicos; direito de obter a tutela efetiva dos tribunais e de nfo ser sentenciado com base em leis anteriores que motivaram a sancio; direito & educac&o e & liberdade de ensino, de criacdo de centros docentes e de cAtedra; direito de sindicalizar-se livremente assim como de fundar sindicatos, direito de folga, direito de peti- cao individual e coletiva; b) direitos dos cidadaos: contrair matriménio; a propriedade privada e a heranca; direito ao trabalho, com livre escolha de Profissio ou oficio; direito & negociacao coletiva trabalhista; ado- cfio de medida de conflito coletivo; liberdade de empresa, de con- formidade com a economia de mercado; c) prinetpios diretores da vida politica, social e econémica: proteciio A familia; seguro social e no trabalho; distribuigéo mais eqiitativa da renda; promogao da juventude; protecéo aos despro- tegidos; proteciio & terceira idade; aos consumidores; direito & pro- (66) GUAITA, Aurelio. Régimen de los Derechos Constitucionales, Revista de De- recho Politico, Universidad Nacional de Educecién a Distancia, Madrid, n° 13, Primavera, 1982, pp. 8 e 81: MIRANDA, Jorge. A Declaragto Universal € 0s Pactos Internacionais de Direitos do Homem. Introdugko e Tradugio de Jorge Miranda, Lisboa, Livraria Petrony, 1977: idem, Direitos do Homem, Declarasdo Univeral. Pactos Internacionais. Convenedo Eurontia. Coletines Organizada por Jorge Miranda, Lisboa, Livraria Petrony. R. Int. tegisl, Brosilio «, 23 ». 91 jul./sct. 1986 aT tegdo da satide, da cultura, possibilitando a cada um desfrutar de meio ambiente adequado para o desenvolvimento da pessoa, permi- tindo desfrutar uma vida digna e adequada. Os direitos fundamentais e as liberdades publicas sao protegidos constitucionalmente, com plenas garantias, mas néio sio ilimitados. Existe proteco especial para todos os direitos acima mencionados. As normas relativas aos direitos fundamentais constitucionalmente consagrados sao interpretadas de acordo com a Declaraco Univer- sal dos Direitos Humanos, tratados e acérdos internacionais rati- ficados pela Espanha. Os direitos fundamentais tém protec&o judi- cial especial. Compreende-se que os prinefpios que regem a vida social e econémica nao sfio entendidas como meras declaracées programdti- cas, simples promessas ou um catélogo de bons desejos juridica- mente irrelevantes. O reconhecimento, 0 respeito e a protegéio dos principios ai reconhecidos deverdo informar a, legislac&o positiva, bem como a pratica judicial e a atuacéo dos Poderes Publicas (*). © constitucionalismo social contemporaneo ficou enriquecido com os prineipios informadores da ordem econémica e social precurando os processos democraticos ajustar-se com as garantias individuais. As técnicas institucionalizadoras de protecéo eficaz desses direitos so essenciais ao Estado constitucional democratico e social: Qualquer cidadéo poderé reclamar a tutela das liberdades ¢ direitos reconhecidos pelo artigo 14 e a Secdio I do Capitulo Segun- do, ante os tribunais ordinérios, por um procedimento baseado nos principios de preferéncia e sumariedade, e, em seu caso, mediante © recurso de amparo ante o Tribunal Constitucional (). A constitucionalizacdo dos direitos sociais expressa as novas tendéncias da democracia econémica, social e participativa. Os Estados contemporfneos, ao determinarem o seu estatuto politico, estabelecem os critérios e as formas de seu desenvolvimento eco- némico, social e cultural. A Constituicéo de Weimar consagrou em seu art. 151 os direitos sociais, dedicando substancial parcela a vida econémica, devendo sua organizacdo corresponder aos princ{pios de justica e ter como finalidade garantir a todos uma existéncia digna: “Durante o séeulo XX uma nova série de reivindicagées econémicas e sociais ampliou o espectro dos direitos humanos. Como eles dependem, para sua obtencdo, de uma politica afirma- tiva do governo, podem ser qualificados coletivamente como direitos positives. Em termos legais, eles devem satisfazer necessidades hhumanas basicas que nao se encontrarem satisfeitas, de nenhum outro modo, pelo sistema sécio-econémico. No século XX, a influén- (6D GUAITA, Aurelio, Régimen de los Derechos Constitucionales, ob. cit. (68) BARACHO, José Alfredo de Oliveira, Processo Constitucional, Rlo de Ja- nelro, Forense, 1984. 2 “R. Inf, tegisl, Br cia tanto dos Partidos Politicos como dos sindicatos dos trabalha- dores tem sido decisiva na promogdo da politica dos “direitos posi- tivos” de previdéncia social. Nas primeiras etapas do desenvolvi- mento desta politica os que a advogavam foram freqiientemente eficazes em demonstrar que a previdéncia social beneficia a eficién- cia industrial, e tem mostrado habilidade na aplicacéo do simbo- smo e da retérica dos direitos humanos no campo da politica da assisténcia social (*). Ao examinar 0 contetido econdémico da Constituigéo brasileira de 1946, WaLDEMaR FrrreIRa anotou: “Tornou-se moeda corrente a teoria da intervencao do Estado na vida econémica e pleiteou-se nova declaracdéo dos direitos do homem, que estabelecesse nova ordem social asseguradora de prosperidade para todos” (7°). © desenvolvimento do constitucionalismo social propiciou decisiva transformacio do contetido dos textos constitucionais permitindo ingressar nesses diplomas um elenco de assuntos que estavam fora do ambito das normas fundamentais. A jurisdicizacaio dos direitos sociais constitui etapa substancial dessa nova fase do direito constitucional, reveladora da democracia econémica e social. As novas tendéncias vieram enriquecer as exposigdes de Locke, Wo.rr, BLAacKsTone, Roussrau e Strvis, quando elaboraram as primeiras formulagées doutrindrias dos direitos individuais e supe- riores aos do Estado. Ao tratar da Teoria dos Direitos Individuais, A, ESMEIN ressaltou a igualdade civil e a liberdade individual, sem deixar de apontar a importancia da regulamentagdo desses direitos pela, lei, A conciliag&o da compreensfo dada aos direitos fundamentais, com as modernas técnicas do constitucionalismo social, com efeti- vos mecanismos de garantias, pode gerar um processo democratico, que efetive a participagao politica, econémica e social (72). (69) CLAUDE, Richard Pierre, Comparative Human Rights. John Hopkins Uni- versity Press, 1976, (i) FERREIRA, Waldemar. © Contetido Econémico da Constitui¢io Brasileira de 1946, em Direito. Doutrina, Legislacéo e Jurisprudéncia. Rio de Janeiro, Livraria Freitas Bastos 8/A, ano IX, vol. LIV, nov./dez., 1948, p, 36; idem, © Problema do Trabalho na Constituicéo Brasileira de 1948, ibidem, vol. LIL, jutho/egosto, 1948, pp. 5 e ss.; SOUZA, Washington Peluso Albino de. Direito Econémico do Trabatho. Belo Horizonte. Pundagéo Brasileira de Di- reite Econémico, 1985, (11) SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positive. S40 Paulo, Editora Revista dos Tribunsis, 1984, 2 ed., pp, 600 e ss.; CUNHA, Fernando ‘Whitaker da. Direito Politico Brasileiro (A Estrutura Constitucional). Rio de Janeiro, Forense, 1978, pp. 114 e ss.; PEREZ, Leandro Azuara. Funda- mentacién Filoséfica de las Garantias Individuais, Revista da Foculdad de Derecho de Mézico, Universidad Auténoms de México, Tomo XXVIT, n°s 307-108, Sulho-dezembro, 1977, pp. 488 ¢ 88.; CARVALHOSA. Modesto. A Or~ Econémica na Constituicdo de 1946. Sao Paulo, Ediiora Revista dos (Continua) R. Inf. legisl, Brosilia «, 23 n, 91 jul./sot. 1986 53 Os direitos econémicos e sociais, provenientes das determina- ces ideolégicas do Estado social de direito, tiveram grande reper- cussio nas modificagdes que ocorreram nas interpretagdes contem- (Contivunsio da nota 11) ‘Tribunais, 1972; SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia Constitucional dos Diret tos Sociais no Brasil. Rio de Janeiro, Forense, 1983; HORTA, Raul Macha. do. Constituiedo e direitos individuais, Separata da Revista de Injormacdo Legislative, Senado Federal, Subsecretaria de Edig6es Técnicas, Brasilia, a. 20, n. "9, jul/set., 1983; FIGUEREDO JR., César Crissiima de. A Liberdade no Estado Contempordneo. Séo Paulo, Saraiva, 1979; AMARAL J, Luciano. Regime Constituetonal dos Direitos Potiticos no Brasil. Edigio Saraiva, 1980; VIDAL NETO, Petro. Estado de Direito. Direitos Individuais e Direitos So- ciais, So Paulo, Edigdes LTR, 1919; DALLARI, Dalmo de Abreu. O Que ‘Séo Direitos da Pessoa. S60 Paulo, Editora Brasiliense, 1982, 2° ed.; SIDOU, J. M. Othon. Os Direitos Individueis na Constituiedo Espanhola, Revista Forense, n. 17, ano 2, dezembro, 1978, pp. 7 e 8; CAMPOS; German J, Bidart. Los Derechos'del Hombre. Filosofia. Constitucionalizacién. Internationaliza- cidn. 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A propria expressio Constituicéo Econdmica, tida como o conjunto de normas basicas necessarias ao estabelecimento da jurisdicizagio da atividade econémica, para ordenamento do processo econémico, ganha grande realce (7). A evolucéo do constitucionalismo classico, para o constitucio- nalismo social, aponta intimeras alteragées que provém desde o liberalismo, na sua fasc original até as modificagées mais recentes. ‘A ideologia predominante concebia @ ordem social e econémica como produto esponténeo e natural das relacdes e equilibrios entre os homens e os fatores sécio-econdémicos. Ressalta Barr CamMPos que a participagiio dos governados, a extensiio dos direitos politicos, por intermédio do sufrégio universal, nao climinaram as diferencas nas condicées sdcio-econdmicas entre os homens. Do ponto de vista de uma democracia, apenas politica, a ampliacdo e generali- zagio das liberdades, com o aumento dos direitos politicos das pessoas que néo tinham qualquer titularidade, constitui fase essencial para as instituicdes politicas, com o surgimento de técni- cas eleitorais novas. (@) PELAYO, M. Garcia, Consideraciones sobre las cléusulas econémicas de In Constitucién, em Obra Coletiva, Estudios sobre ta Constitueién Espafiola de 1978, Universidad de Zaragoza, 1979; LOJENDIO, 1. M, te Derecho Cons- titucional Econémico. Constitucion y Economia, Madrid, Ed. Revista de Dere- cho Privado. 1977; COTARELO, R. Garcia, El régimen econémico-social de 1a Constitucién espafiola. Lecturas sobre la Constitucién Espaftola, Madrid, UNED, 1978, vol. I; GARRIDO, F. El Modelo Econémico en la Cinstitucién Espatola, Madrid, Instituto de Estudios Econémicos, 1981; GARRORENA, A. El Estado Espaiiot como Estado Social y Democratico de Derecho. 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Novas alteragdes foram sendo constatadas nos textos que surgiram, nos periodos que vieram apés a Primeira Grande Guerra Mundial. Esses novos ciclos constitucionais permitiram essenciais modificagées nas cartas politicas, com reflexos profundos no contelido de seus textos. Algumas particularidades so mais significativas quando nos propomos verificar as controvérsias que se verificam nas a entre direito e poder e direito e Estado, nas peculiaridades do consti- tucionalismo soviético. A teoria marxista decorrente das obras de Marx e Encets, em varios textos, negam o valor intrinseco do direi- to, mas consideram o poder do Estado como um meio de repelir a forma capitalista de producéo. No marxismo classico, a idéia da negagao do carater juridico do Estado esta ligada & sua tempora- riedade, desde que ele se destina a desaparecer. Mas no curso da evolugao histérica viram a necessidade da organizagio presente do (73) Afganistan (980); Albania (1976); Argelia (1976); Andorra (1868); Angol (1980); Antigua ‘& Barbuda (1981); Argentina (1853); Australia (1901) Austria (1920); Bahamas (1973); Bahrain (1973); Bangladesh (1972); Bar- bados (2966); Belgium (1831); Belize (1981); Benin (1979); Bhutan (1953) ; Bolivia 967) ; Botswana (1966); Brazil (1967-1969) ; Brunei (1984); Bulgaria a971); Burkina Faso (1977); Burma (1974); Burundi (1961); Cameroon (@972); Canada (092); Cape Verde (1981); Central African Rep. (1981); Chad (982); Chile (980); China (PCR) (1982); China (Taiwan) (1947); Colombia (1886); Comores (1979); Congo (1979); Costa Rica (1949); Cuba (1976); Cyprus (1960); Czechoslovaitia (1960); Dem. Kampuchea (1931); Dem. ‘Yemen (1978); ‘Denmark (1953); Djibouti (1977); Dominica (1978); Dominican Republic (1966); Ecuador (1978); Egypt (1971); El Salvador (1983); Equatorial Guinea (1982); Ethiopia ‘1977; Fiji (1970); Finland (0819); Prance (1958) ; Gabon (1975) ; Gambia (1970): "Germany (DR) (1974); Germany (FR) (1949); Ghana (1982); Greece (1975); Grenada (1974) ; Gua- temala (1982); Guinea (1982); Bissau (1973-1984); Guyana (1980); Haiti (2983); Honduras (1982); Hungary (1972); Iceland (1944); India (1949); Indonesia (1945); Tran (1979); Iraq (1970); Ireland (1937); Israel (N/A); Ttaly (1947 ou 1948); Ivory Coast (1959); Jamaica (1962); "Japan (94); Jordan (1952); Kenya (1969); Kiribati (1979); Korea (PDR) (1972); Korea (Rep) (1980); Kuwait (1962); Laos (1975); Lebanon (1926); Lesotho’ (1983) ; Liberia (1984); Lybia (V/A); Liechtenstein (1921); Luxembourg (1868) ; ‘Madagascar (1975); Malawi (1966); Malaysia (1963); Maldives (1968); Mali (1974); Malta (1961); Mauritania (1978); Mauritius’ (1968); Mexico (1917): «Continua) 56 R. Inf, degisl, Brosilia o. 23 n, 91 jul./sct. 1986 Estado. Os atos constitucionais dos anos 1917 e 1918 e outros mais recentes demonstram varias contradicées desse processo. MIRKINE- Guerzevircu acentua que uma rapida andlise das primeiras Consti- tuigdes soviéticas revela que conservaram, sob o ponto de vista formal, alguns vestigios democraticos, configuradores da teoria geral do Estado soviético. Mas ressalta a distincdo essencial que existe quando comparada com as formas do direito publico europeu. Essa teoria geral do Estado soviético esta fundada sobre a negagaio do principio de que o Estado esta ligado ao direito, além de seu carater juridico, A teoria geral do Estado soviético, em sua parte ideoldgica, esta construida sobre a negacéo absoluta do carater juridico do Estado. Esse construcdéo apdia-se em um sistema singular de érgdos do poder que confundem as competéncias legislativas e executivas (74), Vérias alteragdes ocorreram no constitucionalismo soviético, ora com tendéncias a valorizagéio das administracdes econdmicas regionais, ora A predomindncia da direcao central, com ministérios para diferentes ramos da economia. A consolidacdéo do Partido Comunista aparece no art. 6° da Constituigéo de 7 de outubro de 1977, refletindo a importancia e legitimidade da burocracia do Par- tido: a forca dirigente e orientadora da sociedade soviética e o nucleo do seu sistema politico, das organizacées estatais e sociais é 0 Partido Comunista da Unido Soviética. Defendendo a doutrina marxista-leninista, 0 Partido Comunista determina a perspectiva (Continmgao da nota 73) ‘Monaco (1962); Mongolia (1960); Morocco (1972); Mozambique (1975); Nauru (1988); “Nepal (1962); Netherlands (1983); "New Zealand (1852); Nicaragua (1979) ; Niger (1960) ; Nigeria (1979) ; Norway (1814); Oman (N/A); Pakistan (1973); Panama (1978); Papua New Guinea (197); Paraguay (967): Peru (919); Philippines “G9aty; Poland (982); Portugal (1982): Qatar 1970); Romania (974); Rwanda (1978) ; St. Christopher-Nevis (1983) ; St. Lucia (1979); St, Vineent (1979); San Marino (nao incluida); Sio Tomé Principe (1975); Saudi-Arabia (N/A); Senegal (1963); Seychelles (1979) ; Sierra Leone (1078); Singapore (1963); Solomon Islands (1978): Somali 0979); Bouth Africa (1984); Spain (1978); Sri Lanka (1978) ; Sudan (1973) ; Suriname (1982); Swaziland (1973); Sweden (1975); Switzerland (1874): Syria (1973); ‘Thailand (1978); Togo (1979); Tonga (1967); Trinidad & ‘Tobago (1976) ; Tunisia (1959): Turkey (1982); Tuvalu (1978) ; Uganda (1967) ; USSR. (77); United Arab Emirates (1971); United Kingdom (N/A): ‘U. Rep. Tanzania (977); U.S.A. (1787); Uruguay (1967); Vanuatu (990): ‘Venemucla (1961); Vietnam (1980) ; Western Samoa (1969) ; Yemen Arab Repu- blic (1970) ; Yugoslavia (1974) ; Zaire (1978) ; Zambia (1973) ; Zambabwe (1979 (74) MIRKINE-GUETZEVITCH, B. La Théorie Générale de L’Etat Sovietique. Paris, Marcel Giard, 1928. Preficio de Gaston Jéze; DI RUFFIA, Paolo Bicaretti. REGHIZZI, Gabriele Crespi. La Costituzione Sovietica del 1977. Un sessantennio di evoluzione costituzionale nellURSS, Milano, Dott A. Giuffré, 1979; LOPEZ, Fernando Santaolalla, La nueva Constitueion soviética de 7 de octubre de 1977, em Documentacién Administrativa, mum. 119, julho/ setembro, Madrid, 1978, isl, Brasilie ©, 23 n. 91 jut/set, 1986 7 geral do desenvolvimento da sociedade, a linha da politica interior e exterior da URSS. Dirige a atividade criadora do povo soviético, imprimindo um carater sistematico e cientifico, fundamento da luta pelo triunfo do comunismo. Pelo que, todas as organizacdes do Partido atuam de maneira efetiva na compreensiio da Constituicéo da URSS. Com a Constituigéo de 1977, 0 Partido deixa de ser van- guarda dos trabalhadores, mas é considerado como instrumento de todo 0 povo, pelo que serve de base para fundamentar o crescimento de suas fungées, sendo, também, o inspirador das orientagées poli- ticas do Estado. A Constituigéio refere-se ao Estado como sendo de todo o povo, em lugar do Estado da ditadura do proletariado, como ocorria com as Constituigées anteriores (75). ANGEL-MANUEL ABELLAN mostra como o marxismo, em sua pratica politica, contradiz sua ideologia antiburocratica, criando ‘um aperato burocratico onipotente, 4 frente do qual se encontra uma classe politica que detém absolutamente o pader, os privilégios € a propriedade coletiva, sem participacdo da massa trabalhadora. ‘As forcas reais que procuram superar a burocracia socialista sio aquelas que tratam de chegar a uma sociedade “autogestionada” pelos préprios trabalhadores. A auséncia da gestéo nos centros de produgiio, de empresas e fabricas pelas mesmas forcas produtivas, torna impossivel 0 controle democratico da produgdo, com a elimi- nagéio da burocracia. O controle da produgao conduz & direciio do processo econémico, dando em conseqiiéncia o controle do poder Politico e burocratico. Parte da teoria marxista defende a auto- gesto e os Conselhos Operarios. Anrénio Gramicr elaborou uma. teorja dos conselhos obreiros e campesinos, como organizagdes de democracia proletaria. ANTON PANNEKOEK, considerado como teori- zador dos conselhos obreiros, destaca que na nova orientagao do socialismo a “autogestao” da producdo é decisiva (**), Entre os varios segmentos do constitucionalismo contempo- réneo, muitos estudos dio destaque as caracteristicas da nova Constituicao chinesa, que arquiteta os principios ideoldgicos, eco- némicos, sociais e culturais do regime. A primeira Constituicio da Republica Popular da China foi aprovada em 20 de setembro de 1954, tendo entrado em vigor no ano de 1955 (com quatro capitulos (3) ESTEBAN, Jorge de. VARELA, Santiago. La Constitueiin Soviética, Univer- sidad Complutense, Facultad de Derecho, Seccién de Publicaciones, 1978; RUIZ, H. Oehling. La Nueva Constitucién Soviética de 7 de octubre de 1977, em Revista de Estudios Politicos (Nueva Bpoca), n° 2, margo/abril, Madrid, 1918; GARCIA, Pelago Manuel. Burocracia y Tecnocracia. (Cap, Supuestos estructurales de los sistemas politico-constitucionales de los paises soclelistas). Madrid, Alianza Editorial, 1974, (78) ABELAN, Angel-Manuel. Burocracia y Régimen Soviético, Revista de Estu- dios Politicos, Centro de Estudios Constituctonales, Madrid, Nova ipoca, ne 39, maio/junho, 1984, pp. 143 € 55. 58 R. Inf, legis!. Brasilia a, 23 n. 91 jul./set. 1986 e 106 artigos). A segunda Constituicdo foi aprovada em janeiro de 1975. Seu texto é bem sintético, pelo que tinha quatro capitulos e apenas trinta artigos. Em seguida, houve a terceira Constituigéo (1978), que foi aprovada em fevereiro, tendo entrado em vigor no dia 15'de marco do mesmo ano (com quatro capitulos e sessenta artigos), Ressalta Juan Lu Car que cada uma dessas Constituigdes corresponde a um perfcdo da Revoluedo, ao mesmo tempo que aponta algumas de suas caracteristicas: trata-se de um Estado socialista da ditadura do proletariado, dirigido pela classe operdria, baseado na alianga operario-camponesa; o Partido Comunista é 0 miicleo dirigente de todo o povo; seu regime consagra a existéncia da Assembléia Popular Nacional, como sistema unicameral; os componentes da Assembléia Popular Nacional sfio nomeados ou eleitos pelo Partido Comunista Chinés; a Reptiblica Popular da China é um Estado multinacional unitario, no qual a estrutura do Estado 6 constituida por 6rgdos do poder estatal: a Assembléia Nacional e as Assembléias Populares Locais, em diversos niveis, nao tém a complexidade e a liberdade dos Parlamentos europeus, desde que o Partido Comunista tudo decide. A quarta Constituigéo (1982) é considerada como revisionista, pelos seus aspectos altamente reformistas. A 23% sessio do Comité Permanente da V Assembléia Popular Nacional, de 22 de abril de 1982, publicou o projeto de reforma da Constituigéo. O conteudo da nova Constituicéo é mais amplo e detalnado, no que diz respeito & sua forma, conceito, direitos e obrigacoes fundamentais dos cida- dios. Visou reforgar a democracia. A Constituicdo restaurou a autoridade do Presidente da Republica, sendo que passa a exercer as seguintes funcdes: promulgar leis; nomear ou destituir o primei- ro ministro do Conselho de Estado e os demais ministros; outorgar as condecoragées e os titulos honorificos do Estado; decretar a anistia especial; impor a lei marcial; declarar estado de guerra e decretar mobilizacao; receber os representantes diplomaticos estran- geiros; enviar ou retirar os representantes da nacéo em outros Estados; ratificar ou anular tratados e acordos conclufdos com Es- tados estrangeiros. Como caracteristicas dessa Constituic&o pode- mos salientar, em seu predmbulo, quatro principios: o caminho socialista; a ditadura da democracia popular; 2 supremacia do Partido Comunista; 0 marxismo-leninismo e 0 pensamento de Mao Tse Tung. A Constituicao compée-se de 138 artigos, agrupados em quatro capitulos. Da mesma maneira que os textos anteriores, houve inspi- ragio na Constituigio de 1936, sendo que o esquema geral das principais instituigoes reflete influéncia do sistema politico da URSS, com: a Assembléia Popular Nacional (Soviet Supremo), Comité Permanente (Presidium) e Conselho de Assuntos de Estado (Consetho de Ministros), R. Inf, legisl. Brasilia @. 23 n, 91 jul,/set. 1986 59 Moniquz Lions, ao destacar os principios gerais da Constituigaio da Republica Popular da China, de 4 de dezembro de 1982, no que denomina de pés-maoismo, salienta: os caracteres do Estado chinés; o Estado socialista da ditadura democratica popular; o Estado uni- tario; o Estado multinacional; o centralismo democratico; a lega- lidade socialista; os principios sécio-econémicos, a propriedade, os meios de producdo (a propriedade de todo o povo ou propriedade do Estado); a propriedade coletiva das massas trabalhadoras, pro- priedade de todos os meios de producdo que pertencem a um grupo de trabalhadores (comunas populares, cooperativas de producao, de abastecimento e venda, de crédito etc.); a planificacdo (6 uma planificagao flexivel, inspirada no princ{pio de diregfio centralizada e gestdo descentralizada); as inversdes estrangeiras e as empresas mistas de capital chinés e estrangeiro; a politica cultural e a cons- trucao da sociedade socialista (as tarefas culturais do Estado) (77). As varias linhas de orientagdo que tém revelado o constitucio- nalismo decorrem de miultiplos fatores, inclusive no que diz respeito ao aparecimento de mais de uma centena de Constituicdes que possuem caracteristicas comuns a certos modelos constitucionais, ao lado de algumas particularidades que indicam os caminhos que seguem a diversificada tipologia constitucional dos dias de hoje. Buarr Campos menciona as fases do constitucionalismo do século XX. Depois de focalizar o tipo empirico de Estado constitucional moderno, da relevo ao Estado do bem-estar social (78). As indagacdes sobre a nogdo de Constituigéo, quando procuram os diverses significados desse termo, destacam a sua genealogia, com incursées acerca do quadro constitucional da Europa contem- (77) LU CHA, Juan. La Nueva Constitucién del Régimen Chino, Revista de Retudins Politicos, Centro de Estudios Constitueionales, Madrid (Yuova tpo- ca), 2? 38, maio/ junto, 1904, pp, 189 e ssi DY RUFFIA. Paolo, Biscaretti, Introduecién al Derecho Comparado, México, Fondo de Cultura, 1975; RIVE- RO, José Maria Cayetano Nufez. Proyecto Constitucional de Ie Republica China, em Revista de Derecho Politico, n° 15, Madrid, outofio, 1982; DUVER- GER, Maurice. Instituciones Politicas y Derecho Constitucional. Barcelona, Colecién Demos, Ediciones Ariel, 1970; DORE, Francis. Los Regimenes Polt- ticos en Asia. Madrid, Siglo KXT, 1976; LIONS, Monique. Los “Principlos Generales” de 1a Nueva Constitucién de la Republica Popular de China de 4 de diciembre de 1982: El Posmaoismo, Boletin Mexicano de Derecho Com~ parado, Instituto de Investigaciones Juridicas, UNAM, Nueva Serie, ano XVIII, n? 53, maio/agosto de 1985, pp. 669 ¢ ss; DI RUFFIA, Paolo Biscaretti, La Repubblica Popolare Cinese. Un “modeto” nuovo di ordinamento statale socialista (Costituzione del 17 gennaro 1975), Milano, Dott A. Giuffré, 1977; DI RUFFIA, Paolo Biscaretti. REGHIZZI, Gabriele Crespi. La Costituzione Sovietica del 1977. Un sessantennio di evoluzione costituzionale nel” URSS. Milano, Dott A, Gluffré Editore, 1979. (18) CAMPOS, German G. Bidart. Los Derechos det Hombre, Filosofia: Consti- tucionalizacion, Tnternacionalizacién, Buenos Aires, Ediar, 1974, p. 197. 60 . Inf, fegisl. Brasilia a, 23 n, 91 jul./set, 1986 poranea, para perceber como os Estados da Europa Ocidental e os Estados socialistas configuram esse vocabulo (™). A diversidade de perspectivas do constitucionalismo contem- porAneo e as suas particularidades ideolégicas tem motivado refle- xGes sobre os temas tradicionais, como o da deterioragao da repre- sentagao politica, em termos de interesse geral. Apos a Primeira Guerra Mundial apareceram os Conselhos econémicos consultivos, representando “‘interesses”, fazendo parte das Constituigoes. O fascismo e o nacionalismo, seguindo essas tendéncias, criaram orga- nizac6es corporativas, Para CARL J. FRIECHICH essas estruturas cor- porativas pretendiam substituir o esquema representativo tradicio- nal, apesar de esses conselhos econémicos funcionarem como com- plemento, nao como substitutivo do sistema de representacéio. A Constituicéo francesa de 1958, em seu artigo 69, consagrou a criacéio de um Conselho sécio-econémico nacional, refletindo a idéia de que 0 Estado social deveria ser constitucionalizado, também, através de mecanismos que pudessem refletir, de maneira eficaz, as novas tendéncias que representava, A Lei Fundamental da Republica Federal da Alemanha, de 1949, definiu aquele pais, no art. 20, como um Estado federal, democratico e social, para completar no art. 28, que se trata de um Estado democratico e social de direito. A Cons- tituigdo espanhola de 1978, em seu art. 19, define a Espanha como um Estado social e democratico de direito. Entende ManveL Gar- cia-PeLayo que, em termos gerais, o Estado social significa, histo- ricamente, a preocupagao de adaptagio do Estado tradicional ou Estado liberal burgués as condigGes sociais da civilizacdo industrial e pés-industrial, tendo em vista as novas possibilidades técnicas e econémicas, que demandem procedimentos atualizados para enfren- tar as transformagdes que vém ocorrendo, nos ultimos anos. Ao considerar o Estado social, como Estado distribuidor, salienta a sua conversao em empresério, mediante a estatizagdo das empresas, seja por meio de atuagéo com o capital privado, em empresas de economia mista, seja, dirigindo-as diretamente. A direcéo e regu- lacao da vida econdmica nacional, através do Estado, supde para Gancia-PeLayo a transformagio de um Estado predominantemente legislativo, centrado na legislacao, com preocupacdes com a ordem geral e abstrata, para um Estado administrativo ou prestacionista, com as seguintes potencialidades: a selegdo e hierarquizagéio dos objetivos, tendo em conta os valores e interesses em disputa; as politicas estatais so efetivadas por suas proprias estruturas ou organizacées extraestatais que o Estado permite, com adocéio de pianos econémicos; a racionalidade politica, a racionalidade admi- nistrativa e a racionalidade econémico-social; a planificaco; a con- 473) DI RUFFTA, Paolo Biscaretti. La Constitution comme Lot Fondamentate dans les Etats de L’Europe Occidentale et dans tes Ktats Socialistes. Paris, Edition de Lnstitut Universitaire @'ftudes Européennes, 1966. 61 versio do Estado social em grande distribuidor, por meio de parti- cipacdo institucionalizada no bem-estar, programado pela acdo estatal (**). O constitucionalismo de nossos dias passa a sofrer, conforme temos observado, diversas influéncias de ordem ideolégica, econd- mica e tecnolégica, das quais ndo podemos desaperceber, no exame de sua evolucao atual. A multiplicidade dos ordenamentos juridicos, contidos nas Constituigdes contemporaneas, demanda permanentes incursdes no direito constitucional comparado. O estudo separado dos ordena- mentos estrangeiros no pode contentar-se numa andlise descritiva das suas diversas instituicdes, A confrontagdo das semelhancas e diferencas dos multiplos sistemas constitucionais, com repercussdes na pratica constitucional e na jurisprudéncia, torna-se cada vez mais util, devido a variedade da tipologia das Constituigdes. A comparacao deve ocorrer, preferencialmente, entre institutos and- logos. Mas, estes, na pratica, podem tomar caminhos diferenciados, para a compreensao das formas contempordneas do poder polftico. As formas democraticas apresentam uma tipologia, em que o crité- rio da titularidade do poder dos érgéos constitucionais e as suas relagdes reciprocas tém grande significado. As formas de governo, nos modelos democraticos, buscam inspiraco nas experiéncias do Estado democratico, de origem libe- ral, assentado na separacao de poderes, no pluralismo politico e na garantia da oposicao. Essa multiplicidade de solucdes constitucio- nais e a pratica de seu funcionamento tém gerado diversas inter- pretacdes. Contrariando essas expectativas, aparecem as formas autocraticas de governo. As formas de Estado de origem no libe- ralismo, os segmentos do Estado socialista, os Estados recentemente descolonizados, as formas autoritarias e totalitérias, foram respon- saveis pelas mudaneas operadas nos phirimos segmentos do consti- tucionalismo (*). (80) FRIEDRICH, Carl J. Gobierno Constitucional y Democracia. Teorla y practi- ea en Europa y América, Macrid, Instituto de Estudios Poltticos, 1975, trad. de Agustin Gil Lasierra, pp. 381 @ ss; GARCIA-PELAYO, Manuel. Las Transjormaciones del Estado Contemporéneo. Madrid, Atienza Universidad, cracia, Hacta una Democracia Econémtca, Social y Politica. Madrid, Editorial ‘Tecnos, 1980; ZAMPETTY, Pier Luigi. La Participacion Popuiar en’ et Poder. ‘Madrid, Epesa, 1977. (81) VERGOTTINI, Giuseppe de. Diritio Costituzionale Comparato. Padova, CEDAM, 1981; LANDWERLIN, Gerardo Meil. El Estado Social de Derecho: Forsthoff y Abendroth, Dos Interpretaciones Te6ricas para Dos Posiciones Politicas, Revista de Estudios Politicos, Madrid, Centro de Estudios Consti- tuclonales, Nueva Kpoca, n° 42, novembro/dezembro, 1984, pp. 211 € 83; VERGOITINI, Giuseppe de. Le Origini delta Seconda Repubblica Portoghese (1974-1976). Milano, Dott A, Giuffré Editore, 1977. a

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