Traçados nômades da pedagogia
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Será ele o professor, antes de qualquer coisa, ou um cientista da educação?
Quem sabe ambos?
São questões que estão no horizonte desde que, na década de 1930, foi criado o curso superior de pedagogia no Brasil.
A autora perseguiu essas questões, mostrando as diferentes imagens identitárias de Pedagogia e de pedagogo que se foram construindo, na literatura e na legislação. Mas, da pergunta pela identidade, deixou-se levar pelos fluxos e pelos turbilhões, encontrando nos traçados nômades, na indefinição e na mutabilidade a riqueza e a potência da Pedagogia e dos pedagogos.
O que se encontra nesse livro é um exercício de filosofia da educação, que toma a filosofia como uma teoria das multiplicidades (na definição de Gilles Deleuze). Gláucia Figueiredo apresenta o panorama múltiplo e diverso sobre o debate em torno da Pedagogia, no Brasil e no exterior, para apresentar reflexões em torno de uma geopedagogia que afirma a diferença, pensando a educação como o exercício do aprendizar.
Para quem se envolve com a Pedagogia ou com a Educação, de forma mais geral, não apenas como um ofício de ensinar, mas como um espaço de relações intensivas, esse livro abre caminhos insuspeitados e provoca o pensamento e o movimento.
Sílvio Gallo (FE - Unicamp)
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Book preview
Traçados nômades da pedagogia - Gláucia Figueiredo
Editora Appris Ltda.
3ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Apresentação da Coleção
Filosofia e Educação
Expressar os trajetos realizados pela Filosofia da Educação
na atualidade não é tarefa fácil. No entanto, esta coleção apresenta ao público outro olhar acerca do encontro entre estas duas áreas do conhecimento – Filosofia e Educação. Os processos de interpenetrações e distâncias que tiveram lugar desde as origens – tanto da Filosofia quanto da Educação – demonstram a força produtiva de um pensamento pedagógico em ação. Se o ato de pensar sempre esteve relacionado à Filosofia e à qualidade do Pedagógico articulada a uma determinada Educação, o produto dessa conexão é a diversidade de filosofias retroalimentadas por distintas práticas pedagógico-educativas.
A Filosofia da Educação devém como um espaço profícuo para expressar as consonâncias diagonais entre o campo da educação, compreendido como um campo aberto e plural, e o ato de pensar filosoficamente, melhor dito, problematológica e inventivamente, mundos e vidas. Portanto, para além do pretenso movimento de estabelecer limites epistemológicos à Filosofia da Educação, os textos selecionados apresentam frutos advindos de variadas investigações e pesquisas que demonstram a potência do pensar filosoficamente o pedagógico e atuar pedagogicamente no interior do filosófico.
Os textos apresentados nesta coleção são de natureza híbrida e versátil, demonstrando características genuínas da conjunção em foco.
Dedico este livro a minha avó Emylce Figueiredo (in memoriam),
pedagoga afirmadora da vida... Ela continua me inspirando todos os dias.
A Mario Castellar (in memoriam), meu tio artista que viveu pouco,
mas intensivamente, sua vibrante vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo financiamento deste trabalho, à Faculdade de Educação da Unicamp (FE-Unicamp), pelo acolhimento no processo e por oportunizar a realização deste trabalho, e à Editora Appris, por apostar no projeto.
Os agradecimentos seguem o seu curso variabilístico e não menos importante, quando a viabilização da obra em seu nível afetivo-emocional deveu-se ao apoio incondicional da minha família, do meu companheiro, Adrián, dos meus amigos e dos meus intercessores intelectuais.
À minha afilhada, Tuany,
na certeza de uma vida afirmativa.
[...] E muito menos vim para iluminar o mundo
Para contestar dizer se é ou se não é profundo
E não me importa ser ou não um ser inteligente
Para compreender toda mente
Então brinquei com astros só para sentir o coração
De longe muito longe então amei a terra só
para virar semente
Daí crescer e ter nas mãos os frutos
Para entregar a corações presentes e futuros
E virar-me o sol no fundo dessa estrada
E me por para lá do nada
Eu não nasci para ser estudante
Nessa constância sou tão inconstante
Vida de doido é sempre muito diferente
do normal da gente
'Que o normal da gente é – Intoxicante!
MARINHO CASTELLAR
PREFÁCIO
Este trabalho se compõe como conjunção de ferramentas para um feliz desencadeamento de aberturas mentais. Quero dizer que se trata de uma abertura ao que está fora, uma abertura ao mesmo tempo conceitual e plástica. Feita de linhas conceituais e de linhas plásticas. Tais linhas nos protegem conceitualmente da invasão de imagens identitárias
de uma Macropedagogia e nos presenteia com a promessa de multiplicidades de traçados nômades
de uma Geopedagogia minoritária atraída pela problemática da singularização. Porém, essa tão importante configuração mental não é o único suporte movediço do meu apreço por este trabalho. Há também o próprio combate nele implicado. Refiro-me a esse combate que nos obriga a constantes retomadas e problematizações em educação. Constantes retomadas e problematizações. Sublinho isso porque, como testemunha do percurso investigativo da autora, esse combate ocorre num árduo e complexo campo de atividades, esse campo das surpresas a que somos submetidos pelos encontros-à-beira-do-caos, encontros que vinculam, mas de maneira quebradiça, o instável aprendizado de cada um com o não menos instável aprendizado dos outros. Esse combate é feito das múltiplas maneiras de conjugar o verbo aprendizar, tanto no plano das artes, das ciências, das filosofias quanto nos atravessamentos, nas transpassagens pedagógicas desses planos. Mas quero dizer algo mais a respeito desse complicado combate, algo que salta da dedicatória contida neste livro. A dupla dedicatória já nos prepara a sentir que o combate a que me refiro atinge, eu diria, um invejável grau de intensidade. Por que digo isso? Porque não se nota na dedicatória que esse estilo possa ser tomado como um irrisório prolongamento edipiano da família. Noto que essa dedicatória faz do gesto criativo da autora um aliado que escolhe, como herança até mesmo familiar, um fogo não meramente hereditário, mas que ferve em suas próprias veias e em sua pele, em suas artérias e em seus nervos. Em seguida, este trabalho deixa mais claro ainda que essa pulsação não era apenas fisiológica, não era apenas uma virtude do seu corpo orgânico hiperativo, mas também, e principalmente, a de uma vida não orgânica
, essa que sentimos agir em nós mesmos toda vez que nosso labor incentiva, intensifica a si próprio, por força de mil e uma conexões micromoleculares que nos embalam sem que possamos reduzi-las ao eu
quero psicológico e sem que possamos explicá-las tim-tim por tim-tim ao sabor das funções orgânicas ou hereditárias. Quero dizer que a ligação entre a dupla dedicatória e este livro está no modo vulcânico que leva Gláucia a combater em prol de um dinamismo problematizador das acomodações. E como este trabalho cuida conceitualmente da potência vulcânica nela sensível? É que filosofia não pode ser feita de tristezas, embora haja muita tristeza no ensino de filosofia. Os conceitos filosóficos só podem ser criados em momentos decisivos por força de arrojos de razões disparadas por paixões. O livro de Gláucia não apenas sabe disso, mas pratica deliciosos arrastões apaixonados que garimpam o gosto, os sabores, os odores daquilo de que os conceitos também são feitos: as maneiras de ver e sentir de outro modo, os perceptos e afectos que presentificam a possibilidade das inovações exigidas pela própria complexidade do real. Essa é a razão pela qual eu também agradeço por participar da apresentação desta obra.
Luiz B. L. Orlandi
Junho de 2009
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
SUMÁRIO
PRÓLOGO
A emergência de uma composição
INTRODUÇÃO
Por que escolher a Imagem?
Sobre a constituição da Imagem Identitária e do Movimento Turbilhonar Prática-Teoria-Prática em Pedagogia
MAPEAMENTO IMAGÉTICO IDENTITÁRIO I
O TERRITÓRIO DA CIÊNCIA
1
Ciências Humanas e Pedagogia:Abordagens Transversais
1.1. Do Surgimento da Ciência Moderna ao Processo de Constituição das Ciências Humanas e da Pedagogia – Acontecimentos
1.2. O Impasse do Método e do Modelo em Pedagogia: Problema de Lugar ou Lugar de Problema
1.3. Concepções Contemporâneas da Pedagogia como Ciência: Ciência da Educação ou Ciência da Prática Educativa
1.4. O que Expressa a Imagem Identitária Científica?
FUGA IMAGÉTICA IDENTITÁRIA I
A PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA NÔMADE
MAPEAMENTO IMAGÉTICO IDENTITÁRIO II
O TERRITÓRIO DA PRÁTICA SOCIAL
2
Movimentos Contemporâneos em Prol de Base, Diretriz Especificidade para a Prática em Pedagogia
2.1. Da Docência como Base da Pedagogia – A Posição da Anfope e a Construção das Diretrizes Curriculares para o curso
2.2. Aqueles que Discordam: Proposições acerca de um curso Específico de Pedagogia
2.3. A Didática no Contexto Imagético Identitário da Pedagogia: Uma Relação Espelhada?
2.4. O Que Expressa a Imagem Identitária Social?
FUGA IMAGÉTICA IDENTITÁRIA II
A PEDAGOGIA COMO UM SABER TRANSVERSAL E SINGULAR
Os Traçados Nômades da Pedagogia
3
E se as Imagens Identitárias são Embaralhadas?
3.1. Lugar, Entre-lugar, Não lugar: Notas de uma Geografia da Pedagogia
3.2. Sobre o Atual, Virtual e o Real em Pedagogia
3.3. Expressão e Experiência em Pedagogia: o Aprendizar e suas Relações com as Ensinagens Cotidianas
3.4. Os limites das Imagens Identitárias e os Caminhos do Nomadismo: O Pedagogo como Entre-dois em seu Ofício
(IN) CONCLUSÕES IN
VARIAÇÕES FLUIR A PEDAGOGIA...
SALTAR A DIFERENÇA
POSFÁCIO
REFERÊNCIAS
PRÓLOGO
A dobra e a dobra.
O xérox da amostra.
A versão-beta da mutação,
o que seria a genética
se começasse a ficar
tão promíscua quanto a estética?
De que cor fica o camaleão
quando se aproxima do espelho?
LENINE
A emergência de uma composição
Imagética Identitária
Este trabalho começa a ser construído a partir de um paradoxo, qual seja, o do gosto pelo estudo, mas o desgosto pela escola, donde viriam, em tese, as situações de estudo. A escola não era desgostosa quando a cena era tomada pelas crianças, ela se tornava um peso quando surgia a figura da professora. O desafio se constrói, então, quando o movimento de descobrir o que é ser
professora é maior que todo o entorno que a apresenta. Surgia nesse momento, de forma bem clara, a importância da resistência para que, diferentemente da época apresentada, a escola pudesse ser um lugar rico, interessante, envolto de possibilidades, de liberdade e de criação.
Essas descobertas começaram, então, a se efetivar por meio de bons encontros e significativas experiências no decorrer do curso de graduação em Pedagogia. Um primeiro encontro se deu na Universidade Santa Úrsula, localizada na cidade do Rio de Janeiro, em julho de 1999, uma Universidade privada e com poucos alunos. Contudo, por existirem alguns professores que abriam espaços de trabalho na área da Pedagogia, havia a possibilidade de, durante algumas disciplinas práticas como a de Educação Infantil, trabalhar como assistente e/ou estagiário de uma professora numa turma de alfabetização.
Essa Prática Pedagógica suscitava diversas inquietações concernentes ao curso em voga, pois como algumas das escolas trabalhavam numa perspectiva inclusiva o estágio demandava que se ficasse a maior parte do tempo desenvolvendo atividades com as crianças portadoras de necessidades educativas especiais em processo de alfabetização. Por ser uma situação nova e que pedia articulações teórico-práticas, a insatisfação com a base teórica do curso era evidente, pois, ainda que este oferecesse os tais subsídios teóricos para compreender o que acontecia naquele cotidiano escolar, estes não eram suficientes para decifrar minimamente os seus muitos mistérios.
Nesse contexto, o contato com o currículo e o fluxograma da Universidade em questão aumentava os questionamentos acerca de como se davam as formações profissionais por meio das Universidades Públicas do Estado do Rio de Janeiro. Esse processo de comparação dos currículos foi fundamental para colher informações sobre os diferentes processos de formação sem perder de vista uma possível transferência de Universidade, porque já se tornava irrefutável, naquele momento, o antigo
e sempre novo conflito entre teorias e práticas pedagógicas, ou seja, tudo aquilo que se aprendia teoricamente não realizava uma consonância diagonal com minha prática cotidiana no interior da escola.
Nessa época, a Universidade Federal Fluminense abria vaga para transferência e esta foi efetivada. No primeiro semestre do curso, foram observadas e vividas diferenças radicais entre o primeiro currículo e aquele dessa Universidade. Abria-se o imenso mundo que existe no interior de uma Universidade Pública e surgia paralelamente toda uma ânsia por sua desbravação. Ao entrar no curso de Pedagogia da Feuff, todos os graduandos recebem um manual de informações sobre o curso e sobre tudo o que havia na faculdade de educação e na universidade como um todo. Desse modo, entra em cena Diretório Acadêmico Anísio Teixeira (Daat) – espaço em que os estudantes do curso têm acesso às informações concernentes ao funcionamento da universidade de forma detalhada, aos seus direitos, às oportunidades de estágios e bolsas, em que existia a possibilidade de elaboração de projetos coletivos em prol dos estudantes, em suma, o mundo da militância política estudantil.
Em um espaço para interlocução com outras esferas da Universidade como é o Diretório, um dos muitos deveres que se colocava era o de lutar cotidianamente com os estudantes do curso e de outros pela politização/conscientização de todos, assim como contribuir para que o curso fosse cada vez mais bem estruturado e que os estudantes concluíssem seus estudos para atuarem de maneira mais crítica e transformadora na sociedade. Ainda que essa tarefa não fosse nada fácil e tal afirmação pareça um clichê, era o que se pensava e o que realizava movimentos e mobilizações naquele tempo. Talvez o discurso parecesse mudo
, mas essas questões que permaneciam latentes pediam respostas.
Nesse primeiro momento houve um grande envolvimento com o grupo que já atuava no Diretório; no ano seguinte compúnhamos uma chapa que também atuou durante um ano e fomos formando quadros políticos de militância estudantil no curso. Paralelamente ao Diretório, a aproximação e participação da Executiva Estadual dos Estudantes de Pedagogia do Rio de Janeiro e da Executiva Nacional responsável pelos encontros nacionais dos estudantes proporcionou uma ampliação no concernente às articulações políticas no interior da Pedagogia. Nesses encontros estudávamos as políticas públicas voltadas para o curso, analisávamos as teorias acadêmicas referentes à nossa formação e elaborávamos documentos e textos de combate e de refutamento ao que estava colocado.
Sobre movimentos de contestação, ressalta-se em especial que o momento político do ano de 2002 para a Pedagogia foi bastante importante em função da luta de políticos e de alguns segmentos de profissionais da educação em prol da Regulamentação da Profissão do Pedagogo. Nessa época, os estudantes de Pedagogia, via Executiva Nacional, votaram contra esse decreto-lei e essa declaração coletiva foi apresentada em nome de todos os estudantes de Pedagogia do Brasil em um evento ocorrido na Faculdade de Educação da UFF onde Átila Lira (PSDB), então deputado federal, propunha a regulamentação. Ainda assim, no ano vigente (2009), esse mesmo decreto-lei refutado, e no ano de 2002 foi aprovado.
No bojo desses envolvimentos havia uma contribuição substancial para a formação enquanto Pedagoga, mas até em função dos estudos realizados e dos espaços ocupados a inquietação profissional sobre o que era se formar em um curso de Pedagogia persistia: pedagoga e/ou professora? Por que era tão forte esse amalgamento profissional? E qual era a sua razão de ser? Como essas não eram somente inquietações individuais, mas de uma coletividade de estudantes, resolvemos realizar, no ano de 2002, em Salvador-BA, um encontro nacional intitulado Pedagogia e identidade do(a) pedagogo(a)
. Nesse encontro, fomos percebendo, por meio das palestras, estudos e pesquisas em andamento, que estávamos apenas começando a luta em prol da problematização da Pedagogia e da formação profissional.
Aprendíamos que, paralelamente à formação proporcionada pelo curso, o espaço de militância estudantil e o mergulho no mundo das teorias políticas contribuíam significativamente para a tomada de posições no campo da Educação e pela busca que parecia incessante por compreender a configuração da Pedagogia na contemporaneidade. Essas experiências foram fundamentais em meu percurso formativo, pois obrigavam localizações em diferentes espaços, colocando-nos em face dos mais variados desafios pedagógicos. Simultaneamente, a atuação como monitora da disciplina Epistemologia das Ciências da Educação
foi muito importante no que se refere ao processo inicial de formação na academia, pois o encontro com o que nomeavam de objeto de investigação a ser desenvolvido na monografia se delineou – qual seja, o da constituição identitária da Pedagogia e de seus profissionais no curso da Feuff. Esse estudo já instigava e inquietava, há muito tempo, mas foi no contato com algumas teorias da epistemologia que ele tomou uma forma mais concreta, impulsionando a continuidade e interlocuções com outras disciplinas e com teorias epistemológicas ao longo do curso.
Terminada a bolsa de monitoria e realizado um esboço do estudo (trabalho de conclusão do curso) surgiu outra oportunidade de inserção acadêmica na área: a participação do Grupo de Pesquisas dos(as) alunos(as) das Classes Populares (Grupalfa), como bolsista de Extensão no Projeto Alfabetização: Conversas com as Professoras
. Nesse projeto houve um contato mais próximo, por meio de relatos e conversas, com diferentes tipos de práticas pedagógicas, o que enriqueceu e ampliou significativamente a compreensão acerca das inúmeras possibilidades de atuação de professores e pedagogos em diferentes segmentos sociais. Em seguida, houve a seleção para ser bolsista de iniciação científica do Projeto Integrado desse mesmo grupo.
Essa experiência mais abrangente proporcionou um salto qualitativo no que se refere às incorporações teóricas, pois vivenciávamos inúmeras situações da prática pedagógica cotidiana dentro de uma sala de aula. Trabalhamos no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (Iserj), onde algumas professoras do Grupalfa já desenvolviam suas pesquisas há 13 anos, facilitando a inserção nesse espaço escolar.
A pesquisa junto às professoras foi realizada no Instituto de Educação do Rio de Janeiro (Ierj), que a partir de 1997 denominou-se Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (Iserj), uma escola da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), vinculada à Secretaria de Ciência e Tecnologia. Em 1999, começou a funcionar nessa instituição o Instituto Superior de Educação. O primeiro de uma rede de 25 institutos, projeto do Governo do Estado, sob a responsabilidade da Faetec. O Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro situa-se na Tijuca, um bairro da zona norte da cidade.
A experiência de pesquisa em um campo tão complexo como é o do cotidiano escolar constituiu-se um grande desafio e exigiu esforços constantes para que se conseguisse entender uma possível função
como bolsista de iniciação científica, como fazer um recorte no meio de tantas coisas imbricadas umas nas outras, e como captar algo que as professoras não viam, mas aquele que pesquisava deveria ver. Tomava-se por base um deslocamento epistemológico, ou seja, a certeza era posta em questão e inevitavelmente substituída pela dúvida, a percepção de que exatamente a dúvida poderia proporcionar pistas que facilitariam o recorte no campo da pesquisa se concretizava.
Foram acompanhadas nessa Instituição duas turmas de alfabetização (primeiro segmento), as reuniões do Grupo de Estudos de Formação de Escritores e Leitores (Gefel)¹ – espaço em que as professoras estudavam e refletiam sobre suas práticas cotidianas – e também outro projeto paralelo, criado por algumas das professoras com suas turmas, intitulado Grupo de Estudos das Crianças
(GEC), projeto que fazia parte de um projeto maior
, o projeto Apoio
, criado pela escola, para que as próprias professoras de turma fizessem um trabalho de acompanhamento mais próximo, em horário contrário ao das aulas oferecidas para as crianças que apresentavam dificuldades no aprender
. Contudo o GEC era mais que um projeto, era uma experimentação subjetiva e coletiva entre crianças e professoras que, naquele espaço, eram coadjuvantes das cenas principais – as crianças conjuntamente trabalhavam livremente com a leitura e a escrita, não importando os diferentes níveis de aprendizagem entre elas.
No decorrer da pesquisa foi sendo constatado que a prática-ação era o ponto de partida daquelas professoras e na medida em que as questões iam surgindo, tanto no Gefel quanto no GEC, as discussões avançavam e a teoria ia sendo desvelada. O que mais chamava atenção e mobilizava a continuar o acompanhamento desses grupos foi um movimento totalmente contingencial de transversalização entre as práticas e teorias educativas existentes nos projetos. As professoras levavam para as reuniões do Gefel questões relacionadas às crianças que elas acompanhavam no Grupo de Estudos e também impasses acerca da própria concretização desse Grupo como tal