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‘worccomanidades pratcas.combr Leia um artigo sobre uma” atividade de resort feta ‘com eriangas de ‘seis anos. Nele 008 visualiza | como se dé esse longo proceso 6 produca Revisa o(M Cs) qne L@onntoNc enero ar produzir textos bem ¢ Ainda ha quem pense que, para escrever, basta t vidade, boas ideias e um lépis na mao. Nos capitulos res ja tratamos de derrubar esse mito, mostrando a escrever, é preciso dedicar-se a um longo process inicia no planejamento do texto e acaba na revisio, e. titimo aspecto que vamos abordar agora. Escrever 6 tarefa trabalhosa, e escrever bem é a Um texto nao fica pronto na primeira vez em que & que 0 torna cada vez melhor so as revisées feitas ‘que por vezes chega a alterar totalmente a primeica: Porém, no s6 0s jomalistas e escritores vivem Cotidiano da profissao. Essa etapa de trabalho 6 ‘em qualquer produgao esorita, incluindo a dos al Propicia a correc&o dos erros gramaticais e ortogréfice ‘comuns e também de coeréncia de ideias, constitu ferramenta de aprendizado da linguagem escrita. Um aluno que esta aprendendo a escrever pode diante de varios tipos de problema ao redigit um texto. = Um deles € tornar o texto bem escrito no que s= as normas gramaticais, ortogréficas, de pontuacs tte outros elementos que servem para deixar o mais claro conforme as regras da lingua portug = Outro problema é elaborar um texto bem escrito lagao ao modo como as ideias so expressadas nizando-as e encadeando-as de acordo com o = em que se esta trabalhando. Esses aspects pressupdem diferentes objetivos de r= © demandam diferentes intervengdes. Ambos devem sex rnados aos alunos para que aprendam a produzir bons Desafios para ensinar e aprender Nas escolas brasileiras, a revisto é uma tarefa normalmente deixada para o professor: ele recebe as redacbes dos alunos, corrige @ depois as devolve, ‘com todas as indicagdes de erro. O principal problema desse método 6 que © trabalho da leitura do proprio texto © da busca de eventuais incorregdes ou de possiveis melhoras 6 roubado da crianga, que a verdadelra autora do texto. Cabo a ela apenas aceitar o que o professor apontou ‘Alem disso, é muito comum que a corregao fique incompleta. Muitos pro- fessores concentram seus estorgos ape- ras nos problemas de ortogratia e, com isso, subestimam os outros aspectos de revisio de extos linguagem que permitem eo aluno es- crever bem, segundo as normas pro- pias daquele tipo de texto. Essa pratica do professor, de corrigit sozinho o texto dos alunos, impede que estes identifiquem 0s proprios etros ‘compreendam por que ertaram. Conse- quentemente, eles nao aprendem a re- visar e acabam levando isso para a vida adulta. A verdade 6 que, quando os alu- nos corrigem o préprio texto, entendem erro que cometeram, @ as chances de repeti-lo passam a ser bem menores. Em suma, ao atribuir a tarefa de revi- ‘so aos alunos, vooé estara contriouin- do para a formagao de competéncias escritoras, tornando-os mais preparados para os desafios da escrita e ajudando- 08 a ganhar cada vez mais autonomia ra produgao de textos. Veja alguns esses princlpas problemas nas P.T6077 Propostas de atividade © trabalho de reviséo deve ser feito junto com os alunos © Pode ser uma etapa posterior ao texto coletivo, como vimos No capitulo 8, Depois de os alunos the ditarem um texto, ana~ lise-o para identificar os principais problemas: se sao de gramatica, de repeticao de termos ou de organizagao das ideias. Lembrando que os erros de ortografia e pontuacdo ja devem ter sido corrigidos por vocé durante o ditado. Feita a andlise, proponha as criangas que releiam o texto verifiquem determinados aspectos. Vocé pode ajudé-los com algumas perguntas, como “Que palavra est muito repe- tida? Isso 6 um problema" ou “Foi isso mesmo o que acon- ‘ecu na histéria?” Discuta coletivamente com a turma. Para faciltar a explicacao, apresentamos dois textos. primeiro € a verso ditada por alguns alunos do 3 ano de uma escola de Sdo Paulo para a histéria Bruxa Onilda vai a Inglaterra (2003). Em azul, indicamos os erros gramaticais ou de repeti¢&o; em vinho, os de encadeamento de ideias. 0 ‘segundo texto traz a histéria com esses err0s corrigidos. Repetiio exaperata do pronome at do conoctivo 20 longo do too, 0 temo "wa! representa area eoradade, Bruxa Onilda vai a inglaterra £la‘tava borbulhanda erviha © pela BBC ela ouviu uns arstoora~ ‘as, Dai ela estudou o mapa para'ver qual era o caminho mals curto ara. Inglaterra, Antes de ira Inglaterra, efolvistar 0 mantra do ago less. Quando ele era pequeno, ele deu um pirulito de morango eumzale, ra repénca agente Agu gar, | ___Denois que ela passou pelo Lago Ness, ela chegou no palécio, Ela (era ver mats de perto ele marchando e a bolsa dela clu, Fla pe- ‘igumas ideas ro foram ici se fee? bem expicadas. A que | J gar a bolsa 8 eles morteram de rir porque acharam a Bruxa Onilda engracada, ‘Atrombada corey cep. ia fava voando etrombou com outro bruxo inglés. Dai ela parou {J no bus que debe mum lugar e dala fol de taxi até o castlo. Eta ‘nrosc0U a saia nos pontos do rel6gio, trocou o ponto da tarde e to- ropa, ‘Merca ge oralczaee |_| dos foram tomar um cha, Dai eta icou presa no gancho da ponte que sobe e desce @ me deu um trabalho para me resgatar hist, Fall um elemento |_ ‘Ai mogo abriu a porta. Ela s apresentou ea'eles sentaram para fomar um pouco de ché, Ela dormiu e depois ouviu um baruthinho, que oles ieram Telace are sempre uns passos,¢ af aparecel 0 fantasma e a Bruxa Oniléafalou: Voce quer ir para a minha casa? Sim, que s6 voce liga para mim porque eu sou um fantasma. Ajela pegou a vassoura¢ foi para casa dela e felzes para sempre, Esse texto foi reescrito quatro vezes pelos alunos, em Conjunto com o professor, até chegar a esta forma final, abai- x0. Em cada uma das vezes, 0 professor pediu que eles aten- tassem para determinados problemas: num primeiro momen- to, para os problemas gramaticais ou de coesao; num segundo momento, para a organizagao das ideias e a coe- réncia em relagdo & hist6ria original. Veja que a maioria dos eros foi corrigida: Bruxa Onilda vai a Inglaterra ‘A Bruxa Onilda estava borbulnando ervilha na casa dela e pela ‘radio BBC ela ouviu uns aristocratas dizerem que um fantas- ‘ima morava em um dos seus castelos. Ela estudou 0 mapa para ver qual era o camino mals curt para a Inglaterra, antes cer Ingiatera ell vista 0 morstro do Lago Ness, a Esoicia Quando ole era pequeno, ela deu um 5 ssao0_d-amendoim, e quando ele era = ‘grande ela deu um pirulito de moran- ope umsale Depois que ela passou pelo Lago ‘Ness, chegou ao palacio da rainha da in- ater. A Bruxa Onda quoia ver mals de perto os soldados marchanco € 2 bolsa dela ‘alu, Fla ia pagar a bosa e ees morrram de rir porque acharam a Bruxa Onilda engracada. Elaenroscou a saia nos ponteitos do reldgio, trocou 0 ponteiro da tarde ¢ todos foram tomar um ché. Ela ficou presa no gancho da ponte que sobe o dasce edeu um tratando para ser resgalaa ‘A.Bruxa Ona estava voando e trombou com outro bruxo inglés. Ela entéo foi oarar no Snibus que a deixou num gutro lugar @ fol de taxi aléocastlo. 0 mordomo abriu a porta, ola se apresentou. Todos se sentaram para tomar um pouco de ch las lembrou quo nasseava com uma turma de zumbis e fantasmas quando era crianga. la dormiu © ouviu uns baruhinhos, uns passos, Os outros que estavam_dormindo no castelo também ouviram. Ela pedou uma vela ‘com um prato embabc. ficou Tuminando, ¢ apareceu 9 fantasma, A Bruva Onida falou Voc? quer ir para a minha casa? = Sim, 6 voe® liga para mim, porque eu sau um fentasma. la pegou a vassoura dela e eles foram formar um pouco de ch, ‘lize para sempre. Revisto de textos Para Sabor mais, consulte o Dicionario praca ‘de regéncia verbal 8.0 Dicionério prétoo de Compare atentamente as duas versdes das paginas ante- riores. Observe que, na revisdo de um texto, deve ser ob- servados 08 aspectos relacionados a seguir. [il Problemas gramaticais (regéncia, concordancia) Num primeiro momento da reviséo, é importante que se- jam cortigidos os erros gramaticais das eriangas. (Como ja comentamos, os erros de orlografia foram corrigidos antes da atividade, e sero mais bem explorados no capitulo 10 deste livro.) No exemplo da Bruxa Onilda, podemos notar que diver- ‘sos problemas foram corrigidos (veja 0 que est marcado em azul). Foram, sobretudo, problemas de regéncia (‘chegou no paldcio”, em vez de “chegou ao paldcio’; “ir na Inglaterra’, em vez de “ir Inglaterra’). Para chegar a essas corregdes, os alunos tiveram de lor © depois localizar os problemas, ¢ muitas vezes 0 professor pre- cisou reler trechos da hist6ria original para que eles pudessem verificar como ¢ feita a regéncia em um texto escrito, Na hist6ria trabalhada, no temios nenhum exemplo claro de erro de concordéncia, mas construgées como “eles era” e “os menino” podem ocorter com certa frequéncia. Sao tipicas da linguagem oral e no cabem, portanto, no texto escrito, Es- ses so problemas que as criangas rapidamente localizam & corrigem quando ja tém familiaridade com a linguagem escrita. i Marcas da oralidade e repetigao de termos Embora tenha sido construido por meio de um ditado — isto 6, pela linguagem oral -, esse texto tem por finalidade tornar- -se um texto escrito. Dai a importancia de se eliminarem as marcas da oralidade (como os termos "né’, “ai, "tava", que S40 ‘muito comuns na fala) e as palavras repetidas de maneira exa- gerada (como 0 pronome ‘ela’, 0 conectivo “e", 0 advérbio (erence eo eee ea veer “da?), substituindo-as por outras de sentido equivalente ou simplemente eliminando-as, quando forem desnecessérias. |B) Coeréncia no desenvolvimento das ideias Se a hist6rla foi construfda com base em uma ja existente (como a de nosso exemplo, que foi baseada num livro), importante verificar a adequacdo & histéria original: ou seja, se 0 texto tem sentido ou se eslé “sem pé nem cabeca", se falta alguma informaco importante. Por exemplo, as criangas disseram inicialmente que a bruxa “pela BBC ouviu uns aristocratas". Um leitor que nao conhece a histéria original fica sem entender essa passa- gem. As criangas precisam compreender isso e perceber que devem explicar melhor alguns pontos. Em outro momento, uma crianga pediu que fosse inclui- da uma referéncia a zumbis que constava do original e que 0s demais alunos haviam esquecido. Tudo isso contribui para deixar o texto mais coerente e mais préximo da histé- tia original. Cada texto revisado exigiré uma corregdo diferente: alguns terdo mais erros gramaticais; outros terdo mais problemas no encadeamento das ideias. E vocé quem dever4 conduzir a atividade, apontando as incoeréncias e propondo sugestes ou até pedindo-as aos préprios alunos, o que ajudard ainda mais a desenvolver a competéncia escritora. Essa atividade 86 tem a enriquecer 0 trabalho de texto das criancas e, além disso, fara que voo8 se torne um professor cada vez mais atento aos erros delas. Vale lembrar que nem sempre a atvidade de redagdo se refere & re- escrita de uma historia ja existente. Pode se tratar de uma redagaio nova, escrita pelos préprios alunos (a respeito, por exemplo, de uma ex cursao fella pela escola). Nesse caso, 0 indice de coeréncia se reve- lard em outras quest6es: se 0 aluno ‘comeca a redago afirmando que gostou da excursio, por exemplo, no pode terminar dizendo que nao gostaria mais de voltar a esse lugar. esto dees TT Revisio de textos Sugest6es adicionais + Identifique sempre 0 objetivo da reviséo: se é corrigir problemas de con- cordancia, de repeticao de palavras etc. Assim, 0 aluno sabe melhor 0 que procurar e a atividade fica mais clara. ‘Ao conduzir a revisdo coletivamente, voc® pode fazer comentarios aos alunos, como: “Neste trecho, parece que Cinderela sentia medo. Veja se 0 jeito como voce escreveu val mostrar isso para o leitor”, ou “Vocé co- locou que Cinderela saiu correndo do palacio, mas por que ela saiu correndo? Voce se esqueceu de escrever’. Isso ajuda a crianca a perce- ber algumas passagens que ela precisa modificar. A revisdo pode ser feita coletivamente (conforme propusemos nas ativi dades anteriores), em dupla (um colega revisa 0 texto do outro) ou indi- vidualmente (a crianga revisa 0 préprio texto). Se voce quiser que um colega revise 0 texto de outro, ndo se esquega de sempre verificar a reviséo antes que seja devolvido a0 autor, pois 0 aluno que corrigiu pode ter se enganado em algum momento, Sempre oriente os alunos sobre o que 6 mais importante corrigir e esteja disponivel para respon- der as perguntas deles. Durante o trabalho individual de revisdo, pega que os alunos, em vez de usar a borracha, corrijam por cima do erro com outra cor, para que visua- lizem claramente onde erraram e como ficou a corregao. D8 prioridade ao trabalho com versdes de um mesmo texto, ¢ ndo com ‘uma quantidade de textos diferentes. Muitos consideram que 0 bom pro- fessor tom, no final do ano, um fichério superlotado, com uns dez textos escritos de cada aluno. Mas é melhor trabalhar exaustivamente, por exemplo, os aspectos discursivos ou gramaticais num determinado tex: to, produzindo duas, trés verses. Isso 6 mais enriquecedor do que 0 aluno escrever dez textos de qualquer jelto. Use sua sensibilidade na hora de lidar com o erro das criancas. Diga, fem geral, que no se trata de um erro, mas de uma inadequacao pas- sageira, que sera reparada facilmente durante a revisdo. Se forem corri- gidos sem uma justifcativa clara, os alunos podem acabar desenvol- vendo uma aversio a escrita de textos. Revisio de textos i | = Guarde sempre as produgses escritas dos alunos quando as Sisa caine eee revises forem feitas individual- Cone mente. Elas apontam a desen- PERSE voltura das criangas ao revisar 08 proprios textos e 0 grau de autonomia delas. Ao longo do tempo, talvez vocé note que a Quantidade de intervengdes na reviséo se tornou menor. Isso significa que os alunos estio Pensando mais antes de colocar as ideias no papel. Observe se 0 objetivo que se ropée na revisdo ~ verificagao de aspectos gramaticais e orto- graficos ou de coeréncia em relagao ao género — foi incorporado pela ctianga. Se 0 objetivo era trabalhar a repeticéio exagerada de termos no texto, 0 aluno revisou isso com alguma competéncia? Ele avangou com relagdo a sua primeira produgao? Diferencie os objetivos da reviséio de acordo com 0 desenvolvimento das criangas. Para os alunos do 1# ano, que esti iniciando a altabeti- a¢40, 0 problema maior consiste em organizar as idaias em um texto bem escrite. Com 0 desenvolvimento da leltura e da eserita do aluno, voce pode ser mais critico, fazendo observagées do tipo: ‘Aqui voc no pensou no leitor do seu texto, pois omitiu uma informaggo que ele talvez no conhega” ou “Nessa passagem vooé no explicou direito 0 ‘que queria dizer”. Gradativamente, ele deve incorporar essas criticas em sua escrita, @ voce vai percebendo isso conforme o avalia ao longo do ano. A coesao do texto, ou seja, @ revistio gramatical e ortogréfica, é ‘mais aconselhdvel pata os alunos do 3° ano, que ja escrevem com certa autonomia.

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