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(...

)E ali dançaram tanta dança


Que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz(...)
(Valsinha - Chico Buarque de Holanda)
O INÍCIO

Comecei aos dez anos de idade escrevendo pequenos contos nas


redações escolares. De lá pra cá, talvez não tenha aprendido a escrever bem,
mas escrevi bastante. Publiquei crônicas, contos e livros. Aprendi a gostar de
fazer poemas, embora não me considere poetisa na acepção da palavra.
Sou uma letrista.
Neste livro estão minhas canções.
Ou poesias, como preferir.

Fortaleza, 18/03/2012

Carla Marzagão
Poemas e Canções
ERRO

Instante desatinado, questionável,


E inverossímil
Que dilapida
O que é irrevogável
Descontinuidade da certeza,
Momento vago e
Atroz, que amiúde,
Torna vil a atitude
Se quem faz,
Não volta atrás,
Não se redime
Se quem sofre,
Não perdoa,
O julga como crime.
BILTRE

Da calúnia, da difamação e da injúria,


Teu prazer se alimenta,
Maior o tem,
Quando aos outros imputas, tais ofensas.
Satisfazer tua ganância,
Nisto te concentras.
Nenhuma torpeza atribui a ti, tua consciência.
Pois que seja essa a tua recompensa:
Ao morrer,
Tua alma vagar por não se sabe onde.
Ao viver,
Pois que a avidez é o teu fado,
Que tenhas hoje, o nada...
E amanhã menos que ontem!
DESPEITO

Já me disseram
Que não vais
Nem sequer pretendes
Voltar aqui
Voltar para mim
Não me ofendes
Podes falar
Até esnobar
Se te faz contente
O que disseres
Ou fizeres
Apenas te desmente
Não encontrarás
Noutro lugar
A te querer
Alguém como eu
Que te amou
Tão cegamente
Todos percebem
O quanto te ressentes
Diz o que quiseres
Para mim é indiferente.
RESSURGIR

Ah! Encontrar
Alguém para amar,
Ressurgir.
Ah! Só amar,
Só querer renascer,
Existir.
E foi assim, então,
Um momento de paz,
Descobrir você,
Me fez reviver,
Refletir...
Só me fez esquecer
O quanto eu sofri
Sem você,
Meu amor,
A vida é fingir.
Pois, agora sei,
Viver é sorrir, é sorrir.
Ah!
FINITUDE

O tempo
Rareia,
Afina
As luzes pálidas
Do meu amanhecer

Lave,
Orvalho frio,
As lágrimas
E a tristeza
Do meu bem querer
Seque,
Ó brisa cálida,
Seus olhos,
Sua dor,
Ao entardecer
Mar,
Bom amigo,
Suaviza sua alma
Traz contigo a calma
Após meu
Anoitecer
ABRIGO

Venho de outro caminho


Venho de outro lugar
Eu vim buscar na distância
O que não consegui encontrar
Lá fora só o vazio
Aqui quisera me achar
No infinito da busca...
Devaneio,
Quando irei acertar?
ENCONTRO

Estou à beira do rio


Você a beira do mar
Rio e mar se encontram
Continuamos a vagar
Aqui o rio tranquilo
Aí o mar a quebrar
Minha vida, sua vida,
Seu penar, o meu pesar.
Singraria as águas do rio,
Caso fosse uma nau,
Para poder te alcançar
Queria atravessar o rio
Ao encontrar um vau
No teu mar me despejar.
ARREPENDIMENTO

Cadê meu céu,


Iluminado pelo luar
A areia, o mar,
O meu cruzeiro,
Cadê?
Ah! Se eu soubesse da saudade
Do mormaço,
Do meu quintal
Da minha rede estendida
Na sombra do mangueiral
Cadê meu céu,
Iluminado pelo luar
A areia, o mar,
O meu cruzeiro,
Cadê?
Minha Maria,
Toda na chita,
Cabelo cheirando a juá
Ah! Se eu soubesse
Não sairia...
De lá.
ALQUIMIA

Vamos juntar uma dose


De cor
A uma paixão complicada
À saudade
Ao pesar
Juntar
Poesia
Para não se indispor
À harmonia...
Criar com dulçor
A melodia...
Quase fazendo um samba
Alguns versos de amor
E pra findar
Essa alquimia
Uma verdade...
Para esquecer
Uma dor,
Um amor,
Só felicidade.
ORIGENS

Não renuncio ao céu, ao verde, ao rio


Às águas de março, final d’estio
Fantasio ser tuiuiú ou gavião
Sou pantaneiro, sussurra o violão
Tocando
Com meu Pantanal eu vou sonhar
Rasqueando...
Sempre dele vou lembrar
E amar...
Recrio nessa toada o meu lugar
Sou violeiro
Posso, sim, me orgulhar.
MÃO ÚNICA

A meditar
Começo a sonhar
Com novenas pra rezar
Uma oferta a Iemanjá
Não consigo me entender
Nem sequer raciocinar
Como devo proceder?
Penso em sumir
Tento brigar
Mas não dá pra resistir
Só então admitir
Que essa nega me fisgou
Já não posso mais fugir
A paixão me dominou

Já decidi
Vou arriscar
Por mão única andar
Ah! Venham Santos e Orixás
Essa nega vai me amar!!!
Sim!
Essa nega vai me amar!!!
SI

Quisiera yo llorar el “si” perdido


Si yo pudiéra...haria un otro ayer
Pero el tiempo no es nuestro amigo
Ni él hará el primer “si” volver
“Si”, una duda en el pasado
mañana es que puede decir
Todo lo que hemos traicionado
Todo que se fue sin existir
Todo vuelve al “si”
Como un momento de dolor
Pérdida, pues rompimos al vivir
Todo vuelve a lo “si”
Como un momento de dolor
Angustia pues tenemos que morir
DESAMOR

Já não posso afirmar


Meu sentimento por ela
Posso só lamentar
No que se transformou
Que adianta falar?
Não há como ela admitir
Ter ido além do limite
De causar dissabor
É virtude para o homem
Dosar dureza e carinho
Levar com certo jeitinho
Quem sempre o amou
O desrespeito constante
Maltrata, fere
E faz guardar rancor
Deixando por onde passa,
Só desamor.
VIVER

Viver, pequeno estar,


De uma realidade,
preso a memórias,
de prazer e sofrimento.
Passa o tempo
E a maturidade
Diminui o descontentamento
Cores, cheiros, sons e rostos
Reanimam-se em cada pensamento
Assim, como há certeza,
que na avançada idade,
Nos aguarda a solitude,
Da lembrança
De todos os momentos,
Restará saudade.
CUADRO ACABADO

Veo este cuadro acabado


con la certeza que la soledad ahi se plantó
la lámpara ilumina sin brillo
lo que la soledad pintó
Veo al hombre por ella marcado
Con miedo de todo
cayendo en el abismo
Inerte en el horror
Cómo concertar el vidrio,
si el se ya rompió?
Ni el tiempo ni otra vida lo van arreglar
Por eso veo en el espejo,
Un cuadro acabado
Es mi rostro
sumergido en el dolor
ORDO MUNDI

Pode ser lua de papel


Ou lua real
Não vai importar
Tudo que surge no seu céu
Também no meu surgirá
Não tem que “ordo mundi” mudar
Nada que um dia já foi
Ao tudo retornará
CARA DE PAU

Na fatiota de linho ele sorri satisfeito


Pega o pivete no colo,
Não nega aperto de mão
De todo jeito está na televisão
É só conversa, maneirismo e chavão
De vida pública honesta, impecável o bonitão
De tudo leva rebote, faz acordo e mensalão
É só conversa, maneirismo, e chavão
Ilibado pai perfeito, encantador o seu jeito,
Com os filhos passeia domingo no calçadão
Frequenta a igreja do bairro,
Doa verbas, alimentos
No bom e no mau tempo pratica só boa ação
É só conversa, maneirismo, e chavão
Homem de sorte na vida, roupa lavada,
Casa, comida,
Água fresca e bebidas,
Dinheiro e reputação
Tremendo cara de pau, político profissional
Não passa de um ladrão
É só conversa, maneirismo, e chavão
JOGO ABERTO

Não vou protelar


Só me resta dizer
Que nossa história sem igual
Já terminou
Por mais que eu sinta
Você precisa compreender
Nosso caso agora é
Simulacro de amor
Tudo entre nós foi tão rápido
Que nada mais restou
E agora, jogo aberto,
já acabou
Não baixe a cabeça
Não fique brava comigo
Eu não vou te enganar
Não é coisa de amigo
Tudo então posto às claras
Só nos resta um proceder
É o adeus,
A despedida
Eu sem você.
ENCANTAMENTO

Se uma dor te deprime


Então me ponho a cantar
Para espantar o que te oprime
Até a voz me faltar
Se teu pranto é infindo
Nada me faz calar
A mim seria tão lindo
Morrer cantando-te o pesar
Dos elementos que és feita
Terra, água, fogo e ar
Eu te vejo perfeita
Como o universo ou o mar
Caso pudesse adivinhar
O que teu coração procura
Com meu canto e com loucura
Eu tentaria te dar
Deve ser encantamento
O que sinto por ti - um bruxedo
Canto assim, meu sofrimento
Em tuas mãos, sou brinquedo.
CRESCENDO

Eu não sei
Porque algo fez
Em mim
Assumir um Bruce Lee, na imaginação,
Que emoção.
Do passado
Em instantes só me vi
O esperto Rintintin
Com o Capitão Furacão
E a criança que havia em mim
Surgiu me fazendo encontrar a paz
Resgatar o amor
Se com Jeannie o gênio
Eu sonhava
Ou se pela biônica
Esperava
Iludia o meu coração
Pois se nada era aquilo que eu procurava
Na verdade era eu
Eu não sei
Porque algo fez
Em mim
Assumir um Bruce Lee, na imaginação,
Que emoção.
No passado de instantes só
Tinha só que estender a mão
RETRATOS

Vida um retrato teria,


Se fosse a morte um retrato só.
Nada e tudo estariam
Em harmonia
Alegria sem dó.

Viver que não declina


Amor que não termina
O melhor sem o pior.

Tudo se refina
Ao nada se destina
Esse é o grande nó. (bis)

Mas são os retratos dessa vida


Que irão resgatar o que passou
E irão sublimar o que faltou.

Vida e morte teriam


Vários retratos,
Não fosse uma coisa só.
ROUBANDO O AMOR

Se se pudesse abraçar
Por completo o amor
Com as mãos arrancar
Por inteiro a dor
Que nos faz infeliz
E que nos faz desamar
Caso pudesse o amar
Ser apenas amar
A carícia
De um ser
Sem um por que
Prefiro crer
No amor poesia,
De um simples bom dia,
Sorriso ou olhar,
O amar sem tomar
Apenas amar
Jamais você há de saber
Quanto amor se perdeu
E o estrago que fez
Pois embora ao dizer que me amava
Apenas roubava,
O que já era seu.
QUE FUTURO?

Eu vejo
Nessa gente que passa
Um coro adormecido
Eu sinto
O punhal da trapaça
Na mão do escolhido
Cada vez que percorro
Um novo caminho
Me sinto sozinho
Sou alguém sem futuro
Cada vez que escolho
Uma porta aberta
Eu me sinto perdido
Pois estou no escuro
Se eu paro,
E a vida me leva
Bato num muro
E assim,
Se à vida me entrego
Quanto pago de juro?
VIDA NA POEIRA

Caia chuva
Limpe a sujeira
Lave minh’alma aventureira
Cinza na fogueira do senão
Erros esquecidos ao emergir
Cobram um quinhão
Cabendo só uma condição
Ao perdedor a cartada derradeira
Benditos pingos
Refresquem a terra
Uma alma que erra
Merece perdão
À chuva faço uma prece
Redimir meu coração,
Restos de uma vida na poeira.
NADA

Nada, você não tem que oferecer


Mais nada
Já chegou ao fim
Do encantamento
Ao esquecimento
E nesse tempo
Só gastou
O seu latim
Nada, você não tem que oferecer
Mais nada
De amor pra mim
No andamento
Um contratempo
Num só compasso
O bom e o ruim
E agora vem você
Num arrego,
Me pede pra esquecer
Acabou
Não vou sofrer
Pelo amor
Que você tripudiou
Nada, você não tem que oferecer
Mais nada
Nem amor pra mim
Do encantamento
Ao esquecimento
E nesse tempo
Só gastou
O seu latim
BUSCA

Falto de mim
Falto de ar
E de sonhar
Vou sem rumo
A vagar
Por ai
Sem ancorar
Em algum lugar
Em qualquer mar
Faço o caminho
Sozinho
E a medida,
Sobrevida
Isso fui eu quem traçou
Do meu tempo senhor
E do meu fim
Falto de mim
Falto de ar
E de amar
Vou pelo mundo a cantar
Por aí a buscar
Em algum lugar
Em qualquer mar
Talvez ao me encontrar
Poderei então amar
Daí a busca findar.
CELIE BROWN

Entrou na contramão
Cruzou o sinal vermelho
Passando o lipstick
Sorriu para o espelho
Ouvindo a Winehouse
Lembrando Lady Gaga
Fuma o kingsize
Que não traga.
Celie Brown, Celie Brown.
Uma vida de invejar,
Passeia no Brasil,
Vive do estrangeiro.
Em Nova Iorque ou Xangai
Em Paris ou Mumbai
Um segundo a mais
Mais dinheiro
Cely Brown, Celie Brown.
Uma vida de invejar,
Passeia no Brasil,
Vive do estrangeiro.
Guiando com uma mão
Seu conversível jaguar
Pega o iphone
Começa a tuitar
Não viu o caminhão...
Pobre Cely Brown
Uma vida de invejar
Morreu na contramão
Uma morte bem vulgar.
FAVORES

Sei que não vai estar aqui


Não vai mais me encontrar,
Nem sambar para mim
É, você quis assim
Nosso amor acabou
Você vai ser feliz
Então, faça o favor,
Diga o que disser
Pense o que quiser
Trate bem o seu novo amor
Lembra como foi que conheci você
Sambando e cantando na mesa de um bar
Meio tímido consegui me aproximar
Mas você decidiu me ignorar, nem olhar.
Por isso insisti
Pra você notar
Um samba eu criei
Para você sambar
Não vou te esquecer
Lembrar é o que restou
Você vai se dar bem
Agora tem novo amor
Então, haja o que houver,
Peço mais um favor
Não recorde o que passou.
ATRAÇÂO

Ouvi sua voz


Atrevida
Dizer
Não te aguento mais
Seus passos
Pisaram com os saltos
Minha esperança fugaz
Me deixou para trás
Ao olvido
Rompeu de uma vez
Com o nós dois
E eu
Pego desprevenido
Chorei depois
Agora estou convencido
Que Deus bem sabe o que faz
Se fui por você repelido
Outro alguém por mim se atrai.
Se por você fui banido
Encontrei quem me ama demais.
VALOR

Num papel lilás


Rabisquei uma flor,
Um botão de rosa, fiz
Depois vermelha
Com muita cor
Eu a reconstruí
O papel dobrei
Rebusquei demais
Eu rasguei a flor
Como sofri
Num papel em branco
Que não desenhei,
Uma rosa, então, eu vi.
O papel guardei
Mas não o dobrei
E a rosa,
Eu não esqueci.
DESTINO

Julguei ter fechado a porta


Por onde passou
Julguei ter lacrado a memória
Onde guardei minha dor
Pensei que assim protegia
De você o meu eu
Quimeras,
Que com um sorriso
Você dissolveu
Se tento evitar esse amor
Se quero controlar minha dor
Você ao apenas olhar
Me faz hesitar
E sonhar...
De ti eu preciso fugir
Por mim eu preciso existir
E se o destino ajudar
Vou
Desaprender a te amar.
REBOTALHO

Na virada
À beira mar
Estalam os fogos
Cantam elegias
Permanece o imaginário
Passa a vida
Corre o trem
Sem agonia
Pai Nosso e Ave Maria
Cantam as pedras do rosário
Vai à lida
Pesa a corda
Na mão suada
Resta a ferida
Segue o calvário
Em algum lugar
Para o trem
Uma voz cala
Seca a medida
Rompe a corda
É de alguém
O obituário
Na virada
À beira mar
Estalam os fogos
O trem apita
Entoam rezas
Puxam as cordas
Não hesita
Segue em frente o rebotalho
SERTÃO

Léguas e léguas
Vão de sertão
Passa o gavião,
Rasteja a cobra,
Reza o homem
Fiel na obstinação.
O sol rasga o chão,
Cresta a terra,
Canta o Ferreiro,
Não rompe o grilhão,
A vida repete
O canto agoureiro.
Léguas e léguas
Na cinza paisagem,
O céu costumeiro,
O mangue resseca
Provoca visagem.
Fazendo chorar
O infeliz Juazeiro.
Na caatinga
Geme o gado,
A força resvala,
O chicote estala,
Pela sina, levados,
O boi e o boiadeiro
O sertanejo espera
E se bendiz
Ao ver a procissão
Na Praça da Matriz
Em salmodia
Trazer no andor
A Virgem Maria...
Que Ela o salve do pecado
Que seja o sertão
Para sempre abençoado.
CALÇADA

Da calçada dá para ver


A rua se agitando
Por você
A luz do sol se perde
No azul do seu olhar
Que faz inveja
Até ao mar

Da calçada dá pra ver


Quando fecha o sinal
A rua você atravessa
A brisa te envolve sem pressa
Os carros param pra te ver

Num gesto bem casual


Você alisa o vestido
E o mundo mais colorido
Se curva ao seu natural

Mas a rua perde a graça


E se por aqui não passa
Você me faz perder o ar
Parado no mesmo lugar

Espero o anoitecer
A lua trazer você
Que caminha na calçada
Sem sequer me perceber.
JAZZEANDO

Tão barulhento esse lugar


O Jazz já começa a tocar
O sax escora
Um casal vai embora
Todos continuam a conversar
Aqui o Jazz não tem lugar
Eles querem o popular
Eu me pego a jazzear
Ninguém liga pra bossa
Que o jazz sempre tem
Ninguém liga para o samba
Que nos deixa tão Zen.
Uma gargalhada de troça
Se perde no ar.
O sax se esforça
Como quem quer falar
É um lamento, penso
Não dá pra evitar
Com o uísque em suspenso
Eu me pego a jazzear
Samba e jazz eu vou casar
Achou ruim, vá reclamar,
Samba e jazz eu vou casar
Achou ruim, vá reclamar,
INVEJA

São duas donzelas moças


Criadas com o mesmo carinho
São duas bonitas corças
Ainda ligadas ao ninho
São duas sinhazinhas
Que se vestem iguais
Que folgam na cozinha
E agitam nos quintais
Turbação da Natureza
Dois seres tão irreais
Espalhando sua beleza
Em meio aos capinzais
Levantam as saias de chita
Rebolam as ancas faceiras
Incendeiam as faces bonitas
Subindo altas ladeiras
Não se enfadam não se irritam
Não choram as duas donzelas
Todos que as veem acreditam
Em pureza e alegria singelas
São dois anjos duas fadas
E tão invejadas donzelas
Que nem sequer desconfiam
Do mal que lhes faz sentinela.
O REI

Reinava um rei regiamente


Hilias ele se chamava
Muitos súditos governava
Lia mãos sabiamente
Havia mãos que não lia
Dentre estas
As que possuía
Amava a poesia
Castelos de areia fazia
Mas vinha o mar e os destruía
Fazia canções de amor
Para um amor que não tinha
Era o rei somente humano
Que solitário vivia
Sonhava que uma grande paixão
Um dia sobreviria
E de fato aconteceu
Ele conheceu Maria
Foi tão súbita a paixão
Que forte dor o acometeu
Abalado o coração
Na solidão ele morreu...
4x4

Venda, casa, renda, tenda


Faço, tato, trato, ato
Caso, traço, passo, aço
Trago, mago, pago, gato
E faço renda
Trato casa como tenda
E a casa vira lenda
Faço renda com o aço
Passo o gato
O pelo amasso
E no mago eu passo o traço
Ponho o gato à venda.
O caminho eu que traço
Levo casa, levo mago
Levo tenda, levo gato.
É renda.
E não perco o meu tato
Com mais renda eu pago
O aço
Compro casa, compro tenda
Pago o mago, trago o gato
Vendo aço, tenho renda
Faço um trato com bom tato
Ponha um traço nessa lenda
Que a lenda vira tenda
E no ato eu ponho
Eu ponho tudo à venda.
LADO A LADO

Somos amigos
Como fomos ontem
O que mudou
No lado de cá da rua?
Aumentaram os matizes
Nessa proximidade
Contamos com a felicidade
 Somos amigos
Ainda brincamos
E nos ouvimos
Conversamos
Sorrimos com a lua
Acreditamos
Só melhorou
No lado de cá da rua
 Somos amigos
Aqui e ali
Ontem e agora
Pro que tiver de vir
Se noutra esquina
Vier nos trair, o inesperado
Amigos seremos...
Seguiremos  
Por outras ruas
Mesmo que não seja lado a lado
 
OLHA O NÓ

Vejam só
Olha o nó
Agora estou na pior
Sem maior
Nem menor
Sem contra
Ou pró
Como faraó
Virei pó
A faca eu levei no gogó
Como Jó
De dar dó
Eu me sentia tão só
Confiei
Com você
Fui de ruim
Pra pior
Um cipó
Dominó
Uma oferta, ebó
Acreditar, arriscar
Nesse jogo de amar...
Se se envolver faz sofrer
É preferível estar só!
MONOCROMIA

Branco e preto
Nesse plano
Duas cores
No contexto
Peles, sabores
Preto e branco
Branco e preto
Desse jeito
Acorde singular
Maneira de amar
Pele na pele
Cor sobre cor
A dor não é do amor
É o olhar que fere
Mas cabe o sabor
Considerar
Duas sinas
Mistura de rimas
Branco e preto
Duas cores
Dois amores
Sem preconceito
Monocromo perfeito
NÃO ME DIGA ADEUS

Não me diga adeus


Por um motivo qualquer
Sem pensar, refletir
Se é isso que você quer
Não me diga adeus
Se depois vai pedir pra eu ficar
Pode ser que o adeus
Seja mais forte que eu
E não me deixe voltar
Por mais que eu não queira partir
Mesmo que não me queira ferir
No entremeio do ir e do vir
Posso não retornar...
Só me diga adeus
Se por um motivo qualquer
Você não me quiser
Algum mau eu fizer
Só me diga adeus
Se depois for pedir pra eu ficar
Não me diga adeus
Não esqueça sou seu
Pro amor não acabar...
NEGRA SERPENTE

Negra, negra serpente,


Que se esgueira macio
Fica a espera
De repente
Torna-se fera
Com ousio
Mulher no cio
Enlaça, aperta
Se descoberta
Faz de incerta
Entrega completa
Abraça, acaricia
Prazer que vicia
Sente atenta
Em sua placenta
Invasão dolente
Negra serpente
O corpo consente
Gozo iminente
Sibila sussurra
O que é desejado
Retorce, urra
Amor e pecado
A carne, o fado
Negra serpente
Que no momento exato
Recolhe a semente
Movimento indecente
Mulher sem recato.
PAIXÃO

Se o coração me diz que sim


Quando a razão pede que não
Você me olha triste assim
Confunde mais meu coração
Mas eu vou, me entrego
Me esqueço que sofro
Eu vou
Se trago no peito as marcas da dor
Mais nada importa
Quando chega o amor
Se a razão me diz que não
E o coração me diz que sim
Vejo você toda pra mim
Então me perco na paixão
Sim, eu vou, me entrego
Me esqueço que sofro
Eu vou
Se ganho se perco acredito no amor
E nada importa
Ele me chama eu vou
ESPERA

Um vento frio na sala de estar


A porta aberta pra você entrar
Vejo as estrelas todas no lugar
Estou sozinho...
E você virá?
Não estou fingindo,
É com você que acordado eu me ponho a sonhar
Não estou fingindo,
É por você que fico à noite a esperar
Pra amar
Olho o relógio não para de andar
Sento, espero, tento não lembrar
Mas sua imagem toma o meu pensar
Estou sozinho..
E você virá?
Não estou mentindo,
É com você que acordado eu me ponho a sonhar
Não estou mentindo,
É por você que fico à noite a esperar
Pra amar.
FAROL

Essa luz que palpita


E norteia aquilo que se quer atingir
Que pulsante incendeia
O vazio
De alguém que não tem aonde ir
É clarão, na tormenta
Um abrigo
Castigo para quem não quer vir
Ilusão ou então fantasia
Para o cego
Ou para quem quer fugir
Essa luz meu peito agita
Não me deixa esquecer
Ilumina vida aflita
Minha história
Luz, meus olhos fitam
Essa viagem transcorrer
Entre o sacro e o profano
Meus eus
Ela sou eu?
Ela, o farol?
Tudo se precipita
Vale o obscuro ter
E se a luz se apaga em mim
O que fui deixou de ser
NÁUFRAGOS

Essa nota de dissabor


Que pontua sua voz
Contracanto
Sem encanto
Meu pranto, sua dor
Esse olhar censura
Eterna amargura
Que persegue
Que macula
Presente, futuro
Náufragos, nós..
Como alcançar o que se foi?
Sonho, paixão
Se nesse silencio sem perdão
Sequer nos tocamos as mãos
Somos escravo, feitor
Látego palavra
Explode, implode nosso amor...
O TREM DA VILA

O galo cantou
O mundo inteiro acordou
E o dia-a-dia aqui na Vila começou
Todos à luta, com muita fé, muito humor
Nesse cantinho o Brasil pintado com amor
Da Vila tem a cor
Se foi um Barão o seu criador
Foi Noel, seu poeta imperador
Por sua calçada passou
Donga, João de Barro, Sinhõ
Lamartine, Almirante, Pixinguinha e Nazareth
Nosso Martinho no sobrenome levou fé
Vila, minha flor
Buscando em Rosa a inspiração pra compor
Pra você faço esse samba, faço esse samba,
Faço esse samba louvor.
BLUE BLUES

Azul escuro
O infinito
Claro,
O céu, o mar
 Degradê, 
Nuances dum olhar
 Escorre o tempo
Azul a desbotar
 Meia verdade
Meio tom
No tom da voz
Azul cianeto
Faz calar
 Azul
A justa cor
Um blues
Um grande amor
 Azul profundo
Envolve o mundo
 
Nada a sobrepor...
CORRENTEZA

Naquele instante
A certeza do fim
Num único momento
Não houve um só pensamento
Um apenas para o sim
De palavra em palavra
Vi desvanecer o tempo
E de gesto em gesto
Erguemos muros
Escondendo o sofrimento
Em direções opostas seguimos
Acreditando estarmos certos
Livres de arrependimento
Estávamos certos?
Tudo é finito
Nada é completo
Estávamos certos?
Por que esse vazio?
A liberdade se foi
Correnteza de rio
A me arrastar
Te reencontrar
Em direções opostas seguimos
Acreditando estarmos certos
Livres de arrependimento
Estávamos certos?
Tudo é finito
Nada é completo
Estávamos certos?
DIGA
Diga o que eu faço
Sem o seu amor
Mostra um caminho
Cura a minha dor
Você é como espinho
Da rosa que murchou
Não agradece e fere a mão
De quem plantou
Por jardins caminhei
Em busca da mais bela flor
Até que uma, encontrei
Que atenção me chamou
Com cuidado, eu amei
Sem esperar nenhum mal
Mas, o tempo não passou
Para nós, de forma tão igual
Para mim, anos de amor
Pra você, tédio mortal
Separados estamos
A vida segue seu curso natural
Assim, a você eu peço....
Que me diga
Diga o que eu faço
Sem o seu amor
Mostra um caminho
Cura a minha dor
Você é como espinho
Da rosa que murchou
Não agradece e fere a mão
De quem plantou
TÉDIO

A vida me ilude
A vida me cansa
Com seu dia-a-dia marcado
O tempo me mata a cada hora passada
E a sua conversa fiada?
Você permanece calado
Se não ouve o que eu falo
Posso criar o desconforto
Fazendo de suas ideias um aborto
Eu ouço, mas você não ouve o lamento
E se ausenta
Conta uma história justificando o ato
Como harmonia do fato
Eu escuto... Simplória, penso
O fato não justifica o ato
Não faz parte de mim
A memória selecionada
Você atende ao telefone
E desconversa
Enerva, me enerva
Mas não demonstra
E porque nega?
Se eu posso sentir o não falado
Ver o que a vida nos reserva
Amor em conserva
Sentimento mascarado, mascarado, mascarado
A vida me cansa
Com seu dia-a-dia marcado
O tempo me mata a cada hora passada
E a sua conversa fiada?
Não me diz nada
Nada, nada, nada...
RÉQUIEM

Na rua estreita o tanque de guerra


Aponta casas,
Crianças e velhos
A morte espreita
Quebrando o meio fio
Sobem a ladeira
Silêncio mortal
Os homens armados
O aço fosco não espelha,
Nada é pessoal
Nas casas, as velhas consolam.
Crianças choram
Mulheres imploram
Livrai-nos do mal
Qual? Qual?
Pipocam as balas
Os cães se sacodem
Correm
Conflito armado
Quem sairá premiado?
Bandido ou soldado?
Nação ou Estado?
O morro dominado
O sofrer romantizado
Filme antigo que apavora
O glamour passado,
Quem comemora?
Quem vai, em boa hora,
Para o repouso final?
Quem vem
Para livrá-los do mal?
Quem? Quem?
SOMBRA

Não mais te vi
Como um dia eu vi
Porque parei
De te olhar
Quando te encontrei fria
Não percebi
O frio era meu
Eu o repassei a ti
Não te escutei
Porque fiz da tua voz
Uma sombra acústica
De outras vozes
Que me empolgavam mais
E quando ficaste distante
Não estranhei
Porque seguia outro Norte
Foi assim
Que eu te perdi inteira
Pelos meandros
Da insensibilidade
Do egoísmo
Que habitam em mim
Não posso te estender a mão
Nem suplicar
Porque hoje,
A sombra sou eu
Uma, que passou
Que você, sabiamente, esqueceu.
SEM CONSUMIÇÃO

Na manhã
Crop Top
Mini Mullet
Peep Toe
Maxi bolsa
TomBoy
Hug me
BB Cream
Victoria’s Secret
A tarde vem
Andar, comprar
Feliz, sorrir
Gastar, gozar
Quem vai pagar
Não vai curtir
A noite cai
É transparência
Negra
A lingerie
Schwarzkopf
Vermelho rubi
Spritz
Êxtase, ecstasy
Dançar, fingir
Viver, sentir
Ficar,
Total prazer
Na superfície,
Permanecer
Consumir até morrer.
MINHA ALMA

Reclama minha alma a carência


De um existir aflito
Que tenta resgatar sabedoria
Em tempos não revividos
Se aqui não encontra alívio
Ao se expor à carne
Como nervo ferido
Sem cura
Não sana
Nem cauteriza
Chora minha alma, o terror
Da perda
Ao pó a carne
Já apodrecida
Consola-te
Pois em si abrigou
A ti, alma amiga
Crê minha alma, no amor
Que o existir aflito
É muito saber
É muito poder
É muito ter
É não amar
Não aprender
Não merecer
Ter minha alma
Outra vida
HISTÓRIA COMUM

O adeus
Doeu no coração
E eu
Engoli o pranto, o não
Sofri
Calado a minha solidão
Meu amor valeu menos
Que um tostão
Eu dei pra ela
Tudo aquilo que eu podia
Casa, comida,
Luxo,
Amor, um ombro amigo
Que ela desconsiderou
Por outro alguém me deixou
Como outro qualquer
Nosso caso acabou.
MEU VIOLÃO

Vai, violão,
E me mostra o saber
Fazer
Quando o dia amanhecer
Faz o mundo renascer
Em suas cordas
Faz surgir uma canção
Vai, violão
E me prova que o amor
É cor
Tinge a vida de prazer
Se acabar não vai doer
Porque amar
É viver em construção
Se canção não houver
Se amor não tiver
Em um canto qualquer
Se esconde um violão
Você vai encontrar
E então musicar
Nas cordas ensaiar
Preenchendo a solidão.
ESTADO

Seja branco
Ou negro
Pobre, abastado
Até nas vascas da lei
Marginal autorizado
Seja por fé ou descrença
Tendo na mão a sentença
Sendo ou não condenado
Não se sinta alforriado
Seja um crente, um ateu
Aristocrata ou plebeu
Árabe ou judeu
Você é o que é
Nada para o estado
Se solteiro ou casado
Viúvo, amante, divorciado
Você é um arquivo
Encerrado
E toda essa sanha genocida
Numa vida
Temos que lutar.
O que temos a esperar?
E se toda essa luta está perdida
Para que lutar?
E toda essa sanha fratricida
Uma corrida
O que temos a ganhar?
Aonde temos que chegar?
E se toda essa luta está perdida
Para que lutar?
AMOR LÚDICO

Eis-me insana
Corporificada.
A essa terra vinculada
Nua, sinto latejar,
A vida em mim
Seu pulsar faz me doer
O sexo num múltiplo prazer
Nesse coexistir, nesse coabitar,
Sinto-me profanada
Enlouquecida, apaixonada
O verbo queima-me a garganta
Amar
Emudeço
Sobrevém o cansaço
Não pode ser a morte,
Relaxo
A terra me envolve
Não estou só
Sinto-me forte.
Fecho os olhos
Vejo a nós,
No orbe
Amor
Do pó ao pó.
TV VOCÊ

Se 90% da população
Vota numa eleição
A abstinência não tem perdão
O voto não foi seu, não!
Ele foi da televisão
Todos ouvem uma só canção
Nos carros, caixas de som vêm e vão.
Letra pobre enriquece a TV
Basta repetir o mesmo tom
O comercial não vai te deixar esquecer
Não pode haver tristeza
Nessa empolgante virtual vida
É ouvir a mesma batida,
Consumir a mesma bebida
Engolir a língua diluída
Regurgitar os miolos no pão
Quem come a Globeleza
Levante a mão
Senta aqui nessa cadeira
Aprenda, sou Mais Você!
Por certo eu vou te ver
Dez horas mais tarde
Ainda no mesmo lugar
Marido e filhos já foram pastar
Mas a telinha é o seu ateliê
Só mostra o que você quer ver
Para que ler, escrever, pensar?
Sentada aí você pode sonhar
Nos saltos altos, maquiagem, mega star!
Não mude a estação
Malhação não vai te faltar
Depois vem o Corujão
Acomode seu corpo esgotado
No buraco do seu colchão
Não durma com a boca aberta
Que a câmera está sempre alerta
Não esmoreça com a perua vilã
Nas novelas ninguém paga conta
E sempre têm dinheiro amanhã
Continue sendo uma fã
Dinheiro você não vai ter
Se o BBB anda na contramão,
É apenas opinião.
O IBOPE vai responder:
Você tem vida real na TV!
DEMÊNCIA

As mãos caem sobre o colo


A boca move-se sem falar
Os olhos fixam-se no solo
Um pensamento surge devagar
Louca?
Tanto sonhei, tanto sofri,
Tanto que amei,
Tanto eu fiz
Do mundo essa é a paga
Já não sinto nada
Será que mereci?
Loucos!
Zombam, tentam fingir.
Talvez por mim,
Melhor sorrir
A boca estremece num sorriso
As mãos erguem-se num pedido
Fita o mundo,
Que se faz calado.
O pensamento faz-se surdo,
Se confrontado
Louca!
A palavra maltrata
O que a mente retrata
Loucas imagens
De um irreal fim.
Melhor assim...
MORTE

Irreversível
Como o rio que deságua
No mar
Leva, lava a alma aflita
Sem se importunar
Resgata a memória,
A vida,
A compreensão,
Do efêmero estar,
A remissão
Para quem deve voltar
Vem fatídica
Como o tempo
Pura e leve
Para quem aceita o seu chegar
É doce
Se suave for a certeza
Do eterno retornar
É a morte
Que caminha e espera
Quem com ela vai,
Mesmo sem querer ir
Mesmo sem querer se dar
É ela
Amiga sincera
Eterna companheira
Que em si carrega
A dor daqueles que te vendo ir
Ainda vão ficar

SUICIDA

Cai a vida no vazio


Seis andares
Até ao chão
Antes o tempo
Absoluto
Enorme dor
Lassidão
Antes a pergunta
Um entrevero
A moeda
Um luzeiro
O amor
Um aventureiro
Do tudo ao nada
Nenhuma recordação
No momento
O apego
Sobrevivência
A indecisão
Na queda por instantes
Lucidez ou alucinação?
O piso frio não delicado
A batida flácida, o corpo moído,
Jaz assustado
A vida escorre vermelha
Pela palma da mão
Não suportou esperar
O regressar da luz
Sobre a escuridão
RIMA

Tarde densa, adensa


Filtra, desqualifica
Pensa, pensa, pensa
Palavra solta
Sina que rima
Noite, noite, noite
Intensa luta
Empurra, rola, esmurra
A dor só vinga
Palavra aflita
Sem rima rica
 Dia, sol, luz, vida
E a sombra amiga
Xinga, grita, agita
A dor aumenta
Pensa, pensa, pensa
A dor se adensa
Empurra, rola, esmurra
A rima fica.
VAI E VEM

Pra você
Que nunca acreditou em mim
Meu bem querer
Eu canto assim
Te amar
Reconstruir o meu viver
Não vou falhar
Quero você!
Sem duvidar
Pois sei que sempre vou te amar
Não há razão para sofrer
Creia em mim
Veja lá!
Depois vai me pedir perdão
Se magoar meu coração
E desistir.
Venha pra cá
Deixa eu te amar
Quero viver toda a vida
Com você, meu bem!
Venha pra cá
Deixa eu te amar
Não posso mais aguentar
Esse vai e vem!
DESABAFO

Bruscas, solidão e tristeza me invadem.


Dói, como dói
Sacode
O pouco dentro de mim
A palavra pode estar certa
Posso acreditar que sou poeta
E se ninguém aplaudir
Preciso somente existir
A tristeza vem sem hora marcada
O que adianta reclamar
Não faço nada
Só Deus por testemunha
Persona non grata
Se da terra farto
Por alguns é considerado morto
Imaginem de mim, que desconforto
Tanto faz se sou ou não 
Nada é o que preciso ter
O que adianta palavras dizer
Elas somem com as ondas, com os ventos
Vai tristeza, vai solidão
Buscar outro para os seus tormentos
Deixem-me aqui 
Com o pouco de apenas ser.
CANÇÃO DO AMOR

Venha aqui,
Vamos cantar ao sol,
E encontrar a paz
Na alegria, no amor
Que te dou
 Canção, se fiz
Foi oração por nós
Pois tudo se constrói
Cante, então cante
Solte a voz
 Se alguém te fez sentir dor
Eu te provei que o amor
É a resposta que podemos dar
Amar também cantar
Amar é encantar
 Amar pra sempre amar
Cantar sempre cantar
 
Amar
MÁ INTENÇÃO

Disse que foi por amor

Que de mim renunciou

Só iria atrapalhar

Eu iria sofrer,

Eu iria penar

Por isso se afastou

 Disse que foi por amor

Mas não fez questão

De  voltar

De me ouvir

Ou replicar

Deixou tudo ao Deus dará

 Não há beleza

Quando se troca o amor

Amar não é comprar

Nem coisa que se dá

Emoção não vai a penhor

Por amor não se deve pagar

 Dizer que é por amor

Que se vai renunciar

Palavra jogada ao chão

De quem nunca quis amar

Desfaçatez sem perdão


Com intenção de enganar

CONSUMAÇÃO

Eu barraquei
Misancenei
Gritei
Só me perdi
Eu supliquei
Chorei
Babei
Como eu sofri
 Incomodei
Telefonei
Só reclamei
Eu constrangi
 No tempo
Eu ponderei
Raciocinei
Eu refleti
Compreendi
Perder não sei,
Então cansei
E concluí
 Daí, reneguei
E suplantei
De vez, parei
De vez, sumi
E assim você me quis
Então, fugi
Regurgitei
E entendi
Porque te consumi.
SONETO DA BUSCA

Preciso de um amor límpido, forte, envolvente


Que não tenha medo de navegar
Nas águas profundas do meu inconsciente
Nem do meu eterno Imprudente conflitar
Preciso de um amor que me aninhe
Abrande essa tristeza infinita que me corrói
Que me leve pela mão, que me encaminhe
Que sutilmente mostre como se constrói
 Preciso de um amor, de um ombro amigo
Que não me faça suspeitar
De interesses, de egoísmo
 Onde procurar tal amor digno de fé?
Ele estará entre os que como tal se mostram?
Ou perdido em um canto qualquer?
CANSADA

Estou cansada das palavras ocas


Que me dizem tudo vai bem
Enquanto a vida prossegue insana
E nada vai bem
Estou cansada do seu ahn-ahn e heim?
Se você continua sua vida mórbida
De ninguém com ninguém por alguém
Estou vivendo a morte fria, fina cópula de morte
Num adeus de sims
De oks
De Graças a Deus
Fico parada, a noite vai rápida
O nada mata, e a morte finaliza a escala do tempo
A minha mente para no vazio
Dos meus inúmeros por quês
Não encontro respostas nem definições
Nas multidões justapostas dos Silvios Santos
E dos Faustões
Fecho os olhos e nada vejo, mas era pra eu ver a mim.
Como fazer se não tenho espelho?
Um anjo caído
Um serafim
Gabriel, Oxalá, Alah,
Venham aqui
Digam onde está a arca da aliança
Onde está a confiança
Quando chegarei ao fim?
DE MINHA MÃE

O mundo que eu construí


O mesmo que ruiu
Foi esse que te viu nascer,
Crescer e ser feliz
Fui eu que me esqueci
De tudo que passou
Fui eu quem acreditou
Em ser maior
Do que o amor
Se tudo acabou pra mim
Pra ti não acabou
E tu irás me conduzir
Aliviando assim
A minha dor
O CHAMADO

Navegou e atravessou
Do rio para o mar
Navegou e atravessou
Do rio para o mar
Se foi por caminhos
Para conquistar
Se foi, não voltou
Para reclamar
E navegou
E navegou
Sem ter aonde parar
Continuou
Nem se lembrou
Da hora de voltar
Tendo as estrelas
Para lhe guiar
O coração palpitar
O vento amigo
Para enfunar
As velas brancas
Levar
Continuou
Nem reparou
Que estava noutro mar
O céu se abriu
Não resistiu
Alma-sereia chamar...
CANTO ETERNO

Vou te encontrar
Em todos os momentos
Que nos afaste o tempo
Mesmo sem ter como procurar

Vou te amar
Por toda a eternidade
Com a mesma intensidade
O nosso amor irá perdurar

O meu cantar
Vai procurar e te alcançar,
Um amor assim não vai se consumir
Mesmo que pense é hora de partir
Tenho o meu canto
A te fazer
Voltar
UM NOVO AMANHÃ

Sim,
Um novo amanhã
Sim,
Um novo amanhã
Haverá
Se o imaginar
Se o construir
Se o planejar
Se acreditar
Que pode sonhar
Que pode sonhar
Que pode sonhar
Sim,
Um novo amanhã
Sim,
Um novo amanhã
Nascerá
Pra quem
Puder amar
Pra quem
Quiser cantar
Pra quem
Não se cansar
De ser tão feliz
Num sonho confiar
E de esperar
Tudo irá mudar
Num novo amanhã
Num novo amanhã
Num novo amanhã

VALIA

Sonhei ter conquistado um coração


Imaginei ter por você grande paixão
Compreendi ser tudo apenas ilusão
Ao te ver sambar
Na dispersão
Vi no seu gingar
Que procurava outro par
Vi que seu olhar
Já não queria me buscar
Se não te falei
Eu não vacilei,
Sorri,
Disfarçando a emoção
Amor só é bom
Quando se tem convicção
Paixão é rastilho
E se desfaz numa explosão
Mulher é uma rosa
E também escorpião
Pode amar
Matar
Sem compaixão
...uma rosa vale mais que a tua dor...
Sonhei....
IANDÊ

Penso todos os meus dias


Só amar você
O clichê
Tem por que
Iandê

Pode tudo conspirar


Você me faz sorrir
Meu rubi
Bem-te-vi
Ayty

Nosso amor não vai ter fim


É como amanhecer
Aracê
Somos nós
Mairarê
Mairarê
Mairarê
CONSTATAÇÃO

Daí o antigo
Laço se rompeu
A solidão nos envolveu
Seguimos
Juntos sem amor

Nosso amor

Foi o meu chão


O meu sustento
Como viga
Ou cimento
Foi meu norte
Adoração

Não eternos
São
Amor e vida
A certeza que valida
Ter por si
Predileção
VELHO LP

Um LP
Com canções de amor
Esquecidas rodava
Naquela
Vitrola
Polivox
No apê
Eu me permiti envolver
Parei para ouvir
Nem sei por quê
Fechei os olhos
Guiei-me pelo som
E na memória
Você
Dançávamos pela sala
Como enamorados
O tango que tocava
Eu alucinado
Queria então te ter
A música seguia e eu ia à mercê
Da sintonia
De um velho LP

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