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a Um classico, para o CSC eee PC an sit LUT OMe tT Ue -e aey e Ua an et To ey DLPE NNT ET UES en ee ee reinterpreté-lo, Dessa forma, um classico cria teorias-madeln Com vistas & compreenséo da Deane eta ey Sa CRUST ets SOLOS eM eel et que foi gestado. UN ee Lea an lt LUG CS eM SNey nee Davis, amolda-se, com ast a SSCS Rat ete Leta SUS nar CORED SMe Fen ete GIS ene ay tomando como nexo STW ea eel essen eth arco de temas Awe CACC Cntr it Aen ee Ena Eee Emory escravidao EEE eg Oe ila moderna ( Lae Te ee Cite LEE ULES ante cee MT UU en Che Tt libertag CES USAT ino ELSE ETE sat) emining na virada do sécula; Bana nn ne ee Ciel dutivos; obsolescencia Cen fas domésticas) Onn) Een EA Dem ae) livea: CS in Vieiados sobre o tema em Ch Bae CEI Ee eee [iene Sau eae Cen eh Deer ee see OEE Eat Cate Cull é indispensavel UCR Pues: CEST es De SUA ay © pensam o Brasil very adiando diagné: sobre desigualdade, discrimina ILS CIS lh) BUSI an [van Tye) Can Ten Angela Davis MULHERES, RACA E CLASSE Tradugao: Heci Regina Candiani © desta edigio Boitempo, 2016 © Angela ¥. Davis, 1981 1963) Women, Race Clas (Neva York, Random Hous, 981 Vina, original em ingle in Randors Howse ordo com a Random House, divisto da Pe Divegdo edivorial Ivana Jinkings Edigao Bibiana Leme Assisténcia editorial Thaisa Burani Heci Regina Candiani Prepavagio Mariana ‘Tavares Coordenagio de produpio Livia Campos Capa, aberturas ¢ imagens internas Ronaldo Alves Diagramagdo Antonio Kehl yl 08 os Elaine am Equipe de apoio: Alan Jones Ana Yur Kaji / Ata Renzo / Eduardo Marae oi iselle Porto / Isabella Marcatti / am Oliveira / Kim Doria / Leonardo Fabri / Ma Mauricio Barbosa / Renato Sores /‘Thais Barros! Talio Candin? CIP-BRASIL. CATALOGAGAO NA PUBLICACAD «ay ___SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS = ——= D252 2 Davis, Angela, 1944 Led ha HR Para minha méde, Sallye B. Davis. Tradugio de: Women, race and cls ISBN 978-85.7559-503.9 5 Males Esados Unidos - Hii 2, Sexo - Dierens (Psicoogi 3 Racism - Estados Unidos 4. Reminismo, 5. Estados Unides- Reig’ 7 ala Pee a ck ane Coad ed cpl vedada a reprodugio de qualquet P edigio: agosto de 2016 BOITEMPO EDITORIAL Editores Associados Leda. Rua Pereira Leite, 373 5442-000 Sio Paulo SP Tel fax: (11) 3875-7250 / 3875-7285 edtoraboitempoeditoral. combs | wwboitempoediort wwwblogdaboitempo.com.br | wv facebook. combo oe Jink hey Ch aL Tee aT ts Sma " Sie both knees Fin Peet Cette an wa Kendra Alexander; Stephanie Allen; Agradeco is seguintes pessoas por sua ajuda Rosalyn Baxandall; Hileon Braithwaite; Alva Buxenbaums Fania Daviss Kipp James Jackson; Phillip McGee, reitor da E ual de Sao Francisco; Sally McGee; Victoria Mercado; de Estudos Etnicos Harvey; da Universidade Estad Charlene Mitchell; Toni Morrison; Eileen Ahearn; e a0 Programa de Estudos adual de Sao Francisco. sobre Mulheres da Universidade Es NOTAS DA EDICAO Publicado originalmente em 1981, este livro contém algumas referéncias a lugares, fatos ¢ eventos que podem nao existir mais nos dias que correm (como 0 apartheid na Africa do Sul, & época ainda em vigor). Os colchetes explicativos ou com tradugées ao longo do texto sto da edigéo brasileira; aqueles em citagdes, tanto os de supressées como os de acréscimos, so da autora. SUMARIO ‘Acro A EDIGAO BRastEMRA — Djamila Ribeiro. 1. OLEGADO DA ESCRAVIDAO: PARAMETROS PARA UMA NOVA CONDIGAO DA MULHER.. O MovIMENTO ANTL DAS MULHERES .. SRAVAGISTA E A ORIGEM DOS DIREITOS, Cassi DAS MULHI RAGA NO INICIO DA CAMPANHA PELOS DIREITOS RACISMO NO MOVIMENTO SUERAGISTA FEMININO.....00++ RAS .. O SIGNIFICADO DE EMANCIPAGAO PARA AS MULHERES NEG EDUGAGAO B LIBERTAGAO: A PERSPECTIVA DAS MULHERES NEGRAS ... yay O SUFRAGIO FEMININO NA VIRADA DO SECULO: A CRESCENTE INFLUENCIA DO RACISMO 8. AS MULHERES NEGRAS E O MOVIMENTO ASSOCIATIVO 9. MULHERES TRABALHADORAS, MULHERES NEGRAS E A HISTORIA DO MOVIMENTO SUFRAGISTA to, MULHERES COMUNISTA: Lucy Parsons .. Ella Reeve Bloor Anita Whitney... Elizabeth Gurley Flynn... Claudia Jones . 11, ESTUPRO, RACISMO E O MITO DO ESTUPRADOR NEGRO ...... DIA DAS TAREFAS DOMESTICAS SE APROXIMA: 13. A oBsoLesch UMA PERSPEC IVA DA CLASSE TRABALHADORA. PREFACIO A EDIGAD BRASILEIRA Djamila Ribeiro Angela Yronne Davis é uma mulher a frente de seu tempo. E dizer isso nao afirmar que ela esteja desatenta as questOes que afetam a sociedade em seu momento histérico; ao contrario, significa apontar o potencial revoluciondrio dle seu pensamento, que nos inspira a pensar além ¢ a sair do lugar-comum. Nascida na década de 1940, no estado do Alabama, Estados Unidos, Davis mobilizou uma campanha mundial a favor de sua libertagio nos anos 1970. Militante dos Panteras Negras e do Partido Comunista dos Estados Unidos, ela fora presa acusada de enyolvimento em um atentado, Na época, além de pautar o debate racial de forma contundente, os Panteras Negras haviam se engajado na luta pela liberdade de trés ativistas negros encarcerados: George Jackson, Fleeta Drumgo ¢ John Clutchette ~ conhecidos como os “irmaos Soledad”, por estarem detidos na prisio de Soledad, em Monterey, California, Numa acio que previa 0 sequestro de um juiz como moeda de troca pela liberdade dos rapazes, o irméo de Jackson ¢ outros membros dos Panteras Negras inter- romperam um julgamento, Na troca de tos, o juiz Harold Haley foi morto, ¢ Davis, posteriormente, acusada de eer comprado a arma utilizada na agio. foi incluido Em razio desse evento, em agosto de 1970, 0 nome de Ang na lista dos dex fugitivos mais procurados pelo FBI. Apés meses escondida, a ativista e intelectual foi presa, ¢ 0 mundo parou por conta da campanha conhecida como “Libertem Angela Davis”, nome do documentério que conta sua histéria'. Apos dezoito meses, ela foi inocentada de todas as acusagées. Professora de filosofia ¢ aluna de Herbert Marcuse, foi impedida de lecionar na Universidade da California por causa de sua ligagao com o Partido Comunista, organizagao pela qual foi candidata a vice-presidente da Reptiblica em 1980 e 1984, compondo a chapa de Gus Hall. (© documentitio, cujo titulo original & Five Angela and All Political Prisoners, foi disigido por Shola Lynch e langado em 2013. 12 Acris Davis Davis alia de forma brilhante academia e militancia, recusando uma suposta neutralidade epistemoldgica, Sua obra é marcada por um pensamento que visa romper com as assimetrias sociais. A visio de ativista aguga seu olhar. Exemplo disso, Mulheres, raga e classe é uma obra fundamental para se entender as nuan- ces das opressoes. Comecar o livro tratando da escravidio ¢ de seus efeitos, da forma pela qual a mulher negra foi desumanizada, nos dé a dimensio da impossibilidade de se pensar um projeto de nacao que desconsidere a centra- lidade da questao racial, ja que as sociedades escravocratas foram fundadas no > das opressdes, ou seja, 0 quanto é preciso considerar a intersecgio de raga, classe e racismo. Além disso, a autora mostra a necessidade da nao hierarquizac: ssibilitar um novo modelo de sociedade. Davis apresenta o debate sobre o abolicionismo penal como imprescindivel género para po: para o enfrentamento do racismo institucional. Denuncia o encarceramento em massa da populagdo negra como mecanismo de controle ¢ dominagao. Dessa forma, questiona a ideia de que a mera adesio a uma ldgica punitivista traria solug6es efetivas para o combate a violéncia, considerando-se que o sujeito negro foi aquele construido como violento ¢ perigoso, inclusive a mulher negra, cada vex mais encarcerada, Analisar essa problemética tendo como base a questéo de raga e clas: permite a Davis fazer uma anilise profunda ¢ refinada do modo pelo qual essas opress6es estruturam a sociedade, Neste livro, tal discussio é sinalizada pela autora por meio de sua abordagem do sistema de contratagéo de pessoas encarcerad nos Estados Unidos, que jé durante o perfodo escra- vocrata permitia as autoridades ceder homens ¢ mulheres negros presos para o trabalho, em uma relagao direta entre escravidéo e encarceramento como forma de controle social. Nesse sentido, mesmo sendo marxista, Davis é uma grande critica da es- querda ortodoxa que defende a primazia da questio de classe sobre as outras opressoes. Em “As mulheres negras na construcdo de uma nova utopia”, a autora destaca a importancia de refletir sobre de que maneira as opressdes se combinam ¢ entrecruzam: As organi es de esquerda tém argumentado dentro de uma visio marxista e ortodoxa que a classe é a coisa mais importante. Claro que classe é importante. E preciso compreender que classe informa a raga. Mas raga, também, informa a classe. se é vivida. Da mesma E género informa a classe. Raga é a maneira como a cl forma que género éa maneira como a raga é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber as intersecgdes entre raga, classe ¢ género, de forma a perceber que entre essas categorias existem relagdes que sio miituas ¢ outras que so cruzad: Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras.? 2.um olhar ortodoxo mantém Davis atenta as quest6es contem- de representatividade. A recu porneas, que abarcam desde a cantora Beyoncé & cri Adis auxilia numa nova compreensio. Acredita que representagio é importante, ssi feita por cla sobre representagio foge de dicotomias estéreis e nos sobretudo no que diz respeito & populagao negra, ainda majoritariamente fora de espagos de poder. No entanto, tal importancia nio pode significar a incompreensio de seus limites. Para além de simplesmente ocupar espagos, & s opressoras. Nesse necessario um real comprometimento em romper com l6gica sentido, acompanhar suas enerevistas é fundamental, Davis traz.as inquictagées necessarias para que o conformismo nao nos der- rote, Pensa as diferengas como fagulhas criativas que podem nos permitir inter- ligar nossas lutas e nos coloca o desafio de conceber agées capazes de desatrelar Essa é sua grande utopia. Nes valores democriticos de valores capitalist construgao, para cla, cabe as mulheres negras um papel essencial, por se tratar do grupo que, sendo fundamentalmente © mais atingido pelas consequéncias de uma sociedade capitalista, foi obrigado a compreender, para além de suas opress6 Mulheres, raga e classe 6a tradugio do conceito de interseccionalidade. Angela s, a opressio de outros grupos. I revoluciondrio, ¢ ler sua obra é tarefa essencial para Davis traz. um potenci quem pensa um novo modelo de sociedade. Sao Palo, jutho de 2016 Antigo publicado no portal Geledés ~ Instituto da Mulher Negra. Disponivel em: . 1 LEGADO DA ESCRAVIDAD: PARAMETROS PARA UMA NOVA CONDIGAD DA MUILHER Em 1918, quando o influente académico Ulrich B. Phillips declarou que a escravidao no Velho Sul* imprimiu o glorioso selo da civilizagao! nos afticanos selvagens e em seus descendentes nascidos nos Estados Unidos, ele langou as bases pata um longo eacalorado debate, Com o passar das décadas ea ampliagio dese debate, um historiador apés 0 outro declarava, confiante, ter decifrado o verdadeito sentido da “instituigéo peculiar” Em meio a toda essa atividade intelectual, porém, a situagéo especifica das mulheres escravas permanecia in compreendida. As discusses incessantes sobre sua “promiscuidade sexual” ou seus pendores “matriarcais” obscureciam, mais do que iluminavam, a situagio das mulheres negras durante a escravidao, Herbere Aptheker continua sendo uum dos poucos historiadores a tentar eriar um alicerce mais realista para a compreensio da mulher escrava’. No original, “Old South” expressio usuda para designaro Sul escravagista antes da Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865), também chamada Guerra de Secessio. (N. T.) Ulrich Bonnell Phillips, American Negro Slavery: A Survey ofthe Supply, Employment, and Control of Negro Labor as Determined by the Plantation Regime (Nova York/Londres, D. Appleton, 1918) Ver também, do mesmo autor, o artigo “The Plantation as a Civilizing Factor”, Sewanee Review, 1904, republicado em The Slane Economy of the Old South: Selected Essays in Economic v.12, jul University Press, 1968). O echo a seguir consta and Social History (Baton Rouge, Louisiana Sta (0 estado de nosso problema é o seguinte: 1. Hum ou dois séculos, os negros eram desse texto! selvagens nas florestas da Africa. 2. Aqueles que foram trazidos para os Estados Unidos e seus des- cendentes adquiriram certa soma de civilzagio ¢ agora estéo, em certo grat, aptos para a vida na sso dos negros tem sido, em grande medida, resultado sociedade civilizada moderna. 3. Esse i de sua associngio com pessoas permaneceri, por tempo indefinido, em meio i ia pacifica e seu progresso futuro nesta nacio de homens: byrancas civilizadas. 4, Uma grande massa de negros certamente o branca civilizada. O problema é como poddemos nos preparar para sua permanénci beancos, e como podemos nos defender de seus deslizes de volta & barbitie? Como uma possivel do problema, eu solugio para grande parte giro 0 sistema de latiffindios monocultores” (p. 83) ++ Bufemismo usado nos Estados Unidos para se referir a excravido, (N."T,) dificil das escravas negras podem ser encontradas em + Reflexdes sobre a condigio especialme: virios livros, artigos e antologias escritos e editados por Herbert Apthcker, incluindo American 16. Anca Davis Durante os anos 1970, 0 debate sobre a escravidéo ressurgiu com vigor renovado. Eugene Genovese publicou A terra prometida’, Também foram edi- tados The Slave Community’ [A comunidade escrava], de John Blassingame, © malconcebido Time on the Cros’ [Tempo crucificado], de Robert Fogel ¢ Stanley Engerman, eo monumental The Black Family in Slavery and Freedom’ {A familia negra na escravidao ¢ na liberdade], de Herbert Gutman, Em reagio 20 ressurgimento desse debate, Stanley Elkins decidiu que era hora de publicar uma edigao ampliada de seu estudo Slavery’ [Escravidao], de 1959. Nessa onda de publicagoes, é evidente a auséncia de um livro especificamente dedicado & questéo das mulheres escravas. Quem, entre nds, aguardava com ansiedade uma andlise séria sobre as mulheres negras durante o periodo da escravidao permanece, atéo momento, decepcionado. Igualmente decepcionante tem sido a descoberta de que, com excegio do tema tradicionalmente debatido sobre promiscuidade versus casamento ¢ sexo forgado versus sexo voluntério com homens brancos, os autores dessas novas obras tém dado atengao insuficiente As mulheres. O mais esclarecedor de todos esses estudos recentes éa investigacio de Her- bert Gutman sobre a familia negra. Ao trazer evidéncias documentais de que a vitalidade da familia se mostrou mais forte do que os tigores desumanizantes da escravidéo, Gueman destronou a tese do matriarcado negro, popularizada em 1965 por Daniel Moynihan ¢ outros®. Ainda assim, como as observagées que ele faz sobre as mulheres escravas so geralmente elaboradas para confirmar ‘Negro Slave Revolts (1948) (Nova York, International Publishers, 1970); To Be Free: Studies in American Negro History (1948) (Nova York, International Publishers, 1969); A Documentary History ofthe Negro People in the United States(1951), v. | (Nova York, ‘The Citadel Press, 1969) Em fevereiro de 1948, Aptheker publicou o artigo intitulado “The Negro Woman”, Masses and Mainstream, v, 2, 0. 2. Eugene D. Genovese, Roll, Jordan, Roll: The World the fed. bras: A terat prometida: 0 mundo que os escravos eriaramt, trad. Maia Garschagen, Rio de Janeiro, Paz e'Terra, 1988] John W. Blassingame, The Slave Community: Plantation Life in the Antebellum South (Londres! Nova York, Oxford University Press, 1972} Robert W, Fogel e Stanley Engerman, Time on she Cross: The Economies of Slavery in the Antebellum South (Boston, Little, Brown & Co., 1974), 2 v. “Herbert Gutman, The Black Family in Slavery and Freedom, 1750-1925 (Nova York, Pantheon, 1976). Stanley Elkins, Slavery: A Problem in American Institutional and Intellectual Life (3. ed. rev. Chicago/Londres, University of Chicago Press, 1976). Ver Daniel 2. Moynihan, The Negro Family: The Case for National Action (Washington, Mii do ‘Trabalho dos Estados Unidos, 1965), reedita Lee Rainwater e William L. Yancey, The Moynihan Report and the Politics of Controversy (Cambridge, MIT Press, 1967). Slaves Made (Nova York, Pantheon, 1974) Inés Rolim ¢ Donaldson rio lo Munitees, raga & ctasse 17 que clas tinham uma propensao a se tornarem esposas, fica ficil extrair disso a implicagao de que clas se diferenciavam de suas congéneres brancas apenas na medida em que suas aspira bes domésticas eram frustradas pelas exigencias do sistema escravocrata. De acordo com Gutman, embora as normas institu- cionalizadas da escravidao concedessem as escravas um alto grau de liberdade sexual antes do casamento, elas termina ¢ constituir familias aM por se casa com base tanto em suas decisdes quanto nas de seus maridos. Os argumentos convincentes e bem documentados de Gutman contra a tese do matriarcado so extremamente valiosos. Mas seu livro seria muito mais contundente se ele tivesse explorado de modo concreto o papel multidimensional das mulheres negras no interior da familia e da comunidade escrava como um todo. S mal-entendidos sobre as experiéncias das mulheres negras escravizadas, ela (ou , e quando, alguém conseguir acabar, do ponto de vista histérico, com os ‘io histéric ele) terd pr timavel. Nao é apenas pela prec cado um servico ines que um estudo desses deve ser realizado; as ligdes que ele pode reunir sobre a era escravista trardo esclarecimentos sobre a luta atual das mulheres negras ¢ de todas as mulheres em busca de emancipacéo. Como leiga, posso apenas propor algumas hipoteses que talvez sejam capazes de orientar um reexame da histéria das mulheres negras durante a escravidio. Proporcionalmente, as mulheres negras sempre trabalharam mais fora de «a irmas brancas’. O enorme espago que o trabalho ocupa hoje na ado que sua vida das mulheres negras reproduz um padrio estabelecido durante os primei ros anos da escravidao. Como escravas, essas mulheres tinham todos os outros aspectos de sua existéncia ofuscados pelo trabalho compulsério. Aparentemen- te, portanto, 0 ponto de partida de qualquer exploragio da vida das mulheres negras na escravidao seria uma avaliagao de seu papel como trabalhadoras. O sistema escravista definia 0 povo negro como propriedade. J& que as mu- theres eram vistas, néo menos do que os homens, como unidades de trabalho lucrativas, para os proprictérios de escravos elas poderiam ser desprovidas de géncro. Nas palavras de um académico, “a mulher escrava era, antes de tudo, uma trabalhadora em tempo integral para sett proprietério, ¢ apenas ocasio- nalmente esposa, mae ¢ dona de casa””. A julgar pela crescente ideologia da * Ver W. E. B. Du Bois, & Howe, 1920). "Kenneth M. Stampp, the Peculiar Institution: Slavery in the Antebellum South (Nova York, Vintage, 1956), p. 34 The Damnation of Women”, em Darkiwater (Nova York, Harcourt, Brace

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