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Dream an Kh ax Klingers Pompe ft Fading of Gove and German Moris tule tent {Gi alee, Cnems The Movement nes, dd Hugh Tinton Mnsxpalis Univer o Manso Press 986 p36 (hem: «nage mevinet tad Sila Sena i Pas: rons 85) ie eae nee st ing ea eh ini demon europe do copie recep ren i a ner arn te Gs Rl nach Nir ete oto Pre iter ore ca te ober Bere as Mii {Mann Maton Bete, Los Angle, Lonre Unie o aiforin Ps 76 Goa Anson Rabin, The Hamar tor ewok Pas Boas gt ‘Modernidade, hiperestimulo e 0 inicio do sensacionalismo popular Ben Singer G< ¢ Das muita ideias que se sobrepGem relacionadas ao termo "modernidade”(e {eixando de lado o grande nimero de significados adjacentes denotados por “modernism, talveztrés tenham dominado o pensamento contemporineo, {Como um conceito morale politico, a modernidade sugere o “desamparo — ‘deoldgico” de um mundo pés-sagrado e pés-feudal no qual todas as normas ¢ valores estio sueits ao questionamento,'Como um conceito cognitive, a ‘modernidade aponta para o surgimento da racionaidade instrumental como 4 moldura intelectual por meio da qual o mundo é percebido e constr. Como um conceito socioeconémico, a modernidade designa uma grande ‘qwantidade de mudangas tecnoligicas e sociais que tomaram forma nos tit- smos dois séculos ¢ alcancaram um volume eritico perto do fim do século 10x: industralizagto, urbanizagdoe crescimento populacional répidos; pr feragio de novas tecnologias e meios de transporte; sturagdo do capitalismo avancado; explosio de uma cultura de consumo de massa e assim por diante ‘Onteresse recente pels teoras soca de Georg Simmel Sighted Kracauer ¢ Walter Benjamin deixou claro que também estamos lidando com uma quaria srande definigio de modernidade.sseste6ricos centraram-se no que podemos chamar de uma coneepedo neuroligicn da modernidade, Els afirmavam que a ‘modernidade também tem que ser entendida como um registro da experién- cia subjetivafandamentalment dint, caracterizad pelos chogues ios, Perceptivos do ambiente urbano moderno, Em certo sentido, esse argumento 8’ 9 Rt seit A. 96 ‘um desdobramento da concepgao socioeconémica da modernidade; no entan- to mais do que simplesmente apontar para o alcance das mudangas tecnolégi- ‘cas, demogrificas e econdmicas do capitalismo avancado, Simmel, Kracauer & Benjamin enfatizaram os modos pelos quais essas mudangas transformaram a estrutura da experiéncia. A modernidade implicou um mundo fenomenal ~ especificamente urbano - que era marcadamente mais ripido, ca6tico, fragmen- tado e desorientador do que as fases anteriores da cultura humana, Em meio { turbuléncia sem precedentes do trileyo, barulho, painéis, sina de transito, ‘maltidées que se acotovelam,vitrines e antincios da cidade grande, o individuo deftontou-se com uma nova intensidade de etimulagio sensorial. A metrépole sujeitou o individuo a um bombardeio de impresses, choques e sobressaltos. (O ritmo de vida também se tornou mais frenétco, acelerado pelas novas formas de transporte répido, pelos horérios prementes do capitlismo modemo ¢ pela velocidade sempre acelerada da linha de montagem. ‘A modernidade, em restmo, foi concebida como um bombardeio de éstinsulos, Como afirmou Simmel em seu ensaio de 1903,"A metr6pole ¢ a vide mental” (um texto crucial para Kracauer e Benjamin), a modernidade cnvolveu uma “intensificacdo da estimulagéo nervosa”.A modernidade trans formou os fandamentos fisiolégicose psicolégicos da experiéncia subjetiva: (0 rapido agrupamento de imagens em mudanga, a descontinuidade acentuada ao alcance de um simples olhar ea imprevisibilidade de impressées impetuoses cessis sio as condigSes psicoldgicas criadas pela metropole. A cada cruzar de rua, com o ritmo ea multiplcidade da vida econémica, ocupacional e socal, 4 cidade cria um contrasteprofundo com a cidade pequena e a vida rural em relasio aos fundamentos sensoriais da vide psiquica’ [As cidades, é claro, sempre foram movimentadas, mas nunca haviam sido te movimentadas quanto se tornaram logo antes da vicada do século. O sibito aumento da populacio urbana (que nos Estados Unidos mais do que quadru: plicou entre 1870 e1910),a intensificagdo da atividade comercial, proliferacio dos sinais ea nova densidade e complexidade do transito das ruas (em particular com a grande expansio dos bondes elétricos na década de 1890) tornaram a cidade um ambiente muito mais abarrotado,cabtico¢estimulante do que jamais hravia sido no passado [fg 31]? Basta assstr a imagens dos primeiros filmes de “atualidades” de Manhattan, Berlim, Londres ou Paris ~ sem mencionar cidades ‘menores como Lyon, na Franga, ou Harrisburg, na Pensilvnia ~ para se conven- cer da afirmagdo de Simmel como uma sintes, se nlo de todos os aspectos da experiéncia moderna, pelo menos de uma parte signifcaiva dela? 3.2 5P Avenue e239 Steet, Nova York cerea de 1900, Para contextualizar as concepgbes da modernidade em Kracauer e Benja- min, € preciso olhar para os periodos anterior e posterior ao das formulagBes de suas ideias. De um lado, est claro que stas concepgées da modernida- de antecipam muito 0 que 0s te6ricos contemporsneos descreveram como a condigio da pés-modernidade. Uma definigio de pés-modernidade que enfatiza suas “urgéncias, intensidades, sobrecarga sensorial, desorientago, a melée de sinais e imagens” se sobrep6e muito & concepséo neurologica de ‘modernidade, seja a sobreposicio completa ou nio (ng. 32)" Por outro lado, nos surpreendemos em constatar 0 quanto Kracauer ¢ Benjamin estavam tocando em um discurso ja difundido sobre o choque ‘da modernidade. Observadores sociais das décadas préximas da virada do século fixaram-se na ideia de que a modernidade havia causado um aumento radical na estimulagéo nervosa e no risco corporal. Essa preocupasio pode ser encontrada em cada género e classe de representagio social - de ensaios ‘em revistas académicas a manifestos estéticos (como 0s de Marinette Leger), ;passando por comentarios leigos (como as discusses ubiquas sobre neuras- tenia) e cartuns na imprensa ilustrada (tanto em revistas cémicas como Puck, ‘Punch, Judge e Life quanto em jornais sensacionalistas populares como World ¢ Journal de Nova York)* [A descrigéo da vida urbana feita por Henry Adams em 1905 era tipica esse amplo discurso sobre as reviravoltas sensorisis da modernidade: Forgas agarravarn seus [do homem moderne] pulsose oarremessavam como se ee ‘estivesesegurando um arame eletrizado [Todos os dias a Neturea vioentamente revolada causiva supostos ackdentes com enorme destrucio de propriedadese vides, tenquanto ntidamente ra do homem, que gemia eclamava e estremeciaimpotente, ‘ms nunca por um inic instante podi pare. As estradas de ferro sozinhs aprox ‘maramse da carnificina da guerra; os automéveis eas armas de fogo devastaram & _sociedade até que um terremotofornou-se quase um reaxamentonervoso* Um nova-iorquino adepto do movimento de “reforma social” chama- do Michael Davis cunhou um termo apropriado ~ e surpreendentemente na moda ~ para descrever o novo ambiente metropolitano (assim como 0s divertimentos sensacionais que ele cultivava, como discuto adiante); a -modernidade, declarou em 1910, era definida pelo “hiperestimulo'? ‘A imprensa ilustrada oferece um registro particularmente rico da fixagi0 {da cultura nos ataques sensoriais da modernidade. Revistas cmicas ejornais, sensacionalistas observaram de perto 0 caos do ambiente moderno com um alarmismo distépico que,em graus variéveis, caracterizou muito do discurso $44 °Um domingo tranquiloem Londres; ou, dia do descanso, Punch, 886. 99 35. “Chdade de Nova York: Ela valea pena fe 1909 do periodo sobre a vida moderna, Muitos cartuns representaram a nova paisa~ gem de assédio comercial como um tipo de estinnulo terrivel e agrssivo ig. 33 Outros, retratando aglomerados epletos ecadticos de pedestres ilustraram com intensidade (cinquenta anos A frente) a sugestio de Benjamin de que “medo, repulsa e horror eram as emogées que a multidao da cidade grande despertava naqueles que a observavam pela primeira vez” [fig.3.4]* Uma ilustragio de 1909 1a revista Life, intitulada "Cidade de Nova York: Ela Vale a Pena?’, represen ‘tou a metrépole como uma investida violentae frenética de choques sensoriais| {fig.35}. Sua combinagio de miltiplas perspectivas espago-temporais em um 536 “Broadway —passado present’ Uf, 1900. ‘campo visual tinico ¢ instantneo (alguns anos antes do cubismo) transmite a intensidade e a fragmentagio das percepgdes da experiéncia urbana? Diversas ilustragdes trataram especificamente da transformacio pun- gente da experiéncia de um estado pré-moderno de equilibrio e estabilidade Para uma crise moderna de descompostura e choque. Um cartum de 1900 na Life, intitulado “Broadway ~ Passado ¢ Presente’, por exemplo, contrastou ‘uma cena pastoril com uma visio de um bonde aproximando-se rapida- mente de pedestres apavorados [fig.3.]. Ao fundo, paingis anunciam um jornal sensacionalista chamado Whirl e exibigées dominicais de filmes de

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