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Maurice Mould # Sergio Daye orto instiuigdes. Likasion podetiasimbolzar o movimento (até mesmo ‘a mobilidade de sua apresentisio visual e de seus projtos,e Le ‘Mordesimbolzaria« ordem, se to logo io fosse necesirioatenvar uma opossio queas ransformages,alcangadat¢ por vn. do peoprio jomalydemandam por um eqslibras. Em um periodo em que os equilibrios slo frigeis © os aparelhos da midia ve fazem e desfazemse, em que os homens de comunicasio sireulam com os capitais em um jogo: de permtas cada ver mais pias, em que um barulho de correntes apa, nor veze, a misica sla esferas, quer saberia dizer em que se tinsfarmati a pina impress? No que nos diz respeto, alo acreditamos que o jornal ‘ena dado sua iti palava: Maurice Mouillaud Carmo 1 ‘Da forma ao sentido ‘Mane Moulin Quero mostrar neste lio, dedicado ao jornal diirio, que © Aiseurso do jornal nio est solto.no espa; sts envolvido no que chamaria de “dispostivo” que, por sua vez, ndo & uma simples sentidade técnica, esranha 20 sentido, Os estudos a respeito da ‘midia. dio, frequentemente, a. impressio. de estarem,divididos ‘entze uma descrigdo do jornalm sua materalidade de papel, seu formato, sua diagramacio, et. (0 “suporte”)¢ aquilo que, durante ‘muito tempo, fi chamado de os “conteidos".O termo "conteido” ‘emee 4 metifora de uma caina ou de um esrinio onde um objeto sth, de fato, “conto”, Para esses analistas, a prOpria lingua era apenas um envelope do sentido, do qual era necesirio extiair as “categoria”, assim como se separa a améndoa de seu carogo. Sem livia, ito & uma simpliticago, mas pareceme que a dicotomia Aispostivo e sentido sempre esteve presente em filgrana neste tipo de abordagem. Transportemo-nos, por um instante, para um campo que parecerd trivial e distante da midis, a embalagem ou, tem termos de marketing, 0 acondicionamento de um produto (n30 ‘stara 0 joral,& sua manera, embalado em papel ¢ 0 texto de "um romance, em um volume?) A primeira vista, a embalagem € 0 ‘objeto podem ser separados sem que o objeto pera sua identdade; entretanto, um pesfume continu a ser um perfsme sem se fraeo? © limite material esti evidents, ¢ 0 limite simbslica? O presente TT Prior ent Uae Lams, yon 2. Fa Fo pes dons red PrP Atos ie Orso et als cd nro de 2012 a Maurice Mouilaud e Sergio Dayrel Porto permanece um presente sem afta ¢ a gragas que o cavolvem (e sem 0 gesto de oferecimento que faz parte de seu dispositive)? Da mesma forma, podemonos perguntar sea prece & prece sem seu sestual (a este respeito, veja Pascal). Conhecemse as embalagens {de Christo que vestiram de lona de tecido 2 Pont-Neuf em Pais, © Reichstag em Berlim e virios outros monumentos. Desses episédios, nem a Pont Neuf, nem o Reichstag sairam ilesos. Ao tembaltos, como se embala um mével que é tansportado, Christ, sem davida, extrai eles uma imagem pervertida. A lona de tecido € uma mondaca posta sobre a superficie do monument, mas, sob a miscara, outa figura aparece, uma figura que estava oculta| pelo dispositiva politico ow religioso (invisivel, contudo) que © tnvolvia A lilo de Christo & que um monumento esti, sempre, seja como for, “embalado” em um disposiivo;e que este predspe 4 seu sentido: o envelope ndo esti indiferente a carta que contin, ‘le me prepara para esperar um correspondent (para interrogar me a respeito de sua identidade,o que permanece uma espers), para mobilizar esse ou aquele interesse (ou desinterese), pata acondar 6 wh (favorivel ou desfavorivel) com 0 qual vou ler a cart. Em resumo, o dispostiva prepara para o sentido, Eu excrevo, ou melhor, eu afloro os bottes de un telado, Para come, 0 telado nio & mio. Blea arma com uma protese que separa 26 leuas, I aonde a mio desliza, no moblizo apenas 0 dispositive alfibitico, mas a colocaclo no espago(palavas, Fass, segmentos de Fass, parigratos etc) inerente lingua (e que pode ser espeifca de um genero lteritio, como o demonstra poesia). Eu ecrevo,¢& a totalidade do dspositivo da lingua escrits que & posta fem movimento, Se ndo se pasa sem problemas da fala & escrita & que amas dispdem diferentemente ling. Bast ler, tentar le, se no & um especilista, uma insrigho medieval (pera tumulae 08 rmanuscit) para encontrarse controntado com um blaco compcto Ae exerts, desprovido de sangBes (mesmo aquela das palaras), que & 20 pe da ltr, impenctrivel. A sniise da eicrita ainda mio rompe 2 emissio continua da vor. © sentido nio esta apenas deitado no leito da lingua. Esti sravado em uma tabuleta (uméra) ou sobre uma fl de chumbo © Jomal = da forms 90 sentido ‘como em um monument de Jochen Gera? insrito e raspado sobre ‘im palimpsesto de um pergaminho, srito ou easurado sobre uma fothe de papel que, com a imprens,vab se redabrar sobre si mesma € jumtarae em cadernos no dspositivo do dex. Um suport que nio fem apenas uma matéria (ot wma nio matérs, como os crsas de tim tela), mas um “formato”, Somos a tal pont indigenas «nossa ancits(ocidentas) de exreer, achamos tio natural o formato da pigina que jt no petcebemos mais Ii do horizontal e do vertical ‘que a regulamenta (false de “papel pautado"). Basta, entretanto, possar de uma cultura part otra para ver (como em japonés) Joverterse a vertical ¢ 4 horizontal, ou entio a ortogonaldade se ‘consumir nas piginas concéntrcas do Talmud. A ondem da escrita { apenas um aspecto da ortogonalidade de nosso mundo ~ uma fordem que se constr historicamente, como mostra 2 historia ide perspectiva: 2 caita patalelepipédica no interior da qual nés a perecbemos, deslocamos, aghmos, construimos nossis cases, etc {exstem, claro, of monumentos em forma de efea de Ledoux, do sécolo XVII, of 0s elifcios torcidos de Gaui, mas sabose que a transgressio confizma a ordem). Philippe Dubois! mostiou como a tomada fotogritica (2a empunhadura do eimara frente 20 corpo 20 cenquadramento pela objetiva) obedecia a uma regra ortogonal, para ja construgio, 20 mesmo tempo, ela contrib ‘A plgina em que escrevo pertence, por sua ver, a um dispostiva ‘que a eavolve,aguele do livo, por exemplo. Chamase de “volume” 6 texto munido de um paratexto (preimbulo, prefico, indice, capa precedendo o texto, posticio, indice, anexos). O paratexto faz as ‘ez da interface com o meio (de outos livros do mesmo autor, da ‘mesma colegio, da mesmo editor, de outtoseditores, et). Funciona ‘como una peneira (exo anilogo, no einem, seria 0 corredor que fazo espectador pasar da luz do mundo 3 sla obscura). Ele prepara Fiore drum manent sna i” pi em Hab wa als ‘novela pout osc a coe ee Femme inne ian Genie ta dei nen marr dem seo inj eda Fa 3 hype Df pepe Bl, abr ° Maurice Mouilaud¢ Sergio Daye Porto 4 letura abrindo o que aus chamou de um “horizonte de experas” « fechando outros (nio se entra em um livo da colesio branes de Gallimard como em uma série neges do mesmo editor). Bats que ‘ parstexto mude (uma nova edo, ou 4 pasagem paca 0 formato e bolso) para qué segundo Lio Hoeck,* o sentido mudé. Borges cscreveu 2 histria de Pierre Ménard que recopia, 20 pé da let, 0 Quixote € que, no final das conas, esceveu outro vo! + Os disposiivs sio enesixados uns nos outros, O jrnal pertence 4 rede de informasGes que comesou a tecerseem tomo de nosso {labo no século pasado equ oenvolve em um fuxo imateial que esti em perpétua modlificago (Le rider nls, segundo Palmer e BoydBazret), Uma rede que nio impo ao mundo apenas uma interpretisio hegeménica dos acontecimentos, mas a prépria forma do acontecimento, Sustentarses que & ascensio do acontecimento data do despacho de agincia; sombra do mesmo traida sobre o rel: unidadesinstantneas, Dreves, descontinuas, méveis, cuja redagio obedece a um padrio (normalizado e contolado peas agéncas} 0 padtio do “fata” ao qual elas submetem, sia qual fora diversidade da natureza ¢ da origem, tudo “o que ocorre” no mundo (existe ai ‘uma forma de hegemonia mais ivisivel e mas radical do que aquela da interpreta dos fates, o que se poderiachamar de “colocagio em fos") A invengio dainformagio tansformou os textos, pelo menos 0 texto do jomalfancts no final do steulo XIX, A ccrta tris e politics, que nele era dominant, exgia textos longos que ‘impunham 20s jornaispyina cnesse mondtonas. A eriturs os fats fragmentou 0 discrso da imprensa em sequéncias curtas e hetrogness cus unidade no provém mais da ordem intena do discuso, mas da ordem externa da diagramaco. [Nos grandes jomais populates, como o Bil alemo, a pigina uma mpsbdia multicolorida de jatr dis, apertados uns contra outros, ente os qusis perambula o olho do letor (0 ine stninige ded paren Da 0 (0 Jomal- da forma 30 sentido «ispostivo no comanda apenas a ordem dos enunciados, mas 2 postura do lito). ‘Se agorsconsieramos a relago do dispositive e do texto de umn ponto de vista genético, vemos que existe uma antecedéncia invertida ‘leu para o outro, em que cada qual desempenha, deforma armada, fo papel de gersdor. Descreveros os dispositivos como sendo matrizes {rmito mais do que suports) em que se vinham inscever 05 textos Neste sentido, 0 dspositivo (iv, jomal, ancio, disco, filme, et.) crise antes do texto, ele 0 precede, comanda sua duragio (a durario de uina cangio ou de um filme & um 2 pi’ de sua producio) © a fetensio (um romance se insceve entre um nimero minim _ximo de piginss que, evidentement, variaram ao longo dahistéria ‘Aantecipasio do dispostivo ao significa, contudo, a pasvidade do texto, Se 0 jomal grou os titulo, come a cidade gerou as vitrnes eas tabuletas, os titulo “fizem" 0 jomnal eas tabuleus 2 cidade, da qual las soa rests, Par além da distncia do tempo e das cviaaées, os ‘vaso para se beber de Atenas, decorados pelos pintores, qu, [4 ae banquet, passim de mio em mio, ruzamse ¢ trocar fanconam como instruments do bom convo ¢ de seciabildade imax tambim deempenham o papel de vedaderos operadores inlets 4 partir devas privcar de zesfrmagio da idenidade masculine civics, que 00 fundamen do ange sega? ‘Quando os mesmos vaso so exposts em museus, transforma. seem objetosarqueologicos (bjetos de saber) ¢ estéticos (obetos de sedugio}: 0 museu mata 0 objeto ritual einventa 0 objeto de are Em outro sentido, © texto precede 0 dispositive: os cond do século XVI nasceram dos diz que me diz, que eram oralmente ‘eiculados, como a gazeta de Renaudot (pelo menos em parte) da propaganda do Rei, Foi a necessidade de repartir 0 espaio aps batha que organizou os guerreios gregos em um crculo jgualtirio (forma atcaica da democraia), eo debate piblico inventou a igora 5 ee Pt Dr Du mura Pt Fain, 9, st Maurice Moullaud e Sergio Dayrel Porto ‘que, por sua ve, deusthe sua forma e suas regres (poderseia pensar no hemiciclo do Parlamento Francis e nos bancos face a face da (Camara dos Comuns, intrrogarse a respeito das diferengas que ‘razem 4 duragio dos debates parlamentares) Se 0 texto € 0 dispostiva slo, por sua vez, geradot um do outro, sua relagio & uma relago dinimica, A preso dos textos “fora de norma” pode deformaro dispositivo ou, até mesmo, Fazblo implodir. Na Franga de 1788, os acontecimentos inaudios surgem 2 todo momento em pontos inesperados: a politica si dos lugares instiucionais e invade a rua; 0 acontecimenta revolucionirio nio enconta seu lugar nos *formatos” das gazetas do. Anon Rigne subverte suas estrutuas. Em maio de 1968, € de maneira efémera, isto foi vistor a irrupgio da politica na cagada, nos anfiteatros de universdadesenos departamentos de fibricas;aeleveseéncia da fla; 2 estranheza dos problemas ante a politica tradicional inventaram se grafites selvagens nos muros, etampas afizadas por todos os lugares © publicagdes mulcolordas, com diagramagio radical © tinulos excénticos. Em menor escala, os grandes acontecimentos, 4 morte dos "Grandes", por exemplo (Stalin, de Gaulle, Mao ¢ ‘outros), podem deformato jomal (conforme sta maior ow menor rigidez de estrtura). Quando da morte de J. P. Sartre (que Ihe hhavia dado sua cauco no momento de seu nascimento), Libation s€ metamorfoscou em Jornal de Sar, e disfrgowse em album de historia em quadrinhos quando morreu Hergl, © pai de Asterix, Porém, novamente, & necessrio inverter 4 relagio. A invencio de “novas tecnologss” de comunicagio (no atual momento, uma rede planetria como a internet) & susetval de abalie a permutas (frequincia,identidade dos parcirs, natureza das mensagens, et) Talvez sia proprio stats de eserta que este sendo posto em ‘questio, mas sso & outa hist, x 1. Os dispositivossdo os lugares materiss ou imateriais nos quais se insrevem (necesariament) os textos (despachos de agincias, {oral lio, edi, tlevisi, et) 82 (0 Jornal - da forma a0 sentido ‘Chamamos de “texto" qualquer forma (de linguagem, icbnica, sono, gestial, et) de inscrigho. (© dispostivo tem uma forma Que & sua especifcidade, em paticlar, um modo de estruturagio do espaco e do tempo. (0 disporitivo nfo é um "suport", mas uma “mateiz” qu impoe ‘sas formas 308 textos (uma conversagio “informal” se insreve nas formas ds conversigio, como variante de um paradigm). (Os dspositivs se encaitam uns nos outros. O jornal se insreve no dispositive geral da informasio € contém, ele pr6prio, lspostivos que Ihe sio subordinados (sistema dos ttulos, por cexemplo} (Os propriosdispostivos pertencem a lugares insttucionais: um Aanfiteato de universidade no & apenas uma cena espacial, mas lum subconjunto da insttugio universiiria. Os dispositivos e as institugdes tém uma rlativa avtonomia entee si (am Iugae institucional pode ero mesma com dispositivos diferentes, e um Aispesitivo pode Funcionar em diferentes gates). Entetanto, © Aispositivo eo lugar sio indisciévcs do sentido no qual 6 se atualizam um pel outro. Considerados do ponto de vista genético, dispositive ¢o texto se precedem ese determinam de manera altemada(odispostivo pode parecer como.uma sedimentagio do texto, €0 texto, como ‘uma vatiante do dispostvo, por exemplo, um niimero do jomal Aiioe sa colegio), 38

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