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H. J. Koellreutter Contraponto SHodal Do Séiculo XVI (¥Palestrina) oe a fr oARN Gs Cn yj ENG) “St pemee oo: capeun, Preeisao ¢ articulagao das idéias, controle rigoroso dos detalhes e equilibrio de um constante {jogo de suaves e delicadas tensoes ¢ afrouxamentos so as qualidades que. caracterizam o estilo polifonico de Palestrina ¢ seus contemporaneos: ‘Tomés Luis de Victoria e Orlando Lasso. 0 conhecimento de Contraponto uma sélida cultura musieal sem 0 qual nio seria possivel a andlise © a interpretagio das obras musicais renascentistas, ou até mesmo contemporaine: Este livro € um manual bastante objetivo, com informagdes condensadas, que apresenta os fundamentos do Contraponto de forma eficiente e racional, deixando de lado outras abordagens, consideradas supérfluase prolixas. ISBN 85-85886-03-X 9788585886030 iH. J. Koellreutter Contraponto Modal Bo Século XVI (3Palestrina) Série Musicologia - 18 Editor: Bohumil Med GUI. Koellreutter Capa: Dora Galesso, Composigio do texto ¢ de partituras: prof. Haroldo Mauro Sinior. realizadas no computador Macintosh Performa© Revisao: prof Vera Helena M. Cury Impresso pela: Brasilia Artes Gréficas ISB + 85-85886-03-X Dados Internacionais ee Catalogacao aa Publicagto (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) H.J. Koellreutter, Hans Joachim, 1915- Contraponto modal do século XVI Palestrina / H.J, Koelirsutter. — Brasilia, DE: Musimed Editors, 1996. 1. Conttaponto 2, Patestrins, Giovanni Pierluigi da, 1525-1594 1. Titulo 96.4735 cDD-781.285 Indices para eatéloge sistemitico: 1, Contraponto modal : Musica 781.286 Direitos para esta Edigdo contratadas com: Musimed Edigdes Musicals, Importacao.e Exportagao Ltda CGC: 37.146.172/0001-88 __Inserigdo Estadual: 073 13754/001-46 Sede; Musi Med EdigGes Musicais -SCRS 505 Bloce A - Loja 65 Cep: 70350-510- Brasflia-DF Telefone: (061) 3244-9799 - www.liveariamusimed.com.br e-mail: contato@livrariamusimed.com.br Impresso no Brasit HANS JOACHIM KOELLREUTTER Nescido na Alemanha 0 naturalizado brasileiro, estucou com ‘grandes mecties europous, como Marcel Moyse ¢ Herman Scherchan, Pomagands a carroira como concertista de flauta @ regents. No Brasil, ltiva como prolecser © compositor dasa 1938, introduzindo conceltos fodernce © exercando grande influéncla nas novas geragdes de Gompositores o intérprotes. Para difundir seus conceitos, oriou om 1999 © Grupo Musica Viva, cujas idéias © produgéo eam veiouladae pola fovista do masmo nome. Fundou diversas eecolas, oxerceu critica musical f piblicou diverses livros, tanto ne Brasil quanto no Japao @ na India, fpaisoo noe quis atuou e é tambSm multo astimado e reconhecido. Sua fipera *Cefé", com toxto do Matio da Andrade estreou em 1996. Indimeros Wwsledlogos so dodicam a0 estudo de sua obra musical, em todo o jl. Igualmente considerado em seu proprio pals, representou-o, Miavés do Institute Goethe, em diversas ocasises. Recobou medalhas, Wolds, cidadenias honordries, ‘tulos henorétios om univorsidades @ Jalinoros prdmios, sondo o mais recente © Prémio Nacional de Misica 4995, ano om complotou os oitenta anos. Abrir um caminho necea dirogio é 0 objetivo deste trabalho. A historia da mosica ocidental parte da composiga¢ melédico-linear, criando @ polifenia do contraponto, isto 6, a arte de unir varias linhac molédicae om um tode 26, processo do qual surgiu = harmonia, ou sola, um sistema de ordem que tem por objetivo a formagao e o encadeamento de acordes © caracteriza a produgdo musical desde o ‘eéculo XVII A primeira metade do século XX, aproximadamente. Nao hé, por Isso, nada mais Kégico do que seguir a evolugio naturel do decenvolvimento da linguagem musical, estudando em primeiro lugar, a composigéo da linha melédica ¢ os principios de estruturagao contrapontistica €, somente depois, ou, entéo, simultaneamenie, 2 concatenagée harménics, © no vieo-verse, come ain i das noseas escolas de misica, Os principios de composigho contrapontistica do século XVI, aoe quais 6 dodicado aste trabalho, so emplricos, derivados de feitos histéricos @, principalmente, da arte de cantar. Assim distinguo, neste trabalho, regras (dire! didéticas © ost Entendo por regras ostilisticas aquslas que oca ov 0 estilo jade do um compositor, regras as quais, a0 astudar o estilo da Palestrina @ de seus contempordnecs, devem ser respeitadas com © maximo rigor. Por ragras didticas entando aquelas que facilitam a apreensdo das regras esilisticas. & por regras esieticas aquelas que visam a conscientizage de princlpice artfetico-mucicale eubjotivec. Gostaria de exprassar minha profunda gratidéo a mous ex-alunos @ amigot Claudia Riccitelli » Antonio Carlos Cunha, que me deram sua ajuda na primeira edigéo © Vera H. Cury na segunda edicao, pelos vallosos conselhos © competontes discusses em torno da didatica metodclogia do contraponto, assim como pela leitura criteriosa das provas. Sou especialmente grato & doutora Liliane Assal (falecida), a Sigrido Levontel, reeponedvel pela primcira odigko © Bohumil Med, que tormou possivel esta segunda edicio, pela paciéncia e pelo apoio por me ajudarem a publicar 0 meu trabalho que dedico a meus alunos ¢ discipulce. INTRODUCAO, Contraponto 6 a arte de coordenar linhas melédicas de expresso ‘auténoma, tornado-as interdependentes (do latim “punctus contra punctum’ ~ nota contra nota). A composigao contraponiistica tem sua origem na primeira forma do Organum, que se desenvolves no periode compreendido entre os ‘éculos IX a XII aproximadamente, @ no Organum chamado melismético, ‘9m particular. Neste Gitimo, uma “vox principalis" composta de notas do duragao longa (cantus firmus) 6 contraponteada por uma "vox ‘organalis", que enica melism: ‘Organum Melismético ‘A Missa do Notra Dame de Guillaume de Machaut (1902-1377 madamonte) 6 considerada a primeira grende composigao cicica ‘omposta contiapentisticamento, Trata-co do uma mica complota 'YoEW®, obla‘prima do estilo gotico, parcialmente composia na dase ‘abile de ritmos (leorritmia) que lombra a técnica dodeceténica berg. @, Mechaut: Missa de Notre Dame ITE, MISSA EST TePLUM, ‘Tenor Josquin des Prés (1440-1521) 6 um dos primeiros compositores que, preparando 0 perfodo humanista @ racionalista ca musica, dosenvolve valores de carter acentuadamente subjetivos em sua obra polifénica (musica reservate). Articulagéo clara ¢ faciimente apreensivel, légica © coeréncia formal, porledos contrastantes, principio de repetigéo do trochos pequonce, soquéncice, oxtinats © 0 estabelecimento definitive do ostilo imitative sBo caractoricticas da obra de Jocquin doe Prée Josquin des Prés : Missa da Pacem &. 7 AGNUS DEI 7 Ot compositoros doece perlede duree da polifonia vocal sé, além do Josquin dos Pré Guillaume Dutay (1400-1474) Gilles Binchois (1400-1460) Johannes Ockeghem (1420-1495) Jacob Obrecht (1450-1517) Hointich teaak (1459-1517) Adrian Willaort (1480-1562) Orlando do Lasso (1532-1594) Tomés Luis de Vietorla (1540-1611) Thomas Morley (1997-1503) Giovanni Pierluigi da Palostrina (1626-1594), _ © principio que orienta o contraponto de eéeulo XVIII, cujo nlanio maximo é J. S. Bach, 6 0 és harmonia tonal (eontraponto Jonal). A Interdependéncia das linhas melédicas & estabolacida na tine logica das progress6es harmonicas, dentro do ambite do principio Ws lonalidade. Como caracterfsticas desse estilo destacam-se: um Walwmnonto maic livre da dissonancia, a preparegée sistemética da sétima, Aalus de paseagom © bordadura crométice, notas estranhas & funcéo ie aporde (notae abjoctae) as rosolugéos ornamentais da diesendncia, J. 8. BACH: FUGA T Rwy as ©s prineigioe do contraponto do século XIX efio, basicamante, os do Albrechisberger, professor de Beothoven, que parte dos principios da harmonia diaténica. Talvez se possa dizer que tal contraponio fepresente mais um sistema de harmonia movimenteda do que um de contraponto, propriamente dito. O som cheio © rico de dissonincias dasse tipo de contraponto resulta, goraimente, do uso trequente de acordes de sétima sem preparagéo, de apojaturas © outras notes fanhas 20 acorde, de pedais e, na segunda metade do eéculo, do uso, eada vez mais amidde, de acordes de nona © décima terceira 0 aumentados © diminutos sem preparagao (harmonia G. VERDI: AVE MARIA iy = ie ee el = 3 eae fee [m eee 0 oe e See Map |e =|> ‘ el. =m Sa 2 © contraponto dedecaténico da primeira motade do século XX 6, monte, linear, lembrando, nasse sentido, 0 contraponto mista, © contraponto dedecatonico segue, om primeiro lugar, a ‘intervalar da série, néo deixando, no entento, de considerar a le doe intorvalce harménicee, rocultante da eobrepotigie dae molédicas. Readauirem importancia os meios tradicionais de yaglo contrapontistice, tals como c&none, inverséo, retrogradacao, sntagtio © diminuigio. Deixa de existir, na prética, 0 dualismo nal consonancia-dissonancia, que cede lugar a um crtério mais 50 da qualidade dos intervalos (emancipacéo da dissonancia). ‘A. SCHOENBERG: VARIACOES PARA ORQUESTRA, OP. 31 saint = osenvolvimento do contraponto aional ¢ dodecalénico parece © surgimento de uma esiruturacae gestiitica, que prescinge lentes como melodia ¢ harmonia, preparando o chamado musical (Webern), A. WEBERN: QUARTETO DE CORDAS, OP. 28 MI 1- NOTAS PRELIMINARES 1.1 + Modos iltargicos ou eclesiasticos + Os moses liturgicos ou eciesiasticos sio formas de gamas utilizadas na misica medieval e renascentisia, + 8 modos cividem-se em auténticos e plagais. Os modos plagais, no entanto, ndo so distintos dos auténticos. A diferenga entre uma linha melécica auténtica @ uma outra plagal consiste unicamento no foto da plagal encontiar-se numa tessitura mais grave do que a auténtica. Exemplo Nneménico - sée. XVI ~ A nota mais importante de cada modo racobe o nome de Finali (F), sendo esta nota com a qual o contraponto, em via de regra, deve terminar. A segunda nota mais importants do mode recebo o nome de Confinalis (C). Esta 6, normalmente, a quinta do modo. ~ © pretixo “hipo” (grego) signitica ‘abaixo". Relere-se a linha malédica, indicande que esta eo octende abaixo da Finalis do modo. = Nos modos auténtises © plagais, a finals ¢ a mesma. A confinalis dos modos plagais encontra-se geralmonte na terga abaixo da confinalis dos auténticos (excegio: modos frigio @ mixolidio) Mobos AUTENTICOS NODOS PLAGAIS Bipottie se ¢ Boceio a = Fe Hipeine sere 1.2. Alteragtes - Mdsica Fleta yA por misice ficta (ficticia) aquela fase da misica modal introduzidas alteragdes nos modos (s6c. XIll @ XIV). j98 tinham por objetivo ovitar 0 trteno (diabulus in musica), finalis © impedir a trea menor no encontro final das vozes indsica ficta representa historicamente a ‘tom fungio | -==— =r ‘#91 allorado para dé sustenido quando 6 bordadura de 16 insivel, isto 6, teva ao r6. Modo {rigio - a principio no ha alterag6es. Muito reramente 0 16 surge alteredo para ré sustenido. Modo Iidio - © si pode ser alterado pare linha makidica 6 descendonte, Modo mixelidio - © f8 pode sor alterado para {4 sustonide quando tom fungéio de sensfvel, isto 6, leva ao sol. == Modo eéiio - 0 sol pode ser alterado para sol sustonide quando tem funglio de sensivel. Se essa alteragéo ocorre numa linha melédica ascendente, € necessario alterar também o 14 para {4 sustenido, evitando ‘assim 0 inteivalo de segunda aumenieda enire 14 @ sol sustenido, SSS Em todos 0s modos, também no jOnio, 0 si pode ser alterado para si bemol sempre que haja nacessidade de evitar o tritono, bemol, principaimente 1.3 - Transposigoes: = Qualquer modo dério transposto tem na atmadura os acidentes da escala maior que se encontra uma segunda maior abalxo da finalis 60 modo, Disio oa P4 + Qualquer mado {rigio transposio tem na armadura os acidentes Ja escala maior que se encontia uma terga maior abalxo da finals do modo. + Quelquer modo Ifdio transposto tem na armadura os acidentes da escala maior que se encontra uma quarta justa abaixo da finalls Jo modo. = Quelquer modo mixolidio transposto tom na armadura os acidentos da escela maior que se enconira uma quinta justa abaixo da finalis do. modo. wer modo e6io transposto tem na armadura os acidentes da ‘menor homonima. Iquer modo |Onio transposto tem na armadure os acidentes da la maior homdnima. 1.4 Consondnelas e Dissonancias nsideradas consondncias perfeitas os intervals do unissone, ‘0 quinta justas onsideradas consondncias imperteitas os intervalos de terga © ‘malores ¢ menores. \sideradas dissondncias os intervals de segunda e sétime, de quarta justa, no contreponte a duas vozes Gissonancia, No contraponto @ trés ou mais vores a a @ considerada consonancia quando a nota inferior da ‘saltos consecutives ou um calito © um grau conjunto ‘na mesma diregéo, 6 aconselhével, & medida do possivel, locolizar © maior intorvalo abaixe do monor. 2-CANTUS FIRMUS: © cantus firmus consiste numa linha melédica que serve de base para a composigée contrapontistica. Para tomar conhecimento dos principios melédicos do estilo de Palestrina, é importante que se adquira habilidade para compor o préprio ‘cantus firmus, dasenvolvendo dessa forma a capacidade eriativa do estudioso. ‘corratos: movimento cromético, rapetigho seguida do equincias tonsis (marchas), repetizio do motives. 24 - Empregam-se oxclusivamente semibreves, em nUmero de dez, aproximadamente (linha isométrica). 2.2 - Emprogam-so exclusivamente os modos litirgicos. 28 - O cantus firmus deve sor iniciado © torminado na finalle do modo. 24 - A ditima nota deve ser aleangada por grau conjunte, aecondente ‘ou descandente. 2.5 - © Ambito melédico nao dave axcadar uma nitava jo © centraponto § composto, tm as 2.8 - A linhe melédica deve consistir de pequenos Intervalos, factimente ‘cantévei Para tanto, dave ser usado © maior nimero possivel do graue cconijuntos. 2.7 - N&o devem ser usados os seguinies intervalos: + sétima maior © menor + sexta maior + sexta menor descendente (somente a sexta menor ascendente 6 vusade) ~ todos os intervalos aumentados @ diminutos 2.8 - N&o sto peimilides mais de dois saltos consecutivos na mesma diregéo. “one icone 3-CONTRAPONTO A DUAS VOZES DIRETRIZES 3.1-PRIMEIRA ESPECIE (© contraponto de primeira espécie (nota contra nota) consists ‘numa linha melédica de semibroves que ee contrapée ac cantue firmue, podendo eciar acima ou abaixo do mesmo. © dasenho melédico, em principio, obedece as mesmas diretrizes de composicao do cantus firmus. (© primeiro e © Gltimo intervalos devem ser de unissono ov de citava, © Ultimo interval deve ser alcangado por grav conjunto ‘ascendente © descendente (movimento contrério). Se © caxtus firmus estiver na voz inferior, © primeira @ 0 ltimo intervalos poderéo ser de quinta jucta. ‘Ae duas vozes devem formar, exclusivamente consondncias porfoitas ou imperfeitas. Deve ser empregado o maior ndmero de consonancias Imparfeitas. Porém, nao se deve empregar mais do que quatro ‘vezes consecutivas a mesma consonancia imperfoita. ana ane a43- ana Consonaacias perfeitas 80 devem ser alcangadas por movimento diteto. Oilavas consecutivas @ quintas consecutivas (patalelas ou nao) a0 consideradas Incorrstas. 348 - © unissono 6 deve ser usado no inicio efou no fim do

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