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rine) Marcadores Bioquimicos do Infarto Agudo do Miocardio Maria Alice Terra Garcia Salim Kanaan Fahad Javed Clayton Barbiéri de Carvalho Bruno Brandéo Moreira Denise Leite dos Santos Leonardo Moscovici Alexandre Migue! Benjo © infarto agudo do miocirdio (IAM) € ‘ama sindrome clinica resultante do fluxo ar- gio Ameri ino de Cardiologia, a Associagio ‘Americana do Coragio ¢ a Sociedade Euro- terial coronariano deficiente para uma érea do tmiocérdio, ocasionando morte celular © necro- se. £ mais comumente caracterizado por dor ‘precordial intensa e prolongada, por alteracoes Getrocardiogrificas agudas e aumento da con- fentragao plasmética de enzimas ¢ proteinas Gi célula miocérdica, denominadas marcado~ tes bioquimicos do TAM. Segundo o cléssico critério da Organizagao jaiide (OMS) para 0 diagndstico nnecessérios dois dos trés elemen tos seguintes: histéria de dor no peito do tipo isquémica; . modificagdes evolutivas nos tragados ele- trocardiogrificos obtidos em série; 5. elevacio plasmética dos ma diacos. Mais recentemente, a Federagao Mundial de Cardiologia, em associagio com 0 Colé- wdores car- peia de Cardiologia, redefiniu os critérios pare © diagndstico de infarto agudo do miocérdio da seguinte forma: evidéncia de nocrose smiocérdica em associagdo 20 quadro clinico Consistente com isquemia miocérdica,¢ foram propostos os seguintes quadros como compa tiveis com infarto do miocérdio: | detecgdo de elevagio ¢ queda de marca dores cardiacos, preferencialmente tropo nina, com um dos seguintes: sintomas de isquemia, sinais eletrocardiogréficos de is- ‘quemia ou nova necrose, ou evidéncia em imagem de perda de miocérdio vidvel ou alteragio contrétil segmentar; morte sibita, em geral com sintomas su- gestivos de isquemia miocérdica; clevagio de marcadores cardiacos apés an- ‘gioplastia coronariana; clevagio de marcadores cardfacos em mais de cinco vezes 0 limite da normalidade em associagio a evidéncia eletrocardiogrética ou angiogréfica apés cirurgia de revascula- rizagdo mioeérdic evidenciagio patolégica de infarto agudo do miocardio, Como visto, os marcadores cardiacos séio centrais no diagnéstico do infarto do mioc io; clinicamente, entretanto, devido & gran. de mudanga de paradigma no tratamento do infarto do miocérdio com a introdugéo dos tromboliticos, e mais ainda com a popula zagéio da angioplastia percutanea_priméria, ‘08 marcadores bioquimicos hoje nio sfio mais aguardados para o diagndstico presuntivo do infarto, sendo, porém, fundamental a determi- nagdo da extensio do infarto e do sucesso da reperfusdo, bem como do reinfart. © matcacor bioquimico ideal para o AM deveria ser capaz de fornecer um diagnéstico precoce, contribuir pura o prognéstico, avaliar 0 sucesso da reperfusdo apés tralamento com agente trombolitico, evidenciar reoclus6es, de- tectar infartos nas cirurgias (especificidade) ¢ avaliar 0 tamanho da frea afetada. No entanto, em um mesmo marcador, nunca sao reunidas todas essas caracieristicas. Neste capitulo, pre- tendemos discutir as diferentes qualidades dos marcadores, comparando-as. AISIOPATOLOGIA DO IAM Placas de Ateroma As placas de ateroma sio obstrugées fixas dos vasos sanguineos que levam & isquemia, Esta & caracterizada nao somente por insu cia de oxigénio, mas também do aporte de substéncias nutrientes e remogo inadequada de metabélitos de excregao. A hipoxemia (di- minuigéo do transporte de oxigénio pelo san- gue) isoladamente, como a doenga cianética congénita do coragao, anemia severa ou doen ‘ga pulmonar avangada, é menos nociva que a isquemia, por manter o transporte de nutrien tes e a remogio de excregao. Placas de ateroma correspondem @ mani festagées tardias de um provesso de formagé de aterosclerose coronariana que provavelmen te se iniciou na infancia ou adolescéncia, A is tensidade da isquemia depende do niimero e distribuigio das placas, e também do grau estreitamento dos vasos produzido pelas me mas. A arquitetura normal do vaso coronariat (Figura 4.1A) & constituida, no sentido da h para a parede externa, pelas camadas: endot lio, intima, média e adventicia. A camada mé onde se alojam as cétulas musculares lisas. A hipétese de resposta a lesio tenta expli car (no nivel molecular) a formagao da pla de ateroma como sendo uma resposta inflama- ‘ria crénica da parede arterial despertada algum tipo de agente. Muitos agentes podem| iniciar a resposta inflamat6ria: hiperlipidemia (primordialmente colesterol da. lipoproteina| de baixa densidade [LDL-C}), virus, toxinas bactétias (Chlamydia sp.) hipertensio, fuma fatores hemodindmicos e agressio autoimune, Avclevagio da protefna C-reativa esté associada a sindrome coronariana. Moléculas de adesio| especificas para leucdcites (prineipalmente ‘monécitos) sao expressas na superficie do en- dotélio como resposta ao agente (Figura 4.1), Concomitantemente, ocorre aumento da per-| meabilidade do mesmo ¢ entrada de LDL-C paraa intima, que se transformaem LDL. dado pela presenga de radi nados por quimiocinas, os monécitos aderem| a parede do endotélio e penetram por diape- dese para dentro da intima, tornando-se assim| macréfagos. Os macréfagos possuem em sua superficie celular receptores scavengers (var- redores), que preferencialmente se ligam ao| LDL-C oxidado, Este se acumula nos macr6- fagos, o que Ihes confere a denominaco de| foam cells (células espumosas) (Figura 4.1B). Fatores do crescimento, como o fator de| crescimento derivado de plaquetas (PDGF), siio produzidos por macrofagos e células endo- telias, e fazem com que as células musculares| lisas se protiferem e migrem da camada média para a camada intima (Figura 4.1C). Elas sinte tizam coligeno, elastina e glicoproteinas para a capa fibrosa superficial em formagéo. Ao fina. pondem a man esso de formacio que provavelmen- dolescéncia. A in- le do ntimero e da abém do grau de wzido pelas mes- vaso coronariano no sentido da luz ramadas: endoté- “Acamada média esculareslisas esdo tenta expl rmagio da placa espostainflama- al despertada por $ agentes podem a: hiperlipidemia da lipoprotefna ), virus, toxinas, pertensao, fumo, sso autoimune. vaesté associada fculas de adesio (principalmente superficie do en- te (Figura 4.1), wumento da per- rada de LDL-C semLDL-Coxi- livres. Direcio- andcitos aderem tram por diape- mando-se assim jossuem em sua Scavengers (var- ite se ligam a0 ula nos macré: jenominagao de (Figura 4.1B) amo 0 fator de petas (PDGF), 5 céhulas endo: las musculares t camada média -1C). Elas sin proteinas para a nacio. Ao final, a capa fibrose 6 constitufda por eétulas muscu- lares lisas, macrSfagos ¢ um denso tecido con- juntivo, No entanto, o interferon-gama, citocina tetizada por linfécitos T ativados, pode inibir tanto a proliferagao de células musculares lisas quanto a sua produglo de colégeno, tornando a capa fibrosa mais frégil. Nessa fase, macréfagos ativados podem sintetizar varias enzimas que degradam a matriz celular, como, por exemplo, metaloproteinases ¢ clastases. Assim & que o ateroma maduro ¢ constituido por uma ténue capa fibrosa e um nticleo de debris de células mortas, lipdios e outros (Figura 4.1D). Reperfuséo Vimos que os provessos de iniciagio evolugdo da placa de ateroma geralmente le- vam muitos anos, durante os quais a pessoa atingida nao apresenta sintomas. Finalment as estenoses podem evohiir para um grau que impega 0 fluxo sanguineo pela artéria. Lesdes que produzem estenoses maiores que 60% po- dem levar & redugdo de fluxo sob condigoes de demanda aumentada, Tais lesdes obstrutivas da érvore coronariana podem causar sintomas como angina pectoris. A angina pectoris croni- Endetélio intima Moléculas de adesdo Célula muscular liso | Macréfago que fagocitou LOL oxidado Figura 4.1 A-D ~ Etapas na formagao da placa de ateroma segundo a hipstese de resposta ao dano. (Adaptado do: Schoen FJ, Cotran RS. Blood Vessels. Cotran, RS. Kumar V, Collins T, eds. In: Robbins Pathologic Basis of disesase, Philadelphia: W.B, Saunders Company, 1999. p. 507.) Yb deman comum ca ou a claudicagdo intermitente, da aumentada, so uma apresenta desse tipo de doenga aterosclerstica, Todavia, em muitos casos de infarto do miocérdio, nenhuma histéria de angina pre- cede © evento agudo. Muitas observaydes clinicas sugerem que a maioria dos infartos do miocérdio resulta nfo de grandes impedi- mentos, mas de lesdes que levam a estenoses que nao limitam o fluxo. Em vez de uma gran de estenase, hoje em dia se reconhece que a trombose, complicando uma placa néo neces- sariamente oclusiva, causa com mais frequén- cia 0 IAM. Acredita-se que a trombose seja 0 principal mecanismo responsével pela oclu arterial aguda, a qual se deve a ruptura da pla- cade ateroma. A ruptura da placa de ateroma, que permite 0 contato entre o sangue ¢ 0 fator tissular localizado no core lipidico, leva & for: magio de um trombo octusivo ‘Acclusao completa de uma artéria corona- riana por um trombo leva a modificagoes es- truturais e bioquimicas profundas das células por ela irrigadas, Todavia, essas modificagées nem sempre sio irreversiveis € a morte celu- lar nem sempre é imediata. A progressao da necrose € protraida. J4 ocorre alguma lesdo cardfaca irreversfvel quando a oclusio com- pleta € de 15 a 20 minutos. A lesdo irreversivel atinge seu ponto méximo quando a oclusiio € mantida por 4a 6 horas, mas @ maior parte do dano ocorre entre as primeiras 2 ¢ 3 horas. O trombo coronariano sofre lise esponténea em 10 dias em cerca de 10% dos casos. Fste € 0 motivo do emprego atual de agentes trombol ticos para o tratamento do IAM. A dissolucéo do trombo leva & reperfusdo do fluxo sangut- neo pela artéria anteriormente obstrufda, im- dda necrose. © tempo de 0 da oclusdo &, portanto, fundamental para definir o grau de necrose. ‘MARCADORES BIOQUIMIGOS CLASSICOS DO 1AM CENZIMAS} entendimento da dosagem de enzimas no soro e do conceito de isoenzimas descrito no Capftulo 2 (Enzimas), em Coneeitos Bé- sicos, é necessério para a compreensao desse item. Hé algum tempo no havia tratamento especifico para o IAM (agentes tromboliticos) Assim, apenas os sintomas eram. tratados dor, insuficiéneia cardiaca ou outras eventuais complicagdes (arritmias, pericardite, trombo- embolia pulmonar etc.) Os mareadores empregados para o diag- néstico e acompanhamento do infarto eram: ereatinoguinase total (CK-total), creatino- quinase isoenzima MB (CK-MB atividade), aspartato-aminotransferase (AST), lactato desidrogenase total (LD-total) e lactato desi drogenase isoenzima 1 (LD-1) (Figura 4.2). A curva de CK-total se sobrepoe & de AST € por isso a dosagem da Giltima € muitas vezes dispensada Essas enzimas ¢ isoenzimas so todas do- lade, No entanto, a CK-MB warcadores modernos, sendo dosada por sua massa (CK-MB massa), por meio do método de imunoensaio enzimético (IEE). CK-MB € detectada na cinculacio apés a dor precordial mais precocemente quando dosada por IEE, metodologia mais sensivel que a por atividade, ‘A dosagem de CK-MB por atividade em: prega imunoinibigdo. Um soro anti-CK-M ini- be as subunidades M tanto de CK-MM quanto de CK-MB. A atividade enzimética da subu- nidade B é medida. Esse método pressupde a auséncia de CK-BB no plasma, como € 0 nor- mal, Macro CK € um complexo geralmente constituido por CK-BB e imunoglobulina G. Pode influir na dosagem de CK-MB, mas é de baixa incidéncia, Creatinoquinase Total e CK-MB Atividade Apés 0 IAM, existe uma fase inicial chama- da de fase lag, durante a qual as concentragdes plasméticas dos marcadores bioquimicos per manecem nos seus valores referenciais. Para CK-total ¢ CK-MB atividade esse tempo é de cerca de 6 horas. A primeira a subir no plasma é a CK-MB, que geralmente atinge seu pico méximo 24 ho- re nee € cs o B do co és do rd Atividade enzimética [Numero de vezes 0 valor referenci 22 = CKMB — CK-total — ASt-otal —wI LD-total Dias ap6s 0 inicio da dor precordial {A 6100 sombreada comesponde 20 valor referencial de todas as enrimas. Figura 4.2 — Perfil enzimatico comumente encontrado apés um IAM néo tratado com agente ‘omboliico. (Moss D, Henderson R. Enzymes. Burtis CA, Ashwood ER, eds. n: Tietz Textbook of Ginical Chemistry, Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1994. p. 822,) ras apés a dor precordial. Sua clevagio média apis 0 infarto € de dez a 25 veres 0 limite su- perior da normalidade, ¢ devido & sua curta meia-vida, retorna ao normal apés o terceiro dia. Assim, CK-MB pode ndo estar elevada 48 Iboras apés o infarto. CK-MB plasmética tam- Ibém pode ser expressa como porcentagem da Ck-total; esses valores geralmente vio de 3 @ 6%, mas apés um infarto podem aumentar de 10 a 30%, dependendo da extensio da lesio miociirdica e dalocalizacio do infarto, CK-total pode subir simultaneamente com CK-MB ou ser um pouco retardada, mas afinge um pico entre 24 © 48 horas apés a dor precordial, re- tormando a0 normal 5 a 4 dias depois. No tratamento sintomético, os elinicos de~ vem avaliar uma série de medidas de CK-MB durante as primeiras 24 horas. A medida de CK-MB originada do masculo esquelético tipi ‘camente produz um perfil de pla‘é, enquanto o IAM produz uma elevagio de CK-MB que atinge um pico cerca de 20 horas apés o [AM Lactato Desidrogenase Total ¢ LD-1 LD-total tem uma fase lag de 8 @ 12 ho- ras, atinge um pico méiximo em 48 a 72 horas apés a dor precordial e permanece elevada por cerca de 7 a 10 dias. ElevagGes de trés a qua- tro vezes o valor superior da normalidade sio comuns, mas aumentos de cerca de dez vezes so encontrados. Como jé vimos, LD nio é ‘uma enzima tecido-especifica, estando au- mentada em varias doengas, inclusive na car- dfaca. LD-1 tem uma trajetéria semelhante, ‘mas possui uma especificidade tecidual maior. A atividade de LD-1 pode aumentar até duas vezes. As hemicias slo ricas em LD-1 ¢, por: tanto, o laboratério deve ter cuidado em nio empregar soro hemolisado na investigagio do JAM. A presenga de uma prétese valvular car- diaca deve sempre ser considerada © valor da razio LD-1/LD-2 relevante, uma vez que LD-2 nao aumenta aps 0 IAM, a0 contro de LD-1, que normalmente € menor que LD-2; LD-1 no plasma pode subir tanto apés um infarto que seu valor excede 0 da LD-2 — isso & chamado de razio inverida (lipped) MARCADORES BIOQUIMICOS MODERNOS ‘DO IAM CENZIMAS E OUTRAS PROTEINAS) © aprimoramento das novas téenicas para © diagnéstico laboratorial precoce do IAM vem assumindo proporgdes cada vez maiores. A.utilizagio dos agentes tromboliticos “especi- ficos”, como a estreptoquinase e o ativador do plasminogénio tecidual recombinante (rTPA), bem como mais recentemente da angioplastia Coronéria primaria, ou seja, a abertura meca nica do vaso oclufdo, tem como principal fun fo tornar vidvel a restauragio de sangue na artéria obstruida (reperfusao), melhorando, ccom isso, 0 fluxo sanguineo local e causando menor dano tecidual, reduzindo assim morbi- dade © mortalidade, Como jé foi visto, o uso de tromboliticos no tratamento do JAM tem melhor resposta terapéutica quando estes sfo aplicados no ini cio da instalacSo do infarto, sendo obser melhor efeito quando administrado em at horas apés o inicio da dor precor que em casos de dor protongada 0 bencficio possa estar presente apds este intervalo. Con- clui-se que a abertura precoce do vaso, qui- mica ou mecanicamente, implica 0 emprego de marcadores plasméticos de curta fase lag = marcadores modernos. Para avaliar a ef cia do (ratamento trombolitico, uma amostra de sangue € colhida imediatamente antes do uuso do trombolitico, ¢ outra, 90 minutos de- pois. Se houver lise do trombo reperfusio, as enzimas e outras proteinas da regido lesada no miocérdio sao lavadas pelo luxo sanguineo restituido, causando uma grande elevagao das concentragées dos marcadores biogutmicos plasmaticos; em outras palavras, o pico enzi 'mético precoce é marcador de reperfusdo. As estratégias atuais para tratamento do infarto do miocérdio fazem com que a deci- siio seja tomada antes de se ter o resultado dos marcadores bioquimicos; mas, como salienta- do, eles servem para identificar se houve ou nio reperfusdo; um pico protraido dos mar- cadores cardiacos significa auséncia de reper. fuso e caso o tratamento inicial tenha sido trombélise ¢ este no tenha sido bem-sucedi do, a angioplastia é indicada, CK-MB Massa Ao contrério da imunoinibicéo descrita no item 2 (Marcadores Bioquimicos Clissicos do IAM), que mede CK-MB por sua atividade enzimética, 0 imunoensaio enzimético (IEE) mede sua massa, tenha cla ou nao atividade ea- talitica. A medida especifica de CK-MB requer a aplicago da técnica “sanduiche”, em que dois anticorpos, cada qual com afinidade para uma das cadeias de CK-MB, so usados em sequéncia. O primeiro anticorpo € imobilizado nna matriz e 0 segundo, conjugado a uma mo- Iécula marcadora, Uma vez que nem CK-MM nem CK-BB so capazes de reagir com ambos 6s anticorpos, esse método é absolutamente specifica para CK-MB. Além disso, a sensi- bilidade do ensaio de massa é superior & dos ensaios de atividade enzimética (Capitulo 3), Portanto aumentando no plasma bem mais recocemente apés o inicio da dor precordial De uma maneira geral, podemos dizer que fem 50% dos pacientes, a CK-MB massa co mega a se elevar em até 5 horas apés o inicio do infarto © em até 6 horas em mais de 90%, A Figura 4.3 ilustra a medida de CK-MB na liago do sucesso da reperfusao apés 0 uso de trombolitico. Vérios estudos demonstraram que apés a terapia trombolitica hé um aumen- to de mais de duas vezes no valor de CK-MB, em 90 minutos de reperfusao, \soformas de CK A compri do conceito de isoforma descrito no Capitulo 3 (Enzimas), em Concei- tos Basicos, é necesséria para o entendimento dese subiter sqxantidade ¢ © CK-MB, xno isoforr samente, ame a conve medina, a p exzimas tiss sofre uma gr ximentos p ms a figa sangido 4a © 0 pico da pee bem ma sera de 901 CKMB2 e C Fegura 4.3 - 6 1992.23(5):300 desse subitem. Apés a lesio muscular, grande ‘quantidade das isoenzimas tissulares CK-MM € CK-MB, também referidas na literatura ‘como isoformas CK-MM3 e CK-MB2, respec- ‘ivamente, € langada na circulagio. Uma vez que a conversio pela carboxipeptidase nao é imediata, a proporcio no plasma entre as iso enzimas tissulares as isoformas plasméticas sofre uma grande altera¢ao. O perfil dos acon- wentos pode ser visto na Figura 4.4. Como ‘mostra a figura, 0 pico méximo de CK-MB2 é atingido 4 a 8 horas apés 0 infarto. No entan- to, 0 pico da razio CK-MB2/CK-MBI é atin gido bem mais precocemente (razio > 1,5), cerca de 90 minutos apés 0 infarto. Embora CK-MB2 e CK-MBI sejam bem mais espe- cificas que CK-MM, seus niveis plasmaticos so normalmente muito baixos, tornando sta detecgao tecnicamente dificil. Assim, embora Com reperfusdio menos especificas, as isoformes de CK-MM apresentam maior sensibilidade, ‘As isoformas de CK-MB no laborat6rio clinico sio medidas por eletroforese de alta voltagem. Estudos recentes fizeram grandes ‘melhoramentos nesta técnica, Esse procedimen: to ird fornecer resultados répidos e senstveis. Troponinas © mecanismo exato da contragio mus- cular, explicado no nivel molecular, ainda € desconhecido. A teoria walk-along para a con- tragdo admite que haja uma interaglo entre as cabegas das moléculas de miosina com o fila- mento de actina ativado. A tropomiosina é uma proteina que se en tremeia pelas hélices de actina; sua finalidade 6a de encobrir os sitios de ligagao para a mio. Sem repertuséo 10 Horas (h} ‘Aumento dos niveis de creatinoquinase MB (CK-MB) opés inforto ‘do miocéralo em pacientes sem e com repertusao induzida por ‘agente trombotico adminisado durante os primeiras 8 horas, {665 0 inicio do infarto agudo do miocérfo, Figura 4.3 ~ Exemplo de reperfusso apés IAM. (Apple FS. Creatine Kinase-MB. Lab Med. 1992;23(6):300.) 48 horas ap65.0 JAM MMS -MM2 MOAT ‘M82 MBI 24 horas apés 0 IAM MMB MM2 MMT MB2 MB) Figura 4.4 ~ Peri das isoformas do CK-MM 6 Ckaua p65 0 1AM. Flgura 4 - Reprosentagao esquemdtica de uma poquone regio de um flamento (duplo) de actina Sina (relaxamento) ou fazer com que eles fic quem expostos (contrago) (Figura 4.5) Atroponina T (Tn) maneira a encobrir ou crPor os sitios fins com a miosina. A tropo- nina T, por sua vez, sofre regulagio por des Outras troponinas: troponina C (Tn) — Cua calcio —e troponina I (Thi) — I de ini No relaxamento, a troponina T (Th'T) esté Sob controle da troponina I (Tal). No mon mento da contragéo, coincidente com a inva, fo do céleio, a troponina T (Th'T) passa a sey actina, de tal maneira que ela néo pode mais encobrir os sitios de ligagao para as cabegas de iniosina — dé-se entéo a contracéo. Tak Tal ¢ & mioglobina so marcadores do infarto de natuteza proteica, nfo enzimatiea Da mesma forma que enzimas possuem iso- fenzimas, como vimos Brodutos de genes diferentes que se distribuer de forma distinta pelos tecidos. Eo caso dan vinase, e tam- as S40 buen so das oponinas T ¢ I, que possuem as isoformas eardiaca (Tn ¢ cTnl) © musculoesquelética (keletal-muscle: smTaT ¢ smTnl). O termo isoforma leva a um mal-entendido pois, no caso das enzimas como a CK, isoformas so produ- ‘tos de um tinico gene e diferem entre si por mo- dificagées sofridas pés-tradugio, As isoformas cardiaca e musculoesquelética das troponinas, po entanto, sao produtos de genes diferentes ‘comparaveis, portanto, &s isoenzimas de CK. Assim, existem trechos diferentes de se quéncias de aminodcidos entre as moléculas de eTnT e as de smTnT, o mesmo sendo verda- deiro para a troponina 1. Os IEE de dosagem dessas isoformas possuem anticorpos mono- lonais direcionados para esses trechos. As isoformas de troponina I possuem diferengas entre si ainda maiores que as de troponina T. Uma vez que o misculo liso nao € regulado ‘pelo complexo das troponinas, as dosagens das isoformas de TnT e Tal sao de grande utiidade clinica, gragas & sua especificidade. A dosagem de TnC nio é empregada na clinica, por sua isoforma cardiaca apresentar composicdo em aminosicidos idéntica & do mésculo esquelético estriado lento (um Gnico gene). Notar que a cardioespecificidade da CK-MB em relagio a0 miisculo esquelético é quantitativa ¢ nao qual tativa, como 6 0 caso das troponinas. Como jé foi dito, em certas patologias do nisculo esquelético, nas quais a forma diferen ciada das isoenzimas de CK é CK-MM, surgem ‘quantidades clevadas de formas mais primitivas no desenvolvimento embrionério, como CK-MB (Capitulo 2). Da mesma maneira, a troponi- na T cardiaca é uma isoforma embriondria de troponina T no misculo esquelético. Ela vem sendo encontrada em miopatias (distrofia mus cular, polimiosite) ¢, portanto, nfo tem uma cardivespecificidade to absoluta quanto se supunha de inicio. A troponina I cardfaca no foi até hoje encontrada no mesculo esqueléti co. Assim, nao ocorrem elevagoes da eTnl em pacientes com doengas do miisculo esquelétic agudas ou cronicas, a ndo ser que haja lesdo do miocérdio. Sendo assim, a dosagem de cTnl seria especialmente stil no diagnéstico do [AM no pés-operatério, uma vez que as cirurgias frequentemente lesam 0 misculo esquelético, havendo liberago de CK-MB. Dito isto, ainda assim uma série de pato: logias © eventos pode resultar num aumento da cTnl sem que haja lesdo coronariana e in- farto do miocérdio, como trauma direto, por cirurgia, ablagéo ao marca-passo, perfusio diminufda por insuficiéncia cardiaca aguda (ou crénica, dissecgéo abrtica ou doenga valvar aértica, cardiomiopatia hipertrfica, arritmias ou bloqueios cardiacos, embolia pulmonar ou hipertensio pulmonar severa com strain ventri- colar direito, endocardite, miocardite pericar- dite, lesdes cerebrais agudas, como hemorragi subaracnéidea e acidente vascular encefélico, algumas doengas infiltrativas, como hemocro- matose,amiloidose, sarcoidose eesclerodermia, grandes queimados e mais comumente em in- suficigneia renal, jé que a cTnl € eliminada em ‘grande parte pelos rins. Note que, na quase to- talidade, estas causas lesam de alguma forma a musculatura cardiaca, porem nio é a lesfo corondria responsavel pela clevagéo da cTnl. Em termos préticos, devemos sempre levar em conta a insuficiéncia renal, posto que pacientes renais so mais suscetiveis & doenga corona riana e a cTnl pode falsamente estar elevada ‘mesmo na auséncia de evento agudo. intervalo de tempo apés 0 infcio do IAM, em que as cTnT e cTnl comegam a se elevar no plasma, € compardvel ao de CK-MB medi- da pelo método de massa (Figura 4.6). Ocorre ‘uma liberagéo acentuada das troponinas nos dois primeiros dias, correspondendo, prova- velmente, as troponinas citosélicas (primeiro pico). Instala-se depois uma cinética de Ii- beragdo mais lenta, que corresponde ao des- prendimento gradativo das troponinas, ainda estruturalmente presas & miofibrila em degra-

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