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União Educacional do Planalto Central – Uniplac

Curso Sui Juris

LEI MARIA DA PENHA (LEI Nº 11.340/2006):


estudo sobre a efetividade do comando
normativo

Projeto de monografia para a


conclusão do curso de Pós-
Graduação lato sensu em Direito
Penal e Processual Penal pelo
Curso Sui Juris.

Aluno: Clície Ribeiro da Silva.


Orientador: Fábio Portella.

Brasília, 27 de junho de 2008.


Dedico o presente trabalho a todas as
mulheres vítimas de violência,
especialmente àquelas que, como Maria
da Penha Maia Fernandes, foram
corajosas e lutaram para mudar sua
realidade e a do país.
Agradeço a meu amado e poderoso Deus,
por me proporcionar diariamente a dádiva
de Sua graça. À minha mãezinha, Nilma,
fonte de ternura e carinho. E a você
Guilherme, amor para toda a vida.
“O bicho pegou, não tem mais a banca
De dar cesta básica, amor
Vacilou, tá na tranca.”

“Se você me dar um tapa


Da dona Maria da Penha
Você não escapa.”

(Trechos da letra da canção Maria da


Penha, de Paulinho Resende e Evandro
Lima, gravada pela cantora Alcione).
RESUMO

O presente trabalho tem por enfoque o estudo da potencial efetividade da Lei nº


11.340/2006, “Lei Maria da Penha”, cujo principal objetivo é a prevenção e o
enfrentamento da violência contra a mulher. A norma em referência foi criada como
resposta à denúncia realizada pela biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes
- cujo nome batiza a lei - à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA,
acerca da omissão do legislador brasileiro frente aos inúmeros e contumazes
abusos sofridos por mulheres brasileiras em seu próprio ambiente familiar e fora
dele. A novel legislação representou relevante instrumento de combate à violência
contra a mulher, por sua tríplice atuação, consistente na prevenção e repressão
desse tipo de violência e, ainda, no tratamento terapêutico das partes envolvidas. O
comando normativo em referência revela seu aspecto inovador e afirmativo, ao
instituir sistemática procedimental e instrumentos diferenciados de prevenção e
repressão à violência doméstica e familiar. Com efeito, a nova lei determinou o
afastamento da Lei nº 9.099/95 e seus institutos despenalizadores, em razão de sua
comprovada ineficácia na solução de conflitos envolvendo violência contra a mulher.
Esse afastamento implicou alterações nas questões relativas à representação, à
cominação de pena, às punições. Da mesma forma, possibilitou a criação de
juizados especiais específicos para cuidar dos casos de violência contra a mulher,
com competência cível e criminal, o que denota seu caráter híbrido. Previu, também,
como forma de garantir a efetiva proteção e segurança da integridade física,
psicológica, moral, sexual e patrimonial da vítima, medidas protetivas de urgência a
serem adotadas em âmbito policial e judicial. Neste contexto, permitiu a prisão em
flagrante delito e decretação de prisão preventiva. Trouxe, ademais, a previsão de
tratamento terapêutico para agressor e vítima, dando ênfase à necessidade de
observância dos direitos humanos de ambas as partes. O órgão ministerial ganhou
ampla e relevante autuação na Lei nº 11.340/06, seja em conjunto com órgãos
públicos e privados ligados à proteção da mulher, seja como fiscal da lei ou, ainda,
como parte em eventual ação civil pública. Há que se destacar, também, que a lei
estabeleceu a realização de diretrizes para que a União, os Estados e os Municípios
implantem políticas preventivas da violência contra a mulher, de modo a torná-la
instrumento efetivo na erradicação de tal delito. As estatísticas realizadas no
primeiro ano de vigência da Lei Maria da Penha demonstram a efetividade positiva
da lei e sua excelente adaptação à realidade, com índices elevados de aceitação e
aplicação de seus dispositivos mais importantes.

Palavras-chave: Maria da Penha, violência doméstica, tríplice atuação, caráter


híbrido, aspectos inovadores, efetividade, dados estatísticos.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABREVIATURAS

Art. por artigo

Cf. por confronte ou confira

SIGLAS

CP - Código Penal

CPP - Código de Processo Penal

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SPM - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

DEAM - Delegacia Especial de Atendimento à Mulher


LISTA DE SÍMBOLOS

> maior

+ mais (sinal de adição)

= igual (sinal de igualdade)

§ parágrafo
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................09

Capítulo 1 - LEI Nº 11.340/06 – LEI MARIA DA PENHA.........................................12

1.1 Contexto de Criação da Lei nº 11.340/06 ................................................................ 12


1.1.1 Histórico da legislação de combate à violência contra a mulher no Brasil.................15
1.1.2 Ineficácia do procedimento utilizado nos Juizados Especiais Criminais no caso de
violência contra a mulher...........................................................................................................17

1.2 Tríplice atuação da Lei nº 11.340/2006..................................................................... 21

1.3 Caráter híbrido da Lei nº 11.340/2006 – Resposta abrangente à solução de


conflitos ligados à violência contra a mulher............................................................... 23

Capítulo 2 - ASPECTOS INOVADORES E AFIRMATIVOS DA LEI Nº 11.340/06 NO


COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ....................................................25

2.1 Inaplicabilidade da Lei nº 9.099/95 ........................................................................... 26

2.2 Mudanças no Atendimento na Esfera Policial ........................................................ 27

2.3 Das Medidas Protetivas de Urgência....................................................................... 28

2.4 Da Representação.......................................................................................................31

2.5 Dos novos procedimentos no âmbito judicial.........................................................32

2.6 Das Prisões Processuais...........................................................................................33


2.6.1 Prisão em Flagrante Delito...............................................................................................33
2.6.2 Prisão Preventiva..............................................................................................................33

2.7 Das Medidas Terapêuticas.........................................................................................34

2.8 Da atuação do Ministério Público.............................................................................36

2.9 Diretrizes para a União, os Estados e os Municípios..............................................37

Capítulo 3 - DADOS ESTATÍSTICOS ACERCA DA EFETIVIDADE DA LEI Nº


11.340/06....................................................................................................................40

CONCLUSÃO.................................................................................................. ..........46

REFERÊNCIAS.........................................................................................................50
9

INTRODUÇÃO

A sanção da Lei nº 11.340/2006, popularmente denominada Lei Maria da


Penha, representou uma relevante conquista das mulheres brasileiras, que
obtiveram em seu favor um instrumento de combate à violência doméstica e familiar,
agora tipificada como crime e caracterizada como violação aos direitos humanos.

A violência contra as mulheres é um drama complexo e freqüente em quase


todos os Estados brasileiros, sendo um dos três principais problemas que as
afligem 1 . Pesquisa Perseu Abramo, de 2001, revela que cerca de 43% das mulheres
já foram vítimas de algum tipo de violência doméstica. A mesma pesquisa revelou
que 6,8 milhões dentre as brasileiras vivas já haviam sido espancada pelo menos
uma vez, o que significaria, no contexto, que a cada 15 segundos, uma mulher seria
espancada no país 2 . A necessidade de criação de um instrumento legal idôneo na
prevenção e coibição da violência contra a mulher de forma ampla era medida há
muito necessária. O amparo às mulheres vítimas de violência veio à lume com a
edição da Lei nº 11.340/2006. Com efeito, a nova lei surgiu para lidar com um
problema que envolve relações afetivas, prevendo a adoção de medidas acessíveis
a todas as mulheres e que englobem as diferentes modalidades nas quais a
violência se expressa.

O foco precípuo da Lei Maria da Penha é a repressão penal como forma de


ilidir a impunidade, mas não é o único. De fato, o comando normativo rejeitou os
institutos despenalizadores e adotou a punição como meio de proteção e segurança
da integridade física, psicológica, sexual, patrimonial e moral da mulher vítima de
violência. Mas também previu medidas de prevenção de caráter social e patrimonial
e, ainda, tratamento terapêutico para agressor e vítima. Longe de banalizar a
segregação do ofensor e afastar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
é certo que a nova lei surge como instrumento hábil à efetiva proteção das mulheres
vitimadas pela violência moral e física, fruto de uma cultura fincada no patriarcado

1
INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO. Percepções e reações da sociedade sobre a violência contra a mulher.
Pesquisa Ibope 2006. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br>. Acesso em: 04 de jun. de 2008.
2
FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. A mulher brasileira nos espaços público e privado. Pesquisa 2001.
Disponível em: <http://www.patriciagalvao.org.br>. Acesso em: 04 de jun. de 2008.
10

masculino. Desta forma, a Lei nº 11.340/2006 combate a violência punindo os


agressores, mas, sobretudo, prevê medidas que evitem o desencadeamento da
violência, objetivando a construção de uma cultura de respeito aos direitos humanos
das mulheres.

Embora tenha sido editada como norma inovadora e diferenciada na


proteção do próprio seio familiar e, ainda, em resposta a uma dívida do Estado para
com uma parcela da população carente da inclusão jurisdicional, a Lei Maria da
Penha sofreu duras críticas e tornou-se alvo de inúmeros debates negativos. Um
dos principais questionamentos levantados diz respeito à eficácia da nova lei na
modificação positiva do quadro de violência doméstica existente no país.

Nesse contexto, e deixando de lado os questionamentos acerca da


constitucionalidade dos dispositivos da legislação em tela e também a análise
acerca da questão de gênero, o objetivo do estudo em tela será demonstrar que a
Lei Maria da Penha representou verdadeiro incremento no ordenamento jurídico
brasileiro, especialmente ao afastar o procedimento previsto na Lei nº 9.099/95,
apresentando uma análise afirmativa dos institutos nela previstas, a partir do estudo
de cada um deles.

O trabalho será construído com supedâneo na afirmativa de que os métodos


de prevenção e combate à violência doméstica contra a mulher, inaugurado pela Lei
11.340/06, embora carente de ajustes, revelam-se adequados à garantia da
efetividade da prestação jurisdicional a que se propõe: proteção dos direitos da
mulher. O estudo será elaborado a partir da concepção de que os instrumentos
trazidos pela Lei nº 11.340/2006 produziram verdadeira revolução na forma de
prevenir e coibir a violência doméstica e de que constituem meios potencialmente
eficazes no amparo da vítima.

O Primeiro Capítulo tratará do contexto de criação da lei e do histórico de


combate à violência contra a mulher no Brasil. Abordará, ainda, a ineficácia da
aplicação dos institutos previstos na Lei nº 9.099/95 no âmbito da violência
doméstica contra a mulher, em contrapartida aos previstos na Lei Maria da Penha.

No Segundo Capítulo, o trabalho abordará as principais inovações instituídas


pela Lei nº 11.340/2006, delineando suas principais características e, ainda, o papel
11

afirmativo de cada um na garantia da integridade física, moral e psicológica da


mulher vítima de violência.

Dentre as relevantes inovações destacam-se: o afastamento da Lei nº


9.099/95; a mudança do atendimento da vítima nas esferas policial e judicial; as
medidas protetivas de urgência e terapêuticas; a representação; as prisões
processuais; as atuações do Ministério Público; e as políticas públicas a serem
desenvolvidas pela União, pelos Estados e pelos Municípios, em conjunto com
órgãos não governamentais.

Finalmente, em seu Terceiro Capítulo, serão apresentados dados


estatísticos nacionais acerca da implementação da Lei Maria da Penha, levantados
em seu primeiro ano de vigência. Também colheu-se dados específicos do Estado
do Mato Grosso e do Distrito Federal. O resultado dessa pesquisas demonstra que a
nova legislação de combate à violência contra a mulher é vitoriosa, tem se adaptado
bem à realidade, com índices elevados de aceitação, e aplicação positiva e eficaz de
seus dispositivos mais importantes.

O presente trabalho foi elaborado com base em pesquisas bibliográficas,


artigos de revistas, seminário, tese de pós-graduação e trabalhos elaborados pelo
Governo Federal, por meio Ministério da Justiça e tem por objetivo tentar sanar a
principal dúvida que surgiu com a vigência da Lei Maria da Penha: as medidas de
combate e prevenção previstas na Lei Maria da Penha são realmente capazes de
coibir à violência doméstica?

Finalmente, cumpre ressaltar que, ao estabelecer proteção específica à


mulher vitimada pela violência, a Lei Maria da Penha revelou-se potencialmente
eficaz no tratamento insignificante anteriormente dado aos crimes relacionados à
violência doméstica. Ainda que a lei necessite de ajustes, os quais, obviamente,
podem ser efetuados no processo de adaptação da norma à realidade social, esses
não ilidem sua eficiência, mas, ao contrário, a potencializam.
12

Capítulo 1
LEI Nº 11.340/06 – LEI MARIA DA PENHA

O tema ora tratado, qual seja, “violência doméstica contra a mulher” é dos
mais interessantes. Não que haja algo de atraente na violência, mas o estudo da
matéria entrou voga, especialmente a partir da evidência do aumento do número de
agressões físicas, morais e psicológicas contra as mulheres do país,
independentemente da classe social.

A realidade descortinou um quadro perverso, de jugo absolutamente


desigual suportado pelas mulheres em seus relacionamentos afetivos e familiares
sendo submetidas a uma série de injustiças e violências de toda natureza. A partir
de tal quadro, tornou-se necessária a criação de um comando normativo que fosse
fruto de estudos das razões deste tipo específico de violência e que desenvolvesse
mecanismos mais efetivos para sua prevenção e repressão, reconhecendo a mulher
como vítima por excelência.

Com a entrada em vigor da Lei nº 11.340/06, em 22 de setembro de 2006, o


sistema de repressão e prevenção à violência doméstica e familiar contra a mulher
recebeu a devida importância e atendeu o declarado no parágrafo 8º, do art. 226, da
Constituição Federal, que consigna o repúdio à qualquer forma de violência no
âmbito das relações, em especial, a familiar.

1.1 Contexto de Criação da Lei nº 11.340/06

As pesquisas acerca da violência contra a mulher no país tiveram início


tardiamente. De fato, somente no ano de 1988, o IBGE realizou o primeiro
mapeamento da violência doméstica no Brasil, ocasião em que se verificou que 63%
dos casos de violência contra a mulher ocorriam no espaço doméstico em mais de
70% dos casos, o agressor era o companheiro ou esposo 3 . Em documento

3
IBGE, Participação político -social (subtema: Justiça e vitimização) Suplemento da PNAD 1988. Amostra:
81.628 domicílios.
13

apresentado pelo Instituo no II Encontro Nacional de Produtores e Usuários de


Informações Sociais, Econômicas e Territoriais, de 21 a 25 de agosto de 2006, o
órgão afirmou que a dificuldade em obter dados acerca da violência doméstica,
porquanto as pesquisas realizadas durante muitos anos não consideraram as
superposições entre a violência urbana e intra-familiar e entre familiares e
desconhecidos ou os diversos tipos de violência (física, moral, psicológico e
patimonial).

A violência vitimiza a mulher tanto em sua própria casa, quanto em outros


contextos que não apenas o doméstico. Na verdade, a violência que a Lei Maria da
Penha busca combater é justamente a violência de natureza relacional que tem a
mulher como vítima por excelência. Somente a partir do estudo das violências
ocorridas nas relações interpessoais, especificamente, quanto ao gênero e, com a
ultrapassagem das interpretações subjetivas e culturais acerca do conceito de
violência, é que foi possível obter dados concretos, e, ressalte-se, assustadores
sobre os números da violência doméstica no país. Há dois anos, o DataSenado fez
a primeira pesquisa de opinião sobre Violência Doméstica contra a Mulher. Este ano,
em sua segunda versão, a pesquisa constata que em cada 100 mulheres brasileiras
15 vivem ou já viveram algum tipo de violência doméstica. Estima-se que o número
de casos desse tipo de violência seja bem maior, mas o fato é que 40% das
mulheres que sofrem agressões de qualquer natureza têm dificuldade em
assumirem essa condição.

Segundo estudo do IBGE, do final da década de 80, 63% das agressões


físicas sofridas por mulheres são cometidas dentro de casa por pessoas com
afinidade pessoal e afetiva 4 . Outrossim, de acordo com pesquisa da Fundação
Perseu Abramo, a cada minuto, quatro mulheres são agredidas no Brasil 5 . Foi nesse
ambiente de desigualdades fáticas, que surgiu a Lei nº 11.340/2006, respaldada em
forte movimento social de defesa dos direitos femininos, tendo como principal
objetivo a superação destas desigualdades, mediante a instauração de novas
práticas procedimentais que assegurassem a sua plena aplicação na prevenção e
repressão da violência contra a mulher.

4
Cf. EM nº 016 – SPM/PR
5
Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=227>. Acesso em: 04 de jul.
de 2007.
14

Um passo importantíssimo foi dado por Maria da Penha Maia Fernandes,


biofarmacêutica, vítima, no ano de 1983, de dupla tentativa de homicídio por seu
esposo, Marco Antonio Heredia Viveiros, colombiano naturalizado brasileiro,
economista e professor universitário, na residência do casal em Fortaleza-CE. Na
ocasião, o marido de Maria da Penha atirou em suas costas enquanto ela dormia,
causando-lhe paraplegia irreversível. Posteriormente, tentou eletrocutá-la no banho.

Já em 1998, quinze anos após o crime, embora ocorridas duas condenações


pelo Tribunal do Júri do Estado do Ceará, em 1991 e 1996, não havia uma decisão
definitiva no processo e o agressor de Maria da Penha permanecia em liberdade. Foi
então que Maria da Penha, em 20 de agosto de 1998, juntamente com o Centro pela
Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) 6 , por meio do Comitê Latino-Americano e do
Caribe para a Defesa de Direitos da Mulher (CLADEM) 7 , formalizou denúncia contra
o Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos
Estados Americanos (CIDH/OEA).

A ação resultou no relatório nº 54 de 2001 8 , que concluiu pela omissão,


negligência e tolerância do Estado Brasileiro em relação à violência doméstica e
familiar contra as mulheres do país, estabelecendo recomendações específicas ao
caso para: a) completar o processamento penal do responsável; b) proceder à
investigação e responsabilização sobre as irregularidades e atrasos injustificados no
processo; e c) prover a reparação simbólica e material à vítima. Determinou, ainda,
recomendações de políticas públicas, no sentido de prosseguir e intensificar o
processo de reforma que evite a tolerância Estatal e o tratamento discriminatório à
violência doméstica contra mulheres no Brasil, adotando medidas específicas no
sentido de capacitar funcionários judiciais e policiais especializados; simplificar
procedimentos judiciais penais, sem afetar direitos e garantias do devido processo;
promover formas alternativas de solução de conflitos no âmbito familiar; multiplicar o
número de delegacias especializadas, seus recursos e apoiar o Ministério Público
nos informes judiciais; e, por fim, incluir, nos planos pedagógicos, unidades

6
O CEJIL é uma ONG fundada em 1991 e existente no Brasil desde 1994, que tem por objetivo a proteção e
promoção dos direitos humanos junto aos Estados-Membros da Organização dos Estados Americanos.
7
O CLADEM é formado por um grupo que atua na defesa dos direitos das mulheres da América Latina e do
Caribe.
8
Comissão Interamericana de Direitos Humanos: relatório nº 54/01. Disponível em:
<HTTP://www.ceidh.org/annualrep/2000port/12051.htm>.
15

curriculares sobre respeito à mulher, seus direitos, a Convenção de Belém do Pará e


manejo de conflitos intrafamiliares 9 .

A pressão política internacional e nacional, pelo uso efetivo do sistema


internacional de proteção aos direitos humanos, resultou, finalmente, em março de
2002, na conclusão do processo criminal em desfavor do agressor de Maria da
Penha, preso no mesmo ano.

Mas os casos de violência contra a mulher continuaram atingindo números


significantes. Como visto, embora a violência seja uma realidade presente na vida
de milhões de mulheres brasileiras, não existem, em larga escala, estatísticas
oficiais acerca deste fenômeno, com exceção dos poucos estudos, tais como os
anteriormente citados, dentre outros realizados por organizações não-
governamentais na área de violência doméstica.

A Fundação Perseu Abramo, na pesquisa já mencionada, realizada em


2001 10 , aponta que aproximadamente 20% das mulheres brasileiras já foram vítimas
de algum tipo de violência doméstica. Quando estimuladas por meio da citação de
diferentes formas de agressão, esse percentual sobre para 43%. Um terço afirma,
ainda, já ter sofrido algum tipo de violência física, seja ameaça com armas de fogo,
agressões ou estupro conjugal.

Assim, neste cenário de estatísticas, ainda que informais, comprovando a


magnitude da violência contra as mulheres brasileiras, surgiu Lei nº 11.340/2006 (Lei
Maria da Penha) como um instrumento de resgate e resguardo dos direitos humanos
e da dignidade das vítimas.

1.1.1 Histórico da legislação de combate à violência contra a


mulher no Brasil

Os escassos antecedentes legislativos e de ações políticas e legislativas


acerca do combate à violência contra a mulher explicam o contexto de urgência e
necessidade no qual surgiu a Lei Maria da Penha.

9
CEDAW/C/2003/II/CRP.3/Add.2/Rev.1, 18 de Julho de 2003 (CEDAW, A/58/38).
10
Idem. Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=227>. Acesso em: 04
de jul. de 2008.
16

Em 1985, na Década da Mulher, então declarada pela ONU, é inaugurada a


primeira Delegacia de Defesa da Mulher em São Paulo e criado o Conselho
Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), com a edição da Lei nº 7353/85. Já no ano
de 1998, houve a elaboração da Norma Técnica do Ministério da Saúde para
prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual. Cinco anos
depois, a promulgação da Lei nº 10.778/03 institui um novo avanço: a notificação
compulsória dos casos de violência contra as mulheres atendidos nos serviços de
saúde, públicos ou privados.

O Brasil é signatário desde 1996 da Convenção Interamericana para


Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (conhecida como convenção
de Belém do Pará), pela qual assumiu o compromisso de agir com o devido zelo
para prevenir, investigar e punir a violência contra a mulher. Além disso, deveria
adotar medidas jurídicas que exigissem do agressor que se abstivesse de perseguir,
intimidar e ameaçar a mulher ou de fazer uso de qualquer método que danificasse
ou pusesse em perigo sua vida ou integridade ou danificasse sua propriedade.
Outrossim, deveria tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas, para
modificar ou abolir leis e regulamentos vigentes ou modificar práticas jurídicas ou
consuetudinárias que respaldem a persistência e a tolerância da violência contra a
mulher 11 .

A criação das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs)


deu mais visibilidade ao fenômeno da violência doméstica e familiar, em razão das
denúncias efetuadas pelas vítimas. O advento da Lei nº 9.099/95, que instituiu os
Juizados Especiais Criminais, também representou um passo na luta contra a
violência em desfavor da mulher. Porém, ao longo dos anos, verificou-se que eram
apenas passos tímidos, especialmente porque o procedimento adotado revelou-se
ineficaz no trato da violência contra a mulher e as instituições integrantes do sistema
de justiça (Polícia, Defensoria Pública, Ministério Público) e o próprio Poder
Judiciário não estavam devidamente aparelhados para o atendimento às mulheres
vítimas de violência.

11
A Convenção foi aprovada em 09 de junho de 1994 e seu texto foi aprovado pelo Senado por meio do Decreto
Legislativo n. 107, de 31 agosto 1995. Foi definitivamente promulgada pelo Presidente da República por meio
do Decreto n. 1973, de 01 agosto 1996.
17

A primeira inovação normativa, no que tange especificamente ao tema,


surgiu com a Lei nº 10.455/02, que acrescentou ao parágrafo único do art. 69 da Lei
nº 9.099/95 a previsão da medida cautelar de afastamento, de natureza penal,
consistente no afastamento do agressor do lar conjugal na hipótese de violência
doméstica, decretada pelo Juiz.

O governo começou a movimentar-se no sentido de investir em políticas


públicas de enfrentamento da violência contra as mulheres somente com a criação
da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM) em 2003.

Mas o grande marco no combate à violência exercida contra a mulher foi


mesmo a edição da Lei nº 11.340/06, batizada “Lei Maria Penha”, em homenagem à
citada percussora do movimento contra a violência doméstica. O comando normativo
é fruto da pressão dos órgãos internacionais e movimentações de órgãos
governamentais e não-governamentais relacionadas à violência contra a mulher,
mas, principalmente, da luta pessoal de Maria de Penha, que ousou mudar a usa
história e a do país. O conteúdo da lei resta claro em sua ementa: cria mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, e visa dar cumprimento
ao § 8º do art. 226 da Constituição Federal, à CEDAW e à Convenção de Belém do
Pará, dispondo sobre os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, alterando o Código Penal e de Processo Penal, a Lei de Execução Penal,
entre outras providências.

1.1.2 Ineficácia do procedimento utilizado nos Juizados Especiais


Criminais no caso de violência contra a mulher

Um das principais características da nova lei, como destacado na parte


introdutória, é o afastamento das penas alternativas e a repressão como instrumento
de combate à violência contra a mulher. O procedimento adotado pelos Juizados
Especiais Criminais foi quase que totalmente banido e instaurado uma espécie de
tratamento híbrido dos delitos previstos no novel comando legal.

A Lei nº 9.099/95, criadora dos Juizados Especiais Criminais, surgiu em


razão da necessidade de imprimir velocidade aos julgamentos dos crimes
18

considerados de menor potencial ofensivo, tendo como principal instrumento para


solução de conflitos a consensualidade.

Ocorre que a justiça consensual como opção de política criminal mostrou-se


ineficaz na repressão à violência doméstica. É que o procedimento adotado pela Lei
nº 9.099/95, embora procure agilizar a prestação jurisdicional, não apresenta
comandos de caráter preventivo e repressivo dos conflitos, de modo à garantir a
satisfação da vítima ou permitir a ressocialização do agente.

De fato, os acordos ali ajustados constituem meros termos de compromisso


de conduta. Realizado o acordo, a sentença homologatória do ato é irrecorrível e
implica a renúncia ao direito de queixa (ação penal privada) ou representação (ação
penal pública condicionada). Ademais, firmado o acordo entre as partes, este não
gera reincidência, ou seja, nenhuma conseqüência ao ofensor. Assim, no caso de
reiteração da ofensa, a vítima que firmou acordo fatalmente restará prejudicada,
porquanto terá que recorrer novamente às instâncias policial e judicial como se
jamais tivesse buscada a intervenção estatal.

A pena pecuniária, por sua vez, é totalmente obsoleta e sua conseqüência é


a falta de reflexão, pelo agente, acerca das causas da violência por ele perpetrada.
Por conseguinte, o autor termina por repetir o comportamento, uma vez que não foi
incentivado a tratar de seu desequilíbrio emocional.

O renomado autor Cezar Roberto Bittencourt, lucidamente destaca a


impropriedade da aplicação da pena pecuniária consistente em cestas básicas, in
verbis:
(...) Por isso, nos incluímos naqueles que foram rotulados de ‘reacionários
do Direito Penal’, e não admitimos a dita pena da ‘cesta básica’,
simplesmente pela ausência de contemplação legal. (...) Pelas mesmas
razões, que acabamos de expor, não se pode admitir, como tem ocorrido
em algumas comarcas, na transação penal, a imposição de outras espécies
de penas não previstas em lei 12 .

O privilégio aos interesses da vítima constitui, ao menos em tese, o precípuo


objetivo dos Juizados Especiais Criminais. Todavia, no que tange à violência contra
a mulher, a prática de tais Juizados não parece privilegiar as ofendidas. Para
melhor elucidar tal afirmativa, necessário tecer algumas considerações.

12
BITTENCORUT, Cezar Roberto. Juizados Especiais Criminais e alternativas à pena de prisão. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1997, p.52
19

Com efeito, é fato comprovado, no Distrito Federal, que pelo menos 60% das
pessoas que procuram os Juizados Criminais são mulheres vitimadas pela violência.
E, normalmente, tratam-se de mulheres de baixa renda, que não podem prover o
sustento familiar. A maioria dos fatos ocorre em razão da embriaguez do agente
e/ou por discussões irrelevantes. Ademais, observa-se que a mulher vítima de
violência não pretende pôr fim à relação afetiva, mas sim, à agressão, seja ela de
que ordem for, numa tentativa de renegociar o pacto doméstico.

Dessa forma, muitas mulheres deixam procurar assistência policial e judicial,


abdicando de exercer seu direito à representação justamente por temerem a ruptura
do relacionamento afetivo no qual está envolvida. E, pelo mesmo motivo, aquelas
que iniciam o procedimento policial ou judicial, desistem no meio do caminho. No
caso de aplicação do procedimento da Lei nº 9.099/95, a renúncia ao direito de
queixa ou de representação dá-se na própria Delegacia ou no Juizado,
oportunizando à vítima o total controle da atuação policial e judicial.

Acerca do risco da amplitude do ato de vontade da vítima quanto à


movimentação da máquina estatal, assim destacou a autora Letícia Franco de
Araújo:
A Lei nº 9.099/95, ao oportunizar à vítima o controle da atuação policial e
judicial na solução dos conflitos de menor potencial ofensivo, através da
exigência da representação para a intervenção destas instâncias de
controle social, no que se refere à violência contra a mulher, impediu que
estas instâncias atuem efetivamente no controle deste tipo de violência. De
fato, ao se submeter a tamanhas ingerências de cunho sócio-econômico,a
vítima acaba por ser vencida em seu interesse de ver processado e punido
seu agressor, muitas vezes perpetuando uma situação de violência.
Assim, no caso da violência doméstica, muitas vezes é importante que a
vítima possa ver processado e punido seu agressor sem que um ato volitivo
seu deva expressado. Na prática, muitas vezes a polícia toma
conhecimento, através de denúncias anônimas, de fatos de violência contra
a mulher, mas fica impedida de agir, em virtude da ausência de
13
representação da vítima, que por razões várias se submete à violência .

O art. 69, caput, da Lei nº 9.099/95 determina, ainda, após o registro do fato
na Delegacia, o encaminhamento “imediato” da vítima e do agressor ao Juizado
Especial Criminal, para realização de audiência preliminar. Ocorre que, tal
encaminhamento nunca ocorre de “imediato” e não há previsão de medida

13
ARAÚJO, Letícia Franco de. Violência contra a mulher – A ineficácia da Justiça Penal Consensuada.
Campinas/SP: Lex Editora, 2003, p 155.
20

assecuratória da integridade física, moral e psicológica da vítima até a data da


audiência.

Também o parágrafo único do referido artigo, absurdamente, impede a


prisão em flagrante do agressor caso este concorde em comparecer posteriormente
ao Juizado ou para lá seja encaminhado, possibilitando a perpetração de novos
delitos contra a vítima. E mesmo quando conduzido ao Juizado, tudo o que precisa
fazer é se comprometer a comparecer à audiência preliminar, mesmo que demonstre
intenção de reiterar a prática delituosa!

Assim, sob o manto do comando legal em referência, a vítima se torna alvo


absolutamente vulnerável do agressor, que é, inclusive, estimulado a praticar
novamente a violência. De fato, se após o cometimento de fato típico em situação
flagrancial e mesmo com a intervenção estatal, o agressor não tem nenhum direito
restringido, ele certamente voltará a subjugar a ofendida. Esta, por sua vez, torna-se
totalmente desacreditada das instituições policial e judicial e não mais as procura.

De outro lado, o acordo previsto na Lei nº 9.099/95, realizada na audiência


preliminar, para a composição de danos civis, revela-se obsoleto no caso de
violência contra a mulher. Com efeito, os delitos de maior incidência neste tipo
violência são as ameaças e lesões corporais leves. Ora, nestas hipóteses não há se
falar em danos materiais, o que evidencia a inutilidade do procedimento.

No que tange à transação penal, que seria a fase seguinte, melhor sorte não
obteve a Lei nº 9.099/95. Como já salientado anteriormente, as composições de
danos ajustadas nos termos da lei em comento não se constituem títulos executivos,
não havendo meios de executar o autor do fato no caso de descumprimento da
avença. Como obrigá-lo a cumprir um compromisso de cunho meramente moral?
Ademais, a proibição da vítima retratar-se em razão do acordo firmado, revela-se
altamente prejudicial ao exercício de seus direitos.

Por fim, a análise da justiça consensual, que tem por espeque os ditames da
Lei nº 9.099/95, no que tange ao combate à violência contra a mulher, em suas
relações afetivas, mostra a ineficácia social do instituto, porquanto, a despeito de
promover a celeridade processual, não trata, de forma ampla, a questão da violência
sofrida pela vítima e não oferece soluções para os conflitos.
21

O legislador acertadamente afastou a adoção dos procedimentos previstos


na Lei nº 9.099/95 na elaboração da Lei nº 11.340/06, porquanto o objetivo precípuo
da nova lei acerca da violência contra a mulher era justamente garantir às vítimas
uma prestação jurisdicional mais eficiente e confiável.

Por oportuno, colaciono excerto do comentário efetuado pelo do Promotor


Marcelo Lessa Bastos acerca do tema, in verbis:
(...)fracasso dos Juizados Especiais Criminais, no grande fiasco que se
tornou a operação dos institutos da Lei 9.099/95, não por culpa do
legislador, ressalva-se, mas, sem dúvida, por culpa do operador do
Juizados, leiam-se, Juízes e Promotores de Justiça – que, sem a menor
cerimônia, colocaram em prática uma série de enunciados firmados sem o
menor compromisso doutrinário e ao arrepio de qualquer norma jurídica
vigente, transmitindo a impressão de que tudo se fez e se faz com um
pragmatismo encomendado simplesmente e tão-somente para diminuir o
volume de trabalho dos Juizados Especiais Criminais 14 .

O sistema anterior, de mínima intervenção estatal nos conflitos


interpessoais, mostrou-se ineficaz na solução daqueles que envolvessem a violência
contra a mulher. Desse modo, se o modelo instituído pela Lei nº 9.099/95 não
representava uma resposta afirmativa na solução da violência contra a mulher,
mister a criação de um novo modelo, com ditames que afastassem as antigas
regras. Este novo modelo, mais arrojado e amplo, surgiu com a edição da Lei nº
11.340/06.

1.2 Tríplice atuação da Lei nº 11.340/2006

No conceito de René Ariel Dotti, política criminal seria: “o conjunto


sistemático de princípios e regras através dos quais o Estado promove a luta de
prevenção e repressão das infrações penais, além de cuidar do tratamento do
delinqüente” 15 . Dessa forma, o Estado deve estabelecer uma política criminal eficaz
não somente no combate à criminalidade, mas também, na prevenção das condutas
delituosas e no tratamento psicossocial do transgressor e da vítima. E é deste
tríplice caráter necessário à atuação no âmbito da violência nos relacionamentos

14
BASTOS, Marcelo Lessa. “Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Lei Maria da Penha.
Alguns comentários. Texto extraído do “site” JUS NAVIGANDI, escrito em 11/10/2006.
15
DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de pena. São Paulo: RT, 1998, p. 178.
22

interpessoais que está revestida a novel Lei Maria da Penha, como verificaremos a
seguir.

A Lei nº 11.340/06 representa uma quebra de paradigma no enfrentamento à


violência doméstica e familiar contra a mulher, e é muito mais que um diploma legal
de caráter repressivo. Com efeito, a nova legislação possui três objetivos principais:
a prevenção e a repressão da violência e, ainda o tratamento terapêutico das partes
envolvidas. Vale ressaltar que o comando normativo está amparado sob o princípio
constitucional da primazia da dignidade da pessoa humana e, por isso mesmo, a
diversidade de medidas e ações nela previstas, a fim de atacar a violência contra a
mulher desde a raiz até o seu estágio mais avançado.

Trata-se, na verdade, de um verdadeiro microssistema de proteção à família


e à mulher, pois congrega um conjunto de princípios, diretrizes e regras que
abordam a questão da violência em toda sua complexidade, objetivando
efetivamente, resguardar a entidade familiar e assegurar à mulher o direito à sua
integridade física, sexual, psíquica e moral. Uma efetivação de direitos humanos
que, expressamente, exige a articulação de ações do governo de organismos não-
governamentais, bem assim, a integração funcional do Poder Judiciário com o
Ministério Público, a Defensoria Pública, Conselhos estaduais e municipais de
mulheres e demais estruturas formadoras da rede de serviços de atendimento a
mulher vítima de violência e ao agressor.

Assim, em razão da pluralidade de causas e diversidades de formas de


manifestação da violência, a nova lei não se eximiu da responsabilidade de prever,
além das medidas de prevenção através de mecanismos sociais, como escola,
família e meios de comunicação, respostas penais, de reparação do dano causado à
sociedade e as pessoas com o cometimento do crime.

Da mesma forma, a Lei nº 11.340 procurou fornecer atendimento


especializado não só à vitima, mas também ao agressor. O tratamento terapêutico
instituído pela lei demonstra o caráter também humanitário que o legislador, sensível
à problemática das relações afetivas, procurou imprimir à nova legislação. De fato, a
submissão das partes envolvidas a tratamento terapêutico - o agressor no sentido
de se conscientizar acerca das causas da agressão e a vítima, por sua vez, para se
23

fortalecer emocionalmente – representa um grande aliado na prevenção de conflitos


futuros.

A preocupação da Lei nº 11.340/06 com o bem estar da mulher no meio em


que vive, de forma absolutamente ampla, é evidente, conforme se verifica de seu
próprio texto, o qual sugere que sua interpretação ocorra de acordo com a realidade
social na qual for inserido. É o que estabelece o artigo 4º da lei em comento, in
verbis: “Na interpretação desta lei, serão considerados os fins sociais a que ela se
destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de
violência doméstica e familiar”. Assim, ao aplicar a lei e comento, os operadores do
Direito devem fazê-lo de forma a atender à sua finalidade, que é assegurar à mulher
em situação de violência condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à
segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à
justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
respeito e à convivência familiar e comunitária.

1.3 Caráter híbrido da Lei nº 11.340/2006 – resposta abrangente à


solução de conflitos ligados à violência contra a mulher

A determinação contida na Lei nº 11.340/06, em seu art. 14, de criação de


juizados especiais específicos para cuidar dos casos de violência contra a mulher,
com competência não apenas para resolver questões criminais, mas também as
cíveis, relativas ao direito de família e aos direitos patrimoniais, denota o caráter
híbrido da lei. Outrossim, ao elencar, em seu art. 7º, de forma pormenorizada, os
diversos tipos de violência contra a mulher, a nova lei procurou tratar de cada uma
delas, evidenciando seu aspecto pluralista.

Ora, tal previsão configura-se verdadeira evolução, porquanto quebra a


tradicional dicotomia cível/criminal e os entraves característicos na transposição de
um para outro. Os Juizados competentes serão núcleos altamente especializados, o
que torna mais fácil e rápida a aplicação da lei, além de findar eventuais discussões
sobre competência.
24

De outro lado, a novel legislação também previu o amparo patrimonial à


mulher vítima de violência. A denominada “violência patrimonial” inclui os tipos
penais contra o patrimônio que signifiquem retenção, subtração, destruição de bens,
documentos, valores e direitos ou recursos econômicos, inclusive os destinados a
satisfazer as necessidades da vítima, ainda que praticados sem violência real.
Abarcou não apenas os bens de relevância patrimonial econômico-financeira, mas
também aqueles de importância pessoal, próprias da condição feminina (que
poderiam parecer desnecessários para um homem), de uso profissional e
necessários ao exercício da vida civil. A importância dessa previsão é que, no caso
da vítima tomar a iniciativa de romper com uma relação violenta, o agressor será
impedido de apoderar-se ou destruir bens e/ou valores. As medidas previstas na Lei
Maria da Penha permitem, ainda, à vítima, num mesmo processo, ao lado da
condenação criminal do seu agressor, obter a fixação de pensão alimentícia, guarda
dos filhos e separação.

Essa nova estrutura de conexão de matérias cíveis e criminais, num mesmo


feito, representa melhora importante no que tange ao desenvolvimento processual.
Como exemplo, a prova produzida em um procedimento poderá ser emprestada a
outro, resultando na devida observância e aplicabilidade dos princípios da economia
e celeridade processuais, essenciais à prestação da tutela jurisdicional efetiva. Da
mesma forma, há uma concentração dos órgãos jurisdicionais, o que facilita o
trâmite do feito. Ademais, as partes recebem um tratamento mais digno, uma vez
que precisam se dirigir a um só juízo, evitando-se o trânsito nas mais diversas varas
e Juízos. Outra vantagem desta reunião está no fato de que o Juiz configura
verdadeiro partícipe da verificação da realidade, sendo o responsável direto pelo
deferimento de mecanismos hábeis à garantia da proteção da mulher.

Assim, verifica-se o caráter extremamente inovador e abrangente da Lei nº


11.340/06, ao prever a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher, com atendimento multidisciplinar e competência para resolver conflitos
tanto na área cível, quanto na área criminal, de forma a acelerar e efetivar
plenamente a prestação jurisdicional.
25

Capítulo 2
ASPECTOS INOVADORES E AFIRMATIVOS DA LEI Nº
11.340/06 NO COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A
MULHER

O presente capítulo apresentará os principais institutos penais e processuais


penais introduzidos pela Lei nº 11.340/2006, os quais se revelam de extrema
importância e utilidade na rotina policial e forense, no que tange ao atendimento da
mulher vítima de violência doméstica e familiar.

O artigo 1º do referenciado diploma legal evidencia seu principal objetivo:


oferecer à mulher vítima de violência doméstica e familiar, maiores garantias
jurídicas, que significassem uma efetiva proteção à sua pessoa. Este o texto de lei:
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela
República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de
assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e
familiar.

Essa proteção jurídica efetiva proposta pela nova lei é diferenciada e se


distancia dos modelos vigentes, representando verdadeiro avanço e rompimento.
Ocorre que o combate à violência contra a mulher em suas relações afetivas
necessita não só de um instrumento legal inovador e garantidor, mas também
efetivador dos direitos que pretende resguardar.

A Lei nº 11.340/06 consagra uma abordagem sistêmica da violência contra a


mulher, preocupada com medidas afirmativas de prevenção e mediação dos
conflitos, em detrimento do tradicional tratamento como crime de menor potencial
ofensivo. Verifica-se que a nova lei preocupou-se com a pluralidade de causas de
manifestação da violência e a aplicação de seus dispositivos orienta-se
principalmente, pela aceleração do processo de obtenção da igualdade e respeito à
dignidade da pessoa humana.

A análise dos dispositivos da Lei nº 11.340/06 demonstra sua potencial


eficácia. Evidentemente, necessitará de ações conjuntas dos poderes Executivo,
26

Legislativo e Judiciário, a fim de que seja efetivamente aplicada aos casos


concretos, de forma a representar verdadeiro diploma garantidor da integridade
física, psicológica, moral e patrimonial das mulheres, em suas relações afetivas.

A seguir, serão apresentadas as principais inovações trazidas pela Lei Maria


da Penha e a afirmação de sua eficácia no combate à violência contra a mulher.

2.1 Inaplicabilidade da Lei nº 9.099/95

Novidade importantíssima trazida pela Lei nº 11.340/06 foi a previsão de


criação dos Juizados da Violência doméstica e Familiar contra a Mulher, Órgãos da
Justiça Ordinária com competência cível e criminal, pelos respectivos Tribunais de
Justiça.

Conforme ressaltado no item 1.1.2, do Capítulo 1, deste trabalho, o modelo


preconizado pela Lei nº 9.099/95 nunca satisfez a solução de conflitos na área da
violência doméstica e familiar contra a mulher.

Embora numerosas as críticas quanto à retirada dos institutos anteriormente


existentes de composição civil, de diálogo direto entre as partes e não punição
incondicionada, uma das intenções do legislador ao editar a Lei nº 11.340/06 foi
justamente de possibilitar maior certeza de punição do agressor. Com efeito, a
vítimas desse tipo de violência nunca procuravam o Poder Judiciário porque sabiam
que seu caso seria encaminhado ao Juizado Especial, onde o conflito se resolvia em
fornecimento de cesta básica pelo ofensor ou, no máximo em prestação de serviço.

Esse aspecto repressor da lei, não obstante entendem alguns juristas e


operadores do direito, seja fórmula ultrapassada de redução da criminalidade,
catapultou o número de denúncias e procura pelas delegacias e varas
especializadas em violência contra a mulher, porquanto esta visualizou a Lei nº
11.340/06 como instrumento mais confiável de proteção à sua integridade física,
moral e psicológica.

De outro lado, a determinação contida no art. 41 da Lei Maria da Penha de


afastamento da Lei nº 9.099/95, conseqüentemente, tornou a ação penal, em crime
de lesão corporal de natureza leve, pública incondicionada, salvo os crimes
27

culposos, que não se caracterizam como “violência”. Assim, as corriqueiras


agressões físicas sofridas pelas mulheres, seja dentre de seu lar ou no âmbito das
demais relações afetivas deixaram de ser banalizadas e ganhara status de crimes
relevantes, cuja prática desencadeia a intervenção estatal.

Outrossim, considerar o crime de lesão corporal em situação de violência


doméstica ou familiar contra mulher de ação penal pública transfere exclusivamente
ao Estado a responsabilidade de processar o agressor, livrando a vítima da culpa
pelo fato deste ser alvo de investigação. Não há mais, portanto, o risco de
condicionar a resposta do Estado aos “vai-e-vens” emocionais da vítima e de seu
agressor. Ademais, a mudança possibilita a realização de denúncia, por terceiros, da
ocorrência de violência contra a mulher.

Somente no Distrito Federal, desde a vigência da novel legislação, em


quatro meses de funcionamento da Vara Especializada em Violência contra a Mulher
foram recebidos 820 (oitocentos e vinte) processos. A informação acerca de um
Juizado especializado no conflito do qual padece, incentiva a mulher a procurar a
intervenção estatal para solucionar suas inquietações, inclusive porque a mulher
reconhece as Delegacias e o Poder Judiciário como ambientes de postulação do
livre exercício de seus direitos.

Outra relevante alteração efetuada pela Lei nº 11.340/06 foi a elevação da


pena preconizada no parágrafo 9º, do art. 129, do Código Penal, que trata da lesão
corporal ocorrida em ambiente doméstico. A alteração, estabelecida no art. 44 da
lei, estabelece a reprimenda de detenção de 03 (três) meses a 03 (três) anos. Essa
triplicação da pena para agressores domésticos aumentou os mecanismos de
proteção às vítimas.

2.2 Mudanças no Atendimento na Esfera Policial

A realidade é clara: a ocorrência de conflito envolvendo violência contra


mulher é registrado, primeiramente, no âmbito policial. Por esse motivo, a nova lei
também criou mecanismos de resguardo dos direitos da vítima já na Delegacia de
Polícia (art. 11). Assim, a mulher vítima de violência que procura atendimento
28

policial, tem garantidos, de plano: a) o direito à proteção policial, quando necessário;


b) o encaminhamento a hospital ou posto de saúde, bem como ao Instituto Médico
Legal; c) o direito de receber transporte policial para abrigo ou local seguro, quando
houver risco de vida; e d) se necessário, o acompanhamento ao local da ocorrência
ou ao domicílio familiar, para assegurar a retirada de seus pertences. Cumpre
ressaltar que tais medidas são tomadas independentemente de representação, o
que certamente traz mais segurança à vítima em postulá-las, já que tem por objetivo
garantir, de forma urgentíssima, a proteção desta.

Outrossim, o art. 10 do comando normativo em comento, devolveu à


autoridade policial a prerrogativa investigatória. Assim, procedido o registro da
ocorrência, a ofendida é ouvida, sendo tomado por termo a representação
apresentada (art. 12, I). Colhido o depoimento do agressor e das testemunhas (art.
12, V) e feita sua identificação criminal (art. 12, VI), passa-se à instauração do
inquérito policial a ser encaminhado à Justiça (art. 12, VII).

A Lei Maria da Penha determina, ainda, em seu art. 34, inciso III, a criação e
promoção de delegacias especializadas no atendimento à mulher em situação de
violência doméstica e familiar. A especialização de delegados e policiais civis e
militares é importante porque possibilita ações mais eficientes no tratamento deste
tipo de violência, especialmente no que tange à realização de medidas de caráter
urgente, no apoio dedicado à vítima e no trato do agressor.

2.3 Das Medidas Protetivas de Urgência

Além das medidas que podem ser tomadas de pronto pela autoridade
policial, a Lei Maria da Penha prevê outras medidas protetivas de urgência em seus
artigos 22, 23 e 24, as quais constituem medidas cautelares úteis especialmente nos
casos de violência doméstica. A adoção de tais medidas deve preencher os dois
pressupostos básicos, quais sejam, o periculum in mora (perigo da demora) e o
fumus bonis iuris (aparência do bom direito).

As medidas de urgência que obrigam o agressor estão descritas no art. 22.


São a seguintes:
29

a) suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação


ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro
de 2003;
b) afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
c) proibição de determinadas condutas, entre as quais:
aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,
fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por
qualquer meio de comunicação;
freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a
integridade física e psicológica da ofendida;

d) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a


equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

e) prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

Aquelas que visam a proteção específica da ofendida estão no art. 23 e são


as seguintes:

a) encaminhamento da ofendida e seus dependentes a programa oficial


ou comunitário de proteção ou de atendimento;

b) determinação de recondução da ofendida e a de seus dependentes ao


respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

c) determinação do afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos


direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

d) determinação da separação de corpos.

Ademais, há ainda medidas de proteção patrimonial dos bens da sociedade


conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher. Neste caso, o juiz poderá
determinar, liminarmente, as seguintes medidas, dentre outras:

a) restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;


30

b) proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,


venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;

c) suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

d) prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas


e danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
ofendida.

Uma facilidade trazida pela legislação é que os pedidos acerca destas


medidas de urgência poderão ser feitos diretamente na Delegacia de Polícia,
quando ainda não desencadeado o procedimento judicial. A vítima deve sempre
estar acompanhada de um advogado ou Defensor Público (art. 27), tanto na fase
policial, como na judicial, garantido o acesso aos serviços da Defensoria Pública e
ao benefício da Assistência Judiciária Gratuita (art. 18). Esta obrigatoriedade é
importantíssima para que a vítima seja orientada a respeito de qual medida seria a
mais adequada para seu caso e, além disso, representa um plus no resguardo dos
direitos da ofendida.

O expediente apartado com o pedido da ofendida, efetuado pelo próprio


Delegado de Polícia, deve ser remetido a juízo no prazo de 48 horas (art. 12, III), o
que confirma a preocupação da Lei com a celeridade no atendimento às
necessidades da vítima. A proteção da vítima também está garantida com a
proibição de que seja portadora da notificação ao agressor (art. 21, parágrafo único).

A inovação de tais medidas está no fato de que obrigam diretamente o


agressor, sem a necessidade de puni-lo de forma mais agressiva. Aí está o caráter
sensível da lei, que, ao contrário do afirmado por seus críticos, somente usa a
segregação como instrumento de coibição da violência contra a mulher, nos casos
extremos e necessários. Este o motivo pelo qual a lei criou essas medidas
cautelares intermediárias, que permitem uma resposta mais efetiva e menos violenta
do Estado, para situações que, a princípio, não seriam hipótese de decretação de
medidas mais severas.
31

2.4 Da Representação

A novel legislação determina, em seu art. 16, que a vítima só poderá desistir
da representação antes do recebimento da denúncia, em audiência designada pelo
juiz especialmente para tal fim e depois de ouvido o Ministério Público. Na hipótese
de não comparecimento da vítima na audiência do artigo acima, a persecução penal
seguirá normalmente seu trâmite, porquanto não houve a renúncia à representação,
sendo esta condição específica de procedibilidade.

Há opiniões contrárias ao prosseguimento da ação penal, sem que haja


ratificação da representação pela vítima, já que tal procedimento implicaria um
grande número de ações penais condicionadas à representação em que a própria
vítima, na maioria das vezes, não estaria interessada em sua procedência.

Ocorre que, nos casos em que a vítima deixa de ratificar a representação,


esta o faz por medo de sofrer retaliação do ofensor, por acomodação à situação de
violência quando se reconcilia com agressor ou, também, porque afastou-se do
ofensor e encontra-se em local não sabido. Dessa forma, a proibição de retratação
após o recebimento da denúncia constitui meio apto a garantir direitos da vítima dos
quais ela própria desistiu, em virtude do ambiente hostil e ameaçador ao qual está
submetida.

De fato, a mulher em situação de violência, seja ela de que natureza for, que
recorre à Justiça para ver solucionado seu problema, está em seu limite máximo de
submissão aos maus tratos. A nova lei estimula esta mulher a dizer não às situações
que tem vivido, a enfrentar seu agressor por meio do aparelhamento estatal e lutar
por uma vida com mais dignidade.

Lado outro, a referida audiência constitui ponto positivo, porquanto nesta


oportunidade, o magistrado esclarecerá à vítima as conseqüências da renúncia à
representação, incitando-a a refletir acerca de sua decisão e esclarecendo-a sobre a
necessidade de prosseguimento do feito, não só evitar e coibir violência contra ela e
conscientizar o agressor, mas também, pelo fato de ser ela a principal prova da
prática do delito.
32

2.5 Dos novos procedimentos no âmbito judicial

Ao juiz cabe adotar não só as medidas requeridas pela vítima (art. 12, III, 18,
19 e § 3º) ou pelo Ministério Público (art. 19 e seu § 3º), mas também lhe é facultado
agir ofício no caso de determinação das medidas protetivas de urgência dos arts. 20,
22, § 4º, 23 e 24. Quando requeridas pela ofendida, o juiz deve decidir sobre elas
em 48 horas, evidenciado a preocupação da lei com a celeridade dos atos
processuais que garantam proteção à vítima.

Cumpre ressaltar que, nos termos do art. 21, a vítima deve ser comunicada
de todos os atos processuais. Esta inovação tirou a vítima da posição de mera
“prova processual” e lhe deu a condição de participante e destinatária principal da
atuação do Estado.

A lei previu, ainda, no parágrafo único do mesmo dispositivo, a proibição de


que a ofendida seja portadora da notificação ao ofensor, devendo a comunicação
acerca de qualquer ato processual ser feita pessoalmente ao ofensor, por meio de
oficial de justiça. Tal previsão é sobremaneira garantidora da proteção da vítima
porque evita a ocorrência de novas agressões, ao desincumbir a vítima de manter
contato com seu algoz.

Novidade importantíssima da Lei Maria da Penha foi a determinação de que


os processos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher devem ter
tramitação prioritária, conforme o art. 33, parágrafo único. Esta disposição é uma
das principais garantias que lei oferece na busca pela proteção efetiva à mulher. Ao
lado de outros feitos cuja matéria atrai a tramitação prioritária, como os crimes
hediondos e equiparados, os casos de violência doméstica ganharam destaque e
relevância em seu trâmite, permitindo a sua solução de maneira mais célere.
33

2.6 Das Prisões Processuais

2.6.1 Prisão em Flagrante Delito

No caso de crimes de violência doméstica ou familiar contra a mulher,


independentemente de sua pena, deve-se a lavrar o flagrante delito, e recolher o
suspeito à prisão, salvo nos casos em que o agente livra-se solto ou recolhe fiança.
O parágrafo único do art. 69 da Lei 9099/95, portanto, não é mais aplicável, uma vez
que, mesmo na hipótese de ocorrência de crime de menor potencial ofensivo, cuja
pena máxima é de dois anos, é necessária a lavratura do flagrante.

Cumpre ressaltar que tal medida é válida, inclusive, quando se tratar de


crimes de alçada privada. É que o art. 301 do CPP não faz distinção entre os crimes
de ação penal de iniciativa pública incondicionada, condicionada e ação penal de
iniciativa privada, e fala somente em “flagrante delito” no caso de crimes (estão
excluídas as contravenções penais, nos termos do artigo 41 da Lei nº 11.340/06).

2.6.2. Prisão Preventiva

O artigo 313 do Código de Processo Penal, por força do artigo 42 da Lei


11.340/06 passou a constar com o inciso de número IV, com a seguinte redação: “se
o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei
específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.”

Da mesma forma, o art. 20 da Lei nº 11.340/06 previu expressamente tal


medida cautelar de exceção, porém com requisito específico. A prisão preventiva
aqui prevista visa garantir a execução de medidas protetivas que obriguem agressor
e vítima. Nessa hipótese, há, ainda, a necessidade de fundamentação acerca do
risco à ordem pública, à ordem econômica, à aplicação da Lei Penal ou garantia da
instrução criminal.

Ilustrando tal situação, seria o caso de decretação de prisão preventiva a


ameaça exercida contra a mulher pelo agressor, quando ficou determinado que este
não deveria se aproximar ou comunicar-se com ela, mas, mesmo após a
34

determinação, voltou a importuná-la em sua residência, trabalho ou na rua, ou,


ainda, por meio telefônico. Ademais, esta deve ser pessoalmente cientificada
quando aquele for preso ou liberado da prisão, sem prejuízo da intimação do
procurador (art. 21).

De outro lado, a alteração trazida pela Lei nº 11.34/06 ao art. 313 do CPP,
tornou possível a decretação da prisão preventiva, nos crimes apenados com
detenção, em razão de ter o agente descumprido qualquer medida protetiva
determinada pelo Juízo de primeiro grau.

Todavia, cabe aqui um parênteses acerca das hipóteses de cabimento da


prisão preventiva. Se a finalidade desta prisão é assegurar a efetiva proteção da
mulher em uma situação de urgência, aquela que foi vítima de uma séria agressão e
que não foi beneficiada com uma medida protetiva de urgência, poderia ser
contemplada com a prisão preventiva do agressor que a ameaça em razão da
gravidade concreta do fato. No processo de adaptação da Lei aos casos concretos,
certamente surgirá essa necessidade.

Esse tipo de segregação revela o lado opressor da lei, mas se mostra


positiva, porquanto evita que situações aparentemente simples transformem-se em
casos mais sérios e penalmente relevantes. Não é mero instrumento de punição,
mas de garantia da integridade física, psicológica e moral da vítima e da instrução
processual.

2.7 Das Medidas Terapêuticas

Os Juizados de violência Doméstica e Familiar contra a Mulher devem


contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, integrada por profissionais
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Esta determinação
demonstra com clareza a intenção da Lei nº 11.430/06, em seu art. 29, de dar
tratamento diferenciado aos casos de violência contra a mulher, preocupando-se
não somente com o atendimento à vítima, mas com o tratamento do agressor, que
também possui desequilíbrio emocional.
35

Além disso, a Lei Maria da Penha alterou o art. 152 da Lei n 7.210/84 (Lei de
Execuções Penais), possibilitando ao juiz determinar o comparecimento obrigatório
do agressor a programas de recuperação e reeducação, trazendo à lume a
preocupação da lei com a reabilitação emocional não somente da vítima, mas do
ofensor. Assim, embora compulsória, essa conscientização acerca da nocividade do
comportamento, representa uma garantia à própria dignidade do ofensor, visto que o
procedimento certamente representa uma melhora em sua qualidade de vida.

Assim, a nova lei prevê o encaminhamento dos envolvidos a programa de


acompanhamento psicossocial para prevenção da violência doméstica, eventual
encaminhamento a programa de tratamento à dependência do álcool ou drogas (se
for o caso) e também a suspensão informal do processo por prazo razoável, de
modo a acompanhar o comportamento do agressor. Caso o agressor compareça
aos programas de acompanhamento, não haja novas agressões durante o período
da suspensão do processo, e a vítima informe que não possui mais interesse no
processo após o acompanhamento, é viável o arquivamento do feito por ausência de
interesse em agir na punição criminal.

Em contrapartida às acirradas críticas à Lei Maria da Penha, no sentido de


que possui um caráter altamente repressor e ineficaz, revela-se, nos arts. 29 a 32, a
imensa preocupação em se evitar a aplicação desnecessária da sanção penal. Ora,
o acompanhamento judicial é especialmente relevante para assegurar à vítima que a
situação está sendo monitorada pelo Estado, inclusive porque há dúvida razoável
sobre a situação de risco à mulher e, caso ocorram novas agressões, o
procedimento anterior não estará arquivado, mas será somado às novas agressões,
possibilitando, diante do agravamento da situação, uma punição mais séria.

Tais medidas representam uma resposta eficiente na prevenção da violência


familiar de nível menos grave e, ademais, ressaltam a observância ao princípio
constitucional da dignidade humana e à garantia dos direitos humanos.

Evidentemente, os profissionais atuantes nessas equipes multidisciplinares


devem receber capacitação específica no que tange à violência contra mulher, seja
no âmbito doméstico e familiar, ou nas demais relações afetivas, com especial
enfoque em direitos humanos, violência e relações de gênero, raça/etnia, orientação
sexual, deficiências mentais e físicas e relações de classe.
36

A equipe multidisciplinar configura importante suporte aos operadores do


direito (Juízes, Promotores de Justiça, Defensores Públicos e serventuários) no
atendimento aos casos de violência contra a mulher, uma vez que seus integrantes,
devidamente capacitados, poderão ser responsáveis pela efetiva restauração de
relacionamentos e pacificação dos conflitos.

2.8 Da atuação do Ministério Público

A Lei nº 11.340/06 impõe novas atividades e modos de atuação à instituição


ministerial. Em seus artigos 25 e 26 lei trata especificamente dessa atuação, mas,
em diversos outros dispositivos, faz referência à participação do órgão. A nova lei
estabelece que é indispensável a intervenção do Ministério Público em todas as
causas cíveis e criminais envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher,
conferindo-lhe, ainda, poderes de requisição aos órgãos públicos para assegurar a
proteção efetiva à mulher .

Além disso, o Ministério Público deverá atuar em conjunto com os demais


órgãos e entidades, públicas ou privadas, que, de forma direta ou indireta, estejam
ligados à proteção da mulher agredida e fiscalizar o funcionamento dos
estabelecimentos públicos e privados de atendimento à mulher vítima de violência.

A atuação do órgão ministerial poderá ser como fiscal da correta aplicação


da lei e como parte, quando poderá requerer medidas protetivas de urgência e
propor ações civis públicas na hipótese de irregularidades no funcionamento dos
estabelecimentos públicos e privados de atendimento à mulher vítima de violência e,
obviamente, a ação penal pública incondicionada.

Forçoso reconhecer que a autuação do Ministério Público, em qualquer tipo


de processo, é extremamente relevante, porquanto este órgão tem por função
precípua zelar pela aplicação integral e devida da lei. E no caso da Lei Maria da
Penha, o órgão ministerial exerce essa importante função de forma ampla, com
participação na maioria dos institutos previstos. Ademais, é responsável por acionar
os poderes, administrativa ou judicialmente na efetiva implantação das medidas
37

protetivas da lei, especialmente no tocante ao respeito à dignidade da pessoa


humana e à proteção de gênero.

2.9 Diretrizes para a União, os Estados e os Municípios

No mesmo sentido de uma autuação preventiva de novas agressões, a Lei


Maria da Penha também estabelece diretrizes para que a União, os Estados e os
Municípios implantem políticas preventivas à violência doméstica (art. 35), tais como
programas e campanhas de enfrentamento à violência doméstica e familiar, centros
de educação e reabilitação para agressores, e uma série de serviços especializados
à mulher (atendimento multidisciplinar, casas-abrigo, delegacias, núcleos da
defensoria pública, serviços de saúde, etc).

Nas eventuais reuniões de trabalho ou estabelecimento de estratégias que


digam respeito à aplicação da lei ou à sua divulgação, as entidades estaduais e
federais ligadas à segurança pública, à saúde, à assistência social, trabalho e
habitação, devem ser chamadas à cooperação e à integração, a fim de que cada
uma dê parcela de contribuição na sua esfera de atuação, conforme previsão do art.
8º da lei.

É importante destacar que as ações do governo e do Poder Judiciário só


serão vitoriosas se houver a participação ativa da sociedade e articulação
institucional. Além do fortalecimento e criação de Juizados Especiais de Combate à
Violência Doméstica e Familiar é mister a estruturação de toda a rede de proteção à
mulher.

O Ministério da Justiça, por meio do Programa Nacional de Segurança


Pública com Cidadania (PRONASCI, Lei nº 11.530/07), é o responsável pela busca
de integração de políticas sociais com políticas de segurança pública para a redução
da criminalidade no país, aí incluída a violência contra a mulher. Assim, o
PRONASCI tem entre suas funções, estabelecer ações de efetivação da Lei Maria
da Penha, cuja incumbência de implementação ficou a cargo da Secretaria de
Reforma do Judiciário.
38

O objetivo precípuo da Secretaria de Reforma do Judiciário, no que


concerne à Lei Maria da Penha, é fortalecer a integração dos organismos
responsáveis por articular políticas públicas para as mulheres, construindo vínculos
permanentes entre todos as esferas de poder, proporcionando o envolvimento pleno
dos diversos seguimentos sociais relacionados.

As jornadas de trabalho para debates e aprovação de metas têm sido


agendadas para novembro de cada ano. A proposta da Secretaria de Reforma do
Judiciário para efetivação da Lei consiste nos seguintes eixos de composição:

a) articulação e apoio financeiro à implementação e fortalecimento de


Juizados Especiais de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, com suas respectivas equipes de atendimento multidisciplinar;
b) apoio financeiro à implementação de Núcleos especializados nas
Defensorias Públicas e no Ministério Público;
c) capacitação dos aplicadores do Direito, agentes de Segurança e
demais profissionais envolvidos em políticas de gênero e aplicação da Lei
Maria Penha;
d) apoio na implementação de centros de referência, centros de
atendimento integral e multidisciplinar para as mulheres e seus respectivos
dependentes, além de apoio aos programas oficiais e comunitários de
proteção ou atendimento já existentes;
e) criação de banco de dados unificado para diagnosticar a
implementação da Lei e possibilitar a parametrização dos procedimentos.

A metodologia a ser adotada abrange, ainda, dentre outros expedientes:

a) reuniões, audiências, seminários e consultas aos parceiros na


execução da ação, em especial Tribunais de Justiça, Procuradorias de
Justiça, Defensorias Públicas Estaduais, Governos Estaduais e Municipais,
sociedade civil e representantes de programas já existentes;
b) divulgação das ações por meio da mídia impressa, eletrônica, televisiva
e radiofônica;
c) assinatura de acordos de cooperação com os parceiros Institucionais;
39

d) assinatura de convênios: repasse de recursos aos parceiros para


auxiliar na efetivação da Lei (estruturação física dos locais de trabalho,
equipamentos, capacitação dos profissionais que atuam na rede, elaboração
de cartilhas, divulgação de campanhas educativas sobre o tema, entre
outros).

No mês de junho do corrente ano, a Escola Nacional de Aperfeiçoamento de


Magistratura e o Conselho Nacional de Justiça promoveram um encontro no
Superior Tribunal de Justiça. Tinha por objetivo a apresentação de propostas de
trabalho acerca da efetivação da Lei nº 11.340/06, com foco específico no
aperfeiçoamento dos magistrados no tema violência doméstica e familiar contra a
mulher. Este encontro atendeu à Recomendação nº 9, de 06 de março de 2007,
editada pelo Conselho Nacional de Justiça, no sentido de promoção de cursos de
capacitação multidisciplinar em direitos humanos/violência de gênero e divulgação
da Lei Maria da Penha voltados aos operadores de direito, preferencialmente
magistrados.

Assim, o que se observa é que o Governo Federal e o Poder Judiciário têm


realizado ações positivas no que tange à efetiva implantação da Lei Maria da Penha,
fugindo totalmente do tradicional sistema de fragmentação de ações, mas ao
contrário, propondo diálogos e avanços de forma integrada entre os diversos setores
envolvidos no combate à violência contra a mulher, preservando, todavia, sua
autonomia.
40

Capítulo 3
DADOS ESTATÍSTICOS ACERCA DA EFETIVIDADE DA LEI
Nº 11.340/06

O controle estatístico é método mais eficaz de análise do desenvolvimento


de um comando normativo e de sua adaptação à realidade que procura modificar.
Com efeito, a partir do número de casos caracterizadores da violência de gênero, é
que se conclui pela eficácia afirmativa da nova lei ou, ainda, se estabelece a
necessidade de alteração procedimental. Assim, os casos concretos é que externam
a viabilidade da lei.

Neste capítulo serão apresentados dados estatísticos levantados pela


Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), órgão integrante do
Ministério da Justiça, no período de outubro de 2006 a maio de 2007, primeiro ano
de implementação da Lei Maria Penha, acerca da sua aplicação em âmbito
nacional 16 . Infelizmente, não foram disponibilizados dados mais atuais, em nível
nacional, até o presente ano.

Embora o período de análise do impacto da Lei Maria da Penha na realidade


do país seja pequeno e não permita uma verificação aprofundada da adaptação da
lei aos problemas que se propõe a enfrentar e erradicar, tal pesquisa revela o
caráter extremamente afirmativo da Lei nº 11.340/2006. De fato, como se observará,
a população recepcionou bem a nova lei, utilizando seus institutos, o Governo
Federal tem cumprido seu papel de criação de políticas públicas que acelerem a
efetiva implementação, assim como o Poder Judiciário, o Ministério Público, a
Defensoria Pública e demais órgãos não governamentais envolvidos no trato da
violência contra a mulher tem atuado em conjunto para preveni-la e combatê-la.

De acordo com o estudo realizado, poucas pesquisas apontam para o nível


de violência no país e para a gravidade da situação (cfr. ressaltado no subitem 1.1.,
do Capítulo 1 deste trabalho). Por tal razão, o Governo Federal determinou a
construção do Sistema Nacional de Informações sobre a Violência contra as

16
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), Subsecretaria de Programas e Ações Temáticas e
Subsecretaria de Planejamento. Enfrentamento da Violência contra a Mulher – Balanço 2006-2007.
41

Mulheres e a consolidação do Observatório de Implementação da Lei Maria da


Penha, formado por um consórcio entre organizações não-governamentais e
núcleos de pesquisas de universidades públicas brasileiras (Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Pará, Universidade de Brasília,
Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal do Rio de Janeiro),
coordenado pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA),
como o objetivo monitorar a implementação e a aplicação da legislação em todo o
território nacional. Os dados fornecidos por esses dois instrumentos serão os
responsáveis pela construção de um banco de dados e informações estatísticas
para subsidiar a formulação, o monitoramento e a avaliação de políticas de
enfrentamento à violência.

Também foi criada a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, serviço


criado pela SPM, em 2005, que objetiva primordialmente atender e orientar mulheres
em situação de violência e que também representa importante instrumento para a
coleta de informações. Em análise realizada no mês de julho de 2007, quando a
Central registrou 20.385 ligações, foi possível obter, por exemplo, os seguintes
dados: 94% dos registros eram relacionados à violência doméstica e familiar; 73%
dos registros de denúncias foram causados por violência praticada pelo cônjuge;
80% das vítimas de violência relataram ter filhos; 59% dos registros de denúncias
informaram que a freqüência com que a violência ocorre é diária; 57% dos registros
informaram que os agressores utilizam entorpecentes; 70% das mulheres que
registraram o relato de violência alegaram estar correndo risco de espancamento ou
morte.

O atendimento ocorre da seguinte forma: orientações jurídicas, recebimento


de denúncias sobre casos de violência, encaminhamento para os serviços
oferecidos pela Rede de Atendimento do município ou região próxima à residência
da vítima. O serviço funciona 24 horas, sem interrupções, e constitui uma importante
porta de entrada para a Rede de Atendimento.

Verificou-se, também, no estudo, que houve ampla mobilização da


sociedade, que efetivamente aprovou a Lei Maria da Penha. A lei estimulou, ainda, a
inserção do tema violência contra as mulheres no cotidiano da vida política. O
movimento de mulheres e feministas, tribunais de justiça, defensores públicos,
42

dentre outras instâncias, organizaram congressos e seminários para discutir os


propósitos e as inovações da Lei.

A cobertura do tema violência contra a mulher foi amplamente divulgada


pelos veículos de comunicação, de forma mais sistemática e qualificada, citando,
inclusive, o cumprimento ou não das determinações da norma em comento. De
acordo com o estudo da SPM, realizado em agosto de 2007, quando a Lei
completou um ano de vigência, foram publicadas na imprensa escrita 74 matérias
sobre este tema.

A implementação da Lei provocou o crescimento do número de serviços da


Rede de Atendimento às Mulheres em situação de violência, principalmente no que
se refere à criação dos Juizados e Varas de Violência Doméstica e Familiar contra
as Mulheres. Com efeito, em todo o país, no período de agosto de 2006 a setembro
de 2007, foram criados 15 Juizados e adaptadas 32 Varas.

Com a mudança de procedimento das delegacias estabelecidas pela Lei nº


11.340/06, estas ganharam força, uma vez que a autoridade policial assumiu
importante função no enfrentamento à violência contra a mulher, conforme relatado
no item 2.2, do Capítulo 2. Os resultados a seguir referem-se às respostas enviadas
por 184 delegacias, o que dá um total de 48% do universo existente na época da
pesquisa (399). Entre outubro de 2006 e maio de 2007, foram instaurados 32.630
inquéritos, uma média de 177 inquéritos por Delegacia Especial de Atendimento à
Mulher - DEAM. O índice foi apontado pela pesquisa da SPM como positivo ao se
levar em conta o tempo necessário para se promover mudanças de rotinas de
atividades e o rompimento da cultura e dos padrões estabelecidos. O número de
medidas protetivas solicitadas foi de 16.121, o equivalente a 88 por DEAM. As
delegacias das regiões Sul e Centro-Oeste foram as principais responsáveis por
manter a média nacional em um patamar elevado.

Consta, ainda, das pesquisas levantadas, que os Juizados e Varas


Especializados em Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher instauraram
10.450 processos criminais, o que equivale à média de 523 processos por serviço.
Esta análise foi realizada levando-se em conta os 20 Juizados e Varas adaptadas
que responderam os questionários, de um total de 47 existentes. Apesar do Sudeste
ter sido a região com o maior número de Juizados e Varas criados, os das regiões
43

Centro-Oeste e Norte têm sido mais eficientes quando se observa o número de


processos instaurados: 1.751 e 601 respectivamente.

No mesmo período, os Juizados e Varas autorizaram 5.247 medidas


protetivas solicitadas pelas DEAM – uma média de 262 medidas por Juizado,
correspondente a um terço das solicitações. Entre as medidas, destacam-se o
afastamento do agressor do lar e a proibição da aproximação. Foram decretadas
864 prisões em flagrante e 77 prisões em caráter preventivo, numa média de 43
prisões de agressores em flagrante e quatro preventivas por Juizado/Vara. Os
Juizados e Varas do Centro-Oeste foram os que mais concederam as prisões.

A Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, foi um dos mais importantes


instrumentos de análise dos primeiros impactos da Lei Maria da Penha. No período
de outubro de 2006 a maio de 2007, foram 11,1 mil pedidos de informações sobre a
Lei Maria da Penha, o que dá uma média mensal de 925 atendimentos. Nesse
espaço de tempo, o Ligue 180 recebeu mais de 73 mil atendimentos, sendo que
mais da metade (57,6%) resultou no encaminhamento de mulheres para os serviços
da rede, principalmente para as DEAMs (85%) e para os Centros de Referência
(10%).

O segundo tipo de demanda mais procurado foi a prestação de informações


sobre direitos (26,7%). A maior solicitação dos usuários foi por esclarecimentos
sobre a Lei Maria da Penha, com 11,1 mil atendimentos para o período, o que
equivale a 925 atendimentos diários. O número de solicitações para esclarecimento
acerca da Lei aumenta gradativamente. Nos primeiros meses após a divulgação do
comando normativo, a média mensal era de 266 pedidos de esclarecimentos. Um
ano depois, este número saltou para mais de 5,4 mil. Este número indica que a Lei
Maria da Penha tem se tornado norma conhecida pela sociedade, potencializando-a
como instrumento de peso no enfrentamento à violência contra as mulheres. As
denúncias também compõem número significativo no atendimento, constituindo
10.792 ligações no período. A busca por serviços surpreende: foram prestadas
42.305 solicitações, o que evidencia que a população confia nos meios
disponibilizados para prevenção e repressão da violência contra a mulher.

O Poder Judiciário do Estado do Mato Grosso também levantou dados


acerca da aplicação da Lei nº 11.340/06. A Primeira Vara Especializada no Combate
44

à Violência Doméstica e Familiar de Mato Grosso atesta a constante diminuição nos


índices de reincidência, devidamente catalogados. De acordo com os dados
fornecidos, nos 05 (cinco) primeiros meses de vigência da Lei Maria da Penha, com
a integração sistêmica de trabalho e de divulgação do novo comando legal
(palestras encontros, capacitação, seminários, reportagens, entrevistas e outros
instrumentos de comunicação), foram registrados apenas 71 casos de reincidência
criminal do agressor, dos mais de 3.800 casos já tramitados ou em trâmite na Vara.
O decréscimo das reincidências ocorreu em mais de 50% dos casos. O número de
denúncias também aumentou, demonstrando, proporcionalmente, a conscientização
da parcela feminina 17 . Importantes dados foram coletados também no Distrito
Federal, especificamente junto à Vara do Juizado de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher de Brasília, em contato telefônico. O período de levantamento é de
Setembro de 2006 a Outubro de 2007, ou seja, primeiro ano de vigência da Lei nº
11.340/06, quando existia apenas este Juizado Especial. De um total de 4.160
processos deflagrados, somente 1.004 foram arquivados, restando 2.831 em
tramitação no período. Foram concedidas 1.774 medidas protetivas, instaurados
1.198 inquéritos e confeccionados 248 termos circunstanciados. Quanto às prisões,
ocorreram 152 em flagrante e foram decretadas 5 prisões preventivas. O percentual
de desistência foi menos de 10% dos casos.

O Distrito Federal também possui núcleos específicos para atendimento de


agressores. Em entrevista à Agência Brasil, a presidente do Conselho dos Direitos
da Mulher do DF, vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania
do DF, Mirta Brasil Fraga, afirmou que o agressor é encaminhado compulsoriamente
ao núcleo de atendimento (conforme visto no item 2.7, do Capítulo 2, deste
trabalho), mas modifica seu comportamento à medida que recebe o adequado
tratamento psicológico. A medida terapêutica mostrou-se eficaz, tanto que reduziu
consideravelmente o número de reincidências na cidade satélite de Samambaia. Os
trabalhos de conscientização são focados principalmente no homem, informando-os
acerca da existência da Lei Maria da Penha e das conseqüências de
comportamentos que violem qualquer tipo de direito da mulher.

17
CAMPOS, Amini Haddad. Tribunal de Justiça de Mato Grosso: Exemplo de Funcionalidade da Lei Maria
da Penha. Mato Grosso: 2007.
45

A duração do tratamento de cada agressor no núcleo de atendimento é


definida pelo juiz, variando de seis meses a dois anos. O tratamento psicológico
inclui toda a família e envolve orientações sobre planejamento familiar e cidadania,
podendo durar de seis meses a dois anos, de acordo com a determinação judicial, e
tem conseguido, em muitos casos, estancar a violência ou, pelo menos, diminuí-la
consideravelmente. No Distrito Federal, a Casa Abrigo, mantida pelo governo,
recebe cerca de cinco mulheres vítimas por dia. Atualmente, cerca de 72 mulheres
estão abrigadas no local.

As estatísticas recentes demonstram que o impacto social e legal da Lei nº


11.340/06 sobre o Brasil é altamente positivo. O comando normativo tem se
incorporado à realidade do país e adentrou os lares, fazendo-se conhecida pelos
agressores e, efetivamente, utilizada pelas mulheres vítimas da violência.
46

CONCLUSÃO

A Lei nº 11.340/06, Lei Maria da Penha, veio como resposta à dívida estatal
para com uma parcela da população que se encontrava fora da proteção do direito:
as mulheres vítimas de violências. Em 22 de setembro de 2006, a Lei batizada em
homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de diversas atrocidades
cometidas por seu ex-marido, entrou em vigência com o objetivo de responder
satisfatoriamente à realidade de milhares de mulheres submetidas às mais variadas
formas de violência. A edição da Lei nº 11.340/06 representou um avanço
significativo no ordenamento jurídico, no que tange ao enfrentamento da violência
doméstica e familiar contra a mulher, antes tratada em esparcos dispositivos
isolados e sem força implementativa.

De fato, em atendimento às recomendações do Comitê da Convenção para


a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Comitê
CEDAW), a nova lei prevê o incremento do sistema protetivo da vítima, envolvendo
medidas de caráter preventivo e repressivo, jamais observado no trato da violência
contra as mulheres. A valorização da vítima é um dos aspectos mais relevantes da
lei que, ao tipificar a violência doméstica e familiar contra as mulheres como crime,
conferiu a devida importância ao enfrentamento do problema.

O microssistema de proteção à família e à mulher que compõe o conteúdo


da nova lei congrega um conjunto de princípios, diretrizes e regras que abordam a
questão da violência em toda sua complexidade, objetivando efetivamente,
resguardar a entidade familiar e assegurar à mulher o direito à sua integridade física,
sexual, psíquica e moral. A pluralidade de causas e diversidades de formas de
manifestação da violência fez com a lei previsse, além das medidas de prevenção
através de mecanismos sociais, como escola, família e meios de comunicação,
respostas penais, de reparação do dano causado à vítima e à sociedade com o
cometimento do crime. Assim é que a Lei Maria da Penha deu destaque ao exercício
da punição estatal como meio de coibir a reiteração delitiva, mas também trouxe a
aplicação de medidas protetivas que afastassem a necessidade de segregação,
47

mas, ao contrário, tratassem da problemática da violência com atendimento


especializado não só à vitima, mas também ao agressor, humanizando o tratamento.

O procedimento preconizado na Lei nº 9.099/95, foi afastado pela Lei Maria


da Penha, que mudou a forma de tratamento da violência contra a mulher, afastando
a mercantilização das infrações, amplamente utilizada nos Juizados Especiais
Criminais, por meio da inútil pena pecuniária e das obsoletas cestas básicas, que
nunca solucionaram os conflitos, mas, ao contrário, reforçavam a impunidade. A
nova lei prevê a criação dos Juizados ou Varas de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, especializados no trato deste tipo específico de violência, com
atendimento multidisciplinar; criação de novas Defensorias Públicas da Mulher e
redes de atendimento especializado.

Os novos Juizados possuem competência híbrida para processamento e


julgamento de causas cíveis e criminais, o que imprime economia e celeridade ao
feito. Assim, a Lei Maria da Penha permite à vítima, num mesmo processo, ao lado
da condenação criminal do seu agressor, obter a fixação de pensão alimentícia,
guarda dos filhos e separação.

As medidas protetivas de urgência, por sua vez, são uma espécie de caro
chefe da Lei nº 11.340, porquanto permitem uma célere e efetiva proteção à mulher
vítima de violência, ou que está na iminência de sê-lo. O atendimento na esfera
policial é especializado de forma a resguardar de imediato a integridade física da
vítima. Outras medidas necessárias são encaminhadas ao Juízo em 48 horas, que
também as decreta no mesmo lapso de tempo.

As prisões processuais também estão previstas na nova lei. Hoje é possível


a realização de prisão em flagrante delito do agressor e, também, sua prisão
preventiva, no caso de descumprimento de medidas protetivas determinadas pelo
Juízo. Dentre as principais medidas protetivas, destacam-se: suspensão do porte de
armas, afastamento do agressor do lar, suspensão de visitas aos filhos etc, inclusão
das mulheres em programas oficiais de assistência social, atendimento à mulher em
situação de violência por serviços articulados em rede, incluindo saúde, segurança,
justiça, assistência social, educação, habitação e cultura.
48

No âmbito judicial, as alterações também vieram a favor da vítima. Ponto


importante diz respeito à representação, da qual a vítima só poderá desistir antes do
recebimento da denúncia, em audiência designada pelo juiz especialmente para tal
fim e depois de ouvido o Ministério Público. Neste aspecto, a nova lei estimula esta
mulher a dizer não às situações que tem vivido, a enfrentar seu agressor por meio
do aparelhamento estatal e lutar por uma vida com mais dignidade, porquanto o
prosseguimento do feito evitará nova violência contra ela e conscientizará o agressor
de que ele pode ser punido. A comunicação de todos os atos processuais à vítima e
a proibição de que seja portadora de intimação ao agressor são determinações que
asseguram a integridade física e psicológica daquela.

A Lei nº 11.340/06 impõe novas atividades e modos de atuação à instituição


ministerial. Em seus artigos 25 e 26 lei trata especificamente dessa atuação, mas,
em diversos outros dispositivos, faz referência à participação do órgão. A nova lei
estabelece que é indispensável a intervenção do Ministério Público em todas as
causas cíveis e criminais envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher,
conferindo-lhe, ainda, poderes de requisição aos órgãos públicos para assegurar a
proteção efetiva à mulher .

A atuação do órgão ministerial está amplamente prevista em diversos


dispositivos da novel legislação, seja em conjunto com os demais órgãos e
entidades, públicas ou privadas, que, de forma direta ou indireta, estejam ligados à
proteção da mulher vítima de violência, seja como fiscal da correta aplicação da lei
ou como parte, quando poderá requerer medidas protetivas de urgência e propor
ações civis públicas na hipótese de irregularidades no funcionamento dos
estabelecimentos públicos e privados de atendimento à mulher vítima de violência e,
obviamente, a ação penal pública incondicionada.

No mesmo sentido de uma autuação preventiva de novas agressões, a Lei


Maria da Penha também estabelece diretrizes para que a União, os Estados e os
Municípios implantem políticas preventivas à violência doméstica (art. 35), tais como
programas e campanhas de enfrentamento à violência doméstica e familiar, centros
de educação e reabilitação para agressores, e uma série de serviços especializados
à mulher (atendimento multidisciplinar, casas-abrigo, delegacias, núcleos da
defensoria pública, serviços de saúde, etc).
49

E ações governamentais têm sido realizadas em conjunto com o Poder


Judiciário, o que se observa pelo empenho em fortalecer e criar Juizados Especiais
de Combate à Violência Doméstica e Familiar. O Programa Nacional de Segurança
Pública com Cidadania (PRONASCI, Lei nº 11.530/07), do Ministério da Justiça, tem
estabelecido ações de efetivação da Lei Maria da Penha, por meio da Secretaria de
Reforma do Judiciário. O objetivo principal e fortalecer a integração dos organismos
responsáveis por articular políticas públicas para as mulheres, construindo vínculos
permanentes entre todos as esferas de poder, proporcionando o envolvimento pleno
dos diversos seguimentos sociais relacionados.

Finalmente, os dados estatísticos revelam que a inovadora Lei Maria da


Penha tem se estabelecido como instrumento normativo afirmativo no combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher. Com efeito, segundos as estatísticas
nacionais, novos Juizados Especializados tem sido implantados em todos os
Estados brasileiros, e as medidas penais e cíveis previstas na Lei 11.340/06 são
aplicadas positivamente, implicando, inclusive na redução da reincidência.

A máquina estatal ganhou confiabilidade por parte da população feminina,


que tem solicitado com freqüência o atendimento policial e judicial, além dos
serviços de informação e atendimento, como o Ligue-180.

Ora, tal quadro demonstra que a Lei Maria da Penha significou uma
ampliação dos institutos do Direito Penal, ao universalizar e afirmar o direito das
mulheres à não se submeterem à qualquer tipo de situação de violência. De fato,
não há dúvidas que a Lei Maria da Penha trouxe instrumentos importantes para uma
postura ativa do Estado perante o problema da violência contra a mulher, criando
instrumentos de atuação mais eficientes na prestação jurisdicional. O débito estatal
com relação às mulheres vítima de violência foi sanado com a edição da Lei Maria
da Penha e eventuais questionamentos acerca da inconstitucionalidade ou
impropriedade de seu conteúdo não devem se sobrepor à sua aplicação, que tem
sido extremamente positiva. A novel legislação de prevenção e combate à violência
doméstica e familiar contra a mulher não veio como cajado repressor e tirânico em
favor da mulher, mas meio eficaz de coesão familiar e de garantia da própria
dignidade humana.
50

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