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CCEERTZ, Clifford 1978 "A Interpretardo das Cultures. Rio de Janeiro: Zahar Etores Organizacion Socal de ls Docrinas Cuaranes da la Compania de ess. Barcelona: Gustavo Gili Editores, HUNT, Lynn 1992 "A Nove Hstria Cultural, S40 Paulo: Martins Fontes LEMESTRALSS,C. 1975 OFetcioe sua Magia. AntropolgiaEstrturl I. Rio de Janeiro: Tempo iecimento Comum, Compéndio de Sociologia Compreensive, Brasilien, Paulos 2) depois do pés: 0 caso da etnografia. In: Revista de Antropologa, lo, p. 8:29. Paraguay. Rosirio: Equipo Difusor de Estudios de ROMANO, Ruggiero (dit) 1985" Encclopédia Enaud. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, SAU, Marshall 1990" thas de Histria, Rio de Janeino: Jorge Zahar Editor. Since TELEZ, Carmen 1993 La’ medina en las lenguas americena yflipinas Servicio de Publicaciones de la Universidade d ices. Alcala de Henares: de Henares, SUSNIK, Bi 1973-80 borigenes del Paraguay, I. Emohistra de los Guaranies(Epoa Coli). 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Sio Paulo: Brasilense. 196 ‘Tempo, , FESTA E ESPACO NA REDUGAO DOS GUARANI Maria Cristina Bohn Martins Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS ‘a0 Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil jogrficaresultante d Companhia de Jesus, seja para exalté- fato essenciai de considerar que a8 Nas ltimas décadas, e acompanhando um processo que conduziy a uma aproximacio _rescente entre a striae Antopologia no que ji se chamou de Histxa Antropogica ou Emo-Histéria, e com o objetivo explicto de perc icionais que 0s apresentavam como meros espectadores dos processos colo storiografica passou a interessar-se pela questo que envoWve a soci reducbes. roposta de trabalho que estamos desenvolvendo, e que deverd ter boragdo de uma Tese de Doutoramento, pretend, justamente, iwestigaro processo de itegracio dos sociedade colonial na sua vertente missioneira ecidas na antiga Provincia do Paraguai pode ntagio de uma nova ordem cultural que todo Projeto colonial tem como ideologia subjacent De acordo com Bartolome tuna voluntad decidida de substi i “de una manera 0 otra hay en el proyecto colonial suplantar un pueblo por otro pueblo - nueva masa se dentro de um projeto politico de integragio do 1580 com o trabalho dos francscanos, operourse, de umm abrandamento dos confit que opuntam na regio, os guaran aos colons espanhéis. cet, 1980). 0s guarani porém, ¢ podemos percebélo através do pronunciamento de alguns de 1 eceo e mesmo sua oposicio para com as drsticastansformagies, plo, ereligiosos ‘poderia derivar ainda de fendmenos naturais e de cionava a “diving abundéncia” da qual falow 0 i elo, conti pare que # deambulso por um ample ‘que ningin otro pueblo de todo el Rio de rém, que os guaranindo eram ndmades e sim “colon din 3g035, em locas que nio ultrapassam os 400 m sobre o nivel do m Se puede incso hablar de une there guareni” que procurben concientemente, 6a que se ‘edeptaen. pro que ells mimostrabajabon por que tetra su identidad cura. (Met, 1991: p. 08, Esta seria a “terra boa", capaz de sustentaro trabalho agricola ea instalagdo da aldeia, tum espace existencial que os guarani definem como “tekoha’, aquele em que dio-se as 19 condigdes que possibiltem o seu “teko™, que jé traduziu-se como “modo de ser”. E 0 lugar, como diziam ele ‘onde vivemas segundo nosso costumes”. “Oe como nd atria ee, shad tener de ps ee econdmicos, sociais, religiosos ¢ politicos”. (Melid, 1989, p. 336) Bes ‘A desrgio do jesuta Mri de Loenzan de 1620 conta dst “dams guaran “Es gente labradora, siempre sienbram en montes y cada tres aio: oN 195 336) E da articulagto entre 0 mato lavoura, e um espaco habitivel of aberto, que emerge 0 espaco de vivéncia dos guarani € portanto, aquele que fundamenta a economia de Feciprocidade e que se manifesta de modo pleno nas festas & boa a tera que, nas ocaioes ropcia, permite boas e concorrdas festas. As fests estdo tam ‘Mais do que uma mera con de vida social, 1ogdo de trabalho coletivo: poy. se da materialzasio de um ideal trabalho comum, “socalmente”& pepy,convite ifestacio de vida social, tal como foi regis: ial Diego Torres Bollo observa esta estret omunitrios:"..y todas ls vees que an de a otra cosa de comunidad, hazen boracheracomun, que dura des o tres dias, (CA p. 88) Diante do farto consumo de comida e bebida, as teligiosos como a exteriorizagdo de um comportamento im 5 tribas foram vistas pelos € de priticas condenives: “tn vind elec 0 pry Ug de rr cre tabs tae eer exhratr yo eran in en ptr 9 00 or mp a Ps ents on ne er eaten ne | EA, 17 a pa) 0s registros no dio realmente conta, do caster reigioso ¢ de sociabilidade destes acontecimentos, em que superamse os limites do parentesco para generalizarse 0 dom por toda a sociedad. No entanto, se as antiga “cauinagens” deveriam ser combatidas por ireconciliéveis y sna medida do posiveldscplinadas, ram os jesutas em apresentar 20 reve lgado &habilidade com que sm 1753, na defesa dos povoados ameagados pela reformas iustradas do século ios aldeados falam das reducdes como a “su terra, & porque hes foi ‘como uma “terra boa” que thes permitisse viver como guaranis. Redugbes, parecem querer (0s festvastribais istércos, certo que naquelesaspectos que nioaffontassem “Esta em vigor le ntgu costumbre de jntrse os doings fests mayors parla instrocién el ctecismo y poe il sermén qu es rece su Pore]. Menconando sno del paso los Jiloos polos eis a eablo, mise, as trfls[.". QMCAL, 1951: p. 349). 0s missionérios avaliavam bem a importancia assumida pelas festas entre seus catecimenos, entendendo que "todas esta |. iven para honesto entretenimiento en sus pueblos, ora que no les vencatentacin de huts y par que po los os ycon..| delete del alma y cuerpo les entren las cosas de Dis”. (MCAII, 1959: p. 35) sora também elas sdo revestidas de solenidade e preparadas cuidado- Yass pour os maestros quand su prabez ls permite celerar las fetviddes dels Pascias 1 utes con toda solennided, con daca, nsicasy rego pubico of modo que sone |... Y pera fests de os Ptronos y titles dels pueblos Se conbidon ls maestros unos a ota de los pueblos yredeciones veins, eando congo sus musics dara... (MCA, 1958: p. 35. Pode-se perceber que mesmo os comvites,caros por conferiem honraria na cultura tradicional do grupo, continuam sendo valorizados. A "generalizac3o pelo dom aparece af, ‘dentfcada como “caridade cist", num easo tipico de comportamento tradicional valoriza- do. (0s missionérios mostraram ter percebido que a manutenga0 das formas tradicionais de trabalho coletivo e festvo era condigao neceséria para a aeitacdo pelo grupo das tarefas implicadas no sustento da vida dos aldeamentos. Mesmo um certo de grau de tolerancia com ‘0 consumo de bebidas alcosica teve que ser observado, ao menos nos tempos incias. “A media bay aris cote en las ade los més principle. Dales l pad por a mata ne Previn les de sus semesters cantiad de bette y de mat, preservam a importancia do en een rnd pra ESS sateen CCertamente que, em um novo cont. alder iportina coneride as coten' conse “deep oe ees bida, as dancas e cantos. agate 7 © expediente de recorrer is fests e slenidades como recurso de atragioe envolimento os indigenas foi fertamente utilizado pels jesuitas em seu trabalho catequetico Paced a alga, aia danas o“tasordanest” itn. a bee € tne 0 taba eamtivo cm es oe fan wet, Colac etbemese na comune mentos que fazem dela outa festa, uma festa de reunido a fim de sues, fnapdo¢ educaga. to lad do ctequeseeconcetaco em pooados que nega elo mato, a "humenzalo" dats Indios implica tame a ais, pr 202 padraos6cio-econdmico que dependia de uma crescente racionaizagao das tarefis produtivas, © que passava pela necessidade de uma acomodacio aos padres modernos de trabalho. orizago cada vez mals acentuada do trabalho regular processa- na¢io do écio. Tal conscigncia do “dade trabalho” € realcada sede ssagem do tempo. tas objetivava também, acomodar os guarani a esta nova imensio do tempo e do trabalho, A vida em reducio procurou, assim, rodear o labor produtivo de uma aura modeladora da personalidade ho aso ds reas estas xa incertae consis napssogem de um Yodo tempo ire ase ¢ ur "tempo para tad’ macado plo rego. ( Chamor Aguelo, 1984: p. 162) © ritmo de trabalho tradicional marcado por um tempo préprio e nfo orientado pelo sentido de acumulacio, teria que ser reconvertdo por novos padres: “code publ hey un 0 dos reloges de rds, unos hehas por os indi, ers camprados en ‘Buenos Ais, por ls cules ns govrames ev lr dstnbucionveligis”. c. por Chamorro ‘Argue, 1994p. 162) ‘A reduglo dos guarani a uma nova temporalidade era to importante para 0 projeto missionério, que chegou-se a escrever um liro sobre o perfeito uso do tempo: “Ara Poru ‘Aguiyey Haba’. Nele: “Ensa el etor los ins, punt por punto, com pasar el di integra santa ydgnamente, ya ‘ea trabajando en casa, eaten e apo, oa camino iki assed a Sonta Mise, ‘ora rectndo el Santo Rosario Hacnd colar era coset por Chamorro Arguco, 1994, 134). ‘Assim cada povoado devera ter 39 menos um reldgio pelo qual o cotidiano diario era dividido em momentos dedicados 20 cultoe outro 3s atividades produtivas, introduzindo os ‘guarani em no universo padronizado da precisio. Os desvios nesta vivéncia padronizada do tempo eram reprimidos por um sempre presente aparato simbélico: “or anbén un get que trabjaa enum ia de fete pore le mon una bivoray todos lovin lo atrburo que eo castigo de Dir porque se acpove cundo aude estar enl Yglsi Le CAL, 1951: p- 225, A transformagio da ade em povoagBes com bases econdmicassolidamente cestabelecidas na agrcultura e ara consumo intemo e na exportagio da ervarmate, {oi um processo gradual e resultado de uma decsio politica por parte dos dirigentes religio- 203 ida complementada pela de reducio ro: aldear para cvlzare evangelzar em princpias de século XVI marcavam pela cou ‘couro, 20 serem expulsos os jesuftas em 1767, audquirido uma nova conformagao: construgdes de pedra, amplas pracas € Bs rag “Ao se conretza em fins do sealo XVI, wn nove mode urbana configured sore © bese pragma de erperitnia jestie,€ possl eonsttar @canflutncia dos models ters de Vario, S60 Toms de Aquino « as Ordennzas de Poblacion (1573) no tcante& slo des arages leaizaies «ds dds estas descaliaro dor espogs urbane presents nes redues(Gutiee, 1987: p. 28, A regularidade do plano dos Povoados seguia atradigio das cidades espanholas, com a5 ruas paralelas e a praca central onde instala-se a igrej, enquanto a organizagio socal intema das casas comunais obedecia aos costumes da tradigio indigena. A configuragao dos “pueblos” € originada pois, de de uma efetiva adaptagio da k Segundo Ramén Gutierrez, as missées jesuiticas do Paraguai constituem 0 tinico sis- tema de povoados que ‘Ao lado do tracado regular de ruas insere-se uma vasta praca central que permite o estenderse do olhar. Els rectia 0 ida comunititia representado ante- 24 ‘owe, no a i os Gna. Mare Cisne Bla Marin riormente pelo pétio da aldeia. A praca vem a ser 0 elemento ordenador do novo espago, € inde pode firmarse um principio bisice do barroco contra-reformista: 0 da participacio. 0s registros dos misionérios esuitas sobre os jogos e dancas, sobre artualizaclo das diversas aividades cotidianastestemunham o valor simbdlicoe efetivo assumido pela praga na vida dos povoados. Nelas os indios recriam um espago paiblica que Ines era familiar. ‘Ao longo dos séculos XVI e XVII a reducio passou a ser para os tekohd, algo que a sociedade permit "Porventraguereis tatres como anima}. festndons da trae que Deus nos rou: (et por Mel, 1982: p. 238. (0s sentimentos assim expressos manifestam wma profunda mudanca na percepclo dos guarani quanto as redugdes, visto que, quando da “entrada” dos primeios padres, consideravam-nas como um “dsimulado ctiveiro” um "modo de vids" cestrutura-se e exprimese ag 4 redugho proporcionou a sobrevivéncia dos guarani 20 longo livrado do servigo pessoal na “encomienda”. Cremos que, porém, ni viveram a redudo, onde puderam transformar conflito em de que ela nos remete a uma refiexto imprimindosthe um sentido que vai a0 Para nds ainda, ela abre a possibilidade de dscutirmos ¢ investigarmos os processos de integracao, resisténcia e tansformacao cultural resltantes desta relagio. Philosophy and Antropology). College of the Urbana-Champaign, ‘CHAMORRO ARGUELO, 1993 Kurusu Reéngatu. Ou polavras que a histévia ndo pode esquecer, Dissertacdo de ‘Mestrado. UNISINOS.. CCORTESAO, Jaime : ‘Manuseritos da Colerdo de Angels Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951-1959, 4 FURLONG, Guillermo 1962 Misiones y sus pueblos de Cuaranies. Buenos Aires: Imprenta Balms. ‘GumueRRez, Ramén 1978 "AS misdesjesuticas dos guaranis. Rio de Janciro: UNESCO. KERN, Arno Alvarez 1987 Misses: uma utopia politica. Porto Alegre: Mercado Abert. i Conqustado y Reducid. Ensaio de Etnohistoria, Asuncién: Centro de Antropologicos blioteca Paraguaya de Antropologia. Eduardo Hoomaer, (org) Daz Redes IX Simpésio Latino-Americano de CEHILA. 0 Guarani Reduzido.(p. {oto americans datas ‘Sto Paulo: Ed, Paulinas. MONTOYA, Antonio Rai 1985 A Conquista esiritual. Fite pelos reiiosas da Companhia de Jesus nas Provinias do Paragua, Porand, Uruguaie Tape. Porto Alegre: Martins vrei. 206 Neca, Louis 1990" "Indios guaraniesy 5 fancicanos. 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