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00Ica po sexTID0 forma ese desobra nu superce. Mesno a ron ma tear, mat Cents de uo anne, ie 0 sed se arses 40"meonn teape eae ere os corpse ite nk " im devemos manter que sentido €'um lof’ te a Ieralade do sonido spare de wen eat fe duplo. $6 que © Torro nio significa mais uma semelhangs vance ¢ dsencarads un imagem covtnada ee goo ‘um soto sem gate. Ela te deine ago Maco dis sper sun mullahs na Sone A obra é a contiuidade do aveso'e do dicho, aes instar xa continua, deta mats gue @ Sess a oper sab in ol as Bese rn ne Sars ued Set em atte Cla Soo sa seam se pet DORE SSR Re mie nie Se noma ee: geen ee Sencatne Cece eae mal ae (SE RER Se Ge Se on ae Ganges Tate ere ra rea ‘aclo dos corpos © de suas misturas medidas, a sgnfcagio tudo o que se segue em um processo de determinagio das ‘Proposipdes ¢ de suas relagGes assinaladas — toda a onde- hago tercidria ou 0 objeto da génese esttica Décima Oitava Série Das Trés imagens de Fildsofos A imagem do fsofo, tanto popular como cients, ada pelo platonst: um set dat ascen: $8es que sit da cavern eleva-sec se puifca na media cn ue mais se eleva Neste "piguismo ascensional, moral a flsofin, 0 ideal asco a idea do. pensamelo est Teleceram Lagos muilo estes, Deles dependem a imagem Popular do filsofo nas nuvens, mas também a imagem cin. {ica segundo a qual o cfu do fdsofo € un cfu iteligiel aus nos distal menos da terra do. que compreende su Mas nos dois casos tudo se pussa em alitude (sinda, que fosse a altura da pesoa no céa da Ici moral), Quando per. sguntamos “que €orentarse no pensamento?”, aparece que © pensamento pressupte ele proprio cixos e orenagoes Se. undo as quai se dosnvolve, que tem una peogafia antes de ter uma histéria, que traga dimensdes ants de, costu Sistemas. A altura é'o Oriente propriameateplatico, A operagfo do Tlésofo & entio. determinada como ascensfo, sono coveno, 0 6 cna o movimento de se yl para 0 princpio-do alto do qual tle procede e de se deter- Iminar, de se préenchere dese conbecer gragas a uma tal Imovimentagio.Nio vamos compara or fsofos © as doem- fat dong roam ste, 0 isin ¢ 4 doenga conginita da fosoiaplatnicae, com seu corto ae sscenser e de_quedon a forma. manidcodepresiva. da pris Mosoia.A'mania inspira ¢ gua Patéo, A dile- Teste faga das-1edns, a Iaeench como Plato diz ds ia, “la foge ou cla pereee...”" E mesmo n2 morte de ‘Séeraies hi algo de um suiido depresvo. Nietzsche duvidou desta orentgao pelo allo © se per suntou se, longe de representar a realizao da flsotia ela 132 Leica po sesip0 lo era, 2 contrio, a degencrescéncia © 0 desvio comegan- {do com Sécrates. Por af Nietzsche recoloca em questio todo © problema da orientagdo do pensamento: no é segundo foutras dimensées que o ato de pensar se engendra no pen stmento © que 0 pensador se engendra na vida? Nietzsche dispée de um método que ele inventa: nfo devemos 0s contentar nem com biografia nem com biblografia, & pre iso atingir um ponto secreto em que a mesma coisa ¢ ‘anedaga da vida ¢ aforismo do pensamento, E como 0 sen tido que, em uma de suas faces, se aribui a estados da vida , na oulta, iniste nas proposigBes do pensamento. Hi dimensies, horas e lugares, zona glaciis ou t6rridas, nunea rmoderadas, toda a geografiaexética que caracteriza um modo de pensar, mas também um estilo de vida. E possvel que Didgenes ‘Laéreio, em suas melhores paginas, tivesse um pressentimento deste método: encontrar aforismos vitals que sejam também Anedotas do pensamento — a gesta dos fh sofos. Empédocles e 0 Etna, eis uma anedota filoséfica, Ela vale tanto como a morte de Sécrates, mas precisamen- fe opera em uma outra dimensio, 0 filésofo pré-socratico ‘io sai da caverna, ele estima, ao contrério, que no estamos bastante engajados nela, suficientemente engolidos. que cle recusa em Teseu 60 fio: “Que nos importa vosso ea- minho que sobe, vosso fio que leva fora, que leva a felci- dade ¢ 2 virlude.. Quereis nos salvar com a ajuda deste fio? E nds, nés vos pedimos encaresidamente: enforcai-vos neste fio!” Os pré-soeriticos instalaram o pensamento nas ceavernas, 4 vida-na_profundidade. les sondaram a gua 0 fogo. les fizetam filosofia a golpes de martelo, como Empédocies quebrando as estétuas, 0 martelo do ge6logo. do expelesloge. Em um dilivio de gua © de fogo, 0 vuicio cospe de volta em Empédocles uma s6 coisa, sua sandilia de chumbo, As asas da alma platGnica opde-ce a sandalia de [Empédoctes, que prova que ele era da terra, sob a terra € autéctone. "Ao golpe de asas platénico, 0 golpe de martelo Pré-sccratic. A conversio platénica, a subversio pré-so- Critica. AS profundidades encaixadas parecem a Nietzsche 1 verdadeira orientacio da filosofia, a descoberta pré-socré tica a retomar em uma filosofia do futuro, com todas as forgas de uma vida que é também um pensamento ou de ‘uma linguagem que @ também um corpo. “Aris. de toda ‘caverna, hum outra mais profunda, deve haver uma outra ;profunda, um mundo mais vasto, mais estranho, mais chee cei: sam iting meant LAN a done Se eS DAS TRES IMAGENS DE Fitosoras 13 cratismo é a esquizofrenia propriamente filossfica, a pro- fundidade absoluta cavada n0s corpos © no pensamento que faz com que Holderlin, antes de Nietzsche, saiba en- -contrar Empédocles. Na célebre alternincia empedoctiana, ‘na complementaridade do dio ¢ do. amor, reencontramos de um lado 0 corpo de édio, 0 corpo-coador ¢, em pedagos “eabecas sem pescogo, bragos Sem ombros, olhos sem testa" de outro lado’ corpo glorioso ¢ sem orgs, “forma de ‘uma s6 peca", sem membros, sem voz nem sexo. Da mesma forma, Dionisio nos mostra seus dois semblantes, seu corpo aberto ¢ lacerado, sua cabeca impassivel e sem érBos, Dio nisio desmembrado, mas também Dionisio impeneirivel Este reencontro da profundidade, Nietzsche nio o tins feito a ndo ser conquistando as superficies. Mas ele nio fica nna superficie; esta The parece antes o que deve ser julgado ‘do_ponio de vista renovado do olho das profundidades. Nietasche se interessa pouco sobre © que se passa depois de Patio, estimando que & necessariamente u seqigneia de um Tonga decadéncia, No entanto, conforme a0 método mesmo, femos a impressio de que se levanta uma tetevira imagem de filsofos. E que é a eles que a palavra de Nietzsche se aplica partcularmente: de tanto. serem superficiais, como esses gregos eram profundos!? Estes terceios.gregos no So mesmo mais completamente gregos, A salvagio, les ‘nfo a esperam mais da profundidade da terra ou da autocto nia, muito menos do céu e da Tdéia, eles a esperam lateral: mente do acontecimento, do Leste — onde, como diz Car- roll, se levantam todas is boas coisas. Com ot Mej 96 Cinicos © 0s Estéieos comecam um novo fi6sofo e um novo tipo de anedotas. Que se Ieiam novamente os mais belos capitulos de Didgenes Laércio, aquele sobre Didgenes © Cinico, aquele sobre Crsipo o Estéico. Vemos ai desen- volver-se'um curioso sistema de provocagées. De um lado 0 filésofo come com a tltima das gulas, ele se empanturra: fle se masturba na praga piiblica, lamentando que no se ppossa fazer 0 mesmovgom relaglo A fome; ele no condena © incesto, com mie, rma ou fiha; cle tolera o eanibalismo © a antropofagia — e, evidentemente, ele & sdbrio ¢ cast n0 mais alto grav. De outro lado, ele se cala quando Ihe colo ceamos qusstées ou entio responde brandindo 0 seu bastio, fou ainda, quando Ihe colocamos uma questio abstrata difcil, esponde designando um alimento ou mesmo dando EES Sci ea 134 soIca no sexo uma caita de aliments que ele quebra em seguida, sempre Gom um gop de bdo en extant cle man tem um dscurio novo, novo logos animado de paradoxes, dev valores ede sipificagoes ostieas novas.” Sentimos perfeitamente que esas anedoas nfo sto mas patOncas nem Pre-scrdies uma reorientagfo de todo o pensamento © do que significa pensar: ndo hd mais nem profundidade nem altura ‘AS pmbriasciicas © exis conta Plato. io incon ‘lst atase sempre de desir as Las e de mostrar que © incorporal info esténa altura, mas na supettice, que hao € a mas alla casa, mas o efeto peril por ekte- Jenca, que ele ndo €Essénia, mas aconteimento, Na outa frente, mostraremos que a profundidade € uma iusto dges- tiva, que complet a ilusdo éptica ideal, Com eto, que significam sta gua, esta apoogia do incest, ela apologia 4p canibalismo?” Como este timo tema € comum a Cripo ea Dibgenes 0 Cinico, Laeio nfo di nenhuma explieaseo Pata Crsipo, mas havia proposto uma para Disgenes, pa. ticularmente coavincente: le nio achava tio odio comer carne humana, como 0 fazempovos estrangeros, dizendo Sue, em si conscigncia,rodo std em tudo e por toda parte Tia ‘came no poe pao nas eras estes corpos¢ tants Outos eniram em todos os corpos por condi escondidos © raporam juntos, como o demonstra nasa pega intulada Thyests, se € Verdade, todavia, que ot tragedies que ele se aribvem so mesmo dele. Esta fst, que vale também para o incest, estabelece que na profundiade dos, copos flo € mistra; ora, nfo Ri regres segundo as quis tina mistura‘© nfo outra pode ser ‘considerada mi, Contara- mente o que acreditava Patio, nfo hi para as mistues um medida em altura, combinagoes de TdGas que peratram defnie boas e més mistras.Contrarlamete nos presocr ticos, nfo hé mais medida moment caper de fix ondom 4 progressio de uma mitra nas profandiades da Phys toda mistura vate 0 que valem os corpos que se penetam & 43 pares que coeisiem. Como 0 mnindo das msturas Mio seria ode uma profundidade negra em que tado € permite? Ceisipo distnguia ds especies de mistras: as mist ras imprfetas que alleam of sorpos © at misturas prflas ae 0s deta intcios ¢ os fazem coexist em todas as Suns artes. Sem divide, Undade. dar coisas corporis frie eas define ma mitra perfec Hulda em que tao "justo no presente mic. “Mas os. coxpos tomidos. na Paticulridade de seus presenesliitados nfo se encontran Uretamente segundo. aordem de sua chsalidade, que so ‘ale para o todo, observadss todas a8 combinagoes a0 mex Io tempo.” Eis por que toda mistura pode set dita bot ou DAS TRES IMAGENS DE FILASOFOS 135 : boa na ordem do todo, mas imperfeita, ma e até mesmo vel na ordem dos encontros parcais. Como condenar ncesto € 0 canibalsmo, neste dominio em que a5 paixbes ‘clas proprias corpos que penetram outros corpos © particular um mal radical? Que se tome o exemplo trapédias extraordinarias de Séneca, Nés nos pergunta- ‘qual é a unidade do pensamento esidico com este pen © tragico que poe em cena pela primeira vez seres nsagrados ao mal, prefigurando to precisamente 0 teatro betano. Nao bastam alguns coros estoicizantes para fazer tunidade. O que 6 verdadeiramente estdico, aqui, 6 8 des- erta das paixoes-corpos e das mistaras infernais que or fem, venenos fumegantes, festins pedofagos. refeigio trigica de Thyestes nio & somente 0 assonto per= de Didgenes, mas o de Séneca, felizmente conservado. ‘tnicas envenenadas comecam por qucimar a pele, devo 1 superficie; depois elas atingem a0 mais profundo, em. jum trajeto que val do corpo perfurado a0 corpo. despeda~ lo, membra discerpta. Por toda parte na_profundidade Gos corpos borbulham misturas venenosas, elaboram-se_abo- ‘miniveis necromancias, ineestos © alimentacSes. Procure- ‘mos 0 antidoto ou a contraprova: 0 her6i das tragédias de 'Séneca como de todo 0 pensamento est6ico & Heéreules. Ora, fercules se situa sempre com relagio a0s ttés reinos: 6 jsmo infernal, a altura celeste e a superficie da terra. Na Drofundidads cle nio encontrou Seno. espantosas misturas; tho c&u cle s6 encontrou o vazio, ou mesmo monstros celes- tes que duplicavam o infernais. "Mas ele € 0 pacficador e 0 fagrimensor da terra, ele pisa mesmo sobre a superficie da fguas, Ele sobe ou volta a descer a superficie por todos os melos; traz para ai 0 cio dos infernos e 0 cio celeste, a serpente dos infernos © a serpente do céu. Néo mais Dio so no fundo, ou Apolo 1é em cima, mas o Hercules das su- perficies, na sua dupla luta contra ‘a profundidade e a altu- Ta: todo o pensamento reorientado, nova geografia ‘Apresenta-se por, vezes 0 exoicismo como operando para além de Piatdo arma espécie de retorno ao pr&-socrais- ‘mo, ao mundo heracltiano, por exemplo. Trata-se antes de uma reavaliagio total do ‘mundo pré-soerético interpretan- ddo-o conforme uma fisica das misturas em profundidade, os inicos e os Esigicos 0 abandonam por um lado a todas as desordens locas que se conciliam somente com a Grande mis- tra, isto 6, a unidade das causas entre si. E um mundo do terror e da crueldade, do incesto da antropofagia. F sem ‘divida hi uma outra parte: 0 que, do mundo heraclitiano, pode subir & superficie © vai receber um estatuto completa: Imente novo —o acontecimento na sua diferenga de nal reza com as causas-corpes, 0 Aion na sua diferenga de na- 136 Loctea po sexmi90 tureza com 0 Cronos devorante. Paralelamente, 0 platonis- ‘mo sofre uma reorientagdo total ansloga: ele que pretendia aprofundar ainda mais o mundo pre-socritic, reprimi-lo ainda mais, se v8 desttuido de sua propria altura e a Tdéia recai_na superficie como simples feito incorporal. a arande descoberta est6ica, ao mesmo tempo contra os pré- ssoeriticos e contra Platio: a autonomia da superficie, in dependentemente da altura e da profundidade, contra a al tura g a profundidade; a descoberta dos acontecimentos in- comporais, sentidos ov efeitos, que sio irredutveis a0s corpos profundos assim como as dias alta. Tudo o que acontece © tudo o que se diz acontece e se diz na superficie ro esti menos para ser explorada, mais desconhec ainda talvez que a profundidade ¢ a altura que sio nfo-sen- $0. Pois a fronteira principal & deslocada. Ela nio passa ‘mais em altura entre o universal e o particular, Ela aio passa mais em profundidade entre a substincia © os aciden- tes. Talvez seja a Antistenes que € preciso glorificar pelo novo tragado: entre a8. coisas ¢ as" proposigbes. mesmas. Entre a coisa tal qual ela &, designada pela proposicio © © ‘expresso, que niio existe fora da proposicio (a substincia ro 6 mais do que uma determinagio secundéria da coisa c © universal, ums determinagdo secundaria do expresso). ‘A superficie, a cortina, 0 tapete, o casaco, eis onde 0 Cinico © © Est6ico se instaiam e aguilo de que se cercam, © duplo sentido da superficie, a continuidade do. avesso € 4o dircito, substtuem a altura c a profundidade. Nada atras {da comtina, salvo misturas inomindvels. Nada acima do ‘upete, salvo 0 eéu vazio. © sentido aparece ¢ atua na su perficic, pelo menos se soubermos convenientemente, de m neira a formar letras de poeira ou como um vapor sobre © Video em que o dedo pode escrever. A filosofia. das basto hadas nos Cinicos © nos Esticos substitui a flosofia. das Imarteladas. O filgsofo no é mais © ser das cavernas, nem ‘alma ov o pissaro de Platio, mas o animal chato das su perficies, o-carrapato, 0 piolbo. -O simbolo filesdfico no & mais a dguia de Platio, nem a sandilia de chumbo de Em pédocles, mas. manto duplo de Antistenes ede Didgenes. © bastéo © o manto, como Hércules com seu porrete © sus pele de leo. Como nomear a nova operagéo flos6tica en- quanto ela se opse a0 mesmo tempo a conversio platOnics ‘© A subversio pré-socrtiea? Talvez pela palavra. perversio, ‘que convém pelo menos ao sistema de provocagies deste ovo tipo de filésofos, se é verdade que a perversio implica ‘uma estranha arte das superficis Yana A Lo* Décima Nona Série: Do Humor Parece em primeiro lugar que a linguagem nfo possa acon um fundamento stents ns etadon daguele que Sevexpime, nem nas cols semsivl dsipnaas, mas oo tmente nas Tdsias que the dao uma posibdade de verdad, fssim como de fldade- Fife mina, no cntant, por taco de_que milagre proposigdespariariam aT de uma forma mais segura do que ot corpos que flam ou dos corpo de te aa eon ae opi Tt tio sejam.Snomes em si". Eos corpos, no. eno. plo, Preis melhor fndar a lnguagem” Quando oso 5 abatem sobre os corpse se tornam agGes © pabes os pos mistrados, mio si0 mais poradores senso. de nfo- Sensos dlcerantes."Denunci-se, cada uma por sva vee 8 impossibilidade de ume ingusgem platnica de uma fin. ungem pr-scrtica, de uma Tingutgem eaistae Ge uma Hingoagem fsa, de‘uma linguagem maniaca e de uma lin. ausgem esguiiénicn.Impoe-se a ltrntiva sem aude fu nada dcr ou incorpoae, comer 0 que dizemes, Como diz Crsipo, vse dizeen paves erroga, uma caroga passa por tua boca” n86'€ cm melhor nem mals comodo se Se tratar di Taéia de carga ‘A lnguagem idealist € feta de sigiicagdes hiposasa- das. Mas, a cada vez que nos interogem tobe tl sgh ficados “0 que é 0 Belo, o Jiso ee, que é 0 Home?” = responderemos designando um corpo, mostrando um - Jeo imiivel ou mesmo consume, dando, caso nctsi- fio, um golpe de bastio, 0 bastfo‘sndo conerado como fnsimento de toda dsignao possivel. Ao “bipede em pumas” como significado’ do hotem segundo Plato, Dio Benes 0 Cinico responds airando-nos unt glo com pas Vigésima Série: Sobre o Problema Moral nos Estéicos filosofia a um ovo: “A casca é a logic a clara € a moral Diggenes Laércio conta que os estéicos compart fe a gema, bem no centro, & a fisica”. Sentimos perfeita- mente que Didgenes racionaliza. E preciso reencontrar 0 aforismo-anedota, isto é, 0 oan. preciso imaginar um discipulo colocando uma questao de significacio: que & a moral, 6 mestre? Entio 0 sibio estsico tira um ovo duro de seu. manto dobrado © com scu bastio designa 0 ovo. (Ou entdo, tendo tirado 0 ovo, ele di um golpe de bastio no discipulo e 0 diseipulo compreende que ele proprio deve responder. 0 dlseipulo toma, por sua vez, 0 bastao, quebrs © ovo, de tal mancira que wm pouco de clara permancee Tigado’& gema © um pouco a casca, Ou entio 0 mestre deve fazer ele mesmo tudo; ou o discipulo s6 tera compreen ‘dido ao término de numerosos anos.) Em todo e220, 3 situagio da moral esti bem exposta, entre os dois polos dt casca légica superficial e da gema fisica profunda. © mes- tre est6ico ndo € 0 proprio Humpty Dumpty? E a aventur do diseipulo, a aventura de Alice, que consiste em remontar 4a profundidade dos ieorpos & superticie das palavras, fazer ido 2 experiéneia perturbadora de uma ambigiidade da mo- fal, moral dos corpos ou moralidade das palavras (a “mo. ral’ daquilo que se diz...”) — moral da nutrigio ow moral da linguagem, moral do comer ou moral do falat, moral dq ema ou da easca, moral dos estados de coisas ov moral do sentido, ois devemos voltar sobre 0 que dizfamos hi pou, pelo menos para_ai introduzir variantes. Seria ir muito epressa apresentar os Estéicos como recusando a profund ‘dade © no enconteando ai sengo misturas infernais corres 146 1e0Ita po set Pondendo as paixdes-corpes € 2s vontades do mal. © sis: ema estdico comporta. toda uma fisiery com uma_mor desta fsien, Se 6 verdade que a8 paikdes e as vontades mis Slo corpos, as boas vontades, as agies vrtuosas, as repre Sentagbes verdadeiras, 0s assentimentos justos sto. tamhém ccorpos. Se & verdads que tis ou ais corpos formam turas abominaveis, canibais © incestuosis, @ conjunto dos ccorpos tomado na sa totalidade forma necessariamente uma mistura perfeita, que no é nada além do que a unidade das ccausis entre clis ow 0. presente edsmico, com relaglo a0 {qual © proprio mal pode ser tio-s6 um mal de “eonseqién ia". Se hi corpospaindes, hi também corpos-agies, cor- pos unificados do grande Cosmos, “A moral est6ien concerne ‘ho acontecimento, cla consiste em querer 0 acontecimento {como tal, isto é em querer o que acontece enguanto acon tece. Nio podemos ainda avaliar o aleance destas frm. Mas, de_ qualquer maneira, como @ acontecimento. poderia ser eaptado e qucrido sem ser relacionado causa corporat de onde cle resulta ¢, através dela, a unidade das causas ‘como Physis? pois a adivinhaeao, aqui, que funda a moral. A interpretagio divinalsria, com efeto, consiste na felagio entre o acontecimento puro’ (nfo ainda eletuado) © 4 profundidade dos corpos, as agbes e paindes eorporais de fone ele resulta, E podlemos dizer preciamente como pro- fade esta imorpretagdo: tata-se sempre de cortae mk espes- sura, de talhar supertities, de orientivlas, de acrescé-as de multplici-las, para seguir 0 tragado das linhas © dos eortes que se desenham sobre elas. Assim, dividir © céu fem scegbes nels distribu as Tinhas dos voos de essatos, seguir sobre © solo © mapa que traca © focinho de um porco, jogar o figado para a supetticie e observar as linhas ¢ as fissuras. A adivinhagio é, no sentido mais gera, a ante das superticies, das linhas e pentos singulares que nela aparecem es por que dois adivinhos aio se olham sem se rir, com um iso humoristico. (Seria sem divida preciso distribuir dus foperagies, a produgio de uma superficie fisiea para lishas ainda corporais, imagens, impressBes ou represemtagbes ©. lradusio destas) numa superficie “metaisics” em que ni0 jogam mais do que as linkas ineorporais do_acontecimento puro, que constitu © sentido interpretado destas imagens.) ‘Mas, ccrtamente, no é por acaso que a mofal estica nunca pde nem quis se confiar a métodos fisicos de adivi- hago € se orientow para um outto polo, se desenvolveu segundo um outro método, Iégico. Vieior Goldschmidt rmesirou muito bem esta duidade de pélos entre os quais moral est6iea oscila: de um lado ‘tratar-se-ia pois Participar tanto quanto possivel de-uma visio divina re hindo em profundidade todas as causas fisicas entre si ma apensacio, trats-se de querer 0 acontecimento, qualquer le sefa, sem nenhuma interpretagao, gragas a um “uso fepresentagées” que acompaniha desde o comeyo a efe~ io do acontecimento mesmo atribuindo-Ihe o mais Jo presente. Em um caso, vamos do presente cosmico ‘acontecimento ainda nfo efetuado; no oulto 350, do tecimento puro & sua mais limitada efetuagio presente ‘sobretudo, em um caso Tigamos o acontecimentO a suas a8 corporals a sua unidade fisia; no outro caso liga~ ‘0 acontecimento a sua quase-caust incorporal, causali- ‘que ele recolhe © faz ressoar na produgio de'sua pro- fet Este duplo pélo jé estava compreendido no radoxo da dupla causaidade e nos dois caracteres da gé- titi, impassiblidade © produtividade, indiferenga © cia, imaculada concepeio que caracteriza agora o sibio tic. A insufiiéncia do primeira pélo provém, entlo, feguinie: que 0s acontecimentos,sendo efeitos incorporais, ferem em natureza das causas eorporais de que eles resul- Tam; que cles tm leis diferentes das que as regem © sfo terminados somente por sua relagio com a quase-causa fncorporal. Cicero diz com razio que a passagem do tempo € semelhante ao desenrolar de um cabo (explicatio) 2. Mas, justamente, os acontecimentos no existem sobre a linha reta {do cabo desenrolado (Aion), da mesma mancira que. as ‘eausas na circunferéncia do eabo enrolado (Crone). ‘Em que consiste 0 uso Idgico das representaghes, esta arte levada a0 mais alto ponto por Epiteto e Marco Autéio? Sto conhecidas as obscuridades da teoria esigica da repre fentacio tal como nos foi legada: o papel e a natureza do fassenlimento na representaeio. sensivel corporal enguanto impressio a mancita pela qual as representagbes racionais, ue so elas mesmas ainda corporais, decorrem das repre sentacies sensiveis; mas, sobretudo, © que consttui o carter dda representagio de ser “compreensiva”™ ou no; enim, © falcance da dilerenga entre as representagbes-corpos ou im Presses e 0s acontetimentos-efeitos incorporais (entre as Tepreseniagdes © as exprestdes) >, So estas duss oltimas Uificuldades que concernem essencialmente 30 nosso assunto, uma vez que as representacbes sensveis sio designagtes, as representagées racionais significagGes, mas somente os acon- {ecimentos.incorporais consituem 0 sentido expresso. Esta dliferenga de natureza entre a expressio © a representagio, 1. CL vivon Gononnr Le mime won Fk de emp, Vo, El do cnt cml 8 erent 148 1ao1ca 0 sexTDO 1s a encontrivamos por toda parte cada vez que marciva~ mos a especificidade do sentido ou do acontecimento, sua inredutibilidade a0 designado como ao significado, sua’ nev tralidade com relagio 20 particular como a0 geral, sua sin- ‘gularidade impessoale pré-indivdual. Esta diferenca culmina ‘com a oposigio do objeto — X como instancia idenitria da representagio no senso comum e da coisa = X como cle mento nio-identificdvel da expressio do paradoxo. Mas, ainda que o sentido nio’seja nunca abjeto de representaeao ppossivel, nem por isso deixa de interferir na representagio como o' que confere um valor muito especial & relagio que ‘mantém com seu objeto. Por ela mesma, a representacio 6 abandonada a uma relacio somente extrinseca de semelhan fou de simiitude, Mas seu cariter interno, pelo qual cl intinsecamente “distina”, “adequada” ow “compreensiva provém da mancira segundo a qual ela compreende, segundo qual ela envolve uma expressio, embora nio possa repre- Senti-la, A expressio que difere em natureza da represen- {ago no age menos como o que esté envolvido (ou nio) Por exemplo, a percepgio da morte como © qualidade ow 0 conceito de mortal como predicado de significagio, permanecem extrinsecos. (destitui ‘dos de sentido) se ndo compreendem o acontecimento de morrer como o que se efetua em um e se exprime no oUtt. ‘A representacio. deve compreender uma expressio que ela nfo representa, mas sem a qual ela no seria ela mesma compreensiva", endo teria verdade senio por acaso e de fora. Saber que somos mortais é um saber apoditico, mas vazio © abstrato, que as mortes efetivas e sucessivas nio bastim certamente para preencher adequadamente, enquanto ‘io aprendermes © morrer como acontecimento’impessoal provido de uma estrutura problemtica sempre aberta (onde © quando?). Distinguiu-se freqientemente dois tipos de Saber, um indiferente, que permanece exterior a seu objeto, © outro concreto © que vai Buscar seu objeto onde ele estiver AA representagio nfo atinge a este ideal tépico a nio ser pela ‘expressio oculta que ela compreende, isto é, pelo acontec mento que ela envolve. HE pois um “uso” da representacio, sem 0 qual a representacio permanece privada de vida e de sentido; e Wittgenstein e seus discipulos tém razio em define ‘© sentido pelo uso. Mas tal uso nfo se define. por uma fungdo da representacio com relagéo. a0 representado, nem ‘mesmo pela representatividade como forma de possbilidade, ‘Ai como alhures, o funcional se ultrapassa pari uma t6pica © 0 uso esté na relagdo da representagao a algo de extrate presentativo, entidade nio representada ¢ somente expressa Que a representagio envolva 0 acontecimento de wma oulra natureza, que ela’ chegue @ eavolvé-lo em suas bordas, que SOME O PROBLEMA MORAL NOS ESTOICOS 149 mea cena wc tc ert Se ce ea verte ae eta Sul ida deal ian ee gece i mis go ta fo i ri on sie es inns pr ek eee io corpo, em sua propria carne: tendo se identificado gral pois que o efecto herda da causa (Goldschmidt diz far it Gn urnagio se 0 acoftecimento ja nio estivesse em vias de 150 10ICA bo sexIDO co, puro instante eaptado no ponto em que se subdivide em Tutus e pasado © nfo mais presente do mando que Teun fm al pasado e 0 futuro, ator fea no instant, em {Quanto o' personagem que cie desempenha espera ou te fo fue, romemorase ou se aurepende no passa € neste Solio que o ator representa, Fazer corespondt 0 mito tempo éesempenhavel no instante 0 maxing de tempo pensive segundo o-Aion. Limiar efetuagdo do. acote- jen aun preseale sem) str, tornar © instante tanto fmas"inenso e tens, tanto mai intaninen quanto mais {le exprime um futuro e um passa limitados, tal € © W0 a meena oman ho ma aia. Cemex ir'do maior prescote pera unt fro ¢ um pasiado qve SE dzom Somente de um presente menor amos, 20 ont do futuro e do pasado como imiador até a0 menor presente de um instante poro que nfo cea dese subi. E'Stim que sbio soo no somente eompreend e que 6 scontedmento, mas 0 representa e por alo seleciona¢ Ge uma ica do mimo prolongs necessrtamente loca 80 Sind. “A par de um acontedmesto puro 0 mime age doplica a eetucio, ele mede as mistras com a ajuda Se fim istnte som mistua e os impede de tambordt- Vigésima Primeira Série: Do Acontecimento estamos, por vezes, em chamar de estéiea uma ma- eica ennereta ou poétca de viver, como se 0 nome de uma Hovtrina fosse muito livresco, muito abstrato para designar inst pessoal relagio com uma ferida, Mas de onde vem fs douitinas senio de feridas © de aforismos vitais que so ‘anedotas especulativas com sua carga de provocagio exem- lar? B preciso chamar Joe Bousquet de esto. "A ferida Bue ele traz profundaments no seu corpo, ele a apreende na ais Gerdade eterna como acontecimento puro, no entanto, {tanto mais qu. Assim como o> aconesimentos ae eftuam, Em ngs, esperam-nos € Nos aspiram, eles nos fazem sinal= Minka ferida exstia antes de mim, nasci para encarné-a ‘Chegat a esia vontade que nos faz.0 aconteciment, torar-s© S$ quase-causa do que se produz em nés, 0 Operador, prods Satis superfcies € as dobras em que 0 acontecimento s6 Rite, ae Feencontra incorporal e manifesta em n6s o esplen {or neutro que ele poseui em si como impessoal e pré-indivi ‘Guat, para além do geral e do particular, do coletivo © do privado — cidadio do mundo. “Tudo estava no lugar nos erontecimentos de minha vida antes que cu os fizese meus; Croive los € me verfentado me igualar a cles como se cles ‘nfo devessem ter seno de mim o que eles tém de melhor fe de perfeto”. Gu a moral no tem sentido nenhum ou entio € isto ‘que cla quer dizer, ela nfo tem nada além disso a dizer: no fer indigno daquilo que nos acontece. Ao contitio, captar ‘0 que acontece como injusto e mio meresido (E sempre & seals oA tet ie Bent ‘eh, uta st Sa dsl Re Na, Soe Boar nw au Feed," bane els mone oe 132, L6s1ca no sexo culpa de alguém), eis © que torna nossas chagas repugnantes, f ressentimento em pessoa, o essentimento contra o acon tecimento, io ha outra vontade mi. O que & verdad ramente imoral 6 toda utilizagao das nogdes morsis, justo, injusio, mérto, faltas. Que quer dizer entio querer 0 acontecimento?’ Seré que€ aceitar a guerra quando cla ‘chega, 0 ferimento © @ morte quando chegam? & muito provivel que a resignasio seja ainda uma figura do ressen fimengo, ele que, em verdade, tantas figuras possui, Se (querer © acontecimento significa primeiro captarthe a ver ade eterna, que & como o fogo no qual se alimenta, este ‘quoter atinge o ponto em que a guerra € travada contra a ‘guerra, o ferimento, tragado vivo como a cicatriz de todas a8 feridas, a morte que relorna querida contra todas as moc tes, Intuigdo voliiva ow transmutagio. “A meu gosto da morte, diz Bousquet, que era faléncia da vontade, eu subs tituitel um desejo de morrer que s8ja a apoteose da vontade” Deste gosto a este desejo, nada muda de uma certa maneira, salvo Uma mudanga de vontade, uma espécie de salto. no proprio lugar de todo o corpo que troca sua vontade orgi- hice por ma vontade espritual, que quer agora no exata mente 0 que acontece, mas alguma coisa no que acontece, figuma coisa a vir de conformidads ao que acontece, sc- jpundo as leis de uma obscura conformidade humoristica © Acontecimento, “neste sentido que 0 Amor fati no faz senao um com 0 combate dos homens livres. Que hajs ‘em todo acontecimento minha infliidade, mas também um splendor e um brilho que seca a infelicidade e que faz com ‘qe, desejado, 0 acontecimento se efetue em sua ponta mais sretad, sob 0 corte de uma operagio, tal € 0 efeito da sgénese estitica ou da imaculada concepeio. O brilho, © fsplendor do acontecimento, é o sentido. © acontecimento ‘lo € 0 que acontece (acidente), ele & no que acontece 0 puro expresso que nos da sinal ¢ nos espera. Segundo as {rés determinagoes precedentes, ele & © que deve ser com- preendido, o que deve ser querido, 0 que deve ser represen {ado no que acontece. Bousquet diz ainda: "Torna-e o ho- ‘mem de tuas inelcidades, aprende a encarnar tua perfeigao feteu brilho”. Nio se pode dizer nada mais, nunca se disse hada mais: torar-se digno daquilo que nos ocorte, por con feguinte, querer c caplurar 0 acontecimento, tornar-se 0 filho de’ seus préprios acontccimentos e por af renascer, re- fazer para si mesmo um nascimento, romper com seu nasci- mento de carne. Filho de seus acontecimentos e nio mais dde suas obrat, pois a propria obra nio & produzida se pelo filho do acontecimento. © ator no € como um deus, antes seja como um con tradeus.” Deus ¢ 0 ator se opiem por sua leitura do tempo, Do ACONTECIMENTO 153 {que os homens captam como passado ou futuro, 0 deus o ive no seu clemo presente. Q-deus & Cronos: 0 presente vino € 0 circulo inteiro, enquanio que © passado ¢ 0 futuro imensSes rclativas a tal ov tal segmento que deixa 0 to fora dele. Ao conitario, o presente do ator é mais, feito, 0 mals cerrado, o mais instantnco, o mais pontual, to sobre uma linha reta que ndo cessa de dividir linha ide so dividie a si mesmo em passado-futuro. © ator 6 do? @n: no lugar do mais profundo, do mais pléao preset, te que se espalha e que compreende 0 futuro © 0 ssado, eis que surge um passado-futuro ilimitado que se fete cm um presente vario nio tendo mais espessura que cxpelho. O ‘lor representa, mas o que ele representa & ire ainda futuro e j@ passado, enquanto sua representa impassivele se divide, se dexdobra sem se romper, sem jr nem padecer, E neste sentido que hi um paradoxo do ante: ele permanece no instante, para desempenhar iguma coisa que no péra de se adiantar e de se atrasar, ‘esperar e de relembrar. O que cle desempenha nfo é junea um personagem: 6 um tema (o tema compleno ov {6 sentido) consttuido pelos componentes do acontecimento, jularidades comunicantes efetivamente iberadas dos limi- ‘dos individvos © das pessoas. Toda a sua personalidade, ‘stor a mantém em unt instante sempre ainda mais divisi- ‘para se abrir ao papel impessoal e_pré-individual “Assim, ele esté sempre na situagio de desempenhar um papel je desempenhia outros papeis. O papel esti na mesma Telagio com 0 ator que 0 futuro e o passado com 0 presente fnstantaneo que Thes corresponde sobre a linha do Aion. O tor efetua pois o acontecimento, mas de uma maneira bem ferente daquela segundo a qual o acoatecimento se efetua ‘rofundidade das eoises. “Ou antes, esta efetuacio os: fisica, cle a duplica com uma ovtra, & sua manera, ingularmente superficial, tanto mais nitida, cortante e pura ‘sso mesmo, que vem delimitar a primeira, dela, libera a linha abstrata po guarda do acontecimento sendio 0 ‘contorno ou 0 esplgndor: tornar-se 0 comediante de seus rOprios acontecimentos, contraefetuardo Pois a mistura fisica s6 est certa a0 nivel do todo, fo circulo inteiro do presente divino. Mas, para cada parte, ‘quantas injustigas e ignominias, quantos processos parasité- ios canibais que inspiram também o nosso terror diante do ue nos acontece, nosso ressentimento contra o que acontece, (© humor ¢ insepativel de uma forea seletiva: no que acon- tece (ackdente) ele seleciona 0 aontecimento puro. No ‘comer ele seleciona o falar. Bousquet assinalava as pro- Priedades do humor-ator: sniquilar os rastros cada vez que fe toma necessirio; “erigir entre os homens e as obras seu 158 1e01ea po sexTIDO ser de antes do amargoc “liga is peste, 2s sania, mt ‘spantoasguerea a chmice comica det enado pox ands" tim sua, liber para cada soa =porgaoimacclads” linguagem ¢ querer, Amor fat Hor que todo’ scontecimenio & do tipo da pete, da goera,doverimento © da morte?” Bastaria apenas Gis que Eins aontecinentosinfezes que felizes?" Nao, pois dv se rata da estratora dopa de tedo aconsciment. "Em todo Aoniptinesto exiafe realmente momen presale de lt {taedo, agile em gue 0 acontecimento se encarna em um éstado’ Jo coiss, um indvdvo, uma. pessoa, aquele que designamos dizendo: cis a0 momento chego; 0 Tao fo pasado. do. aconscimento nfo julgem sono cm fund deste presente definitive, do ponto de vista daqvele Que o encarna, Masha, de outro ado, 0 foro 0 pasa do acontsimsato tomsdo em si mesmo, que essuiva, todo resent, pore ele € livre dar images de vm evtado de foiss, Sendo Impessoal e préindvidal, neuro, nem eral, nem particular, event tamu. om mor que n80 hi tuo presente an daguele do isiante mivel gue o Tepe Senta, ‘sempre desdobrado em passadofutro, formando © fue € preciso chamar a conracfetugio. Em um caso, ¢ nha vids que parece mito fre, que ecapa em um pont tornado presente cm uma relagio ssinaléel comigo, No fro cas, eu & qu sou mito fraco para vida, € vi ‘muito grande para-mim, jogando por toda parte sua tngi- Inridads, sem retagio comigo, « sem um momento deter navel. como presente, salvo com o instante impessoal qi 5 desdobea em sindsfurro € joopseado. Que esta ambigh- dade se ewencalmente a da feria eda mot, do ferimeno ‘moral, ringuem 0 mestrou como Maurice Blanchot 2 more Gao meamo tempo o que cal cm na rlagao exten 0 deta comigoe comme corpo, o qe €fondado em mim, ‘as também o que € sem telagio comigo, 0 ineorporal Infiniti, o impesoal, 0 gue nto ¢ fundado senko ems mesmo. De um lado, pie do-aconctimento. qe se realize se cumpre; do onto lo, "a part do acontctmen- to que seu cumpeimento nfo pods realizar’. 4 pis diss oncretzagdes, que io como eltuagdo © a contrfetus- so. E por ai que a morte ¢ seu ferimento niio sio um Sconteinento entre outs, Cada. aconseimcato & como morte, dup e impesoal em sev duplo. "Ela € 0 absmo do presnt,o tempo sem presente com 0 qual eno tenho relsgi, agulo em dieyio. a qual no posso me Tanja, pois nela ew ‘morro, sou destituido do poder de morrer, ela ente more, nip se cesa e nos 2eaba mais Ge B Seateaan a” tre” Sta, ka? ten 10 ACONTECIMENTO 15s Como este a gente difere daquele da banalidade co- na, 0 on das singularidades impessoais e préindivi- is, © on do acontecimento puro em que morre & Como we. O splendor do on é a do acontecimento mesmo oW ‘quarta peisoa. por isso que nfo hi acontecimentos tivados ¢ outros coletives; como no hi individual e uni- I, particularidades e generalidades. Tudo € singular € isto coletvo e privado ao mesmo tempo, particular nem individual nem universal. Qual guerra no é fassunto privado, inversamente qual ferimento nao é de guer- a c oriundo da sociedade inteira? Que acontecimento pri- vyado nio tem todas as suas coordenadas, isto 6, todas as suas singularidades impessoais sociais? "No entanto, ha Dastante ignominia em dizer que a guerra concerne a todo ‘mundo; nio € verdade, ela nio concerne Agueles que dela fe servem ou que a setvem, criaturas do ressentimento. E, Fé tanta ignominia em dizer que cada uma tem sua guerra, sua ferida particulares; tampouco é verdade acerca daqueles ue cogam a chaga, também eriaturas de amargor ede ressen- timento, £ somente verdadeito a respeito do homem livre, porque ele captou 0 prdprio acontecimento e porque nio 0 Gcixa efetuar-se como tal sem nele operar, ator, a contra-efe- twuagéo, -S6.o homem livre pode entio comprecnder todas as violéncias em uma 36 violencia, todos os acontecimentos Imortais em um s6 Acontecimento que no deixa mais lugar fo acidente ¢ que denuncia e destitui tanto a poténcia do ressentimento no individuo que a da o EE propagando o restentimento que o tirado faz 6 exeravos e servos; #6 0 revolucionéro se lberou do ressen- timento, pelo qual participamos e aproveitamos sempre de tuma ordem opressors. Mat unt 6 e mesmo Acontecimento? Mistura que extrai e purifica e mede tudo no instante sem ‘mistura, em lugar de tudo misturar: entio, todas as violén- case todas a8 opressbes se rtnem neste nico acontecimen- to, que denuncia todas denunciando uma (a mais pr ‘ou 0 sltimo estado ca questo). “A psicopatologia que Feivindica 0 poeta nko € um sinistro pequeno acidente do destino pessoal, um extrago individual, "Nio foi o caminhio 4e leite que passou por cima de sou corpo e que o deixou enfermo, foram 0s cavaleiros dos Cem Negros pogromizan- do seus ancestais nos guetos de Vilno,... Os golpes que recebeu na eabega nfo foi em uma risa de malandros na trea, mas quando a policia disparava sobre os ‘manifestan- tes... Se ele grita como um doido de génio € que as bombas de Guerniea ¢ de Han6i o ensurdeceram,.."* E mig Cate Ry rte do pte Gini, Ned Olen 156 1291ca 0 sexTIDO no ponto mével ¢ preciso em que todos os aconteimentos Se Fedinem assim em um s6 que se opera a tansmulaglo: 0 amo om goe moe wa coma 2 mot, em ae, morc € como 8 destiuigfo da morte, em que a impessoal- ‘Gade do morrer nfo marca mals somente o momento em que fe pero fora de mim, e a figura que toma a vida mals sn- solar para se substitu a mim Vigésima Segunda Séri Porcelana e Vulcao “Toda vida é, obviamente, um processo de demoli- slo”, “Poucas frases ressoam tanto em nossa cabega com fste ruido de martelo. Poucos textos tém este carster Imedidvel de obra-prima e de impor sléncio, de forcar faguiescencia atemorizada, tanto como a curta novela de Fitzgerald. Toda a obra’ de Fitzgerald 6 o desenvolvimento finico desta proposigio e sobretudo de seu “obviamente”, Eis um homem € uma muther, cis casais (por que casas, fnio ser porque. jé se ata’ de um movimento, de um jprocesso definido como 0 da diada?) que tém tudo para ferem felizes, como se diz: belos, encantadores, cos, Superfciis e'chelos de talento. E depois alguma coisa s¢ passa, fazendo com que eles se quebrem exatamente como tum prato ou um copo. Terrvel téte-d-ée da esquizo- frénica e do alcoslatra, a menos que a morte os apanhe 2 ambos. Seré isto a famosa autodestrugio? Eo que foi ‘que aconteceu exatamente? Eles fo tentaram nada de special que estivesse acima de suas forgas; no entanto, espertam como so-saissem de uma batalha grande demais para eles, 0 corpo'quebrado, os mésculos pisados, a alma morta: “ew tinha o sentimento de estar de pé a0 crepGsculo fem um campo de tiro abandonado, um fuzil vazio na mio © 0 alvosabatidos. Nenhum problema para_ resolver, Ssimplesmente o siléncio € 0 ruido de minha respira. Minna imolagio de mim mesmo era um rojfo sombrio. rmolhado”. Certamente, muitas coisas se passaram tanto no feterior como no interior: a guerra, a bancarrota financeira, tum certo envelhecimento, a depressio, a doenga, a fuga do 1_rrzena F8. °A Pla" Cn Up) La tee Logie se © 1989 by Les Bows de Minit ‘dos Inernacionss de Catlogapo na Patio (CM Deke, Gis Log do sentido / Gls Dele ; rao Le Rober Salinas Fetes] Ss Palo pork Guntur) - Dio reserva em nga prague EDITORA PERSPECTIVA SA ‘ne Brigade Lat Ant, 305 “tu (0-19 S458 Sumario Prélogo: de Lewis Carroll aos Estéioos .......... XV Primeira Série de Paradoxos: Do Puro Devir 1 ‘isingdo platien etre as cotta medias ¢ 0 ivi- Tuco = A dentidade intnita "As aventiras Se Ae Segunda Série de Paradoxos: Dos Efeitos de Superfice Disigio esd dos corpos ou exiados de cosa © dos tos incorpoais ou acopleimenten Cote da tole {fe causal Fazer subir superficie. — Deseoberta ‘Se sopertce em Lewis Carol ‘Teroeira Série: Da Proposigio 13 ‘Desgnasio, maniferteso, signiicasio™ sae relagiee ton crcltbdade — Haverd uma quarts neato ‘roposgso? — Seno, expresso © acontecimento ‘Dupin ature do senio” exprinivel da propousto © tcbuto do estado de colss,ininténcia centre. Quarta Série: Das Dualidades ..... 25 Co comer falar — Duns epéies de paar = Dit dienes da propio: as desgnagdes © ‘eapresses, s comumarde © 0 endo — AY Os sce ‘Quinta Série: Do Sentido 3 ‘A poliferato iedefinida — 0 deidabeament eat — {A Seutraldade ou trceiro euado da euénca Osi oon os abies imposes Senta Série: Sobre a Colocagio em Séries 0 ‘A forma serial a ses heteroptneas — Si conic {tigto ~ Para o que converpem esas sees? ~O para ‘doko de Lacan‘ eranhe ckavento (par vis ‘cupante sem Tugar) A Ie da ovlha

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