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EUCALIPTO: FORCA IMPULSORA DA INDGSTRIA DE CELULOSE E PAPEL NO BRASIL por Celso Edmundo Bochetti Foetkel Riccell S.A. ~ BAasil At& hoje no mundo, um dos principais termémetros a regular os fluxos e pregos das polpas de mercado consiste nos estoques da Norscan. Entretanto, esse indicador dia-a-dia perde eficiéncia pelo crescimento gradual mas seguro da parti, cipag&o de pafses “nio-tradicionais" no mercado de celulose. Hoje, os pafses exportadores tradicionais que compdem a Nors- can so responsaveis por cerca de 60-65% da oferta de polpas de mercado. 0 restante é compartilhado por paises produtores jovens como Brasil, Portugal, Espanha, Marrocos e Africa do Sul, que colocam no mercado produtos de alta qualidade e obti, dos pelo estado da arte tecnolégico, a partir de uma matéria~ prima até duas décadas atras desconhecida, o eucalipto. © crescimento da demanda da polpa de eucalipto se deve basicamente a duas razdes: 1) 0 mais baixo custo de pro dug3o que permite repassar para um mais baixo prego do produ- to; 2) a qualidade particular que as celuloses apresentam e levam a melhorias na qualidade de papéis como aqueles para im presséo, escrita, "tissues", decorativos, absorventes, etc. A tendéncia atual é para aumento da procura do produto, tanto que os produtores brasileiros estdo trabalhan- do praticamente sem estoques e 4s vezes impossibilitados de a tender a todas as ordens. Isso tem motivado movimento no sen- tido de aumento da produgo/capacidade instalada. Praticamen- te todos os grandes produtores de celulose de eucalipto no Brasil est&o anunciando aumento de capacidade até o final da década. © sucesso alcangado pelo eucalipto no Brasil se deveu principalmente 4 adaptagiio e desenvolvimento das Arvo- res de algumas espécies do género Eucatyptus em solos impré- prios & agricultura (solos arenosos pobres, solos iimidos, ro- chosos, de alta declividade, etc). As principais espécies a- tualmente utilizadas so Eucalyptus saligna, E. grandis, E. urophytla, E, teretéconnis, E. robusta e E. camatdulensis. Em vias de se tornarem populares, tendo em vista estudos flores- tais e tecnolégicos tem-se: E.dunnii, E. toxetliana, E. de- glupta, E. pilularis e E. pellita. Intimeros estudos de prospecgio de espécies j4 fo- xam e est&o sendo executados visando definir grupos afins de matérias-primas para garantir homogeneidade no produto final. B bem sabido que a qualidade do produto depende fundamental- mente da matéria-prima fibrosa.e do processo industrial (co- zimento/branqueamento/depura¢io/lavagem/secagem). Pelas alte- xagSes ocorridas nos mesmos chega-se a produtos diferenciados quanto a certas propriedades. Até hoje, o mercado esta acostumado a tratar "pol pa de eucalipt " como um finico produto, variando apenas o for necedor. £ uma situagao diferente em relagao 4s polpas de mer cado de fibra longa, onde temos tipos, inclusive com pregos diferenciados, para aquelas produzidas na costa ceste norte-: mericana, no sul dos Estados Unidos, no Chile, no Canada, nos paises escandinavos. S6 no Brasil, temos cerca de dez fabri- cantes de celulose kraft de eucalipto, espalhados de norte a sul do pafs, utilizando matérias-primas e processos caracte- risticos de cada um. Isso leva, certamente a termos caracte- risticas diferenciais entre os produtos, tornando-os mais es- pecificos quanto ao uso. © conhecimento de cada produto passa a se tornar cada vez mais necessArio para se poder orientar o uso, garan- tindo assim boa performance na m&quina de papel. O manejo ade quado do produto na preparagdo da massa (refino, formulagées, etc) ajudaré a uma maior uniformidade de desempenho, tornan- do-se em uma vantagem tanto ao fornecedor como ao consumidor. Mas, de que forma o fabricante de celulose de eu- calipto pode diversificar sua linha de produtos e alcangar segmentos especiais de mercado? Em primeiro lugar, j& foi mencionada a influéncia do seu processo industrial. Fabrican- tes que dispdem de opgSes em sua linha industrial tém possibi lidades maiores de alcangar produtos novos, com especificida-_ de de uso. As principais areas de atuag&o no processo para es se propésito sao: a) 0 cozimento kraft; ») o branqueamento da polpa; c) o tipo de secagem. As empresas que dispdem de co zinhadores "batch" ou digestores continuos adaptados para pro @ugao de celuloses para papel ou para dissolugao, podem, atra vés dos procedimentos da deslignificagao, alterar até certo ponto, dentro das caracterfisticas desejadas, as propriedades do produto. £ possivel, por exemplo, remogdo maior de’ hemice- luloses durante o cozimento, deixando a polpa com maior rigi- dez, 0 que confere maior absorgao de liquidos e porosidade & folha. Esse tipo de produto & indicado para ahsorventes e fil tros. Durante o branqueamento, a combinagao e a maneira de a- plicag&o dos estagios da sequéncia podem alterar sobremanei- ra 0 comportamento do produto final. Brangueamentos executa- dos com predomin&ncia de didxido de cloro em mais estagios dao origem a celuloses mais resistentes, alvas e estaveis. Por outro lado, o uso de hipoclorito facilita o desempenho da pol pa no refino. 0 tipo de secagem que se di As fibras também conduz a variagdes no desempenho do produto, A secagem "flash", pelo fato de ser instantaénea, aumenta a rigidez das fibras devido aos fenémenos de histerese, sendo que essa celu lose 6 muito disputada para a fabricago de filtros, papéis po rosos, absorventes e decorativos. A outra alternativa consiste na matéria-prima fi- brosa. As diferentes espécies de Eucalyptus comportam-se tipi camente na conversio a celulose dando origem a produtos tipi cos. 0 conhecimento das caracteristicas vantajosas de cada ti po de madeira permite, através de cozimentos individuais homo géneos, ou de misturas padrées de diversos tipos de madeira, atingir produtos caracter{isticos de uso orientado. B bem sabido, p.e., que espécies como E. satigna e E. grandis conduzem a excelentes propriedades de resistén- cia na polpa pela maior ligagdo de fibras. Entretanto,a maior afinidade de "fiber bonding" dessas fibras mais flexiveis, pro voca uma menor opacidade e menor volume especifico em rela¢lo a espécies de fibras mais rigidas como as de E. tereticonnés e E. robusta. Essas por sua vez, dao menor resisténcia 4 fo- ha porém dtima formagao, boa drenagem, absor¢o, porosidade, opacidade e volume. uma espécie de alto potencial para resisténcia ao rasgo € E, dunnii que vem sendo intensamente estudada para plantio no sul do pais pela sua boa resisténcia ao frio. Outra espécie bastante utilizada @ £. urophyeea, que mostra caracteristicas intermediarias entre o grupo E. 4a Ligna + E. grandis e 0 grupo E.. tereticornis + E. robusta. Além da espécie, uma outra forma de se obter ca- racteristicas diferenciadas no produto final 6 pela variabili dade da qualidade da madeira. 0 melhoramento florestal permi- te, dentro das espécies que conferem maior resisténcia 4 celu lose, promover o aumento da densidade da madeira, o que leva a fibras mais rigidas e como conseqlléncia, um aumento de poro sidade, opacidade e volume especifico. 0 uso de Arvores mais velhas, com mais alta densidade da madeira tem efeito similar. A espécie de Eucalyptus e a qualidade de sua ma- deira sio também muito importantes quando o propésito 6 a fa~ bricagao de polpas soliveis ou para dissolugio. # importante xessaltar que, embora lento, o crescimento da utilizagao de eucaliptos para essa finalidade & seguro e surpreendente. A- tualmente, na Africa do Sul, Espanha, It@lia e Brasil, j4 se produz viscose para fio e filmes com celulose de eucalipto. Além disso, j4 se desenvolveu no Brasil celulose pré-hidrdli- se kraft de eucalipto para fabricagao de acetato de celulose para filtros de cigarro. Quando se produz polpa para dissolugao, o mais im portante é a uniformidade da qualidade, principalmente quanto ao teor de hemiceluloses e grau de polimerizagio. A remogao das hemiceluloses do eucalipto é muito facil, sendo feita a- través de hidrélise aquosa. 0 importante 6 que o rendimento do processo nao seja prejudicado pela operagao de hidrdélise, que se mal conduzida hidrolisa carboidratos celulésicos tam- bén, As espécies E. saligna e E. grandis tém-se mostra do como muito indicadas para essa finalidade. Sio facilmente convertidas a polpa solfivel de teor de alfa-celulose acima de 96%, com bom rendimento de processo (~ 35%) e boa uniformida- de’ de produto. A combinagao de procedimentos processuais e de su primento de madeira permitira as empresas melhor atingir as necessidades individuais de cada cliente, dentro do -conceito moderno de qualidade de produto. Além disso, a utilizag3o de diversas espécies florestais confere seguranga ecolégica aos empreendimentos, j4 que a consorciagao de espécies nas flores tas diminui o risco de pragas e enfermidades florestais. Pelo exposto, estamos ingressando em uma nova era na industrializag&o do eucalipto: 0 estagio das polpas de uso orientado. Queremos ser pioneiros nesse particular.

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