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Faculdade de Medicina da UFMG Exercício 5 – Série Epidemiologia-

Med Departamento de Medicina Preventiva e Social

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL

OBJETIVOS

Ao final deste exercício o aluno deve ser capaz de:

• conceituar vigilância epidemiológica

• conhecer critérios utilizados para a seleção de doenças/eventos sob vigilância

• conhecer a lista das doenças de notificação compulsória nacional

• identificar as principais atividades ou funções de um serviço de vigilância

• descrever mecanismos de coleta de dados e principais fontes de dados

• caracterizar a importância da notificação de casos de doenças/eventos sob


vigilância

• diferenciar vigilância passiva e ativa

• Conhecer o sistema de notificação de agravos não transmissíveis

• utilizar a internet para verificar definição de casos e medidas de controle


normatizadas pelo Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica

INTRODUÇÃO

Em 1975, foi instituído o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica-SNVE (Lei


6.259/1975 e Decreto 78.231/1976) e se iniciou a organização da vigilância em nível
nacional, com unidade central baseada nos governos estaduais.

“Como define a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90), a vigilância epidemiológica é


"o conjunto de atividades que permite reunir a informação indispensável para conhecer, a
qualquer momento, o comportamento ou história natural das doenças, bem como detectar
ou prever alterações de seus fatores condicionantes, com o fim de recomendar

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oportunamente, sobre bases firmes, as medidas indicadas e eficientes que levem à


prevenção e ao controle de determinadas doenças".

Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde

Mais recentemente, a vigilância epidemiológica (VE), também denominada vigilância


em saúde, tem sido definida com o objetivo de ampliar o conceito de Vigilância de Saúde
Pública para outros problemas além das doenças transmissíveis.

O Objetivo da Vigilância em Saúde é desenvolver um conjunto de medidas capazes de


eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde além de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, incluindo o ambiente de trabalho, da produção e da
circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.

SELEÇÃO DAS DOENÇAS/AGRAVOS SOB VIGILÂNCIA

A inclusão de uma doença ou agravo no SNVE é definida pelo Ministério da Saúde.


Além do nível nacional, os Estados e municípios podem acrescentar outros eventos ou
doenças no sistema de vigilância, para enfrentamento de problemas de saúde específicos de
suas áreas. Ao estabelecer os agravos sob vigilância, a secretaria de saúde define ainda a
melhor estratégia para a coleta de dados, de acordo com os objetivos a serem alcançados e
capacidade operacional dos serviços de saúde.

Apesar de não ser obrigatoriamente a única fonte de dados para a vigilância,


historicamente a notificação tem se constituído no seu principal instrumento.

Notificação é a comunicação feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou


qualquer cidadão da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, para a adoção
das medidas de intervenção pertinentes.

As doenças definidas por norma legal como de notificação compulsória devem ser
comunicadas à autoridade sanitária pelos profissionais de saúde ou qualquer cidadão tanto
para permitir a adoção pelo nível local (hospitais, centros de saúde, etc.) das medidas de

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controle específicas para o paciente e seus contatos, em casos específicos, quanto para a
sua análise em nível agregado, para o acompanhamento epidemiológico do problema.

Aspectos que devem ser considerados na notificação:

• Notificar a simples suspeita de doença, sem aguardar a confirmação do caso,


para não atrasar a adoção das medidas de prevenção e controle indicadas;

• A notificação deve ser sigilosa, não devendo ser divulgada fora do âmbito
médico-sanitário, exceto no caso de risco para a comunidade;

• Mesmo na ausência de casos, a fonte notificadora deve enviar a notificação


negativa.

Para o estabelecimento das listas de doenças de notificação compulsória em todos os


níveis (nacional, estadual, municipal e local) são considerados alguns critérios, sendo os
mais utilizados:

• Magnitude: definida através de medidas de incidência e/ou prevalência,


mortalidade, anos potenciais de vida perdidos.

• Potencial de disseminação: pela transmissibilidade da doença.

• Transcendência: medida pela gravidade da doença (letalidade, hospitalizações


e seqüelas) e pela possibilidade de ter importantes repercussões sociais e
econômicas.

• Vulnerabilidade: possibilidade de controle por medidas regulares de


prevenção e controle.

• Compromissos internacionais: firmado com organismos internacionais como


a OPAS/OMS, como no caso da poliomielite, já erradicada no Brasil e que é
mantida na lista de notificação pela possibilidade de reintrodução do
poliovírus selvagem. Também as doenças sujeitas ao Regulamento Sanitário
Internacional, definidas como de notificação compulsória internacional, como
a peste, febre amarela e cólera, são incluídas, obrigatoriamente, nas listas
nacionais de todos os países membros da OPAS/OMS.

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• Epidemias, surtos e agravos inusitados: todas as suspeitas de epidemias ou da


ocorrência de agravos inusitados devem ser investigadas e imediatamente
comunicadas aos níveis hierárquicos superiores.

A portaria No 5, de 21 de fevereiro de 2006/SVS inclui doenças na relação nacional


de notificação compulsória, define doenças de notificação imediata, relação dos resultados
laboratoriais que devem ser notificados pelos Laboratórios de Referência Nacional ou
Regional e normas para notificação de casos.

Consulte o site abaixo para ler a portaria No 5, de 21 fevereiro de 2006:

http://www.saude.gov.br/sinanweb → Portaria GM/MS nº de 21 de fevereiro de 2006

Questão 01 – Liste as doenças de Notificação e assinale as de notificação em 24h

Consulte a portaria No 5, de 21 fevereiro de 2006, para responder a questão.

Botulismo; Carbúnculo ou Antraz; Cólera; Coqueluche; ;Dengue; ; Difteria; Doença


de Creutzfeldt – Jacob; Doenças de Chagas (casos agudos); Doença
Meningocócica e outras Meningites; Esquistossomose (em área não endêmica);
Eventos Adversos Pós-Vacinação; Febre Amarela; Febre do Nilo Ocidental; Febre
Maculosa; Febre Tifóide; Hanseníase; Hantavirose; Hepatites Virais; Infecção pelo
vírus da imunodeficiência humana – HIV em gestantes e crianças expostas ao risco
de transmissão vertical; Influenza humana por novo subtipo (pandêmico);
Leishmaniose Tegumentar Americana; Leishmaniose Visceral; Leptospirose;
Malária; Meningite por Haemophilus influenzae; Peste; Poliomielite; Paralisia Flácida
Aguda; Raiva Humana; Rubéola; Síndrome da Rubéola Congênita; Sarampo; Sífilis
Congênita; Sífilis em gestante; Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS;
Síndrome Febril Íctero-hemorrágica Aguda; Síndrome Respiratória Aguda Grave;
Tétano; Tularemia; Tuberculose; Varíola

“Na primeira metade do século 20, as Doenças Infecciosas Transmissíveis eram as


mais freqüentes causas de mortes. A partir dos anos 60, as Doenças e Agravos Não
Transmissíveis - as DANT tomaram esse papel. Entre os fatores que contribuíram para essa
transição epidemiológica estão: o processo de transição demográfica, com queda nas taxas
de fecundidade e natalidade e um progressivo aumento na proporção de idosos,
favorecendo o aumento das doenças crônico-degenerativas (doenças cardiovasculares,

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câncer, diabetes, doenças respiratórias); e a transição nutricional, com diminuição


expressiva da desnutrição e aumento do número de pessoas com excesso de peso
(sobrepeso e obesidade). Somam-se a isso o aumento dos traumas decorrentes das causas
externas (acidentes, violências e envenenamentos, etc.).

Projeções para as próximas décadas apontam para um crescimento epidêmico das


DANT na maioria dos países em desenvolvimento, em particular das doenças
cardiovasculares, neoplasias e diabetes tipo 2. As doenças e agravos não transmissíveis
respondem pelas maiores taxas de morbi-mortalidade e por cerca de mais 70% dos gastos
assistenciais com a saúde no Brasil, com tendência crescente.”

Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde

Questão 02 - A vigilância das doenças crônicas é essencial para o planejamento das


intervenções que busquem a promoção da saúde. Além disso, é essencial o monitoramento
dessas doenças para avaliação dos programas realizados. Abaixo você encontra as bases
das informações utilizadas no sistema de vigilância de doenças crônicas não transmissíveis.

Consulte o site:

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www.datasus.com.br - Indicadores e Dados Básicos - IDB-2007

Quais são as porcentagens de pessoas com 15 anos ou mais com excesso de peso
em 2004-2005 no Rio de Janeiro? E em Belo Horizonte?
SISTEMAS ESPECÍFICOS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Nos hospitais, existe um sistema de vigilância específico, neste caso direcionado para
o controle das infecções hospitalares. A Vigilância das Infecções Hospitalares (VIH) é um
componente fundamental da Comissão/Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).

Também o sistema de vigilância epidemiológica de eventos adversos à vacinação


está implantado nacionalmente e pode ser considerado um tipo particular de vigilância.
Maiores detalhes sobre esse sistema podem ser encontrados na internet

http://www.saude.gov.br/svs → Publicações → Guia de Vigilância Epidemiológica 6ª


Edição, Capítulo 4 – Sistema de Vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-
vacinais.

ORGANIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE VIGILÂNCIA

Todos os níveis dos serviços de saúde (local, municipal, estadual, federal) têm
atribuições de VE. A atuação no âmbito local não deve ficar restrita à realização de coleta
de dados e à sua transmissão a outros níveis. Quanto mais eficientemente as atividades de
VE forem realizadas no nível local (postos e centros de saúde, hospitais, distritos
sanitários), mais rapidamente serão desencadeadas as ações de controle, inclusive nos
níveis municipal, estadual e nacional. Para isso, os serviços de saúde devem ser orientados
quanto aos aspectos referentes à notificação, diagnóstico, tratamento, necessidade de
investigação epidemiológica e medidas profiláticas em relação às doenças consideradas sob
vigilância epidemiológica.

Em qualquer nível, o planejamento de um sistema de vigilância deve começar por uma


definição clara dos seus objetivos, identificando os eventos prioritários para a vigilância e o
uso esperado das informações geradas.

Na operacionalização da vigilância, as seguintes etapas devem ser seguidas:

1. Definir os casos

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2. Identificar os componentes do sistema de vigilância

2.1. Coleta de dados

• Tipos de dados a serem coletados

• Como serão coletados os dados

• Quais as fontes de dados

• Elaborar os instrumentos de coleta de dados.

2.2. Investigação epidemiológica de campo

2.3. Processamento, análise e interpretação dos dados coletados, com


recomendação das medidas de controle apropriadas.

2.4. Promoção das medidas de controle indicadas

2.5. Divulgação das informações pertinentes

3. Avaliar a utilidade do sistema de vigilância e seu desempenho

DEFINIÇÃO DE CASO

A definição de caso é de importância fundamental para a qualidade da informação do


sistema de VE. A utilidade das estatísticas de VE pode ficar limitada pela falta de
uniformidade da definição do que se considera “caso” para cada evento ou doença sob
vigilância. Dependendo dos objetivos da vigilância, podem ser adotadas definições de caso
mais sensíveis ou mais específicas. Em geral, são considerados critérios para a definição de
casos suspeitos e casos confirmados.

Essas definições, normatizadas em nível nacional, podem ser modificadas ao longo


do tempo, em função de alterações na epidemiologia da doença ou de alterações nos
objetivos das propostas de intervenção. Por exemplo, no caso da poliomielite, foram
adotadas diferentes definições de casos de acordo com as propostas de intervenção.
Atualmente, para evitar a reintrodução da doença, os casos de paralisia aguda flácida são de
notificação compulsória, objetivando aumentar a sensibilidade na detecção de casos
suspeitos de poliomielite.

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Questão 03 - S.M.R, 23 anos, sexo feminino, residente no município de


Jaguaraci/RJ, há 2 dias em BH a trabalho. Procurou a unidade de saúde próximo ao local
onde estava hospedado no dia 04/07/2006, com relato de febre há 5 dias, cefaléia, mialgia,
prostação, dor abdominal. Informou que apresentou um aumento do sangramento
menstrual. Ao exame: febril (38,5º C), PA: 100 x 60, abdome livre, prova do laço negativa
(-). Solicitado novos exames e encaminhada a UPA para coleta. Orientada a retornar a
unidade. Paciente retornou a unidade no dia seguinte (05/07/2006), com aumento do
sangramento menstrual, epistaxe, dor abdominal, febril, sudorética, lúcida, PA 90 x 60,
pulso fino, FC. 120. Exames realizados na UPA: Hc. 4,5 Hg. 10,9 Plaq. 86.000 Global.
Leucócitos 7.500. Exames realizados no Hospital de Jaguaraci em 03/07/2006: Hc 4,5
Hg.13,3 Ht.38 Plaq. 158.000 Global 10.500 Urina Rotina: 8 piócitos/c 15 hemácia /c
10epitélios/c . Prescrito tylenol e retorno a unidade caso necessário.

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• Consulte o fluxograma de Dengue e descreva que condutas necessárias que não foram
tomadas:

• Preencher a ficha de notificação com os dados do caso acima: (apenas as caixas de


texto na ficha de notificação)

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Questão 04 - H.R.S, 35 anos, sexo masculino, procurou a Equipe de Saúde da


Família da Unidade Básica de Saúde Cassiano Guedes, em 07/08/2004, relatando febre alta
há 4 dias acompanhada de tosse seca, coriza, dor generalizada, mal estar. Há 2 dias
procurou a UPA de referência de sua UBS, permanecendo na mesma durante
aproximadamente 8 horas. Foi diagnosticado virose e prescrito antitérmico e hidratação
oral. Hoje iniciou com exantema na face e pescoço e gânglios retro-auriculares palpáveis.
Nega contato com outras pessoas com mesmos sintomas, nega viagens. Possui cartão de
vacinação com registro de vacina contra febre amarela há 5 anos atrás e desconhece
vacinas recebidas na infância. Não sabe informar sobre as doenças comuns da infância.

Ao exame físico apresentava febre alta (39,5º), prostração, exantema na face e


pescoço, rinorréia, hiperemia conjuntival, orofaringe hiperemiada sem placas, taquipnéia,
roncos esparsos, abdome flácido

O médico diante do quadro de Doença Exantemática, estabeleceu duas prováveis


hipóteses diagnósticas para este caso: Rubéola e Sarampo.

Acesse o site: http://www.saude.gov.br/svs → Publicações → Guia de Vigilância


Epidemiológica 6ª Edição, Rubéola e Sarampo.

Verifique o critério de caso suspeito para essas duas doenças. Qual a sua hipótese
diagnóstica?

Qual a próxima conduta a ser tomada nesta situação?

No dia seguinte (08/08/2004), o médico da ESF discutiu o caso com a equipe,


consultou o guia de VE e a equipe da VE do Distrito Sanitário, que concluíram investigar
este caso no domicilio.

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Na investigação domiciliar encontraram H.R.S com exantema na face, tronco e


MMSS. O paciente e a esposa relembraram que foram há uma festa 10 dias antes do
aparecimento dos sintomas, realizada pela empresa onde trabalha, com cerca de 300
pessoas, oriundas de outros estados e países, não tendo conhecimento de que algum
convidado pudesse estar com sintomas semelhantes.

Diante destas informações repassadas ao Distrito Sanitário, a equipe da VE,


sabendo da existência de casos de sarampo em outros países, orientou coleta de espécimes
clínicos (swab de nasofaringe e urina) para possível detecção viral uma vez que já havia
coletado sangue no dia anterior. Ainda neste dia, a UBS recebeu o resultado dos exames
de sangue: Hemograma – Normal

Sorologia para Rubéola – IgG Reativo

Sorologia para Sarampo – IgM Reativo

Elaborar o Fluxograma de conduta. Analise os resultados e aponte outras medidas a


serem tomadas nesta situação? (Use o esquema abaixo apenas como base para seu
fluxograma)

CASO

SUSPEITO

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Questão 05 - Avalie o que modificaria na VE se o critério para sarampo fosse:

Todo paciente que, independente da idade e da situação vacinal, apresentar febre e


exantema.

Todo o paciente não vacinado, que apresentar febre alta (≥38º C) e exantema
maculo/papular, com sinal de Koplik positivo, acompanhado de um ou mais dos seguintes
sinais e sintomas: tosse e/ou coriza e/ou conjuntivite e que tenha em um período máximo
de sete a dezoito dias teve contato com um ou mais casos de sarampo confirmados pelo
laboratório.

COMPONENTES DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA

Coleta de dados

Tipos de dados

Os tipos de dados a serem coletados dependem das características epidemiológicas do


agravo e do tipo de vigilância adotado. Devem ser coletados somente os dados que
realmente serão utilizados, pois o acúmulo de uma grande quantidade de variáveis não
analisadas gera desperdício de tempo e recursos. Geralmente, são coletados dados de
identificação do paciente, dados demográficos (idade, sexo), dados relativos à doença (data
do início da doença, sinais e sintomas específicos, exames laboratoriais, data de internação)
e dados relativos a fatores de risco específicos.

Questão 06 - A meningite é uma doença que faz parte da Lista Nacional de Doenças de
Notificação Compulsória, de acordo com a Portaria No 5, de 21 de fevereiro de 2006/SVS.
É de responsabilidade do serviço de saúde notificar todo caso suspeito às autoridades
municipais de saúde, que deverão providenciar, de forma imediata, a investigação
epidemiológica e avaliar a necessidade de adoção das medidas de controle pertinentes.

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Qual a importância da coleta de dados relativos aos exames laboratoriais em relação à


definição das medidas de controle, no caso da meningite?

Como serão coletados os dados

No sistema passivo de vigilância, os médicos, ao atenderem pacientes com suspeita


de doença de notificação compulsória, preenchem um formulário padronizado de
notificação do caso para envio ao serviço de vigilância municipal. Este método de coleta de
dados baseado na notificação espontânea é muito criticado, devido ao sub-registro de
casos. O sistema ativo ocorre quando a equipe de vigilância estabelece contato direto
sistemático com as fontes de informação. Por exemplo, no caso das meningites, um
funcionário do serviço de vigilância percorre semanalmente os principais hospitais para
coleta de informações. Esses serviços onde são concentrados esforços para a obtenção das
informações epidemiológicas desejadas são chamados de fontes ou serviços “sentinela”.

A periodicidade da coleta no sistema de VE é geralmente semanal, mas pode ser


alterada de acordo com as características de cada doença, utilizando mecanismos mais
rápidos (telefone, telegrama ou diretamente), visando controle mais precoce da situação
(como por exemplo, no caso de raiva humana, meningite meningocócica, meningite por
haemophilus influenzae).

Questão 07 – Na vigilância das meningites, discuta as vantagens e desvantagens do


sistema passivo de coleta de dados em relação ao sistema ativo.

Fontes de dados

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A informação sobre as doenças/agravos e sobre os fatores associados pode ser obtida


de várias maneiras. As principais são:

• Notificações de centros de saúde, ambulatórios, hospitais e outras instituições de


saúde

A notificação compulsória é a principal fonte de dados, a porta de entrada do


sistema. A listagem nacional, estadual e municipal das doenças de notificação compulsória
está restrita a algumas doenças e agravos, de interesse epidemiológico, conforme colocado
anteriormente. A notificação é geralmente feita em formulários padronizados para a
notificação, que são enviados semanalmente ao Serviço de Epidemiologia do município.

Apesar de a notificação ser obrigatória por lei, (o que significa ser dever dos médicos
e outros profissionais da área de saúde notificar a ocorrência de um caso suspeito de
doença que esteja na relação de doenças/agravos de notificação compulsória), a
desorganização do sistema de vigilância em alguns municípios, com não garantia de
mecanismos que facilitem a notificação e o retorno da informação às fontes notificadoras
(retroalimentação do sistema), aliado ao desconhecimento ou descaso sobre sua
importância por parte de profissionais da área de saúde em geral, leva ao sub-registro de
doenças (sub-notificação).

• Busca ativa de casos de doenças/agravos sob vigilância

Geralmente todos os serviços de vigilância utilizam de alguma forma o sistema


ativo de coleta de dados, tradicionalmente denominado busca ativa de casos. Consiste em
visitas semanais, às vezes até diárias, a algumas fontes de informação selecionadas (alguns
hospitais, laboratórios, etc), feitas por profissionais do serviço de vigilância. É utilizada
para aumentar a sensibilidade do sistema, já que o sistema passivo (notificação
compulsória) pode ter alta proporção de sub-registro de casos, como visto anteriormente.

Os diagnósticos das internações e consultas e as causas básicas de óbito podem


complementar as notificações, seja para acrescentar dados não preenchidos ou dados
desconhecidos por ocasião da notificação, ou para detectar casos novos, não notificados.

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As doenças que requerem internação (como meningites, tétano e difteria) podem ser
acompanhadas apenas com informações de busca ativa hospitalar.

• Bases de dados dos Sistemas Nacionais de Informação

Os dados derivados do Sistema de Informações sobre Mortalidade-SIM, Sistema de


Informações Hospitalares-SIH/SUS, Sistema de Informações Ambulatoriais-SIAI/SUS e
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos-SINASC, podem ser utilizados para a
detecção de casos que deixaram de ser notificados e para complementar informações.

O acompanhamento dos óbitos é especialmente importante no caso de doenças como


a raiva, onde a incidência e a mortalidade são semelhantes. É também importante para
avaliar a qualidade da vigilância: a) nos casos onde constatou-se o óbito, mas não houve
notificação do caso (ou por falha na busca ativa hospitalar ou hospital fora da rede de
notificação de rotina, por exemplo); b) quando a letalidade da doença é conhecida, pode-se
estimar o número de casos a serem notificados a partir do número de óbitos.

• Laboratórios

O laboratório é fundamental como fonte de dados complementar para a confirmação


diagnóstica de várias doenças sob vigilância. Os dados laboratoriais de boa qualidade
também podem representar fonte de notificação para algumas doenças.

• Investigação epidemiológica de campo

Realizada geralmente para complementar as informações da notificação, muitas


vezes possibilita a descoberta de novos casos que não foram notificados, o que permite
melhor dimensionamento do problema.

• Imprensa e população:

Informações oriundas da imprensa e população são fontes eficientes de dados,


devendo ser consideradas e investigadas adequadamente, de modo a confirmar ou não os

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casos. Muitas vezes, este tipo de informação pode ser o primeiro alerta sobre um evento
sanitário, particularmente no caso de epidemias ou em localidades em que a VE não está
organizada ou é ineficiente.

• Outras fontes de dados:

A vigilância de alguns agravos exige utilizar outras fontes. No caso das doenças
veiculadas por vetores, o conhecimento da densidade vetorial, seus hábitos e resistência a
inseticidas, por exemplo, auxilia na indicação de medidas mais apropriadas para seu
controle.

A coleta de dados sobre o uso de certos produtos, como medicamentos, vacinas,


soros, imunoglobulinas pode complementar informações rotineiras sobre morbidade. Por
exemplo, o levantamento em farmácias sobre o aumento do consumo de certos
medicamentos (antigripais, antidiarréicos) pode indicar indiretamente o aumento do
número de casos de determinadas doenças.

Questão 08 – No período de 1991 a 1995, no Estado do Rio de Janeiro, foram registrados


9.213 óbitos de indivíduos adultos por AIDS, disponíveis no SIM – Sistema de
Informações sobre Mortalidade. Com base no nome e nas datas de nascimento e de óbito,
procurou-se relacionar aos casos notificados no período de 1982 a 1996, disponíveis no
Sistema de Notificação de Agravos de Notificação (SINAN). Verificou-se que 4.785 óbitos
por AIDS não estavam registrados como casos no SINAN. a) Com essas informações, você
poderia inferir que houve sub-registro de casos? b) Em caso positivo, calcule o sub-registro
estimado? (Lemos & Valente, 2001).

Instrumentos de coleta de dados

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Para a maioria das doenças de notificação compulsória existem formulários


padronizados para a investigação epidemiológica de cada caso notificado. Dessa forma, são
coletadas informações complementares, além das disponíveis na etapa de notificação do
caso. No caso de agravos inusitados ou durante a investigação de epidemias, poderá ser
necessário elaborar uma ficha de investigação especial, considerando as características
clínicas e epidemiológicas mais importantes.

3.2. Investigação epidemiológica de campo1

A denominação, que no sentido amplo pode ser utilizada em qualquer estudo


epidemiológico, em vigilância de doenças tem conotação específica, indicando uma
investigação epidemiológica a partir da notificação de caso(s) isolado(s) suspeito(s),
confirmado(s) ou mesmo contato(s), ou no caso de suspeita de surto, para a obtenção de
dados complementares que permitam confirmar o diagnóstico, detectar fonte e modo de
transmissão, determinar características epidemiológicas e fatores associados, com o
objetivo de orientar as medidas de controle. Para as doenças consideradas prioritárias
(sarampo, meningite, etc), se faz investigação individual de todo caso suspeito notificado,
com preenchimento de formulário padronizado, denominado “Ficha de Investigação”.

As fichas de todas as doenças estão disponibilizadas no site


http://www.saude.gov.br/sinanweb → Documentação → SINAN NET → Fichas

Qualquer notificação ou suspeita de surtos ou epidemias também deve ser objeto de


uma investigação epidemiológica. Pode-se definir o comportamento epidêmico de um
agravo à saúde como a elevação do número de casos caracterizando, de forma clara, um
excesso em relação ao número esperado. Entretanto, para confirmar a suspeita de epidemia,
é necessário antes averiguar se não houve mudanças no sistema de coleta de
dados/notificações ou outras atividades da VE, pois estas podem induzir a erros de
interpretação.

1
Para maiores detalhes, consultar o texto “Investigação Epidemiológica de Casos e Epidemias”,
disponível na Internet: http://www.saude.gov.br/svs → Publicações → Guia de Vigilância Epidemiológica 6ª
Edição, Capítulo 2 - Investigação epidemiológica de casos e epidemias.
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Processamento, análise e interpretação dos dados coletados, com recomendação das


medidas de controle apropriadas

Os dados coletados pelos sistemas rotineiros de notificação e nas investigações


epidemiológicas são processados em um programa específico de processamento eletrônico
de dados de vigilância, o SINAN-Sistema de Informação de Agravos de Notificação.

A análise é um processo que envolve inicialmente uma comparação de dados que


pode ser feita com relação ao tempo, lugar e atributos das pessoas (quando? onde? quem?),
procurando os determinantes da ocorrência dos problemas (por que?). É geralmente
necessário o cálculo de taxas ou coeficientes, para melhor estimativa dos riscos. Essa
análise deve ser oportuna para a tomada de decisões, a fim de propor as medidas mais
cabíveis a cada situação particular.

Promoção das medidas de controle indicadas

Após a análise dos dados, devem ser adotadas imediatamente as medidas de


prevenção e controle mais pertinentes à situação. Isso deve acontecer também no nível
mais próximo da ocorrência do problema, para que a intervenção seja oportuna e,
conseqüentemente, mais eficaz.

As medidas de controle incluem ações a serem realizadas desde o atendimento inicial


pelo médico do caso suspeito até as propostas mais gerais para controle da doença na
população.

Divulgação das informações pertinentes

A divulgação é uma etapa fundamental do sistema de vigilância e também uma das


mais precárias. As informações devem ser divulgadas de forma sistemática tanto para os
profissionais de saúde, quanto para a população. Podem ser apresentadas na forma
impressa através de boletins epidemiológicos ou por meio eletrônico utilizando a internet.
Informes específicos durante epidemias às vezes são necessários para divulgar as medidas
recomendadas.

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Material didático produzido para a disciplina de Epidemiologia/Graduação/Faculdade de Medicina da UFMG, por Elisabeth
França.
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A função de retroalimentação do sistema, ou seja, a devolução dos dados após sua


análise crítica aos níveis de menor complexidade do sistema é de grande importância para
que as pessoas envolvidas na VE mantenham-se informadas e motivadas, assegurando
credibilidade ao sistema.

AVALIAR A UTILIDADE DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA E SEU


DESEMPENHO

O sistema de VE deve ser periodicamente avaliado, para verificar seu desempenho e sua
utilidade quanto ao impacto alcançado pelas medidas de controle propostas. No caso do
sarampo, por exemplo, pode-se avaliar o desempenho do sistema de notificação, que deve
abranger um certo número de serviços de saúde, representativos em relação à detecção da
doença na população de referência; a eficiência seria medida através da cobertura vacinal
obtida e o impacto por meio da redução no número de casos de sarampo obtida com a
intervenção adotada.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância


Epidemiológica – 6a edição. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 816 p. (disponível na
Internet: www.saude.gov.br/svs → Publicações → Guia de Vigilância Epidemiológica - 6ª
edição).

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MMWR, 50 (N. RR 13), 2001.

LEMOS, Kátia Regina Valente & VALENTE, Joaquim Gonçalves. A declaração de óbito
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TEIXEIRA, Maria da Glória, PENNA, Gerson Oliveira, RISI, João Batista; PENNA, Maria
Lúcia; ALVIM, Maria Fernanda; MORAES, José Cássio; LUNA, Expedito. Seleção das
doenças de notificação compulsória: critérios e recomendações para as três esferas de
governo. Informe Epidemiológico do SUS, 7 (1): 7-28, 1998.

WALDMAN, Eliseu Alves. A vigilância como instrumento de Saúde Pública. In:


_____Vigilância em Saúde Pública. São Paulo: IDS/USP, 1998. p. 92-113.

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