Você está na página 1de 2

http://filosofiafrancesacontemporanea.blogspot.com.

br
/2010/02/

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


DOSSIE Voltaire Schilling I: Um motivo descabido

Em 1982, eu era aluno de ensino mdio e descobri a disciplina de


Histria como o curso universitrio que viria cursar graas ao
trabalho de Voltaire Schilling. As aulas de Voltaire eram
ministradas em amplas salas de pr-vestibular e eram
concorridssimas. As senhas de entrada eram disputadas e logo
esgotavam-se para quem no era do cursinho, como eu. E havia
ento o melhor de tudo, a distribuio, por monitores, das Cartilhas
com o contedo da palestra escritas por Voltaire. No havia como
esquecer a matria. Era timo.

Por esta razo o argumento utilizado pela Secretria de Cultura


Mnica Leal para demitir Voltaire Schilling da Direo do
Memorial do Rio Grande do Sul de que ele deveria se dedicar
menos aos Cadernos e mais a projetos de maior abrangncia
surpreende. No pelo direito de demiti-lo, que de fato ela tem, mas
pelo fato de que os Cadernos eram o que Voltaire sabia fazer
melhor, produto de sua experincia como pesquisador e professor
de pr-vestibular. Tinham pblico certo, professores e alunos. Por
outro lado, como se sabe, o Sistema de Museus do Estado carente
de recursos, e o Memorial sobrevive com pouco mais do que R$ 25
mil por ms. um verdadeiro milagre que Voltaire tenha
conseguido manter a programao do Memorial como o fez: foram
cerca de 46 Cadernos sobre os mais variados temas e dezenas de
exposies beneficiando amplamente alunos e professores do
sistema de ensino. A rigor, no havia nada errado com o projeto.
Era um projeto BBB: bom, bonito e barato.

Projetos de maior abrangncia? A idia de uma poltica cultural


baseada em mega-exposies discutvel. As instituies culturais
no Brasil que pautam-se pela produo de grandes eventos como o
Museu da Lngua Portuguesa e o Santander Cultural tem recursos
de sobra para isso. Nosso Estado no. Para os museus, mais
importante do que fazer mega-exposies o Estado dar-lhes
recursos humanos e materiais para um trabalho de base envolvendo
pesquisa, exposies, formao de professores e ensino. Voltaire
fazia isso e sua demisso interrompe uma poltica adotada pelo
Memorial que far falta. A Secretria bem intencionada, mas
achar que mega-eventos so sinnimo de poltica cultural
desconhecer as verdadeiras necessidades de seu sistema: finalizar as
reformas do Museu Jlio de Castilhos, retomar projetos da Casa de
Cultura encerrados e reabrir espaos como a Sala Lubisco, todos
espaos que possuem pblicos aguardando sua reabertura.

A rea cultural do Estado tem problemas? claro que tem, como


qualquer outra rea. Mas poderamos ao menos ter a capacidade de
evitar criar novos problemas. Com a sada de Voltaire, perde a
cultura do Estado. Figura inestimvel no panorama cultural, este
Paulo Francis da cultura ainda tinha muito o que fazer pelo
Memorial do Rio Grande do Sul. E agora, fica a pergunta: quem
continuar o projeto Cadernos do Memorial?
Postado por Jorge Barcellos s 16:49 Um comentrio:

Você também pode gostar