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sumARIO Intocugo, 538 Dotiniges ties, 528 magi, 524 al Aleta, 504 Estados afetwos pallens, 535, ‘ter 1 seninentos e ene 525 Sentiments sm objets, 528 Outras clssiticagbos deat, Meda, bia, panic, 538 ‘Auer do hur, 638 Teas a emocies aspects neuopseaigins da atid, 520 Teoria de James-Lange, 898 Teara de Cannon-Bad, 539 Teoria de Schacter & Singer, 539 Estruuras oorobais relacionadas de emogdes 528 Comunicago das emogbes, 540 Questies, 541 Referencias bibhogrsioa, 641 Introdugaio A maior dificuldade no estudo da afetividade éa de- finigo do termo, Nas mais variadas éreas de conhecimen- to, afeto pode ser relacionado com sentimento, emogao, carinho, simpatia, atengao, paixio e temperament A afetividade pode ser definida como todo o domi- nio das emo¢des, dos sentimentos e dos estados de hu: mor. Esta diretamente relacionada com as sensagoes, 08 impulsos eas voligoes, ou seja, com todo tipo de viven- Afetividade ‘Ana Cristina Gargano Nakata Chei Tung Teng ‘Ao inal deste capi, voot estar apto a 1. Etender que a aetvidade se refered forma ample aos comin as emogdes, dos sentimontos dos estado de humor 2. Compeeendr que « humor 8.0 tus afetivo om que indvduo ‘enontra em determina instante, e determin ume tonaace otva particular a cade momento, modiicando a natween ¢0 enti das experiencia vvencidas, 3. Recontecer que a emogéo pode ser deta como uma exc sfotva agua instontines, ntersae de cute cago. 4 Sabor quo o sntine 106 um esto aetvo mais estivel, menos lntens erealo em rela aetna. come as emagdes, en tho frequontementeascocado a reagbes coxpsrens, com © ure Entonder que medio 6 una emogéo unio presente em ‘animes supeioes¢ no homem, que precede um abt, ccunstanca ou svago qu dove ser evita, cia individual e suas formas de expresso mais comple- xas ¢ essencialmente humanas. Podemos chamar de afeto todo fendmeno psiquico que nao pode ser coordenado pela consciéncia objetiva ou por impulsos instintivos. Ou seja, todos os processos psiquicos imprecisos, impossiveis de serem compreendi «dos completamente e analisados logicamente. f um pro- ‘cess0 espontineo, involuntério, que engloba todas as vi vencias afetivas. Definigdes bas Inimeras s2o as definigbes dos fenémenos relacio- nados aos afetos e emogies dependendo do referencial te6rico pelo qual esto sendo analisados. No presente texto, as dfinigées sio baseadas no referencial fenome nol6gico, principalmente fundamentado por Jaspers. Humor O humor é0 tonus afetivo em que o individuo se en- contra em determinado instante. Ble determina uma to- nalidade afetiva particular a cada momento e modifica a natureza ¢ o sentido das experiéncias vivenciadas, Segundo Paim', o humor retine elementos psiquicos 40s somaticos, ou seja,o humor é vivenciado no corpo ein. fluencia as funeses vegetativas do organismo, como diges to, sono, estado de vigilia, ritmo cardtaco e respiratorio, Emagéio A emogio pode ser definida como uma reagio afe- tiva aguda, instantanea, intensa e de curta duracao. F 4quentemente acompanham reagées somiticas significa tivas e s20 desencadeadas por um determinado estimulo, gue pode ser interno (p. ex., uma meméria) ou externo (p.ex., uma discussio, um susto) Paixdio A paixlo é um estado afetivo extremamente inten- 50, que domina o psiqismo do individuo como um todo. A pessoa apaixonada tem apenas um objeto como faco de sua atencao, interesse e desejo, Sua capacidade de ra ciocinio logico fica prejudicada, suas ideias ficam defor- ‘madas e os demais interesses inibidos. O estado atfetivo de paixao pode ser prolongado. ‘Ao abrir da mana, Teresa leu, uma a uma, as cartas de ‘Simao Botelho. As que tinham sido escritas nas margens do Mondego enterneciam-na a copiosas ligrimas, Eram hinos i flicitade prevista eam tudo que mais formoso Pode dar 0 corapie humano quando a poesia da paixio «4 cor a0 pensamento,¢ uma formosa inspirativa na tureza Ihe empresta os seus esmaltes. Ent he scudiam vivos reminiscéncias daqueles dias: a sua alegria doi, as suas doces tristeza, esperangas a desvanecerai sat dades, os mudos coliquios com a ima queria de Simo, ‘céu aromitico que se Ihe alargava A inspiragao sofrega cle vagosdesejos, tudo, enfim, que lembra adesgragados (Camilo Castelo Branco, Amor de perigio, Catatimia Termo definido por Bleuler em 1942! como uma de- formacao afetiva da realidade. © humor, os sentimentos €as emogdes, como as paixdes, podem ser tao inten ‘que passam a exercer influéncia sobre todas as outras, fangdes psiquicas. Dessa forma, a capacidade de atengao se altera, po- dendo ficar muito desperta ou focada em determinado estimulo, a meméria se torna prejudicada ou fatos espe- cificos referentes a algo sio evocados em detalhes, a sen. sopercepgao pode ficaralterada, a psicomotricidade pode estar aumentada ou diminufda e pensamento pode se modificar de diferentes maneiras, o luxo, a velocidade e © conteido das ideias.* Ateto Afeto é definido como a qualidade ou tonus emocio- nal que acompanha uma ideia ou representagio mental, Reagdo ou resposta afetiva Podem ser definidas duas formas de resposta afet va de um individuo: a sintonizacio afetiva e a irradiacio afetiva’, A sintonizacio afetiva ocorre quando um individuo ¢ fortemente influenciado afetivamente por algum est mulo externo, situagdo ou pessoa. Ocorre uma sintonia entre as pessoas e o ambiente em que se encontra em de. terminado momento, A irradiagio afetiva ocorre quando um individuo & capaz de influenciar afetivamente outros individuos, ir- radiando seu estado afetivo momentaneo ao ambiente a0 seu redor. A fungao afetiva que avalia esta influéncia entre 0 individuo ¢ o ambiente também pode ser chamada de ressoniincia afetiva, que engloba tanto a sintonizagio como a irradiagao afetiva, Todas as pessoas sdo capazes de sintonizagio e irra iagao afetiva em determinado grau. Denomina-se rigi- dex afetiva a condicio de prejuizo da capacidade de sin- tonizagao e irradiagao afetiva, ou seja, de influéncia afetiva do individuo em relagio a0 ambiente que o cerca, Tal estado afetivo pode estar presente em algumas condi ‘s0es psicopatologicas e psicodinamicas anormais, Sentimento © sentimento ¢ um estado afetivo mais estavel, me ‘hos intenso e reativo em relagio a estimulos, como as. emogdes, ¢ nio tao frequentemente associado a reages corpéreas, como o humor. presenta uma tonalidade subjetiva e bastante intelec tual, medida que o sentimento esti frequentemente asso ciadlo a cognigées, valores, conceitose representagdes, que Ihe conferem um significado emocional. Exemplos extre Imamente diversos podem ser chamados de sentimento; um ntimento de que algo pode acontecer, um sentimento de clareza, um sentimento de um por do sol triste et Por necessitar de um conceito intelectual que no- ei os diferentes tipos de sentimento, ele apresenta mui- tas variagées dependendo da lingua, da cultura e do uni- verso subjetivo de significagées de cada individu, Nao sei qual 6 sentimento, ainda inexpresso, Que subitamente, como uma sufocacio, me alge 0 coragio que, de repente, Entre o que vive, se esquece, [io sei qual €0 sentiment Que me desia do caminho, ‘Que me di de repente Um nojo daquilo que seguia, ‘Uma vontade de nunca che ido, Um desej licido de indefinide. Um desejo de indef (Pemando Pessoa) Karl Jaspers descreveu e classficou as caracteristicas fenomenolgicas do sentimento, em sua manifestagio nto patolégica, da seguinte forma’ Segundo o modo de ser dos sentimentos’ O “sentimento” pode se referir ao sujeito (que sen te) ou a.um objeto (que recebe a ago). Ha uma signiti- cativa diferenca entre os sentimentos que sio referentes A consciéncia da personalidade, do eu, e nao referentes a nenhum objeto, e os sentimentos que sio referentes a consciéncia do objeto, e podem se classificar segundo es- tes objetos. Por exemplo, a paisagem triste, a tristeza pelo luto do pai, referem-se a consciéncia do objeto. (s sentimentos podem ser classificados em dimen- ses opostas, por exemplo, alegria e tristeza, prazer e des- prazer, ira e comico, grandeza e inferioridade. ‘Segundo os objetos a que se referem os sentimentos, Podem ser classificados das mais diversas maneiras, na tentativa de tornar concreto 0 que ¢ abstrato, Senti ‘mentos familiares, religiosos, patridticos etc. Segundo a origem (Os sentimentos podem se originar de sensagies (sen: timentos sensoriais: visio, audigz0, tato, dor, posigao, equilibrio), sendo espontaneos, auténomos e relaciona dos a sensorialidade humana. Poclem ser sentimentos vitais, experimentados no corpo do individuo e que causam uma sensagao de con ciéncia do eu em relagio ao corpo. Por exemplo, alguém muito triste que se queixa de uma dor torturante na ca- bega, que pressiona, sufoca, e the da a impressiio de que ‘uma nuvem negra est ao redor de sua cabeca, Podem também, se originar da psique (sentimentos psiquicos), sendo ligados & percepgao do significado, sem tanta di- fusio corporal quanto um sentimento vital. E ainda s rem provenientes do espirito ou da personalidade do ividuo (sentimentos espirituais), conceituando modos de ser, sentimentos misticos, metafisicos ou religiosos, referentes & visio de mundo do individuo. Segundo a importancia do sentimento para a vida O sentimento pode servir de estimulo ou inibigio para a vida como um todo, Segundo a parcialidade dos sentimentos Distinguem-se sentimentos particulares,dirigidos a determinados objetos, dos sentimentos totais, também chamados de estacios de sentimento, que abrangem o in: dividuo como um todo, em determinado momento. Gi ralmente estio direcionados para certa tendéncia, irvita bilidade, excitabilidade aumentada ou diminuida e estio acompanhados de alteragoes co humor. Segundo a intensidade de duragio dos sentimentos Jaspers definiu sentimentos como estados subjeti- ‘vos, singulares, origindrios da alma; nomeou “afetos” como processos de sentimentos complexos e momentineos de grande intensidade e com manifestacoes de natureza cor potea (que correspondem as emogoes); e “disposigoes’ como estados de espirito mais duradouros que conferem, um colorido particular a toda a existéncia da vida psiqui- «ca (que correspondem a estados de humor). Os sentimentos sto diferentes das sensagdes Sentimentos sio estados do eu (mesmo quando vol- tados a objetos), e sensagoes sao elementos da percepgio do ambiente e do proprio corpo. As sensagdes podem va riar em um continuo sendo puramente abjetivas, como visio e audicio, até corresponder a estados corpéreos ab tratos, como sensagio de posicao, de equilibrio, sensagio dos érgaos. Essas itimas esto frequentemente associa- das a sentimentos. Por exemplo, a tontura, que pode levar a ansiedade, medo de cair e até panic. ‘Algumas sensagdes so também sentimentos, po dendo ser chamadas de sensagées de sentimentos*,e po- dem levar a momentos de impulso. Sao as sensagies da pele (prurido, ardor, sensages tateis que podem ser pra- zerosas ou desagradaveis) do paladar, do olfato, fome, sede, cansago, excitacao sexual. Tais sensagoes geram di versos sentimentos no individuo, que é por sua vez im pelido por impulsos. Por exemplo, a sensacao de fome causa um sentimento de ansiedade e leva individuo a procurar alimento. Assim, sensacao, sentimento, afeto e impulso fazem parte do mesmo continuo. Estados afetivos patolégicos Alteragdes dos sentimentos e emogées (s sentimentos de manifestagao anormal ou patologi «a podem ser caracterizads de diversas maneiras. Uma das formas de se classificar é em relacao a sua compreensibili- dade. Apesar de se apresentarem de forma anormal, ou seja, alterada em relagao a0 esperado, podendl ser exagerado out reduzido, les podem se originar de contextos compreens'- veis, Por exemplo, um marido com citime da esposa apre- senta um sentimento compreensivel em relagao ae porém medida que inicia uma perseguigo a todos que se aprox: mam dela, passa a apresentar uma reagio desmedida 535 536 Quadro Emecio, sentient ¢ humor Reatiidode a estinulos Durogio Corie copsre0 Associa ace Emogdo——_Itersa une Somatizagios 2 Sontimento Baia Verve avo Associa a cogniges, valores conoses (gnitiesdos) Humor Boia Prolongade _talvéncia nas fungbes vegeta - Em outros casos, as vivéncias relacionadas aos sen- tos patoldgicos nao podem ser compreendidos, sio endégenos ¢ psiquicamente irredutiveis, 6 explici Por causas extrapsiquicas tim Karl Jaspers dlescreveu os sentimentos patolégicos segundo a seguinte classificagio* Alteragées dos sentimentos corpéreos Sentimentos corpéreos constituem a base do es tado geral dos sentimentos, sio vitais e orginicos, ¢ apresentam-se frequentemente nas psicoses. Como exemplos estao sentimentos frequentes em do engas orginicas, como a angiistia do cardiaco, a sufoca- Ho do asmtico, a sonoléncia da encefalite.E 0 sentimen to vital de melancolia na depressao, que € sentido como pressio no peito e na garganta, peso nos membros como escrito no trecho abaixo de Kurt Schneider. ‘Uma paciente diz: “Sempre esta pressio no est ‘mago, e na garganta. £ tao fixa como se nunca desapa- recesse. Entdo sinto que vou estourar, tanto me déi no peito. [..] E mais tristeza... Tenho aqui dentro de mim uma terrivel melancolia” Aterages dos sentimentos de energia ¢ rendimento Sentimentos de energia e rendimento sio referentes nossa prépria forca e autoconfianga. Nos depressivos prevalece o sentimento de insuficiéncia, de incapacida. de, indecisio, inutilidade e falta de propésito vital. De maneira andloga, no estado de mania prevalecem senti mentos de grandiosidade, poder, exaltacio, autoridade, influéncia e éxtase ‘Ateragdo na tonalidade afetiva na apreensio de objetos Alguns estados psicopatolégicos podem apresentar tonalidade afetiva alterada, tanto exacerbada quanto di minuida ow alterada, Tudo 0 que a consciéncia objetiva ‘consegue apreender, as paisagens, as coisas, pessoas, éin- terpretado pela psique do individuo. Assim, as coisas re cebem uma “fisionomia” particular para cada um, depen- dendo de seu estado de animo, de seu nivel de consciéncia atengio ou mesmo de sua visio de mundo. A empatia é uma forma particular de sentimento ha apreensao de um objeto, no caso, pessoas, em que 0 individuo pode compreender, subjetivamente, 0 ou. tro individuo por meio de um sentimento de familia- ridade, de identificagao, que ocorre por uma comple xa € espontinea avaliagZo do outro. A empatia também pode ter tonalidade afetiva exagerada, chegando a pre judicar o individuo ou, quase ausente, vendo as pesso: as como automatos sem alma. ‘Um paciente parandico que acreditava tocar lpis envenenados relatou: “Ao tocar em madeira, li, papel, « sensagao tatilé desagradavel,sinto uma corrente de fo atravessar todos os membros. O mesmo sentimento de “fogo” surge em frente ao espelho cujas irradiagbes me pr correm causticamente, O que methor se deixa tocar sio porcelana, metal, linho fino ou o proprio corpo em deter minadas partes’ “A isso se acrescenta que sinto a forca pe- netrantee luminosa em varias cores como tonalidades ci bolicas ou envenenadas, dotadas de irradiagio dolorosa [.-] A cor lilés, amarela e branca sio simpaticas a vista Sentimentos sem objetos Sio frequentes estes tipos de sentimentos em qua- dros de mania, onde a excitabilidade ocorre sem moti vos, nas depresses ou em inicio de psicoses, O sentimen: to surge de maneira endégena, incompreensivel. Na tentativa de se tornarem compreensiveis para o préprio individuo que sente, podem surgir objetos para que o sen timento se expresse sobre, sendo obra do juizo critic Angiistia n exemplo tipico de sentimento sem objeto é aan gistia. Um sentimento vital, que € sentido na regi do peito, referente a um medo inespecifico, de algo que nio se sabe a0 certo, uma apreensio que atinge toda a existén cia, Pode variar de uma intensidade violenta e fugaz, ca paz de provocar atos agressivos contra a propria pessoa, até uma ansiedade leve e constante, Também pode vir as sociada a virios sintomas corporais, como sufocamento, aperto, pressao, ¢ estar localizada em pontos especificos do corpo. Também pode se manifestar de forma repenti nna, com curta duragio, em uma crise de pinico. ‘A angtstia existencial é bem caracterizada por Jean: Paul Sartre!’ como a consciéncia da propria liberdade, da liberdade de escolha, da imprevisibilidade do proprio com portamento, Segundo a corrente filoséfica existencialist, nao ha limites para a liberdade, a que estamos condena- dos inexoravelmente. Nao hi Deus, nem qualquer citcuns- tncia que justiique o que fazemos, ou que determine nas: so comportamento, estamos sozinhos e somos os tinicos responsiveis pelas nossas decisées e pelas consequéncias que sofremos. A angistia é entdo, condicio fundamental a0 ser humano que esti “condenado a ser livre’ Negar essa condigdo leva a “alienagao existencial” Descrita por Sigmund Freud’, a angustia foi pi meiramente aribuida & libido que seria temida e reprimi- da pelo individuo. Mas tarde, Freud aprimora sua teoria da angiistia, descrevendo-a como um medo de um perigo ex temo, que seria a castragio,e que se liga a um perigo inter: 10, que remete 2s exigéncias da libido, Essa angst tracio esta relacionada a fase do complexo de Edipo, em que o menino ama sua mae, eteme ser castrado por seu ri val, pai. Engloba um sentido de angiistia de perda de algo importante do ponto de vista narcisico. Ludvig Binswanger, na anise do caso Jirg Ziind”, descreve a angistia da seguinte forma: “quando e enquan- toa angistia domina aexistencia do individu, todo ama durecimento existencial fica excluido; pois, na condigio de estar continuamente amedrontado, a existencia indi vidual nao se antecipa, mas fica perturbada e aprisiona da pelo ja-ser no ter-sido, A angiistia é uma perpetuagio forgosa do ter-sido” de cas- Inquietacao. Outro sentimento sem objeto é a inquietacio, um estado de excitagio interna constante, que pode acompa- nhar a angiistia. Presente em pacientes psicéticos, surge como um sentimento de procura por algo, necessidade de terminar alguma coisa inacabada ou esclarecer algo no compreendido. A inquietacao pode ser severa, ¢ le vara tensdo e tremores, paralisando qualquer outra ca: pacidade laborativa do individuo, que apenas procura dis tragies e repouso, Sempre esta inguietagio mordida aos bocados ‘Como pao reo escuro, que se esfaela caindo. Sempre este mal-estar tomado aos mas haustos Como um vinho de bébado quando nem a niuseaobsta Sempre, sempre, sempre Este defeito da circu na propria alma, Esta lipotimia das sensagies, Isto Fernando Pessoa) Felcidade Sentimentos de felicdade sem objeto, frequentes em éstados maniacos, podem se apres ‘spontineas de prazer, até éxtases mistico-religiosos in tensos, com sensacao de grandiosidade e libertacao. 0 seguinte trecho mostra como o sentimento de fli éidade pode estar associado ao delirio de autorreferéncia: desde sensagies Era omosse todo mundo pudesse ver em mim flick de e como se minha visio fizesse os outros felizes... Era como se eu fosse algo divino, As estagdes chegavam pes soas idosas 6 pra langarem um olhar no compartimento em que estava. cada um faa o melhor que podia para ‘obter de mim um olhar, Até mesmo ofcais, altos funcio- nis, enhore e senhoras com criangas desilavam dian te de meus olhos n esperanya de que quisesseolhar pra cles, Acho tudo isso muito bonito, mas devo saber quem, eo que eu sou, J ndo sou a mesma? Tornei-me outa pes- soas?...ALé os animals estavam alegres, ao olharem para ‘mim os cisnes abriam as asas em minha honra ‘Aoorigem de sentimentos sem objetos A medida que surgem sentimentos novos, possibil dades infinitas podem ser significadas, por meio da re presentacao, penisamento e percepgao. F assim que, a par- tir de um sentimento de felicidade sem objeto, novo € Intenso, dé-se continuidade a um mundo de conhecimen. to. A sensaglo de beatitude, leva & consciéncia de clarivi- déncia e transforma conceitos como Deus, morte, atem: poralidade em revelagoes extraordinarias, que apenas podem ser sentidas endo reproduzidas ou explicadas completamente, Seguem-se ao processo, sentimentos de sgraga € de libertado, e 0 individuo identifica-se com fi guras santas e biblicas, que emanam influéncia mistica a todos os seres e pessoas ao seu redor. Assim formam-se 0s delirios mistico-religiosos, grandiosos e autorreferen: tes em quadros maniacos, esquizofrénicos, em intoxica ses por drogas ou auras epilépticas Apatia Apatia ou atimia"®é a perda da capacidade de sentir afeto. E a auséncia parcial ou total de ges. A apatia total é mais comum em psicoses agudas, 0 individuo apresenta os olhos fixos e indiferentes a tudo a0 seu redor, falta-the estimulo para agir, ja que nao é ca- paz de nenhuma vivéncia afetiva. Pode nao apresentar al teragdes de consciéncia, atengao ou memoria, porém toda a sua percepcdo & estritamente objetiva. Pode ficar com: pletamente indiferente a alimentagao ou a dores fisicas indo a dbito se nao tratado intensivamente. Tal estado é semelhante a0 embotamento afetivo, termo associado aos quadros hipotimicos presentes em psicoses crOnicas, em que hé uma redugao da capacida: de de vivenciar e/ou expressar sentimentos e emocoes. No embotamento afetivo podem estar presentes alguns sentimentos, embora empobrecidos e grosseiros. A per- cepgio da pobreza dos afetos do embotamento afetivo parece estar associada a vivencia de sofrimento, porém de forma confusa e desconexa, 0 que pode diferenciar da apatia Jia anedonia éa incapacidade de sentir prazer com atividades ou circunstancias que antes eram vivenciadas dde maneira agradavel. O individuo se queixa de nao sen’ tir graca em nada, nao conseguir desfrutar da companhia de amigos, de prazer sexual ou alegria. Assim como a apa: tia, é comum em quadros depressivos. imentos ¢ emo- 538 Anestesia afetiva ‘A anestesia afetiva 60 sentimento da falta de senti- mento ¢ trata-se de um sentir penoso de que nio é ca- paz de sentir,e ndo de uma auséncia de sentimentos. mum em quadros depressivos ou qualquer proceso psicopatolégico em seu inicio. Os pacientes queixam-se de nao sentirem mais amor por seus familiares, ndo sen- tirem satisfagao com os alimentos, julgam-se incapazes de sentir alegra, sentem apenas um vazio constante. Es sentimento é marcado por um carster depressivo e an gustiante efrequentemente estd associado a sentimentos corpéreos. Trecho descrito por Biswanger do caso Ellen West" Tudo me € to insipido, ti indiferente; no sinto aera, nem medo.A morte ¢a malor diva da vida, endo atin ‘a. Sem a esperanga de um fim, a existéncia seria insu ardeo fim vird portivel, Apenasa certeza de que cedo ou me consola um pouco E ainda sobre o de riam fazer no mundo? -jo de nao ter filhos: 0 que deve- Outras el ssificacdes do afeto Hé outros termos que caracterizam alteragdes na afetividade. A fungi de modulagio afetiva seria a ca pacidade de manter os niveis de intensidade dos afetos em faixas adequadas, evitando excessos e descontroles. Como uma forma de prejuizo na modulagio afetiva, a labilidade afetiva representa a ocorréncia de mudangas suibitas e abruptas de estados de humor, sem um desen: cadeante definido necessariamente. Por exemplo, um pa ciente que se comove muito quando Ihe perguntam so bre sua casa e familia, rapidamente se anima ao recordar do cachorro do vizinho, manifestando entao um estado de humor totalmente contrario ao anterior em curto es- aco de tempo. Esta alteracao ocorre nos estados mistos, maniacos ou nos transtornos de personalidade emocio- nalmente instiveis' Outra forma de alteragao da modulagio afetiva se- Fia a incontinéncia afetiva, onde o individuo nao capaz, de conter suas reagdes afetivas. Ambas (labilidade e in continéncia) também podem ser chamadas de hipereste- sia afetiva, ou seja, exagero e inadequa¢io da reatividade do afeto. O individuo se desespera intensamente a0 per- ceeber que esta sozinho em um ambiente, por exe Podem ocorrer em quadros demenciais, mania, depres 0, psicases ou transtornos fébico-ansiosos Na inadequacio do afeto ou paratimia, individuo apresenta uma reagao afetiva incongruente tanto em in- tensidade, quanto em qualidade, a determinados contea- dos de sua vivencia atual. Observa-se a paratim 4quizofrenia ¢ em condigoes psicodindmicas de superacio do medo, luto ¢ abandono, por exemplo. Um exemplo de na es- paratimia é 0 caso de um doente que ao mesmo temp que se ri, informa que, durante a noite anterior, fi brs talmente espancado. Em quadros orginicos como tumores cerebrais ene cefalites,lesdes frontais e quadros degenerativos, om ‘mum havero rso ou choro patoldgicos, que sto imoti dos, sibitos, muito intensos e de curta duragao. Denomina-se neotimia uma experiéncia afetive nora ¢ diferente vivenciada por pacientes em estado psicstien No periodo de trema, que antecede a manifesta pa cética da esquizofrenia, ¢ frequente haver esses sentimen tos estranhos, apreensivos e angustiantes A ambivaléncia afetiva ocorre na esquizofrenia, nos {quadros depressivos e obsessivos e em que prevalece ai decisio e chivida. Trata-se da coexisténcia de sentimen tos contraditérios em relagio ao mesmo objeto Essa cone digio pode levar a ambitendéncia, ou seja, a alternénda de tendéncias a favor e contra determinada agio, o que pode levar ao bloqueio do individu. Medo, fobias, panico © medo é uma emogio universal presente em ani mais superiorese no homem, que precede um objet, cunstincia ou situagdo que deve ser evitada, Traz set mentos de inseguranca, impoténcia, angustiae invader Mira & Lopez" classifica o medo em seis etapas riter crescente de intensidade, 1) prudéncias 2) cautelas 2) alarme; 4) ansiedade, 5) pinico (medo intenso); 6) terror (medo muito intenso). mca pinico é uma reagio de medo intenso, que com mente abruptas, intensas e de curta durasio, Estao relacionadas com sensagao de grande pe- igo, descontrole, perda dos sentidos, sensagio de morte iminente e desintegracao. E acompanham sintomas evi dentes de descarga autonémica, como taquicardia, sudo rese, tremores, parestesia nos membros, apetto no peit nausea e vomitos, dispnéia, sensagao de vertigem e ton {ura ou aumento do transito intestinal, As crises de panico levam a uma reacio automatica de fuga, da situagio desagradivel ou do estimulo desen- cadeante, Esse mecanismo gera as fobias, que sio quadros psicopatoldgicos de medo exagerado de determinado ob- jeto ou situagao, desproporcional ao perigo que a rel se tuagao oferece. Alteragdes do humor Distimia ¢ definido psicopatologicamente como a: teragao do estado de humor, podendo ser por meio de cexacerbagao (distimia hipertimica) ou inibig2o do humor {distimia hipotimica). E importante nao confundir 0 con- éeito psicopatolégico de distimia com o diagnéstico de transtorno distimico (DSM-IV). © termo hipotimia se refere ao estado de humor pre dominantemente depressivo, enquanto hipertimia define estado de humor patologicamente exacerbado (mania 0 ou hipomanfaco). Dentre os estados de humor hip timicos estdo: a euforia, a elagao, ¢ 0 éxtase, respectiva mente, segundo a gradacio de intensidade. A euforia é uma alegria anormalmente intensa des- proporcional as circunstancias ou mesmo sem um moti- Yo definido. No estado de elacao ha expansio do Eu, ou seja, sentimento de grandiosidade, poder, do Eu em rela 640 a0 mundo. E no estado de éxtase ocorre uma sensa 20 de beatitude libertagao, dissolucio do Eu no mundo, frequentemente associado com experiéncias religiosas e misticas. Além da mania, também pode ocorrer na esqui: zofrenia e em quadros conversivos ¢ dissociativos. A disforia, por sua vez, 6 definida como estado de ir fitasio, acompanhado de alteracio de humor, tanto de presiva quanto maniaca. Pode ser desencadeado por qual quer estimulo externo, mesmo leve, sendo muitas vezes tna interpretado pelo individuo que vivencia a emogao de maneia anormal. A irvitabilidade patologica pode es- tar presente em diversos quadros orginicos, além de trans- tomnos mentais, de natureza psicética ou neurética. A puerilidade é0 nome dado ao estado afetivo infan. izado, primitivo, inadequado e imaturo. O individuo apresenta reagbes emocionais desmedidas, superficiais e inconsistentes, inadequadas a0 contexto. Tal condigo esti presente na esquizofrenia hebefiénica, no retardo mental, 4a histeria e nas personalidades imaturas. De maneira semelhante a puerilidade, a moria é uma forma de alegria extremamente pueril, ingénua e tola, que ‘ecorre em quadros organics, lesio de lobo frontal, de méncias e retardo mental. Teorias das emogdes e aspectos neuropsicolégicos da afetividade Teoria de James-Lange Em 1884, William James (1842-1910)"*" e Carl Lan. ¢" (1834-1900) desenvolveram a primeira teoria do sur gmento das emogdes a partir de observages das reagbes dsistema nervoso autonome periférco. Segundo estes autores, as emogies se originam a pat tirda percepgao humana das alteracées fisiologicas que se apresentam apés algum estimulo, Assim, primeiro 0 ho- mem “se depara como urso, eto comega atranspirar seu

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