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Unidade 2: A QUÍMICA DA VIDA

2.1 Propriedades e funções das biomoléculas

Todo organismo na natureza tem que ser capaz de sintetizar os compostos químicos
necessários para fazer funcionar, manter e reproduzir os blocos elementares da sua
estrutura, as células. Na presente unidade será abordado o estudo dos compostos
químicos predominantes nas células, suas propriedades físico-químicas, bem como
suas funções e utilidades.

2.2 De simples precursores a complexos polímeros

Até o século XIX acreditava-se que os animais continham uma Força Vital – animus –
que seria responsável por todas as suas características especiais, como a coragem,
valores, arrojo, etc. Uma força intimamente ligada ao corpo físico, com a propriedade
de transmitir vida à matéria inerte.
Hoje se sabe que não há nada nos seres vivos que desobedeça às leis da química e
da física. Entretanto, a química da vida é, de fato, muito especial segundo quatro
principais aspectos:
1) Ela é baseada principalmente em compostos de carbono, cujo estudo é conhecido
como química orgânica.
2) Ela depende quase que exclusivamente das reações químicas que ocorrem em
soluções aquosas dentro de uma faixa de temperatura relativamente estreita, à qual a
Terra é submetida.
3) Ela é normalmente complexa, mesmo os mais simples organismos têm uma
química muito mais complexa que qualquer outro sistema químico conhecido.
4) Ela é dominada e coordenada por moléculas poliméricas, formadas por
subunidades de compostos químicos ligados entre si por suas extremidades, com
propriedades específicas que permitem aos organismos crescer, reproduzir-se e
manifestar todos os comportamentos característicos da vida.

As células vivas são constituídas por compostos poliméricos de alto peso molecular,
assim como proteínas, ácidos nucléicos, polissacarídeos, lipídeos e outra gama de
materiais (gorduras, poliidroxibutirato, glicogênio). Esses biomateriais constituem a
maior porção dos elementos estruturais de uma célula viva. Por exemplo, uma típica
parede celular bacteriana é composta por polissacarídeos, proteínas e lipídeos; células
citoplasmáticas contêm proteínas principalmente na forma de enzimas catalíticas e,
organismos eucariotos têm o núcleo de suas células formado por ácidos nucléicos,
sobretudo na forma de DNA. Além destes polímeros, as células contêm outros
metabólitos na forma de sais inorgânicos (Ex. NH4+, PO4-3, K+, Ca+2, Na+, SO4-2),
metabólitos intermediários (piruvato, acetato) e vitaminas. A composição elementar de
uma típica célula bacteriana é de 50% carbono, 20% oxigênio, 14% nitrogênio, 8%
hidrogênio, 3% fósforo, 1% enxofre, e em menor quantidade de K+, Ca+2, Na+, Mg+2,
Cl, e vitaminas (Figura 2.1).

As macromoléculas celulares são apenas funcionais quando apresentam uma


configuração tridimensional adequada. A interação entre estas macromoléculas é bem
complexa. Cada macromolécula faz parte de uma organela intracelular específica e
desempenha funções diferentes dentro do seu microambiente exclusivo. A
transferência de informação de uma organela para outra (Ex: do núcleo para o
ribossomo) é mediada por moléculas especiais (Ex: RNA mensageiro).

A maioria das enzimas e metabólitos intermediários está dispersa no citoplasma das


células. Contudo, algumas organelas, assim como as mitocôndrias, contêm enzimas e
outros metabólitos presentes em seu próprio citoplasma. As células vivas podem ser
visualizadas como sendo um complexo reator em que acorrem mais de 2.000 reações
ao mesmo tempo. Essas reações (vias metabólicas) são inter-relacionadas e
controladas de forma complexa, formando redes intercaladas. Apesar de toda a
complexidade dos sistemas biológicos, a compreensão de tais sistemas pode ser
simplificada a partir da análise em diversos níveis diferentes: em nível molecular
(biologia molecular e bioquímica), nível celular (biologia celular e microbiologia), nível
populacional (microbiologia e ecologia) e em nível de produção (Engenharia
Bioquímica). A seguinte sessão é principalmente dedicada à compreensão das
estruturas e funções das moléculas biológicas.

2.3 Aminoácidos e Proteínas

Proteínas são as moléculas orgânicas mais abundantes dentro de uma célula viva,
compreendendo cerca de 40 a 70% da massa seca total da célula. Proteínas são
polímeros feitos a partir de monômeros de aminoácidos. Tipicamente, elas possuem
peso molecular de 6.000 podendo chegar a várias centenas de milhares.
Os aminoácidos são como blocos para a construção das proteínas e é composto pelo
menos por um grupo carboxila, de característica ácida, e um grupo amina, de
característica básica, diferindo um dos outros pela estrutura de seus grupos-R ou
cadeias laterais.

A seqüência de aminoácidos é responsável por determinar a estrutura primária de uma


proteína, enquanto as estruturas secundárias e terciárias são determinadas por
interações eletrostáticas fracas entre os grupos vizinhos. A última estrutura
tridimensional, a quaternária, é crítica para a atividade biológica da proteína. A junção
de cadeias polipeptídicas é a responsável por proporcionar as diferentes funções para
os compostos. Um dos principais exemplos de estrutura quaternária é a hemoglobina.

Os dois principais tipos de conformação de uma proteína são proteínas fibrosas e


proteínas globulares, retratados nas figuras 2.3 e 2.4. As proteínas exercem diversas
funções biológicas, podendo ser classificadas dentro de cinco principais categorias:

1. Proteínas Estruturais: glicoproteínas, colágeno, queratina.


2. Proteínas Catalíticas: enzimas.
3. Proteínas Transportadoras: hemoglobina, albumina de soro.
4. Proteínas Regulatórias: hormônios (insulina, fatores de crescimento).
5. Proteínas Protetoras: anticorpos, trombina.
2.3.1 Enzimas

As enzimas representam a maior classe de proteínas existentes, excedendo o valor de


2.000 tipos diferentes de enzimas conhecidas. As enzimas são moléculas altamente
específicas em suas funções e possuem um extraordinário poder catalítico (capaz de
promover a aceleração das reações químicas). Cada molécula enzimática contém um
sítio ativo onde substratos específicos permanecem ligados durante o processo de
catálise. As enzimas podem ser agrupadas em classes de acordo com sua
funcionalidade catalisadora, ou seja, por catalisar reações similares (ver unidade 3).
Cada tipo de enzima é altamente específica, catalisando apenas um único tipo de
reação. A maioria das enzimas são proteínas globulares.

Como dito anteriormente os blocos de construção das proteínas são os aminoácidos,


existindo 20 tipos de aminoácidos diferentes encontrados mais comumente.
Aminoácidos são nomeados com base nas cadeias laterais anexado ao carbono-α, ou
carbono quiral (Figura 2.5). O carbono-α é definido por estar associado a quatro
substituintes diferentes, dispostos segundo os vértices de um tetraedro, formando,
assim um centro quiral.

carbono-α

2.3.2 Estrutura das Proteínas

O carbono-α é encontrado em quase todos os aminoácidos, com exceção da glicina.


Os aminoácidos são opticamente ativos e ocorrem em duas formas isoméricas, L ou D
(Figura 2.6). O centro quiral determina diferentes configurações espaciais das
moléculas, também denominadas de estereoisômeros: apresentam propriedades
químicas e físicas idênticas, mas encontram-se em rotações espaciais diferentes. A
designação L ou D dos aminoácidos é determinada comparando-se suas estruturas
espaciais com um composto de referência, o gliceraldeído. Os estereoisômeros dos
aminoácidos que apresentam configuração relacionada à do L-gliceraldeído são
designados L-aminoácidos e os que apresentam configuração relacionada à do D-
gliceraldeído são designados D-aminoácidos.
Apenas o L-aminoácido é encontrado nas proteínas, os D-aminoácidos são
encontrados raramente na natureza, podendo ser encontrados apenas na parede
celular de alguns microorganismos e em alguns antibióticos.

Os aminoácidos têm sua porção ácida (-COOH) e seu grupo básico (-NH2). O grupo
ácido é neutro em pH baixo (-COOH) e negativamente alterado quando em baixo pH (-
COO-). Em valores intermediários de pH os aminoácidos tem grupos carregados
positiva e negativamente, sendo então dipolares. Moléculas dipolares são chamadas
de dipolo.

O valor do pH em que o aminoácido possui carga líquida é chamado de ponto


isoelétrico, variando dependendo do grupo-R do aminoácido. Em seu ponto isoelétrico,
um aminoácido é incapaz de migrar sob influência de um campo elétrico. Pesquisas
relacionadas ao ponto isoelétrico podem ser usadas no desenvolvimento de processos
para a purificação de proteínas. Os aminoácidos mais comumente encontrados nas
proteínas estão listados na Tabela 2.1.

As proteínas são formadas por cadeias de aminoácidos. A reação de condensação


entre dois aminoácidos resulta na formação de uma ligação peptídica. A Figura 2.8
mostra um exemplo de uma ligação peptídica.
A ligação peptídica é uma ligação plana. Peptídeos são compostos por dois ou mais
aminoácidos interligados por ligações peptídicas. Os polipeptídios têm como formação
dois ou mais aminoácidos ligados uns aos outros. Os polipeptídios são compostos por
no máximo 50 aminoácidos; seqüências maiores que 50 são chamados de proteínas.
Muitas proteínas possuem, além de aminoácidos, componentes orgânicos e
inorgânicos. Estes componentes são conhecidos como grupos prostéticos e as
proteínas que apresentam tais grupos são nomeadas de proteínas conjugadas. A
hemoglobina é um exemplo de proteína conjugada e possui quatro grupos-heme ao
qual são complexos de ferro organometálicos.

A estrutura tridimensional de uma proteína pode ser descrita sob quatro diferentes
níveis (Figura 2.9):

1. Estrutura Primária: formada por uma sequência linear de aminoácidos. Cada


proteína tem uma composição definida de aminoácidos com uma sequência única. A
primeira dimensão estrutural de uma proteína, a sequência de aminoácidos, tem
profundo efeito na formação da estrutura tridimensional e conseqüentemente na
função exercida pela proteína em questão.
2. Estrutura Secundária: esta é a direção pela qual a cadeia de polipeptídios é
estendida, sendo resultado de ligações de hidrogênio entre os resíduos mais
próximos. Os dois principais tipos de estruturas secundárias são (a) hélice e (b) folha-
β. A estrutura helicoidal pode ser na forma de α-hélice ou tripla-hélice. Em uma
estrutura em α-hélice, as ligações de hidrogênio ocorrem entre o grupo α-carboxila de
um resíduo e o grupo-NH do grupo vizinho a quatro unidades a jusante da cadeia,
como mostrado na Figura 2.11.
A estrutura em tripla hélice presente no colágeno consiste em três α-hélices
entrelaçadas em uma super-hélice, o que confere ao colágeno uma estrutura rígida e
elasticamente resistente. A estrutura α-helicoidal é facilmente distribuída devido às
ligações de H e que não são estáveis. Contudo, a estrutura em folhas-β é mais
estável. As ligações de H entre as cadeias paralelas estabilizam as estruturas em
folhas e promove resistência a elasticidade.
3. Estrutura terciária: é resultado das interações entre os grupos–R largamente
separados ao longo da cadeia. As flexões ou dobraduras da cadeia de aminoácidos
induzidas pela interação dos grupos–R determinam a estrutura terciária das proteínas.
Os grupos–R podem interagir por ligações covalentes dissulfeto, ou de hidrogênio.
Interações hidrofóbicas e hidrofílicas também podem estar presentes entre os grupos–
R. As ligações dissulfeto podem conectar duas cadeias polipeptídicas (Ex: insulina)
sendo criticas também para a flexão adequada da cadeia. A estrutura terciária de uma
proteína possui profundo efeito em sua função.
4. Estrutura quaternária: Apenas as proteínas com mais de uma cadeia
polipeptídica possuem estrutura quaternária. As interações entre as cadeias
polipeptídicas determinam as estrutura quaternária. A hemoglobina, por exemplo, é
constituída por quatro subunidades (oligométrica), e as interações entre as
subunidades é o que determina a estrutura quaternária da molécula. As forças
geradas pela ligação entre as cadeias polipeptídicas podem provir das ligações
dissulfeto ou de outras ligações fracas. A subunidade de uma enzima tem um papel
importante no controle de sua atividade enzimática.
2.3.3 Anticorpos

Anticorpos e imunoglobulinas são proteínas produzidas pelo sistema imunológico em


respostas às moléculas estranhas. São capazes de ligar-se de maneira extremamente
forte às partículas moleculares ou parcelas de moléculas maiores (macromoléculas)
com alto grau de especificidade. Anticorpos (Ac) aparecem no soro sanguíneo e em
certas células de organismos vertebrados em respostas a macromoléculas estranhas.
A macromolécula estranha é chamada de Antígeno (Ag). Moléculas de anticorpos
específicas são combinadas com antígenos para a formação de um complexo
antígeno-anticorpo. Este complexo Ag-Ac é o que chamamos de resposta imune. Além
de sua importância clínica óbvia, os anticorpos também são importantes para a
produção de produtos industriais, no caso de uso em técnicas de diagnóstico, e
separação e purificação de proteínas. Também podem se tornar um elemento chave
na distribuição de algumas drogas anti-câncer. Os anticorpos têm emergido como um
dos mais importantes produtos da biotecnologia.

As moléculas de anticorpos possuem sítios de ligação específicos e complementares à


parte estrutural fundamental do antígeno. As moléculas de anticorpos geralmente
possuem dois sítios de ligação e é capaz de formar um entrelaçado tridimensional de
antígenos e anticorpos postos de maneira alternada. Este complexo é chamado
precipitina, nome derivado de seu método de obtenção, já que resulta da precipitação
do soro, gerando um precipitado visível. Anticorpos são altamente específicos às
proteínas estranhas, que induzem sua formação.

As cinco principais classes de imunoglobulinas presentes no plasma sanguíneo


humano são: IgG, IgA, IgD, IgM e IgE, das quais as globulinas IgG são as mais
abundantes e mais bem compreendidas. As imunoglobulinas têm peso molecular
equivalente a 150 kilodaltons (kDa), exceto para a IgM, a qual pesa cerca de 900 kDa.
Um dalton (Da) e uma unidade de massa equivalente a um átomo de hidrogênio.

As imunoglobulinas são constituídas por quatro cadeias polipeptídicas: duas cadeias


pesadas (H) (aproximadamente 430 aminoácidos) e duas cadeias leves (L) (214
aminoácidos). Essas cadeias são mantidas unidas por ligações dissulfeto e possui o
formato de “Y”, região flexível da estrutura (Figura 2.13). As cadeias pesadas contêm
uma ligação covalente formada por componentes oligossacarídeos. Cada cadeia é
composta por uma região onde a sequência de aminoácidos se mantém constante (C)
e uma região de sequência variável (V). Uma molécula de Ac tem dois sítios de
ligação para Ag; a porção variável das cadeias L e H contribuem para a formação
destes sítios. A porção variável possui regiões de hiper variabilidade em que a
substituição de aminoácidos é freqüente. Estudos e aplicações com o
desenvolvimento de células e produção de anticorpos estão sendo objeto de interesse
no mundo todo. Pesquisas recentes levaram também a introspecção sobre a forma de
transmitir a atividade catalítica de anticorpos. A união entre novas pesquisas dentro da
engenharia de proteínas e os anticorpos promete o desenvolvimento de agentes
catalíticos extremamente específicos.
2.4 Carboidratos: Mono e Polissacarídeos

Os carboidratos são as biomoléculas mais abundantes na natureza e desempenham


uma função-chave no interior da célula: o armazenamento de componentes
estruturais. Eles também aparecem com papel crítico na modulação de alguns
aspectos de sinalização química em plantas e animais. São compostos por carbonos
hidratados, daí o nome carboidratos, e representados pela fórmula geral (CH2O)n,
onde n ≥ 3, e são sintetizados por meio da fotossíntese (Figura 2.14). Os animais não
são capazes de sintetizar carboidratos, por isso, precisam alimentar-se de vegetais
para a obtenção desses compostos.
Pelo processo da fotossíntese, os gases CO2 e H2O são convertidos em açúcar na
presença da luz solar e são, então, polimerizados para a produção de polissacarídeos,
como a celulose ou amido, utilizado nas reações metabólicas.

Monossacarídeos são os menores carboidratos existentes, compostos por três a nove


átomos de carbono. Os monossacarídeos mais frequentes estão listados na Tabela
2.2. Monossacarídeos são classificados como aldeídos ou cetonas. A glicose, por
exemplo, é uma aldohexose. A glicose pode estar presente na forma estrutural linear
ou anelar. Em solução, a molécula D-glicose está na forma estrutural de anel
(piranose). Na forma L-glicose, desempenha um papel de menor importância dentro

dos sistemas biológicos.

Um grupo particularmente importante dos monossacarídeos são as ribose e


desoxirribose. Estes são moléculas de açúcar formadas por cinco carbonos em
estrutura anelar e componentes essenciais na estruturação do DNA e RNA.

Dissacarídeos são formados pela condensação de dois monossacarídeos. Por


exemplo, a maltose, formada pela união de duas moléculas de glicose via ligação
glicosídica α-1,4.
A sacarose, por sua vez, é um dissacarídeo formado pela junção de uma molécula de
α-D-glicose com uma β-D-frutose. E a lactose, resultado da ligação de uma β-D-
glicose com uma β-D-galactose.

Figura 2.19 Estrutura dos dissacarídeos sacarose e lactose

A lactose pode ser encontrada no leite e no soro, enquanto a sucrose é o principal


açúcar encontrado em plantas fotossintéticas. A utilização do soro continua sendo um
importante desafio biotecnológico, e a sucrose é frequentemente o principal
componente nos meios de cultura

artificiais.

Polissacarídeos são formados pela condensação de mais de dois monossacarídeos


também por meio de ligações glicosídicas. O processamento industrial dos
polissacarídeos promove o extensivo uso de processos enzimáticos e engenharia
bioquímica.
Amilose é formada por uma longa cadeia de moléculas de glicose unidas por ligações
glicosídicas α-1,4. O peso molecular (MM) da amilose fica entre vários milhares e meio
milhão de daltons.

A amilose é caracterizada
por ser insolúvel a água e
constitui cerca de 20% de
uma molécula de amido.

Amilopectina é uma cadeia ramificada de moléculas de D-glicose. A ramificação


acontece entre o glicosídeo-OH de uma das cadeias e o -6C de outra glicose, ligação
esta, chamada ligação glicosídica α-1,6.

A molécula de amilopectina é muito maior que a amilose, com MM variando de um a


dois milhões de daltons. A amilopectina é uma molécula hidrossolúvel. Com a hidrólise
parcial do amido (ácida ou enzimática) tem-se a separação de moléculas de glicose,
maltose e dextrina, as quais são porções das ramificações da amilopectina. Dextrina é
utilizada como agente espessante.

O Glicogênio é composto por cadeias ramificadas de moléculas de glicose,


assemelhando-se a amilopectina. A molécula de glicogênio é altamente ramificada e
contêm cerca de doze unidades de glicose dispostas em segmentos de cadeias retas.
A MM típica de uma molécula de glicogênio é menos que 5x106 Da.

A molécula de celulose é longa, formada por cadeias não-ramificada de D-glicose


possui MM entre 50.000 e um milhão de daltons. As ligações em cadeia entre os
monômeros de glicose são chamadas de ligações glicosídicas β-1,4.
A ligação glicosídica β-1,4 é resistente à hidrólise enzimática. Apenas alguns
microorganismos são capazes de hidrolisarem este tipo de ligação existente na
celulose. A ligação glicosídica α-1,4 encontrada na molécula de amido ou glicogênio é
relativamente fácil de ser quebrada pela ação enzimática ou ácida. A eficiente hidrólise
da celulose continua sendo um dos maiores problemas nas tentativas de converter
resíduos de celulose em combustíveis ou produtos químicos.

2.5 Lipídios, Gorduras e Esteróides

Lipídios são compostos biológicos hidrofóbicos insolúveis em água, mas solúveis em


compostos não polares como benzeno, clorofórmio e éter. Geralmente estão
presentes em fases biológicas não aquosas, como nas membranas plasmáticas.
Gorduras são lipídios que servem como reserva biológica de energia. Lipoproteínas e
lipopolissacarídeos são outros tipos de lipídeos, que aparecem nas membranas
celulares. As células podem alterar sua composição de lipídeos das membranas para
compensar (ao menos em parte) as mudanças na temperatura, ou para aumentar sua
tolerância a agentes químicos como etanol.

O componente mais abundante na maioria dos lipídeos são os ácidos graxos, que são
formados por hidrocarbonetos de cadeia longa (hidrofóbicos), com um grupo carboxila
no final (hidrofílico). Um ácido graxo típico pode ser representado por

CH3 - (CH2)n – COOH

O valor de n é geralmente entre 12 e 20. Ácidos graxos insaturados contém duplas


ligações - C = C -, como o ácido oléico.

Ácido Oléico: CH3 – (CH2)7 – HC = CH – (CH2)7 - COOH

A lista com os ácidos graxos mais comuns é mostrada na Tabela 2.3. A cadeia de
hidrocarbonetos de um ácido graxo é hidrofóbica (insolúvel em água), mas o grupo
carboxila é hidrofílico (solúvel em água).
Gorduras são ésteres de ácidos graxos com glicerol. A formação de uma molécula de
gordura pode ser representada segundo a reação:
Os fosfoglicerídeos têm uma estrutura familiar ao das gorduras, com uma única
diferença, o ácido fosfórico substitui o ácido graxo e é esterificado á glicerol.
Membranas biológicas contêm fosfolipídios e outros lipídios polares.

Outra classe de lipídios que tem uma grande importância tecnológica são os
poliidroxialcanos. Em particular o poliidroxibutirato (PHB) é de interesse tecnológico,
pois pode ser usado para formar uma folha polimérica limpa e biodegradável. Em
algumas células o PHB é formado como um produto de reserva energética.

Esteróides também podem ser classificados como lipídios. Esteróides ocorrem


naturalmente como hormônios, que são importantes reguladores do desenvolvimento
animal e do metabolismo a concentrações muito baixas (por exemplo, 10-8 M). Um
esteróide muito conhecido, o colesterol, está presente em membranas de tecidos
animais. A Figura 2.24 mostra a estrutura de alguns esteróides importantes. A
cortisona é um antiinflamatório usado para tratar artrite reumatóide e algumas doenças
da pele. Derivados do estrógeno e progesterona são utilizados como contraceptivos. A
produção comercial de esteróides é muito importante e depende de conversões
microbianas. Devido ao grande número de centros assimétricos, a síntese completa de
um esteróide é difícil. As plantas são uma fonte abundante de lipídios precursores
destes esteróides, mas a hidroxilação altamente especifica destes substratos nas
posições 11 (e 16) ou desidrogenação na posição 1 são necessários para converter
estes precursores em compostos similares àqueles produzidos na glândula adrenal.
Isto não pode ser feito facilmente por vias químicas e é produzido comercialmente
utilizando-se micróbios que contém enzimas mediando às reações específicas de
hidroxilação ou desidrogenação.

2.6 Ácidos Nucléicos

Ácidos nucléicos participam da via central na reprodução das células. Ácidos


desoxirribonucléicos (DNA) armazenam e preservam a informação genética. Ácidos
ribonucléicos (RNA) participam da síntese de proteínas. Ambos DNA e RNA são
grandes polímeros feitos por seus nucleotídeos correspondentes.

Nucleotídeos são os blocos que constroem o DNA e o RNA e ainda servem como
moléculas de reserva energética e agentes redutores. Os três maiores componentes
de todos os nucleotídeos são o ácido fosfórico, pentose (ribose ou desoxirribose), e a
base (purina ou pirimidina). A Figura 4.1 retrata a estrutura dos nucleotídeos e as
bases purinas e pirimidinas. Duas das principais purinas presentes nos nucleotídeos
são adenina (A) e guanina (G), e as três principais pirimidinas são timina (T), citosina
(C) e uracila (U). Ácidos desoxirribonucléicos (DNA) contêm as bases A, T, G e C, e
ácidos ribonucléicos (RNA) contém as bases A, U, G e C. Esta é a seqüência base do
DNA que carrega a informação genética para a síntese de proteínas.
Na unidade seguinte iremos discutir mais detalhadamente a via dos nucleotídeos na
energética celular. Os trifosfatos da adenosina, e com uma menor extensão os da
guanosina são as principais moedas energéticas de uma célula. As pontes de fosfato
no ATP (adenosina trifosfato) e GTP (guanosina trifosfato) são ligações de alta
energia. A formação destas ligações de fosfato ou sua hidrólise é o primeiro meio pelo
qual a energia celular é armazenada ou utilizada. Por exemplo, a síntese de um
composto que é termodinamicamente desfavorável pode ser acoplada a hidrólise do
ATP à ADP (difosfato) ou AMP (monofosfato). A reação acoplada pode ocorrer em
uma amplitude muito maior desde que a diferença de energia livre (∆G) venha a ser
mais negativa. Em reações que liberam energia (por exemplo, oxidação de um
açúcar), a energia é capturada e armazenada para a formação de uma ligação de
fosfato em uma reação acoplada onde o ADP é convertido a ATP.

Além disso, para utilizar o ATP no armazenamento de energia, a célula armazena e


libera átomos de hidrogênio das reações biológicas de oxidação-redução utilizando
derivados de nucleotídeos. Os dois agentes redutores transportadores mais comuns
são nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) e nicotinamida adenina dinucleotídeo
fosfato (NADP).

Além de ser uma via importante na energética celular, os nucleotídeos são importantes
monômeros. Os polinucleotídeos (DNA e RNA) são formados pela condensação de
nucleotídeos. Os nucleotídeos são unidos pelos carbonos 3’ e 5’ dos anéis de
açucares sucessivos por ligações fosfodiéster. As estruturas do DNA e RNA são
mostradas na figura 4.2.
2.6.1 DNA

O DNA é uma macromolécula filamentosa muito grande (Peso molecular, 2x109 em


E.coli) e tem uma estrutura tridimensional em dupla hélice. A seqüência das bases
(purinas e pirimidinas) no DNA carrega a informação genética, enquanto que o açúcar
e os grupos fosfato têm um papel estrutural. A seqüência das bases do DNA é escrita
na direção 5’→ 3’ como pAGTC. A estrutura em dupla hélice do DNA é retratada na
Fig. 4.3. Nesta estrutura, as duas cadeias de polinucleotídeos helicoidais são
enroladas em torno de um eixo comum para formar o DNA dupla hélice, e as cadeias
caminham em direções opostas, 5’→ 3’ e 3’→ 5’. As principais características da dupla
hélice do DNA são as seguintes:

1. As unidades de fosfato e de desoxirribose estão em um plano, e as bases estão em


direção ao centro. Os planos das bases são perpendiculares ao eixo da hélice.

2. O diâmetro da hélice é de 2 nm. A estrutura helicoidal se repete após 10 resíduos


em cada cadeia, em um intervalo de 3,4 nm.

3. As duas cadeias são mantidas unidas por ligações de hidrogênio entre os pares de
bases. Adenina sempre se pareia com timina (duas ligações de H); guanina sempre se
pareia com citosina (três ligações de H). Esta característica é essencial para a função
genética do DNA.

4. A seqüência das bases ao longo do polinucleotídeo não é restrita a nenhum


caminho, entretanto cada fita deve ser complementar a outra. A seqüência precisa das
bases carrega a informação genética.

O grande número de ligações de H formadas entre os pares de bases provê a


estabilização molecular. A regeneração do DNA a partir de um segmento de DNA
original é conhecida como replicação do DNA. Quando segmentos de DNA são
replicados, uma nova fita de DNA se forma diretamente do DNA original, e a outra fita
é recém sintetizada utilizando a fita original como molde. Portanto, a replicação do
DNA é semiconservativa, como demonstrado na Fig. 4.4.
Algumas células contêm segmentos de DNA circular no citoplasma que são chamados
de plasmídeos. Plasmídeos são segmentos de DNAs não-cromossomais, autônomos
e auto-replicativos. Plasmídeos são facilmente retirados e introduzidos nas células e
frequentemente utilizados para engenharia genética. Plasmídeos que ocorrem
naturalmente podem codificar fatores que protegem a célula contra antibióticos ou
compostos químicos tóxicos.

2.6.2 RNA
A principal função do DNA é carregar a informação genética nas seqüências das
bases. A informação genética do DNA é transcrita para moléculas de RNA e
traduzidas na síntese protéica. Os moldes para síntese do RNA são moléculas de
DNA, e as moléculas de RNA são moldes para a síntese protéica. A formação de
moléculas de RNA a partir do DNA é conhecida como transcrição, e a formação de
peptídeos e proteínas a partir do RNA é chamada de tradução.

Certas moléculas de RNA têm a função de intermediários no transporte da informação


genética durante a síntese protéica (mensageiro, m-RNA), visto que outras moléculas
de RNA [transportador (t-RNA) e ribossonal (r-RNA)] fazem parte da maquinaria de
síntese protéica. Ao contrário das moléculas de DNA, a maior parte do RNA está
localizada no citoplasma (m-RNA e t-RNA). O RNA ribossomal (r-RNA) está localizado
nos ribossomos que são pequenas partículas feitas de proteína e RNA. Ribossomos
são organelas citoplasmáticas (geralmente ligadas na superfície da membrana do
reticulo endoplasmático nos eucariontes) e são sítios de síntese de proteínas.

RNA é uma macromolécula longa, não ramificada que consiste de nucleotídeos


ligados por ligação fosfodiéster 3’→ 5’. Uma molécula de RNA pode conter de 70 a
milhares de nucleotídeos. Moléculas de RNA geralmente são de fita simples, exceto
alguns RNAs virais. Contudo, certas moléculas de RNA contêm regiões de hélice
dupla, como voltas de grampo (hairpin loops). A figura 4.5 descreve a estrutura em
forma de trevo do t-RNA (RNA transportador). Nas regiões de dupla hélice do t-RNA, A
pareia com U e G pareia com C. A quantidade de RNA na célula é geralmente de duas
a seis vezes maiores do que a quantidade DNA.

Vamos fazer um resumo de cada tipo de RNA:

RNA mensageiro (m-RNA) é sintetizado no cromossomo e carrega a informação


genética do cromossomo para a síntese de certa proteína para os ribossomos. A
molécula de m-RNA é uma grande molécula com uma meia-vida curta.

RNA transportador (t-RNA) é uma molécula relativamente pequena e estável que


transporta um aminoácido específico do citoplasma para o sítio de síntese protéica nos
ribossomos. O t-RNA contém de 70 a 90 nucleotídeos e tem seu peso molecular em
torno de 23 a 28 kd. Cada um dos 20 aminoácidos tem pelo menos um t-RNA
correspondente.

RNA ribossomal (r-RNA) é o principal componente dos ribossomos, constituindo


aproximadamente 65% do ribossomo. Os restantes são várias proteínas ribossomais.
Três tipos diferentes de r-RNA estão presentes em ribossomos de E.coli que são
especificados como 23S, 16S e 5S, respectivamente baseado nos seus coeficientes
de sedimentação (determinado em centrifuga). O símbolo S determina a unidade de
Svedberg. Os pesos moleculares são 35.000 kd para o 5S, 550.000 kd para 16S e
1.100.00 para o 23S. Estes três r-RNAs diferem-se em suas seqüências de bases e
suas proporções. Células eucarióticas têm grandes ribossomos e quatro tipos
diferentes de r-RNA: 5S, 7S, 18S e 28S. RNAs ribossomais formam grande parte da
fração de RNAs totais. Em E.coli, cerca de 85% do RNA total é r-RNA, enquanto t-
RNA é cerca de 12% e m-RNA é de 2% a 3%.

2.7 Nutrientes celulares

A composição da célula difere grandemente com o seu ambiente. A célula deve


seletivamente remover compostos desejáveis do ambiente extracelular e conservar
outros compostos consigo mesma. A membrana semipermeável é a chave para esta
seletividade. Se a composição da célula é bem diferente do seu ambiente, a célula
deve gastar energia para se manter longe do equilíbrio termodinâmico. O equilíbrio
termodinâmico e a morte são equivalentes para a célula.

Todos os organismos, exceto os vírus, contêm grandes quantidades de água (cerca de


80%). Aproximadamente 50% do peso seco das células são proteínas, e grande parte
das proteínas são enzimas (proteínas que agem como catalisadores). A quantidade de
ácidos nucléicos (que contém o código genético e a maquinaria para sintetizar
proteínas) da célula varia entre 10% a 20% de peso seco. Entretanto, vírus podem
conter mais de 50% de seu peso seco em ácidos nucléicos. Tipicamente, a quantidade
de lipídeos na maioria das células varia entre 5% a 15% do peso seco. Contudo,
algumas células acumulam PHB em até 90% da massa total sobre certas condições
de cultivo. Em geral, a composição intracelular das células varia de acordo com o tipo
e idade das mesmas, e a composição dos nutrientes do meio. As composições típicas
para a maioria dos grupos de organismos são resumidas na Tabela 2.5.

A maioria dos produtos formados por organismos é produzida como resultado de sua
resposta às condições ambientais, como nutrientes, hormônios de crescimento e íons.
As necessidades nutricionais qualitativas e quantitativas das células são determinadas
para otimizar o crescimento e a formação de produtos. Os nutrientes requeridos pelas
células podem ser classificados em duas categorias:

1. Macronutrientes são necessários em concentrações maiores que 10-4M. Carbono,


nitrogênio, oxigênio, hidrogênio, enxofre, fósforo, Mg2+, e K+ são os principais
macronutrientes.

2. Micronutrientes são necessários em concentrações menores que 10-4M. Elementos


traço como Mo2+, Zn2+, Cu2+, Mn2+, Fe2+, Ca2+, Na+, vitaminas, hormônios de
crescimento, e precursores metabólicos são micronutrientes.

2.7.1 Macronutrientes

Compostos de carbono são a maior fonte de energia e carbono celular. Os


microrganismos são classificados em duas categorias em relação a sua fonte de
carbono: (1) Heterótrofos utilizam compostos orgânicos como os carboidratos, lipídeos
e hidrocarbonetos como fonte de carbono e energia. (2) Autótrofos usam o dióxido de
carbono como fonte de carbono. Mixotróficos crescem concomitantemente sob as
duas condições, autotrófico e heterotrófico, entretanto, o crescimento autotrófico é
estimulado por certos compostos orgânicos. Autotróficos facultativos normalmente
crescem sob condições autotróficas, mas podem crescer sob condições heterotróficas,
na ausência de CO2 e fontes de energia inorgânica. Quimioautótrofos utilizam CO2
como fone de carbono e para obter energia a partir da oxidação de compostos
inorgânicos. Fotoautótrofos utilizam CO2 como fonte de carbono e a luz como fonte de
energia.

As fontes de carbono mais comuns em fermentações industriais são melaço


(sacarose), amido (glicose, dextrana), xarope de milho e licor de resíduos de sulfito
(glicose). Em fermentações laboratoriais, glicose, sacarose, e frutose são as fontes de
carbono mais comuns. Metanol, etanol e metano também constituem fontes de
carbono baratas para algumas fermentações. Em fermentações aeróbicas, cerca de
50% do substrato de carbono é incorporado nas células e cerca de 50% é utilizado
como fonte de energia. Em fermentações anaeróbicas, uma grande parte do substrato
de carbono é convertido em produtos e uma pequena parte é convertido a massa
celular (menos de 30%).

O nitrogênio constitui aproximadamente 10% a 14% da massa seca celular. As fontes


de nitrogênio mais utilizadas são amônia e sais de amônio [NH4Cl, (NH4)2SO4,
NH4NO3], proteínas, peptídeos e aminoácidos. O nitrogênio é incorporado à massa
celular a partir das proteínas e ácidos nucléicos. Alguns organismos como Azotobacter
sp. e cianobactérias fixam o nitrogênio da atmosfera para formar amônio. A uréia
também pode ser utilizada como fonte de nitrogênio por alguns organismos. Fontes de
nitrogênio orgânico como extrato de levedura e peptona são caros comparados á sais
de amônio. Algumas fontes de carbono e nitrogênio utilizados na fermentação
industrial são resumidas na Tabela 5.2.
O oxigênio está presente em todos os componentes celulares orgânicos e na água
celular e seus constituintes em cerca de 20% do peso seco das células. O oxigênio
molecular é utilizado como receptor final de elétrons no metabolismo aeróbico de
compostos de carbono. O oxigênio gasoso é introduzido no meio de crescimento por
aspersão ou pela aeração da superfície.

O hidrogênio constitui cerca de 8% do peso seco celular, e é derivado primeiramente


dos compostos de carbono, como os carboidratos. Algumas bactérias, como as
metanogênicas conseguem utilizar o hidrogênio como fonte de energia.

O fósforo constitui aproximadamente 3% do peso seco das células, e está presente


nos ácidos nucléicos e como ácidos teicóicos da parede celular de algumas bactérias
gram-positivas. Sais de fosfato inorgânico como KH2PO4 e K2HPO4 são os mais
comuns. Glicerolfosfatos podem também ser usados como fonte orgânica de fosfato.
O fósforo é um elemento chave na regulação do metabolismo celular. Os níveis de
fosfato no meio podem ser menores que 1mM para a formação de vários metabólitos
secundários, como os antibióticos.

O enxofre constitui próximo de 1% do peso seco celular e está presente em proteínas


e algumas enzimas. Sais de sulfato como o (NH4)2SO4 são as fontes de enxofre mais
comuns. Aminoácidos que contém enxofre podem também ser utilizados como fonte
de enxofre. Certos autótrofos utilizam S2- e S0 como fonte de energia.

Potássio é um cofator de algumas enzimas e é utilizado no metabolismo de


carboidratos. Células tendem a captar K+ e Mg2+ e expulsar Na+ e Ca2+. Os sais de
potássio mais comuns são K2HPO4, KH2PO4 e K3PO4.

Magnésio é um cofator para algumas enzimas e está presente na parede celular e


membranas. Ribossomos especificamente requerem íons Mg2+. O magnésio é
usualmente suprido como MgSO4.7H2O ou MgCl2.

A Tabela 5.3 lista os oito maiores macronutrientes e sua via fisiológica.


2.7.2 Micronutrientes

Elementos traço são essenciais á nutrição microbiana. A carência de elementos traço


aumenta a fase lag (o tempo da inoculação até a replicação ativa da célula, em
culturas de batelada) e pode diminuir a taxa de crescimento específico e o rendimento.
As três maiores categorias de micronutrientes são discutidas a seguir.

1. Os elementos traço mais amplamente requeridos são Fe, Zn e Mn. O ferro (Fe) está
presente na ferredoxina e no citocromo e é um importante cofator. Ferro ainda age em
vias regulatórias de alguns processos fermentativos (e.g. deficiência de ferro é
necessária para a excreção da riboflavina pela Ashbya gosypii e a concentração de
ferro regula a produção de penicilina pelo Penicillium chysogenum). Zinco (Zn) é um
cofator para algumas enzimas e também regula algumas fermentações como a da
penicilina. O manganês (Mn) é também um cofator para algumas enzimas e faz a
regulação do metabolismo secundário e a excreção de metabólitos primários.

2. Os elementos traço necessários sob condições específicas de crescimento são Cu,


Co, Mo, Ca, Na, Cl, Ni e Se. Cobre (Cu) está presente em certos componentes da
cadeia respiratória e enzimas. Deficiência de cobre estimula a produção de penicilina e
ácido cítrico. Cobalto (Co) está presente em compostos corrinóides como a vitamina
B12. Bactérias propiônicas e algumas metanogênicas necessitam de cobalto.
Molibdênio (Mo) é um cofator da nitrato redutase e nitrogenase e é necessário para o
crescimento onde NO3 - e N2 são as únicas fontes de nitrogênio. Cálcio (Ca) é um
cofator para amilases e algumas proteases, e ainda está presente em esporos
bacterianos e na parede celular de algumas células, como as células de plantas.

Sódio (Na) é necessário em quantidades traço por algumas bactérias, especialmente


pelas metanogênicas, para o balanço iônico. O sódio é importante no transporte de
espécies carregadas em células eucarióticas. Cloreto (Cl-) é necessário em algumas
halobactérias e micróbios marinhos, com a necessidade do Na+ também. O níquel (Ni)
é requerido por algumas metanogênicas como cofator e o selênio (Se) é requerido no
metabolismo do formiato de alguns organismos.

3. Elementos traço que são raramente requeridos são B, Al, Si, Cr, V, Sn, Be, F, Ti,
Ga, Ge, Br, Zr, W, Li e I. Estes elementos são necessários em concentrações menores
que 10-6 M e tóxicos a altas concentrações, como 10-4 M.

Alguns íons como Mg2+, Fe3+, e PO43- podem precipitar no meio nutritivo e se tornarem
indisponíveis para a célula. Agentes quelantes são usados para formar compostos
solúveis com íons precipitantes. Agentes quelantes contém certos grupos
denominados ligantes que se ligam a íons metálicos para formar complexos solúveis.
Os principais ligantes são grupos carboxila (-COOH), amina (-NH2), e mercapto (-SH).
Ácido cítrico, EDTA (ácido etilenodiaminotetraacético), polifosfatos, histidina, tirosina e
cisteína são os agentes quelantes utilizados mais comuns. Na2EDTA é o agente
quelante mais empregado. O EDTA pode remover alguns componentes de íons
metálicos da parede celular, como Ca2+, Mg2+ e Zn2+ e pode causar a desintegração da
parede celular. O ácido cítrico é metabolizado por algumas bactérias. Os agentes
quelantes são adicionados ao meio de cultura em concentrações muito baixas (por
exemplo, 1mM).

Fatores de crescimento estimulam o crescimento e a síntese de alguns metabólitos.


Vitaminas, hormônios e aminoácidos são os principais fatores de crescimento.
Vitaminas usualmente têm a função de coenzimas. Algumas vitaminas mais
comumente requeridas são tiamina (B1), riboflavina (B2), piroxidina (B6), biotina,
cianocobalamina (B12), ácido fólico, ácido lipóico, ácido p-amino benzóico, e vitamina
K. As vitaminas são necessárias a concentrações que variam de 10-6 M a 10-12 M.
Dependendo do organismo, alguns, ou todos os aminoácidos tem a necessidade de
serem adquiridos externamente em concentrações de 10-6 M a 10-13 M. Alguns ácidos
graxos, como ácido oléico e esteróis, são também necessários em concentrações
baixas por alguns organismos. Formas de vida superiores, como células animais e de
plantas, necessitam de hormônios para regular seu metabolismo. Insulina é o
hormônio mais comum para células animais, e a auxina e citoquininas são hormônios
de crescimento das plantas.

2.7.3 Meios de Crescimento

Os dois principais tipos de meio de crescimento são os definidos e os meios


complexos. Meios definidos contêm quantidades específicas de compostos químicos
puros e com a composição química conhecida. Um meio contendo glicose, (NH4)2SO4,
KH2PO4 e MgCl2 é um meio definido. Meios complexos contêm compostos naturais
que a composição química não é exatamente conhecida. Um meio contendo extrato
de levedura, peptona, melaço, xarope de milho é um meio complexo. O meio
complexo normalmente pode prover os fatores de crescimento necessários, vitaminas,
hormônios, e elementos traço, resultando em altos rendimentos celulares, comparado
a um meio definido. Frequentemente meios complexos são mais baratos do que os
definidos. A maior vantagem de meios definidos é que os resultados são mais
reprodutíveis e o operador tem um melhor controle da fermentação.

2.8 Considerações finais

Nesta unidade foi possível conhecer as macromoléculas presentes nas células:


proteína, RNA e DNA. Outros componentes essenciais são construídos a partir de
lipídeos e carboidratos. Como foi descrito as proteínas são os polímeros mais
abundantes nas células e sintetizados a partir de 20 aminoácidos. Estes polímeros
formam estruturas moleculares com vários níveis de complexidade com funções
associadas diversas. DNA e RNA são polímeros de nucleotídeos e juntos são
responsáveis pelo armazenamento e transmissão da informação genética da célula
para finalmente ser traduzida numa ampla família de estruturas protéicas com funções
vitais diversificadas.

Os carboidratos e lipídeos também desempenham papeis importantes nas células.


Ambos podem servir como fonte de energia e de componentes mediadores da
atividade biológica, tais como hormônios e fatores de crescimento.

Finalmente, não menos importantes são os compostos consumidos pelas células em


grandes quantidades (macronutrientes) e em pequenas quantidades (micronutrientes),
ambos essenciais para a manutenção da integridade celular.

2.9 Estudos complementares

Para leitura adicional, consultar:

1. Lehninger, A. L. Fundamentos de Bioquímica. São Paulo, Ed. Sarvier, 1977.

2. Bailey, J. E. e Ollis, D. F., Biochemical Engineering Fundamentals, 2a


ed., McGraw-Hill, New York, 1986.

3. Shuler, M. L. e Kargi, F. Bioprocess Engineering, Prentice Hall, Englewood Cliffs,


1992.

Para exercícios didáticos e visualização de imagens:

http://www.biology.arizona.edu/biochemistry/biochemistry.html

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