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aqeq oeu eied “yy ap soiquiaw iod sopesn sopojsw sunbyy ES TDATA\ VIVER SOBRIO “... O TRATAMENTO LEVA PRIMORDIALMENTE A EVITAR O PRIMEIRO GOLE...” Associagéo Médica Norte-americana Literatura aprovada pela Conferéncla de Servigos Gerais de A.A. Viver Sébrio (Living Sober) Copyright 1975 de Alcoholics Anonymous World Services, Inc. Ederego para correspondancia: Box 459, Grand Central Station, New York, N-Y, 10163 ‘Alcoholics Anonymous, A.A. e @) so marcas registradas de AA. World Services, Inc. Todos 0s direltos reservados de acordo com 0 Convénio Pan-Americano de Copyrights. Primeira edicao em inglés 1975 Primeiza edi¢go em portugués 1977 Décima torceira edigao em portugues 2005 JUNAAB ~ Junta de Servigos Gerais de A.A. do Brasil Caixa Posial 3180 ~ CEP 01060-970 ‘Sao Paulo ~ SP wwwaalcoolicosanonimos.org.br Com a aulorizagao de Alcoholics Anonymous World Services, Inc, Tiragem 3.000 Janeiro / 2006 Impresso no Brasil ALCOOLICOS ANONIMOS 6 uma irmandade de homens & mulheres que compartiham suas experiéncias, forgas e es- perangas a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O tinico requisito para tornar-se membro 6 o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. nao hd taxas ou mensa- lidades. Somos auto-suficientes, gragas as nossas proprias contribuigdes. A.A. ndo esta ligada a nenhuma seita ou religiéo, nenhum movimento politico, nenhuma organizag&o ou instituigdo; nao deseja entrar em qualquer controvérsia; nao apéia nem com- bate quaisquer causas, Nosso propésito primordial 6 mantermo-nos sébrios © aju- darmos outros alcodlicos a alcangarem a sobriedade. Diteitos autorais © de The A.A, Grapevine, Inc.; reimpresso com permissao A RESPEITO DO TITULO Mesmo as palavras “ficar sbrios” ~ quanto mais “viver sébrio” — ofendiam muitos de nés quando as ouviamos pela primeira vez. Em- bora tivéssemos bebido um bocado, jamais nos sentiamos bébados e estavamos convencicios de que nem mesmo pateciamos embria- gados. Muitos de nés nunca cambaleavamos, caiamos ou enroléva- mos a lingua; muitos outros nunca cometeram desordens, nunca per- deram um dia de trabalho ou positivamente jamais foram internados ‘em hospitais nem presos por embriaguez. Conheofames muitas pessoas que beblam mais do que nds ¢ ou- tras totalmente incapazes de controlar a bebida. Nés nao éamos assim. Por isso, a sugostéo de que talvez devéssemes “ficar sébrios" era quase um insulto, Além disso, parecia desnecessariamente dréstica. Como pode- riamos viver assim? Certamente nada de mal poderia haver em dois aperitivos no almoga de negécios ou antes do jantar. A gente nao tem o direito de tranquilizar-se com uns tragos ou algumas cervejas antes de dormir? Contudo, depois que aprendemos algumas realidades sobre a doenga chamada alcoolismo, mudamos de opiniao. Nossos olhos abri- ram-Se para 0 fato de que, ao que parece, milhdes de pessoas sao Portadoras da doenga do alcoolismo. A ciéncia médica nao explica sua "causa, mas os médicos especialistas em alcoolismo garantem que um sé gole traz contratempo ao alcodlico ou bebedor-problema E nossa experiéncia confirma isso com exuberancia. Dessa maneira, ndo beber nada ~ isto 6, ficar s6brio — torna-se a base da recuperagao do alcoolismo. E repetimos para frisar bern: viver sébrio néo 6 absolutamente desagraddvel, aborrecido e des- confortavel como previamos; 6, sobretudo, algo que comegamos a destfrutar ea considerar mais excitante do que nossos dias de bebe- deira. Vamos mostrarthe como. POR QUE “NAO BEBER” Nés, membros de Alcodlicos Anénimos, encontramos a resposta essa pergunta quando olhamos honestamente para nossa vida pas- sada. Nossa experiéncia prova claramente que a menor dose causa dificuldade ao aloodlico ou bebedor-problema, Nas palavras da As- sociag&o Mécica Americana’ “0 dlcool, além de sua propriedade viciante, possui também um efeito psicolégico que modifica o pensamento eo raciocinio. Uma 86 dose pode mudar o proceso mental de um alcoslico, de modo que ele acha que pode agiientar outra, outa e outra. © alcodlico pode aprender @ controlar inteiramente a sua doenga, mas a enfermidade nao pode ser curada de modo que ele possa voltar ao élecol sem conseqtiéncia adversa.” Para surpresa nossa, ficar sdbrio nao 6 a experiéncia horrivel enfadonha que previamos! Quando beblamos, viver sem 0 dlcool pa- recia nao ser vida. Mas, para a maioria dos memoros de A.A., viver ‘a observago a mais: qualquer pessoa pode parar de beber e ficar sdbria. Todos nés ja fizemos isso uma porgdo de vezes. A arte 6 permanecer “e viver’ sébrio, E disso que trata este livto. ~ * De uma declerapdo ofa pulicada em 31 do jut do 1864 Algumas sugestdes para VIVER SOBRIO Assuntos Pagina 1 Ouso deste livro "1 2 Evitar 0 primeiro gole 18 3 O plano das 24 horas 16 4 Lembrar que o alcoolismo é uma doenga progressiva, incurdvel e fatal 18 5 “Viver e Deixar Viver” 22 6 Entrar em atividade 25 7 Apratica da Oragao da Serenidade 32 8 —Amudanca dos velhos habitos 33 9 Comer ou beber algo — geralmente doce 37 10. Utilizar-se da “terapia do telefone” 38, 11 Valer-se de um padrinho 4 12 Repousar bastante 45 18. “Primeiro as Coisas Primeiras” 48 14 Combater a solidao 50 15. Cuidado com a raiva e os ressentimentos 55 46 Ser bom para si mesmo 59 17 Prevenir-se contra a euforia excessiva 6 18 “Va com Calma” 63 19 Ser agredecido 67 20 Lembrar-so de sua uitima bebedaira 72 21 Evitar substdncias quimicas que alteram o humor 74 22. Eliminar a autopiedade 8 23. Proourar assisténcia especializada at 24 Manter-se livre de envolvimentos emocionais 83 25 Fugir da armadilha do “se” 86 26 Desconfiar das oportunidades de beber 88 27 Abandonar as velhas idéias 95 28 Ler a mensagem de A.A. 99 29 FreqUénoia as reuniées de A.A. 104 80. Experimentar os Doze Passos 112 81. Encontrar seu préprio caminho 115 Perguntas freqiientes de quem acaba de parar de beber e paginas onde algumas respostas 880 encontradas Pagina Que 6 que eu digo ¢ fago numa festa onde todos bebem? Devo guardar bebida em casa? Como explicar aos outros que ndo estou mais bebendo? Que dizer de sexo? Ea insonia? Que dizer dos sonhos com bebida? Devo entrar em bares? Que posso fazer quando me sinto solitario? Desde que eu esteja alegre, estarei seguro? Devo procurar assisténcia especializada? E preciso abandonar os velhos companheiros € 08 velhos habitos? 22eesseses 8 10 1 OUSO DESTE LIVRO Esle livro nao oferece um plano de recuperagao do alcoolismo. (Os Passos de Alcodlicos Anénimos, que resumem seu programa de recuperapo, esto descritos minuciosamente nos livros “Alcodlicos e “Os Doze Passos e As Doze Tradigées de A.A” Esses Passos nao so interpretados aqui, nem os processes que eles tra- tam so discutidos nesta obra. ‘Aqui, nés nartamos apenas alguns métodos que usamos para viver sem beber. Vocd é bem-vindo a todos eles, esteja ou nao inte- ressado am Alcodlicos Anénimos. Nosso beber estava ligado a muitos habitos ~ grandes @ pe- quenos. Alguns eram modos de pensar ou coisas que sentiamos dentro de nés. Outros eram habitos de agao - coisas que fazfamos, agdes que realizévamos, Para nos habituarmos a no beber, achévamos necessario substituir os antigos hab (Par examiplo, em vez de tomar o proximo gale — que jé esténa ‘sua mao ou que voce vem planejando; pode adié-lo... até ler 0 inicio do capitulo 8? Tome um refrigerante ou suco de fruta em lugar de bebida alcodlica enquanto I8. Logo depois nés the explicaremos 0 que ha por tras dessa mudanga de habitos).. Depois de termos praticado por alguns meses novos habitos de sobriedade ou novas maneiras de pensar e agir, elas se tornam ‘quase uma segunda natureza para nés, tal como era 0 dlovol. Nao beber tornou-se natural e facil; néio um combate longo ¢ sombrio. —Esses métodos facets; hora'a hora, podem facilmente ser usa- dos em casa, no trabalho ou nas reunides sociais. Acham-se aqui 1 inclufdas também diversas coisas que aprendemos a néo fazer ou a r. Eram coisas que, hoje vemos, nos tentavam a beber ou colo- cavam em perigo a nossa recuperagao. Julgamos que vocé achara muitas ou mesmo todas as su- gestdes aqui discutidas valiosas para viver sébrio, com bem-estar ¢ tranquilidade. Nao ha nada de significativo quanto & ordem em gue 0 livro as apresenta. Podem ser redispostas da maneira que vooé julgar melhor. Nao se trata de uma lista completa, Na pratica, cada membro de A.A. que vocé encontrar pode der-Ihe pelo menos mais uma boa idéia que no se acha neste livro. E voc, provavel- mente, encontraré algumas inéditas que funcionam para voce. Es- peramos que as passe a outras pessoas que poderdio beneficiar-se delas. A.A., como itmandade, néo endossa formalmente nem reco- menda para todos os alcodlioos todas as linhas de ago aqui inclul- das. No entanto, cada pratica citada ja provou ser titi! para alguns membros, podendo ser proveitosa para voo8. Este livro esta planejado como um manual de facil manuten- ‘940 para ser consultado de vez em quando, nao como algo que deva ef lido do comego ao fim de urna $6 vez e, depois, abandonado, Eis duas precaugdes que se mostraram necessétias: ‘A. MANTENHA A MENTE ABERTA. E possivel que algumas sugestées aqui oferecidas nao o atraiam. Se for esse 0 caso, acha- mos que, om vez de rejeité-las, 6 melhor pd-las de lado por enquan- to. Se nao fecharmos a mente de vez a elas, sempre podemos voltar mais tarde e experimentar idéias que antes desprezévamos. E 56 querer. Por exemplo, alguns de nés acham que, em nossos dias i ciais de abstengao, as sugestdes e a camaradagem oferecidas por um padrinho AA ajudaram bastante a nos manter sdbrios. Outros esperaram até ter visitado muitos grupos @ conhecidlo muitos mem- bros de A.A. antes de, finalmente, solicitar a aluda de um padrinho. ‘Alguns acharam a oragao formal uma forte ajuda para nao be- ber, enquanto outros fugiam de qualquer coisa que sugerisse reli- gio. Mas todos nés somos livres para mudar a idéia, mais tarde, se assim 0 desejarmos. Muitos de nés acharam que, quanto mais cedo comegasse- 12 mos a trabalhar os Doze Passos sugeridos como um programa de Fecuperagao no livro “Aloodlicos Anénimos”, melhor, Outros ja prefe- jam adiar essa iniciagdo até terem permanecido s6brios por algum tempo. O fato 6 quo nao hé nada presorito por A.A. como “certo” ou “errado”. Cada um de nés emprega o que julga melhor para si préprio — sem fechar a porta a outros tipos de ajuda que possa vir a achar valiosa. E cada um, igualmente, tenta respeitar os direitos que os ‘outros tém de fazer as coisas diferentemente. Algumas vezes um membro de A.A, falar sobre a escolha de varias partes do programa no estilo dos restaurantes de selt-service —vai pegando as coisas que gosta ¢ deixando 0 que nao quer. Pode ‘ser que Surjam outros que apanhem as partes deixadas. Pode ser também que 0 préprio membro volte mais tarde € tome algumas das idéias que antes havia rejeitado. Contudo, ¢ bom lembrar a tentagao de nada escolher além de uma porgao de sobremesa, alimentos nutritivos, saladas ou outros de que gostamos de modo especial. Serve como um importante lem- brete para que mantenhamos 0 equilibrio em nossas vidas. Na recuperagao do alcoolismo, achamos que ¢ preciso uma dieta equilibrada de idéias, mesmo que algumas delas nao paregam, a princfpio, t40 saborosas. Tal como o bom alimento, as boas idéias nenhum bem nos tratiam a menos que fizéssemos um uso inteligen- te delas. E isso nos leva & segunda precaugdo, B. USE SEU BOM SENSO. Dia a dia, temnos de usar tao-so- mente a inteligéncia ao aplicar as sugestées que seguem. Como quase todas as idéias, as sugestées deste livro podem ser mal-adotadas. Tomemos, por exemplo, a de comer doce. Obvia~ mente, 0s alcodlicos com diabete, problemas de aguicar no sangue ou obesidade tiveram de encontrar substitutos para néo prejudicar sua sade, enquanto que muitos outros puderam beneficiar-se da idéia de comer doce na reouperagao do alcoolismo (muitos nutri cionistas preferem porgées ricas em proteinas a doces, como pratica geral). Mas no ¢ bom exagerar nesse remédio, Devernos comer re- feigdes balanceadas, além de does. Outro exemplo é 0 uso do slogan “V4 com Calma’. Alguns chegaram a pensar que poderiam abusar dessa nogdo sensata, 13 transformando-a numa desculpa para a morosidade, a preguiga ea udeza. Nao é a isso, naturalmente, que se destina o lema. Aplicado apropriadamente, pode ser saudadvel; mal-aplicado, retarda nossa recuperacdo. Por isso, alguns acrescentam: "Va com calma ~ mas val” E claro que devemos usar a inteligéncia ao seguir qualquer sugestdo. Cada método aqui deserito precisa ser usado com bom senso. Uma coisa mais: A.A. nao tem a pretensao de oferecer uma técnica cientifica para permanecer sGbrio, Podemos partilhar com yoo somente nossa experiéncia pessoal e nao teorias @ explicagoes cientificas. Assim, estas paginas nao oferecem quaisquer medidas médi- cas para parar de beber, se vocé ainda esta bebendo, nem quaisquer segredos magicos podem abreviar ou evitar uma ressaca. As vozes, ficar s6brio pode ser conseguido om sua propria casa; mas, freqdentemente, a bebedeira proiongada ter causado problemas de satide tAo sérios que se tora mais aconselhavel pro- curar assistncia médica ou hospitalar para uma desintoxicacao. Se vooé esta de tal modo doente, poderé necessitar de cuidados profis- sionals antes de se interessar pelo que oferecemos aqui Muitos de nés, que nao estavamos tao doentes, “suamos” a desintoxicagao em companhia de outros membros de A.A. Comonés mesmos passamos por isso, podemos oferecer ajuda, como leigos, para aliviar um pouco a angisstia e 0 softimento, Pelo menos, enten- demos. Ja estivemos nessa situacéo. Desse modo, este livro nao é sobre nfo beber, (mais do que parar de beber) é sobre camo viver sobrio. ~—~Achamos que, para nés, a recuperagéo comegou com o nao beber, com o ficar sobrio, permanecer completamente livre do alcool em qualquer quantidade e sob qualquer forma, Achamos também gue precisamos nos manter longe de qualquer outra droga que afete a mente. S6 poderemos voltar a uma vida plena e feliz se perma- necermos sdbrios. A sobriedade 6 a plataforma de langamento para a nossa recuperagao. Em certo sentido, este livro trata da maneira de administrar a abstengao (anteriormente nao podiamos administré-la; @ por isso, bebfamos). 14 2 EVITAR O PRIMEIRO GOLE “Se vocé nao ‘Uma bebida & Expressdes comumente ouvidas em A.A. so: tomar esse primeiro gole, ndo pode ficar bebado” demais, e vinte nao salistazem”. ‘Muitos de nés, quando comegamos a beber, nunca querfamos ou nunca tomévamos mais de um ou dois tragos. Mas, com o pasar do tempo, aumentamos a quantidade. Depois, com o passar dos anos, encontramo-nos bebendo cada vez mais, alguns de nés embriagan- do-se e continuando bébados demais. Podia ser que nosso estado nem sempre se mostrasse em nosso falar ou caminhar; mas, nessa 6poca, nunca estavaios totalmente sébrios. Se isso chegava a nos preooupar, tentavamos reduzir a bebi- da, limitarmo-nos a um ou dois goles ou mudar de bebida forte para © vinho, Finalmente, tentavamos limitar a quantidade a fim de nao ficarmos téo desastradamente bébados. Ou até mesmo ocultar quando bebiamos. Contudo, todas essas medidas tornavam-se cada vez mais di- ficeis. Vez por outra, procuravamos entrar em abstinéncia e, por cer- to tempo, nada bebiamos. Com 0 tempo, voltévamos a beber — 86 uma. E, como aquela ) parecia ndo nos causar dano sério, achdvamos, que podiamos tomar oulra. Talvez fosse 36 isso que tomassemos no momento, e era gran- 4e alivio verificar que podiamos tomar uma ou dus... e depois parar. Alguns de nés fizemos isso muitas vezes, —— as — Mas 2 experiéncia provou que tudo nao passava de uma armadi- tha, que nos convencia de que podiamos beber com seguranca. Eno, chegava a ocasio (uma comemaragdo especial, uma perda pessoal ou nenhum acontecimento em particular) quando dois ou trés goles nos debavam muito bem, @ assim achévamos que mais dois nao pociam fazer mal. €, sem a menor intengéo de fazé-o, encontravamo-nos de novo bebendo exageradamente, sem realmente querer. Tais experiéncias repetidas nos forgaram, inapelavelmente, a esta conclusio légice: se nao tivéssemos tomado o primeiro gole, ‘nunca ficariamos bébados. Portanto, em vez de planejar nao bebor jamais o imitar 0 niimero de bebidas ou a quanlidade de Alcool, apren- demos a nos concentrar em evitar aquele gole que Ine da comeco. Parece quase ridiculamente simplista, nao 6? E duro para mt 15 tos de nés acreditar que nunca, por nés mesmos, 0 imaginamos an- ‘es de vir para A.A. (Naturalmente, para falar a verdade, nés nunca quisemos mesmo abandonar a bebida, até aprendermos algo sobre © alcoolismo.) Mas 0 ponto-chave é: sabemos, agora, que isso 6 que funciona Em vez de tentar avaliar quantos goles podemos suportar (qua~ tro, seis, uma diizia?) lembramos: “Somente nao tome esse primeiro gole’. E bem mais simples. O habito de pensar dessa maneira ajudou centenas de milhares a permanecerem sobrios durante anos. ‘Os médicos especialistas em alcoolismo nos dizem que ha abalizado fundamento clinico para evitar o primeiro gole. E este que leva, imediatamente ou mais tarde, & compulsao para beber cada ‘vez mais, até nos encontrarmos em dificuldade com a babida nova- mente, Muitos de nds viemos a acreditar que o alcoolismo é depen- déncia de uma droga - 0 alcool - e, como dependentes de qualquer sorie que desejam manter a recuperagdo, temos de nos manter dis- antes da primeira dose da droga que nos fez seus dependentos._ Nossa experiéncia parece provar isso, como se pode ler no livro “Al- coélicos Anénimos" o na nossa revista “Vivéncia’, e voce pode ouvi- la onde quer que membros de A.A. se retinam @ a partithem 3 O PLANO DAS 24 HORAS Em nossos dias de bebedeita, freqientemente passamos tao mal que juramos: “Nunca mais!” Fizemos votos até por um ano ou prometemos a alguém que néo iriamos beber durante trés semanas ou trés meses. E, é claro, tentamos ficar abstémios por algum tempo. Eramos absolutamente sinceros ao fazer essas promessas, rangendo os dentes. De todo 0 coracao desejavamos jamais voltar a nos embriagar. Estavamos decididos, Prometendo deixar de beber totalmente, tencionando nos afastar do alcool por tempo indeter- minado, Todavia, apesar de nossas intengdes, o resultado foi, quase que inevitavelmente, o mesmo. Com o passar dos dias, apagava-se a lembranga dos votos e do sofrimento que nos levou a fazé-los, Bebemos de novo e nos vimos onvolvidos em mais dificuldades. Nosso incisivo “nunca mais” nao durou muito. 16 ‘Aqueles dentre nds que faziam juramentos, mantinham uma reserva. A promessa de no beber era referente apenas a “bebida forte", ndo a cerveja ou vinho. Foi desse modo que aprendemos, se 6 que jd ndo sablamos, que a cerveja eo vinho podiam nos embria- gar também — bastava sorver quantidade superior a de bebidas des- tiladas. Acabavamos tao b@bados com cerveja ou vinho como antes com as bebidas fortes. E verdade que muitos de nés desistimos do élcool por comple- to, mantendo os juramentos até o prazo terminar... E, entéo, finda a “secura’, voltamos a beber e logo nos vimos enroscados outra vez, sobrecartegados de novas culpas @ remorsos. ssado de lulas, agora em A.A. tentamos evitaras e “fazer juramento’. Elas nos fazem recordar expre’ nossos Tracassos.— Mesmo compreendendo que o alcoolismo é uma condig&o per- manente, irroversivel, nossa experiéncia nos ensinou a nao fazer pro- messas a longo prazo a respeito de nao beber. Achamos mais rea~ lista — e mais seguro — dizer: ‘S6 por hoje no tomo o primeiro-gole:> Embora tendo bebido chien, podeTios plandlar nao beber hoje. E possivel que venhamos a beber amanha ~ quem sabe se estaremos vivos entao ~ mas, durante estas 24 horas, decidimos ndo beber. Sejam quais forem as tentagdes.ou.a provocagao, nos_ tar um gole ~~ Nossos amigos © nossas familias estéo compreensivelmente cansados de nos ouvir jurar: “Desta vez ¢ pra valet” e, depois, nos veem chegar cambaleando, De modo que nao Ihes prometemos, nem uns aos outros, deixar a bebida. Cada um promete a si mesmo. Afi nal, 6 nossa prépria satide e nossa vida que esto em jogo. Nés, @ nao nossas familias ou nossos amigos ¢ que devemos dar os passos necessérios para permanecermos bem. ‘Se 0 desejo de tomar um trago é realmente grande, muitos dos nossos dividem as 24 horas em periods menores. Decidimos, por exemplo, no beber pelo menos durante uma hora; agtientamos 0 desconforto durante mais uma hora; depois outra;e assim por diante. Na realidade, toda recuperacdo do alcoolismo comecou por uma simples hora de sobriedade, Uma outra maneira & simplesmente adiar o (proximo) gole. a 7 (Que tal? Ainda tomando seu refrigerante? Adiou aquele gole que nés mencionamos na pagina 11? Se conseguiu, esse pode ser © comego de sua recuperagao.) préximo gole, é possivel que o tomemos depois, mas agora nés 0 adiamos pelo menos pelo dia de hoje ou pelo momento pre- sente (que tal até o fim da pagina?). O plano das 24 horas é bastante flexivel. Podemos recomeca- oa qualquer momento, onde quer que estejamos. Em casa, no tra- balho, num bar, num hospital, As quatro da tarde ou As trés da ma- nh, podemos decidir nao tomar um gole durante as préximas 24 horas ou nos préximos cinco minutos. Renovado assim continuamente, este plano evita a fragilidade da “lei seca” ou dos juramentos. Os periodos de “lei seca” ou de juramento sempre terminavam (como planejado), @ nos julgavamos livres para beber de novo. Mas o hoje esta sempre presente. A vida 6 0 dia-a-dia. O hoje 6 tudo que temos. E qualquer pessoa pade passa um dia sem beber. Primeiro, tentamos viver no presente 86 para nao beber - & vemos que funciona, E, depois que essa idéia se torne parte de nosso modo de pensar, verificamos que viver a vida em pedacinhos de 24 horas 6 uma forma eficaz @ agradavel de lidar com outros assuntos também, 4 LEMBRAR QUE O ALCOOLISMO E UMA DOENGA PROGRESSIVA, INCURAVEL E FATAL Muitas pessoas no mundo sabem que ndo podem comer cer- tos alimentos — ostras, morangos, ovos, pepinos, agticar ou outro qualquer ~ sem se sentir muito indispostas ou até doentes, quem sabe. Uma pessoa com alergia alimentar desse tipo pode sair por ai lamentado-se, queixando-se a todo mundo de sua injusta privagao e reclamando constantemente por no poder (ou por nao Ihe ser per- mitido) comer algo muito gostoso. E evidente que, embora nos sintamos logrados, ndo ¢ s&bio ignorar nossa constituigdo fisiolégica. Se ignorarmos nossas limita- (Goes, poderemos sofrer grave indisposigao ou enfermiciade. Para con- 18 tinuarmos com satide e razoavelmente felizes, temos de aprender a viver com 0 organismo que possuimos. Um dos novos habitos que 0 alcodlico em recuperagao pode aprender a cultivar é uma percapgao calma de si mesmo, como al- guém que precisa evitar produtos quimicos (Alcool e outras drogas ‘que 0 substituem) se desejar manter boa satide. Como prova disso, temos nosso passado de bebedeira, um total de centenas de milhares de anos consumidos na bebida por nés, homens e mulheres. Sabemos que, & medida que nosso tempo de bebedeira passava, os problemas relacionados cam a bebida pio- ravam continuamente. O alcoolismo é progressivo. Naturalmente, muitos de nés passamos por fases em que, du- rante meses ou mesmo anos, julgavamos que nosso bever parecia ter-se normalizado. Pareciamos capazes de manter um elevado con- sumo de alcool com bastante seguranga. Ou podiamos ficar absté- mios, exceto em algumas noites de embriaguez, sendo que nosso beber no piorava perceptivelmente, tanto quanto podiamos ver. Nada de horrivel ou dramatico acontecia. Contudo, podemos agora ver que, nesse periodo longo ou cur to, nosso problema tornava-se inevitavelmente mais grave. ‘Alguns médicos especialistas no assunto nos dizem que n&io ha dvida de que o alcoolismo vai constantemente piorando @ me~ dida que envelhecemos (conhece alguém que nao esteja envelhe- cendo?). Estamos também convencidos, depois de incontaveis ten- tativas de provar 0 contrdrio, de que 0 alcoolismo € incurdvel, exa~ tamente como algumas outras doengas. Isto porque no podemos mudar a constituiggo quimica de nosso organismo @ voltar a ser normalmante os bebedores sociais que muitos de nés pareciamos ser na juventude. Nao podemos, como dizem alguns, transformer picles nova- mente em pepino. Néo houve medicamento nem tratamento psicold- gico que jamais conseguisse ‘curar” um de nés do alcoolismo. ‘Além disso, tendo visto milhares e milhares de alcodlicos que no pararam de beber, estamos fortemente convencidos de que 0 alooolismo é uma doenga fatal. Nao s6 vimos alcodlicos beberem até a morte - de delirium tremens, ao suspender a bebida, ou de con- vulsGes, ou de cirrose do figado, consequente do alcoolismo ~, mas também sabemos que muitas mortes oficialmente nao atribu/das a0 19 aleoolismo s4o, na realidade, causadas por ele. Com freqléncia, quando na um acidente de automével, um afogamento, umn suicidio, um ataque cardiaco, um incéndio, uma pneumonia ou um derrame como causa imediata da morte, foi 0 excessivo consumo de alcool que conduziu &quela condigéo ou aquele acontecimento fatal. Certamente, a maioria de nds em A.A. sentia-se seguramente longe de tal destino enquanto bebia. E provavelmente a maioria ja- mais chegou aos terriveis estdgios finais do alcoolismo orénico. Mas vimos que podiamos chegar la se continuassemos a be- ber. Quando se toma um Onibus destinado a uma cidade a dois qui lometros de distancia, ¢ Id que se vai parar, a ndo ser que se salte antes e tome outro destino. Pois bem. © que voce farla se soubesse que sofre de uma doenca progressiva, incuravel ¢ fatal, seja ela alcoolismo ou outra qualquer, como do coragao ou cancer? Muitas pessoas negam seu estado, no acsitam a verdade, rejeltam o tratamento, sofrem @ morrem. Mas existe outro caminho, Pode-se aceitar 0 “diagndstico” apresentado por seu médico, pelos seus amigos ou por vocé mesmo. Depois, é verificar o que é possivel ser felto (se é que hd algo a fazer) para manter a situagao sob controle, de mado a poder viver ainda muitos anos felizes, sau- daveis @ produtivos, desde que a gente se trate apropriadamente. Reconhecer inteiramente a gravidade da propria condicao e fazer as coisas sensatas necessarias para manter uma vida sadia, Ora, acontece que isso é surpreendentemente facil com rela- so ao alcoolis mo, se a gente realmente dasaja a recuperagao. E, como nés de A.A. aprendemos a destrutar a vida, nés, realmente, desejamos nos recuperar e permanecer bem. ‘Tentamos nao perder de vista o caréter imutavel de nosso al- coolismo, mas aprendermos a néo nos entregar & autopledade e nem ficar falando sobre isso 0 tempo todo. Nés 0 aceitames como uma caracteristica de nosso organismo, assim como nossa estatura ou a necessidade de usar éculos, ou como quaisquer alergias que possa- mos ter. Entéo, podemos planejar viver bem — nao com amargura - com essa conviagao, desde que comecemes simplesmente por evi- tar aquele primeiro gole (lembra-se?) s6 por hoje, 20 Um membro de A.A., que é também cego, disse que seu alcoo- lismo 6 bem parecido com sua cegueira."Uma vez que aceitei a perda de minha visdo", explica ele, “e recebi a treinamento de reabilitagao que me foi oferecido, descobri que realmente posso, com a ajuda de minha bengala ou de meu cdo, ir aonde quer que eu deseje ir com bastante seguranca, desde que eu nao esqueca ou ignore 0 fato de que sou cago, Mas, quando ajo com a conviagao de que posso ver, 6 af que me machuco ou fico em dificuldade” "Se quiser recuperar-se”, disse uma mulher de A.A., “aceite o tratamento, siga as instrugdes ¢ continue vivendo. E facil, se voos se lembrar dos novos fatos a respeito de sua satide. Quem 6 que tem tempo de sentit-se diminufdo ou lamuriat-se, quando ha tantas deli- cias relacionadas com uma vida feliz, sem temor da doenga?” Resumindo, lembramos que temos uma enfermidade incur- vel, potencialmente fatal, chamada alcoolismo. E, em vez de conti nuar bebendo, preferimos planejar e usar novas maneiras.de.viver sen alcool. “Nao precisamos ter vergonha de sofrer de uma doenga. Nao é nenhuma desgraga. Ninguéin sabe exatamente por que certas pes- soas se tornam alcodlicas e outras nao. Nao temos culpa. Nao qui- ‘semos ser alcodlicos, Nao tentamos contrair esta doenca. * Afinal de contas, nao sofremos de alcoolismo sé por gostar } disso, Nao nos propusemos, com malicia e deliberagdo, a fazer co: sas das quais nos envergonhariamos depois. Nés as fizemos fora de| nosso melhor jufzo e instinto, porque estévamos realmente doentes) € nem sequer o sabiamos. Ja aprendemos que nada lucramos com 0 remorso ou a preo- cupagaio de como ficamos assim. O primeiro passo para sentir-se melhor e superar a doenga € simplesmente nao beber. \Veja so esta idéia Ihe convém. Vood nao preteriria reconhecer que tem um problema de saiide, que pode ser tratado com sucesso, a ficar perdendo um tempo enorme preocupando-se miseravelmente sobre 0 que esta errado com voce? Nés achamos que esta é uma imagem mais bonita e mais agradavel de nés mesmos do que os sombrios seres humanos que nos habituamos a ver. E é mais vertdi ca também. Nés 0 sabemos. A prova ¢ 0 modo como sentiamos, agimos e pensamos — agora. Quem quiser, esta convidado para um “perfodo gratis de expe- 2 riéncia” a respeito deste novo conceito do eu. Depois, se desejar voltar aos tempos antigos, esta livre para recomecé-lo. Qualquer um tem 0 direito de reaver sua desgraca, se quiser. Por outro lado, vooé também pode conservar sua nova ima- gem, se preferir. Ela também 6 sua, por direito. 5 “VIVER E DEIXAR VIVER” © antigo provérbio “Viver e Deixar Viver’ parece tao batido que 6 facil no Ihe atribuir 0 devido valor. E claro que a razaio de ser t&o citado através dos anos reside em seu mérito, benéfico sob tantos aspectos. Nés, membros de A.A., 0 usamos de maneiras especiais como um reforgo a idéia de nao beber. Ele nos ajuda, inclusive, a lidar com pessoas que nos deixam nervosos. Revendo um pouco mais a histéria de nossas bebedeiras, muitos de nés podemos ver como muito freqientemente o nosso problema de bebida parecia estar, de certo modo, relacionado a outras pessoas. Experimentar vinho ou cerveja quando adolescentes parecia natural, uma vez que muitos outros o faziam e nés precisa vamos de sua aprovaedo. Depois, vieram os casamentos, os bati- zados, 08 feriados, os jogos de futebol, as festinhas com aperitivos @ 08 almogos de negécios... e a lista pode ser alongada vontade. Em todas as circunsténcias nés bebiamos, pelo menos em parte, porque alguém estava bebendo e parecia esperar que também o fizéssemos. ‘Aqueles de nés que comegaram a beber sozinhos ou a tomar um gole, escondidos, de vez em quando, freqdentemente o faziam para evitar que alguima ouira possoa ou os outros soubessem quanto com que freqiiéncia nds bebiamos. Raramente gostévamos de ouvir alguém comentar sobre nossa maneira de beber, Se alguém o fazia, nds geralmente he diziamios os motivos por que bebiamos, como se quiséssemos desviar a critica ou mesmo as quelxas. ‘Alguns de nés discutiamos ou até ficévamos agressivos com outres pessoas depois de beber. No entanto, outros achavam que nunca se relacionavam tao bem com os outros como depois de um ou dois aperitivos, fosse durante uma noite em convivio social, du- 22 rante uma dificil operagao de venda, uma entrevista para conseguir ‘emprego ou até para fazer amor. ‘O nosso beber acostumou-se a escolher os amigos de acordo com a intensidade do seu consumo de bebida, Chegamos mesmo a mudar de amigos quando sentimos ter “ultrapassado” o estilo com que les bebiam, Preferiamos “verdadeiros bebedores" a pessoas que s6 tomavam un ou dois tragos. E tentévamos evitar 08 abstémios. Muitos de nds ficévamos cheios de culpa ¢ raiva por causa do modo como nossa familia reagia a nossa bebida. Alguns perdemos © emprego porque o patréo ou um colega de trabalho se opds ao nosso hAbito de beber. Queriamos que eles culdassem de suas vi- das e nos deixassem em paz! ‘Com freqiéncia, nos sentiamos cheios de raiva e medo até de pessoas que nos tinham criticado, Nossa culpa tornava-nos super- sensiveis com os que nos rodeavam e nutriamos ressentimentos. AS vezes mudavamos de bar, de emprego ou para outras vizinhangas 86 para fugir de certas pessoas. Assim, de uma maneira ou de outra, grande nimero de pes- soas, além de nés, estavam, em certo grau, envolvidas com nosso beber. Logo que paramos de beber, foi um alivio enorme verificar que as pessoas que encontramos em A.A. — alcodlices em recuperagao = pareciam completamente diferentes. Nao teagiam em relagao a 1n6s com critica e suspeita, mas com compreensdo e interesse. Contudo, é perfeitamente natural que ainda encontremos algu- mas pessoas que nos aletam os nervos, seja dentro de AA., seja fora dele. Podemos achar que nossos amigos de fora de A.A., cole- gas, familiares ainda nos tratam como se estivéssemos bebendo (pode demorar um pouco para acreditarem que paramos realmente. Afinal de contas, eles jd nos viram parar muitas vezes no passado € reco- megar). Para comegar a pér em pratica 0 conceito de “Viver e Deixar Viver", devemos enfrentar esta realidade: ha pessoas em A.A. e em qualquer outro lugar que as vezes dizem coisas das quais discorda- mos ou agem de modo que nos desagrada. Aprender a conviver com as diferengas 6 essencial ao nosso bemestar. E exalamente nesses casos que achamos exiremamente proveitoso dizer para nés mes mos: “Ora, viva € deixe viver!” 23 Com efeito, em A.A. 6 colocada bastante énfase em aprender @ folerar 0 comportamento de outras pessoas. Por mais ofensivo ou desagradavel que nos parega, néo compensa beber por causa disso. Nossa propria recuperagao ¢ suficientomente importante para tentar ‘compreender cutras pessoas, principalmente alguém que nos irrita. Para nossa tecuperacao é mais importante compreender do que ser compreendido. Isso ndo é muito dificil se nos lembrarmos que outros membros de A.A. esto, também, tentando compreender, do mesmo modo que nds. Quanto a isso, sem ctivida, encontraremos pessoas em A.A. ou em outro lugar que nao estardo loucas por nds igualmente. Assim, todos nés tentamos respeitar os direitos que os outros tém de agir de maneira que escolherem (ou que dover). Podemos esperar que eles os tratem com a mesma cortesia. Em A.A. eles geralmente o fazem Em geral, as pessoas que se estimam — num bairro, numa ‘empresa, num clube ou em A.A. —atraem-se mutuamente. Quando Passamos o tempo com pessoas de quem gostamos, somos menos molestados por aqueles por quem no temos interesse especial. Com passar do tempo, verificamos que nao tememos nos afastar naturalmente de quem nos irrita, em vez que ficarmos sub- missamente permitindo que eles nos amolem, ou em vez de ficar tentando ondireité-los para que se ajustem a nés, Nenhum de nés consegue lembrar-se de ter sido foreado por alguém a tomar bebida alcodlica. Ninguém jamais nos amarrou e despejou bebida por nossas gargantas abaixo. Assim como fisica- mente ninguém nos forgou a beber, tentamos agora nos assegurar de que ninguém mentalmente nos levard a isto. E muito facil utilizar as agdes dos outros como justificativas para beber. Eramos especialistas nisso. Mas, na sobriedade, apren- ‘demos uma nova técnica. Nunca nos permitimos ficar tao ressenti- dos com alguém a ponto de deixar qué tal pessoa possa controlar nossas vidas, especialmente a ponto de nos levar-@ beber. Veriica- mos que nao temas nenhum desejo de consentir a que outra pessoa qualquer dirija ou destrua nossas vidas Um antigo sabio dizia que ninguém deve criticaro outro até ter ‘caminhado uma milha com os sapatos dele. Este conselho pode nos dar uma compaixao maior por nosso proximo. E colocé-lo em praitica nos faz sentir muito melhor do que ficer irritados. 24 "Delxar Viver" — sim. Mas alguns de nés encontram o mesmo valor na primeira parte do lema: “Viver’ Quando tivermos descoberto maneiras de desfrutar nossa pro- pria vida plenamente, entdo seremos felizes de deixar 05 outros vi- verem da maneira que quiserem. Se nossas vidas sao interessantes produtivas, realmente nao sentimos impulso ou desejo de encon- trar defeito nos outros ou nos importar com © modo como agem. \Voc8 consegue, neste instante, pensar em alguém que 0 abo) rece? Se sim, faga alguma coisa. Adie pensar nele ou nela, qualquer que sejaa coisa nessa pessoa que o esteja atormentando, Vocé pod || enfurecer-se depois, se quiser. Mas, por hora, por que néo esquace) + enquanto Ié 0 paragrafo seguinte? Vival Tenha interesse por sua propria vida. Em nossa opiniao, ficar sbrio abre 0 caminho & vida e @ felicidade, Vale a pena abafar qualquer ressentimento ou discussao. Entéo, nao conseguiu desligar sua mente por completo daquela pessoa” Vejamos se a préxima su- gestio ajudara. 6 ENTRAR EM ATIVIDADE E muito dificil sentar-se imével, tentando no fazer determina- da coisa ou mesmo nao pensar nela. E muito mais facil entrar em agéo @ fazer algo diferente daquilo que estamos tentando evita (O mesmo acontece com a bebida. Tentar simplesmente evitar um gole (ou nao pensar nele) parece nao ser, por si s6, 0 bastante. Quanto mais pensamos no gole de que nos queremos livrar, mais ele ocupa nossa mente, 6 claro. E isso ndo é bom. & malhor ocupar-se com alguma coisa, qualquer atividade que empregue a nossa mente @ canalize a nossa energia para a saude. Milhares de nés nos perquntavamos 0 que fariamos se paras semos de beber, dispondo de todo aquele tempo. Realmente, quan= do de fato paramos, todas aquelas-horas que passdvamos plaiiejan- db, conseguindo a bebida, bebendo e nos recuperando de seus efei tos imediatos transformaram-se, de repente, em enormes espagos de tempo que, de algum modo, precisavam ser preenchidos.. ‘A mhaior parte de nés tinha trabalho a fazer. Mas, mesmo as- sim, Id estavam aqueles minutos ou horas olhando fixamente para 25 nds. Precisavamos de novos habitos para encher aqueles vazios e utilizar a energia nervosa anteriormente absorvida por nossa preo- cupagdo ou pela nossa obsessao pela bebida. ‘Toda pessoa que j4 tentou interromper um habito sabe quo empenhar-se em nova ¢ diferente atividade é muito mais facil do que ‘simplesmente interromper a antiga, sem nada colocar em seu lugar. Os alcodlicos em recuperagao freqdentemente dizem: "S6 pa- rar de beber nao 6 0 bastante”. Nao beber, simplesmente, é algo negativo, estéril. Isso esté bem comprovado por nossa experiéncia. Para ficarmos parados, sem beber, vimos que precisdvamos colo- car no lugar da bebida um programa positivo de agdo: Tivemos de aprender a viver sdbrios. ie ~~ O medo pode ter sido o fator que, a principio, nos levou a re- fletir sobre a possibilidade de termos um problema com o alcool. E Por pouco tempo apenas, 0 puro medo péde nos ajudar a evitar um gole. Mas esse estado de espirito no oferece o contentamento nem a tranqUilidade necessaria. Por isso, tentamos cultivar um respeito ‘sadio pelo poder do dlcool, no lugar do medo, do mesmo modo que '88 considera 0 poder do cianureto ou de qualquer outro veneno. Som andar constantemente temerosos desses venenos, a maioria das pessoas 0s respeita pelo que podem causar ao organismo @ so bastante sensatas para nao toma-los. Nés de A.A., agora, conhece- mos também o alcool € Ihe dispensamos a masma consideracao. Mas 6 claro, ela 6 baseada na propria experiéncia, e nao causada pela Viso de uma caveira com ossos cruzados num rétulo. Nao podemos confiar no medo para atravessar essas horas vazias sem sorver um gole. O que podemos fazer entéo? Achamos Uteis ¢ proveitosas muitas espécies de atividade, al- gumas mais do que outras. Aqui estao dois tipos, em ordem de efi- cdcia, de acordo com a nossa experiéncia: A. ATIVIDADE EM A.A, OU RELACIONADA COM ELA. Quan: do membros experientes de A.A. dizem ter achado o “tornar-se alivo” roveitoso a sua recuperagao do alcoolismo, em geral estao referin- do-se a atividade relacionada com A.A, Se vocé quiser, podera fazer o mesmo, ainda antes de decidir Se deseja ou nao tornar-se um membro de A.A. Nao precisa de per- missao nem de convite de ninguém, 26 Na realidade, antes de tomar qualquer decisao sobre o proble- ma da bebida, seria bom acercar-se de A.A. por algum tempo. Nao se preocupell Apenas sente e observe. A frequéncia as reunides nao © tora um alcodlico e nem um mambro da Irmandade, do mesmo modo que sentar-se em um galinheiro nao 0 transforma numa gali- nha. Vocé pode tentar fazer um teste, uma espécie de “ensalo’, antes de se decidir a participar. As atividades que freqdentemente usamos em nosso comeco em A.A. podem parecer bastante insignificantes, mas os resultados ‘comprovam o seu valor. Poderiamos chamé-las de “quebra-gelo”, por- que ajudam a nos sentir 2 vontade em companhia de pessoas que nao conhecemos. Quando a maioria das reunides de A.A. termina, geralmente ‘se nota que alguns dos presentes comecam a arrumar as cadeiras, esvaziar cinzeiros ou a retirar a louga do café. ‘Ajude. Voc podera surpreender-se com o efeito que tarefas, aparentemante téo pequonas exorcerdo sobre voc. Vooé pode lavar as xicaras @ 0 bule, arrumar os livros, varrer a sala. ‘Ajudar nessas minimas coisas no significa que voc8 se torna © porteiro ou 0 zelador do grupo. Nada disso. Por termos feito isso durante anos e ver outros faz8-lo, sabemos que praticamente toda pessoa em recuperacdo em A.A, tomou parte nos detalhes do prepa- ro do café, da arrumagao ou da limpeza da sala. Os resultados que experimentamos por ter feito esses servigos S80 concretos, benéfi- cos e geralmente surpreendentes. Na verdade, muitos de nés s6 nos sentimos vontade em A.A. quando comegamos a ajudar em coisas tao simples. E ficamos muito mais & vontade e mais longe da bebida (e mesmo do pensamento dela) ao aceltarmos alguma responsabilidade pequena, mas regular e espeoifica, como trazer o refresco ou 0 refrigerante, ajudara servi- Jo, tomar parte no comité de recepeao ou fazer outras coisas que precisavam ser feitas. Simplesmente observando os outros, vooé aprendera que 6 necessario arrumar tudo para a reuniao e colocar depois tudo em ordem. Ninguém deve se preocupar com tais coisas, é claro. Em A.A. ndo se exige que ninguém faga ou deixe de fazer coisa alguma. Mas essas tarefas simples humildes e 0 compromisso (sé conosco mes- mos) de realizé-las fielmente exerceram efeitos surpreendentemente 27 bons em muitos de nds que ainda o fazem. Ajuclam a reforgar nossa sobriedade, Se continuar junto de A.A., notaré outros servigos que preci- sam ser feltos, Ouvird 0 secretario dar os avisos e vera o tesoureiro encarregar-se da sacola de coleta. Servir numa dessas ‘ungbes, se ja tiver algum tempo de abstengao (cerca de 80 dias, na maioria dos grupos), é uma boa forma de preencher o tempo que se gastava bebendo, ‘Quando tais fungdes Ihe interessarem, folhele um exemplar do livreto “O Grupo de A.A”. Ele explica 0 que os "“servidores” do grupo fazem e como sao eleitos. Em A.A. ninguém esté ‘acima” ou “abaixo" de ninguém. Nao ha classes, nem camadas © nem hierarquias entre os membros. Nao hé servidores formais com qualquer poder ou autoridade para governar. A.A, no 6 uma organizagao no sentido usual da palavra. E uma Ir- mandade de pessoas iguais. Todos se tratam pelo primeiro nome. Os membros de A.A. se revezam pata realizar as tarefas necessarias A6 reunides do grupo ou para executar outras fungdes. Nao é preciso ter habilidade profissional especitica e nem educagéo especial. Mesmo que vocd nunca tenha sido membro, coordenadior ou secretario de coisa alguma, pode descobrir ~ como muitos de nés descobrimos - que dentro do grupo de A.A. esses servigos so faceis de prestar e operam maravilhas em nds. Eles se constituem num suporte firme para nossa recuperagao. Agora, 0 Segundo tipo de atividade que nos ajuda a evitar 0 primeiro gole. B. ATIVIDADE NAO RELACIONADA COM A.A. £ curios, mas verdadeiro, que, depois de parar de beber, alguns de nés parecemos sofrer de uma falta temporaria de imaginacao. E curioso porque em nosso algoolismo ative tantos de nés re- velavamos possuir uma imaginagao inerivelmente féril. Em menos de uma semana podiamos sonhar instantaneamente com mais ra~ 25es (desculpas?) para beber do que a maioria das pessoas usam para todos os outros fins durante a vida intoira (a propésito, podo-se verificar que os bebedores normais, isto 6, os ndo-alcodlicos, nunca precisam empregar qualquer justificativa especial para beber ou dei- xar de beber). 28 ‘Quando a necessidade de apresentar desculpas para beber jé nao existe, mullas vezes parece que nossas mentes cruzam os bra~ ‘90s em greve. ‘Alguns de nés verificam sua incapacidade de imaginar o que fazer sem a bebida. E possivel que seja por falta de habito. Ou talvez a mente precise de um periodo de convalescéncia, apés o alooo- lismo ativo ter cessado. Em ambos os casos, o embotamento conti- nua. Depois de nosso primeiro ms de sobriedade, muitos notam uma grande diferenga. Passados trds meses, nosses mentes pare- cem ainda mais lucidas. E, durante 0 nosso segundo ano de recu- peragdo, a mudanga é extraordinaria, Parece que dispomos de mais energia mental de que jamais usufruimos antes, Mas 6 durante o primeiro periodo de abstengdo, aparentemente interminavel, que vocé nos ouvira perguntar: "Que podemos fazer?” Asta seguinte 6 apenas um comego util para esse periodo. Nao € muito excitante ou aventurosa, mas inclul os tipos de ativida- des que muitos de nds utilizamos para preencher nossas primeiras horas vazias, quando nao estévamos no emprego ou na companhia de outras pessoas que nao bebiam. Sabemos que funciona, Eis 0 que fazer: 1, Passear - Especialmente ir @ novos lugares, em parques ou no campo. Calmamente, passeios tranqiilos nao marchas cansativas. 2, Ler- Embora alguns de nés ficdssemos bastante nervosos a0 ler alguma coisa que exigisse concentragao. 8. Visitar museus e galetias de arte. 4. Fazer exercicio tisico - Nadar, jogar bola, fazer ginéstica, ioga ou outros recomendados pelo médico. 5. Comecar um trabalho ha muito negligenciado - Limpar uma gaveta da escrivaninha, arrumar os papéls, responder a algu- mas cartas, pendurar quadros; ou fazer alguma coisa seme- thante que estamos adiando. Descobrimos, porém, que é importante néo exagerar em nada disso. Parece facil planejar limpar todos os armarios (ou 0 s6- 'Go, a garagem, 0 pordo, o apartamento). Entretanto, apds um dia de trabalho fisico érduo, podemos ter- minar exaustes, sujos, sem ter terminado a tarefa e desen- 29

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