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GEOGRAFIA E TURISMO — Notas introdut6rias © fantistico incremento do fendmeno turfstico nos Gltimos trinta anos, notadamente do turismo de massa, fem desperlado o interesse do seu estudo tanto em nivel tedrico, nas chamadas Ciéncias Sociais, como nas Cigncias Aplicadas, em setores do planejamento, do marketing e da publicidade. Seguindo a mesma tendéncia multiplicam-se os ‘cursos destinados a formacao de bacharéis em turismo, 05 cursos de especializagio, os eventos - congressos, simpésios, seminérios. Observa-se um crescimento no ‘mereado editorial de livros ¢ a8 publicagées em periédicos cespecializados. Para 0 grande piblico diversificam-se as revistas editadas pelas companhias aéreas e ultras empresas, 08 suplementas turisticos nos principais jomais, 8 folhetos promocionais, alguns com edigao de alto padrao de qualidade gidfica. No &mbito mereadol6gico aumenta © némero das operadoras ¢ das agéncias de viagem com ofertas fantésticas © tentadoras, atraindo consumidores de diversos segmentos sociais, colocando a vviagem a0 alcance de todos. Ouve-se com fregiiencia a afirmagio de que o turismo hoje representa o tereeiro produto do comércio inlemacional, colocando-se apés 0 petréleo ¢ 08 armamentos. Parece que entramos na era da civilizagio do lazer e, por extensao do turismo, como preconizara Jofre DUMAZEDIER, no inicio dos anos 60, na sua obra Vers tune civilisation du loisir (1962). Mas pode-se tecuar mais no tempo e deter-se no panfleto de Paul LAFARGUE ~ O Direito @ Preguiga (1980) — langado em 1883, onde ele ‘condenava ferrenhamente a labula excessiva, enfatizando ‘que © proletariado estava embrutecido pelo dogma do trabalho difundido pela ideotogia burguesa. Para Lafargue basiaria que o homem trabalhasse apenas 3 horas por dia para sua manutengéo, "36 festejando pelo resto do dia ¢ da noite” (p.29). Ayr A. Balastreri Rodrigues(*) Um século transcorreu-se e, embora longe de se atingiro patamar defendide por Lafangue, a diminuigéo da jomada de trabalho — didria, semanal e azuel ~ aliada a ‘outras conquisas socias da classe trabalhadora ampliaram sobremaneira o tempo livre, o que se refletiu diretamente na mulliplicagéo e diversifiagio das atividades de recreagéo ¢, por extenso, do turismo de massa. As razBes dessa expansio sio complexas ¢ derivam de fatores que atuam nfo de forma linear, mas de mancira inerativa no process0 global, situando-se nos campos econémico, social, psicol6gico, politico, cultural, ideol6gico, além de outros Indubitavelmente foi introjetada na mente dos ndividuos uma nova necessidade — a do lazer, “lato-sensu” e da recreagao, esportes ¢ turismo, no sentido mais restrito. Exprecsin desta ideologia é a apologia da viagem turistica como uma necessidade. Abrahan MASLOW, jé no inicio da década de 40, no seu artigo ~A Theory of Haman Motivation, publicado na Psychological Review (1943) aponta @ viagem turistica como uma das necessidades do homem, fundamental para a sua auto-preservacio e para o reconhecimento ¢ admiragéo do ‘grupo social no qual esté inserido. ‘A condenagéo de dispender o tempo livre em pura contemplagdo se fundamenta no mesmo principio, defendido pela ideologia copitalista de que “tempo ¢ dinheiro". No Pequeno Diciondrio Brasileiro da Lingua Portuguesa, conhecido popularmente como Aurélio, ociosidade" & definida como o "vicio de gastar 0 tempo inutilmente". Difunde-se de certa forma a obrigagio do preenchimento do tempo livre com atividades que acabam se incorporando as novas necessidades do homem, criadas (C) Professom Assistente-Dovtora do Dep. de Geograia da PFLCH-US n pela sociedade de consumo de masse, fendmeno magistralmente abordado por Jean BAUDRILLARD (1991), na sua eléssiea obra La societé de consommation. D.PARTZSCH, citado por Karl RUPPERT (1978), em trabalho realizado em 1964, sponta a recreagio como uma das sete fungoes essenciais da existéneia, compreendidas Por habitar,trabathar, manter-se, instruir-se, deslocar-se & vviver em comunidade — todas elas, segundo 0 aulor, com importantes repercussGes cspaciais. Com base neste trabalho € que Karl RUPPERT (1978) apresenia um esquema procurando ilusirar o sistema espacial da Geografia Social cujo modelo se fundamenta em ‘mecanismos perceptivos pare explicar 0 comportamento ambiental. ‘A. recreagio e, em particular, a viagem, 6 incorporada como ums necessidade foldgica para a reposiga de energisfisices¢ mentas. Ha quem dg que 20 "homo sapiens” sucede 0. "homo tursticus', um produto da sociedade de consumo. © indivfdvo que vaja stdin, enguanto aguele que nao vine esté out. A vlagert tomow'se uma obrigagso, © nos dias atuals, com 0 increment do turismo de massa © do turismo socal subsidiado em alguns paises, quae todas as camadas socizis da populag tém acess viagem, Os soisticados emweites. de volla 20 mundo ¢ as exdtieas viagens — sopresa so usufruospeles que se eacontram no pice da pirtmice sci. © domingo na praia ov em alguma estagio de montanha através do Gribus de excurdo Prizeirosimente destengo elas camadas. socisimente rmenos favorecidas da populago, vulgarmenie © pejorativamenteconhocid ence nds como “aofeiras" interesse do fenémeno turistico na Geografia ‘Tendo em vista as incidéncias espaciais do turismo, © tratamento geogrifico do fenbmeno vem se tomnando cada vez mais destacado. Curiosamente, um dos trabalhos mais antigos onde foi usada a expresstio Geografia do Turismo, data 6 de 1905, escrito na cidade austriace de Graz, por J. STRADNER, citado por A. L. GOMEZ (1988, p. 46), que assinala: "Stradner (1905) fue el introduetor en le bibliografia germana especializada del ‘érmino geografia del turismo (Rremidenverkerhrs geographic), el cual, desde entonces, ha servido para

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