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24/7/2010 Lúpus eritematoso na odontologia

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Domingo 25 de Julho de 2010 Última Modificação: Segunda-feira 23 de Janeiro de 2006

Lúpus eritematoso na odontologia

Equipe editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Etiologia
- Manifestações bucais
- Tratam ento e prognóstico
- Conclusão
- Referências bibliográficas

"Exemplo clássico de condição imunologicamente mediada mais freqüentemente encontrada em mulheres.


Possui causa desconhecida, embora fatores genéticos e ambientais estejam associados à sua etiologia. O
envolvimento bucal, principalmente da língua, dos lábios, do palato e da mucosa, é variável e depende da
gravidade do quadro clínico."

Introdução

O Lúpus Eritematoso é uma doença um tanto comum, de etiologia desconhecida, descrita de longa data. A palavra
latina lupus significa lobo e estabelece uma analogia entre as erupções faciais da doença e as marcas
observadas na face de alguns lobos. O lúpus é considerado uma das enfermidades do colágeno e seu caráter
auto-imune é responsável pelas várias manifestações clínicas encontradas, que podem ser mucocutâneas e
estar ou não acompanhadas de manifestações sistêmicas. O termo auto-imune refere-se à produção de
autoanticorpos dirigidos a componentes celulares do próprio organismo ou reatividade de linfócitos a um antígeno
também próprio. A sintomatologia é semelhante para homens e mulheres. Entretanto, o mesmo não pode ser dito a
respeito da prevalência por sexo, uma vez que se observa maior predominância para o gênero feminino.

Sob o ponto de vista clinicopatológico, o Lúpus Eritematoso é subdividido em Lúpus Eritematoso Sistêmico; Lúpus
Eritematoso Cutâneo Crônico e Lúpus Eritematoso Cutâneo Subagudo, sendo que todos eles podem apresentar
manifestações bucais. O Lúpus Eritematoso Sistêmico é o mais grave e envolve vários sistemas, com uma
variedade de manifestações cutâneas e bucais. Nessa variante, ocorre um amento na atividade da parte humoral
do sistema imune em conjunto com as funções normais do linfócito T. Embora seja clara a participação de um
componente genético em sua patogênese, a causa precisa é desconhecida. O Lúpus Eritematoso Cutâneo
Crônico pode representar um processo diferente, mas relacionado. Apresenta-se com lesões limitadas à pele e à
mucosa bucal, com um bom prognóstico. A terceira forma da doença, o Lúpus Eritematoso Cutâneo Subagudo,
apresenta características clínicas intermediárias entre o Lúpus Eritematoso Sistêmico e o Lúpus Eritematoso
Cutâneo Crônico.

Deve ser salientado que certos dados laboratoriais são comuns a todas as variantes, como presença de
anticorpos antinucleares, globulinas séricas anormais, fator reumatóide positivo, velocidade de sedimentação
elevada e teste sorológico falso positivo para sífilis. O tratamento de pacientes portadores da doença é
inespecífico, cabendo ao profissional definir a melhor estratégia para cada caso. O acompanhamento deve ser
multidisciplinar, devem ser administrados medicamentos e evitar ao máximo os fatores que podem estimular o seu
surgimento.

Dessa forma, torna-se necessária a capacidade, por parte do cirurgião-dentista, de reconhecer e diagnosticar as
lesões bucais do lúpus eritematoso, uma vez que a presença de manifestações bucais nesta patologia é de
grande incidência, surgindo, muitas vezes, antes das manifestações cutâneas. Logo, é passível de ser realizado
o diagnóstico precoce da enfermidade, e o paciente encaminhado o quanto antes para a realização do tratamento
mais adequado.

Etiologia

Independentemente do fato de serem consideradas entidades mórbidas separadas, ou formas de uma mesma
doença, têm sido considerados os mesmos fatores etiológicos para o Lúpus Eritematoso Sistêmico, Lúpus
Eritematoso Cutâneo Crônico e Lúpus Eritematoso Cutâneo Subagudo. Embora apresente, entre outras alterações
imunológicas, a produção de auto-anticorpos, o lúpus eritematoso ainda não tem sua etiologia definida, sendo
considerado uma doença multifatorial.

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Há uma hipótese plausível para tal condição patológica: a "clonagem proibida". Alguns pacientes podem
apresentar uma regulação homeostática inadequada, o que permite supervivência de muitas células modificadas
(clonagem proibida) nascidas por mutação no tecido linfóide. As células que foram lesadas pelas células mutadas
liberam mais antígenos, estimulando as células mutadas reativas para que se proliferem, criando, assim, um
círculo vicioso. Uma reação imunológica pode ser plenamente desenvolvida, se for suposto que qualquer célula
do corpo que sofra destruição por envelhecimento sirva de combustível antigênico. Além disso, uma regulação
homeostática fraca poderá depender de predisposição genética, uma vez que os pacientes com esta doença
normalmente possuem parentes próximos com alguma doença que envolve o colágeno.

Dentre os fatores ambientais envolvidos na etiologia desta doença, determinados medicamentos se destacam,
como a hidralazina, a procainamida, a D-penicilamina e a hidrazida, as quais podem induzir uma resposta LES-
símile. Infecções virais podem levar a uma ativação policlonal sustentada dos linfócitos B nos indivíduos com
predisposição genética para tal, provocando uma produção de anticorpos em pacientes susceptíveis. Desta
maneira, o próprio vírus da hepatite C (HCV) poderia facilitar o surgimento ou modificar a história natural do Lúpus
Eritematoso.

Manifestações bucais

O acometimento da face ocorre em 40% a 50% dos pacientes diagnosticados com Lúpus Eritematoso Sistêmico e
caracteriza-se por um exantema em forma de asa de borboleta que se desenvolve nas áreas malar e nasal. As
lesões bucais associadas ao lúpus eritematoso sistêmico são inespecíficas, apresentando-se erosivas ou
atróficas, circundadas por pápulas hiperceratóticas ou estrias, em lábios, bochechas, palato e língua. O edema, a
hiperemia e a extensão das lesões são por muitas vezes bastante acentuadas, com grande tendência ao
sangramento. É importante ressaltar que as mais importantes manifestações bucais do LES são as úlceras no
palato, caracterizadas por lesões eritematosas localizadas no palato duro. Estas não devem ser confundidas
com úlceras aftosas. Também têm sido relatadas a superposição de monilíase bucal e xerostomia. Raramente
pode ocorrer artrite dos maxilares, entretanto, quando aparece, pode ocasionar movimentos limitados com dor ao
longo das laterais da face, disseminando-se, às vezes, pelos músculos da mesma, sendo os dentes raramente
atingidos por esta artrite.

O envolvimento da mucosa bucal é relatado entre 20 e 50% dos casos de Lúpus Eritematoso Cutâneo Crônico.
As lesões bucais começam como áreas eritematosas, às vezes ligeiramente elevadas, porém na maioria das
vezes deprimidas, usualmente sem endurecimento e tipicamente com pontos brancos. As lesões são associadas
a estrias, que podem ser observadas nos estágios mais avançados da doença. Quando na língua, tal alteração
ocorre como áreas avermelhadas, lisas e circunscritas, nas quais há ausência de papilas ou estas se
apresentam como placas esbranquiçadas semelhantes à outras alterações. Estudiosos salientaram a existência
de grande variação nas lesões bucais, e que estas, freqüentemente, simulam outras doenças, principalmente
leucoplasia e líquen plano. Por esta razão, o diagnóstico baseado no aspecto clínico não deve ser estimulado.
Esse dado foi comprovado por estudo que acompanhou por longo tempo 52 pacientes com Lúpus Eritematoso
Cutâneo Crônico, em que foi relatado que as lesões que haviam sofrido transformação em lesões semelhantes a
leucoplasia, mesmo mostrando características histopatológicas semelhantes a leucoplasia, não eram precedidas
pelo Lúpus Eritematoso.

Tratam ento e prognóstico

O tratamento do lúpus eritematoso é inespecífico, pois não existe um protocolo padrão para todos os pacientes.
Várias medidas são empregadas, entre medicamentos e normas, para que se tenha uma boa qualidade de vida.
Os pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico devem evitar exposição à luz solar, pois as radiações ultravioleta
podem precipitar a atividade da doença. Deve ser sempre feito o uso de filtros solares. Devido ao
comprometimento articular, essas estruturas devem ser bem cuidadas, evitando lesões. Os exercícios físicos
devem fazer parte desta etapa.

As sulfas, os anticoncepcionais orais e as penicilinas podem disparar a doença, devendo, assim, ser evitados.
Os medicamentos mais indicados, na condição sistêmica, são os corticoesteróides. Os antiinflamatórios não
esteróides, como a aspirina e a dipirona, os antimaláricos - no controle de artrite e problemas de pele (cloroquina
e hidroxicloroquina) - e os imunossupressores são também utilizados no tratamento desta enfermidade, embora
haja controvérsias sobre o uso dos imunossupressores em função de seus grandes efeitos colaterais. Como a
maioria das manifestações do Lúpus Eritematoso Cutâneo Crônico são cutâneas, os cortiesteróides tópicos
geralmente são bastante eficazes, também podendo ser usados no tratamento das lesões bucais. Para os casos
de resistência à terapia tópica, os agentes antimaláricos sistêmicos ou baixas doses de talidomida podem
produzir uma boa resposta. Os pacientes com fotossensibilidade devem evitar a exposição ao sol e usar,
sempre, bloqueadores solares. O auto-exame da cavidade bucal e visitas periódicas ao dentista (a cada 3 ou 6
meses) para cuidados preventivos são de grande importância, devendo-se ficar atento para o aparecimento de
máculas avermelhadas no assoalho bucal.

Além disso, com a destruição progressiva dos ácinos das glândulas salivares, a produção da saliva decresce e
pode chegar ao ponto crítico dificultando a deglutição, a fonação e a limpeza mecânica e química dos elementos
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dentários. Em virtude disso, os pacientes lúpicos devem ser orientados a ter uma higiene oral redobrada. Em caso
de crise, o tratamento dentário deverá ser interrompido ou adiado, principalmente as cirurgias, só devendo ser
executadas quando extremamente necessárias. Outro ponto importante é quanto à administração de antibióticos
como as penicilinas que podem, em alguns casos, agravar o lúpus.

O prognóstico para os pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico é variável. O índice de sobrevida pra os
pacientes que estão sendo tratados hoje é de 95%; entretanto, em 15 anos o índice cai para 75%. Finalmente o
prognóstico depende de quais órgãos foram afetados e da freqüência de reativação da doença. Além disso, a
causa mais comum de morte é a insuficiência renal. Por razões desconhecidas, o prognóstico é pior pra os
homens do que para as mulheres. No caso do Lúpus Eritematoso Cutâneo Crônico, o prognóstico é
consideravelmente melhor do que o Lúpus Eritematoso Sistêmico, embora possa ocorrer a transformação pra
essa variante em aproximadamente 5% dos casos. Geralmente a forma crônica permanece confinada à pele,
porém pode persistir e ser bastante incômoda. Em cerca de 50% dos pacientes com Lúpus Eritematoso Cutâneo
Crônico, o problema se resolve somente após vários anos.

Conclusão

O lúpus eritematoso é uma doença autoimune desencadeada por uma série de fatores, tanto genéticos como
ambientais, em que o envolvimento da mucosa oral ocorre tanto na forma sistêmica como na crônica. O
diagnóstico das lesões orais baseia-se em dados laboratoriais associados a características clínicas e
histopatológicas. A possibilidade de manifestação da doença sob forma agressiva, com grave comprometimento
renal e cardíaco, requer atenção e diagnóstico precoce. Tendo em vista a melhoria nas condições de vida destes
pacientes, o papel do cirurgião-dentista é fundamental, visto que a cavidade bucal representa uma região de
relevante interesse clínico para o diagnóstico desta patologia.

Palavras-chave: Lúpus Eritematoso – Manifestações bucais – Líquen plano – xerostomia - Tratamento

Referências bibliográficas:

1. Len, C. A; et al. - Lúpus eritematoso sistêmico juvenil e infecções orais - Rev. Brás. Odontol, 2004.

2. Galvão, H. C. et al. - Estudo de lesões orais associadas a doenças dermatológicas - Rev. Bras. Patol. Oral,
abr.-jun. 2004.

3. Mérida, H. et al. - The lupus erythematosus in dentistry – Odontol dia; mar.1990.

4. Neville, B. W.; Dam m , D. D.; Allen, C. M.; Bouquot, J. E. – Patologia Oral & Maxilo Facial. 2. ed. Guanabara
Koogan, 2004.

5. Shafer, W. G.; Hine, M. K.; Levy, B. M.; Tom ich, C. E. – Tratado de Patologia Oral. 4.ed., 1985

6. Cantazaro-Guim arães, S. A. - Patologia básica da cavidade bucal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1982.

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