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sinuses Me Dircto penal. Pane geral 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008 Do cardter subsididrio do Aircito pena, 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, PAULO QUEIROZ 2002. (esp) Direito penal - ntroducao critica. Sao Paulo: Saraiva, 2001 (esg.) FUNCOES DO DIREITO PENAL Legitimacao versus Deslegitimagao do Sistema Penal Datlosinternacionas de Catalogacso na Publicagio (CP) A (Cimara Brasileira do Livro, SP, Basi 3. edicao Queiroz, Paulo ca oo Fungies do dieito penal: legitima revista e atualizada 80 versus deslegtimacio do ste Tatenal/ Palo Queioz-3. ed tev cata Siotader tae oon dos Tunas, 2008 Bibliogratia ISBN 978.85.203.3313.6 '- Direito penal 2. Penas~direito penal Titulo. cou3483.2.01 ITORA FREVISTA DOS TRIBUNAIS NOTA DO AUTORA 3.7 EDIGAO Conforme perceberso leitor, ha varias teoriasda pena, umas legitimadoras, outras deslegitimadoras, outras a um tempo legitimadoras e deslegitimadoras do poder de punir. Percebera também que, apesar de assim classificaveis, nao raro divergem quanto aos fundamentos do direito de punir. Exatamente por isso, ndo existe, a rigor, uma teoria preventiva especial, mas di- versas, cujosargumentose postuladosnem sempre coincidem entre seus partidarios. Com efeito, ora falam de ressocializacio, orade nao dessocializacao, ora propoema ressocializacao como ‘uma finalidade a ser perseguida contraa vontade do condena- do inclusive, ora como um direito seu, que nao pode Ihe ser impostosob nenhum pretexto. Semelhantemente,aprevencao gral negativa proposta por Frrrajoui nao éa mesma que propoe Roxtn, que nao é a mesma que propunha FEUERBACH, Enfim, como toda classificagao, as teorias da pena encer- ram uma reducao, uma simplificaca0, podendo compreender, sob 0 mesmo titulo, propostas politico-criminais um tanto dispares, De todo modo, parece-nos que, contrariamente ao que pretendem, em geral, as diversas teorias, ndo existe uma razao universal para castigar ou ndo castigar, isto ¢, aplicavel a todo e qualquer caso e, pois, valida para alémdo tempo e do espaco, motivo pelo qual cada caso pede uma legitimacao/deslegitima- ao particular. E que 0 direito penal, como todo conceito, € construido pela equiparacdo de coisas desiguais e, porisso, constitui uma universalizacao do nao-universal, do singular; um conceito 8 FUNCOES DO DIREITO PENAL hasce, portanto, da postulacao de identidade do nao identico.! © conceito de crime, por exemplo, refere-se a um sem ntime- ro de condutas que, a rigor, nada tem em comum, a excecao da circunstancia de estarem formalmente tipificadas: mane alguém, subtrair coisa alheia movel, emitir cheque sem pro- visto de fundos, portar droga para consumo pessoal, abater espécime de fauna silvestre etc. (espécime que pode variar de uma borboleta a uma onca pintada), conceitos, que, por sua vez, unificam coisas dispares. Com efeito, nao existe um ho, micidio absolutamente igual outro homicidio, nem um furto absolutamente igual a outro furto, nem um crime ambiental absolutamente igual a outro, pois as multiplas variaveis que Sempre envolvem taisatos tornam cada acdo humana singula rissima, unica, irrepetivel. Enfim, um conceito é€ formado pela climinacao do que ha de singular em cada ato; e quanto ‘pais exato, mais abstrato e mais vazio de conteido se torna.? Alem disso, as leis penais supdem uma regularidadedeex- Pectativas, emogdese interesses que simplesmentenao existe E que no fundo praticamos crimes pelas mesmas racoes que nd0 os praticamos, isto é, porque temos ou ndo motivacoes Para tanto; e essas motivacdes variam de pessoa para pessoa ¢ sao sempre novas. Talvez por isso ou também porisso tivesse razao Nietzsche quando afirmava que ¢ impossivel saber por que realmente se castiga, e que o que chamamos justica nao é outra coisa sento lima transformacao do ressentimento e, pois, uma forma de vinganca com nome diverso. 1 METSCi Fridrch Sobre vendad y ment en sentido extramoral Tecmo: Madrid, 1996, 2. Idem, 3: Asenealogia da moral Si Paulo: Centauro Eitorn, 2004, NOTA DO AUTOR A3*EDICAO. presente livro pretende ser uma introdugao a este tema sempreatualecontrovetido, que éacrticadarazio punitive a ni {que encerra uma triplice discussao: porque punir, o que pur 0 faze-o. coms pauloqueiroz.net INTRODUCAO presente livro quer responder a indagagao sobre que fins pode e deve perseguir o Estado por meio da pena, ou, mais exata- mente, por meio do direito penal indagacioque,nofundo,envol- ‘veoproblemadalegitimidademesmado Estado comomonopélio “organizado da orca.' Interessa considerar,no entanto, naoapenas as fungdes? que possam legitimar a intervencao juridico-penal, na vigencia de um Estado Democratico ce Direito (as chamadas fungoes declaradas ou legitimadoras), mas também aquelas que, ‘embora nao a justifiquem, sao realmente realizadas pelo sistema penal, quefazem parte, assim, dasuarealidade operativa (funcoes Jatentes ou ocultas), e que podem, inclusive, deslegitims-la Semelhante questionamento, como¢ sabido, constitui um dos temas mais antigos e controvertidos da filosofia,” que é a 1. Fenyou, L. Derecho y razon, p. 248, Preferir-se-a, aqui, a expressio “fun¢ao” as tradicionais “missio” ou ‘dodireito penal, pelasua maior amplitude, abrangendo nao séas ‘metas que odireito penal cumpreou deve cumprirno planonormativo, como também aquelas que efetivamente realiza no plano empirico, desejadas ou nao. Sobre o assunto, HassrweR, W:; Mukoz Conor, F Introduccionalacriminologiay al derecho penal, p.99, que preferem falar de“ missa0”, “fins” ou “metas” paraaludirasconsequencias desejadase de“fungao” para rferiras consequencias nao desejadas, mas reais; Siva Sevens, M. Aproximacidn al derecho penal contemporanco; Fexkayou, ‘Atendéncia atual parece ser preferi-se a expresso “funcdo” a “fins” ou “missao ,comose vé em Mik Puc, 5 Funcigndelapenay teoria del delta en el estado social y democratico de derecho; Gancia-Pas.os be Mourns, A. Derecho penat: Introduccion e Siva SANcHz, J. M. Op. cit, 3. _Arespeito, Anistorrirs, SENECA, PLATAO, tendo dito esteltimo, pela boca de pzoraconas: “quem aspira a castigar de maneira racional, nao deve 2 FUNGOESDO DIREITO PENAL justificacdo do direito de punir, tradicionalmente tratadasoba Tubricade “teorias da pena”, que, nofundo, sao teorias do direi- to penal, ‘tema, alias, ordinariamente relegado a plano secun- dario pelos manuais, a despeito da importancia fundamental que tem, ou que deveria ter, na elaboracao e interpretacao do direito e processo penal, pois tais funcdes nao podem ser rea- lizadas de forma conseqaente com 06 manuseio de conceitos da dogmatica penal, prescindindo-se do conhecimentodos fins que devem orientar aatuacao de juizes, legisladores e de todos aqueles que de algum modo lidam com o direito. Alem disso, econforme assinala Sitva Sancitz,aquestaodos fins do direito penal adquire uma transcendéncia nova quando seadota um método teleolégico-funcionalista naelaboracao das categorias dogmaticas e do proprio sistema da teoria do delito com todoseuaparatoconceitual, pois isto converteadiscussao dos fins do direito penal, tradicionalmente considerada como matéria especulativa, em algo de substancial transcendencia pratica, que repercute diretamente na resolucao dos casos penais.* Convém esclarecer que a analise que aqui se desenvolvera 1ndo se cinge, como s6i acontecer, as teorias legitimadoras do direito de punir, isto é, nao se limita aquelas teorias que reco- nhecem legitimacao ao Estado para intervir coercivamente na liberdadedos cidadaos, cuidando, tambem, das teorias deslegi- timadoras (oabolicionismo penal eo minimalismo radical) que, faze-1o pelo injusto ja realizado, senao em atencao ao futuro, para que éemdiante nem o delinquente mesmo volte a cometé-lo, nem tampou- 60 0s demais, que veem como se 0 castiga”, citado por Jescitck, H. H Tratado de derecho penal, p.63. 4. Sobre o assunto, Bansta, Nilo. Introducdo critica do direito penal brasi- leiro, Rio de Janeiro: Revan, 1990. 5. Siva Sancnez, J.M. Op. cit, p.180, INTRODUCAO, B diferentemente das primeiras, negam, sob fundamento vario, legitimacaoao Estado para exercitar umtal poder. Aconclusio final é 0 resultado da confrontagao de ambas as tendéncias. Sob a rubrica de “teorias legitimadoras” so aqui conside- radasas diversas formulacdes te6ricas ustificadoras do direito de punir, as quais podem ser resumides em trés conhecidas maximas: punitur quia peccatum est; punitur ut ne peccetur; pu- nitur quia peccatum est et ne peccetur Respectivamente: pune-se porque pecou (teoria absoluta); pune-

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