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9 CAPITALISMO TARDIO E SOCIABILIDADE MODERNA Joao Manuel Cardoso de Mello e Fernando A. Novais tomarmos uma nagio moderna. Esse ae trariado em alguns répidos momentos, ‘ma, Na décads doe 50, alguns imagina, ‘que combinava a incorporacio das conguistas materiis do Capitalism com a persstndia dos tacos de carder que nos Singulazavam como povo: a cordalidade, a cintvidade, 2 tolerinca, De 1967 em diane, a visto de progreso vai asu- ‘mindo a nova forma de uma crenga na moderizaio, iso & de nosso aeesoiminent ao “Primeiro Mundo’. "avi certamente bons motivo para aianar o otimis- smo. A partir dos anos 80, entetanto assists a reverso da rmedlha: as dividas quanto is uma sociedade efetvamente pesimismo ganha, pouco a Pace tatar das relagbes entre as tansformagdes econb- micas « a5 rulagdes na socibiidade, manifesas na dura vida cotidiana e na pect tanto, por distingair os momento \, dem do pés-guera aos nossos. Voto tonentendecies do proces de industl0, com a insalago de setgres tcpologicamente mais avanga- dos, que exigiam investimentos de grande porte: 5 migra- 1A sz «canta Oe are sfesinterase a urbana gnbamn um tn aelerada, ‘2 im ib et ‘ano de 1964 marca uma inflexo, com a mudanga do 1” econémico, social ¢ politico de desenvolviment transformagio vai se consolidando a partir de 1967-68. Mas, sa madanga no eram perceptiveis, deixando a impressio de simi de malas cutee ‘uma continuidade essencial do progresso, manchada, para fsa Mevinet come «Bot muitos, pelo regime autoritério. A partic ra década Nova. 9 Chen Nov ergo tos, pelo regime autoritrio. A partir de 1980 ("a década Sivas Cinema No perdida”), finalmente, a nova realidade se impoe. Malgrado $n Sas Rt Rds hesitantes tentativas de reinversi, consolida-se nas suas ex- hime Hor) presses limitrofes (estagnacdo econdmica,superinflacio, de- ‘oléncia, escalada das drogas ete.) nestes dias ritmos nas vias esferas da realidade em movimento. (05 NOWOS PADROES D CONSUIMO rando os padroes de producio e de consumo préprios 05 paises desenvol tética ete. A engenharia brasileira erguers hidroelétrcas gi- agantescas, equipadas com geradores¢ turbinas nacionais, de Furnas, Trés Marias e Urubupungé até Itaipa. A indstria do Dispiinhamos, também, de todas as maravilhas eletro- ‘doméstcas o ferro eltrico, que substitu 0 ferro a carvao: 0 584 = STOR DA VR NMDA NO gis de botifo, que veio tomar o lugar do fogio elétri- 0, na casa dos ricos, ou de ‘espanador; a enceradeira, no lgar do escovéo; moda do carpete e do sinteco; 2 torradeira de viola hi-6, 0 som estereofbnica,o aparelho de som, disco de acetato,0 disco de vinl, our de doze polegadas, afta; a rv Fomos capazes de cons- truir centraistelefdnicas, amparando a relat ‘meio de comunicagdo. Os estaleros, de Janeiro, produziam navios de antescos. Chega mos até a fabricagdo de avides, o Bandeirante e o Tucano, na CAPTRISNC TID & SOCHBLCADE MODHENA + 548 jo mais na hora, retirados de tonéis, de sacos ou ‘em lata, muito aperitivos 0 doce: ‘oiabada, dd; 0 péssego ou o figo ou a goiaba em calda, mais caros; 0 pao tipo Pullman, para fazer torradas ou sanduiches, agora ‘em moda. A cerveja agora também em lat, & pings, ga a0 conhaque vagab vodea, 0 rum, 0 ufsque nacional ou nacionalizado, os vinhos do Rio Grande do Sul, muitos dels de qualidade duvidose. O| Fratelli Vita, no Nordeste a Coca-Cola, muito depois a Pepsi- Cola, as desprezadas Crush © Grapette, a um pouco menos shopping center, surgem, também, as grandes cadeias de lojas de cletrodomésticos, a revendedora de automéveis. As 1o- ‘num verdadeiro templo do consumo e de lazer, cheio de lojas , ue vendem quase tudo, de cinemas, de doceizs, cafés, an- ae chonetes,fas-foods etc. Mas, 20 lado do supermercado e do vieram o misto-quente, © queijo-quente, o cachorro-quente, (Cpt Riu ge sta) bar bea, passrum a “zr shampoo’, Yner escova tng abe, colminando nos esabelecznentor unisex. O hibit de pntar ‘ocabelo de mulheres e homens, para tentar evtar que pereces- substituiu os tamancos.O bigode caiu em desuso, A moda do sem velhos, consolidou-se definitivamente, Para a mulher, raivez 0 fato mais significative tenha sido a incorpora¢io da roupa masculina no inicio das anos 60, oa dacles Jeans que ea chamada. no come deca inchs St Ge alg stnescane ou de alg a-nest-s ea da camer de todas as coves ou esampada Acasa samba "OF te do mad ine brace fl sabeeis cece epee remmre BUF pars pudendas, Ve 0 “dus po depe 0 Banton, das ou “trabalhadas” As meias, antes quases6 pretas, ox cin- a"Alpargata Roda, est na moda’, a sanddlia“havaisna, que ulminando no fio-dental. 0 comprimento das suas oscilou com a moda, mas o importante é q $0 ow moga. Desapareceu 0 luto fechado e mesmo o alivia- do. Todos podem agora comprar relégios baratos, indispen- séveis para a Vida corvida ¢ cronometrada da cidade, rigida entre a roupa de ficar em pata a cidade, para vista fulano as que ram o terror dos brasieios a tuberculose ~ 4 ifs; mas, também, as demais de origem venérea, a pews ‘monia, enfim, todo o espectro das moléstias infecciosas, Houve a revolucéo das dda Sabin, contra a paras de tantas mies. Mas também deira mania das vitaminas, novos analgésicos e anttérmicos (08 cortcbides, os hemoterdpicos, os hormdnios masculin {gastites,o stress etc; de outro, ainda persstram as “doengas do atraso”, antes de tudo as infecciosas, decorrentes, em boa medida, da mé alimentacio, como, por exemplo, a diarréa. Em suma, todas esss varies do consumo apontavam para ‘os movimentos da sociedade, {UMA SOCIEDADE EM MOVIMETO Matutos,caipiras, jecas:certamente era com esses olbos que, em 1950, os 10 mulhées de citadinos viam os outros 41. ferior’. A vida da cidade ara e fia porque oferece melhores ‘oportunidades ¢ acens um futuro de progresso individual, ‘mas, também, porgue € considerada uma forma superior de cxistincia. A vida do campo, ao contrévo, epele e expula. ‘Como era a estrutura social ‘sta. Abaixo deles, vim todos os que jé empregavam trabaag ‘tho assalariado e produziam exclusivamente para o mercada :médios proprietérios, alguns dos pequenos, os arendatirios ‘capitalists, Descendo, encontramos a pequena propriedade familiar capa de assegurar um nivel de sa um pouco de came de vaca um pouco depo de ting, ei ote bu lug, poves cis mais Algune dels complements ‘ein tabalandoteporsnanene om seals restaurava-se pela expulsio da filba, muita se tomando pros- tinutas nas cidades. Morar opi aie «as hos, cit de pa waa casa de um trabalhador da usina, para ver a vida como ela & ‘A vida social girava em torno da fara conjugal, dos Nsom rane pean 128 PME (Ree Arg ds Ea de a farmécia Se Pal! nde Uti oe) pelo casamento, entre treze e vinte anos. A vida hhomem comegava menos com a masturbagio, como {Nordea 551 Arqube Nacional) cstava longe, © médico também, o remédio era caro. Todos | descalgos, um ou outro possuindo uma bota ou uma alpar- gata, a8 criangas nuas ou 36 de calcdorinho, barrigudas, elas de vermes, As mulheres, umas velhas aos trinta anos, Poucos passando dos cinguenta, 3 ‘Una vida, enfim, a desses homens, dessas mulheres, des- ‘525 criangas, que diferia pouco, muito pouco da de seus an- cestraisIonginquos. Vida cheia de incertezas, vida sem gran- des esperances. ara o posseir, 0 pequeno proprietéio, o parcero, bas- tava um ano de eolheitaraim, porque choveu pouco, porque hrraien tb £ 22cnaKane oor + 579 choveu demais, porque a seca veio braba no sertio, para romper aquele equilibrio to precirio entre as necessidades vitaise a produgio de alimentos. O esgotamento do solo vie na rapido, por causa dos processos primitives de produgao, « obrigava sempre a procurar terrasvirgens. Os filhos const tuiam novas familias, era impossivel acomodé-los naquele ppedago de chlo que produaia tio pouco: mais pressio por rnovas terras, Mas asterras melhores e mais proximas ji esta- ‘vam ocupadas pelo grande propriesirio. Para os assalariados Permanentes, a dispensa podia chegar qualquer momento, porguea cana ou o café foram mal, cu por desentendimentos om o administrador da fazenda ou 0 gerente da usina. Co- procura de emprego, que néo era nada fii 2 0 panorama até meados dos anos 60, quando vem a modernizagio selvagem da agricuitura. Q pequeno proprietério, o posseiro € 0 parceiro miseriveis nlo serio do permanente, do 0. raced i bile ppg bn en ee “erat 151A feconal caprause M010 §SOCRLONDE MCCEINA + $81 ‘ ; Jolin gu mga pues inden ane 5, ricolas sfstiados, pelos adubos e iseticidas, pela pene. =| _-—-—S.mlibed de pessoas (cerea de 24% da populacio rural do tra do ret sie Se ern ‘ob pena da penis da Bras em 1950); quase 14 milhoes, nos anos 60 (cerca de “| 3696 da populacto rural de I 5 hoes de pessoas! : Ns ls en So alo cnn do progres ins teal mas também no Rio 1960, em Belo Horizonte, je © Mato Grosso do Sul. Depois, nos , pelos estados e municipios, para cerca de 7.5 mi- Ihoes de discentes, contra apenas os 860 mil dos colégios privados. O ensino superior pablico havia expandido suas ‘ages: estavam matrieulados, em 1965, ‘nos, contra os 42 mil dos estabel frea da sate, a énfase do. gove riedicina preventva, que absorve, em recursos. Masa assist do, por forca da ago Peso relativo das instituigdes de benemeréncis, como as Santas (Casas, ainda € grande. © aparetho de regulacto ¢ intervenlo econdmica abri- CAPTNISMO TAD €SORMAOADE HoOLIME * 55 ‘ares, delegados de polica, a forgas publica esta- . ou de cozinheiro, ou de vendedor ambulante, ou lavador de automével, Tendem a condlui, 0 migrante rural coletivas,criagto 600 + HsrOU DA VOR rMNDA no MAS 4 abalhador comam mo, sem patrdo, sem horitio rigido, e continuas. athador comum moureja geralmente assalariados, a comecar pel de constituir um 108 operétios mais antigos: a casa jd € um “pouco melhor. ‘guns trabalhadores especializados e a classe média poderio se béneficiar dos raros financiamentos concedidas pelos Insti- ‘tuto: de Previdencia, inclusive de funciondrios piblicos. Mas, em geral, € preciso fazer sarifcioe poupar na caderneta da Caixa Econdmica. As ve7es, chega, para ajudar, a indenizacio Por dispensa ou uma herangawerdadeiramente providencial Pela casa podemos reconhecer, imediatamente, de que classe social faz parte a familia. Entremos numa casa. Tem empregada doméstica? Quantas empregadas tem? Tem cozi- anheira, arrumadei ue frango ou de porco? Com que deira, lite © ows 2 fartura, quejo, qualidade? Ha ‘amnisas sociais? Quantas? Sao de fibra sintética ow mio? & sapatos de couro? E vestidos? De que tecido sia? So feitos fem cast, por modist Quantos sapatos tum Volkswagen, uma perua Kombi, ou umm Aero- ‘ou um Simca Chambord? Ou o carro é importado? ‘Um Cadillac ou um Pontiac, um Studebaker, ume Citroen, um lava roupa? E os brinquedos ‘Tem bots de meia, bola de Borracha ou bola de couro? Quantos gibis ou revistas de fotonovela podem se en contrar na casa? A boneca de pléstico é grande ou pequena? ‘Tem cabelos de plistico “sedosos” e ests bem vestida? Ou 0 ccabelo pintado ¢ esti mal vestida? As meninas postuern mi- nniaturas de louga? As criancas tém velocipede¢ bicileta, ou © piso € metalic ou de madeira, feito & mao? Hé uma ‘mesa de futebol de botdo ou de pebolim? O betio € comum ‘ow € comprado? A fantasia de Carnaval & comprada ou fei. em casa? Ha dinheiro para o langa-perfume? Quantas bol has de gude tem o menino? Comprou o papagaio, a pipa,¢ inho de rolemé? Pode comprar figurinhas da bala-ute ra € procura ganar no bafo? Joga bafo na escola ow na rua? Para colar a figurinha, usa goma ardbica ou grude? Hi livros de Monteiro Lobato ot nio? O automével ou 0 avidozinho ou o trenzinho ou 0 cami ihdozinho de brinquedo é de plistico ou de ferro? Ha sol-

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