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revista do meio

amBiente
Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

Mãe Terra,
perdoa-nos

30
Alternativas para acabar com as favelas
Projeto sem fins lucrativos
Distribuição gratuita

Mapa da injustiça ambiental


ano IV • abril 2010

A greve verde dos servidores públicos


Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental
Acesse: www.portaldomeioambiente.org.br
nesta edição 

5
Especial
Momento crítico no planeta
por Marcelo Bancalero
Rebia – Rede Brasileira de Informação
Ambiental: organização da sociedade
civil, sem fins lucrativos, dedicada à
democratização da informação ambiental Dia do Índio, Dia da Terra e Belo Monte
com a proposta de colaborar na formação
e mobilização da Cidadania Ambiental por Eloy Fassi Casagrande Jr.
planetária através da edição e distribuição
gratuita da Revista do Meio Ambiente,
Portal do Meio Ambiente e do boletim
digital Notícias do Meio Ambiente. Fórum Stop a destruição do mundo
CNPJ: 05.291.019/0001-58. Sede: Trav. Gonçalo
Ferreira, 777 - casarão da Ponta
da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ - CEP 24370-290
www.rebia.org.br
Dia do Índio?
Conselho Consultivo e Editorial por J. Rosha
Aristides Arthur Soffiati, Bernardo Niskier,
Carlos Alberto Muniz, David Man Wai Zee,
Flávio Lemos de Souza, Keylah Tavares,
Luiz Prado, Paulo Braga, Raul Mazzei,
Ricardo Harduim, Rogério Álvaro Serra de
Castro, Roberto Henrique de Gold Hortale
(Petrópolis, RJ) e Rogério Ruschel
Diretoria Executiva
Presidente do Conselho Diretor:
Vilmar Sidnei Demamam Berna,

10
escritor e jornalista
Presidente do Conselho Deliberativo: Alternativas para acabar com as favelas • 10
JC Moreira, jornalista
Presidente do Conselho Fiscal: Tecnologias sociais e o cenário externo • 12
Flávio Lemos, psicólogo Água suja mata mais que guerras • 14
Superintendente Executivo
Gustavo da Silva Demaman Berna, Energia limpa ao alcance de todos • 15
biólogo pós-graduado em meio ambiente Mapa da injustiça ambiental é lançado • 16
(Coppe/UFRJ) e especialista em resíduos
sólidos • (21) 7826-2326 ID 11605*1 Nestlé financia a destruição • 18

16
gustavo@rebia.org.br
Animais ameaçados de extinção • 19
Moderadores dos Fóruns Rebia
Rebia Nacional (rebia-subscribe@ O que é hoarding? • 20
yahoogrupos.com.br): Fabrício Fonseca
Ângelo, jornalista ambiental Discursos vazios nas enchentes do Rio • 21
Rebia Norte (rebianorte-subscribe@ Servidores públicos em greve verde • 22
yahoogrupos.com.br) – Rebia Acre: Evandro
J. L. Ferreira, pesquisador do INPA/UFAC Jogo sujo de petroleira • 24
• Rebia Manaus: Demis Lima, gestor Boicote ruralista contra patrocínio a ONGs • 25
ambiental • Rebia Pará: José Varella, escritor

26
Rebia Nordeste (rebianordeste-subscribe@
III Congresso de Jornalismo Ambiental • 26
yahoogrupos.com.br) – Coordenador: Efraim A dignidade do planeta • 28
Neto, jornalista ambiental • Rebia Bahia:
Liliana Peixinho, jornalista ambiental e Espaço infantil • 29
educadora ambiental • Rebia Alagoas: Carlos
Roberto, jornalista ambiental • Rebia Ceará: Guia do Meio Ambiente • 30
Zacharias B. de Oliveira, jornalista, mestre
em Desenvolvimento e Meio Ambiente • Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a
Rebia Piauí: Dionísio Carvalho, jornalista opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o
ambiental • Rebia Paraíba: Ronilson José ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.
da Paz, mestre em Biologia • Rebia Natal:
Luciana Maia Xavier, jornalista ambiental

A linha fina da atmosfera da Terra e do sol são destaques nesta imagem fotografada
Rebia Centro-Oeste (rebiacentrooeste-
subscribe@yahoogrupos.com.br): Eric

por um membro da tripulação a Estação Espacial Internacional, enquanto ônibus


Fischer Rempe, consultor técnico (Brasília)

espacial Atlantis (STS-129) permanece ancorada com a estação. Crédito: ©Nasa


e Ivan Ruela, gestor ambiental (Cuiabá) Redação: Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba -
Niterói, RJ - 24370-290 • Tel.: (21) 2620-2272
Rebia Sudeste (rebiasudeste-subscribe@
yahoogrupos.com.br) - Rebia Espírito Santo: Editor e Redator-chefe: Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista.
Sebastião Francisco Alves, biólogo Em 1999 recebeu o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em
Rebia Sul (rebiasul-subscribe@yahoogrupos. 2003, o Prêmio Verde das Américas www.escritorvilmarberna.com.br
com.br) - Coordenador regional: Paulo Pizzi, http://escritorvilmarberna.blogspot.com/ Contatos: vilmar@rebia.org.br •
biólogo • Rebia Paraná: Juliano Raramilho, Celulares (21) 9994-7634 e7883-5913 ID 12*88990
biólogo • Rebia Santa Catarina: Germano Editor Científico: Fabrício Fonseca Ângelo, jornalista, mestre em Ciência
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revista do meio ambiente abr 2010


 editorial

Progresso
texto Vilmar Sidnei Demamam Berna*

e meio ambiente Não é o meio ambiente que


‘atrapalha’ o progresso, como
tem afirmado em alto e bom
som o Deputado Aldo Rebelo,
ou disse e desdisse a candidata
do Lula à Presidência!

rança de que com um órgão especifico para cui-


dar do meio ambiente então estará bem! O ad-
ministrador que pretender mudar isso terá de
ter coragem e resistir ao chororo e às tentativas
de boicotes do próprio nicho ambiental! E isso
é bem humano e compreensível pois tende-
mos a temer e a reagir ao que desconhecemos!
Numa administração ecologizada os técnicos
ambientais teriam muito mais oportunidades
Caramba 4u (SXC)

que numa administração ambiental comparti-


mentalizada, pois mais órgãos terão de deman-
dar esses conhecimentos ambientais!
E enquanto isso não acontecer, continuare-
mos assistindo a administrações ambientais
O problema está na forma como o meio ambiente vem sendo compre- fracas e isoladas dentro de administrações que
endido! Em vez dos governantes ou administradores públicos ou pri- não se consideram comprometidas com o meio
vados ecologizarem todas as suas ações, principalmente a partir da ambiente tanto quanto se acham comprometi-
década de 80, preferiram copiar modelos estrangeiros. Surgiram então das com o desenvolvimento. E continuaremos
os ‘compartimentos estanques’ e por vezes impermeáveis com a preten- assistindo administrações ambientais que fa-
são de ‘cuidar’ do meio ambiente. lam apenas para o próprio umbigo, que espe-
Calou-se, assim, todo um segmento da sociedade que teve suas ener- cializaram-se em dizer o que NÃO se pode fa-
gias e esperanças canalizadas numa direção, além de se criarem verda- zer com o meio ambiente, em vez de dizer o que
deiros nichos de emprego para técnicos e profissionais do setor e mes- pode ser feito com ele sem destruí-lo!
mo nichos políticos para representantes ambientalistas da sociedade. Nenhum ambientalista sensato quer a natu-
Aparentemente, tudo parecia bem, entretanto, esta é uma situação pa- reza apenas para as plantas e os bichos, pois
radoxal por principio e que se mostra inadequada para tratar de um tema nossa espécie também faz parte da natureza e
transversal, horizontal e multidisciplinar como o meio ambiente. tem todo direito ao desenvolvimento, à supera-
Ao se adotar este modelo criou-se, por um lado, um órgão para preser- ção da miséria e à qualidade de vida.
var o meio ambiente, e por outro, na mesma administração, vários outros Por outro lado, nenhum desenvolvimen-
órgãos para destruí-lo, ou que não levam o meio ambiente em conta em tista sensato quer um tipo de progresso que
suas ações e políticas! E pior, que ficam impedidos de cuidar da questão resulte numa terra arrasada atrás de si e de
ambiental já que existe, na mesma administração, um órgão para isso. seus empreendimentos!
Ou porque na titularidade do órgão ambiental estão desafetos políticos Entretanto, buscar a possível e desejável com-
ou o órgão ambiental ‘pertence’ politicamente a um outro partido da patibilizacao entre progresso e meio ambiente
base de sustentação da Administração. diante de administrações compartimentali-
O ideal seria uma administração ‘ecologista’ onde cada um e TODOS os ór- zadas e quase sempre estanques entre si será
gãos de uma mesma administração tivessem responsabilidades de acordo uma perda enorme de talentos e de energias,
com sua especificidade. Só para citar um exemplo disso, educação ambiental que poderiam estar sendo empregados para
seria responsabilidade dos setores de Educação. Logo de cara essa proposta encontrar soluções em vez de tentarem se des-
vai na contramão do que está aí, principalmente dos atuais detentores de car- qualificar e demonizar mutuamente.
gos e posições políticas em setores ambientais. Então, não será nada fácil eco- * Vilmar é escritor, autor de 20 livros, entre eles
logizar uma administração depois que ela construiu áreas de conforto para A administração com consciência ambiental, das Edições
técnicos e políticos ligados ao setor ambiental e deu à sociedade e a espe- Paulinas. Mais informações: www.escritorvilmarberna.com.br

abr 2010 revista do meio ambiente


especial 

texto Marcelo Bancalero* (marcelobancalero@bol.com.br)


Sofamonkez (SXC)
Estamos vivendo
um momento
crítico entre a
nossa civilização
e o planeta Terra
A própria linha fina já é quase a conclu-
são a que se propõe este texto dissertativo.
Onde se ousa a falar de um assunto que já
virou como que uma máxima nos meios de
Momento

crítico
comunicação. De repente, todo mundo re-
solve falar sobre a cruel situação em que a
humanidade deixou o planeta. Todo mundo
quer aliviar a própria consciência, arrotando
palavras em defesa à Natureza, contra os que
colaboram com o aquecimento global e tudo
o mais. Como se não tivéssemos todos, uma
parcela de culpa em tudo isso.
Se formos analisar de um modo mais sincero, Contudo, é necessário saber até que ponto
uma visão mais imparcial. Entenderemos que estamos decididos a mudar nosso estilo de
a situação chegou a esse ponto, devido à cobi- vida. Quanto estaremos dispostos a renunciar
ça (ou entenda-se estupidez), da humanidade em nome da salvação do planeta. E o princi-
como um todo. Desde o descaso das grandes in- pal, quantos de nós estamos preparados para
dustrias e nações. Até mesmo o nosso próprio essa mudança radical.
descaso. Que vai do mal uso da água, energia A Terra tem segundo a ciência, milhões de
elétrica e a fumaça de nossos carros até ao nos- anos. E a Natureza sempre deu um jeito de man-
so consumismo desenfreado, que faz com que ter a vida. Até que um dia não muito longe, o
as indústrias queiram produzir ainda mais. homem apareceu por aqui. Mas quando esse
E assim o ciclo se renova, e a destruição segue “bicho destacado da Natureza” (nas palavras de
seu curso (agora quase natural). Edgar Morin), descobre do que é capaz, a coisa
Então, a solução não é somente nos unirmos começou a mudar. E devida à ganância dessa
ao Greenpeace e ong’s por aí afora, vestindo humanidade que recebe o adjetivo de “racional”,
camisas com frases de denúncias, colando chegamos a essa situação. E agora ou nunca.
adesivos em nossos automóveis, artefatos es- Devemos nos unir de uma maneira mais verda-
tes que também incitam a indústria a conti- deira. Pois podemos estar vivendo um momen-
nuar a destruição. Não basta ficarmos indig- to crucial, onde algo de mais real de vê ser feito. *O autor é escritor, poeta
nados com a situação como se não fôssemos Assim, termino minhas palavras com a con- e estudante de Psicologia.
também responsáveis por ela. A indignação é clusão já anunciada na linha fina: “Estamos Aprendeu o segredo da
sim legítima, desde que possamos compreen- vivendo um momento crítico entre a nossa superação ao voltar a estudar
der as nossas parcelas de culpa. civilização e o planeta Terra”. aos 30 anos na 5ª série do 1ºgrau

revista do meio ambiente abr 2010


texto Eloy Fassi Casagrande Jr., PhD (eloy.casagrande@gmail.com)  especial

(Roosewelt Pinheiro/ABr)
Em Brasília, manifestantes
do Greenpeace despejam
um caminhão de esterco
na porta da Aneel, em
protesto contra o leilão da
Hidrelétrica de Belo Monte

Dia do Índio, Dia da Terra


e Belo monte
momento que atravessa o Planeta, da urgência
de se adotar um novo modelo de desenvolvimen-
to, de gerar energia, de lidar com as questões da
água e da uso da terra. De ser sustentável!
Oposto a isto, vimos declarações de figuras
Na mesma semana que o embate sobre a pro- Queremos as públicas defendendo a construção da usi-
teção ambiental e desenvolvimento a qual- benesses do na de Belo Monte, como do deputado Delfim
quer custo aumentam, em relação a cons- Neto, chamando aos que se opõe ao proje-
trução da usina hidrelétrica de Belo Mon-
BNDES e to, de oposição ideológica, de um “bando de
te, vimos imagens e mensagens produzidas da isenção de pessoas que vivem na idade da pedra, mas
para comemorações do Dia do Índio e o Dia impostos que querem andar de automóvel”.
da Terra, 19 e 22 de abril, respectivamente. o governo oferece Nada mais retrógrado e representativo do
Estas datas se complementam, a medida que que esta visão de um ministro da época da
a cultura indígena esteve sempre associada a
para construir ditadura militar. Do tempo dos mega-proje-
preservação da natureza, no seu estilo de vida Belo Monte. Com tos, de hidrelétricas para alimentar multina-
respeitando a floresta, no seu convívio com a metade disto se cionais produtoras de alumínio. De quando
fauna e flora, sem a ameaça de um predador, pode construir se pregava o crescimento do bolo para poder
identificado como o homem branco. distribuir, se referindo a economia que crescia
Não faltaram belas imagens de seus rituais,
dezenas de usinas com a dívida externa e que transformou o mi-
de suas crianças brincando nos rios, de sua luta solares e parques lagre econômico dos anos 70, em pesadelo da
para manter suas tradições, lembrando o quan- eólicos para década perdida dos anos 80!
to a cultura indígena contribuiu para a língua gerar energia Daquele que participou ativamente dos ve-
portuguesa-brasileira, para nossos hábitos ali- lhos slogans, “Brasil ame-o ou deixe-o”, “Prá
mentares e para formação do nosso povo.
verdadeiramente frente Brasil”, “Ninguém mais segura este país”!
Depoimentos de especialistas e ambientalistas limpa ao Brasil Lembro de um slogan, este do povo, de um bloco
chamaram a atenção do público para o delicado de carnaval de rua em Olinda, em 1980: “Delfim

abr 2010 revista do meio ambiente


7

Pela cura do
no bolso do povo”! O tempo passa e a visão pro-
gressista pura de Brasília não se renova, apesar
de completar 50 anos em pleno Século XXI! E a
sustentabilidade, senhor deputado?
O mundo mudou. Os brasileiros querem an-
dar de carro sim, mas um carro elétrico-solar,
movido a células de hidrogênio ou a ar com-
primido, tecnologias que já estão resolvidas,
mundo
basta ultrapassar o lobby do petróleo para se- Nos tempos mais difíceis,
rem implantadas. Também queremos energia
uma luz para a humanidade:
para nosso conforto, a eólica, a solar, as das
marés, a de biomassa, todas renováveis e que a descoberta da Inversão
não contribuem para o aquecimento global.
Queremos as benesses do BNDES e da isenção Pela primeira vez um grupo de pessoas vindas de diversos países,
de impostos que o governo oferece para cons- profissões e religiões reúnem-se em São Paulo, de 13 a 15 de maio,
truir Belo Monte. Com metade disto se pode para debruçar-se sobre o estudo da causa primeira da destruição
construir dezenas de usinas solares e parques do mundo e da humanidade: o ser humano.
eólicos para gerar energia verdadeiramente Por detrás de todo desastre e sofrimento existe um principal respon-
limpa ao Brasil. Sem inundar mais de 500 km2 sável: o ser humano – que, inconsciente de sua psicopatologia (maus
de terras cultiváveis, sem destruir florestas, sem sentimentos, más intenções, valores invertidos, corrupção etc.), age
destruir habitats indígenas, sem desviar rios e sem freios, numa empreitada suicida e homicida.
criar problemas ambientais ainda maiores. Um dos sinais mais claros de que o ser humano criou uma sociedade
Queremos que o dinheiro público seja bem invertida para viver é o fato de ele ter se deixado escravizar pela fan-
empregado, sem ir para as mesmas emprei- tasia do dinheiro. Não é o dinheiro que faz a riqueza, nem a saúde e
teiras, que desde o regime militar acumulam muito menos o bem-estar e felicidade da humanidade, mas são as ati-
riqueza sem distribuir. Deputado, sua receita tudes éticas, humanitárias, estéticas, espiritualizadas que fornecem
nunca funcionou, o bolo não foi dividido, e o tudo de bom a todos, inclusive a riqueza material.
senhor insiste na mesma fórmula petrificada! Outro exemplo são as leis que deveriam proteger e agilizar o cumpri-
O modelo de geração de energia deve ser revis- mento dos direitos humanos em todas as classes e nações. No entanto, o
to no Brasil. Estudos demonstram que cada me- que se tem verificado é que elas vêm sendo elaboradas para preservar o
tro quadrado de painel fotovoltaico evita a inun- poder e os privilégios daqueles que nem sempre dão o melhor exemplo.
dação de cerca de 60 metros quadrados para a A inversão que prioriza o ter em relação ao ser vem causando a
geração elétrica. Se toda a superfície do lago a grande mediocrização da civilização, que passou a colocar o consu-
ser formado pela Usina de Belo Monte fosse co- mo daquilo que agrada os cinco sentidos em primeiro plano e a rejei-
berta com painéis fotovoltaicos, seriam geradas tar o campo do conhecimento, da ciência, da tecnologia sustentável,
cerca de 44 GWp (gigawatts potência), ou seja, das artes, da espiritualidade.
cerca de 20% da energia consumida no país. Há muito poderíamos ter tido a solução para problemas como o câncer,
A proposta não é cobrir áreas tão extensas com doenças hereditárias e autoimunes, cardiovasculares, psiquiátricas, entre
painéis, mas é um exemplo de seu potencial, outras, se o lucro da indústria médico-farmacêutica não dominasse a pes-
onde novos modelos devem gerar energia de quisa e a prática médica. Problemas de tóxico-dependência também es-
forma descentralizada. A cobertura de um está- tariam resolvidos se a estrutura social fosse organizada de forma a prover
dio de futebol pode virar uma usina ou mesmo os elementos básicos para a segurança, saúde e bem-estar dos cidadãos.
os telhados de vinte casas de um condomínio. Estamos entrando numa era da humanidade em que deparamos com
No final da década de 70, cada watt produ- uma encruzilhada: ou nos tornamos seres mais conscientes, conhecedo-
zido por meio de células fotovoltaicas custa- res dos nossos problemas interiores e responsáveis por nossos semelhan-
va 150 dólares. Hoje, o preço varia entre 3 e 4 tes e pela sociedade em que vivemos, dando início a uma era de incrí-
dólares. Especialistas estimam que quando o vel desenvolvimento sustentável, saúde e prosperidade, ou assistiremos
valor baixar para entre 1,5 e 2 dólares, a ener- (de forma ativa ou omissa) a extinção da vida no planeta Terra.Uma era
gia solar conseguirá competir com qualquer em que a trilogia da beleza, verdade e bondade passará a estar presente
outro tipo de energia. no nosso cotidiano ao invés da violência, da fome e da injustiça.
Ao adotarmos medidas mais sustentáveis,
todos ganham. O índio ficará com suas ter- Serviço:
ras, rios e florestas serão preservados, a agri- Fórum Psico-Social Curando o Mundo pela Consciência (da Inversão)
cultura aumentará sua produção e deputa- Data: 13 a 15 de Maio de 2010
dos economistas se aposentarão, retornan- Local: Colégio Stella Maris – São Paulo
do às suas cavernas! Informações: www.stopforum.org
Eloy é Coordenador do Escritório Verde da Universidade Fone: (11)3034.1550
Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR

revista do meio ambiente abr 2010


 especial

Dia do
texto J. Rosha (www.adital.com.br)

Índio?
outras coisas, de uma organização social nos
moldes em que eles, colonizadores, conheciam.
O que se fez, a partir daí, foi uma verdadei-
ra “limpeza étnica” no território brasileiro. Os
povos indígenas foram – e continuam sendo
– agredidos das formas mais impiedosas para
dar lugar ao modelo capitalista de “desenvol-
vimento” de tal sorte que nos 70 o governo
militar previa a completa eliminação deles
até o fim do século XX. Para o bem do povo
brasileiro e dos povos indígenas, a ditadura
militar de 64 não resistiu às pressões popula-
res e teve seu fim na metade dos anos 80.
De cerca de 100 mil que eram nos anos 70,
na primeira década do século XXI eles pas-
saram a ser mais de 700 mil, de acordo com
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE.
A partir das mobilizações para a Assembléia
Nacional Constituinte (1987-1988), as lutas do
movimento indígena passaram a ter maior
É preciso desfazer
visibilidade. Precisamente a partir daí alguns
esse equívoco: conflitos ganham maior espaço nos notici-
Rubens Nemitz Jr (www. fotopontocom.com)

não existe e nunca ários e, em muitos municípios onde antes se


existiu índio no dizia que não existiam mais indígenas, eles
surgem com muita força, incomodando prin-
Brasil. Esse termo
cipalmente os grandes latifundiários. Torna-
tem sido usado ram-se alvo de campanhas difamatórias em-
ao longo de cinco preendidas por fazendeiros, mineradoras, mi-
séculos com uma litares e políticos. A luta pela demarcação da
terra indígena Raposa Serra do Sol, em Rorai-
violenta carga
ma, é um dos exemplos disso.
de preconceito Com a Constituição de 1988 vem o reconheci-
mento, pelo Estado Brasileiro, dos direitos dos
“Índio”, enquanto conceito para designar os primeiros habitantes, povos indígenas à terra tradicionalmente ocu-
é um termo genérico, impreciso. Quando os primeiros colonizadores pada e a viver de acordo com seus costumes e
chegaram, não encontraram “índios”, mas os Tupiniquim, Guarani, tradições. Foram reconhecidas também suas
Xukuru, Xavante e muitos outros que formavam uma população de formas próprias de organização, mas isso tem
mais de cinco milhões de pessoas de vários povos e culturas diferentes. ficado só no papel. Na prática, o estado tem fa-
Não foi só homens “pardos, ...nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas lhado em formular políticas públicas que ga-
vergonhas” – como escreveu Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal – que a rantam e viabilizem esses direitos. A situação
tripulação de Pedro Álvares Cabral encontrou. Foi muito mais que isso. Eles da saúde é a que com muita propriedade ilus-
encontram um tipo de organização social para o qual não tinham paradigma. tra essa afirmação e a que tem causado maiores
Para eles, a forma de organização social conhecida era o Estado – uma insti- transtornos aos indígenas nos últimos anos.
tuição ainda em formação naquele momento da história da Humanidade. Desfazer o equívoco e o preconceito é, portan-
Portanto, uma terra onde não havia um rei, um estado ou um exército para to, um passo para compreender a importância
repelir os invasores, era uma terra pronta para ser ocupada e dominada. que têm os indígenas no mundo de hoje e sua
E para que pudessem ocupar o território e tomar posse dele, era preciso, contribuição para outros povos do planeta.
primeiro, negar aos indígenas a sua condição de povos pela ausência, dentre Fonte: CIMI Norte 2

abr 2010 revista do meio ambiente


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texto Zínia Baeta (Jornal Valor) 10 ecologia humana

Favela nunca mais


Juiz encontra alternativas para acabar com favelas jurídica e físico-territorial) – que deu origem
ao Moradia Legal – encarregado de fazer um
São 10h30 da manhã de uma segunda-feira, quase 30 graus em Ribeirão raio-X das favelas, levantar o número de famí-
Preto (SP). O juiz João Gandini, titular da 2ª Vara de Fazenda do município, lias e a situação de cada uma.
deixa por algumas horas o conforto do ar-condicionado do gabinete e os “Cada barraco foi numerado e os nomes das fa-
34 mil processos sob sua responsabilidade para acompanhar a última etapa mílias registrados”, afirma. O resultado do “cen-
do projeto de urbanização de uma das mais antigas favelas da cidade – agora, so” foi a constatação da existência de 4,5 mil fa-
o bairro Monte Alegre. No local, não há mais barracos de madeira, mas casas mílias, ou 20 mil pessoas nessas comunidades.
de alvenaria. As 330 famílias que moram no bairro possuem água encanada Em uma segunda etapa do projeto, foram esco-
e energia elétrica. Com a demolição de 90 barracos, os becos deram passagem lhidos os núcleos que deveriam ter prioridade e,
a ruas, o que permite a coleta semanal de lixo, algo impensável até então. a partir daí, buscou-se recursos para a retirada
A urbanização da favela não foi proposta pelo Poder Executivo – apesar de famílias de áreas de risco e ainda a urbaniza-
de contar com verbas públicas e implementação técnica da Cohab – mas ção das favelas onde a medida fosse viável.
pelo magistrado, que há quatro anos idealizou o projeto Moradia Legal, Foi necessário também propor alterações na
responsável pelo encaminhamento de 1,7 mil famílias de Ribeirão Preto legislação do município sobre o uso e ocupa-
que vivem em situação precária. ção do solo, com a criação de áreas de interesse
O magistrado passou parte de sua vida no Jardim Ângela, bairro da zona social – o que permite a concessão de isenções
sul da cidade de São Paulo, que já foi considerado um dos mais violentos do tributárias – e normas que coibissem a cons-
país. Filho de um pequeno agricultor de Adolfo, cidade do interior de São trução em áreas irregulares, para evitar o sur-
Paulo, Gandini mudou-se com a família para a capital quando tinha dez gimento de novas favelas.
anos. Para ajudar nas despesas de casa, foi catador de papelão e vendedor Quatro anos após o início do Moradia Legal,
de sorvete, mas acabou realizando o grande sonho: aos 21 anos, entrou na os resultados são animadores. Uma das áreas
faculdade do Largo São Francisco. Gandini, que superou inúmeros obstácu- escolhidas pelo programa está no entorno do
los para chegar à magistratura, diz que gosta de solucionar o drama por trás aeroporto do município. De lá serão retiradas
de cada ação. “O processo é frio, um livro onde há um drama humano. O juiz 720 famílias, das quais 29 já estão instaladas
tem que solucionar esse drama e não apenas o processo”, diz. em casas construídas pela prefeitura no bair-
Foi com essa motivação e também inspirado em sua história de vida que ro Paulo Gomes Romeu. As obras estão sendo
Gandini saiu muitas vezes do gabinete para buscar uma solução real para os custeadas pelo município, Estado e União. Se-
diversos processos de reintegração de posse de áreas do município, que foram gundo Gandini, R$ 47 milhões são provenien-
invadidas e já possuíam alguma decisão judicial, mas sem resultado efetivo. tes do Programa de Aceleração do Crescimen-
O magistrado, acompanhado pelo também juiz Júlio César Dominguez, ti- to (PAC) do governo federal.
tular da 1ª Vara da Fazenda Pública de Ribeirão, mobilizou a sociedade para As demais 692 moradias, que estão em fase de
resolver não só os processos que estavam sob sua mesa, mas também para construção da cobertura, devem ser entregues
acabar com as 34 favelas da cidade – mapeadas por ele e um fotógrafo, que no máximo até o início de 2011. Para o local de
sobrevoaram o município por 51 minutos em um helicóptero. transferência, a infraestrutura já está pronta: há
Feito isto, Gandini buscou os governos municipal, estadual e federal, Câ- creches, escolas e postos de saúde funcionando.
mara de Vereadores, Ministério Público, empresários, uniu igrejas e contou Outra área cujo projeto já foi finalizado é
com muitos voluntários. Montou um grupo dividido por áreas (financeira, o núcleo de Monte Alegre, hoje um bairro do

abr 2010 revista do meio ambiente


11

Alex Wolcott (Flickr)


município, reconhecido por lei aprovada na Câ- A urbanização ções na rede elétrica, conhecidas como gatos,
mara. Para a urbanização, 90 barracos foram foram solucionadas. O programa de desfaveli-
da favela não foi
derrubados para a abertura de ruas, canaliza- zação do Monte Alegre foi custeado pelo mu-
ção de água, esgoto, instalação de postes de luz proposta pelo Poder nicípio, com uma verba de R$ 3,8 milhões.
e a construção de três praças. As famílias, cujas Executivo – apesar Na favela Faiane, distrito de Bonfim Paulis-
casas deixaram de existir, foram transferidas ta, a solução para a área de risco veio de uma
de contar com
para moradias construídas pela Cohab, distan- parceria com a iniciativa privada. Gandini
tes cerca de um quilômetro da antiga favela. verbas públicas explica que 44 famílias serão retiradas para
As moradias são subsidiadas e as famílias pa- e implementação uma área contígua ao longo dos próximos
garão R$ 65,00 por mês, ao longo de dez anos, dois anos. As obras são custeadas por uma
técnica da Cohab –
para a aquisição do bem. As 330 casas que per- construtora, que está implantando um gran-
maneceram no núcleo são de alvenaria. mas pelo magistrado, de empreendimento residencial na região.
Segundo Gandini, o programa fechou um que há quatro anos Outros dois núcleos também estão com
acordo com a CPFL Energia, que doou para programas em andamento. Em Mangueiras,
cada casa do Monte Alegre relógios para a
idealizou o projeto zona oeste de Ribeirão, as obras para a cons-
medição de energia, geladeiras, postinhos de Moradia Legal, trução de 384 apartamentos estão em fase
iluminação, chuveiro e lâmpadas econômi- responsável pelo de licitação pelo governo estadual. A favela
cas. Além disso, toda a reforma elétrica inter- de Várzea, zona norte, possui 530 famílias, e
na foi realizada pela companhia. encaminhamento passa por estudos geológico e topográfico.
O gerente de relações com o poder público de 1,7 mil famílias “Cerca de 1.700 famílias estão com a situa-
da CPFL, Luiz Carlos Valli, afirma que, além do de Ribeirão Preto ção resolvida ou encaminhada. Meu objetivo
aspecto social da medida – que permitirá aos é que não existam mais favelas em Ribeirão
moradores terem contas de energia e forma que vivem em em alguns anos”, afirma o juiz.
de comprovação de endereço –, as adultera- situação precária Fonte:  IHU Online / Jornal Valor

• Carimbos automáticos
• Cartões e panfletos coloridos
• Impressos em geral
• Placas de aço, metal, acrílico e outros
• Crachás, broches, botons e acessórios
• Sinalização de segurança e vias públicas
• Imã de geladeira e carro
• Chaveiros e brindes em geral
• Xerox, encadernação, plastificação

(22) 2762-0025 / 2770-4634 • sulimpress@gmail.com


revista do meio ambiente abr 2010
texto Jacques Pena (Presidente da Fundação Banco do Brasil) 12 ecologia humana

Em Cristalina (GO),
unidade demonstrativa do
Pais em plena produção

O Banco de Tecnologias
Sociais (BTS), disponível na
Internet, reúne mais
de 500 tecnologias sociais

Marcia Gouthier/Agência Sebrae


Tecnologias sociais
e o cenário internacional
Nos últimos 10 anos o Brasil vem se apresentando como um país surgem nesse mesmo contexto, apresentando
que se envolve em questões globais, demonstrando interesse em ofe- alternativas de segurança alimentar em um
recer apoio aos países que enfrentam problemas socioambientais. país que sofre com a falta de alimentos.
Essa aparição geralmente surge com a oferta de soluções que foram O Pais promove um sistema de produção or-
aplicadas aqui e obtiveram resultados positivos no enfrentamento de gânica de hortaliças, frutas e pequenos animais,
entraves para o desenvolvimento, como a desigualdade social, o acesso tendo como pressupostos a racionalização de re-
à educação de qualidade e oportunidades de trabalho. cursos e o manejo ecológico da terra. Toda a pro-
Os avanços no Brasil se devem a um fenômeno interessante e importante dução acontece sem o uso de agrotóxicos, propi-
de ser observado – uma série de iniciativas feitas pelas próprias comuni- ciando alimentos saudáveis e livres de quaisquer
dades e, às vezes, com o conhecimento técnico de universidades ou outros interferências químicas. Já a irrigação é feita por
centros de pesquisa, para beneficiar pequenos grupos de famílias, mas que meio de um sistema de gotejamento, o que evita
se expandiram e melhoraram as condições de vida de centenas de pessoas o desperdício de água e possibilita a implanta-
e reforçaram as políticas públicas. ção do modelo inclusive em regiões com poucas
Esses projetos se tornaram cada vez mais completos e complexos, tendo em reservas hídricas, como é o caso do Haiti.
vista a necessidade de se organizarem para abarcar o grande número de ma- Moçambicanos e salvadorenhos também já
zelas sociais. Os projetos evoluíram para uma dinâmica diferente chamada demonstraram interesse em conhecer as tec-
Tecnologia Social, que considera que produtos, técnicas ou metodologias se- nologias sociais brasileiras. Eles querem saber
jam, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efeti- o que as suas comunidades vêm fazendo para
vas soluções de transformação social e possam ser reaplicadas em escala. mudar suas realidades. A Fundação Banco do
Exemplo dessa evolução de tecnologias sociais, destacamos o Banco de Brasil faz do incentivo à estas tecnologias sua
Tecnologias Sociais (BTS), disponível na Internet. O BTS, idealizado e man- contribuição para o desenvolvimento do nos-
tido pela Fundação Banco do Brasil, reúne mais de 500 tecnologias sociais so país e acredita que elas podem, sim, fazer a
de diversas fontes e categorias e serve como um pólo disseminador de so- transformação social de milhares de pessoas.
luções práticas e de reaplicação fácil para toda a sociedade. Fonte: David Telles - Fundação Banco do Brasil
Essas tecnologias são de fácil aplicação e baixo custo, o que as tornam
eficazes em cenários de extrema pobreza ou aqueles afetados por desequi- Comentário do leitor do Portal
líbrios ambientais. O recente episódio do Haiti reacendeu o debate sobre a Se realmente todos tivessem a consciência social
forma como o Brasil pode ajudar a reconstruir aquele país e as tecnologias muita coisa boa iria e vai acontecer no mundo,
sociais se mostraram a forma mais adequada. Tecnologias Sociais como a isso é importante para existirmos como planeta
Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais) – reaplicada em mais neste imenso universo, é preciso tentar, é preciso
de 6 mil unidades, em 19 estados, pela Fundação Banco do Brasil em con- arriscar, é preciso agir....
junto com diversos parceiros como BNDES, Petrobras, SEBRAE e governos – Isabela Santos

abr 2010 revista do meio ambiente


www.estudiomutum.com.br • (11) 3852-5489 • skype: estudio.mutum
14 água e saneamento

Água suja
mata mais que guerras
De acordo com o estudo, intitulado “Água do- Na Semana

Chang Ha Park / Good Neighbors (www.goodneighbors.org)


ente”, a falta de água limpa mata 1,8 milhão Mundial da
de crianças com menos de 5 anos de idade
anualmente, o que representa uma morte
Água, o alerta
a cada 20 segundos. Grande parte do despejo de um relatório
de resíduos acontece nos países em desenvol- do Programa do
vimento, que lançam 90% da água de esgoto Meio Ambiente
sem tratamento. No Brasil, uma das maiores
causas de morte associada à falta de sanea-
das Nações
mento é a diarreia. A doença mata cerca de 2,2 Unidas foi
milhões de pessoas em todo o mundo anual- duro: as águas
mente. Mais da metade dos leitos de hospital do planeta
no planeta, diz o estudo, é ocupada por pessoas
com doenças ligadas à água contaminada.
estão cada vez
“Precisamos nos tornar mais inteligentes so- mais poluídas
bre a administração de água de esgoto se pre- e mais pessoas
tendemos sobreviver num mundo que cami- morrem hoje
nha para ter mais de 9 bilhões de habitantes
até 2050”, alertou o diretor do Unep, o brasilei-
por causa dessa
ro naturalizado alemão Achim Steiner. contaminação
do que por
Questão de direitos humanos todas as formas
O relatório da Unep ressalta que dois milhões
de toneladas de resíduos contaminam cerca de
de violência,
dois bilhões de toneladas de água diariamente, inclusive
seja em rios ou oceanos, causando gigantescas as guerras
zonas mortas, sufocando recifes de corais e pei-
xes. Para tentar solucionar o problema, o Unep
recomenda sistemas de reciclagem de água
e projetos para o tratamento de esgoto. Seu es-
tudo coincide com outro relatório das Nações
Unidas, publicado semana passada, que reve-
la que uma entre cada seis pessoas no planeta
não tem acesso à água potável e que até 2025,
a estimativa é que dois terços da população
mundial vão sofrer com a escassez de água.
Em mensagem sobre a data, o secretário-ge-
ral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a água
é uma questão de direitos humanos e está li-
gada a todos os objetivos da entidade, entre
eles o desenvolvimento sustentável e a adap-
tação aos efeitos das mudanças climáticas.
Na Suíça, manifestantes espalharam em uma
praça em Berna, capital do país, quatro mil ma-
madeiras cheias de água poluída. No Reino
Unido, ativistas do Greenpeace colocaram um
vaso sanitário em frente ao Parlamento britâ- Crianças coletam água
nico, em protesto contra a poluição das águas suja em garrafas, na
e a falta de tratamento sanitário no planeta. região do Chade, país do
Fonte: IHU Online / O Globo centro-norte africano

abr 2010 revista do meio ambiente


energia 1

energia limPa

texto Paula Gil (Efe)


A energia que em um futuro próximo ilumi-
nará nossas casas será limpa, barata e, para
a felicidade dos ferrenhos consumidores de
ao alcance de todos
luz, permitirá praticamente se desvincular Gerador caseiro

Divulgação
das companhias de energia elétrica.
promete
Pelo menos é o que promete a Bloom Energy,
uma empresa californiana que há oito anos tra- revolucionar
balha de forma secreta em uma nova fonte de setor energético
energia. Esta semana, ela apresentou seu produ- nos EUA
to a especialistas do setor e jornalistas.
O Bloom Box, como se chama o aparelho,
é um inovador gerador que utiliza biocom-
bustíveis ou gás para produzir eletricidade e,
Gerador de 500 kw
segundo seus criadores, permitirá a empresas
instalado no eBay
e pessoas comuns gerar sua própria energia
de forma limpa e econômica.
do Centro Nacional de Pesquisa de Pilhas de
Por enquanto, os geradores têm o tamanho
Combustível ao diário “Los Angeles Times”.
de um carro pequeno e custam em torno de
Os especialistas opinam que ainda há muitas
US$ 800 mil. Embora a Bloom Energy insista
questões por resolver antes de a inovação che-
que o investimento inicial pode ser recupera-
gar às mãos de todos os consumidores, como
do em entre três e cinco anos, o preço não está
por exemplo a vida útil do aparelho, que a
ao alcance da maioria. A empresa acredita que
A grande vantagem Bloom Energy não esclareceu ainda. Pouca du-
em dez anos poderá fabricar geradores do ta-
ração poderia significar o fracasso da invenção.
manho de um tijolo e a um preço em torno de é que o gerador Outros analistas apontaram que a inovação po-
US$ 3 mil, transformando cada consumidor
permitirá aos deria ter um indesejável efeito sobre o preço do
em uma potencial central elétrica.
consumidores abrir gás natural ou dos biocombustíveis, disparan-
Por enquanto, só grandes empresas têm acesso
do o valor pelo aumento na demanda.
ao aparelho e algumas companhias como Coca- mão da companhia Alguns temem também que o aparelho se
Cola e eBay testaram seu uso nos últimos me-
ses. O primeiro cliente da Bloom Energy foi outra
elétrica ou usá- transforme em um novo Segway, aquele patine-
la só em casos de te elétrico com o qual seus criadores esperavam
companhia do Vale do Silício, Google, que tem
revolucionar o mundo do transporte há cerca de
instalado um gerador de 400 quilowatts em um emergência, apesar dez anos e que hoje é simplesmente uma curio-
de seus prédios e cobre com ele boa parte de seu
consumo elétrico desde julho de 2008.
de ser necessário sidade para turistas em algumas cidades.
Fonte: InfoBio / Folha Online
A Bloom Energy não é a única empresa tra- dispor de uma
balhando neste promissor setor, mas foi, tal- provisão de gás ou Leia matéria na íntegra em:
vez, a mais rápida. “Há provavelmente cerca http:// www.portaldomeioambiente.org.br/
de 100 companhias trabalhando em algo mui- biocombustível para energia/ 3654-gerador-caseiro-promete-
to similar”, disse Jack Brower, diretor associado fazê-lo funcionar revolucionar-setor-energetico-nos-eua.html

revista do meio ambiente abr 2010


16 denúncia socioambiental

Mapa da injustiça
Foi lançado o Mapa de Injustiça Ambiental e A busca por socializar informações, desse modo,
Saúde no Brasil. O trabalho, que está dispo-
pretende dar visibilidade a denúncias, permitindo
nível na Internet, é resultado de um proje-
to desenvolvido em conjunto pela Fundação o monitoramento de ações e projetos que enfrentem
Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Fundação de situações de injustiças ambientais e problemas
Atendimento Socioeducativo (Fase), com o de saúde em diferentes territórios, como cidades,
apoio do Departamento de Saúde Ambiental e campos e florestas, sem esquecer as zonas costeiras
Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde.
O objetivo do mapeamento é apoiar a luta de
inúmeras populações e grupos atingidos em Mapa de exclusão da pesca na Baía de Guanabara
seus territórios por projetos e políticas base-
adas numa visão de desenvolvimento consi-
derada insustentável e prejudicial à saúde. A
busca por socializar informações, desse modo,
pretende dar visibilidade a denúncias, permi-
tindo o monitoramento de ações e projetos
que enfrentem situações de injustiças am-
bientais e problemas de saúde em diferentes
territórios, como cidades, campos e florestas,
sem esquecer as zonas costeiras.
Os organizadores da iniciativa pedem que os
visitantes do mapa preencham a página “Fale
conosco”, dedicada a comentários, críticas, com-
plementações e/ou correções de dados, assim
como novas denúncias e sugestões.
“O Mapa é de todas e todos nós. Mas, para
que isso se torne uma realidade de fato e de
direito, é fundamental que nos apropriemos
dele e que, de agora em diante, ele se torne
uma construção coletiva a serviço da justiça
ambiental, da cidadania, da democracia e con-
tra todo tipo de abuso, de exploração e de ra-
cismo”, informam os coordenadores do mapa.

Mapa da injustiça ambiental


Este mapa de conflitos envolvendo injus-
tiça ambiental e Saúde no Brasil é resulta-
do de um projeto desenvolvido em conjunto
pela Fiocruz e pela Fase, com o apoiodo De-
partamento de Saúde Ambiental e Saúde do
Trabalhador do Ministério da Saúde Legenda Hidrografia Ramal ferroviário Comperj APA de Guapimirim
O objetivo maior deste mapa é apoiar a luta GLP/GNL - Área
Lagos, reservatórios Limite municipal
de inúmeras populações e grupos atingidos/as diretamente afetada
GLP/GNL - Área de
Limites distritais no município
em seus territórios por projetos e políticas ba- Áreas alagadas
de Itaboraí influência indireta
Duto Comperj Sul - Área
seadas numa visão de desenvolvimento consi- Estradas Federais Áreas de proteção ambiental diretamente afetada

derada insustentável e prejudicial à saúde. Estradas Estaduais Faixa de dutos existente


Duto Comperj Sul - Área de
influência indireta
Nesse sentido, busca socializar informa- Acesso rodoviário principal Faixa de dutos Comperj - Sul
Outros existentes - Área
diretamente afetada
ções, dar visibilidade a denúncias e permitir Áreas urbanas
Faixa de dutos Outros existentes - Área de
Comperj - Norte influência indireta
o monitoramento de ações e de projetos que Polibrasil/Suzano - Área
Área da Comperj Outros dutos na Baía
enfrentem situações de injustiças ambien- de Guanabara diretamente afetada
Ferrovia Reduc - Área
tais e problemas de saúde em diferentes ter- diretamente afetada

abr 2010 revista do meio ambiente


17

amBiental

Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara Para ter acesso ao laudo técnico do Ibama referente aos empreendimentos da
(Ahomar) defendendo o meio ambiente e aqueles Petrobras, na Baía de Guanabara, solicitado pelo MPF/RJ, fruto de representação da
que sempre viveram em harmonia de maneira Ahomar), em 2009, faça contato com o presidente da Ahomar, Alexandre Anderson:
sustentável: o pescador artesanal (21) 2631-8289 / (21) 8626-3988, grupohomensdomar@gmail.com

ritórios e populações das cidades, campos e acima de tudo, o Mapa está aberto para informar, para receber denúncias
florestas, sem esquecer as zonas costeiras. e para monitorar as ações dos diversos níveis do Estado tomadas a respei-
Os conflitos foram levantados tendo por base to. Nesse sentido, ele está democraticamente a serviço do público em ge-
principalmente as situações de injustiça am- ral e, principalmente, das populações atingidas, dos parceiros solidários e
biental discutidas em diferentes fóruns e redes de todos e todas que se preocupam com a justiça social e ambiental.
a partir do início de 2006, em particular a Rede O Mapa apresenta cerca de 300 casos distribuídos por todo o país e georre-
Brasileira de Justiça Ambiental (www.justica- ferenciados. A busca de casos pode ser feita por Unidade federativa (UF) ou
ambiental.org.br). Esse universo não esgota as por palavra chave. Clicando em cima do caso que aparece no mapa por estado
inúmeras situações existentes no país, mas re- surge inicialmente uma ficha inicial com os municípios e populações atingi-
flete uma parcela importante de casos nos quais das, os riscos e impactos ambientais, bem como os problemas de saúde rela-
populações atingidas, movimentos sociais e en- cionados. Clicando na ficha completa do conflito aparecem as informações
tidades ambientalistas vêm se posicionando. mais detalhadas, incluindo populações atingidas, danos causados, uma sín-
Embora tenha contado com apoio governa- tese resumida, uma síntese ampliada e as fontes de informação utilizadas.
mental para a sua realização (e esperamos O Mapa pertence a todos/as os/as interessados/as na construção de uma
venha a ser utilizado pelo Ministério da Saú- sociedade socialmente justa e ambientalmente sustentável. Por isso mesmo,
de e por outros órgãos e instâncias - federais, cabe a nós não apenas usá-lo, mas também mantê-lo alimentado de novas
estaduais e municipais – na busca de dados informações, fazendo dele um importante instrumento para o aprimora-
e diagnósticos para suas políticas e gestões), mento da democracia e para a garantia dos direitos humanos e da cidadania
ele é direcionado para a sociedade civil. A ela plena para cada habitante deste País. Sejam bem-vindas/os!
e às diferentes entidades que a conformam, Fonte: Ecoagência / Envolverde

revista do meio ambiente abr 2010


18 animais

Financiando a
destruição
O vídeo da campanha
do Greenpeace pode
ser visto em http://
www. greenpeace.org.
br/kitkat/

Frames: ©Greenpeace
Nestlé financia destruição
de floresta e põe orangotangos
no rumo da extinção

Protestos pipocaram por toda a Europa contra a destruição das florestas se duplicou, alcançando a marca de 320.000 to-
que servem de habitat para orangotangos na Indonésia. O motor dessa neladas  que entram em uma enorme gama de
devastação, que colocou os primatas à beira da extinção, é a conversão produtos, incluindo o chocolate mega popular
do uso do solo de mata virgem para o plantio de palmáceas. KitKat, que não é vendido no Brasil.
A Nestlé, que sustenta essa atividade comprando óleo de palma da “Toda vez que você der uma mordida em
Indonésia para produzir chocolates como o KitKat, foi o alvo das mani- um KitKat, você pode estar dando uma mor-
festações no continente europeu, parte de uma campanha global que dida nas florestas tropicais da Indonésia, que
o Greenpeace lançou contra a companhia. A Nestlé por enquanto con- são fundamentais para a sobrevivência dos
tinua jogando de ponta de lança no time das empresas que estimulam orangotangos. A Nestlé precisa dar aos oran-
a destruição das florestas tropicais. gotangos uma pausa e parar de utilizar óleo
Além de financiar a derrubada em massa de mata na Indonésia e em- de palma de fornecedores que estão destruin-
purrar os orangotangos para o abismo da extinção, a Nestlé está contri- do as florestas”, disse Daniela Montalto, do
buindo para agravar o aquecimento global. Florestas ajudam a regular Greenpeace internacional.
o clima e acabar com o desmatamento, uma das maneiras mais rápidas O lançamento do relatório segue numero-
de reduzir as emissões de Co2 na atmosfera. sas tentativas de convencer a Nestlé a cance-
Foi por isso que escritórios da Nestlé na Inglaterra, Holanda e Alemanha lar seus contratos com a Sinar Mas. Recente-
acabaram sendo palco de protestos por ativistas do Greenpeace, pedindo  mente, o Greenpeace contactou várias vezes
para que a empresa deixe de utilizar óleo de palma proveniente da destrui- a empresa com provas sobre as práticas da
ção de área antes ocupada por florestas na Indonésia. Sinar Mas,  mas mesmo assim a Nestlé con-
As manifestações concidiram com o lançamento de um novo relatório do tinua usando o óleo de palma da Indonésia
Greenpeace – Pega com a mão na cumbuca: como o emprego de óleo de pal- em seus produtos.
ma pela Nestlé tem um impacto devastador na floresta tropical, no clima Diversas empresas importantes, incluindo a
e nos orangotangos – que expõe os laços entre a Nestlé e fornecedores de Unilever e Kraft, cancelaram os contratos de
óleo de palma, como a Sinar Mas, que estão ampliando suas plantações em óleo de palma com a Sinar Mas. A Unilever
florestas de turfa (ricas em carbono) e nas florestas tropicias da Indonésia. cancelou um contrato de 30 milhões de dólares
Além da produção de óleo de palma, a Sinar Mas também é proprietá- no ano passado. A Kraft cancelou o seu em fe-
ria da Ásia celulose, a maior empresa de papel da Indonésia. A empresa vereiro. “Outras grandes empresas estão agin-
também infringe a lei da Indonésia ao destruir as florestas protegidas do, mas a Nestlé continua fechando os olhos
para cultivar plantações de óleo de palma. para os piores infratores. É tempo de a Nestlé
Como todos devem saber, a Nestlé é a maior empresa de alimentos e bebidas cancelar seus contratos com a Sinar Mas e pa-
do mundo. O que ninguém sabia até então era que a empresa também é um rar de contribuir com a destruição das floresta
grande consumidor de óleo de palma produzido às custas do desmatamento tropical e de turfas,” frisou Montalto.
das florestas tropicais. Nos últimos três anos, a utilização anual do óleo qua- Fonte: Greenpeace / Reasul

abr 2010 revista do meio ambiente


Extinção
19

texto Marcelo Szpilman, biólogo marinho e diretor do Instituto Ecológico Aqualung (instaqua@uol.com.br)
Com o objetivo de chamar a atenção dos gover-
nantes e da população para a necessidade de
preservação da vida em nosso Planeta, a ONU
à vista
lançou recentemente uma campanha elegen-
do 2010 como o “Ano da Biodiversidade”. Animais ameaçados
Em janeiro desse ano, o World Wildlife Fund
de extinção no “Ano
(WWF) divulgou uma lista com os principais
animais ameaçados de extinção. Apesar de da Biodiversidade”
achar que nessa lista deveriam constar tam-
bém algumas espécies de tubarões vulneráveis
e em perigo de extinção, como o grande tuba-
rão-branco, vale a pena repassá-la e refletir so-
bre o comportamento do ser humano e sua ar-
rogante pretensão de se achar mais evoluído
e mais importante do que os outros seres que

Diane Hammond (Flickr)


compartilham o mesmo Planeta.
Fora as causas já bastante conhecidas, como
o desmatamento e o aquecimento global, am- A borboleta monarca
bos diretamente relacionados com atividades é uma das espécies
humanas que muitas vezes são inevitáveis mais ameaçadas
para proporcionar a todos nós proteção e con-
forto nas cidades, pode-se perceber que nessa achar comida. Não à toa, eles têm aparecido nas praias brasileiras, mui-
lista existem animais também ameaçados pela tas vezes magros demais ou muito doentes. Das 17 espécies de pinguins,
inadmissível perseguição para a extração de 12 já estão ameaçadas pelo aquecimento global.
partes de seu corpo para obtenção de produ- 5. Tartaruga-gigante: também conhecida tartaruga-de-couro, são um dos
tos supérfluos cujos benefícios apregoados não maiores répteis do planeta e chegam a pesar 700 quilos. Estimativas mostram
têm nenhuma base científica comprovada. que há apenas 2,3 mil fêmeas no Oceano Pacífico, seu habitat natural. O au-
1. Tigre: novos levantamentos indicam que mento das temperaturas, a pesca e a poluição têm ameaçado sua procriação.
existem menos de 3,2 mil tigres na natureza. 6. Atum-azul: um dos ingredientes principais do sushi de boa qualidade,
Hoje, só restam apenas 7% do habitat natu- o atum encontrado nos oceanos Atlântico e Mediterrâneo está sendo ex-
ral destes animais. O extermínio dos tigres tinto por causa da pesca predatória. Uma proibição temporária da pesca
também está ligado à falta de informação. desta espécie de atum ajudaria suas populações a voltar a um equilíbrio.
Em muitas partes da Ásia, os tigres são caça- 7. Gorila das montanhas: podem deixar de existir na próxima década.
dos porque partes do seu corpo são conside- Existem apenas 720 animais vivendo nas florestas da África, e outros 200
radas medicinais. no Parque Nacional de Virunga, a maior área de preservação desta espécie.
2. Urso polar: o urso polar se tornou o principal Em muitas partes da África, os gorilas são caçados porque partes do seu cor-
símbolo dos animais que perdem seu habitat po são consideradas medicinais.
natural devido ao aquecimento global. A eleva- 8. Borboleta monarca: as temperaturas extremas são a principal amea-
ção da temperatura no Ártico é uma das princi- ça destas borboletas, que todo ano cruzam os Estados Unidos em busca do
pais ameaças aos ursos, assim como os petrolei- calor mexicano. Elas vivem em florestas de pinheiros, área cada vez mais
ros e os derramamentos de óleo na região. ameaçada pelo aquecimento global e urbanização crescente.
3. Morsa: os mais novos animais a entrarem 9. Rinoceronte de Java: existem apenas 60 destes rinocerontes em seus habi-
para a lista dos ameaçados, as morsas tam- tat natural. Como seu chifre é usado na medicina tradicional asiática, os rino-
bém são diretamente afetadas pelo aqueci- cerontes são caçados de forma predatória. A expansão das plantações também
mento global. Em setembro, 200 morsas fo- tem acabado com as florestas que abrigam a espécie. O Vietnã, país que era
ram encontradas mortas nas praias do Alasca. um grande habitat dos rinocerontes, abriga apenas 12 animais no momento.
Com o derretimento das geleiras, os animais 10. Panda: restam apenas 1,6 mil pandas na natureza, de acordo com o
estão ficando sem comida. WWF. Eles vivem nas florestas da China, que estão cada vez mais ameaça-
4. Pinguim de Magalhães: o aquecimento das pelo crescimento das cidades chinesas. Existe mais de 20 áreas de pro-
das correntes marítimas tem forçado os pin- teção ambiental no país para proteger estes animais. Metade dos pandas
guins a nadarem cada vez mais longe para vive hoje em áreas protegidas ou em zoológicos.

revista do meio ambiente abr 2010


20 animais

O que é
HOARDING?
A palavra tem o significado de esconder, colecionar
e é o termo empregado para identificar um tipo de
doença psíquica que atinge um grande número de
protetores de animais

Herman Brinkman (SXC)


A pessoa começa abrigando alguns animais, na melhor das inten-
ções e vai aos poucos perdendo a noção de espaço e de limites, até
que tenha um número considerável de animais vivendo em sua casa,
agora já totalmente inadequada para tantos bichos.
Começa, então, a vedar portas e janelas, a impedir a entrada de pesso-
as em sua casa, a descuidar-se completamente da higiene e já não aco-
lhe apenas os animais que lhe são entregues, mas vai compulsivamen- É bom ficar alerta para os primeiros sinais de
te buscando mais e mais animais e os colocando prisioneiros nessa po- ultrapassagem dos limites e evitar, ao máximo,
cilga. É comum encontrar-se carcaças junto com lixo, restos de comida, sobrecarregar aqueles protetores que já demons-
roupas e camadas de fezes nesses “abrigos”. tram alguma tendência para essa enfermidade.
Segundo pesquisa divulgada pela PETA, tratam-se de pessoas inteligentes, Os animais que morrem, freqüentemente
educadas, com boa escolaridade, provenientes de famílias de classe media não são retirados do local. O acumulador não
em sua maioria, e muito bem intencionadas. Acreditam sinceramente que tem a percepção da falta de higiene e dos ris-
estão propiciando aos bichos um lugar seguro e muitas vezes só são “desco- cos para a própria saúde e a dos animais. O
bertos” quando morrem ou quando o cheiro de suas casas fica insuportável acumulador não consegue dizer “não” a co-
para os vizinhos. Recusam-se a doar os animais, mesmo para lares adequa- locar mais um bicho em sua casa, por mais
dos. É preciso ter em mente que se trata de uma doença, que requer trata- que esteja superlotada ou que o animal re-
mento psiquiátrico e retirada imediata dos animais sob sua proteção. colhido esteja muito doente (contagiando os
Todos nós, protetores, temos um pé no hoarding. Para nós, é quase im- outros animais). Ele acha que o bicho esta-
possível ver um animalzinho necessitado sem o impulso de recolhê-lo, sem rá bem com ele, melhor do que em qualquer
medir muito as reais possibilidades de espaço, alimentação e tratamento outro lugar e “nega” que seus animais este-
veterinário. É nosso dever ter em mente, em primeiro lugar, o bem-estar dos jam em condições precárias de saúde. Cães e
animais e isso inclui um abrigo e cuidados adequados. gatos são as principais vítimas: 65% de ga-
tos e 60% de cães, estão envolvidos nas ocor-
rências. Como o acumulador é uma pessoa
Perfil dos “hoarders” mentalmente doente, há controvérsias em
relação à punição desse tipo de pessoa. Mas,
Dr. Gary Patronek, veterinário americano, diretor do Centro para de uma forma geral, o acumulador é enqua-
Animais e Políticas Públicas da Universidade de Tufts e seu grupo drado nos crimes de negligência e crueldade
chamado “The Hoarding of Animals Research Consortium”, criado contra os animais – maus-tratos.
em 1997, conduziram uma pesquisa, em 1999, para delinear o perfil Esse tipo de situação é preocupante, em
do acumulador de animais, e chegaram às seguintes conclusões: termos de saúde pública, em todo o Brasil.
• 76% são mulheres. Não podemos mais fechar os nossos olhos.
• 46% têm 60 anos ou mais. Envolve a vida desses animais que se en-
• A maioria é de solteiros e mais da metade vive sozinho. contram confinados em muitas casas. “Cui-
• Em 69% dos casos, fezes e urina de animais estavam acumuladas dados” por pessoas extremamente doentes.
nas áreas sociais da casa. Em mais de 25% dos casos, a cama do É um caso de saúde pública.
acumulador estava suja com fezes e urina. Fonte: REASul / Blog dos cachorrinhos
• Animais doentes ou mortos foram descobertos em 80% dos
casos relatados, ainda que em 60% dos casos os acumuladores não
Leia matéria na íntegra em:
reconhecessem o problema.
http:// www.portaldomeioambiente.org.br/
animais/3639-o-que-e-hoarding-.html

abr 2010 revista do meio ambiente


artigo 21

texto Luiz Prado (www.luizprado.com.br)


Discursos Vazios
nas enchentes do Rio punida pela “vingança da natureza” e outras
bobagens do gênero. De fato, a opção de Salz-
bruck foi a ocupação das margens dos rio e dos
topos de morro (estes, pelas mesmas razões que
a Corte portuguesa os reservava para a constru-
ção de fortalezas, castelos e igrejas).
Já no caso de Passa Três, distrito de Rio Cla-
ro, no Rio de Janeiro, a ocupação de alto risco é
mais do que evidente. Mas ela se dá por falta
de opção numa região em que as autoridades
não buscaram alternativas para os pequenos
produtores e trabalhadores rurais.
Não será por falta de terras para fazer lotea-
Vitor Abdala/ABr

mentos populares que essas pessoas investiram


Morador observa o que o seu pouco dinheiro nessas casas, mas sim por
estou de sua casa depois
falta de loteamentos para a baixa renda. E o es-
do deslizamento, no
bairro Novo México, gotos seguem direto para o ribeirão. Mas quem
em São Gonçalo (RJ) se importa com isso? Lá, o Ibama e as ONGs que
jantam nos restaurantes de luxo e jogam no ta-
Quando se ouve o governo, em todos os ní- O Brasil está se petão ou na mídia das grandes cidades não vão.
veis, pedir à população que abandone as áre- Até porque não têm uma agenda positiva para
acostumando a
as de encostas, a primeira vontade que se o problema da urbanização em geral. Com o já
tem é mesmo vaiar, jogar ovos e tomates po- isso: autoridades antigo teatro de guerrilha, sonegam das cida-
dres na cara deles. Fingem não saber ou não que, tomadas des as informações relevantes: os rios e o ar am-
sabem mesmo que as pessoas moram em “áre- pelo poder, não se biente estão a cada dia mais poluídos.
as de risco” por falta de opção – já que o país Pois bem, as cidades foram, por lei, obrigadas
responsabilizam
não tem qualquer programa habitacional sig- a elaborar planos diretores que renderam um
nificativo há décadas, e o atual slogan é funda- por nada, exceto bom dinheiro a empresas de consultoria. De-
mentalmente um programa de financiamento, por slogans. pois, esses planos foram e continuam sendo
sem que sejam definidas áreas ou planejadas “Minha chuva, mudados ao sabor das conveniências da indús-
as necessárias estruturas urbanas de transpor- tria imobiliária, que privatiza os lucros e sociali-
minha vida”
tes rápidos e seguros, saneamento e similares. za os custos, já que só depois, muito mais tarde,
Na maioria dos casos, as áreas de riscos pode- poderia ser é que alguém vai pensar em coisas elementares
riam não representar quaisquer riscos se as ne- um deles como drenagem de águas pluviais e esgotos, tra-
cessárias obras de contenção geológica fossem tamento de esgotos, disponibilidade de trans-
feitas. E aí, como está na moda, lá vem os evan- porte público e de escolas, e outros “detalhes”.
gélicos ambientalistas dizer que tudo aconte- É bem fácil conclamar as pessoas que vivem
ceu porque eles não foram ouvidos, ou porque em “encostas” no Rio de Janeiro a sairem de lá.
a lei otária não foi respeitada. Não se trata, de- A mesma usual falação, o mesmo desgastado
finitivamente, de uma questão de leis, mas de discurso balofo. Dá um pouco mais de traba-
falta de políticas públicas e do uso do estado da lho programar obras de contenção adequadas
arte na engenharia e no planejamento urbano. – como as que abundam em áreas mais “no-
Rios são contidos com a análise séries histó- bres” como a lagoa Rodrigo de Freitas.
ricas de chuvas máximas, barragens que com-
binem os múltiplos usos das águas – incluindo
a regularização de vazões – e muros de arrimo E o plano diretor?
/ contenção – todas coisas que já foram feitas, O Rio de Janeiro continua sem um plano diretor de macro-drenagem.
por exemplo, na Alemanha, no século XIX. Quando falei isso na coluna de meio ambiente que faço com Ricardo
Da mesma forma, a estabilidade dos morros Boechat e Rodolfo Schneider na Band News Rio FM, a assessoria
é estudada por geólogos – ou, no passado, pela de comunicações da prefeitura apressou-se a dizer que o plano
observação – e não por leis e mitos. Se assim havia sido recentemente contratado. Mas nada sobre quando serão
não fosse, Salzburg não existiria ou já teria sido disponibilizados os primeiros relatórios para o “distinto público”.

revista do meio ambiente abr 2010


verde
Colaboração Raquel Miguel 22 política ambiental

Em ato em frente ao
Congresso Nacional,
servidores do Ibama,

A greve
MMA, ICMBio e SFB
‘escreveram’ com seus
corpos “Greve Verde”
Cristina Gallo / Agência Senado

Pedimos assim, a gentileza de falarmos com Você, que tem No entanto, dentro do quadro da adminis-
você, que tem estado atento a tudo isso. Não tração pública federal, esta função tão im-
visto ocupações
há dúvida que muito vêm ocorrendo, não é portante é relegada ao descaso já que o salá-
mesmo? E que nunca o estado do meio am- irregulares, que rio destes profissionais é de verdade um dos
biente tem influenciado tanto nossas vidas tem lido sobre mais baixos da esfera pública federal e o or-
e nosso dia-a-dia. No entanto, muito deve e transposições de çamento destes órgãos públicos e do Ministé-
pode ser feito para garantir um presente e um rio do Meio Ambiente também um dos mais
rios e construções
futuro melhor, mais seguro, mais humano, baixos destinado pelo orçamento da União...
mais vivo e justo para a sociedade brasileira. de grandes Você sabia ainda que estes servidores (inte-
É exatamente para isso que existem as ações barragens e grantes da Carreira de Especialista em Meio
das instâncias ambientais públicas. Você sabia hidrelétricas. Ambiente do Ministério do Meio Ambiente
que o Ibama, o ICMBio, o MMA, o SFB e todos os - MMA), do Instituto Brasileiro do Meio Am-
Que tem
órgãos públicos federais ambientais possuem biente e dos Recursos Naturais Renováveis
em seu quadro técnicos fixos e concursados – vivenciado o (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conserva-
pessoas capacitadas que estudaram e estudam aquecimento ção da Biodiversidade (ICMBio) e Serviço Flo-
biologia, ecologia, geografia, sociologia, educa- global, as restal Brasileiro (SFB), estão em greve por tem-
ção ambiental, agronomia, e tantos outros sa- po indeterminado em resposta à intransigên-
mudanças
beres das áreas biológicas, exatas e sociais para cia do governo em negociar uma proposta dig-
protegerem a sociedade garantindo um meio climáticas. Que na de reestruturação da carreira?
ambiente saudável e um desenvolvimento sus- tem notado Não? Pois, é... Ninguém sabe. Afinal, quem se
tentável e justo para a vida? mais secas, ou importa? Para muitos, a paralisação das ativi-
Você sabia que os laudos, licenças, pareceres, dades dos agentes ambientais federais é um
mais chuvas.
multas, cuidados com áreas de proteção am- alívio. Em greve, deixam de incomodar infra-
biental, ações de educação ambiental, entre Rios mais sujos, tores e aqueles que vêem o meio ambiente
outros, executados por estes técnicos que são transbordamentos como mais um dos empecilhos para o cresci-
independentes das questões políticas e econô- mais constantes. mento do país.
micas é que garantem o cumprimento das nor- Apesar da falta de reconhecimento de sua
Peixes mais caros,
mas e leis que a nossa democracia escolheu? excelência técnica, da falta de infra-estrutu-
(só que este muitas vezes são descartados por água mais cara... ra, das deficientes condições de trabalho, dos
questões políticas e econômicas) Pedimos cinco baixos salários, dos riscos físicos e orgânicos
Pois bem, este pequeno “exército” silencioso e minutos de a que estão expostos – incluindo ameaças de
incompreendido vêm trabalhado há anos para morte em lugares remotos, ou enfrentamen-
sua atenção
garantir o que o artigo 225 da nossa constituição tos com infratores, os servidores da carreira de
brasileira garante e o que a ética aconselha. Especialista em Meio Ambiente têm cumpri-

abr 2010 revista do meio ambiente


2

do a sua parte, superando metas do governo e Quantas enchentes esquivado em analisar o Aviso Ministerial,
expectativas da sociedade, bem como geran- propondo alterações que não condizem com
teremos que
do resultados positivos para o país. Basta ve- as realidades vividas pelos agentes ambien-
rificar a redução histórica dos índices de des- viver, quantos tais. Afinal, quem se importa se os escritórios
matamento, o número de licenças ambientais deslizamentos, do IBAMA estão sendo queimados no interior,
concedidas com critério e rigor, a melhoria dos como aconteceu tempos atrás em Guarantã
catástrofes, mortes
índices de conservação da biodiversidade e o do Norte, Mato Grosso? Quem se importa se
fortalecimento da gestão das áreas protegidas de gente, de rios, de os agentes ambientais federais são feitos re-
e ameaçadas, entre outros. matas, de animais, féns em Novo Progresso, Pará, cercados pela
Tais resultados deram ao Brasil posição de des- população do município insuflada por co-
enfim de vida e
taque na reunião sobre o clima em Conpenha- mandantes da região e impedidos de voltar
gue e foram, em muito, resultantes do esforço beleza ainda terão para casa? Quem se importa se os servidores
e dedicação dos servidores do IBAMA, ICMBio, de ocorrer? Nós, ambientais são processados pelo Ministério
SFB e MMA espalhados pelo Brasil afora. Público por obedecerem ordens superiores e
Estes servidores trabalham para garantir o di-
servidores públicos assinarem licenças ambientais, ou então obe-
reito constitucional do brasileiro. Afinal, todos da gestão ambiental decerem à lei e não fornecerem licenças am-
têm direito ao meio ambiente ecologicamente federal, além de bientais a toque de caixa?
equilibrado, bem de uso comum do povo e es- Quem se importa se agentes ambientais ar-
sencial à sadia qualidade de vida, impondo-se lutarmos por um riscam sua vida e têm sua integridade física
ao Poder Público e à coletividade o dever de de- desenvolvimento ameaçada diariamente nos mais distantes rin-
fendê-lo e preservá- lo para as presentes e futu- sustentável, ético cões do país, se passam noites no meio do mato
ras gerações? (Constituição Federal - Art. 225). sujeitos a perigos naturais, doenças tropicais e
Mesmo sendo notório e indiscutível o esfor- e justo, também emboscadas feitas por infratores, trabalhando
ço, a dedicação e, principalmente, os resulta- lutamos por pela causa ambiental?
dos positivos alcançados por estes servidores, melhores condições Diante deste quadro fica a indagação se a
é nítida a falta de consideração do Governo Fe- questão ambiental é, de fato, uma das priori-
deral para com eles. trabalhistas para dades do Governo Federal ou se figura apenas
Basta comparar a Tabela de Remuneração servimos melhor a como bandeira para garantir uma boa imagem
dos Servidores Públicos Federais, publicada junto à comunidade internacional.
sociedade. Assim,
em janeiro deste ano pelo Ministério do Pla- Também protestamos fortemente contra
nejamento Orçamento e Gestão. Nela, verifica- estamos em greve!! um projeto de lei que poucos conhecem, o PLP
se que servidores de nível superior da carreira nº549/2009, que irá congelar os gastos públi-
de Especialista em Recursos Hídricos recebem cos com a folha de pagamentos de funcioná-
aproximadamente 157% a mais que servidores rios concursados por 10 anos. Isso, à primeira
de mesmo nível da carreira de Especialista em vista parece bom, pois dá a impressão que o
Meio Ambiente (como se um especialista em governo vai economizar, não é mesmo? Mas,
meio ambiente não necessitasse compreender ao mesmo tempo que queremos sim que a
questões relacionadas a recursos hídricos!...). O verba pública seja bem gasta e revertida a be-
Especialista em Recursos Minerais possui ho- nefícios sociais, este projeto de lei impede no-
norários 93% maiores que o Especialista em vos concursos para adequação de quadros de
Meio Ambiente. O fiscal agropecuário de nível funcionalismo público.
superior possui vencimentos 120% maiores que Assim, imaginem a Polícia Federal sem po-
o de fiscal ambiental. E por aí vai... der contratar novos agentes para dar maior
Em 5 de novembro de 2009, o então Minis- segurança nacional, o IBAMA e o ICMBio sem
tro Carlos Minc, reconhecendo a defasagem poder adequar seu já diminuto quadro fun-
salarial dos servidores de sua pasta e a neces- cional para garantir a proteção ambiental?
sidade da reestruturação do plano de carreira Ou pior ainda, este projeto de lei permite a
de especialista em Meio Ambiente, enviou ao contratação. Assim poderemos até ter técni-
Ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, o cos contratados, mas estes não serão tão in-
Aviso Ministerial nº 238/09/MMA (Esta rees- dependentes das questões políticas e econô-
truturação pretende valorizar o profissional, micas... é quase que uma forma de “privatiza-
de modo a garantir que seu esforço em prol de ção” ou “politização” da coisa pública (único
um melhor futuro comum seja reconhecido e ente neutro do tecido social).
evitar que profissionais qualificados abando- Não vale mesmo à pena lutar para que
nem suas carreiras devido a salários incompa- Leia matéria isso não ocorra? Se você concorda conosco
tíveis com as responsabilidades). na íntegra em: e quer um Brasil mais justo ajude-nos neste
No entanto, desde então, a Secretaria de Re- http:// www.portaldo nosso movimento. Atenciosamente,
cursos Humanos/Min. Planejamento têm se meioambiente.org.br/ Cidadãos brasileiros como vocês.

revista do meio ambiente abr 2010


24 política ambiental

Também financiaram um estudo “suspeito”


Alexander Korabelnikov (SXC)

que nega que ursos polares estão em perigo e


um instituto dinamarquês que produziu ma-
terial usado como crítica à energia eólica.
O relatório indica que o conglomerado, base-
ado no Kansas, gastou quase três vezes mais
do que a petrolífera ExxonMobil entre 2005 e
2008 – US$ 25 milhões contra US$ 9 milhões –
no financiamento de grupos antimudança cli-
mática. Também empregou US$ 43,7 milhões
com lobby direto e campanhas políticas.
“É hora de a Koch Industries abandonar sua
campanha suja e de bastidores contra a ação
para combater a mudança climática”, disse
ontem Kert Davies, diretor de pesquisas do
Greenpeace nos EUA.

Demonização
O conglomerado não nega os números, mas
afirma que o relatório oferece uma represen-
tação incorreta de suas atividades e “distor-
ce o histórico ambiental de suas empresas”.
“As companhias Koch há muito apoiam a

Jogo sujo
pesquisa e o diálogo científicos sobre a mu-
dança climática e as propostas de respos-
ta [ao fenômeno]. Tanto a sociedade livre
quanto o método científico exigem um de-

de petroleira
bate aberto e honesto de todos os lados, não
a demonização e o silêncio daqueles com os
quais você discorda”, disse a Koch em comu-
nicado à imprensa.
Sem nenhuma empresa operando com o
nome, mas dona de marcas como a Lycra e os
Um relatório divulgado no dia 30 de mar- Petroleira dos EUA copos de plástico Dixie, a Koch tem operações
ço deste ano pela ONG Greenpeace acusa em mais de 60 países, que rendem US$ 100 bi-
deu US$ 50 mi
umas das maiores companhias de petró- lhões anuais em vendas. Emprega cerca de 70
leo dos EUA, a Koch Industries, de canali- a céticos do clima mil pessoas – é atualmente o segundo maior
zar discretamente quase US$ 50 milhões grupo privado dos EUA, atrás da Cargill.
em uma década (metade disso só entre 2005 No Brasil, o grupo tem quatro subsidiárias
e 2008) a uma rede de estudiosos e “think em operação: três em São Paulo (Koch Che-
tanks” para “minar a confiança na ciência do mical Technology Group, Georgia-Pacific e
clima e promover oposição à energia limpa, Invista) e uma no Rio de Janeiro (Koch Explo-
nos EUA e internacionalmente”. ration, de petróleo e gás natural).
Entre os grupos que mais receberam fun- Procurado pela Folha, o presidente do Ins-
dos da Koch estão os influentes Instituto tituto Cato, Ed Crane, disse em nota que “o
Cato (mais de US$ 5 milhões de 1997 a 2008), Greenpeace parece mais interessado em
Heritage Foundation (US$ 3,3 milhões no pe- nossas fontes de financiamento do que na
ríodo), Mercatus Center (US$ 9,2 milhões de precisão das pesquisas sendo financiadas”.
2005 a 2008) e Americanos pela Prosperida- “O ‘Climagate’ fala por essa precisão. Dito
de (US$ 5,2 milhões de 2005 a 2008), segun- isso, 95% de nosso orçamento vem de fontes
do o Greenpeace. não relacionadas [aos irmãos] Charles Koch
No total, segundo o texto, a Koch ajudou e David Koch [controladores do conglomera-
a pagar operações de mais de 20 organiza- do], e nenhuma verba dos Koch jamais foi de-
ções que “repetidamente reproduziram e es- signada para um projeto específico.” O Cato
palharam a história do chamado ‘climagate’ tem em seu time o climatologista Pat Micha-
[divulgação de e-mails de climatólogos, re- els, um dos mais célebres céticos, que esteve
velando tentativa de negar informação a cé- no Brasil nesta semana.
ticos do clima]”. Fonte: Murilo Marques / Folha Online

abr 2010 revista do meio ambiente


25

texto Mauro Zanatta


Boicote ruralista
a patrocinadoras de ONGs
A Frente Parlamentar Nacionalista, com- “Vamos dar essa
medalha a quem tiver
posta em sua maioria por ruralistas, amea-
interesse em prejudicar
çou iniciar um boicote a produtos de empre- o Brasil”, disse Rebelo
sas patrocinadoras de ONGs ambientalistas.
“Se querem nos intimidar, estamos para aqui
reagir. Se não sabem dialogar, certamente o
Bradesco saberá”, disse o coordenador do mo-
vimento suprapartidário, o deputado Aldo Re-

Janine Moraes/Câmara dos Deputados


belo (PCdoB-SP). Relator da comissão especial
de reforma do Código Florestal, ele sugere que
a pressão comece pelos produtores rurais. “As
cooperativas podem sugerir aos seus produ-
tores que fechem suas contas no Bradesco”,
afirmou, em referência à parceria mantida
pelo banco e a Fundação SOS Mata Atlântica,
a ONG que lidera a campanha para identificar
os “exterminadores” ruralistas.
No mesmo tom usado pelas ONGs para cons-
tranger os ruralistas, a nova Frente Nacionalis- A bancada ção, Roberto Klabin. “Sabíamos que era um ano
ta lançou o “Prêmio Joaquim Silvério dos Reis”, eleitoral e que viria a reação. O Bradesco é um
ruralista na
sugerindo uma ligação entre o delator do mo- parceirão de 20 anos, mas não temos patrocínio
vimento patriótico Inconfidência Mineira e as Câmara reagiu deles. Trabalhamos com direitos difusos e eles
motivações políticas de ONGs ambientalistas ao lançamento com interesses específicos”.
que atuariam em favor de interesses estran- da campanha Os ambientalistas afirmam que a reação dos
geiros. “Vamos dar essa medalha a quem tiver ruralistas é “desproposital, descabida” porque a
“Exterminadores
interesse em prejudicar o Brasil”, disse Rebelo. lista dos parlamentares ainda não está conclu-
“Quem patrocina essas ONGs são a Volkswa- do Futuro”, ída. “Não queremos encrenca nem briga. Não
gen, a Coca Cola, a Colgate-Palmolive, estimu- criada pelos tem lista, foi só uma indicação. Eles ainda serão
ladas pelos chiques e famosos de São Paulo”. ambientalistas informados antes do fim do processo. Não so-
O deputado Sarney Filho (PV-MA) foi aponta- mos irresponsáveis”, disse Mantovani. “É uma
para identificar
do como principal articulador parlamentar do reação muito maior do que a nossa ação, des-
movimento. Procurado pela reportagem, ele os principais proposital, descabida. Essa campanha pode ser
não foi localizado ontem. líderes do um fiasco, está mais na mão deles”.
Os ruralistas acusam uma tentativa de intimi- movimento O diretor da SOS Mata Atlântica afirmou que
dação por parte dos ambientalistas às vésperas os deputados ruralistas romperam acordos fir-
de alteração das
das eleições de outubro. “É uma campanha di- mados antes do início da tramitação da propos-
famatória, claramente intimidatória”, disse o leis ambientais do ta de um novo Código Florestal. “ Quem rom-
deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), presi- país na tentativa peu os debates foi uma parte dos ruralistas. Por
dente da comissão especial do Código. de retardar isso, deixamos de ir a debates. Não vamos legi-
Parceira do Bradesco na emissão de 200 mil timar isso”, afirmou Mantovani. O diálogo ficou
a tramitação
cartões de crédito e 2 milhões de títulos de ca- insustentável, segundo ele, porque o projeto do
pitalização, a SOS Mata Atlântica afirma que de propostas deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), que prevê
os parlamentares estão “trilhando um cami- de mudança no a criação do Código Ambiental, acabaria com
nho perigoso” ao tentar rotular as ONGs como Código Florestal as principais regras e instituições ambientais
inimigas do setor rural. “Estão apelando, é um do país. “O Colatto quer acabar com o Conama,
Brasileiro
caminho perigoso porque tem deputados pa- o Sisnama e as unidades de conservação”, disse
trocinados pelas empresas do Klabin”, afirmou Mario Mantovani, em referência ao colegiado
o diretor de Políticas Públicas, Mario Mantova- de representação paritária e o sistema nacional
ni, em alusão ao grupo produtor de papel, celu- que decide as regras ambientais brasileiras.
lose e embalagens do presidente da organiza- Fontes: Reasul / RBrasil (Gabriel Strautman)
Fonte: Último Segundo – iG

revista do meio ambiente abr 2010


texto Fabrício Fonseca Ângelo (msn: fabricioangelo@hotmail.com) fotos ©Comissão Organizadora - CBJA 26 comunicação ambiental

Palestra da senadora Marina Silva:


Até onde vai o desenvolvimento que não
considera os limites dos ecossistemas?

Meio ambiente e
desenvolvimento
Profissionais Que melhor lugar do que o Mato Grosso, es- Para a jornalista baiana Mariana Ramos, o
tado berço do agronegócio e que abriga os CBJA teve bons debates e palestrantes bem
e estudantes
maiores biomas do Brasil, para se debater preparados. “Estava um pouco distante do
de jornalismo a relação harmoniosa entre Meio Ambien- jornalismo ambiental nos últimos dois anos
defendem te e Desenvolvimento. Foi com esse objetivo e a evolução na abordagem dos assuntos fi-
políticas que o III Congresso Brasileiro de Jornalismo cou nítida”, afirmou.
Ambiental (CBJA) reuniu cerca de 300 pessoas Mariana só lamentou o fato da pouca
sustentáveis
entre profissionais e estudantes na cidade de abrangência de alguns temas importantes,
Cuiabá, do dia 18 a 20 de março. como a questão da pesca predatória. “Ainda
Segundo o secretário executivo do Núcleo de sinto falta de mais enfoque em outros pro-
Ecomunicadores dos Matos e membro da co- blemas que não sejam o desmatamento”,
missão organizadora do evento, André Alves, o disse. Ela também destacou a apresentação
CBJA foi importante para a discussão da ques- de Marina Silva e o debate sobre Belo Monte
tão ambiental principalmente da região Centro- como os mais importantes.
Oeste. “Acredito que houve um amadurecimen-
to do jornalismo ambiental com essa discussão Marina Silva
no estado, que gerou impactos positivos”. Para A senadora Marina Silva falou para um audi-
Alves resultado foi importante para a região da tório lotado sobre sua candidatura e os deba-
Amazônia. “O estado do Mato Grosso não tem tes ambientais que tem sido feitos, principal-
costume de realizar eventos em jornalismo, ain- mente no Congresso Nacional.
da mais com a temática ambiental”, enfatizou. Para Marina é fantástico que após 30 anos
O congresso teve dez mesas redondas, além de luta socioambiental haja um crescente au-
de oficinas e lançamentos de livros. Os maio- mento pela causas ambientais, que antes fica-
res destaques ficaram por conta da palestra vam restritas as ONGs e movimentos sociais.
da senadora e pré candidata a presidência, “São pessoas que querem o melhor para o Bra-
Marina Silva (PV), o debate sobre a construção sil. Como o país vai acompanhar as mudan-
da hidrelétrica de Belo Monte e a apresenta- ças climáticas? E a economia de baixo carbo-
ção do chefe Afukaka Kuikuro do Parque Indí- no? Nesse sentido, tem sido incrível a adesão
gena do Xingu. “A mesa da senadora Marina de pessoas de todas as áreas. A sociedade está
Silva mobilizou muita gente, como políticos, sentindo que precisa agir. Nada é mais forte do
imprensa e curiosos, com isso divulgamos o que uma ideia cujo tempo chegou”, ressaltou.
evento para várias partes da região e do país”, Ainda segundo a ex-ministra do Meio Ambien-
analisou André Alves. te, já estamos ultrapassando os limites. “Se conti-

abr 2010 revista do meio ambiente


27

Oficina Comunicação Palestra com Afukaka


Ambiental, com Fabrício Kuikuro, cacique do
Fonseca Ângelo Parque Indígena do Xingu

nuarmos neste ritmo, iremos inviabilizar a vida Rio de Janeiro receberá IV CBJA Acredito que um
na terra. Em São Paulo, por exemplo, a tempera- A cidade maravilhosa foi escolhida como
dos principais pontos
tura subiu 3º nos últimos 30 anos”, apontou. próxima sede do Congresso Brasileiro de Jor-
Apesar das críticas sobre sua candidatura ter nalismo Ambiental, que será em 2012, mesmo desse congresso
apenas uma bandeira, a do meio ambiente, a ano da Conferência da ONU para o Meio Am- foi a consolidação
senadora foi enfática ao dizer que hoje sus- biente (Rio + 20). Lugar de belas paisagens e
da Rede Brasileira
tentabilidade não diz só respeito às florestas gente acolhedora, o Rio de Janeiro hoje é refe-
e sim a toda estrutura social e econômica de rencia na temática ambiental, sendo residên- de Jornalistas
um país. “Esse discurso já está defasado, não cia de diversos especialistas da área. Ambientais (RBJA),
se pode falar em meio ambiente sem analisar Para o jornalista Vilmar Berna, fundador da
pois a interação entre
as questões culturais e sociais de uma região”. Rede Brasileira de Informação Ambiental (Re-
Marina disse que apesar da situação crítica da bia), a democratização da informação ambiental as diversas faixas
questão ambiental no país, continua otimista. não deve ser uma benesse dos poderosos para a etárias foi nítida
“Sou uma mantenedora de utopias. Desenvol- sociedade, mas uma conquista. “Sem informa-
vimento e sustentabilidade podem sim andar ção ambiental independente e de qualidade, a
durante os três dias
juntos. Só depende de nós, e os jornalistas têm sociedade tenderá a reproduzir as mesmas esco- de atividades
importante papel como mediadores capazes lhas que nos trouxeram até o abismo da insus- (Danielle Silva,
de despertar a sensibilidade das pessoas”. tentabilidade socioambiental”, afirmou.
A jornalista Danielle Silva veio do Rio de Janei- Berna reforça que foi muito importante a de- jornalista carioca)
ro para acompanhar os debates e gostou do que cisão do III Congresso Brasileiro de Jornalismo
viu. “Acredito que um dos principais pontos des- Ambiental, realizado agora em Cuiabá, pela
se congresso foi a consolidação da Rede Brasilei- sua continuidade. “Nos sentimos orgulhosos
ra de Jornalistas Ambientais (RBJA), pois a inte- pelo Rio de Janeiro ter sido escolhido para se-
ração entre as diversas faixas etárias foi nítida diar o IV CBJA, em 2012. Desde já a Rebia esta-
durante os três dias de atividades”, analisou. rá empenhada, com os demais parceiros, a tra-
Ainda de acordo com Danielle o ambiente balhar pelo seu sucesso. Até lá, teremos uma *Jornalista, Mestre em Ciência
acolhedor proporcionou a troca de ideias entre longa caminhada onde é importante enraizar Ambiental, Especialista em
estudantes, jovens profissionais, jornalistas em localmente este debate, principalmente entre Informação Científica e
exercício e acadêmicos de diversas universida- aquelas pessoas, veículos e organizações que Tecnológica em Saúde, Editor
des do País. “Esse contato físico foi fundamental compreendem a importância da democratiza- Científico da Rebia - Rede
para recarregar nossas energias e assim criar- ção da informação ambiental para uma socie- Brasileira de Informação
mos novas discussões e nos engajarmos na luta dade sustentável!”, finalizou. Ambiental e Editor do Portal
por um jornalismo ambiental parcial”, disse. Com informações do site Dom Total Proqualis (www.proqualis.net)

revista do meio ambiente abr 2010


texto Leonardo Boff* 28 artigo

Um tema central da Cúpula dos Povos so- A Terra,

©Nasa
bre as Mudanças Climáticas, reunida em
sujeito de
Cochabamba de 19-23 de abril, convocada
pelo Presidente da Bolívia Evo Morales é o dignidade
da subjetividade da Terra, de sua dignidade e de direitos
e direitos. O tema é relativamente novo, pois
dignidade e direitos eram reservados somen-
te aos seres humanos, portadores de consciên-
cia e inteligência. Predomina ainda uma visão
antropocêntrica como se nós exclusivamente
fôssemos portadores de dignidade. Esquece-
mos que somos parte de um todo maior. Como
dizem renomados cosmólogos, se o espírito
está em nós é sinal que ele estava antes no
universo do qual somos fruto e parte.
Há uma tradição da mais alta ancestralida-
de que sempre entendeu a Terra como a Gran-
de Mãe que nos gera e que fornece tudo o que
precisamos para viver. As ciências da Terra e da
vida vieram, pela via científica, nos confirma-
ram esta visão. A Terra é um superorganismo
vivo, Gaia, que se autorregula para ser sempre

Um planeta
apta para manter a vida no planeta. A própria
biosfera é um produto biológico, pois se origi-
na da sinergia dos organismos vivos com todos
os demais elementos da Terra e do cosmos.

DIGNO
Criaram o habitat adequado para a vida, a bios-
fera. Portanto, não há apenas vida sobre a Terra.
A Terra mesma é viva e como tal possui um va-
lor intrínseco e deve ser respeitada e cuidada
como todo ser vivo. Este é um dos títulos de sua
dignidade e a base real de seu direito de existir
e de ser respeitada como os demais seres.
Os astronautas nos deixaram este legado: reprodução e de regeneração. Por isso, está em discussão um projeto na
vista de fora da Terra, Terra e Humanidade ONU de um Tribunal da Terra que pune quem viola sua dignidade, des-
fundam uma única entidade; não podem ser floresta e contamina seus oceanos e destrói seus ecossistemas, vitais para
separadas. A Terra é um momento da evolução a manutenção dos climas e da vida.
do cosmos, a vida é um momento da evolução Por fim há um último argumento que se deriva de uma visão quântica da
da Terra e a vida humana, um momento pos- realidade. Esta constata, seguindo Einstein, Bohr e Heisenberg, que tudo,
terior da evolução da vida. Por isso, podemos no fundo, é energia em distintos graus de densidade. A própria matéria é
com razão dizer: o ser humano é aquele mo- energia altamente interativa. A matéria, desde os hádrions e os topqua-
mento em que a Terra começou a ter consciên- rks, não possui apenas massa e energia. Todos os seres são portadores de
cia, a sentir, a pensar e a amar. Somos a parte informação. O jogo das relações de todos com todos, faz com que eles se
consciente e inteligente da Terra. modifiquem e guardem a informações desta relação. Cada ser se relaciona
Se os seres humanos possuem dignidade e di- com os outros do seu jeito de tal forma que se pode falar que surge níveis
reitos, como é consenso dos povos, e se Terra e de subjetividade e de história. A Terra na sua longa história de 4,3 bilhões
seres humanos constituem uma unidade indivi- de anos guarda esta memória ancestral de sua trajetória evolucionária. Ela
sível, então podemos dizer que a Terra participa tem subjetividade e história. Logicamente ela é diferente da subjetividade
da dignidade e dos direitos dos seres humanos. e da história humana. Mas a diferença não é de princípio (todos estão co-
Por isso não pode sofrer sistemática agres- nectados) mas de grau (cada um à sua maneira).
são, exploração e depredação por um proje- Uma razão a mais para entender, com os dados da ciência cosmológica
to de civilização que apenas a vê como algo mais avança, que a Terra possui dignidade e por isso é portadora de direitos
sem inteligência e por isso a trata sem qual- e de nossa parte de deveres de cuidá-la, amá-la e mantê-la saudável para
quer respeito, negando-lhe valor autônomo continuar a nos gerar e nos oferecer os bens e serviços que nos presta.
e intrínseco em função da acumulação de Agora começa o tempo de uma biocivilização, na qual Terra e Humani-
bens materiais. É uma ofensa à sua dignida- dade, dignas e com direitos, reconhecem a recíproca pertença, a origem
de e uma violação de seus direitos de poder e o destino comuns.
continuar inteira, limpa e com capacidade de *Leonardo Boff é autor de Virtudes para um outro mundo possível. Vozes 2008

abr 2010 revista do meio ambiente


espaço infantil 29

Você sabia que existem animais que estão praticamente desa- O que está sendo feito...
parecendo do planeta? Isso é, no mínimo, muito preocupante, pois No Brasil o órgão responsável por cuidar do
qualquer espécie, animal ou vegetal, por mais simples que seja, tem meio ambiente e especificamente de reverter
muito valor para o meio ambiente e é insubstituível. o quadro da extinção animal é o IBAMA – Ins-
tituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Desrespeito ao meio ambiente é principal causa da extinção
Naturais Renováveis. Este órgão fiscaliza, mui-
Quantas notícias vemos atualmente sobre desmatamento das flo-
tas vezes em conjunto com a Polícia Federal,
restas e queimadas em diversas regiões? Pense em quantos animais
tudo que é relativo ao meio ambiente, assim,
morrem ou ficam “desabrigados” por essas ações inconsequentes do
está sempre de alerta para as questões do des-
ser humano. Fica fácil perceber que o principal motivo da extinção
matamento, repressão ao tráfico de animais e
dos animais é a destruição de florestas, seja pelo desmatamento ou
possibilidades da procriação de espécies em
por queimadas. Só na Amazônia atualmente, a área total afetada pelo
cativeiro para diminuir o risco de extinção,
desmatamento da floresta corresponde a mais de 350 mil Km2, a um
neste caso, depois de crescidos os animais são
ritmo de 20 hectares por minuto, 30 mil por dia e 8 milhões por ano.
introduzidos em seu habitat natural.
A poluição também contribui para a extinção de animais, pois pre-
judicam diretamente o ciclo de vida de muitas espécies. Você também pode ajudar...
Outro fator que contribui é a caça em busca de aproveitamento de Cada um de nós pode ajudar a combater
partes desses animais, como por exemplo, para obtenção de carne, gor- a extinção de animais mesmo estando longe
dura, peles, plumas, troféus e lembranças. A coleta de ovos para venda deles. Uma forma é denunciar qualquer tipo
também é bastante comum, pois gera lucro para os caçadores. de agressão ao meio ambiente.
O tráfico de animais também é um fator de muita preocupação: de Com relação ao tráfico de animais, fica mais
acordo com Polícia Federal, a cada ano 12 milhões de animais, a maio- fácil de contribuir:
ria integrante da lista de espécies em extinção, são apanhados na • Não compre nenhum tipo de artesanato que
fauna brasileira e 30% deles são enviados ao exterior. Eles são trans- tenha partes retiradas de animais, como pe-
portados em condições precárias, ficam doentes e chegam a morrer nas, couro, etc.;
fora de seu habitat natural. •Não use roupas feitas de pele de animais;
• Observe que canários, maritacas e outras
Veja matéria no site do Ibama sobre o assunto:
aves fazem parte das espécies de animais que
http:// www.ibama.gov.br/fauna/trafico/procedimentos.htm
sofrem com o tráfico, portanto, oriente amigos
Lista de animais em extinção:
e parentes que tenham o hábito de manter es-
http://www.fiocruz/biosseguranca/Bis/infantil/fauna.htm
ses animais presos em gaiolas;
• Denuncie sempre que perceber ações de maus
Descubra aqui alguns animais em risco de extinção:
tratos e manutenção de animais em cativeiro.

T A M A N D U A Q W M http://www.smartkids.com.br/especiais/animais-
em-extincao.html

Q C W Q T C L D S J J
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V P R R G O E F R Y A Número 8
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Respostas: horizontal: tamanduá, ariranha e arara • vertical: jacaré e guará.

revista do meio ambiente abr 2010


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não reembolsável, sem a intermediação de terceiros. Investimento: R$ 1.380,00

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O Festival de Turismo das Cataratas do Iguaçu é um evento aberto à comunidade de turismo, agentes de viagens, hoteleiros,
guias, estudantes, pesquisadores, representantes governamentais e da iniciativa privada. Seu principal objetivo é ser
uma ferramenta de negócios, envolvendo toda a cadeia de serviços do setor turístico. VIVÊNCIA TURISTICA - MÓDULO
FESTIVAL DAS CATARATAS DO IGUAÇU, entre os dias 16 e 20 de junho, Foz do Iguaçu, PR. INVESTIMENTO: R$ 920,00
- que poderá ser parcelado em três cheques de R$350,00 reais. Inclui: Estadia no Hotel Turrance (www.turrancehotel.com.
br), Material do Festival, Meia Pensão, atividades do Festival Internacional do Turismo, IV Fórum Internacional de Turismo
do Iguaçu, Visitas Técnicas, Atividades Sociais, I Mostra de Turismo, Feira de Turismo, Certificado de Participação, Visita
a Argentina, ao Parque Nacional do Iguassu, Visita a Usina Hidrelétrica de Itaipu e a Consultoria de Agentes de Viagens.
Em anexo seguem a programação. Para Maiores informações os interessados deverão entrar em contato com o Coord.
Pedagógico Msc José Mauro Farias - Tels: (21) 8632-0452, (21) 2588-1644, 2588-1328 - E-mail: josemaurofarias@ig.com.br

Foto: Luana Pagliarini e Gilson Filho

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