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O ESPACO INTERDISCIPLINAR ALAIN REYNAUD ARMANDO CORREA DA SILVA ‘YVES GUERMOND. JEANIUC PIVETEAU ANNE BUTT 10S SAWAYA, JEAN-LOUIS GUIGOU. MICHEL BASSAND IV — Oespago social, numa perspectiva interdisciplinar Anne Bustimer Aaradeunos pein clsborate de preesors Atte Btine, que obteve [ito &"The Amtercan Geographic Socsy t co, pars eines ne tiga pablo na evists Geograph Reve. (s sebarafos de hoje defrontam-se com desafios dramiticos © cexcitantes. Mudangas revoluciondrias nos padrdes empiticos e 50 ciaisvieram substtuir a obsoleseéncia que eampeava em muitos procedimentos analitios tradcionais;transformagdes no mundo ‘scolistcolevanteram um sem-nimero de quests relatvas& base flosica dos procedimentos das cineisssocais, O problema fun damental € colocado pelos behavioristase existencialistes: pode a ci2ncia continuaraexercer uma fungi Gl medindo e expicando & face objetiva eo mecanismo subjacent da realidade social, ou deve ela, também, penetrareincorporar as suas dimensies subjetivas? Na convincente formulagio de Edward T. Hall 0 tempo fale, 0 ‘expago conversa? Como a linguagem silencio do tempo ¢ do es ago influenciam as variagdes culturais da humanidade? Os ged srafos se perguntam: devemes nos stisfazer em esbocar um mepa ‘opaco e objetivo dos:padrées socais no espago ou devemos suple ‘menté-lo com o ponto de vista subjetvo?? © problema nio é, certamente, novo, O estudo de Jules Sion (de 1908) sobre a Normandia mostrou como as diferengas na men {alidade dos eamponeses normandosepicardos refletiam e relorg (©) GLAVAL, Put Gingrapie poetic tes popes Rae de Pye dex tae: Be tll KATES We WOMEN. ede ae Pose he Ppa Eso ra of Si ame Londen a2, 2h sk 6 ‘vam o contrastes entre duas resis fisicamente semethantes'. A nogao de chilizaedo, habllmente aplicada por Pierre Goutou, de- ‘monstrou como a atitudes capacidades ingluiram na evolugio da paisagem no Extremo Oriente’. O conhecido estudo de Walter Fi rey’, em Boston, ovelou como as variagSese tradigies cultura in fluenciaram os valores das terras nas éreas urbanas, enquanta 0 estudo de Renée Rochefort” sobre a Sicilia deixou pouca divida sobre a influgneia que mais marcou a vida social dessa ila: a Miia! Em principio e na pritica, portant trabalhos substan vos demonstram a necessidade de uma andlise penetrante desse componente subjetivo no estudo geogrifico. Num artigo recente, Paul Claal®chega a sugerir que a tnica contribuigio do gebarafo *staria nos estudos comparativas da mentalidade de grupo. Poucos estudiosos, contudo, deram uma contribuigSo coneretne aplicével aes tipo de esforgo analitico, Entre aqueles que introduziram alguns precedentescritivos ao longo dessaslinhasestto dis est tiosos franceses, Maximilien Sorre e Paul-Hensi Chombart de Lauwve, que desenvolveram # nogio de espago socal. O presente actigo € uma tentativa de esborar algumas dimensdes do conceito de expaco socal desenvovido no dilogo entre o gebgrafo eo socié- logo na Franca e discutr sua aplicagio na pesquisa urbana atual Sorre, geégrafo tradicional com um olho voltado para novos hhrizontes,e Chombart de Lauwe, sociélogo-enélogo com um hor zonte igualmente ecuménico, tém muitas caracteristcss em co- ‘mum. Ambos podem ser considerados, em certo sentido, como pro fetas inaceitiveis em seu proprio pats. Os gebgrafos franceses de- ram pouca atengio a Sorre: tenderam a vé-o mais como um ge srafo ortodoxo, verborrigcoe talvezinclinado a confundit eicia tern ner es ee ae ec at et eager yc nae cai ea i ey ace at ee er css aorta mates ieee tel cera. BSR a an 66 ellosofis. Os sociélogos da Sorbonne dos anot 20 néo raro despre zatam trabalho de Chombart de Lauvre por considerilo superti- cial, carregado de valores e marginal & corrente principal. No en- tanto, se eco francés foi frac, o mesmo mo se deu com o inter- nacional. As idéiss de Sore foram objeto de larga tcitagio em disciplinas outras que nao a Geografia e os precedente langades ‘por Chombart de Lauwe foram saudados por muitos estudiosos de sociologia e planejamento regional. Ene as vériascontribuigSes de Sorte para a Geograiaestio asligagbes que estabeleceu com outras disciplines em especial com biologa ea sociologia. O volume I de sua obra-prima, Les fonde- iments de la géographie humaine, esta permeado por um tema ecol6gico, como indica seu subtitulo: "Les fondementsbiologiques de Ia géographie humaine”. O volume 2 tem um tema mais socio: Hosico ou, as vezes, pscoldgico — of agrupamentos soca so inse- rides no contexto de seu ambiente e tratados como “téenieas de vida social". Finalmente, o volume 3 trata dos padres de povoa- ‘mento como a insergho vsiel das atividades,attudes e trades culturals do grupo na paisagem rural. Foi no teeeiro volume dos Fondements de Sorre que Chombart de Lauwe buscou inspiragio para o seu agora famoso estudo de Paris, no qual ele aplicou © desenvolveu a nogio de “espaco social”, vagamente definida por Sorte Com base na pesquisa de seu colega mais moro, Sore extraiu conclustes e escreveu, na década de 50, sobre as novas aplicacies do seu conceito de espapo social". Ao mesmo tempo, Chombart de Lauwe e seus colegas avancavam em novos fronts, inclinando-s sais para os problemas urbanos eo respectvo planejamento pacial (9) SORE. Minin Lt fndmns de rnin Pa 90.952 ta sum pine Sore sr GHIVOT,Prnpace Bnogaple So Ui ars nmi ds Ca eau CACHE, Chom atte acon prem Pa a op. 19 {0 SOR teen rman apollo mati lero Pas Ss Rinses dee pgp cd ia. Fat 1S orci patp dpa date Baa oe a pr ‘Shotneappiate Pe 1288 oe pp 156 0 1. © concsito de espace social © conceito de espaco social foi articulado aplicado pela pri- smeira yez na década de 1890, por Emile Durkheim, cuja aborda- ‘gem do estudo da diferencagao social era até certo ponto inova- ‘dora. Durkhaimobjetou ao ambientalismo da Anthropogeographie ‘e Friedrich Ratzl, ao evolucionismo implicit nos Principles of So- ciology de Herbert Spencer © a0 formalismo do Soziale Differen- erang de Georg Simmel”. Durkheim via a dferenciacio socal fem termos puramente socials: a sociologia consistia em morfologia social, que € estudo do subsrato social (distribuicto das formas sociais) ena fisiologia social, que €0 estudo da segmentacto, inte ragio e"densidade moral" da sociedade”. Sua definigio do subs- trato social era a do ambiente social, ou estrutura grup, indepen- dente da composigio fisea. Sore considerava a definigio do am- bienteelaborada por Durkheim demasiado estritae citava varios ‘exemplos em que as conde fsicasinfluenciavam a diferencia ‘gio social, Acreditava que 0 substrato social devia ineorporar tanto o ambiente fsco como o socal, e usava, para designar esse duplo substrato, 0 termo “espago social” de Durkheim, quali ‘candoo significado original paraincuir ambient fisio. [Na anise do expaco socal, a contribuigo bisica do geéerafo consistiriasobretudo em mapear a distribuigio de divers grupos ‘sociis (a “morflogia socal” de Durkheim). No entanto, as mono- ‘rafias repionais da Escola Vidaliana também contribuiram para a fisiologa social, mostrando, por exemplo, o papel ritivo dos ar ‘pos humanos na transformacio de eu ambiente (substrato)”. Para Situaro concelto de espago socal no sistema global de Sorre para a (G2, DURKHEIM, Ele, De edo de ra onl Psi 10,5. 98, Vr tein nL sg de a mate mucus RATE, Pree Larsson Set Svs De P SPENCER, Hee Pap of Sc ‘ein din rm it (te Somme: Mean Rincon ds plop Se esol, Op oe (15 Sonne! Masimtee: op a 6 _seografia humana, devemos lembrat alguns pontos geraisestabele- ‘dos nos Fondements, Para Sorte, a via social era uma unidade integral; assim, os padres de organizacio, dos grupos familiares € de patentesco aos Estados nacionaise blocos politics, eram "tée- ncaa” da vida social". ConseqUentemente, considerava o espago politico (o Lebensraum de uma nagio particular) ow 0 espago exo- rnémico (egies funcionais que circundam os péles de croissance) ‘como dimensbes constituinte do espaco social. Quando discutia os ‘espagos de natureza mais puramente social (por exemplo, xpacos religiosos, fnicos ou lingisticos), sua Tinguagem tomnava-se con fusaeum tanto ambigua. [Numa escala global, Sore via o expago social como um mo- saico de dreas, cada qual homogénea em termas das percepedes do ‘xpaco por seus hbitantes, Dentro de cada &rea podia-se ident: ficar uma rede de pont inkas que se irradiavaa partir de alguns points privlegits(Ceateos, escolas, igrejase outros focos de movi Cada grupo tendia a ter seu proprio espago social especfio, que refletia seus valores, preferéncas easpiraces part- caulares. A densidade do espaco socal refletia a complementaridade ¢, por conseguinte, o grau de interacio entre os grupos” Isso soa ‘nio-ortodaxo para os seguidores de Sorre, mas inspirou Chombart 4e Lauweem socalogia, que aplcou as ids de Sorre nos estudos ‘upbanos empiricos. Examinemosalgumas dessas aplicaes. 2. A percepgdo do habitat e do espago social urbano © famoso estudo em equipe de Chombart de Lauwe (Pars, 1952) ilustrow noves dimenstes do conceita de espago socal. Surgix ‘uma distingdo, porexemplo, entre os componentes objetivosesubie (i) SORRE. Meolln emer ld sce I: Recon [sepepheetaelronege Ochs tivos do espaco social. O espago socal ebjetivo definia-se como @ “estrutura espacial em que vier os grupes; grupos ujaestraturae organizagto social foram condicionadas por fatores ecoldgicos e culturas”. 0 espago social subjetivo era definido como o “espaco tal como o peresbem os membros de grupos humanos particula- res", Assim, os padries espaciis urbanos eram estudados prat- camente em dois niveis: cada arrondissement, quartir e secteur era escrito primeiro em termos objetios — isto €,o cenério espacial, com suas fronteirasfisias © rede de comunicagées — e depois em termos das dimensdese caraterstieas peresbidas desse segmento, tal eomoasidentficayam os ocupantes. Em muitos asos, 08 “es pages" objetivo © subjetivo nto coincidiam — o espago subjetivo refletia valores, aspragSes ¢ tradigbes culturais que consciente ‘ou inconscientemente distorciam as dimensies objetivas do am- Diente © ‘tema pereepeto do habitat (conceptions de Uhabitaion) usta bem a continuidade entre afSrmula original de Sorre para o espaco social ea pesquisa subseqiente de Chombart de Lauwe®. Novolume'} dos Fondements, Sorre suger que cada estilo de vida (genre de ve) tendia a ineri-se numa forma de habitat tipea, No «aso do habitat rural, por exemplo, ele demonstrou como os ritmos 4e trabalho, os regimes agriclas, a estrutura socal eas atividades ‘conémicas estavam-relacionados com of tipos de casas © 08 pa ‘ties dealdeias. Sorre escreveu, Finalmente, a rexpeito da “ecolo- sia da vida rural", do harmonioso nexo que reine a sociedade, & ‘economia eo ambiente geogréfico num todo corrente que se refletia ras formas de habitat de uma regio. No contexto urbano, porém, ‘formula de Sorre mio conseguiu explicar nem descrever habitat ‘em termos funcionais. Como Vidal de a Blache, Sorte era um rura- (4, LAUWE, PH. Chm tat Op. Ver tambien LAUWE, PH Chombart te Pet ct esc Pat 5 TAUWe, Chom Seat Parse apni pare Op Tam NeRLAUME Choma Se Bans rsp Oyo (Go CAUWE, FH Chimur Ge Fo alti: eigen ef ‘toa Pi i 2 ma amie et ne aban, 7 lista de coragto e, apesar deter saudado a urbanizapo como uma ‘remenda proeza’social, deplorava consstentemente a influéncia

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