Você está na página 1de 23
Constituicao da Republica Portuguesa Anotada Volume I 4 edigito revista Coimbra Editora 2007 Pini onda tater 1. O Estedo é unitarjo e respeita na sua organizacio e fun- cionamento o regime autonémico insular e os principios da sub- sidiariedade, da autonomia das autarquias locais ¢ da descen- iralizagio democrética da administrasao publica 2. Os arquipélagos dos Acores e da Madeira constituem regides auténomas dotadas de estatutos politico-administrati- vos e de drgios de governo préprio. A. REFERENCIAS 1 — Origen do texto: texto revista, pela LC n* 1/82, que alterou o n° 2, & pela LC n° 1/97, won’ l 2—Co riuguesas anteriores: Const. de 191-, art. 1; Const. de 1933, "3 Direite internacional: Carta Europeia da Autonomia Local, de 15-10-85, ratificada por Portugal em 18-12-90 e cam entrada em vigor em 01-0491, Europeu: TUE, arts. 158° ¢ ss. TES, «Recomendagio do Congreso dos Poderes Locais ¢ Regio- bre a Carta europeia di aulonomia regional» (2001/C 144,/2); ‘Crientagies para accBes integradas a favor das tegides insulaces 1p8s © Tratado de Amesterdo (art, 158°)» (2000/C 268/09). 5 — Ditelty nacional: Legislagio: L n° 39/80, de 05-08 (Estatulo Politico-Administrativo da Regi30 ‘Auténoma dos Acores, alterado pela Ln 9/87, de 26-03, ¢ pela L n® 61/98, 31, de 05-06 (Estatuto Politico- Administrative da Regiao Aut6- fhoma da Madeira, alterado pela Ln® 130/99, de 21-08); L n® 159/99, de 14.09 {Quadro de transferéncia de atcibuig6es e compeléncias para as autarquias); Ln® 169/99, de 18-09 (Quadro de competéncias e regime juridieo de fancio~ rnamento dos érpios dos municipios e das freguesias, alterada pela L n° 5-A/2002, de 11-01) Jurisprudincia: AcsTC ne* 266/85, 164/86, 452/87, 1/91, 553/95, 674/95 © 260/98. ““"Ainda os AcsTC n 192/88 (competéncia do governc como drgio de soberania para todo o territério nacional para mandar hastear ¢ bandeira nacio- ral no continent e nas rogides auténor (orcamento}, 220/92 (ensino 455/95 (Segredo de Estado), {630 /99 (Estatuto poittico-administra- maritime). tan 64 Princo fundamen B. ANOTACOES I. Esta norma inclui um(prineipio constitucional geral/— a uni tiva.. E, tanta importancia tém um e outros, que estao salvaguatdados contra a revisao constitucional preceito constitucional constitu: uma reaceéo contra tralizagao e concentracdo politica e administrativa do Estado portugues, acentuadas com o Estado Novo A garantia do regime autondmico insu- lar, da autonomia local, da descentralizacio e da subsidiariedade admi- niistrativa implica uma ceria poliracia ou pluralismo ée centros de poder, enquadrados numa complexa estrutura vertical do 2oder politico e da administracio, Il, O brincipio da unidade do Estadal — «Estado unitéci Precis frdanentis lato} posto», segundo um esquema federal ou outro (cfr: anolagao Vil). No essencial, ele quer dizer um tinico Estado — uma sé constituicgo, Srgdos de soberania tinicos para todo 0 territério nacional, uma ordem juri- ica, com clare definigéo da competércia das competéncias politicas e legis- lativas. Do cardcer unitério do Estado resulta ainda a imediaticidade das relagies juridicas entre 0 poder central e os cidados, nde podendo exis- tir «corpos intermedidrios» imy tas entre 0 Estado e 05 cdadaos. Note tal-republicana nao pode ser Prépria constizigao que impde o reconhecimento e garantia das auto- xrpretada em sentido jacobino, pois & a nomias regionais e da descentralizegao local rica. ‘im, com a consequente garantia de recuirsos econémicos € fanelies Fadequades ¢ sulclentes para a prossecugto das larefas auto- cialmente as ae (xt. 228°7/1), IV. On* faz expressa mencio ao fprincipio da subsidiariedade-"] (O sentido da introdugao deste principio (pela LC n° 1/97) li 0 seu entendimento como principio directivo da organizacio e funciona- mento do Estado unitério, Na revisio de 1992 havia constitucional 20 princt clausula da Unido Europeia (cfr. anotagdo 20 ar estas duas cristalizagées do principio da subsidiariedade (1) a ideia de jf dado guarida tan er Pris danni «proximidade do cidadaon ¢ de 2) administragao anténoma, com a con- sequente separagdo de atribuigdes, competincias e funcBes dos Grgios da administracao autérquice. A ncrmatividade especifica do principio da subsidiariedade plasmado no ait. 6%I deve ter em conta a insercao sis- tematica (Estado unitario e estruturagio plural do lerritério) e a res- pectiva teleologia intrinseca, Ee nao se identifica com o principio da autonomia das autarquias locais, nem com a descentralizacao democré- tica da administragio publica, pois ambos os principios esto autono- mizados neste preceito. No contexto da separacio vertical de poderes e de competéncias o principio da subsidiariedade tem uma dimensio pré- tica de grande relevanc: = defer dos interest Tei nals» (cf. art. 225°2) pertence, er principio, aos entes lerritoriais das pro- prias regides aut6nomas; a prossecugao de «interesses prdprios das populacées» das atitarquias locais (eft. art. 235°-2) abe, em primeira io, acs entes autrquicos mais préximos dos cidacdos (municipios e freguesias) (cfr. anotagéo XII ao art. 7°). >uioties especificas correspondences a interesses préprios e no meras for- .mnas.de administangio indivecta ou medinta do Esindo. © que nao exclui, em certos termos, a tutela estadval (cfr. art, 242" ‘A orginizacéo das autarq is faz parte da competéncia legis- lativa reservada da AR (art. 168 VI. 0 prinefpio.da descentralizagio adminis:rativa rio é uni- voco. Em sentido esirito, a descentralizagdo exige a separacao de cer- tos dominios da administracao central e a sua entrege a entidades auté- nomas possuidoras de interesses colectivos préprios. Cabem aqui as autarquias locais, as associagdes puiblicas ou outras entidades publicas de substra:o pessoal (entidades colectivas). Neste sentido, a descen- tralizagéo ¢ equivalente a admin'stragfo autdnoma, apenas sujeita a tutela (ft aris. 257°-2 e 199°/d). A densificagio co conceito de des- iragio pressupée, por isso, o azelo a duas dimen- ‘a autonomizagéo de determinadas administragies em entidades juridicas aulénomas, destacadas da ta do Estado; (2) a auto-administracéo dessas enti- dades meciante a intervencio de representantes dos interessados na a Principio fami tan 6 gestio adminisirativa. Nao existe descentralizagao democrética sem um destes elementos: ndo basta a autcnomia juridica, pois um instituto piiblico sem participagio na sua gestio mio & descentralizacio; nao basta a participagdo, pois a intervencio dos interessados na gestiio de um ser- vigo directo do Estado ndo é descentralizacao. O facto de a CRP falar ‘em «descentralizago democratica» sagere fortemente que a nogao cons- titucional de descenrsizasto tem 9 sentido apontado, equivalente a Note-se que, neste c entre a descentralizacéo das enti quias locais e regides autSnomas) «de populacio e territériow (autar- descentralizagao institucional ox é,sobretudo, a administragao do interesses préprios, incluindo as criadas sobretudo pelo Estado para melhor desempenho das suas tarefas, como é 0 caso dos ins piiblicos e das empresas piiblicas. Neste sentido abrangente, e tucionalmente impréprio, a descentralizagio abrange tanto a adminis- tragio auténoma come aquela a que se chama correntemente de adnti- nistragio indirect do Estado, sujeita & superintendéncia governamental (cf arts. 267°2 e 199°/d), Em qualquer caso, nio deve confundir-se des- centralizagao com desconcentragio adrinistration da administracao directa do Estado (eft art. 267°.2 e respectiva nota), embora por vezes as fron- teiras néo sojam faceis de estabelecer. vit, asfiegibes auté ies a CAD enbora com precedents naGonais © estrangpiros)_—A sua, ia-ndo.pée-em-causa.a unidade do Estado, nem a sua auto laser Prins dante lidade, po-ém, res de-Madeiee al an sande ate deventenelox espe om cija laboragao_particinam.directamente(art. 226°1), VIII. Note-se que nio poderdo ser criadas outras regides aut6no- mas, além das previstas na Constituigdo, as dos Acores e da Madeira, resto de pais nao constitui, nem pode ser constituido em uma regio auténoma, ou ser dividido em regides autén: do Estac mas ume quer ‘Dacional, tendo aliis.em canla.astia_situagio particular designadamenta,_, (serem erritérios i it regional nao € IX. A figura das regides auténomas na CRP nao ¢ original no lireito corstitucional portuguiés nem no direito constitucional comparado. tum precedente na Consttuicio de 1933, introduzido pela revisio le 1971 (Ln° 3/71, de 16-06). Einbora 0 texto const qualificadas como regiées autinomas (cft. seu art. 133°). No dis constitucicnal comparado, & data da CRF, os precedentes eram as comu- nidades auténomas da Constitugao da IT Reptiblica espanhola, as regiOes de regime especial da Constitvigao Italiana de 1941 e outros casos de autonomis politica especial de tervitérios insulares. =ntretanto, a figura das regides autGnomas ou outras equiparadas tornou-se uma solucso frequente 2m muitos outros Estados, na Europa e fora dela, como forma de reconhecimento de especificidades politicas territoriais (devidas & ‘ou religio- ee eee st ee eect desazregadoras. Princip fdas tan Axtigo 7° (RelagGes internacionais) 1. Portugal rege-se nas relagdes internacionais pelos prin- cipios da independéncia nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solugo pacifica dos conflitos intemacionais, da nao ingeréncia nos assuntos intemos dos outros Estados e da cooperacio com todos 0s outros povos para a emancipacio e o progresso da humanidade. 2. Portugal preconiza a abolicio do imperialismo, do colo- nialismo e de quaisquer outras formas de agressio, dot exploragéo nes rel imultneo e contiolado, a dissolucao dos blocos ranga colectiva, com vista & criagio de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justica nas relacdes entre os povos. 3. Portugal reconhece o direito dos povos a autodetermi- nagio ¢ independéncia e ao desenvolvimento, bem como 0 direito & insurreigdo contra todas as formas de opressio. 4. Portugal mantém lacos privilegiados de amizade e coo- peragio com 9s paises de lingua portuguesa. 5. Portugal empenha-se no reforco da identidade europeia e no fortalecimento da acco dos Estados europeus a favor da democracia, a paz, do progresso econémico e da justica nas relagées entre 05 povos. 6. Portugal pode, em condigdes de reciprocidade, com res- peito pelos principios fundamentais do Estado de direito demo- riedade e tendo em vista a de liberdade, seguranca e justiga e a definigao e execugao de uma politica externa, de segurenca e defesa comuns, conven- cionar o exerticio, em comum, ou em cooperacao ou pelas ins- tituigdes da Unio, dos poderes aecessdrios & construcao e apro- fundamento da unio europeia. 7. Portugal pode, tendo em vista a realizagao de uma jus- tiga internacional que promova o respeito pelos direitos da pes- lan Prins fdomentis soa humana e dos povos, aceitar a jurisdic do Tribunal Penal Internacional, nas condigdes de complementaridade e demais termos estabelecidos no Estatuto de Roma. A. RESERENCIAS 1 — Origem do texto: texto sucessivamente revisto. ALC n° 1/62 alterou 3 n° a LC n? 1/92 a LC r° 1/97 alterou os n 1,2, 3e 4) jerou 0 n° 6 e aditos 0 n° 7; por ultimo, a LC n° 1/2008 alterou ‘onst. de 1911, art. 73°; Const. Legislagio: Tratado de adesio de Portugal as Comunidades Europeias; ‘TUE, preimbule e Titulo I; CDFUE, preimbulo. ‘Jutispradéncia: AcTICE, de 0-12-1996, proc. C-268/24 (Republica Portu- .guesa contan Conseiho da Unido Suropsia — Acordo de cooperagio entre a Comunidade Europeia ea Repiblie da india — Cooperayfo para o desenvol- viento — Protec dos direitos hemanos e dos prneipios 4emprsticos — Coo- Deragio nos dominics da energia, co turismo, da cultur, 4 controlo do abuso Ge diogas eda proecsso da proprisdade inelectual — Competéncia da Comu- nidade). ito nacional: o: Ln® 102/2001, de 25.48, (etabelece normes sobre a cooperasS0 1'e os tnbunals pena interacionals pare a exJugoslévia e para Ln" 15/2003, de 15-7 (Regime processual de atribuicao e registo ‘os brasileires); Ln’ 31/2004, de 22-07 (crimes de violagio do dixito 0} TJurisprudéneia: AceTC n® 417/95 (Extradigio/pena de more), 531/98 (is- calizagio preventiva da proposta de referendo sobre o Tratado da Unido Euro- pela), 704/C4 (proposta de referendo sobre 3 Constituigto Europeia) Pareceres: PCR, 1001611981 (Tribunal Penal Inteenaconal/erime de apar- teid/resporeabilidade criminal do estado); 1000621984 (crime contra a prz © segurange da humanidade); 100071994 (crime contra 2 humanidade Tribunal Penal internacional); 1000331999 (estatuto de Roma /Teibunal Penal Intemacio- nal/ratficagdo de convengio); PODS7S1909 (principio da astodeterminagio dos povos/ertiéro no auténore), SA000221994 (convengio europein/dretes do homem/protocolo adicional/ Tribunal Europeu dos Direites do Homem /comis- so europela dos di 1090221994. (com do homer 100033 cagio de cowvergio), POO1241967 (convengio sobre igualdade de direitos e deve- Ey Princo frame tae 7 tes entre brasileros e portugueses); Relztério e Parecer da Comissio de assun- Libendades e Garantias, DAR, Il, n° 13, de 09-12-2000. , Antinio, «A Constituigso M. Barrsta Coe Ho, Portugal — O sistema pottco e constitucional sm demanda cos fundamentos de uma Comunidade jonce Miranna (org), Perspecticns Coxstitucionais, 20 anos ds Conshtuigfo de 1976, Vol. U, 1997, pp. 11-32; CUNHa, Paulo Pitta, «O Tratado de Amesterdio», ROA, ano 58, 11,1998, pp. 1081 ss; DUARTE, Maria Luisa, A Teoria dos poderesimplicilos e a delimitago de competéncias entre a Lito Europeia e's Estados-mentbros, Lisboa, 1994; COMES, Carla Amado, A Nati- Constitucional lo Tralado da Unido Einopeia, Lisboa, 19 ‘na Uniso Europe sobre a formacio de uma comunidade constitucional lusGfona», Al Gmnes, pp. 55 ss; Pines, Francisco Lueas, «A Caminho de uma Cons 27, 1982, pp. 725 ss; 10, «Unido Europeia: Um Poder Pro- itradugio no Divito Constitucional competéneias?», REI, n° 3885, 1995; Ramcs, Rui Moura, Das Conaunidades & Unita fara do Roséria, O principio ta subsiiariedde 8 constitucionais relacionados: aris. "/a, 15°3, 33°-5, 78°-2/d, 2: notas aos arts, & ¢ 9%; nota ao art. 160% estabelece de forma inequivoca e reforga, com 2 autoridede da Lei fun- a ert nacional, do nos direito & autodeterminagio.e.a inde ingeréncla 10s nossos assuntos internos..H ainda um principio impli- ciio no referido preceito, que é obviamente o do respeito pelo direito internacional. ‘Num texto tao enunciativo sé é de estranhar a falta de uma refe- réncia especifica a importancia da Carta das Nas6es Unidas e da Orga- nizag3o das Nagdes Unidas, respectivamente de reconhecimento e como garante institucional dos principios bésicas de direito internacional refe- ridos no n* 1. Il. Todos os conceitos do n* 1 (tal como os dos n® 2 e 3) devem ser interpretadas, em principio, com o sentido que tém no espaco seméntico de onde provém (designadameate o do diteito intemacional ptblico). Isso aplica-ce, inclusivamente, & expressto, do homenw, que nao faz parte do l&xico constitucional em mat (os fundamentais (eft, porém, a expresso «direitos da pessoa humana» do att. 33°8), € que, naturalmente, hé-de ter por referéncia um parimetro intemacio- nal conhecivel por todos os Estados (que poderd ser a Declarago Uni- versal de Direitos do Homem, lids expressamente referida no art. 16°). IIL, No n° 1 a Constituigo da guarida a duas categorias de direi- tos: os direitos do homem e 0s direitos dos povos. A expressio «direi- tos do homem» é aqui utilizada com o significado de direitos dotados de pretensio de universalidade e de dimensio fundadora das comuni- dades humanas. Distinguem-se dos direitas fundamentris porque estes S50 0s direitos constitucionalmente fositivados e juridicarrente garantidos no ordenamento portugués, enquanto os direitos do hemem s20 os direi- tos de todas as pessoas ou colectividades de pessoas independente- ‘mente da sua positivacio jurfdica nos ordenamentos politico-estaduais. ‘A sua insergZo sistematica em sede de um preceito relativo as relacbes internacionais aponta para o seu relevo como fundamento da paz e jus~ tica entre os povos. Além dissc, os do homen formam um sis- tema normativo transpositivo juridico-constitucionalmente relevante no 36 para a interpretagio do cntélogo dos direitos fundamentais consagrados na Constituigao ou inseridos no Tratado da Unido Europeia (cfr. TUE, art. 59, mas fambém para servirem de limite a quaisquer leis positives (a comegar pelas leis constitucionais) mentais de justica inerentes aos cire sdoras des postulados funda- do homem. Por tiltimo, os direi- Principles faamentis tae 7 justificativos da instauracdo de uma xa a punt 0s agentes responsivei direitos (cfr. n° 7 do preceito; TUE, art a de dieitos dos povos. «Pov apenas as comunidades homogéneas. mas também as com tis inchustoas onde vivem minorias nacionais, étnicas, religiosas ou lin- guisticas. No ambito normativo-constiticional de ios pooas cabem 08 direitos das ninorias, ou seja, os direitos dos indivicuos pertencentes (os das minorias propriame: fr. Declara das pessoes pertencentes a atinorias nncio- de 1992) as minorias e 0s di INU referent 3, religosns 0 V. Os n°*2 € 3 contém principios que devem presidir & politica extema do Estado Portugués. Nao sto de modo algum fé-mulas vazias, de relevncia juridica. Como directiva constitucional que é, esta norma exige cumprimento e pode, em cerlas circunstancias, fundamentar 2 invalidade de convencoes internacionais oui actos do Estado que the sejam contrérios. Embora no sejam ordens constiticionais impositi- vas de misses em nome do universalismo dos principi ireitos nelas consagrad3s, elas tém um contetido normativo-consiitucional ine- quvoco, pois ob-igam o Estado portuguds a tomar em consideracao a res- pectiva observancia e respel tica e relagbes comerciais e pendéncia e ao desenvolvimento do n° 1 para 0 n° 3, operada pela LC n° 1/97, pretenceu tornar mais coerente e Igica a conexio destes direi- 10 — 05 povos. Os direitos dos da quarta geragdo» ou por uma dimensio jerados como pré- wterceira dimensio dos disei colectiva que apanta, desde log condigio basica ¢ inaliendvel de ficagao do proprio Est deste direito é um traco caracterizador da abertura e amizade de um Estado ao direito internacional, pois os Estados que nao respeitam o cumpri- mento das pré-condigdes politeas interracionalmente exigidas pelas nagdes aa ae) pos nde civilizadas sao considerados, a face da lei interaciona, como Estados vio- ladores de direito internacional. Existe hoje, no plano das relacbes inter- nacionais 2 de direito internacion: indissoci ‘forma de Estadion e a sua «imagem no mundo» deste direito fundante precondicionador de todo: 0 Estado que no reconhega o di independéncia é sindnimo de «Es «estado ditatorialy, «estado total nizagio, Indonésia em relagio a Timor). O diteito & autodeterminagio no se identifica com di é ‘mas a auitodeterminagio expressa segundo tum procutine duzirse na decisio de livre associagao com outro Estado independente acompanhada de esquemas varios de autonomia. (On’3 hi-de ser interpretado no 36 no sentide do reconhecimento do direito & insurreigio como direito de resisténcia colectiva activa- mente exercida, mas também no sentido de legitimar © apoio de Portu- gal aos povos que lutam contra a opressio. Um aficramento desse prin- ipio esti no reconhecimentc do direito de asilo 20s perseguidas em cansequéncia da sua actividade em favor da democracia, da liberta- (Gio social e nacional» (art. 33°48). Este preceito inclu, também o reconhe- Cimento Fist6rico retroactivo dc direito de insurreigic dos povos afticanos contra 0 dominio colonial portugués e contra 0 dominio indonésio em relagio a Timor (embora este tanha surgido jd depo’s de 1974 mas antes da Constituigao). VIL. Regra particular no dominio das relagoes intemacionais 6 a constante do n° 4, relativa aos wlacos privilegiados de amizade» com os paises de lingua portuguesa, 05 paises da Comunidade de Pat ses de Lingua Portuguesa (CPLP). Ela constitui um dos vectores polt- tico-constitucionais mai 5 no Ambito cas relagbes interna- cionais do pais. Essa direct. prerrogativa constitucional con! dade de atribuiggo aos cidadaos desses paises de direitos néo confer ‘208 restantes estrangeiros, e pela mengio especial no campo das relacbes cculturais (art. 78°-2/d). ‘A referéncia constitucionel a «lagos privilegiados de amizade ¢ coo- peragdo om os paises de lingua portuguesa» é sinultaneamente uma abertura constituicional para a criagao de uma Comunidade de Estados de Lingua Portuguesa (CPLP) e para a radicagio de um estatuto juridico da 2 Princo etn la Iusofonin onde, entre outras coisas, se completa a efectivagse de cidada- em varios aspectos, desde 0s culturais aos econémicos, les politicos e diplomiticos. Q.n® 5, acrescentada pela-segunda.revisio.cor . snsaga.2. decisio.europeia, .favor.do.teforga. da widentidade euro- ios. europeus_em_proluda_paz,.do ‘progeesso.econdmica.e.da-justiga-entre-os-povos», Ela.abrange natt- ralmente 0 acolhi da adesio de Porzugal a5 Comu- nidades Europe’ IX. O.cance tricht (art, 17%, hoje), pelo.q\ die estatios estado_mas_sm_uma.associncio de estados. questio de saber se a Unio Europeia Ambilo do direito internacional a personalidade jurfdica Gependente ca vontade dos Estadcs. O art, 24° do TUE (versio do Tra- tado de Amesterdo) aponta claramente para 0 to da perso- rade juridiea da Unifo Exropein a0 atribuir 2 Unito 0 Treaty making power para acelebracio de acordes com win ou mais estados ou orga- nizagées intenacionais (cfr. Constituigdo Europeia, art. 6°). "\ abertura A. constzusdo.e-aprofundamento.da_unido-europeia representa uma transformacso radical do paradigma de Estado, Consti- fucional e da propria estadualidade portuguesa... arquétipo.do Estado nacional soberano_evolui.para-um-novo-esquema.de comunidade. no necessatiamente reconduzivel.aos_modelos classicos da federacao ou sula dindmice que assenta numa_unido erguida sobre.tratados inter fem que os Estados soberanos ainda sao donos desses tratad a larvar, se aponta_pata-uma.comunidade-consttucional 2a tan 71 Prices fndomeiat dads. europens europeu dolado de con dos tratados internacionais podaré, porém, ser complet ico do constitucionalismo (poder c¢ .ferendo europeu, constituigo europei no momento presente, com 0 p:ojecto da Con: £0 que acontece, igio Europeia. X. O exercicio.em.comum-dos-poderes.necessirios 8 construgao da Unido Zuropeia_esté condiconado. pela a de reciprocidade em virtude da_prépria natuzeza.convenci vos, Neste contexto, a reciprocdade pressupord que as eventuais limi- tages aceites por Portugal pelc exercicio em comin: de fungbes politi- cas «soberanas» (politica externa, politica de seguranca e defesa, politica de asilo, politica monetéria e firanceira) estao condicianadas & aceitagio, pelos outros Estados-membros, dos mesmos limites. A clausula de reci- procidade é constitucionalmente erigida em dimensdo integradora da tegao contum dos Estados da Uniio Europeia, néo sendo inteiramente Iquida a sua compatibilidade com «declaragdes de acgio individual» nos quadras da Unig. XI. C exercicio em comu, em cooperagio.ou.pelas instituigbes da Unio. dos poderes-necessarios &-«construgao.¢.a0.aprofundamenton ca Unido Europeia,pressupoe-o espelto dos principios fundamentals do nt 1/2004, Sexta Revisio const é no art. §*4 (acolhido também pela LC n° 1/2004) quanto & aplicacio nt isposicces dos tratados e das normas.emanadas ido. Eurppeia.—Isso.significa.que .fpios ialmente densificadores do p: o do Estado de direito edo principio. democratico.constituem 2. medida. forma. Fara o-exereicio-dos _poderes em questa... Desde logo, devem 1 de direito, ov seja, 0 cor texto da Constituicio e que censificam a ideia de principios e regras juridicas, garantindo aos cidadios iberdade, igualdade a Prete frdemnts fan. 741 dade da pessoa hi eda justiga (cfr. nota V ao art. 2°). A juridicidade europeia significaré, portanto, que os érgios ¢ instituicées devem, em primeira lugar, obser- var, na sua oiganizacio € funcicnamento, estes principios. fundamento da Unio Europeia esié vinculado & observancia do p pio democritico. Em termos praticos, 0 exercicio do foder na Unio ia deve observar os prinefpios da soberania poptlar, do sufrégio 40 e secreto, da participacao democratice, da autonomia ynal e local e da descentralizagao (eft. nota VI ao art. 2"). Isto centre outras coisas, 0 reforzo da cidadania europeia, o aumento das competéncias do Parlamento Europeu , indirectamente, 0 reforco dos «poderes europeus» dos parlamentos nacionais. XIL_Quuespeito. pelo. principi.da sul iedade ¢ gutra dimen- so juridico-constitucional.condicionadora.do_exeycicio.em,comum_dos «poderes nec construgdo da Unido. Europei nao é porém, isenta de dific. ico-constitucional ele é, em primeiro lugar, um principio de ordenagio politica interna dos Estados-membros da Comuni- dade Europeia. Em termos pragméticos, servira de linha de conduta para fa actuagao das representacdes e delegagies dos Estados-membros no campo das pré-decisées politicas da Comunidade, em dominios que nao sejam da competéncia exclusiva desta (cir. TUE, art. 5. Em segundo luger, o principio tem relev ico-convencional comunitdtio porque é 0 acolhimento de uma norma de exercicio de co poléncia imanente ao(s) Tratado(s) instituidor(es) da Comanidade e Unito Europeias. Neste sentido, o principio condiciona 0 wexercicio em comum dos poderess a dois pressupostos minimo: 2 negativo — as medidas destinadas & prossecugo da Unio Europeia devem ser adop- tadas a «nfvel comunitério» quardo elas ndo possam ser satisfatoria- mente adoptidas e concretizadas pelos Estados-membros; (2) requis positivo — as medidas necessarias & construgao da Unio Europeia podem ser fomadas a nivel comunitério quando elas. em virtude da na extensioe efeitos, tém aqui melhor possibilidade de concretizagio (uregra da vantagemo). a8 Tan 71 Pres fame Em terceiro lugar, como principio jurfdico-constitucional, o princk pio é um: Darreita a urna «subversio» da ordem de tarefes Competéneias constitucionalmene prevista, que, no limite, representaria a violacao do miicleo essencial de distribuigao constitucional de compe- téncias através da completa «europeizacdo das tarefas nacionais» e «esta- tizagdo das tarefas locais e regicnais» Ainda na qualidade de pri ‘dico-constitucional, 0 principio da subsidiariedade tem sentido util articulado com outros principios constitucioxais (princfpio democratico, sobretudo na dimensio de auto- determinacdo, prineSpio da proximidade da administragio dos cida- idiatiedade tem ainda relzvancia no ambito a, restringindo-se o perfeccionismo sservando-se a regulamentacdo con- ias dos Estados-membros ou a outras cretizadorz as in: entidades decis6 jsdrias mais proximas dos cidadaos (re Esta dimensio é sugerida p Intivo & aplicagio dos prin da propor (Declaracao 43, anexa ao Tratado de Amesterdio e, Protocolo anexo 20 Tratado que estabelece tima Constitigde para ariedade e da trio no p 0 cebe, em prin ros termos do respectivo ordenamento constitucional. Embora o art. 5° (0 explicits quanto ao ambito normative do prin- parece recortar-se tr8s eritérios justificativos © carécter transnacional dc ambito da regula- ao; @) a incompat bros com as exigéncias do Tratado quando lesem significativamente os interesses de outros Estados-membros; (3) a vantage. evidente da adop- ria relativamente A actuacio estatal, tendo e extensio dessa medid ses crité- ivo A aplieagho dos princtpic proporcionalidade, anexo ao Tratado de Amesterdo e 20 Tratado de Cons- tituigao pera a Europa), XIE. Deve notar-se, porén, que a revisto corstitucional de 2004 trugio.e aprofundamento da unigo europeia pelas.instituices.da Uniio.. ‘As instituigdes da Unido Europeia (Parlamento, Conselho, Comissao, ‘Tribunal de Justica), embora actiando nos limites da competéncia que os 26 relist last 7 Estados-membras lhes tenham conferido, dispdem de importantes com mas (politica monetéria para os Estados-nembros que comum, uniio aduaneira, a constru- 1) 2 realizagao da coesio econdmica, 50¢! a realizacéo de ui espaco de liberdade, seguranca e justica; (3) & cefinicao e execuglo de uma politica extema, de seguranga e defesa comm. ‘A realizagio do principio da coesdo econ6mica, social e territ ples da tecipracidade, do respeito pelos prinefpios do Eslado de direito iariedade, vincula 0 wexercicio em comum» dos poderes necessirios & construgao dz uniao europea. ‘Como principio juridico-constiticional vinculativo das entidades que, em nome de Portugal, partilhan: o exercicio de poderes, ele tern sub- ieat a Unio Europeia deve orientar-se no sentido social europer. A socialidade supran (0 cha- mado medelo sacial europew) implicaré, entre outras coisas, a articulagéo da politica de convergéncia econdmica e financeire dos Estados-membros (orientada para a liberalizagao dos mercados) com a Carta Social Euro- pela de direitos fundamentais ¢ a institucionalizacdo de uma politica socin! ettropen (através de «funds estruturais», «fundos de coeston, «for- magao profissional», «proteccdo do trabalho», sistema de impostes). Note-se que o amplo catdlogo de direitos econémicos, sociais e cul- turais consagrados na Constituigéc portuguesa ndo deixard de impor aqui uma parlicular atengio 20 efto reciproce entre os direitos sociais eropeus ¢ 05 direitos sociais constitucionalmente consagrados (cfr. TUE, arts, 156° e ss. e CE, arts. 1-220” e ss.). principio .ém um cesenvolvimento harmonioso dentro dos préprios Estados através da redugdo das disparidades entre 0s niveis de desenvolvimento das diversas regides e do atraso das regiGes e das ithas menos fevorecidas, inchuindo as rurai 18). Daf 0 acrescento do incis a twa Principe fren XV. A construgio ¢ poe a convengio do exe necessérios a essa construsio, A Constitui lema.da to da unio europeia pressu- ‘operapio dos poderes OL ede 2004) - anclonal sponta para a nevessidade de ura autorizagao convencional internacional (tratados) ou outra equivalente que implique o consenti- menio expresso de todos os Estados, o que neutralize qualquer tentative de legitimacio de exercicio com base em decisdes Cos drgdos comuni- trios. Nes content af 4 nia se pode tse come uma dda_derrogacio.de.nor- de reserva. decom: peténcia (ex celebragio de acordos ou tratados pela Uniso Europeia derrogatérios das normas constitucionais de aprovacio e controlo de convengées internacionais — CRP, arts. 163°/fe 197-1/i). Pot.isso,-s tratados da UE podem (e devem) ser sujeitos a escrutinio constitucional interno (em fiscalizacas venti tomarem direifo com nitério}-quanto-2-observancia.dos. direitos esiabelecidos neste.pr constitucional (e noutros), 0 que de rest “Baa gubstixuigao for prece ia de referendo, (cfr, art. 295° da CRP). to ‘ado pela revisio extraordindria de 2001, constitui de recepcio do Estatuto de Roma. sula le de renissto global para 0 mnalizagio de todas as solu- ‘des consagradas neste divergentes com as normas da CRP; aberta, pois remete for te para o Estatuto de Roma ¢ nio para 0 concreto la de garaatia da complementa- 1 Penal Internacional taridade que, de XVI A aceitagio ‘usula TPI») fica sujeiia ao principio da ucederd necessariamente.se-a. Princes frets a7 resto, est claramente consagrado no Estatuto de Roma (art. 17°-1/2). jbunal test uma intervencdo subsididria, pois s6 acta quando os fados demorstrarem no querer actuar out forem genvinamente inca- pazes de organizar e promover, eles préprios, a acgao penal. Os «sin- tomas» da nio-vontade de actuar encontram-se também previstos no Estatuto de Roma (0 proceso e dedisao a nivel nacional foram tomados com 0 propésito de subtrair a pessoa em questdo & responsabilidade pelos crimes cometidos; haja demore injustficada no processo, revelaciora da intengdo de ndo levar 0 suspeito a julgamento; parcialidade ou falta de independéncia na conducao do >rocess0, (© mesmo se passa quant tema judicial nacional compete ao préprio TPL judicial das axtoridades nacionais >ara proceder & acglo pena XVIII. A constitucionalizacao expressa, mediante :evisio extraor- dinria, da wdéusula TPl», procurou dar guarida normativo-constitu- contradigo com o principio da soberania j tanciado na reserva de jurisdigSo dos tribunais portagueses (CRP, ars. 1 205° a 209°) e na entrega da investigagdo criminal as astoridades por- tuguesas; (2) as normas de indiviéwalizagdo das penas do Estatuto de Romia em que se consagra a possibilidade de aplicagao da pena de pr- so perpélua 2m manifesta coliséo com as normas cons: i bitivas de tal espécie de pena; (3) es normas do Estatuto de Roma liga~ das & extradigio e entrega de nacionais para julgamento fora do pals, em contradicéo com as normas dos n‘ I, 3 e 4 do art. 37° da Lei Funds- ‘mental portuguesa; (4) as normas neutralizadoras da imunidade de tits- lares de cargot politicos e consagracoras do principio da ireleviicia da qua- lidade oficial (Estatuto de Roma, att. 27°), em desconformidade com #5 normas constiucionais referentes a imunidades e prerrogztivas penais dos titulares de cargos politicos (cfr. CRP, arts. 130°, 157° e 196"). XIX. A realizagio de uma internacional ¢ a aceitagio da jurisdiggo do Tribunal Penal Internacional implica, para Portugal, a assumpgao di obrigagio de cooperagio relacionaca com a realizacao das diligncias de investigagio, com a detengéo e entrega de pessoas, com a execugo das penas de prisdo e com os efeitos internos das penas 219 an Prins fondametais aplicadas pelo TPL. As obrigagdes de cooperagdo implicam 0 dever de os Estados introduzirem nos respestives ordenamentos internos os meca- dores da cooperacao (cfr. Ln® 31/2004, de 27-07, que Internacional, tipificando as concutas que constituem crimes de violagio, do direito internacional humanitario). XX, Se a cooperag3o de Portugal com o TPI esté expressamente coberta ¢ autorizada (mas nao imposta) pela Constituisio, outro tanto néo sucede com a cooperacio nacional com tribunais persis internacionais ad hoe (com 0 da ex-Jugoslavi tribunais especiais, consti independéncia e imparcialidade, afrontam alguns dos principios fun- damentais da nossa constituicao judicial penal. Nao basta a sua criagao pela ONU para os legitimar & face da nossa ordem juridico-constitu- ional. Teta sido necessério uma legitimagio constitucional especifica, como sucedeu com criado por convencio intemacional. Por isso se deve ter como muito duvidesa (para dizer o menos) a constitucio- nalidade das leis que instituiram e regulam a cooperacio nacional com tais tribuncis. 250 Prac fndoments tan stl 1. As normas e os pri i ou comum fazem parte integrante do d 2. As narmas constantes de convengdes internacionais regu- larmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna apés a sua publicacéo oficial e enquanto vineularem interna- cionalmente 9 Estado Portugués. ‘As normas emanadas dos érgdos competentes das orga- nizagies intemacionais de que Portugal seja parte vigoram direc- tamente na ordem intema, desde que tal se encontre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos. 4. As disposicdes dos tratados que regem a Uniio Euro- peia ¢ as normas emanadas das suas instituicées, no exercicio das respectivas competéncias, so aplicdveis na ordem interna, nos termos definidos pelo direito da Unido, com respeito pelos prin- cipios fundamentais do Estado de direito democritico. A. REFERENCIAS 1— Origen do texto: redacgdo segundo a LC n® 1/82 (que aditou o n° 3), a LC n° 1/89 (que modificou @ mesmo ¥° 3) e a LC n® 1/2004 (que acrescentou. ond). nal de Justiga de 1945 (previsto na Carta da ONU ireite Europeu: Legislacio: TUE (Tratado de Roma de 1956 e suas posterores alteragSes); cEDH. 3 — Direiio nacional: Legislaglo LTC, arts. 70%1/i e 71-2; Ceivil, arts. 25° e ss, Jurisprudéneia: existem numeroms acérddos versande o probleme das relagoes ene a direito internacional e ¢ interno. Clr, por ex, 05 AcsTC ne 27/84, 47/81, 62/84, 66/84, 18/85, 158/85, 32/88 © 371/91. Ver ainda © AcTC a 168/88 (sobre a fiscalizagao da constitucioralidade de con- vvengées internacionais). — Ainda 05 AesTC ne 413/87, 281/94 (questo do ci convencional /etras e livrangas); 153/85, 219/86 (normas int tae 6 Prine fendementsie tes enquano tas maclonis sine odie gio ca roge consttuconal de hors» nora convencio Regulsmonto CEE 9° 1787/85 fc Demavalvimento Replonal-~ FEDER) 239/89, 18/90 (C2DH/ncons ‘Sonadadesaperveriente/ cia inferaonelconverconal fing gran. ce do caspaco de pronnn/onbidade do ue gu profer espe de prosincspspor no julgmentfararenigio dae ere) 396/89 (vs TPiconstuonelidadeefepeldade cst internacional comvenional) 185/92 {Contaredace com convengto internacional /telagoes eno eatin © 0 Gn propia dereferenco sobre 0 {TUB} 394/99 (cord de segranye cove como Chie/es posetes de prove. ‘ordem internacional na ordem inte-na/ primado do direitointemacional) 144/92 (9 internacional/primado da fonte internacional sobre a , jo20 Nota, A ondem constitucioral portuguesa e odirto cenuniario, Bragg, 1981; "As relies ca ordem juridica portuguesa como dito interracional ¢ o dirt comm- 985; Casio, Paulo Cane- Pero, «Os prindpios da ar s ito Comparado», OD, 1992, pp. 111 ss; Marmns, Ana Guerra, ‘A Naturezn jurice da Revista do Tataco da Unto Europea, Lisboa, 2000; MeDe1- 106, Rul, «Relagdes entre normas constantes de convengGes inlernacionais e nor- mas legisetivas na Constituigto de 1978», OD, n° 122, Vol I, 1990; Msto, Anté- Fay Pris fo tan er No Babs de Legitinidde demons egies Governamental na Uniao Rogério Scares, Coimbra, 2001, pp. 103 s, _ 1982, pp. Universal dos Direitos do Homem ‘e constituigdo: a ineonstitcionalidade de normas constitucionais?», OD, a f° 3-e 4, Julho-Dezembro 1990, pp. 603619; Patats, Maria Joso, Breves sobre a ineocagio dis nornas das direc Lisboa, 1999; Penna, Anciré Gon de 1976», Estudos sobre a Co vertrag und Landesrecht in 262/83o, ZadRV, 2/1987, pf Margo Rebelo Se, «A adeato de Portugal § CEE e a Con isposigio das directions ‘A tcansposicso das, «doplicabildade directa » primao do Dieito ico, Lisboa, 1984; Ip, «?rotecgao Cons- titucional e protsegio Interacional dos Direitos do Homem: concorréncia ou complementariedade», RFDL, Vol. 3, 13, pp. p., A adesto de Portugal ates Eros. A polis de apelin te do prin do io, Lisboa, 198. 8 — Remissdes: notas a0 art. 277° ¢ no art. 161°/f B. ANOTACOES 1. O_objecto.origindrio deste precsl intemacional pablico (DIP) na ordem primeira revisio constitaciofal, veio recorihe- igéncia das normas emanadas das organizagées intemacionais na ordem juridica interna (n° 3); e, muito mais tarde (revistio cons! tional de 2004, veio regular tambem a aplicabilidade das disposigdes dos tratados qie tegem a Unido Europeia ¢ das normas emanadas das Fy (an. 8) Prins suas instituicdes (n° 4). Pe -guinte, se 9 programa normativo deste preceito se,reduzia.ao-di temé ,-as.duas.revisées.citadas, 500 presstio da integragio-eurofeia, a ser tamtém a recepeio_¢ hierarquia das normas de direito europeu tanto as dos tratados.como.as.do.dizeito ordindrio.comunitirio. IL, No que respeita go dirsito internacional (n° 1 e 2) esta disposi- io constiucionakinio regula (as modalidades, a forma,a competén- Cia eo processo de vingiilagic-intervacional-do-Estado,-que-estae-pre- ‘vistas noulmas disposigdes-constitucionais (arts. 135°/b, 161°/1 1/b e ch:@) validade. eficécia das normas do DIP.nas,relagdes intema- cignaii dc Estado,p ta.de malérias do foro do préprio dieita intemacionaly(6)2s formas e os modos de execusa convengdes que nao Séfam selj-executing, pois que -al mat natural das regtas consttucionais gerais sobre a distribuicao da competéncia legislativa e regulamentar;((d) par sitimo,a_pasicio das ) normas.de direitos internacionais recchidas na_oxcem_internano.sis- je ema de fontes nameadamente em_confronto com.a lei interna, questio que. de resto, nfo enconira solucio expressa em nerhum lugar da CRE HHL. On? 1 estabelece un regime de «cecepcio automiticar das normas e principios de direito internacional geral_que_assim bene8- cam. a ssendo tal direito incor- porado como «parte integrante do direito portugués», sem necessidade de observincia das regras ou formas constitucionais especificas de vin- culagio estadual ao direito intsrnacional (aprovagio, ratificacso, publi- cago). Basta que foctivamente de togras-de disite iuteracional i i, A primeira condigio exclui naturalmente fa regras sem caricler juridico, sejam as normas de moral ou de corte- sia internacional, sejam as que decorrem das chamadas «doutrinas de politica ecterna» (como a «doatrina Monroe, a wdoutrina Hallsteim, a doutrina Brejneom, a adoutrina Bush», etc); a segunda condigéo exclui as normas de DIP que no possuam carécter geral, isto 6, que no pos- sam reclamar-se de qualidade de vinculacdo em relacdo & generalidade dos paises. Normas de DIP geral sao as normas corsuetudinarias («cos- tume internacional») de ambito geral, mesmo que se encontrem positi- versal (Carta da ONU ou a DUDH); prinefpics de s prinefpios funda- mentais geralmente reconhecidos no direito interne dos Estados ¢ que, em virtude da sua radicagio generalizada na consciéncia juridica das Prints fname Tate colectividades, acabam por adquicir sentido normatio no plano do direi internacional (por ex: principio da boa-fé, clausula rebus sic stan proibicio do abuso de direito, principio da legitima defesa). Estas normas e principios do inlegrante do.direitn portugués con-o conteida-e a ztensiia que pos- suem no plano juridica-intemacional, independentemente de se saber se a CRP optou pela teora da transformagio (0 direito internacional tome-se ito internacional néo vigoranco como tal na com a soli ‘ordem interna, como parece prefert ‘sao adoptada para 0 direito convencional (n 2)). O «abre-se» 20 direito internacional geral na medida da dade jurfdicointernacional das normas deste tltimo (cfr. art. 29°-2) 1V. |On°2 estabelece igualmente um regime de recepeao automé- tica mat condicionada, das nommss de DIP convencional internacio- nalmente vinculativas do Estado Po:tugués, ou seja, dos zatados e acor- dos intemnacionais que abranjam Portugal fquer por o pals ser parte rele, quer por ter sido convencionado por uma organizacao interna- ional de que Portugal faca parte tum tratado acordado pela UE com terceiras estados). igdo exige que a convensio tenha sido «regularmente aprovads ou ratificada» (i. é, aprovada e/ou ratificada de ccordo com as regras constitucionais) e terha sido oficial- ‘mente publicada (i. €, publicada ne DR — cl 9-1/8). Sem isso, as respectivas normas nao vigoram na ordem interna, mesmo que vigo- rem na ordem externa e vinculem ¢ Estado (cfr. AcTC n° 32/88). Inver~ samente, as normas de direito intemacional s6 podem entrar na ordem interna se e a partir do momento em que vinculem 0 Estado na ordem externa. ‘Ora, pod: haver normas de CIP convencional-internacionalmente- viggulativas do Estado Portugués que.na_tenham sido publicadas nem «eregularmente» ratificadas, pois nem todas as inconstitucionalidades na formagio de convengées internacionais implicam com a sua validade no plano intemacional. Quer dizer, a constitucionalidade do proceso de formagio da :onvencao internacional, no que respelta & aprovacio e ratificagéo, mesmo que néo seja uma condigio de vulidade das respecti- vas normas na ordem externa, é, cesde logo, condigéo da sua recepeio vilida na orden intema. Em todo o caso, preenchidas as duas condigées referidas, as rormas de DIP convencional, vinculativas do Estado Por- tuguis, vigoram como tais — isto 6, enquanto normas de DIP — na order = tae 64 Princip furdamonae interna, nes mesmos termos € com a mesma relevéncia das normas cria- das internemente, e sem necessidade de serem straduzidas» ou transcritas Note-se que hi m mativo — os chamados tralados-ontrato que se limitam a regular as rela- ges contraluais concretas entre Estados, sem qualquer relevancia directa na ordem interna —, bem como outras que, ainda que com card normative, se limitam também as relagdes externas dos Estados envi dos, sem nada terem que ver com a ordem interna, O problema da recepgio ¢o direito internacionel na ordem interna, bem como o da rela- do com 0 direito interno (ad:ante referido), 56 tém relevancia aut6- oma no caso das conveng6es internacionais capazes de produzir efei- tos na ordem jurfdica interna, V. E importante a frase ‘inal do n° 2, segundo 0 qual o direito intemacional convencional vigora na ordem interna apenas enquanto vin- cular 0 Estado Portugués. Isto quer dizer que as normas de um tralado ou acordo s6 comecam a vigorér na ordem interna no momento em que principiam a vincular internacionalmente 0 Estado ¢ cessam de vigorar quando deixem de obrigar internacionalmente o Estado. Por isso, as normas de DIP convencional, mesmo apés a sua ralificagio ou aprova- lo regulzres e a sua publicago no DR, sé entram em vigor na ordem interna portuguesa a partir de momento em que comecem a vineular internacionalmente o Esiado. Znquanto isso nao se der, falta o pressu- pposto essencial da recepsao: a existéncia da prépria norma de DIP a ser recebida. .De igual modo, quando por qualquer moivo, o tratado ou o acordo deixa de valer ou de ter eficdcia na ordem extema (dentincia, ssa também, aulomaticamente, a vigéncia das suas intema, sem necessidade de qualcuer acto legislative interno. Ponto questiondvel é 0 de saber o que sucede quando as nor- mas convencionais tenham sido «traciuzidas em le. interna. VI. A Constituigio abrange, sob a designacia genérica de con- ven¢ae internacional, dois.tipos diferentes.de instrumentos ==0s trala~ dos e 0s zcordos —yque.correspondem, respectivamente, as figuras de «traiacios solenes» @ «tratados em forma simplificade», correntes na lite- ‘a terminologia na doutrina e nos textos de ratura de DIP. De re direito intsmacional esta longe de ser uniforme. Corentemente, o termo tratado é « designagio genérice, havendo depois uma série de designa- Pristis fu 7 tan Ges especiticas para certas espécies de tratados: «acordos» (sobre assun- ;cnicos oude execusio de tratados), «conven fados multi- Iaterais de conteido normativo), «pacos» e ecartas» anizagées internacionais, entre outros), «protocol sididrios de tratados principais), ete ‘A Constitiicio nao define, ela mesma, a distingao entre as duas 6 importante, dada a diferenga de regime aque estéo ambém nao é de grande valia o -ecurso ao DIP ppara saber em que casos ¢ que as convengdes devem assumir a forma de tratado solene e aqueles em que basta a forma do acordo ow tratado em forma si : (tonomia das dades, ¢, no caso de nio ser possivel recortar uma distinggo material entre «tratado» e «a@rdon, ha que ter em conta, desde logo, 03 critérios mate- ais expressamente indicados no art, 161°/i. O advérbio de modo adesignadamente» sugere que 05 compromissos intemacionais relativos a aspectos polticos nucleares do Estado e da Repiiblicc em relacao a ‘outros Estados — participacio em organizagées intemacionais, amizade, pi, defesa, recificacio de fronteiras, assuntos militares — devem obser var a forma de tratado. Note-se que relativemente a algumas des- tas matérias a AR participa de forma directa ou indirecta na «politica externa» (ex: antorizar e confirmar 2 declaracao de estadc de sitio, aulo- rizar a declarer a guerra e a fazer a paz, apreciagio da aplicagio da declarago do estado de sitio ou do Estado de emezgénda). Em segurdo lugar, hd que ter 2m consideracdo a reserva material de competénciz. Depois da revisio constitucional de 1997, nao se impoe a forma de tralado para assumir vinculages intermacionais em matérias, da competéncia reservada da AR (a ndo ser quanto as matérias especi- ficadas no préprio art. 161°/i), mas toma-se obrigat6ria a aprovagio, por esta, de tatios os ncordos normarives incidentes sobre essas mesmas ‘matérias. O pincfpio geral da auloromia das partes na eeigao da forma convencional aponta para a flexibilidade da forma desde que nao se perturbe a separagio e interdepencéncia dos poderes nem a estrutura funcionalmente adequada dos érgéos do poder politico. Mais importante que a forma 6 participagio da AR nos «negécios estrangeiros», conven- cionalmente positivados, conduzidcs pelo Gover. Em terceino lugar, ndo est exchtido que o Governo decida subme- Basta que o Governo «entenda submel W=Canam=t lanes Pris dames © aprovacio da AR esses acordos por julgar politicamente desejével a co-responsabilizacdo da assembleia representativa. ‘VIL. A aprovasio das convengées (tratados ot acordos) compete, conforme 3s casos, ’ AR ou ao Governo, cabendo aquela de forma exchu- siva (a pertir da revisio de 1997), desde logo, a aprovagio dos trata dos e dos acordos que versem matérias da sua competéncia legislativa exclusiva (cfr. art, 161°/i), bem como a aprovacio dos acordes sobre as matérias mais importantes politicamente (¥. atts. 16:°/i e 197-1/c). Os tratados precisam da ratificagda do PR (art. 135°/4), sendo de notar que esta é um. acto livre (salvo a sxiggncia de referenda do Governo), a0 contririo do que sucede com 2 promulgacéo dos diplomas legislativos (cfr. art. 136"). Por sua vez, os acordos nao carecem de ratificagao, mas ‘5 respectivos instrumentos de aprovacdo — os decetos do governo & as resoluces da AR, conforme os casos — também precisam da assi- natura de PR (art. 134°/t), a cual, naturalmente, tal como a ratificagso dos tratados (e por maioria de razio), pode ser livremente recusada. vit. /As normas ce DIP xigoram na ordem interna comamesma Ancie_das normas _desde logo quanto a § inconstitucionalidade no podem ser aplicadas pelos tribunais a sua inconstitucionalidade pode ser declarada, com forca ol ‘e,no s2s0 de normas convencionais, bém sujeitas a controlo preventivo da constitucionalidade vista organico ou formal (act. 277°2). Compreensivelmente, 0 facto de o Estado na poder cumprir as obrigacdes intemacionais a que se comprometeu por via de convengio, por motivo de inconstitucionalidade desta, nao 0 exime da responsabi- lidade in:emacional pelo mesmo incumprimento, pois, segundo o DIP, ele no pode, em prinefpio, invocar 0 seu dizeito in:erno para nao cum- Pisoni tance prir os tratados. Uma de duas: ou o Estado se desvincula, podendo, da convengao interacional em causa, ott altera a Constituigéo no sentido conforme as osrigagBes internacionais. Daqui deriva a importancia da fiscalizagio preventiva das convencées internacionais, para prevenir 2 consumagio de convengbes internecionais inconstitucionais. O que é evidente & que a vinculagdo internacional por ima convencao descon- forme com a Conslituigéo néo pode valer como revisio ou derrogagio indirecta desta. TX. Omissa é a Constituigéo sobre as relagées.entre 9 DIP recebido naondem intenaeo pripria dircite ordinétia interno. E, todavia, trata-se de uma questio eminentemente constitucional, ois incumbe & Constituigdo, como lei fundament de cada espéce no sistema de fontes de art. 25°, ea Constituigio francesa, att (que preencher a lacuna de acordo com as regras de integtagao perti- nentes. Em termos sumérios, a.questia consiste em saber se as normas de direit nacional ig tica_A_da_lei ordinaria interna, ou sedispiem-de-valorsuperior. Obviamente, >asta que aque- Jas nao tenham valor inferior & norma legal para que, em prinefpio, elas, derroguem (ou prevalegam sobre) as normas de lei interna anterior que as contrarie, or aplicagio directa do principio de que a lei posterior derroga a anterior. Mas $6 se Ihes for reconhecido valor superior & lei interna, um valor supra-legislativa, 6 que elas podem prevalecer sobre a lef interna posterior, de modo a tornar invélida ou ineficaz a lei que venha contrariar uma norma de DIP vigente na ordem interna. Na medida em que o direito internacional recebido prevalega sobre o direito ordindrio interno, este nfo poderd contrariar aquele, ficando 0 Estado impedido de validamente editar normas que sejam disccepantes com as de direito internacional, enquanto se mantiver a vinculasdo do Estado a ‘estas normas internacionais (0 que, no caso de normas de direito inter nacional geral, no depende sequer da vontade do Estado). O tinico meio de fazer cessar a vigéncia dessas normas na ordem interna sera a desvinculagio externa. Quanto 20 direite intemacional geral ou er, por tura_entendes.se que.a iGrmula «fazem parte integrante do direito pax tuguése.(n?-1} aponta implicitamenle_para_a supremacia das suas. normas normas intemas anteriores ou posteriores... Existemm mesmo tans" Prins damensis comum constituem mesmo um fi sob pena de ilegitimidade (pelo menos politica) das normas porventura contrariassem tais normas e principios. De facto, nto sia reclamar legimidade em termos de Estado de direito democré- de acgio internacional. Quanto ao direito internacinal-canvencional, a parte final do n? 2— «... vigoram na ordem intema,.. enquanto vin- ccularem interacionalmente o Estado Portugués» — também tem sido por vezes invacada nesse sentido, pois se uma lei viesse alterar ou revogar na ordem interna as normas de DIP, este deixatia de vigorar na ordem intema, apesat de continuar a vincular o Estado na ordem externa. Mas co argumerto esti longe de ser secisivo, visto que aquele inciso pode ser interpretaco no sentido de-estabolecer uma simples condigio necessaria, ‘mas nao suficiente, de vigéncia intema.do.direito internacional, A-ques- ‘0-€ tudo menos pacifica.na.dontrina: mas a tese da primazia do.cireito internacional, como principio geral,-parece-a2 mais corsentanea com a filo- sofia constitucional em matéria de-celagies internacionais,(ver art. 7 € respective anotagdo) e tem. a.seu. favor alguns indicios formais.nao.des- piciencos ainda guie-de pouco-peso (como é a ordenagao dos varios ins- trumentos normatives no art, 119°, onde as converges surgem logo a constitucionais, precedendo as leis ordindtias, e no art. 27°, (os, mas nao os acordos internaciorais, vém indicados antes dos diplomas legislativo:). De qualquer forma, por mais indicios ‘que possem carrear-se a favor da primazia do dieito internacional sobre Oo direito interno (ineluindo as 2asuaafimecio sempre sit -é motivo Note-se qu lade paramé- wien do dais test donal, loader para.o.TC. de.«deci= s0es.dos iibunais que recusen.a.aplicagio de norma canstante.de acto legislative com fundamento.na-sua contrariedade com..uma conven¢so ’). Todavia, bem vistas as coisas, tal e jut 2), 0 que confere , na circunstancia, a vralece ou no sobre a norma de direito recurso é «restrito as questdes de nature "dico-intemacionaly implicadas no caso ao TC justamente a comp norma de DIP em causa 20 Princ fdas Tanto) intemo com ela eventualmente desconforme. A questo permanece pois aberta A douttina e a jurisprudéncia, ainda haveré que indagar se a referida primazia 10 vale em termos gerais e absoluto:, qualquer que seja a natureza das normas envoloidas, ou se nao ser de estabelecer qua- lificages consoante a modalidade de direito intemacional envolvida (direito comum, tratado, acordo, natureza da norma de direi arse pouco consenténieo com o sistzma constiticional de fontes que, por exemplo, uma clei de valor reforgador (arts. 112%3, 280°-2/a e 281°-1/8) tenha de cedet perante um simples acordo em forma simplificada, que nem sequer precisa de ser aprovado pela Assembleia da Repiblica. X. A nbertura ¢ a amizade relativamente aos princfpios reguladores das relagbes internacionais (att. 7) e 5 normas do di (art. 8° sdo de particular relevineis quanto ap_prablemé da eficécia.do iamente aniquiladoras ‘dos di direitos «impezas émicas»). Se os Estados amigos» do direta imperative internacional. consideram.existic-nor- ‘mas legitimadoras, de intervengOes internacionais.noambito das Nagdes Unidas, parece légico que eles aceitem a validade-e vigéncia destas.nor- ‘mas no_imbilo intemo, mesmo.como_limiie da_poder canstituinte-dos Estados. do homem e dos povos (gent XI. Havendo de coneluir-se pelo principio da primazia do direito internacional sobre o dizeito ordirério interno, nao é evidente qual 0 ‘contra uma norma de direito inte-naciot portuguesa que deva prevalecer sobre tender-se que se trata de uma inconstit norma de direito internacional, a nerm. mente o princfpio constitucionel (apesar de apenas implicito) da pri- mazia daquele, lesando assim também a Constituigac, 20 menos de forma mediala («inconstitucionalidade indirectan). "Mas a verdade € que a norma interna que infrinja ama norma de direito internacional apenas viola o principio co: wal da primazia do direito interna- vigente na ordem Na verdade, poder Pa itucionais de hierarquia ou ificada pela Constituigao 10 da desconfor- midade ds leis com os estatutes regionals ou com at leis de valor refor- ado), ‘Tratar-se-ia, portanto de uma modalidade especifica de descon- formidade normativa nao integrante do conceito de inconstitucionalidade, mas antes equiparada aquela modalidade de ilegalidade por violagao de leis dotadas de supremacia sobre Durante muito tempo, a doutrina dividiu-se a este propésito, 0 ‘mesmo sucedendo com a jutisprudéncia, com uma cas seccdes do TC a considerat essas questdes come questoes de inconstizucionalidade (indi- recta), enquanto a outra secglo adoptava posicdo justamente inversa. I Gbvio que a qualificacdo do vicio tinha interesse prético, sobretudo para efeitos de saber se aquele Tribunal podia conhecer dessas questdes, pois, nos termes dos arts. 277" e ss., ele 36 conhecia da inzonstitucionalidade cou dos casos de ilegalidade ai mencionados (onde se ndo contava, ¢ continua a nao figurar, a desconformidade das normas internas com ido) O problema subsist .0 depois da 2° revisdo constitucional (1989), pois embora o TC passesse a ser competente para apreciar a ile- galidade ce ladoras de leis efargadas, a Constituicio continua a no do TC para se ocupar dos conllitos entre o direito smo. Mas a LTC, na redacao que lhe foi dada pele LO n° 85/89, de 07-09, veio estabelecer, sem margem para diividas, que se no trata de um problema de constitucionalidade, mas sim de um problema especifice de desconformidade entre normas infra~ constitucionais, que esta sujeito a um regime especial de fisc 56 em pequena parte coincidente com o da fiscalizagao da const nalidade. A LTC faz-lhe aplicar com algumas adaptagées o sistema de fiscalizagéo concreta da constitucionalidade (arts. 7C°-1/i e 71°), ao pre- norma legislativa (mas no outras normas) com fundamento em des- conformidade com convencio internacional ou das que a apliquem em divergénca com 0 decidido pelo T Portanto, a solugao judici ,equiparada a fisealizagao de certos tipos de legal sada). Semuma causa o tribunal recusar a aplicagao de norma de direito intemo por violagio de norma internacional, s6 haveré recurso para o TC Pris fdas tee) no caso de se tatar de norma le a decidir as questées envolvidas (LTC, art. 71° 2 desconformidade concreta das normas em litigio. Assim, no célebre caso do art, 4° do DL n° 262/83, relative & taxa de juros de mora dzs obrigagoes rias, hoje 0 TC 10 caso concrelo de saber se a norma legal no caso era cu nao desconforne com a norma internacional, questio que permanece ra competéncia dos tribunais comuns. Por iiltim, nao se tratando de inconstitucionalidade, também nao pode haver fiscalizasao preventiva nem fiscalizacBo abstracta da des- conformidade de normas internas com normas de direito internacional. XIL O.n'3,.que foi acrescentzde na primeira revisio const nal (LC.n°-1/32),-na-perspectiva.da.adestio & entio CEE (que viria concretizar-se Irés.anos.depois),.coloca.a questo das. normas emitidas por organizagSes_internacioy (no apenas da UE). Trata-se aqui sobretudo das organizac rnacionais de inlegracfo (nomeadamente as comunidades europei fambém das organizacoes internacionais de cooperagio, na mecida em que disponham de poderes normativos face aos Estados-membros. A present disposicao constitucional deve ser conjugada com as do art. 75 e 6, ra redaccio da terceica (1992) e da sexta (2004) revisbes, constitucionais, que vieram estabelecer a cldusula da partitha de pode- res necessirios @ edificagao da unizo europeia. Trata-se aqui de expli- Gitar uma das consequéncias juridicas (porventura a mais importante) da adesio a uma organizacio dessa netureza, a saber, a submissdo directa e imediata as normas dela emanadas (regulamentos, directivas), nos ter ‘mos dos respectivos tratados constitutivos (cfr. plada pela Constituigéo — vigoram directa- lan Praline nating sta. aprowagio.ou-ratificacso-por qualquer éygio da Estado, sia sce no_jornal oficial. {mas devendo-o ser no emacional de que elas emanam). E a aplicagi a intemacional ordinario, comum ou convencional (n° I e 2), com a dife- renga de cue aquelas nao carecem de nenhum acto interno de aprova- gio ou ratficagio. Isso levanta problemas delicados de az © poder legislative interno, sobretudo se as normas comuni rem versar matéria de reseroa de lei parlamentar, pois, chamada a confirmé-las (como sucede no c: .cionais que versem matéria da sua compet ada a delegar tais poderes (cor 0s). jo menos duas condigfes para.que esta eficécia wreanizacSes esupranacionais» se oper na ordem intema: @-que isso «se enconize estabelecido nos respectives tratados constitu- fivos»; (que 26 normas emanem dos «érgios ecmpetentes» dessas ongenizagses. Ge qualquer dassas cordigées Talla, as norinas nao se tamitam a ser invélidas; nem sequer tém condicdes de vigorar em Por- tugal. A primeira condigio é sobremodo importante: sé existe legislagao de organizacies internacionais cue se importa directamente aos cidadios dos Estados-membros, se estes se obrigaram a isso, ao constituirem ou aderirem 4 organizagio, ou seja, desde que e alé ao porto em que o tratado constitutito da organizacao preveja tal poder normative, bem como a sua aplicagio directa na ordem interna dos Estados-membros, dico-conslitucional_port i alte- ragGes.coastitucionais desde + orjgem.da CRP, Ee deve ser lide. de forma conjagada e sistemti irl 101 ‘do projacto- da Consii- tigdo Europea («A C. odes Euro- 0 direito dos Estados-membros»). Na verdade, esse preceito do project da Constituigao europeia limits-se a verbalizar um principio bésico do diteito constitucional europeu, desde cedo desenvo vido pelo TICE em 268 Princ amen tanert varios acérdaos que ficaram célebres. Neste contexto, quando a Cons- Lituigio. portuguesa. estabelece que-es-disposicées.dos,Tratedos que regem a Unio Buropeia e as normas.emanadas.das suas institvicies, no.exer ~Ciéio das respectivas competéncias,-sio.aplica nos termos definidos_pelo dizeito da is ‘flay dos tratados, bem.como.as_narmas emanadas. europeias, prenalecent.sobre-as-normas-de.direito-inte icdo-(pois_a_norma_do_direito constitucional € dup’o: (1) em primeiro lugar, localiza a dda Unido e o diteito interno no plano do dlireito constitucional portugués, podendo dizer-se que a aceitacao do pri juridica da Unido resulta de uma «decisio constituinte» do povo portugues, formalizada numa lei de reviséo nos termos cons- titucionalmente previstos; (2) em segundo lugar, 2o inserir, por reenvio para o direito da Unido, 0 principio do primado do direito da Us idicos relacionados com timagio, através do referendo, do projecto ce «tratado-constituigao», bbem como o problema eventualmente suscitado pela fiscalizaco pre- ventiva do mesmo tratedo. XV, A insercio do prineipic do primado do diteito da Unito mulacio algo. sibilina —— «nos. fermas.deli- direito-da-Unido» —imalica.que se-recorte-com rigor.0-sen- idica desse primaco. O reenvio expresso do art. 8-4 para o direito da Unio significa que nao é uma boa tess de interpreta- gio conforme & Constituigao falarse do primado do deito da Unio (como fazia ajurisprudéncia do Tr iga das Comunidades e uma significativa parte da a europefsta), com base exclusiva no iprincipio do primado do direito da perante 0 dircito dos Estados-membros»). Por outro lado, o recanheci- mento de queé ao direito da Unido que cabe definir os termos da apli- ‘cagio das normas dos tratados e das demais normas juridicas emanadas ddas suas instituigbes aponta para a relativizagao do primado, isto é, para a colocagao do principio da prevaléncia do direito da Uniio no apenas como refrac;o da autovinculagéo dos Estados, mas também como uma especifica manifestagao de competéncias proprias da Unido. Py tate Prints foment A articulagio do primado do direito da Unie Europeia «por forga auténoma» do ordenamento europeu e por wforga de sribuicao de pode- por parte dos Estados («principio da atribuigao de com- explicar, desde logo, que o primado 4s normas dos tratades e 4s demais nor- mas adoptadas pel: fgdes europeias no exercicio das suas com- peténcias é reconhecido um estatuto juridico de primado ou de preva~ lencia, Se, em virtude do principio de atribuigéo, a Unio s6 actua nos limites das competéncias que os Estados-membros Ihe tenham atribuido, isso torna inequivoco que néo se pode falar de primado do direito da Unitio em dominios fora destas competéncias. XVI. primado do direito da Unitio Europeia sobre o direito interno des Estados-membros continua a ser ertendido (na sequéncia de uma reiterada jurisprudéncia do Tribunal de Justa das Comunida- des, que zgora é elevada a «interpretacdo auténtica» nas Declaragdes relations a disposicées da Constitvigfo, constantes do Acto Final da CIG de 25-10-2004, 20 dizer-se na Declaragao (art. 1-6): «A Conferéncia cons- tata que o art. 16 reflecte a jurisprudéncia existente do Tribunal de Jus- tiga das Comunidades Europeias e do Tribunal de Prim como uma regra de colisao reconduzi europeu (pre-emption, Vorrangsanwend remacia normativa evertualmente conducence & invalidade do interno. Esta ideia de aplicagéo preferente esté, de resto, em ia com a méxima da prevaléncia do direito federal perante 0 dos estados integraciores da federacéo, na interpretagao que hoje jada pela doutrina. A tradicional prevaléncia do direito federal em relago ao «direito dos Estados» distingue-se da ideia de superioridade normativa da Constituigao relativamente ao direito infraconstitucional, Anorma de colisto do primado das normas dos tratados é fundamen talmente uma norma de salvaguarda de competéncias e nao uma wordem de valores» superior s constituicées dos Estados-membros. Por maio- ria de razdo se deve transferir 9 principio da aplicacdo preferente para uma estrutura politica que nao é um Estado Federal mas uma Comu- nidade de Estados independenses, XVU. 9-primado do direito.da.Unio,.nos_termos definidos no 26 Prints onda ios fundamentais do Estado-de © principia do primado do direito da Unido esté limitado por um, = ios fundamentais do Fstado de, um. cenii ds ten, da_estadualidede (Estado), ju cidade edade Eade de ional) fandament Entre.os-princ’pios.do-Estedo s¢, desde logo,.o.prineipio,da Poe ns éovidente a go salvaguardar soment . ad. de dio democrcsfa nora ce. CRE. no de direito da UE incompativeis com principios constitucionais que estio protegidos contra a prépria revisto constitucional, a norma do n° 4 no afronta 0 niicleo minimo de protecyio da independéncia nacional que 6 justamente o primeiro dos tais limites materiais. XVIIL. A regra de colisio constante do art. 8°-4, traduzida na acel- tasio (por reenvio) do primado dos tratados que regem a UE e das demais normis emanadas das suas instituicdes sobre c direito interno portugues, sugere uma prevaléncia externa de todas as normas da Linifio, independentenente da dignidade do seu contetido. Taco 0 direito da Unido — constituigao, tralados, leis, egulamentos, ou soja, todo o cha- mado «direito priméri curdério» — exguer-se-ia a «bloco de constitucionadade e de legalidade» parametricamente vineulativo do direito interno dos Estados-membros. Este primado global no. facil mente compagindvel coma prOpra idea de Estado Ci ‘em fodo o set rigor..o principio. do primado justificaria a prevalénda,de ‘uma qualquer le} ou regulamento.da Unido sobre normas constitucionais internas, desde que se_tratasse-de-normas-emanadas-no-exereicio-das respectivas competéncias. Esta, concluso.s6 poderd aceitar-se se a ideia 20 tarot Princip framers do_primado.de_torio.o.direito.da_Liniao for.configurada, em. primeir ar, como aplicacio unitéria do direito da Unio, informada pelos prin- cipios.da justiga-e-da_igualdade (de todos os cidacaos da | XIX. A aplicabilidade das normas emanadas das instituigies euro- ias na ordem juridica portuguesa far-se-4 nos termos definidos pelo da Unido. Além do problema do primade de aplicagio (cit, anotagées anteriores), coloca-se aqui a questio de saber: (1) que tipos de actos normativos existem na Unido Euro} evropeia, reg termos do projecto da Constituigao Europeia, zada como um acto legislative de ca: 1 seus elementos e directa im acto legislativo que vincula todos os Esta- fos quanto ao resultado a aleangar, deixando, no éncia para a escolha da entanto, 28 order forma e dos meios. regulamentos no direi tivo de carécter geral, um acto normativo secundério, destinado a dar execugio a dis- posigdes da Constituicgo Europeia e aos actos legislativos emanados das instituig6es competentes da Unio. Pode aproximar-se na sua apli- cabilidade quer da lei europeia — obrigatéria em todos os seus ele- mentos e directamente aplicéveal em todos os Estados —, quer da lei-qua- dro europeia, vinculando os Estados quanto aos resultados a alcangar e deferinde a competéncia as instancias nacionais quanto escolha da forma e cos meios. XX, A aplicabilidade das normas da Unido na ordem juridica por- tuguesa, nos fermos definidos pelo direito da Unio, suscita ainda a dificil questo de saber se o direito da Unio faz parte da ordem juridica por- fuguesa segundo o direito internacional ow segundo as modalidades do 8 =“ tan oT A insergao sistemética, como se deduz da epigrafe, direito internacional, mas 6 claro jue a8 normas nais europeias am, hoje, no portugués, a posigio das normas convencionais internacionais, cuja incorporagio e eficécia so determinados pelas normas cor: ais internas (eft. anota- ‘goes VIII, IX € XXVL a este artigo). A natureza supraconstitucional, e no meramente internacional, das normas da Unio, traduz-se logo no facto de a hierarquia, aplicabilidade e ob-igatoriedade destas aormas ser uma questio jurfd:co-constitucional eutopeia e néo uma exclusiva questio, jutridico-constiticional nacional, coro acontece para as convencies inter- nacionais, XX. No.saso.de.existéncia de conflitos entre as normas europeias ¢.05_principics.constitucionais do Estado de direito democratico portu- _gués, caloca:se.o.problema.de-saber-a-quem- yue-pertence.a.rilkima Ppalavra quanto & ponderacio destes princ{pios num senido,conforme. jo bésico.do_direito. ca Unido. seja 9 0 Tribunal de Justiga da Uniao Euro- Gonstituigso,.Embora.o_pri de reservar-a.um.tinico. Tribunal do dire iderada como_«condicas ci Buropeia»), pode justificar-se.que,-em_sede de colisae.e_ponderasio “Ge_principios constitucionais.entre-ordens.constitucionais.nfio_hierar- quicas — ordem constitucional eu:opeia e ordem constitucional portu- guesa —, nfo se possa considerat_a colisao.de_prineipios como.uma simples questio prévia.a_colocar. perante.o. Tribunal de.Justica da Unido. ‘A questiio deve obrigar o Tribunal de Justiga a obler pareceres ou decistes interpretativas por parte cos érgios jurisdicionais a quem cabe a tiltima palavra quanto a interpretagao das normas consiitucionais inter- ‘nas. Esta solugdo (a tomar em corsideragao de lege fererda) coloca pro- blemas de competéncia e de processo, a resolver, quer em sede europeia, quer em sede dos ordenament ios Estados-membros. a de uma via tipica de interconstitucionalidade ou do cons ‘urios nfveis que agora se comeca a desenhar com mais nit juridico da Unito Europeia. Q.problema.é-tanto.mais.complicado-quanta mais se acentua 0 conflito.entre-«guardides-das-Constituigdes».—Em rigor, o «gua:difion dos princfpios.do-Esiado-de-direitc-democritico é, i ‘outros ardido.da ‘Tribunal de Justiga da_Uni3o (ano Prin fants Europeia,-a.qual é competente para decidir, a titulo prejudicial, sobre a interpretacio da Consttuicio Buropeia 2 consequenlemenle, Sobie 0 jas sobre.as_normas.dos Estados-membros. dee tribunais em problemas de inierpretacio, ‘Yarquia ente os fribuinais europeus e 8 trib de cooperagfo_ent sdicionais nacic a quer da Const- tuigéio Europeia). Até porque uma norma europeia.contcéia. aos, prin- cfpios do. Estado de direite consagrados-nas.constitui transporta uma_dupla maldade intrinseca;.(L).6.inca lagdo das regras_e principios do estado de_direito_constituci conformado; (2) @ inconstitucional por violago do sréprio direit ‘Gniao, pois este stem prelerticia de aplicacdo quando nao agredi 6 principios do estado de direito_uridicamente constititives GOs ore mentos constil Soo ito em analise signifi pode servir de absticulo A vigéncia e aplicagio daquele na ordem interna. Isso quer dizer desde logo que o direito di UE nao pode ser declarado incorstitucional nem desaplicado por alegada inconstitucio- nalidade ou por qualquer outro tipo de desconformidade com normas de direito interno (leis organicas, etc.). Nem 0 Tribunal Co nal nem os demais tribunais podem julgar sobre a confarmida normas com a Constituigio ot. outro instrumento de direito interno. Sob esse ponto de vista, a primazia do direito da UE traduz-se na sua a le face ao sistema constitucional de fiscalizazio da constitucio- eda «legalidade reforcadan. A norma do art. 8°-4 implica por- ‘uma derrogacio das normas constitucionais de garantia da Cons- (oem relagdo ao direito comunitirio, nao valendo para este a norma do art. 277%1 da CRP, segundo a qu: ormas que infrinjam o disposto na Const signados». ‘Questio especial é a que tem a ver com as normes do direito interno destinadas a implementar o direito da UE, designademente as normas de transposigi de directions ou das futuras «leis-quadro» da UE (na termi- nologia de tratado constitucional europeui). Na medida em que se trate Princip fundamentals law 1 de uma competéncia vinculada, entio parece que também essas nor- ‘mas intemas se tornam imunes ao escrutinio do sistema constitucional de garantia da constitucionalidade e da legalidade. De outro modo ficaria frustrado o alcance da regra 4a primazia, pois o direito da UE, vver-se-ia impedido de aplicacao na ordem interna por motivo de incom- patibilidade con a Constituigso. Ha que ter em conta, porém, que a transposicéo de directivas ou de leis-quadro, embora se trate de uma ia vinculada, comporta alguma margem de discricionariedade do «legislador intemow no recorte material das normas, podendo dizerse que as normas inclufdas em stransposicbes» para ld do regime norma- tivo das directivas estio sujeitas ao tegime normal de cortrolo de cons- titucionalidade OUI. A outra dimensio da grimazia do direito da UE consiste es que sejam incompativeis com o invalidas ou, pelo menos ineficazes e inapl os tribunais nacionais devem considerar inapli incompativeis com nomnas de diteito da UE e devem desaplicar as normas posteriores, por violagao da regra da primazia, Eventualmente, poderdo enviar a0 TJCE as questies de interpretago e de validade do direito comunitario, nos termos previstes nos tratados (questio prejudicial), Mas uma vez. escla- recidas as quest0es de validade e de interprelagio das ncrmas comuni- tras, s6 hd que as fazer prevalecer ssbre o direito ordinario interno, sem escrutinar a sua conformidade com a Constituigao (cfs. anotagdo XVI). 2OMV. importa notar que o principio da primazia s6 vale para as normas do dimito europen vigentes na ordem comu (tratados ratificados, regulamentos ¢ directivas aprovados pelos érgéos compe- tentes e publicados, etc). Tal no 6 ¢ caso dos tratados antes de seremtrati- ‘Fieados, que nio s6 no gozam de qualquer primazia sobre a Constitui- ‘gio nacional, como podem (¢ devem) ser eserutinados quanto a sua conformidade constitucional, nao podendo o Estado ratificar um trax tado que conterha normas incompativeis com a Constituigao, a nao ser que esta seja previamente modificada, como de resto tert ocorrido em varias ocasibes, designadamente na revisao de 1982, para permitir a adesio & CEE, xa revisio de 1992, para permitir a ratificagio do Tratado de Maastricht, e, na revisio de 2004, para permitir a ratificagdo do tra- tado constitucianal europeu, entretanto no concretizada, m Desee ponto de vista, antes de terem sido ratifieadas, os tratados que regem a JE nao diferem de outros tratados intemazionais, podendo ser submeticos a fiscalizacto preventiva e considerados inconstitucionais. ‘Asua primazia 56 comeca quando efectivamente passam a ser parte da ‘ordem jurfdica da UE, passando entao a gozar ce imunidade face & ordem constitucional interna. importancia acrescida da fiscaliza~ Ho preventiva da constitucicnalidade desses tratados. Nao sendo ela constitucionalmene obrigatdria, nem por isso deixa de ser politicamente imperativa, para impedir a ratificacao de tratados desconformes com @ Constituigdo, que depois j4 néo podem ser declarados inconstitucionais. XXY, Como se viu, a5 normas de DIP, em geral, © de direito comu- nitério, em particular, valem com fonte de direito directa e auténoma da interna. Probiematica é a questao do sew lugar no sis- ireito, aomeadamente sob 0 (que para esse efeito as normas intemnacionais ou comunitarias 0 sot 0 ponto de vista do fundamento legal dos regulament dade administrativa. ‘Quando exequiveis por si mesmas so directamente aplicaveis. E tam- bém podem ser objecto de regulamentacio interna por via de regula- mento, sem intermediacio legislativa. Seguro é, todavia, que na imple- menta¢io normativa do direito internacional e do diseito europex nic pode deixar de respeitar-se a reserva de lei que porventura exista na m sm catisa, bem como a eventual reserva de compeléncia legis- lativa parlamentar, Nesse caso, 0 desenvolvimento normativo da con- ven internacional ou da lei comunitiria s6 pode ser feito por vi legislativa (por exemplo, a implementacio legisiativa da Concor ‘entre Portugal e o Vaticano naquilo que afecte a liberdade religiosa). O mesmo sucede quando a norma intemacional ou comunitaria, ela ‘mesma, fizer remissio para ulterior regulamentagio interna, a qual no pode deixar de respeitar as regras de precedéncia da lei e de reserva Ge compeléncia legislativa que sejam aplicaves ao caso (cir. AcTC n° 184/89: caso do regulamento do FEDER). XXVL Além da possivel desconformidade do direito intemacio- nal, da legislagao internacional e do direito da UE com a Constituicie, bem como da desconfomidade do direito ordinério interno com as nor mas oriundas daqueles instrumentos, podem também ocorrer incom- patibildades entre estas, oa seja, entre as normas de direito interna- m Principles dame (ane) cional comum, a normas de DI convencional, as normas de legislasio i jonal * as normas de direito da UE. As situagSes podem ser iversas, mas as seguintes regras gerais aplicam-se: primazia do DI geral sobre todas as demais normas referidas; primazia dos tratados constitutives das organizagées sobre a legislagao por elas produzida; primazia do direlto da UE, incluindo Iago comunitiria, sobre © i convencioral, dada a natureza supranacional daquels. Note-se que nenhuma destas questdes é uma questio de constitu- cionalidade, cabendo a sua resolugdo aos tribunais ordindrios no juga ‘mento dos casas concretos. Com uma excepsio, porém. Nos termos dos tratados que regem a UE, os tribuneis nacionais nao podem conhecer da validade da legislagio comunitaria (direito derivado) por violagao do 10 dos tratados (diteito primério), conflitos que s6 podem ser resol- vidos pelos tibunais da UE, devendo os tribunais nacionais remeter para aqueles, a titulo prejudicial, as questdes dessa natureza com que se deparem. mn

Você também pode gostar