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Oe Ores On coc décadas é empregado por autores tanto do campo dos estudos literdrios quanto do campo da antropologia. A partir do momento em que algumas perspectivas antro- poligicas retomam a questio do individuo e que a subjetivida- Perce nie eer ent neta een vents eon ay Preece ca ier vas teérico-eriticas que enfatizam a contextualizagao ¢ a histo ricidade das produgées culeurais e nas quais o auror e sua loca- oan ios, passam a predominar perspecti- ee nndidos como dados de certo modo RC ee ca Ok mace tao Serta ier ke etc Peer crc een Oe en od construcao do selfatravés da escrita, mas, e principalmente, sua relacio com a cultura ¢ a sociedade através da qual ¢ na qual Peer econ ear en de mudanga de perspe eee eee parcialmente vivide por ambas as disciplinas, no qual a subjeti- Peewee ese ec enon Cone es ocd comum") passa a ter uma importincia decisiva, que surge © termo autoeinografia wl ear Set Ps i 5 2 re] et EB Z 2 g 2 z i 2 5 rs = 2 eS Zz FI 2 S Perm see leer Monsen AUTOETNOGRAFIAS conceitos alternativos coat construgao Renee nett Re ceca! tet er unceean Rene test aire mor eran Nereis Re Sener ain ecto ee tn ee cere eet Re ne AUTOETNOGRAFIAS: ee Cece a ee cae conceitos alternativos em construgao econ Reece tee ee eae duizindo tanto releituras da eo te eter pte ee et es ce a Sey ies Pe er Pere ie Naren eee corer ee eo Creer reece nee tne Daniela Beccaccia Versiani AUTOETNOGRAFIAS: CONCEITOS ALTERNATIVOS EM CONSTRUGAO derraas] © 2005 Daniela Gianna Claudia Beccaccia Versiani Produgdo editorial Debora Fleck Isadars Teavassas Jorge Viveizos de Casto Malia Garcia Valeska de Aguirre Revisio Renata Josey Silva Leonatdo Francisco Soares P-BRASIL, CATALOGAGHO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL 00S EDATORES DE LVROS, RJ ‘VERSIANI, Daniela Gianna Claudia Beccaccis, 1967- ‘Autoctnografias:conceltes altemativos em construgso f Daniels Gianna Claudia Beceaceia Vetsiani. Rio de Janeizo :7Letrss, 2003. 257P. Incl bibliogeaic ISBN 85-7577-223-6 1. Literatura ~ Historia eritica, 2, Andlise do diseutso liteéti. 3. Antropologia 4. Exografia 1, Titulo. cpp £01.95 cDU 82.09 Viveios de Casto Bdicora Leda, | (21) 2540-0130 / 2540-0037 R. Jardim Botinico 674 a. 417 | editora@7tecra.com.br Rio de Jancio RJ cer 2246)-000| wow Tetras. com be SuMAato. Aptesentagio ~ Arte aucocenogrifica (Heidran Krieger Olinto) Introdugio CapfroLo 1 ‘STATUS DOs DISCURSOS AUTOBIOGRAFICOS E MEMORIALISTAS 8h ANTONIO CANDIDO & SILVIANO SANTIAGO. Cariruto 2 AUTOSIOGRAFIAS E ETNOGRAFIAS: DISCUTINDO ESTRATEGIAS ALTERNATIVAS DE LETTURA E FRODUCKO, Cartruto 3 AUTOETNOGRAFIAS: CONCEITOS ALTERNATIVOS £M CONSTRUGAO wa Mapeando contextos disciplinares.... “Autoetnagrafias": alguns usos € problemas assodados 20 temo Kay B. Warren —ausoemografia como mulsiplcidade de pens de vista ~ auzoeenografia como uma “zona de contato” — asoesnografia como superacto de dicoromnias David A. Kideckel = ausoerografia entre 0 sber pico eo saber privade — autoetnografia como muieuo proceso de descoberta eenogrdfica = ausoesnogvafias como procesos discursivos alternatioos dos discursas oftciais Birgitta Svensson = biografis entre procesos de subjesivagie + objetvagio — biografias entre “discurso de poder" e“eseatéias de resisténcia” — biografias como discursos de coergio e subordinacio 13 15 1 35 1 93 99 106 114 —autoetnognafia como a pritca dicursiva entre 0 self ese interlocutores Henk Driessen i — erno-autobiografias come textos que ultrapasiam 8 acontecimentos de uma vida pessoal autoctnografias entre processos de construgao de identidades pesoais e coletivas 140 Deborah E. Reed-Danahay 147 — autoetnografias como eserita de ambigitidades Alecandra Jaffe 158 ~ ausocinografia como “sepresentagao” do self em contextes de iteraturas de minorias — autoetnografia como genero a permear a produsio 0 consumo de exrinas de minorias ~ autoemografias e negaciagio entre diferentes politcas de leitura Michael Herafeld - . oe 169 = autoesnograpia como escrta dos paradoxos do self — autoctnografia como método auto-reflexivo e auto-inclusivo do produtor de conbecimento Pnina Motzaft-Haller 177 ~ autoctnografia como escrita de deslocamentas entre diferentes posgées tebrico-politicas ~ autoctnograpia come escrta da refesdo entre 0 pessoal ¢ 0 seorético — auroesnografias ¢ complexidade dos selves Caroline Brettell : : 185 ~ autoetnografia como escrita entre géneros — atocsnografia entre diferentes vozes narrativas ~ autoctnograpia entre tubjetividade e objetividade ~ autoetnografia entre observacao ¢ participario — assoetnografia interlocugite Cantruto 4 ALGUMAS CONCLUSOES E FERSPECTIVAS Eb TORNO DO TERMO “AUTOETNOGRAFIA” see ‘Autoctnogeafias: apenas um novo génere? .. “Autoetnografia coma neologismo {que procura superar dicotomias wn snes 213 Deslocamentos e discursos de construgio de selves vnsonnvove 218 “Autoetnografias; contradiscursos ou alternativas discasivas?.. 220 Legitimidade, autenticidade, autoria e autoridade 0. 227 O lugar do pesquisidor,rellexividade, interlocugio ¢ dalogismo .. 228 Autoetnografia como método: arte e cultura... nena 235 Referbncias bibliogrdficds nemo : 249 eves 207 209 AGRADECIMENTOS ‘Meus agradecimentos &s professoras Eneida Maria de Souza, Marflia Rothier Cardoso, Pina Amoldi Coco e Cristiane Brasileiro, componente da banca examinadora que aprovou a tese que deu origem a este livre Obrigada pela leituras atentas, peas insimeras sugesides,e pelo modo pers- picaz e estimulante com que conduziram suas argiigbes. As discussbes ‘questionamentos levantados naquela manhd produzitam ressonancias que ainda perduram em mim, A Marflia Pina agradego também as contribui- es gencrosasfeitas co longo de toda a pés-graduacio, ‘Ao antropélogo Valter Sinder, pelas preciosas indicagGes bibliogréfi- ‘eas que me levaram ao eneontza de novas perspectivas epistemoldgicas na antropologia conteraporinea, pelo diflogo ensiquecedor¢ pela leitura stenta desta versio da tese agora apresentada em livro, ‘Ao antropélogo George Marcus, pela disponibilidade ¢ atengéo com que orientou minhas pesquisas no Departamento de Antropologia da Rice University. ‘Aos professores Bliana Yunes, Julio Diniz, Karl Erik Schollhammer € Renato Cordeiro Gomes, do Programa de Pés-graduagao da PUCRio, pelo estimulo a0 didlogo eritico, curioso e instigador, 3 investigagdo, 8 bus~ ca de conhecimente. ‘Aos amigos, colegas c funciondsios do Departamento de Pés.gradua- so da PUC Rio. 1 Pontificia Universidade Cardlica do Rio de Janeiro e a0 Departa- mento ce Pés-graduscio em Estudos de Literatura, pela bolsa de iseneiox a0 CNP, pelas bolsas a mim concedidas como integrante dos programas de mestrado e dourorado; & Capes 4 Fundagio Fulbright, pelo financia- mento de miahas pesquisas no Departamento de Antropologia da Rice University como participante do programa para doutorandos com bolsas no exterior; 0 Departamento de Antropologia da Rice Univesity (Houston, TX), que me recebeu durante o primeiro semestre de 2001. ‘A Thiago Belli, pelas primeiras tradugoes das intimeras citagbes. A Jorge Viveitos de Castro, por acreditar no intezesse que este livro possa suscitar. Em especial, agradeco a generosidade intelectual, oencorajamento £0 profissionalismo, todos temperados com afeto, atengio ealegria, que rece- bide minha orientadora, Heidrun Krieger Olinto, 20'longo dos cursos de mestrado e doutorado, Agradego sobretudo sua persisténcia em incentivar- ‘me a percorrer novos caminhos, ampliando os horizontes de minkasinves- tigagdes quando, por ansiedade e temor de nio dar conta da empreitads, eu ciclicamente manifestava 0 desejo de dar a viagein por cncerrada, deli mitando ~ € limitando ~ 0 corpus de minha tese muito precocemente, Eu divia que pacientemente minha orientadora me ofetecet todas as condi- goes e oportunidades de elaborar minhas reflexes partir de uma perspec- tivaeferivamente construtvista, que é incompartvel com o desejo de escre- ‘ver uma iese de tris para frente, ou se, das conclusSes para as hipSeeses, 0 gue sem dhivida teria sido muito mais ficil, mas também muito mais limitador em termos de resultados ¢ muito menos instigante e transforma dor em termos pessoaise intelectuais. Seus ensinamentos, que foram mui- 10 aldm do tema a0 qual a tee se dedicou, agora fazem parte do que sou. ‘Aos meus pais, Nidee Claudio, agradeco o exemplo didtio do que seja viver com generosidade, alegriae dignidade, De onde vim, que de tio bom, para onde quero sempre volar. Ea voct, Augusto, por todos ¢ todos os motivos, entre eles, os mais preciosos: 0 encorajamento, a pacitneia,o silencio, A Heidrum, A August, Nide, Clancto, Iris e Mawro, Amanda, Danilo, Renata e Vitor, Clb Lainscek Teresa Montero AL nono Oreste, _conceites no morrens, esin definbamm, derintegram-sesob presto, tornan- se inteis, on devern ser reinteritos em navor contests (Andreas Huyssen, “The fate of difference: pluralism, politics, and the postmodern’, p. 306) gue precisamos nto € menos ciéncia, mas de uma eitucia melhor, nio de ‘menes racionalidade, mas de uma racionalidade mais elaborad, ndo de mi- tos nebiloros, mas de urn eclarecimento que néo soja bipartido. (iegftied Schinids, “Do texto ao sistema literitio”, p. 55) Un consemporden deve rabalhar com categoras wbrangentesegenerosas. O sempo eos rlices posterioresterdo a perpectva ea dispsicao para aperfegod- las eafdlas sem o periga de incorrerem em exelusies inconscienss, sransni- tidas por uma tradigdo repressiva. (Silviano Santiago, “Prova literdria atual no Brasil”, p. 31). evemor interpelar todos agueles que ocnpam uma posigao de ensino nas cibacias rsiaisepsicoligieas, ow no campo do trabalho social - todos aguees enfin, caja profisio consiste em se interesar pelo discurso do outro. Ele se encontram numa encruzithada politica e micropolitica fundamental. Ox vido _fazer 0 jogo dessa reprodugito de modelos que no nos permite criar saidas ‘para os proceso: de singularizagio, ou, ao contedrio, vio estar trabalhando (para 0 funcionamente dewser process na medida de suas possibilidades e dos “agenciaments que comsigam pir pare fcionar Iso quer dizer qu nao hi obje- tividade alguma mee campo, nem usa supasta neutralidade ne regio (3 (Félix Guactasi, Micropolitica. Cartografiar do desejo, p. 29) ARTE AUTOETNOGRAFICA Heidrun Krieger Olinio Um dos artigos do belo manifesta Artelasina apresenta-se como vigo- 1050 convite’ liberagio de sensbilidades, de “fantasias ¢ ansiedades’, uma ‘vex que, segundo o seu autor, Silviano Santiago, o “blablabla tedrico nio fo bastante” para entendé-I.” Em que pesern as diferengas entre a pritica autistica ¢ 0 oficio de produgio de conhecimento, patece-me oportuno es- bosar o nexa entre a demanda expressa no manifesto €a intengio do proje- 10 de Daniela Versiani, que ensaia com saber e sabor a dificil cravessia entre ‘gestos subjetivos, atos empiricos ¢ opgdes de sua desctigdo ¢ teorizagio. Sem a tentagao usual de reduzir a complexidade de seus objetos de anise pelos rituais da generalizagio. Neste sentido, Autoetnagrafias:conceits alternativos em construc, ofe- rece uma leitura fascinante da geografia intelectual contemporinea dos cam- pos das ciéncias-humanas e sociais, avess0s ao fechamento de suas fronte ts disipinces, Cts sb SER SERIED “Troe declare desntaplges assign sienna Jos ¢ cruzamentos alheios & hifenizasio comum que alinha de modo con- tiguo e distinto os seguintes termos: auto-etno-grafia. A revisio critica de paradigrnas clisicos,legitimados pela marca da discriminagio que tespeita 60 limites dos teritdrios particulares da conscitncia de si, da conscitneia do outeo ¢ da forma de sua escrita, culmina assim no questionamento des- tes pela SSrmula compésita radical da autora: ausoermografia. Nesta true ‘gio 0 mito da integridade do selfé afrontado pela cacofonia de miélkiplas vores sem sintese; a descrigio do outro como objeto € substituido pelo didlogo intermindvel e tenso entre subjetividades distineas e a excria, de ‘modo geral, vista come reproducio transparente de realidades exteriozes, € questionada a favor de seu estatuto performético de evento. © pensamento construtivista,no-duslista, permeia todos os pressu- postos epistemoldgicos que dio contorno is indagagSes, apontando para 0 SANTIAGO, Silvana, “Areata (Manifesto). In: Reinaldo Marques © Lis Hel Vilela (ors). Valores: Arte, mercado, politica, Belo Horizonte: Editors UEMGIAbralic, 2002, pp. 57-60. 13 olhar participative do analisa, ele mesmo inserido em contextos concretns drcunscritos em sua dimenséo temporal e espacial, Neste ambito, 0 livro de Versiani inscreve-se na atmosfera filoséfica batizada como “despertar cpistemoligico”, que inspiron grande parte das revalugbes peracligmdticas ocottidas nas iltimas décadas. O seu chamado métodigaRBeEmgpaBeDRP re horizonts param QRS ESRERERIPSERBISTR> ato com cespeito 405 pressupostos privilegiados por la que orientart o seu angulo de visio ¢ sinalizam a sua sintonia com a investigasio cientifica mais avangada no espago disciplinar da antropologia ¢ dos estudos de literatura. Nas dias csferas —e no apenas nelas ~ passou a ser senso comum que os objetos nio possuer sentido substancial inerente que se oferece ao olhar sem media ao. Do etndgrafo o principio da observagio participativa demanda, neste “ra aconsentago do epi oma 0 sles ee de contingéncias ¢ possibilidades que articulamn a sua vida privada com pertencimentos coletivos e com insergées institucionais e politicas,respon- sdveis pelo desenho misterioso construfdo por De forma semelhante nos estudos de literatura — que deslocaram © ‘seu compromisso tradicional com a interpretacio do texto iterdrio para 0 vasto espago da comunicagio literdria vinculada com processos de produ~ fo, mediagao, recepsio e andlise critica ~ desponte a figu ema: segunda ordem como ansidoto para a ingenuidade ‘epistemologies que entende literatura como espelho da realidade. E na des- crigfo autoetnogrifica ela emerge como barteira contra a transformasto do outro em objeto. (O métivo ea originalidade do livro podem ser creditados, em parte, & dupla formagao de Versiani — antropéloga e teérica da literatura — que lhe peemitiu cimentar com seguranca ¢ competéncia perigosas travessias disci- plinares « enxergar o valor das condigées subjetivas do conhecimento, no como relativismo cultural, mas como aberrura para novos questionamen- tos éticos no préprio fazer cientitic. Os desafios deste empreendimento complexo sio enfreatados com = sensibilidade da professora de literatura e cultura que intercambia 0 seu saber com aqueles que se iniciam na sua construgio. Mas isto no € © ‘bastante, como ditia Silviano Santiago. O prazer da leitura deste belo livro se deve, tamnbém, ao encontto com a escrivoma de fiogio: Daniela Gianna Clasiia Beccaccia Versiani 4 TyTRopuGAO Este livro eaz alguns capitulas de minha tese de doutorado, de mes- mo titulo, orientada pela tedrica da literatura Heidrun Krieger Olinto e defendida no Departamento de Letras na Pontificia Universidade Cardlica do Rio de Janeiro, em 12 de abril de 2002. Os capitulos aqui reunidos pertencem & segunda parte da tes, dedicada aos modos como 0 conceit de autoetnografia vem send utilizado no campo da antropologia € & sua possivelinsergio e aproveitamento em discussses prévias sobre escttas de ‘construgio de selver~ em especial autobiografias e memérias ~ no earapo dos estudosliterdrios. Como mode de apresentar 20 leitor 0s pressupostos que perspassavam os capitulos iniciais da tse, aqui ausentes, escreyi esta nova introdugio. Do ponto de vista interdisciplinar, acredito que as reflexes conticas neste livro consigam apresentat-se como contribuigéo para aim aggiorna- mento, ainda que tangencial ¢ parcial, no sentido de incorporar aos estudos de literatura alguns questionamentos relativamente recentes sobre oxfip- fegior- namento que, desde a crescente aproximagio sentida aos dltimos anos en- tre estas duas disciplinas~ estudos de literatura e anttopologia — deveria, a ‘meu ver, ser uma preocupacia constante de pesquisadores que pretendam trabalhar nas fronzeiras entre ambas, Em relagio & espectfia reflexio sobre nogbes associadas ao termo autoetnogeafia,creio ter deixad claro, a0 lon- {go dos capftulos que compsem est livro, que considero nao apenas cabf- vel, mas produtiva e efedivamente urgente a aproximagio de pesquisadozes inseridos no campo dos estudos literdrios cultural, cujosinteressesrecai- am sobre discursos de construsio de selves, das reflexées feitas por alguns antropdlogos contemporineos sobre este especifico conceit. (Opel por wilzar a forma antoctnograia a0 inv de auto-ctnografia como recariam a8 regeas de formagéo de paaveas composts, porque a sepaagio por hifenestabelecerin uma dlisjunio entre os tetmes auto eexn9 contaproducente para compreensi dest nelogis- ‘ma que, como veremosadiante, procera jastamente superar as dicotomis autofetno, ini viduoisocedade, 5 Um dos propésitos de minhas reflexdes durante os dltimos dois anos do doutorade foi aquele de estabelecer uma discusséo sobre o terme au- toetnografia nie como a “descaberta’ de um “novo género literrio”, mas como um conceito em construgio, sobre o qual néo ha definigbes e com- preensdes estabilizadas. No campo da antropologia, o térmo autoetnogra~ fia nio é novo. Embora utilizado em poucos nichos de pesquisa, tein comrespondide a diferentes concepgées sobre tipos de cscritROEFEAE, com diferentes implicasies merodolégicas¢ epistemol6gicas. © deseo de trabalhar com 0 conceito de autoetnografia numa pers- pectiva interdisciplinar, visando um possivel aproveitamento desse neolo- gismo no campo dos extudos lterdrios, exigiu, em primeiro lugar, que eu buscasse inserir minkas reflexées no contexto de discussées prévias sobze esctitas de construgio de selves nesta drea de conheeimento. De modo par- cial, procure fazé-Io a partir da leitura critica de ensaios de Antonio Candido ¢ Silviano Santiago dedicados ao tema. Em segundo lugar, exigit também ‘que eu me dispusesse a apresentar alguns exemplos dos intimeros sentidos através dos quais o termo vem sendo utilizado no campo disciplinar da antropologia.' Procutel fazé-lo através da leitura critica da coletinea Auto/ Exhnography, Rewriting the self and the social (1997}, organizada pela an- tropélog Deborah Reed-Danahay. A escolha dessa especifica obra se justi- fica pelo seu cardter experimental ~ o rermo autoetnografia foi proposto pela oxganizadora aos oito dernais antropélogos como uma ferramenta com qual e sobre a qual rfletir~e pelas diferentes perspectivas com que cada ‘um desses antropélogos efetivamente construia sentidos para o cermo, ‘Como pude observar, ainda que os nove autores dessa coletinea pre- servem alguns pressupostas compartihados em suas anilisese reflexes sobre 6 termo autostnografia, assim o fizem através de significativas variagoes de pontos de vista e pesspectivas a partir das quais tentam tesponder a ques- tionamentos citcunstanciados pelas suas singulares pesquisas ¢ interesses. Desse modo, se procurei expli partilham sobre o termo autoctnografia, também procurei destacar dife- itar os inkimeros pontos em comum que rengas considerdveis que ex nio poderia minimizar sob o risco de terminar por fazer exatamente o contrétio daquilo a que eu me propunha: oferecer uma discusséo sobre modos aternativos de pensar sobre processos de cons- trugfo de autobiografias © etnografias @ partir de um neologismo = au- toetnogtafia — que, entre outras cois 16 pesquisdor contemposineo 3s vols com {IEaEUESESEEESSRD consti, SSE OSSRS EAE 9

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