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Cops + ts Be de Impact Ambiental concitos méiodes Os diversos ramos da ciéncia desenvolveram terminologia propria, dando as pa}a- vras um significado © mais exato possivel, eliminando ambigitidades e reduzindo a margem para interpretagoes de significado, A gestdo ambiental, 20 contrério, utiliza varios termos do vocabulazio comum. Palavras como “impacto”, “avaliagio” e mesmo @ prépria palavra “ambiente” ou 0 termo “meio ambiente’, por exemplo, nao foram cunkadas propositadamente para expressar algum conceito preciso, mas apropriadas do vernaculo, ¢ fazem parte do jargao dos profissionais desse campo. Por essa razo, é preciso estabelecer, com a maior clarcza possivel, o que se entende por expresses como “impacto ambiental” ¢ “degradacao ambiental’, entre outras. Neste capitulo, serdo apresentadas definicbes de varios termos correntes no campo de planejamento € gestdo ambiental, empregados seguidamente neste livro. Essa revisio conceitual tem © propésito de, em primeiro lugar, mostrar a diversidade de acep¢des, mesmo entre especialistas, e, em segundo lugar, estabelecer uma base terminolégica sdlida que serd empregada ao longo de todo 0 Livro. Uma visio histérica sobre o entendimento coletivo da problemética da degradacao ambiental constatard a grande diferenga conceitual entre “impacto ambiental” ¢ “poluicdo", termo bem incorporado ao linguajar contemporaneo. A partir da década de 1950, apalavra “poluis4o” passou a ser bastante difundida, primeiro, no meio académi- co ¢, em seguida, pela imprensa. Foi incorporada a uma séric de leis que estabeleceram condicées ¢ limites para a emisso e a presenga de diversas substincias nocivas — chamadas de "poluentes" — nos diversos compartimentos ambientais, Durante algum tempo, a idéia de “poluigao” dominou o debate sobre temas ambientais, mas a com- plexidade dos problemas de meio ambiente mostrou que esse conceito era insuficiente para dar conta de um sem-niimero de situagées. Foi quando se consolidow a ideia de “impacto ambiental’, ao longo dos anos de 1970. O préprio conceito de “ambiente” admite miltiplas acepcdcs, que serio exploradas antes de se buscar conceituar “impacto ambiental”. A questio ambiental diz respeito a0 meio natural ou ao meio de vida dos seres humanos? Quando se diz que deter- minado projeto nio ¢ viivel ambientalmente, 0 que se entende por ambiente? Ao se declarar que determinado produto € preferivel em relagio a produtos similares Porque causa menor impacto ambiental, de que ambiente se fala? Quem afirma que tal residuo industrial nao representa um risco ambiental, refere-se a qual anibiente? Quando se ouvem alegagdes de que a qualidade ambiental nos paises desenvolvidos melhorou nos tiltimos dez anos, devemos entendé-las com referéncia 20 ambiente total ou a determinado aspecto do meio? 1.1 AmBiente © conceito de “ambiente”, no ¢ampo do planejamento e gestto ambiental, € am- plo, multifacetado ¢ maledvel. Amplo porque pode incluir tanto a natureza como a sociedade. Multifacetado porque pode ser apreendido sob diferentes perspectivas. Maledvel porque, ao ser amplo ¢ multifacetado, pode ser reduzido ou ampliado de acordo com necessidades do analista ou interesses dos envolvidos, Muitos livros-texto de ciéncia ambiental sabiamente passam longe de qualquer ten- tativa de definigéo do termo, Envolver-se em insohiveis controvérsias filosdficas ¢ aT { } 1 | Concerros E a | 19 episteanokigicas ou em asperas diseussoes sobre campos de competéncias profissio- cr pode sera sia de quem se arrisca nessa seara, Mesmo assim n30 sito poucos 08 fqucco fizeram, desde anGnimos assessores parlamentares, redatores de projetos de lei, are Nenomados cientistas. Conceituar 0 termo “ambiente” estd longe de ter somente avevancia académica ou teérica, O entendimento araplo ou restrito de conceito de- Termina 0 alcance de politicas publicas, de agbes empresarials e de iniciativas da sociedade civil. No campo da avaliagao de impacto ambiental, define a abrangéncia ser estudos ambientais, das medidas mitigadoras ou compensatérias, dos planos € programas de gestéo ambiental esse sentido, a interpretago legal do conceito de “ambiente” € determinante na defi- nigao do atcance dos instrumentos de planejamento ¢ gestio ambien 1, Em muitas jurisdigbes, 0s estudos de impacto ambiental nao sto, na pritica, limitados as reper- cussbes fisicas e ecoldgicas dos projetos de desenvolvimento, mas incluem também suax conseqaencias nos planos econémico, social e cultural. Tal entendimento faz ietante sentido quando se pensa que as repercussbes de um projeto podem ir lfm de suas conseqgiéncias ecolégicas (Fig, 11). Uma barragem que afete 0s movimentos rmigratbries de peixes poderd causar uma reducao no estogue de espécies consumidas por populagdes humanas Tocais ou capturadas para fins comerciais, Isso certamente sera mplicacdes para as comunidades humanas, seu modo de vida ou sua capacid: fhe de obter renda, Trata-se, claramente, de impactos sociais ¢ econémicos que, de trode algum, deveriam ser ignorados ou menosprezados em um estudo ambiental dessa barragem. E 0 que dizer quando agricultores perdem suas terras ou mesmo Sues casas para dar lugar a uma represa? Nao ¢ apenas seu meio de subsisténcia que s afetado, mas 0 proprio local em que vivem, onde nasceram muitos dos habitantes stuais ¢ onde jazem seus ancestrais. O impacto da hipotética barragem nao inclu ata mudanca, possivelmente radical, sobre os modos de viver «fazer dessas pessoas? 6 que pensar quando as aguas inunddam os pontos de encontro da comunidade, locais de lazer como praias fuviais ou uma determinada curva do rio onde tem inicio wna procissio fluvial que ocorre todos 0s anos? Tratavse, nesse exemplo, de wip signif eecivo Impacto sobre a cultura popular. Deverfa ser levado em conta no estudo de impacto ambiental? ‘Uma rdpida consulta a leis de diferentes paises mostra similaridades ¢ diferencas ns nancira de definir seu campo de aplicagao. Na Iegistagao brasileira, meio ambiente 9 conjunte de condicées, leis, influencias e interagbes de ordem fisica, quimica ¢ biotdgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (Lei Federal n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 3°, 1). No Chile, "meio ambiente” (medio ambiente) ¢ "0 sistema global constituido por ele- mentos naturais e artificiais de natureza fisica, quimica ou biolégica, socioculturais ¢ suas interagdes, em permanente modificacao pela agdo humana ou natural ¢ que re8 ¢ condiciona a existéncia ¢ desenvolvimento da vida em suas milltiplas manifesta ‘6es" (Ley de Bases dei Medio Ambiente n? 19:300, de3 de marco de 1994, art. 2°, No Canada, “ambiente” (environment) “significa os componentes da Terra, ¢ inclui {a) terra, agua e ar, incluindo todas as camadas da atmosfera; (b) toda a matéria organica e inorgnica e organismos vives, ¢ (c) os sisterms naturais em interagio que 2» Bee de Impacto Ambiental: conceitos ¢ métodos incluai componentes tnencionados em (a) (b) (2) 1, sancionado em 23 de junho de 1992). ‘anadian Environmental Assessment Na provincia canadense do Quebec, “ambiente” (environnement) é “a Agua, a atmos- fera € 0 solo ou toda combinagio de um ou outro ou, de uma maneira geral, 0 meio ambiente com o qual as espécies vivas entretém relagdes dinamicas” {Loi sur la Qualité de l'Environnement - LR.Q, €. Q-2, Section I, 1). No Quebec, a questo do alcance dos estudos de impacto ambiental é explicitada pelo Escritério de Audiéncias Piiblicas Ambientais (BAPE ~ Bureau d’Audiences Publiques sur Environnement) da seguinte forma: A nogio de ambiente geralmente adotada pelo BAPE nZo se aplica somente as questies de ordem biofisica; tal como designado na Lei sobre a Qualidade do Ambiente (L.R.Q., ¢, Q-2 - 2.20}, ela engloba os elementos que podem “ameacar a sade, a seguranga, o bem-estar ou o conforto do ser humano”. Quer te- nham um alcance social, econdmico ou cultural, estes elementos so abordlados, quando da andtise de umn projeto, da mesma maneira que as preacupagbes acer- ca do mefo natural. Esta visio ampliada do conceito de ambiente é reconhecida no Regulamento sobre 2 avaliago © a anélise dos impactos ambientais [1] (BAPE,1986), Em Hong Kong, “ambiente” (environment) (a) significa 0s componentes da terra; € (b) inciui (i) terra, Agua, ar e todas as ca- madas da atmosfera; (ii) toda a matéria orginica e inorganica e organismos vivos; € (iti) os sistemas naturais em interagio que incluam qualquer uma das coisas referidas no subpardgrafo (i) ow (i)” (Environmental Impact Assessment Ordinance, Schedule I, Interpretation, de 5 de feverelro de 1997). Definigées legais muitas vezes acabam por se revelar tautolégicas ou, entao, incompletas, a ponto do termo nem Fig. 1.1 Parque Nacional Kakadu, situodo nos Teritérios Setentrionais, mesmo ser definido em muitas leis, dei- ‘Austr. No plono mézle, a mina de urdnio Ranger e, ao funde, eScorpo xando eventuais questionamentos para arenitica onde cultuar-se os esprtos sagrades ds aborgenes. Una dos 3 interpretacdo dos tribunals. O cariter principcs dficuldades pare aprovagéo deste projeto foi sev impacto sobre ealoresututbis ca popshocto abordeene, multiplo do conceito de ambiente nao so permite diferentes interpretagées, como se reflete em uma variedade de termos correlatos ao de meio anibiente, oriundos de distintas disciplinas ¢ cunhados em diferentes momentos histéricos. 0 desenvolvimento da ciéncia Jevou a um conhe- cimento cada vez mais profundo da natureza, mas também produziu uma grande especializagio ndo somente dos cientistas, mas também dos profissionais formados nas universidades, Por essa razdo, 0 campo de trabalho do planejamento e gestio se onetros «gaa 4 ambiental requer equipes multidisciplinares (além de profissionais capazes de inte grat as contribuigBes dos varios especialistas). As contribuigbes especializadas 20s ertudos ambientais costumam ser divididas em trés grandes grupos, referidos como S meio fsico, 0 meio bidtico e o meio antropico, cada um deles agrupando o conheci- rento de diversas disciplinas afins, Uma sintese das diferentes acepcdes do ambiente ige termos descritivos de diferentes elementos, compartimentos ou fungdes € mos- trad na Fig. 1.2 Por umn lado, ambiente é 0 meio de onde a sociedade extrai os recursos essenciais & sobrevivencia e 0s recursos demandados pelo processo de desenvolvimento socio- ceondmico. Esses recursos sto geralmente denominados naturais, Por outro lado, 9 Gmbiente é também o meio de vida, de cuja integridade depende a manutengio de fungdes ecoldgicas essencials a vida. Desse modo, emergiu 0 conceit de recurso ambiental, que se refere nio mais somente & capatidade'da,natureza de fornecer recursos fisicos, mas também de prover servicos e desempenhar funcdes de suporte 4 wide. ‘Até a primeira metade do século XX era quase universal 0 uso do termo recurso ma tural. Desenvolveram-se disciplinas especializadas, como a Geografia dos Recursos Naturais ¢ a Economia dos Recursos Naturais. Implicita nesse conceito esta ae uma concepgao da natureza como Meio fico ‘Meio vitico Meio anteapico, | fornecedora de bens. No entanto, aso- {2g ip'-| _ titostera breexplotagao dos recursos maturais “Se .| figctts Biosfera eames | desencadeia diversos processos de de- =8 S| pedosfera gradagdo ambiental, afetando a propria Tyg | utoleste Fae ine capacidade da natureza de prover 0s (25 ),| Sees Fora Sociedade | servigos e fungées essenciais a vida. eb? al Fares fon Coltura S38| fous | E nitido, entto, que 0 conceito de | ane 1 ambiente oscila entre dois pélos ~ 0 pélo ate i eee aes) fornecedor de recursos € 0 pélo meio de vida, duas faces de uma s6 realidade. Ambiente nao se define “somente como um meio a defender, a proteger, ou mesmo a conservar intacto, mas também como potencial de recursos que permite renovar as formas mate- riais e sociais do desenvolvimento” (Godard, 1980, p. 7) | | \ Peisagem: l I Ambiente natural —— —}-— Ambiente ——> T construido |__ expagos naturais ———+ Espagos rrais spe | Tndusteiais | “Recursos naturals | ———> + Recursos humanos — Recursos ambientais Recursos cultura Para Theys (1993), que examinou varias classificagbes, tipologias e defi- nigdes de ambiente, ha trés diferentes maneiras de conceitud-lo: uma concep- nay cio objetiva, uma subjetiva e outza que, ; na falta de melhor termo, o autor deno- nina de tecnocéntrica. Na concepgio | Patrinsiionatra) ——— Patriot — Diferentes acepyées do bindmio natureza-sciedede -—— capital ——————- + Capital human) ——, Capital social | Capital eccndmico Fig. 1.2 Abrangéncia do conceita de ambiente ¢ terias correlatos usados em diferentes disciplinas 2 Eialiacao de Impacto Ambiental: conceitos e métodos objetiva, ambiente é assimilado a idéia de natureza ¢ pode ser descrito como: wma colegio de objetos naturais em diferentes escalas {do pontual 20 global) ¢ niveis de organizacio (do organismo a biosfera), e as relagdes entre eles (ciclos, fluxos, edes, cadeias tréficas). Tal concepeao pode ser vista como biocéntrica, uma vez que nenhuma espécie tem mais importancia que“outra, € a propria sociedade, em certa medida, pode ser analisada & luz desses conceitos, como o fazem disciplinas como a Ecologia Humana (Morin, 1990). A concepcao subjetiva encara o ambiente como “um sistema de relagdes entre 0 homem ¢ 0 meio, entre ‘sujeitos' ¢ ‘objetos” (Theys, 1993, p. 22]. Essas relacées entre 6s sujeitos (individuos, grupos, sociedades) ¢ os objetos (fauna, flora, digua, ar etc.) que constituem 0 ambiente implicam necessariamente relacdes entre esses sujeitos a respeito das regras de apropriagdo dos objetos do ambiente, transformando-os em objetos de conflito, ¢ o ambiente, em um campo de conflitos. A concepgao antropo~ céntrica pode ser profundamente fragmentada, na medida em que “cada individuo, cada grupo social, cada sociedade seleciona, entre os elementos do meio e entre 05 tipos de relagées, aquelas que lhe importa” (Theys, 1993, p. 26), de modo que 0 ambiente nao é uma totalidade, ¢ sua apreensio depende do ponto de vista, de um sistema de valores, crencas, da percepgtio (Uma implicacao pratica desse relativismo serd vista no Cap. 6, em um estudo de impacto ambiental de uma grande barragem no Canadé.). Em qualquer caso, ambiente é algo externo ao agente ou a um sistema. Conflites entre "desenvolvimentistas" ou “produtivistas” e integrantes de certas cor- Fentes do movimento ambientalista podem ser facilmente vistos ¢ interpretados sob esse Angulo, No entanto, a extensio do “natural” no planeta Terra se modifica conforme a huma- idade expancde sem cessar suas atividades e interfere de modo crescente na natureza. A relagdo das sociedades contemporaneas com seu ambiente é mediada pelo emprego de técnicas cada vez mais sofisticadas, a ponto de muitas vezes diluir a prépria nog3o de ambiente como um elemento distante ou virtual. Na prética, a sociedade moderna no tem outra opc%o a ndo ser gerir o meio ambiente, ou seja, ordenar e reordenar constantemente a relagto entre a sociedade © o mundo natural. Na verdade, a dis- tingdo entre “sujeito” e “objeto” perde muito de seu sentido, haja vista a crescente artificializagéo do mundo natural. Mas, como mao hd nem pode haver independéncia ou autonomia da cultura em relagdo & natureza, faz-se necessério melhor gerir essa relagdo, e duas perspectivas sio possiveis {Theys, 1993, p. 30): {i} tentar determinar as condigdes de produgio do melhor ambiente possivel para © ser humano, renovando sem cessar as formas de apropriago da natureza, ou (i) tentar determinar 0 que € suportivel pela natureza, estabelecendo, portanto, limites & ago da sociedade, Assim, sob um ponto de vista que, idealmente, coadune as visdes e contribuigdes das diversas disciplinas para o campo do planejamento e gestio ambiental, deve-se buscar entender 0 ambiente sob miiltiplas acepgdes: ndo somente como uma colecdo de objetos e de relagbes entre eles, nem como algo externo a um sistema (2 empresa, a cidade, a regido, o projeto) ¢ com 0 qual esse sistema interage, mas também como um conjunto de condigdes e limites que deve ser conhecido, mapeado, interpretado - definido coletivamente, enfim -, e dentro do qual evolui a sociedade. aa | 1.2 CULTURA E PATRIMONIO CULTURAL {Ih foi dito anteriormente que as repercussbes de um projeto podem ir além de suas Conseqiiéncias ecolégicas. AcOes humanas repercutem sobre as pessoas, quer no plano econdmico, quer 0 social, quer no cultural. 0 reassentamento de wma popu- fagdo deslocada por um empreendimento pode desfazer toda uma rede de relacoes comunitérias, causar 0 desaparecimento de pontos de encontro ou de referenciais de meméria ¢, com isso, relegar Jendas, mitos ou manifestasbes da cultura popular go esquecimento, Ademais, cmpreendimentos modernizadores modificam profunda- mente os modos de vida das populacdes tradicionais, nem sempre preparadas ou mesmo desejosas dessas modificagdes. ‘A palavra “cultura” reflele uma nogdo muito vasta. Em certo sentido, tudo o que faz fo ser humano é cultura. Cultura pode ser entendida como 0 oposto ou o complemento ‘da natureza. Cientistas sociais falam em cultura técnica, administradores, em cul- tura organizacional. Para se discutir “impacto cultural”, é preciso ter uma definigio operativa de cultura, Bosi (1994) sintetiza o conceito de cultura como “heranca de valores ¢ objetos compartilhada por um grupo humano relativamente coeso”, Morin Kern (1993, p. 60} a definem como: + conjunto de regras, canhecimentos, téenicas, saberes, valores, mitos, que per mite € assegura a alta complexidade do individuo e da sociedade humana e que, no sendo inato, precisa ser tansmitido ¢ ensinado a cada individuo em seu periodo de aprendizagem para poder se autoperpetuar e perpetuar a alta com- plexidade antropo-social. Uma maneira de tratar a cultura emprega a nocao de “patriménio cultural”, que na atualidade é um conceito muito abrangente, abarcando um sem-ndmero de criagdes humanas, passadas ou presentes. No passado, 0 conceito de “patriménio” limita~ vase a bens de natureza material que recebiam alguma forma de reconhecimento oficial, como.na locugio “patriménio histérico", Modernamente, “patriménio cul- tural” inclui também bens de natureza imaterial, assim como produtos da cultura popular. A Constituigio brasileira traz uma definig#o ampla ¢ atual de patrim6nio cultural (art. 216) Constituem patrimOnlo cultural brasileizo os bens de natureza material e in terial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referéncia identidade, & ago, & meméria das diferentes grupos formadores da Sociedade brasileira, nos quais se incluem: 1 ~as formas de expresso; I = os modos de criar, fazer e-viver IL - as criagdes cientificas, artisticas ¢ tecnolégicas; TV ~ as obras, objetos, documentos, edificagdes e demais espacos destinadas as ‘manifestagées artistico-culturais; V._ 08 conjuntos urbanos € sitios de valor histérico, paisagistico, artistico, arqueolégico, paleontologico, ecolégico ¢ cientifics. Os bens imateriais ou intangiveis incluem uma ampla variedade de produgées cole vas, como linguas, lendas, mitos, dancas € festividades, atualmente to necessitadas de protegéo quanto os recursos ambientais. 2 laliagao de Impacto Ambiental: conccites e métodos ; Os bens materiais podem ser classificados em méveis ou isnéveis. Aqueles sio mais facilmente protegidas dos impactos que podem advir de projetos de desenvolvimento ddevido a sua propria mobilidade (o que nao impede, contudo, sua descontextualizacao, que ja € um impacto). Os bens imaveis constituem sitios d€ interesse cultural, que podem ser sitios arqucolégicos, histéricos, religiosos ou naflifais. Exemplos de sitios naturais so cavernas, vuledes, geiseres, cachoeiras, canyiORs, sitios paleontologicos t locais-tipo de formagdes geoldgicas. Paisagens, que muitas vezes combinam atri- butos naturais com a interferéncia do homem, também téni sido enquadradas nessa categoria. 0 patrimdnio genético representado pela biodivefsidade também deve ser considerado como patriménio cultural, além de natural, pois supde conhecimento (cientifico ou tradicional) que permita seu aproveitamento: 1.3 PowwicAo ~ Em paises como 0 Brasil, a incorporagdo de temas ambigntais ao debate publico deu-se anos ou décadas depois do tema ter acedido @ agenda internacional, e as primeizas lels que explicitamente visavam & protesao ambiental (ou de uma parce- la dele) tratavam principalmente de problemas relativos'S poluicdo. Dito de outra forma, a partir do momento em que o conceito de ambiente fol sendo paulatinamente assimilado a idéia de meio de vida (e, portanto, de qualidade de vida), e ndo mais Somente como recurso natural, os problemas entéo denominados ambientais foram assimilados & nogio de poluicao. - O verbo poluir & de origem latina, polluere, ¢ significatprofanar, manchar, sujar Poluir € profanar a natuzeza, sujando-a. No relatsrio prepagado para a Conferéncla das Nagbes Unidas sobre 0 Ambiente Humano, realizadajem Estocolmo, em 1972, intitulado Uma Terra Somente, Ward e Dubos (1972) discutem *o preco da polujgao", do qual o mundo se conscientizava: entre outros exemplosfs autores citam o grande ‘smog londrino de 1952, a0 que se atribuiram mais de 3 mil mortes. Basicamente, poluigdo € entendida como uma condigao do-entorno dos seres vivos (ar, agua, solo) que thes possa ser danosa, As causas da,polui¢do sio as atividades hnumanas que, no sentido etimologico, “sujam” ambiente, Dessa forma, tals ativi- tades devem ser controladas para se evitar ou reduzir a,poluigao. Jé em 1948, 08 Estados Unidos contavam com uma Lei de Controle da Poluiggo das Aguas ¢ a partir de 1955, com uma Lei de Controle da Poluigio do Ar, efiguanto, em 1956, 0 Reino Unido decretava uma Lei do Ar Limpo. ~ [A Declaragéo de Fstocolmo recomendava que 03 governoSbeissem para controlar 2s Fontes de poluigio, e a década de 1970 vin florescer leis de e@ntrote de poluigao e surgir entidades governamentais encarregadas da vigilincia ajgpiental ¢ da fiscalizagio ddas alividades poluentes. Os Estados Unidos modificaramgg atualizaram suas lels de controle de poluiggo durante essa década, enquanto, no Bygsil, os Estados do Rio de Janeiro, em 1975, ¢ So Paulo, em 1976, estabeleceram sil préprias leis de controle de poluigdo, € interessante verificar como esta foi definidals + Qualquer alteragio das propriedades fisicas, quimicas ou biolégicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matézjg.ou encrgia resultante das atividades humanas, que direta 0 a] I. = seja nociva ou ofensiva a sauide, & seguranga € a0 bem-estar das popu- lagbes; It = erie condigdcs inadequadas de uso do meio ambiente, para fins domésticos, agropecudrios, industriais, pablicos, comerciais, recreativos ¢ estéticos; II- ocasione danos a fatina, a flora, ao equilibrio ecolégico e as propriedades; 1V - nfo esteja em harmonia com os arredores naturais. (Decreto-lei Estaduat do Rio de Janeiro nt 134/75, art. 1) A presenga, 0 langamento ou a liberas%o, nas aguas, no ar ou no solo, de toda € qualquer forma de energia ou matéria com intensidade, em quantidade, de con~ centragdo ou com caracteristicas em desacordo com as que forem estabelecidas em decorréncia desta lei, ou que tornem au possam tornar as dguas, 0 ar ou 0 sola: I~ impréprios, nocivos ou ofensivos a satide; IL - inconvenientes ao bem-estar publica; TIL - danosos aos materiais, & fauna e & flota; IV- prejudiciais 4 seguranca, a0 uso © gazo da propriedade ¢ as atividades normais da comunidade, (Lei Estadual de Séo Paulo n’ 997/76.) Tais definigdes legais so coerentes conn 0 conceito de poluigo entao vigente (e que continua atual). Comum a ambas é a conotagdo negativa do conceito de poluicao. Outta idéia comum é a associagto entre politicdo e emissées ou presenga de matéria ou energia, [sso significa que poluigdo podem-se correlacionar certas grandezas {fisicas ou parémetras quimicos ou fisico-quimicos, que podem ser medidos e para os ‘quais podem ser estabelecidos valores de referéncia, conhecides como padrées am- bientais. Sdo exemplos de poluentes: # Elementos ou compostos quimicos presentes nas aguas superficiais ou subterr’- neas, cujas concentragdes podem ser medidas por procedimentos padronizados (sdo normalmente expressas em mg/e, g/t ou ainda ppm) ¢ para alguns dos quais existem padroes estabelecidos pela regulamentacdo. Material particulado ou gases potencialmente nocivos presentes na atmosfe- ra, cujas concentragées podem ser medidas por métodos normalizados (séo normalmente expressas em g/m") ¢ para alguns dos quais também existem padrdes estabelecidos pela regulamentagao. # Ruido, medido usualmente em decibéis - dB(A), cujos niveis de pressdo sonora sio fixades por textos legais ou normas téenicas. '® Vibracoes, medidas, por exemplo, em mm/s, cujos valores so estabelecidos por normalizagao técnica, ® Radiacbes ionizantes, medidas, por exemplo, em Bq/t ou Sievert, que si0 também objeto de regulamentacio especifica. A possibilidade de se medir a poluiclo ¢ estabelecer padrdes ambientais permite que sejam definidos com clareza os direitos e as responsabilidades do poluidor e do fiscat (0s érgaos publicos), assim como da populacio. Abre também campo para estudos cientificos que defmam a capacidade de assimilagao do meio, estabelecendo, dessa forma, os padrdes ambientais, Estes ndo so estiticos, dados de uma vez por todas, mas esto em continua evolugao, sendo fruto de pesquisas que tendem a aprofundar nosso conhecimento dos processos naturais, dos efeitos dos poluentes sobre o homem € os ecossistemas ¢ dos efeitos sinérgicos e cumulativos de diferentes poluentes. 26 Be de Impacto Ambiental: conceitos € métodas Essa clareza estd ausente na definigdo de poluigao da Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal n’ 6.936, de 31 de agosto de 1981): poluigio ¢ a degradagio da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a satide, a seguranca € © bem-estar da populagdo; b) criem condighes adversas as atividades sociais ¢ econémicas; ©) afetem as condigdes estéticas ou sanitarias do meio ambiente; 4) Iancem matéria ou energia em desacordo com os padrées ambientais estabe- lecidos, Ao igualar poluicdo e degradecdo ambiental, esta lei propée uma definicao muito ampla e demasiado subjetiva. Ha uma série de processos de degradagdo ambiental aos quais nao esta associada a emissio de poluentes, como é 0 caso da alteracao da paisagem ~ por exemplo, a cons- trugo de um complexo turistico na orla maritima ou a submersfo das Sete Quedas pelo reservatério de Itaipu - ou dos danos fauna causados pela supressto da vege- tagdo ou pela modificagdo de habitats - como o aterro de um manguezal Foi por razies como essas, ou seja, porque iniimeras atividades humanas causam per- turbagdes ambientais que nao se reduzem & emissio de poluentes, que o conceito de poluigo foi sendo ora substituido, ora complementado pelo conceito mais abrangente de impacto ambiental. Como conseaiiéncia, as politicas ambientais evoluiram, Assim, pode-se trabalhar com a seguinte definigo operacional concisa de poluiga introdugo no meio ambiente de qualquer forma de matéria ou energia que possa aferar negativamente 0 homem ow outros organismos. De uma maneira geral, com pequenas mudangas na formulagdo ou na terminologia, € esse 0 conceito de polui¢do ‘que se encontra na literatura técnica internacional das iltimas quatro décadas. 1.4 DeGRADACAG AMBIENTAL Degradagao ambiental é outro termo de conotagao claramente negetiva. Seu uso na “moderna literatura ambiental cientifica e de divulgacao ¢ quase sempre ligado a uma mudanga artificial ou perturbagdo de causa humana - € geralmente uma reducao percebida das condigées naturais ou do estado de um ambiente” (Johnson et al., 1997, p. 583). O agente causador de degradacao ambiental é sempre o ser humano: “proces sos naturais nao degradam ambientes, apenas causam mudangas” (Idem, p. 584), A degradacao de um objeto ou de um sistema ¢ muitas vezes associada a idéia de perda de qualidade. Degradacao ambiental seria, assim, uma perda ou deterioracdo da qualidade ambiental, A Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente define de- gradagZo ambiental como “alteragao adversa das caracteristicas do meio ambiente” (art. 3°, inciso 1D), definigdo suficientemente ampla para abranger todos os casos de prejuizo a satide, & seguranca, ao bem-estar das populagdes, as atividades sociais € econdmicas, & biosfera ¢ As condigdes estéticas ou sanitérias do meio, que a mesma lei atribui a poluigao. y Concertos € Ones ia 7 Qualidade ambiental é, com certeza, outro conceito controverso ¢ dificil de definir. Johnson et al. (1997}, que se dedicaram a uma compilacao e reflexfo sabre 0 significado dos termos mais usuais em planejamento e gestdo ambiental, consideram que qualidade ambiental “é uma medida da condigao de um ambiente relativa aos requisitos de uma ou mais espécies e/ou de qualquer necessidade ou objetivo humano” (p. 584). Se, de algum modo, a qualidade ambiental pode ser medida por indicadores, como se tenta fazer com a qualidade de vida ou com o desenvolvi- mento humano, Sachs (1974, p. 556) lembra que “a qualidade ambiental deve ser descrita com a ajuda de indicadores ‘objetivos’ ¢ apreendida no plano de sua percepsio pelos diferentes atores sociais" Assim, degradacdo ambiental pode ser conceituada como qualquer alteragao adversa dos processes, funcdes ou componentes ambientais, ou como uma aiteracdo adversa da qualidade ambiental, Em outras palavras, degradagao ambieptal corresponde a impacto ambiental negativo. A degradacao refere-se a qualquer estado de alteragzo de um ambiente e a qual- quer tipo de ambiente. 0 ambiente construfdo degrada-se, assim como os espacos naturals. Tanto 0 patriménio natural como 0 cultural podem ser degradados, desca- racterizados ¢ até destruidos. Varios desses termos descritivos serio utilizados para caracterizar impactos ambientais. Assim como a poluiglo se manifesta a partir de um certo patamar, também a degradasao pode ser percebida em diferentes graus. 0 frau de perturbago pode ser tal que um ambiente se recupere espontanea- mente; mas, a partir de certo nivel de degradagdo, a recuperagao esponti- Tipo de sisterna Fungdes Sistemas de suparte 8 Nida e regulagem nea pode serimpossivel ousomente se 2 os cielos naturals dar a prazo muito longo, desde que a fonte de perturbagto seja retirada ou && si reduzida. Na maijoria das vezes, uma & natinivea Grade ago corretiva é necessiria. A Fig. 1.3 sehagen mostra de maneira esquematica 0 conceito de degradago ambiental € Z 0s objetivos das agdes de recuperagio-¥ € Agricultura, pecudea, : oes i sive esaucutura ee g Se o ambiente pode ser degradado de BS a = diversas maneiras, a expresstio drea £3 Cees 2 degradada sintetiva os resultados da 3B ; é degradacao do solo, da vegetagio ¢ muitas vezes das aguas. Em que pese a relatividade do conceito de degra- dagfo ambiental, a Fig, 1.4 mostra uma area inegavelmente degradada. Situada em Sudbury, provincia de On- tario, Canadé, uma vasta area (cerca fe 2000 ta) no entorno das usines Fig 13 concitosdedeqrodsto®repeoctoambietaesuo raps come Stalurgia de niquel e cobre foi sustentobilidede (modificado de UICN/PNUMAJWVF, 1991) Recuperagio ‘ambiental Jaliacao de Impacto Ambiental: conceitos ¢ métodos degradada pelas emissdes de S02, pro-, venientes dos fornos de fundigéo por rejeitos das minas € pela poluigdo das Aguas, desde que as primeiras fundigoes comegaram a funcionar em 1888, libe- rando 0 didxido de enxofre praticamente 20 nivel do solo, matando a vegetacdo € acidificando 0 solo e as aguas (Win- 4 | terhalder, 1995). e| al A capacidade de um sistema natural se | recuperar de uma perturbag&o imposta 3 por um agente externo (ago humanaou | processo natural) € denominada resili; éncia, Esse conceito surgiu na Ecologia, no infefo dos anos de 1970, a partir de analogias com conceitos da fisica, como resisténcia eelasticidade. Westman (1978, p. 705) reviu varias definigdes © concei- ‘tuou resiiéncia como “o grau, maneira ¢ ritmo de restauragao da estrutura e fun- cio iniciais de um ecossistema apés uma perturbagdo", Jé Holling (1973, p. 17) 44 a0 conceito de resiliéncia um entendimento distinto: “a capacidade de um sistema de absorver mudangas (..) e ainda assim persistir”, Para esse autor, resiliéneia é diferen- te de estabilidade, entendida como “a capacidade de um sistema retornar a um estado de equilibrio depois de uma perturbagéo temporaria” Fig. 1.4 Area degragada em Sudbury, Canad. A chuve dcidaresutante dos cmissées de SO> degradou a vegeta¢éo, com conseqiente perda de solo e degradagéo das éguas.Adrea era originaimente coberta por lorestasde co- niferas, mas foi sueita a exploragao floresta desde o final do século XIX. Ao undo, ura chaminé de 281 m de altura tem o objetiva dedi dispersor 0 poluentes atmosféricos Aide ta naw teaey 1.5 IMPACTO AMBIENTAL A locugio “impacto ambiental” é encontrada com freqiiéncia na imprensa ¢ no dia- a-dia. No sentido comum, ela é na maioria das vezes, associada a algum dano a natureza, como a mortandade da fauna silvestre apés 0 vazamento de petréleo no ‘mar ou em um rio, quando as imagens de aves totalmente negras devido & camada de leo que as recobre chocam (ou “impactam”) a opiniao publica. Nesse caso, trata-se, indubitavelmente, de um impacto ambiental derivado de uma situagdo indesejada, que € 0 vazamento de uma matéria-prima. tes Embora essa nocio esteja incluida na nogio de impacto ambiental, ela d4 conta de apenas uma parte do conceito, Na literatura téeniea, hd varias definigdes de impacto ntal, quase todas elas largamente concordantes quanto a seus elementos bisi- cos, embora formuladas de diferentes maneiras. Alguns exemplos sto: * Qualgueralteragio no meto ambiente em um ou mais de seus componentes ~ provocada por uma a¢%0 humana. (Moreira, 1982, p. 113.) * 0 eftito sobre 0 ecossistema de uma agio induzida pela homem, (Westman, 1985, p.5.) + A mudanga em um parimetro ambiental, num determinado periodo e numa determina area, que resulta de uma dada atividade, comparada com a siuag20 ae ocoreria se essa atividade nao tivesse sido iniciada (Watherr, 19866, p.7.) aoc cb ee peru i Concertos € Deri ae 2» ‘A definigdo adotada por Wathern, tia linha do que havia sido proposto por Munn {1975, p. 22) tem a interessante caracteristica de introduzir a dimensio dinamica dos processos do meio ambiente como base de entendimento das alteragdes ambientais venominadas impactos (Fig, 1.5). Um exemplo de aplicagdo desse conceito pode ser dado com a seguinte situagdo: suponha uma determinada area ocupada por uma formacio vegetal, que J foi, no passado, alterada por ago do homem, com 0 cor te setetivo de espécies arbéreas. 0 estado atual da vegetagdo dessa area pode ser dlescrito com a ajuda de diferentes indicadores, como a biomassa por hectare, a den- Sidade de individuos arbéreos de diametro acima de um determinado valor ou algum jndice de diversidade de espécies. Se a vegetagio foi degradada por ago antrépica no passado, mas nao sofre hoje press6es desse tipo, provavelmente estard em pro- cesso de regeneragdo natural, ou seja, tenderd, dentro de um certo periodo (talvez a ordem de dezenas de anos), a voltar a uma situacio préxima & original ou a de climax, ‘A descrigéo da situagao atual da area por meio do uso de algum indicador pode sugerir que ela tenha pouca importincia ecolégica - por abrigar poucos individuos arbéreos de grande porte, por exemplo, Mas com 0 pas- sar do tempo, a area deve estar em melhores condigdes do que as atuais, abrigando arvores maiores ¢ de maior diversidade. De acordo com Projeto iniciado Indicedor embiental Situagto sem projeto impacto ambiental Situagde com projeto Tempo ‘oconceito de Munn e Wathern, se um empreen- Fig. 1.5 Representagio do conceito de impacto ambiental dimento vier a derrubar a vegetacao atual, seu impacto deveria ser avaliado no comparando a possivel situagio futura (area sem vegetagio) com a atual, mas comparando duas situagdes futuras hipotéticas: aquela sem a presenga do empreendimento proposto com a situagdo decorrente de sua implantacio. Na prética da avaliagto de impacto ambiental, nem sempre é possivel empregar esse conceito, devido & dificuldade de se prever a evolucdo da qualidade ambiental em uma dada Area. Nesses casos, que slo muito freqiientes, © conceito operacional de impacto ambiental acaba sendo a diferenga entre a provavel situagio futura de um indicador ambiental (com 0 projeto proposto} e sua situagio presente. Imagine o problema de avaliar 0 impacto sobre a qualidade do ar de uma nova fonte de emissao de poluentes: 0 cenario de referéncia para comparagio normalmente seria 0 atual, € nao um hipotético cendtio futuro, no qual novas fontes contribuiriam para deteriorar a qualidade do ar, uma vez que essas hipotéticas novas fontes no esto em anilise hoje, e, caso venham a ser consideradas no futuro, sera necessdrio avaliar seu impacto, levando em conta a situagdo do momento futuro. Uma outra definigdo de impacto ambiental € dada pela norma NBR ISO 14.001: 2004 (versio atualizada da primeira norma ISO 14.001, de 1996. Aqui ¢ reproduzida a traducao oficial brasileira da norma internacional,)+: “qualquer modificagao do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, pro- dutos ou servigos de uma organizacio” {item 3.4 da norma). E interessante conhecer © conceito de impacto ambiental adotado por essa norma porque muitas empresas ¢ outras organizagdes tém adotado sistemas de gestio ambiental nela baseados. Sob Sas normas da Organizagdo Iniernacional de Normalizagiio ~ ISO (fnternational Organization for Standardization) ‘so traduridas « publicadas pela Associagdo Brasileira de Normas Técnicas ABNT, entidade privada brasileira ‘filiada @ 150s ormas ABNT ssdo reconhecidas ppelo governo, par intermédio do Inmnetro ~ Instituto Brasileiro de Metrologia, Normalizagiio © Qualidade Industrial 30 PBBBaliagao de Impacto Ambiental: conceitos ¢ métodos tal ponto de vista, impacto ambiental ¢ uma conseqiiéncia de “atividades, produtos ‘ou servicos” de uma organizagio; ou seja, um processo industrial (atividade), win agrot6xico (produto) ou o transporte de uma mercadoria (servigo ow atividade) so causas de modificagées ambientais, ou impactos. Segundo essa definigao, impacto é qualquer modificago ambiental, independentemente de sua importncia, entendi- mento coerente com o de muitas outras definigdes de impacto ambiental. ‘Também as leis de diversas paises procurarain definir 0 que entendem por impacto ambiental. Na legislacao portuguesa, conjunto das alteragies favordvels € desfavoraveis produzidas em parimetros ambientais € sociais, num determinado periodo de tempo e numa determi- nada area (situagio de referencia), resultantes da realizaglo de um projeto, comparadas com a situagio que ocorreria, nesse periodo de tempo e nessa area, se esse projeto no viesse a ter lugar. Na legislacao fintandesa, os efeitos diretos € indiretos dentro e fora do territério finlandés de um projeto on operagbes sobre (a} sade humana, condigbes de vida ¢ amenity, (b) solo, gua, ar, clima, organistos, interacao entre cles, ¢ diversidade biol6gica, (©) a estrutura da comunidade, edificios, paisagem, paisagem urbana ¢ o patriménio cultural, ¢ (d) utilizagao de recursos naturals, Na legistagao de Hong Kong, {a} uma mudanga on-site ou off-site que 0 projeto possa causar no ambiente; (b) umm efeito da mudanga sobre (i) o bem-estar das pessoas, flora, fauna ¢ ecossis~ temas; (i) patriménio fisico e cultura; (Iii) uma estrutura, sitio ou outra coisa que seja de importancia histérice ou arqueoléaica; (c) um efeito on-site ou offsite de quaisquer das coisas referidas no pariigrafo (b) das atividades deserwvolvidas para 60 projeto; (d} uma mudanga do projeto que o ambiente possa causar, se a mudanca ou efeito ocorrer dentro ou fora do recinto do projeto, No Brasil, a definigao legell é aquela da Resolucdo Conama n° 1/86, art 1°: Qualguer alteragio das propriedades fisicas, quimicas ou biolégicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou cnergia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetem 1 ~asaiide, a seguranga eo bem-estar da popula; IL ~ as atlvidades sociais ¢ econémicas; II] - as condigdes estéticas ¢ sanitarias do meio ambiente; IV ~a qualidade dos recursos ambientais. Salta aos olhos, no caso brasileiro, a impropriedade dessa definigdo, que feliz~ mente nao é levada ao pé da letra.na pratica da avaliagio de impacto ambiental nem é tomada em seu sentido restrito na interpretagio dos tribunais. Trata-se, na verdade, de uma defnigio de poluigéo, como se cbserva pela mengio a “qualquer. forma de matéria ou energia” como fator responsavel pela.“alteragao das proprieé- $ dades fisicas, quimcas ou biolégicas” do ambiente, Paradoxalmente, a definigio de poluigao dada pela Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente reflete melhor 0 con- Piito de intpacto ambiental, embora somente no que se refere a impacto neqative Como se sabe, impacto ambiental também pode ser positive, £ oportuno agora spontar algumas caracteristicas do conceito de impacto ambiental quando comparado 20 de poluigto: ‘2 Impacto ambiental éum concelto mais amplo ¢ substancialmente distinto de oluigdo. ® Biguanio poluigéo tem somente uma conotagao negativa, impacto ambiental pode ser benéfico ou adverso (positive ou negativo). @ Poluigao refere-se 2 matéria ou energia) ow seja, grandezas fisicas que podem ser medidas ¢ para as quais podem-se estabelecer padres (niveis admissivels de ‘emissio ou de concentracéo ou intensidade). ‘8 Varias ages humanas causam significative impacto ambiental sem q fundamentaimente associados 4 emissio de poluentes (por exemplo, a constru- fo de barragens ou a instalagao de um parque de geradores eélicos) @ A poluigdo € uma das causas de impacto ambiental, mas os impactos ocasionados por outras agdes além do ato de poluir. @ Toda poluigo (ou seja, emissao de matéria ou energia alm da capa similativa do meio) causa impacto ambiental, mas nem todo impacto ambiental do como causa. ue estejam podem ser lade as tem a polui ‘A possibilidade de ocorrerem impactos ambientais positivos € uma nogdo que deve ser bem assimilada. Um exemplo corriqueiro de impacto positivo, encontrado em muitos cestudos de impacto ambiental, é descrito como “criagio de empregos”. Trata-se, como Gevidente, de um impacto social ¢ econdmico, campo em que é relativamente facil ‘compreender que possa haver impactos benéficos. Mas também hd impactos positives sobre componentes fisicos ¢ bidticos do meio. Um projeto que envolva a coleta ¢ © tratamento de esgotos resultard em melhoria da qualidade das aguas, ern recuperacio do habitat aquatic e em efeitos benéficos sobre a satide publica. Uma indistria que substitua uma caldeira a dleo pesado por uma caldeira a gas emitira menos poluentes, como material particulado e éxidos de enxofre, zo mesmo tempo em que, caso venha a ser abastecida por um dato de ga eliminadas as emissdes dos caminhdes de transporte de dleo € os incémodos causados pelo trafego pesado. Se impacto ambiental é uma alterago do meio ambiente provocada por agdo humana, entio é claro que tal alteracdo pode ser henéfica ou adversa. Mais que isso, um projeto tipico trard diversas alteragdes, algumas negativas, outras positivas, ¢ isso deverd ser considerado quando se prepara um estudo de impacto ambiental, embora seja devido as conseqiiéncias negativas que a lei exige a elaboragao desse estudo. Pode-se, entZo, postular que impacto ambiental pode ser causado por uma ago humana que implique: 1. Supressdo de certas elementos do ambiente, a exemplo de: supress2o de componentes do ecossistema, como a vegetacao; ® destruigao completa de habitats (por exemplo, aterramento de um mangue); Conceros € oan a a 32 FM aliacio de Impacto Ambiental: conceites ¢ métodos destruicao de componentes fisicos da paisagem (por exempio, escavagtes): & supressto de elementos significativos do ambiente construido: 4 supressio de referéncias fisicas a memoria (por exemplo, locais sagrados, como cemitérios, pontos de encontro de membros de uma comunidade); supresséo de elementos ou componentes valorizados do ambiente (por exemplo, cavernas, paisagens notaveis). 2. Insergdo de certos elementos no ambiente, a exemplo de: 4 introdugao de uma esp! % introdugio de componentes construidos (por exemplo, barragens, rodovias, edificios, areas urbanizadas}. +4, Sobrecarga (iniroducao de fatores de estresse além da capacidade de suporte do meio, gerando desequilibrio), a exemplo de: & qualquer poluente; & introdugo de uma espécie exética (por exemplo, coelhos na Australia): & redugdo do habitat ou da disponibilidade de recursos para uma dada espécie (por exemplo, impacto dos elefantes na Africa contemporanea aumento da demanda por bens e servigos piblicos (por exemplo, educasio, satide). ‘A luz de todas essas consideragées, 0 conceito de impacto ambiental adotado neste livro sera “alteragao da qualidade ambiental que resulta da modificacio de processos naturais ou sociais provocada por acao humana” (Sanchez, 1998a). Tal defini¢ao, 20 trabalhar sob a Optica dos processos ambientais, tenta refletir 0 cardter dindmico do ambiente. Pode-se ponderar que as questOes ligadas & supressdo ou insergiio de ele mentos em um ambiente ndo estejam suficientemente explicitas nessa defini¢ao, mas a vantagem da concisao ¢ preponderante. Impacto ambiental é claramente, o resultado de uma agdo humana, que € a sua causa Nao se deve, portanto, confundir a causa com a conseqtiéncia. Uma rodovia no é um impacto ambiental; uma rodovia causa impactos ambientais. Da mesma forma, um reflorestamento com espécies nativas nao €um impacto ambiental benéfico, mas uma agio (aumana) que tem 0 propésito de atingir certos objetivos ambientais, como a protecio do solo e dos recursos hidricos ou a recriagio do habitat da vida selvagem. Hé que se tomar cuidado com a nogio de impacto ambiental como resultado de uma determinada ago ou atividade, nao 0 confundindo com ela, Uma leitura mediana- mente atenta de muitos estudos de impacto ambiental revelaré que esse erro basico é freqitente. Evidentemente, tal erro conceitual compromete a qualidade do estudo ambiental. 1.6 ASPECTO AMBIENTAL 'A série ISO 14,000 é uma familia de normas sobre gesto ambiental. Comegaram a set desenvolvidas em 1993, tendo-por base uma norma britanica de 1992 e regulamen- tos europeus sobre auditoria e gestdo ambiental. A familia 1S0 14.000 compreende normas sobre sistemas de gestéo, desempenho ambiental, avaliagao do ciclo de vida de produtos (equivalente & avaliagio de impactos ambientais de produtos), rotulagem rs Suekebiisiany Concertos & dena 3 ambiental (selo verde) ¢ integracao de aspectos ambientais no desenho de produtos (ecodesign). ‘Anorma ISO 14.001 introduziu o termo aspecto ambiental, Tal termo era desconhecido dos profissionais envolvidos em avaliagéo de.impacto ambiental, ou era utilizado com outra conotacao, No entanto, devido as normas da série ISO 14.000, passou Jentamente a ser incorporado ao vocabulario de profissionais da indiistria e de consul- tores, ¢ chegou também aos 6rgdos governamentais. A norma NBR ISO 14.001: 2004 assim define aspecto ambiental: “elemento das atividades, produtos ou servigos de ‘uma organizagdo que pode interagir com o meio ambiente” (item 2.3). Tal definigtio requer explicagao € exemplificagdo. Situacdes tipicamente descritas como aspectos ambientais sio a emissio de poluentes ea geragao de residuos. Produzir efluentes liquidos, poluentes atmosféricos, residuos.sélidos, ruidos ou vibragbes nado 0 objetivo das atividades humanas, mas esses aspgctos esto indissociavelmente ligados aos processos produtivos. S40, assim, elementos, ow partes dessus atividades ou produtos ou scrvisos. Aqueles elementos que podem interagir com o ambiente sto chamados de aspectos ambientais. Outros aspectos ambientais tipicos so aqueles ligados 20 consumo de recursos naturais. Ao consumir agua (recurso renovavel), reduz-se sua disponibilidade para outros usos ou para suas fungdes ecoldgicas. Ao consumir combustiveis fosseis, seu estoque (finito) é reduzido. O consumo de agua ou de combustiveis, uma parte indissoctivel de um sem-mimero de atividades, sto aspectos ambientais, A palavra “aspecto” parece pouco adequada, pois € de uso corrente, mas consta de uma norma internacional, e por isso ¢ inevitvel empregi-la. Uma caracteristica posi- tiva da diferenciaggo entre aspecto c impacto ambiental adotada pela norma € deixar claro que a emissao de um poluente nao é um impacto ambiental. Impacto € alteracao da qualidade ambiental que resulta dessa emissio. E a manifestacdo no receptor, seja este um componente do meio fisico, bidtico ou antrépico. A Fig. 1.6 mostra esquema- ticamente a relagdo entre as ages humanas, os aspectos ¢ os impactos ambientais. As agdes sdo as causas, os impactos sio as conseqiiéncias, eriquanto os aspectos am- bientais sio os mecanismos ou os processos pelos quais ocorrem as conseqiiéncias. Aspecto ambiental pode ser entendide como 0 mecanismo através do qual uma agéo humana causa um impacto ambiental. Exemplos desta cadeia de relacoes so dados no Quadro 1.1. Evidentemente, uma mesma acao pode levar a varios aspectos ambientais e, por con- seguinte, causar diversos impactos ambientais. Da mesma forma, um determinado impacto ambiental pode ter varias cau- sas. Agdes humanas: Munn (1975, p. 21), um dos autores pio- —Atividades, Aspectos neiros no campo da avaliagao de impacto Produtos Ambientais ambiental, por sua vez, conceitua efeito —_Servigos ambiental como “um processo’ (como a erosio do solo, a dispersdo de poluentes, 0 deslocamento de pessoas) que decorre de Fig. 1.6 Relagdo entre agées humanas, aspectos ¢ impactes ambientais Ree: Impactos = ‘Ambientais| aliagdo de Impacto Ambiental: conceltos e métodos wvidede-ospecto-impacto ambiental de Squid > .redugdo da disponibilidad hide, Quadro 1.1 Exemplos de relagaes Lavagem de ropa ————» consumo avagem de louse. ———> langamento de agu com detergentes silent de po; =» emissdo de gases ——--——> del ‘em forno a lenha / eparticulas : Pintura de uma pega ——> emissdo de compostos ————-" metatica ‘organicos volateis “Armazehariento de.» vazamento Cy Gontaiiiagdo do sol @agual =! combustivel + g subterrénea “Transporte de carga ———> emissBo de ruidas > incomatio aos vizinhos ig ———> eutrofizagao te/ioracdo da qualidade do:ar deterioracéo da qualidade do ar lor Tegeicia de RORGeSHCNEES) eae ~ il 2 enteg SEER por caminhoes ‘Aranspotte de carga “auinento do trafego = ‘uma ago humana’, Diferencia-se, assim, de impacto ambfental entendide como anit alteragio na qualidade do meio ambiente. Segundo Munn, agoes humanas causim, ‘efeitos ambientais, que, por sua vez, produzem impactos ambientais © conceito de efeito arabiental é usado em alguns estudos de impacto ambiental € fem alguns livros-texto sobre avaliagdo de impacto ambiental, Tem a vantagem ae sr sitde "ponte" entze as causas (agBes humanas) ¢ suas conseqiéncias (Impactos) sermsenvar o term impacio ambiental para as alteragBes sofridas pelo receptor sela le elemento do ambiente fisico, bidtico ou antrépico. A fim de torné-la coerente comm as demais definigbes adatadas neste texto, 2 definigdo de efeito ambiental ser seformulada para alteragdo de um processo natural ou social decorrente de uma ago umana, Dessa forma, percebe-se que Id pontos em comum entre a nogiio de aspecto mbiental e 2 nosio de efeito ambiental, ambos representando interfaces ou Meco vrnmos entre uma causa (agdo hurmana) ¢ sua consequéneta (impacto ambiental 1.7 PROCESSOS AMBIENTAIS O ambiente € dinimico. Fluxos de energia ¢ matéria, teias de relagdes intra ¢ interes” pecifieas so algumas das facetas dos processos naturais que Ocorrern em qualquer erpesistema, natural, alterado ou degradado. Uma das maneiras de se estudar os Imipactos ambientais € entender como as agdes humanas afetam os processes natt- ais, Um exemplo pode clarificar esse raciocinio: os processos erosivos. ‘A-erosto um fenémeno {processo) que afeta toda a superficie da Terra, Sua intensi- Gade varia dependendo de fatores, como clima, tipo de solo, declividade e cobestura Vegetal, Em climas timidos, ha a formagao de soles espessos ¢ cobertura vegetal Ye endde 2 cobrir toda a superficie; j4 exp climas dridos, a vegetagdo ¢ mais rala ¢ 08 Lica é intensa. Em climas tropicais, ocorrem ‘grande quantidade de gua em curto perfodo de tempo), de Por sua vez, escarpas ingremes esto mais sujeitas & ago suaves, Assim, a erosto natural varia em inten~ 's de massa de solo perdida por unidade de area Jano). A agdo humana interfere no processo erosivo, solos mais rasos; nesses casos, a erosio el chuvas intensas (ou seja, grande potencial erosive. erosiva da chuva do que vertentes sidade ¢ pode ser medida em termos e por intervalo de tempo (t/hal hes ihe ceo geral tornando-o mais intenso. substituigio de uma Mloresta por uma culturay fasim como a abertura de uma vetrada ou de uma mina, S20 agBes que expoem © solo desprovido de sua protecdo Nvegetal natural & agao da chuva € d0 VentOy aumentando ag taxas de erosio. 0 Quadro 1.2 mostra exerplos de taxt de erosto laminar no Brasil, em diferentes qocais submetidos a diferentes formas We uso do soto. A perda de solos é medida por faperimentos realizados no campo, € 6 usea de correlacbes entre os tipos de uso do solo € as taxas erosivas tem sido ‘empreendida ha décadas. Observase claramente que a floresta atua como principal protetora do solo; quando substituida por pasta gem, as texas de crosio slo cerca veuma ordem de, grandeza (dez vezes) Maloy, ja fquando corre a substitulsdo Por ituras, 0 processo erosivo & cerca d& OS ordens de grandeza (mil vezes) mais inten go as taxas de erosao variam muito de cultura para cultura ¢ dependem também das praticas agricolas usa- fas, como o plantio em curvas de nivel, por exemplo, A implantacao de loteamentos urbanos ¢ a abertura fle minas elevam ainda mais a8 (@- veas de erosdo, uaa Ver que 0s Soles fieam diretamente expostos & 4940 da agua de chuva e também dos vén™ tos, Portanto, no & correto afirmar que a’constragdo de uma estrada 9 apertura de uma mina ou a derrubada de uma floresta causam erosto, hala Vista que processos erosivos j4 atua vam antes, O que essas agbes fazem intensificar a erosio, acelerando um proceso natural (Figs. 1-7 ¢ 1.8). © corolario da erosto € 0 assoreae mento de corpos dagua. Parte dos sedimentos transportados por ago tas aguas fica retida no fando de ios e lagos. Estudos feltos em um Jago de vrzea de um afluente do rio Madeira, em Rondénia, mostraram ue, entre os anos de 1875 ¢ 1961, & taxa de sedimentagio media era de 0.12 giem/ano, mas, a partir desse periodo, com a construgio da rodovia BR-264, 0 desmatamento progressive nessa bacia hidrografica ¢ a msinera- 80 ahuvionar de cassiterita, @ taxa de sedimentagio aumentou exponen= clalmente para atingir um valor dez Concertos dew il 38 Quadro 1.2 Estimativas de taxas de er0s00, segundo diferentes catego- rigs de uso do sol0 nen PTE EC uci aimee aud ie Floresta Amazonica 150 primaria, Roraima Vertente com deci de 20% Latossolo vermeth de 16% {atossolo vermelho-amarelo ise ees ‘Areas de mineragio, Quadrilatero Ferrifero, Minas Gerais ‘Solos de alteragéo de istos ¢itabiritos, bacias hidrogrésicas com vertentes Ti) Barbosa ¢ Feornside (2002) eet: Figs. 1.7 € 1.8 Regido de Nyanga, no Zimbdbue, um dos muitos locols do planeta afetodos pelo uso excessivo dos capacidades de suporte do sole, no ‘caso por atividades de criagéo extensive de gado em terras comunitérios, tendo como resultado @ degradagao dos solos e a eraséo intensa, exempli~ ficeda pela vororaca aliacdo de Impacto Ambiental: conceitos ¢ métodos vezes maior em 1985 (Forsberg et al. 1989). Esse exemplo ilustra que agées como remogio de vegetasao nativa tam- bém afetam outros processos, além do proceso crosivo. A infiltragto de dgua no solo € mais um dos processos mo- @ificados pela retirada de vegetacio. Nesse caso, 0 processo € retardado, ou soja, a0 invés de se infiltrar e atimen- tar os reservatdrios subterraneos, uma proporgio maior da agua de chuva escoa superficialmente, aumentando 0 volu- me de agua nos rios. Estudos realizados na Amazénia pelos autores Barbosa ¢ Fearnside (2000) mostraram que 0 es~ coamento superficial aumentou quase trés vezes em Roraima, onde a floresta foi substitufda por pastagem, ¢ até 30 vyezes em Rondénia, em situagao similar. Neste tiltimo caso, sob cobertura ve~ getal, apenas 2,2% da chuva escoava superficialmente, mas, em areas de pasto, 0 escoamento subiu para 49,896. Além de acelerar a erosio, 0 aumento do escoamento superficial acarreta maior fregiigncia ¢ intensidade das inundacbes, outro processo do meio fistco modificado por ages humanas. Outros processos podem ser induzidos fou deflagrados pela acgo do homem. Por exemplo, 0 bombeamento de égua subterrinea em Areas de rochas calcé- rias onde ocorrem cavernas (conhecidas como regives cérsticas) pode deflagrar um processo de abatimento da superficie do terreno, formando depressdes fechadas, conhecidas como dolinas. Varios processes podem ser retardados pela agdo humana, Em uma clareira aberta em uma floresta tropical, o processo denominado sucesso ecolégica tende a restabe- lecer a vegetacio nativa, primeiro pelo crescimento de espécies arbéreas adaptadas f intensa luz solar e 4 temperatura elevada, as pioneiras e, em seguida, depois do sombreamento da rea, pelo crescimento de outras espécies adaptadas & sombra e 2 temperaturas mais amenas caracteristicas do solo dessas florestas. A dispersio de sementes pelo vento e pelos animais auxilia a regeneracdo, Todavia, 0 manejo huma- no dessa clareira pode retatdar ou mesmo impedir a regeneraco, como acontece em i caso da semeadura de gramineas forra- geiras para criagto de gado, Finalmente, processes naturais podem fer alterados de forma complexa. Veja ge o caso de Jangamento de residuos do peneficiamento de bauxita em um Lago situado as margens do rio Trombetas, em Oriximind, Pard (Figs. 1.9 ¢ 1.10). Até a implantagio dese empreendimento, 0 lago Batata havia sofrido pouquissima aiteragdo antropica, 0 que o torna UM ‘caso muito interessante de estudo. Os rejeitos, constituidos por uma polpa de argilas € agua, cobriram os sedimentos lacustres naturais, de onde nutrientes, como nitratos, fosfatos ¢ sulfatos, cram jiberados para a coluna d'igua ¢ incor porados a0 fitoplancton, ¢ daf a toda a Cadeia alimentar, até retornarem 20 fundo do lago na forma de detritos. Os rejeitos acumulados no fundo do Tago interromperam esse ciclo, afetando a qualidade da agua ¢ todo o ecossistema Jacustre, com as seguintes conseqiléncias (Esteves, Bozelli ¢ Roland, 1990): @ redugio na densidade de fito ¢ zoopiancton e de peixes; @ redugao da densidade ¢ alteragdo retiversidade da comunidade figs. 1.9 ¢ 1.10. Duos wastes do fogo Bota, stuaco és mores 0918 benténica; Tiambetos, Par, A primeira mostra o ago em sua cond se redugao da liberagdo de nutrien- segundo, reoberto por rjits de lovonem bounita tes do sedimento para a coluna agua; 4 diminuigio da concentragio de matéria organica no sedimentos alteragdo na ciclagem e na disponibilidade de nutrientes. Fornasari Filho et af. (1992) apresentam uma lista de processos do meio fisico qué eualmente sie alterados por atividades humanas, alguns dos quats so mostrados no Quadro 13, com alguns processos ecolégicos, Além de completar o quatiro com Geze- nas de outros processos fisicas ¢ ecologicos, € possivel acrescentar também process sociais, formando, dessa maneira, uma base para o entendimento de como 2S ativi- fades tumanas afetam a dinamica ambiental, Um processo social freqilentemente induatdo por obras de engfenharia € outtos projetos pablices e privados én atragio de pessoas em busca de oportunidades de trabalho, verdadeiros fluxos migratorios pos- tos em marcha pelo mero aniincio de um grande projeto. notural, 0 38 Be de Impacto Ambiental: conceitos ¢ métodos | Process0s Geolégicas de superficie. ee cessos ¢ impactos ambientais. A situagao Erosio eee ambiental atual pode ser exemplificada Movimentacao de massa (escorregamentos etc) ior umalTazenda\ de cliacio elvavinos, ‘Afungamentos,carsticos m : onde um empreendedor pretende implan- i Processos hidrolégicos ; a Transporte de poluentes nas éguas tar um loteamento; dentre os processos Quadro 1.3 Exemplos de processas ambientaisfisicos e ecolégicos A Fig. 1.11 mostra a relagio entre pro- 5 Eutrofizagao de corpos ¢'agua atuais, pode-se selecionar 0 processo ero- ‘Acumlo de poiuentes nos sedimentos sivo, que, atuando sobre os pastos, implica lnundaeees certa perda de solo. A implantacéo de um Deposigao de sediments em rios e lagos Brod Joteamento induz uma intensificagao dos processos erosivos, devido 8 abertura de vias e & construgio de casas, com maior exposigéo do solo A acéo das aguas Praieeshs atimastereus: plaviais. sses processos modificados (no Transporte € difusdo de poluentes gasosos exemplo, intensificados) conduzem a uma nova situago ambiental, e 0 impacto: ambiental do loteamento, com relagéo a0 proceso erosivo, € representado pela situagdo futura com o loteamento em relagdo 4 evolugdo (situagdo Futura) sem 6 loteamento, Nesse exemplo, para fins de simular a situagdo futura sem o lotea- i mento, pode-se levantar a hipétese que esta seria muito semelhante a situagio atual (pastagem), de modo que, nessa hi- potese, 0 impacto pode ser deterninado comparando a provavel situagao futura com a situacdo atual. 1.8 AVAUACAO DE IMPACTO AMBIENTAL 0 termo avaliacio de impacto ambien- tal (AIA) entrou na terminologia e na literatura ambiental a partir da legisla sho pioneira que criou esse instrumento de planejamento ambiental, National Environmental Policy Act - NEPA, a lei de politica nacional do meio ambiente dos Estados Unidos. Essa lei, aprovada pelo Congresso em 1969, entrou em vigor em 1° de janeiro de 1970 ¢ acabou se transformando em modelo de legislaces similares em todo o mundo. A lei exige a preparagao de uma “declaragio detalhada” sobre o impacto ambiental de iniciativas do governo federal americano. ualidade ambiental ‘mailed Fig, 1.11 Processo e impacto ambienta! Tal declaracéo (statement) equivale ao atual estudo de impacto ambiental necessario em muitos paises para a aprovacio de novos projetos que possam causar impactos ambientais significativos. 0 termo assessment passou a ser usado na literatura para Conca Gesignar 0 processo de preparagto dos estudos de Impacto amnbientel. Essa palavra © Teese tem aie latina, 2 mesma que deu origem a assentar, sentan, em por uss & ingrnimo Ge evaluation, outra palavra de origem latina, @ mesmo que avaliar: Dal a feadugdo corrente em linguas latinas de environmental impact assessment como ava fiagao de impacto ambiental, eauacién de impacto ambiental, évaluation impact sur environnement, valutazione d'impatto ambientale 10 significado € 0 objetivo da avaliaglo de impacto ambiental prestamse @ imimeras fmterpretagdes. Sem ddvida, seu sentido depende da perspectiva, do ponto de vista fo proposito de avaliar impactes, As principais definigdes de avaliago de impacto cmbjental sao encontradas em Livros-texto sobre o assumto. Algummas delas so trans- critas a seguir. iB Atividade que visa identifica, prever, interpretar ¢ comunicar informagbes so- pre as consegiiéncias de uma determinada ago sobre a salide ¢ o bem-estar humanes (Munn, 1975, p. 23.) & Procedimento para encorajar as pessoas encarregadas da tomada de decisbes a Jevar em conta 0s possiveis efeitos de investimentos em projetos de desenvolvi mento sobre a qualidade ambiental e a produtividade dos recursos naturais ¢ um; instrumento para a coleta €a organizacao dos dados que os plancjadores necessi-} tai para fazer com que os projetos de desenvolvimento scjam mais sustentivets, ¢ ambientalmente menos agressivos (Horberry, 1984, p. 269) i 4 Instrumento de politica ambiental, formado por um conjunto de procedimentos; capaz de assegurar, desde o inicio do processo, que se faca um exame sistematico dos impactas ambientals de uma ago proposta (projeto, progranta, plano ow politica} e de suas altemativas, e que 05 resultados sejam apresentados de forma adequada ao ptiblico e aos responsdveis pela tomada de decisio, ¢ por eles sejam considerados (Moreira, 1992, P. 33). & A apreciagao oficial dos provaveis efeitos ambientais de uma politica, programa ‘ou projeto: alternativas 4 proposta; e medidas a serem adotadas para proteger 0 ambiente (Gilpin, 1995, p. 4-5). Um processo sistematico que examina antecipadamente as consequéncias ambientais de agdes humanas (Glasson, Therivel ¢ Chadwick, 1999, p. 4) ® 0 processo de identificar, prever, avaliar ¢ mitigar os efeitos relevantes de ordem biofisica, social ou outros de projetos ou atividades antes que decis6es importan- tes sejam tomadas (IALA, 1999). Uma defimigdo sintética ¢ adotada pela International Association for Impact Assess- ment - IAIA: “avaliacéio de impacto, simplesmente definida, ¢ 0 processo de identificar as consequéncias futuras de uma aso presente ou proposta’. Embora com diferentes formulacies, esses conceitos diferem pouco em sua esséncia. Aavaliagio de impacto ambiental é apresentada, seja como instrumento, seja, como procedimento (ou ambos), visando antever as possiveis consegiiéncias de uma deci- sio. E claro que os livros-texto tomam como pressuposto as legistagdes que, a partir da pioneira lei americana de 1969, foram adotadas em grande mimero de paises € que, como a brasileira, vieram a exigir a aplicagao desse instrumento em determi J madas situagdes. A tals exigencias vieram se somar os procedimentos adotades por instituigdes multi ou bilaterais de ajuda ao desenvolvimento e, mais recentemente, 40 ‘valiagto de dano ambiental ‘valiago de impacto ambiental Passado FA stiacdo de Impacto Ambiental: conceitos ¢ métodos por politicas voluntirias adotadas por algumas empresas. Bin todos esses contextos, a avaliasdo de impacto ambiental guarda determinadas caracteristicas comuns! carater prévio ¢ vinculo com o processo decisério sao atributos essenciais da ALA, ans quais se junta a necessidade de envolvimento piiblico nesse processo. 0 cardter previo e preventive da AIA predomina na literatura, mas também se pode encontrar referencias a avaliago de impactos de agBes ou eventos passados, por exemplo, depois de um acidente envolvendo a liberacdo de alguma substancia quimica. Embora a nogio de impacto ambiental envolvida em tais avaliagées seja fandamentalmente a mesma daquela da AIA preventiva, 0 objetivo do estudo nao ¢ ‘o mesmo, nem o foco das investigagdes. Nesse caso, a preocupagdo é com os danos causados, ou seja, os impactos negativos. F claro que também os procedimentos de investigagao sio diferentes, pois no se trata de antecipar uma situagao futura, mas de tentar medir o dano ambiental ¢, ocasionalmente, de valorar economicamente as perdas. A Fig. 1.12 representa graficamente essas duas acepgdes da avaliagéo de impacto ambiental. Para maior clareza, neste livro, AIA sera sempre referida como esse exer- cicio prospectivo, antecipatério, prévio “‘eingo € preventivo. O outro significado sera entendide como aatividade deavatiagao do dano ambiental. Uma predcupa-se Presente Futuro Fig. 1.12 Dues ocepsbes distintos da avoliogdo de impacto ambiental como futuro, outra, com 0 passado e 0 presente, Ambas tém um procedimento comum, que é a comparagio entre duas situagées: na avaliagio do dano ambiental, busca-se fazer a comparacdo entre a situagdo atual do ambiente ¢ aquela que se su- poe ter existido em algum momento do pasado. Na avaliagio de impacto ambiental, parte-se da descrigdo dessa situagdo atual do ambiente para fazer uma projegdo de sua situagdo futura com e sem o projeto em andlise. f claro que, em ambos 0s casos, énecessétio o conhecimento da situago atual do ambiente. Denomina-se diagndstico ambiental a descrigéo das condigées ambientais existentes em determinada area no ‘momento presente, A abrangéncia e a profundidade do diagndstico ambiental depen- der dos objetivos € do escopo dos estudos. ‘Nessa ordem de preocupagdes com 6 passado, outro termo bastante utilizado é passive ambiental, aqui entendido como “o valor monetario necessario para reparar os danos ambientais” (Sdnchez, 2001, p. 16), mas também usado para designar a prépria mani- festagio (Fisica) do dano ambiental “acimulo de danos ambientais que devem ser reparados a fim de que seja mantida a qualidade ambiental de um determinado local” (Sanchez, 2001, p. 18) 1.9 RECUPERACAO AMBIENTAL ambiente afetado pela ago humana pode, em certa medida, ser recuperado mediante agées voltadas para essa fimalidade. A recuperacio de ambientes ou de ecossistemas degradados envolve medidas de melhoria do meio fisico, por exemplo, a condicéo do solo, a fim de que possa ser restabelecida a vegetagao ou a qualidade da Agua, a fim coir seBrcienaaiee Conoanos & occ 4 de que as comunidades biéticas possam ser restabelecidas - e medidas de manejo dos clementos bidticos do ecossistema - como o plantio de mudas de espécies arbdreas ou a reintroducao da fauna. Quando se trata de ambientes terrestres, tem-se usado 0 termo recuperagdo de dreas degradadas. A Fig, 1.13 mostra diferentes entendimentos ou variagbes do conceit de recuperacdo de areas degradadas. No eixo vertical, representa-se de maneira quali- tativa 0 grau de perturbacdo do meio, enquanto o ¢ixo horizontal mostra uma escala temporal. A partir de uma dada condigio inicial (nio necessariamente a condigao “original” de um ecossistema, mas a situagdo inicial para fins de estudo da degrada io), @ area analisada passa a um estado de degradacdo, cuja recuperagdo requer, na maioria das vezes, uma intervengao planejada ~ a recuperagdo de areas degradadas. Vale recordar 0 conceito de recuperagio ambiental expresso ma Fig. 1.3, que funda- mentalmente significa dar a um ambiente degradado condigées de uso produtivo, restabelecendo um conjunto de fungdes ecolégicas e econdmicas. Recuperago ambiental € um termo geral que designa a aplicagéo de téc- nnicas de manejo visando tornar wm ambiente degradado apto para um novo uso produtivo, desde que sustentavel. Dentre as variantes da recuperagio ambiental, a restauracdo ¢ entendida como 0 retorno de uma drea degra- dada as condigies existentes antes da degradagao, com o mesmo senti- do que se fala da restauragio de bens culturais, como edificios histéricos. Bm certas situagdes, as ages de re~ cuperagéo podem levar um ambiente degradado a uma condi¢ao ambiental melhor do que a situagéo inicial (mas somente, € claro, quando 2 condicao for a de um ambiente alterado). ‘Um exemplo é uma drea de pastagem com crosio intensa que passa a ser usada para explotagao mineral € em seguida é Tepovoada com vegetagdo nativa para fins de conservacao ambiental. Condisao, Incl cotretiva Contigio ‘tual Abantdone (Grau de perturbaséo degrodadas A reabilitagdo & a modalidade mais freqiiente de recuperagio. No caso das atividades de mineragio, esta € a modalidade de recuperagdo ambiental pretendida pelo regula- mentador, ao estabelecer que o sitio degradado devera ter “uma forma de utilizagio". As ages de recuperasao ambiental visam habilitar a Area para que esse nove uso ossa ter luger. A nova forma de uso devera ser adaptada ao ambiente reabilitado, Que pode ter earacteristicas bastante diferentes daquele que precedeu a agao de degra- dacto, por exemplo, um ambiente aqudtico em lugar de um ambiente terrestre, pritica relativamente comum em mineragdo. Essa nova forma de uso é chamada de “redefi- nico" ou “redestinagio" por Rodrigues e Gandolfi (2004, p. 238), através da criagio de um “ecossistema alternativo” (Cairns Jr, 1986, p. 473). a merece seer eee Tempo. Recuperagao que supera a condigéo iniciat Restauragio eabilitagio Remediagio ‘Atwagio natural Recuperacso espontinea Continuidade dda degradacio Fig. 1.13 Diagrama esquemético dos objetives de recuperagdo de éreas 2 "Bens a proteger” 64 terminolagia + adotada no Manual de Areas Contaminadas da Cetesb. Correspondem aos recursos ambientais definidos na Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente, & satide e ao bem- ‘estar pilblicas. 2 Be. de Impacto Ambiental: conceitos e métodos 0 Decreto Federal n° 97.632, de i0 de abril de 1989, que estabelece a necessidade de preparagio de um Plano de Recuperagao de Areas Degradadas para todas as’ atividades de extracao mineral, define que: “A recuperacdio devers ter por objetivo © retorno do sitio degradado a uma forma de utilizacao, de acordo com um plano pré-estabelecido para 0 uso do solo, visando obtengéo de uma estabilidade do meio ambiente” (art. 3°). A remediagdo ¢ 0 termo utilizado para designar a recuperagéio ambiental de um tipo particular de area degradada, que sto as areas contaminadas. Remediagao é definida como “aplicagao de técnica ou conjunto de técnicas em uma Area contaminada, visando & remogo ou contengio dos contaminantes presentes, de modo a assegurar uma utilizagdo para a drea, com limites aceitiveis de riscos aos bens a proteger"? (Cetesb, 2001). Uma modalidade de remediagao é conhecida como atenuacéo natural, na qual nao se intervém diretamente na drea contaminada, mas deixa-se que atuem processos naturais - como a biodegradagtio de moléculas orginicas. A atenuagao natural é uma forma de regeneracao que somente tem sido autorizada em direas conta- adas se acompanhada por um programa de monitoramento. A inexisténcia de agies de recuperagdo ambiental configura o abandono da area, Dependendo do grau de perturbacdo © da resiliéncia do ambiente afetado, pode ocorrer um proceso de regeneragao, que & uma recuperagao espontanea. 0 abandono de uma area contaminada também pode, em certos casos, por meio de processos de atenuagdo natural da poluigdo, levar a sua recuperagao. Quando se trata de ambientes urbanos degradados, tém sido empregados termos como requalificagdo ¢ revitalizagdo, Os ambientes urbanos podem ser degradados em razao de processos socioecondmicos, como a reducdo dos investimentos puiblicos ou privados em certas zonas, ou em decorréncia da degradacao do meio fisico, como a poluigdo dos rios ou a contaminagdo dos solos. 1.10 SinTesE Definir com clareza o significado dos termos que emprega é uma obrigasao do profis- sional ambiental. Esse profissional esta sempre em contato com leigos ¢ técnicos das mais diversas dreas ¢ especialidades. A comunicacdo ¢ uma necessidade indissocidvel da atuagio profissional na area ambiental. Por outro lado, estabelecer uma termino- logia comum é obtigatério para uma comunieagdo eficaz entre autor ¢ leitor. Ao longo deste texto, sero adotados os seguintes conceitos: Poluigdo: introdugao no meio ambiente de qualquer forma de matéria ou energia que possa afetar negativamente 0 homem ou outros onganismos. ® Impacto ambiental: alteragdo da qualidade ambiental que resulta da modificagao de processos naturais ou sociais provocada por agdo humana. 4 Aspecto ambiental: elemento das ati lades, produtos ou servigos de uma orga- io que pode interagit como melo ambiente (segundo NBR ISO 14.001 niza 2004}, Efeito ambiental: alteragao de um proceso natural ou social decorrente de uma agio humana. pele mse, ‘naeaeien acters si Conesros Ooms 4s Degradaclo ambiental: qualquer alteragao adversa dos processos, fungdes ou componentes ambientais, ou alteragao adversa da qualidade ambiental Recuperago ambiental: aplicagao de técnicas de manejo visando tomar um ambiente degradado apto para um novo uso produtivo, desde que sustentavel. & Diagnéstico ambiental: descrigao das condigdes ambientais existentes em deter- minada area no momento presente. ‘@ Avaliacao de impacto ambiental: proceso de exame das conseqiiéncias futuras de uma ago presente ou proposta. GANCHEZ, L. Es prabiagas de impacts ambvientat. conor e rrdtedar . Sdo Paulo : Obicirn de tetes , 2006.

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