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UMA PROPOSTA DE CLASSIFICACAO DOS COEFICIENTES DE VARIAGAO PARA A CULTURA DO MILHO' CARLOS ALBERTO SCAPIM?, CLAUDIO GUILHERME PORTELA DE CARVALHO? e COSME DAMIAO CRUZ! RESUMO - Foi proposta uma classificagto dos coeficientes de variagio para a cultura do milho dos caracteres altura da planta, attura da espiga, peso de 100 gros, niimero de espigas, peso de espi- ‘B28, peso de gros ¢ prolificidade com base nos dados obtidos a partir de 66 tescs na Arca de Genbéti- ‘ca ¢ Melhoramento de Plantas. Os coeficientes de variaco (CV's) foram classificados em fungiio ‘da média (m) do desvio-padrto (DP) do cardter ¢ de acordo com a proposta de Garcia (1989); baixo [sm- 1 DPI; médio {(m - 1 DP) m +2 DP]. Quanto a némero de espigas, peso das espigas, peso dos grios ¢ prolificidade, houve boa concordéncia entre a classificagdo proposta ¢ a de Pimentel-Gomes (1985). Contudo, para altura da planta, altura da espiga e peso de 100 grios, a classificago proposta apresentov-se mais adequada que a de Pimentel-Gomes (1985), ‘Termos para indexagSo: altura da planta, altura da insergto da espiga, gr8os, Zea mays, prolificidade, methoramento genético. A PROPOSAL OF VARIATION COEFFICIENT CLASSIFICATION FOR CORN GROWING ABSTRACT - A classification of variation coefficient was proposed for com growing of characters of plant height, ear carn height, 100 seeds weight, ear corn number, ear com weight, seed weight and rolificacy based on data obtained from 66 theses in plant improvement and Genetic area. The varia- tion coefficients (CV) were classified according to the average (A) and standard deviation (SD) of the character, according to Garcia's (1989) proposal: low [s A - I SD]; average ((A - 1 SD) A + 2 SD], There was a good agreement between the classification proposed and that of Pimentel-Gomes (1985) for ear com num- ber, ear com weight, seed weight and prolificacy. However, for plant height, ear com height and 100 seeds weight, the classification proposed was more apropriate than Pimentel-Gomes (1985). Index terms: Zea mays, plant height, car height, seeds, prolificacy, genetic improvement, xos, quando inferiores a 10' médios, quando de INTRODUCAO Denomina-se coeficiente de variagto (CV) a ex- pressio CV = 100 s/m, em que s é 0 desvio-padrio residual e m a média geral de um experimento. Se- gundo Pimentel-Gomes (1985), este coeficiente d4 uma idéia da preciso do experimento, e, tendo-se Por base os coeficientes comumente encontrados nos ensaios agricolas de campo, classifica-os em bai- * Accito para publicagtio em 5 de abrit de 1995. Eng. Agr., Dr., Se. Dep. de Biol. Geral Univ. Fed. de Vigosa, CEP 3650-000 Vigosa, MG. Eng. Agr. Dep. Biol, Geral - Vigosa, Eng, Agr., Ph.D. Dep. Biol. Geral Univ. Fed. de Vigoss, MG. CEP 36570-006. 10 a 20%; altos, quando de 20 a 30%, e muito al- tos, quando superiores a 30%. ‘Apesar de a classificagao dos CV's apresentada por Pimentel-Gomes (1985) ser extensivamente uti- lizada, algumas criticas foram apresentadas por Garcia (1989). Segundo esse autor, esta classifica- ‘io € muito abrangente ¢ nfio leva em consideragio 0s patticulares da cultura estudada, e, principalmen- te, nBo faz distingdo entre a natureza da caracteristi- ca avaliada. Nesse contexto, Carcia (1989) elabo- Tou uma nova classificagao dos CV's, para realidade florestal, com base nos dados referentes a 146 pro- jetos de pesquisa que englobavam as espécies dos ‘generos Lucaliptus e Pinus e os seguintes caracteres: didmetro & altura do peito, altura total, volume ci- lindrico, sobrevivéncia, e percentagem de falhas. esa, agropec. bras., Brasilia v.30, 1.5, p.683-686, maio 1995 684 Cabe ressaltar que a existéncia de um coeficiente que estime a precistio experimental é fundamental, uma vez que trabalhos cientificos sao realizados € comparados. Assim, concluir, por exemplo, que de- terminado trabalho ¢ concordante com o de outro autor pelo fato de ambos nilo detectarem efeito sig- nificativo quanto a determinada fonte de variacao, nfo seré apropriado se os coeficientes de variagtio (precisdo experimental) forem muito discrepantes. Por outro lado, quando se compara o CV experi- ‘mental (%) entre experimentos diferentes, deve-se, entretanto, tomar certo cuidado, pois stio obtides em condig&es experimentais diferentes, em que os ex- perimentos normalmente diferem na espécie ¢ na ‘caracteristica em estudo; na transformago aplicada A varidvel; na heterogeneidade dos solos e das plan- tas utilizadas, ¢ no tamanho da parcela. Dada a inexisténcia de uma classificagio especi- fica dos coeficientes de variagao na cultura do mi- Iho, este trabalho tem por objetivo classificar os co- ficientes de variag&o na ara de Genética ¢ Melho- ramento do Milho. MATERIAL E METODOS Foram obtidos dados de 66 teses na drea de Gendticae Melhoramento de Plantas, na cultura do milho, referentes aos CV's (%) dos seguintes caracteres: altura da planta (AP), altura da espiga (AE), peso de 100 gris (P100g), mnimero de espigas (NESP), peso das espigas (PE), peso CA. SCAPIM et al. Para andlise dos dados, utilizou-se o teste de Llliefors para verificar a normalidade dos dados ¢ também estatis- ticas descritivas,tais como: média geral (M), desvio-pa- ro (DP) maximo e minimo; assimetria; probabilidade da assimetria = 0, curtose; probabilidade da curtose = 3; bem como tabelas de frequéncia simples ¢ acumulada. ‘Os CV's foram classificados de acordo com a pro posta de Garcia (1989); baixo [s (m - 1 DP)}; médio [om - 1 DP) (m + 2 DP)]. RESULTADOS E DISCUSSAO Na Tabela 1, encontram-se os resultados para o teste de Lilliefors, bem como as estatisticas descri- tivas. Verificou-se, pelo teste de Lilliefors, que os co- eficientes de variagio de todos os caracteres apre- sentaram distribuigao aproximadamente normal, em nivel de 1% de probabilidade, exceto, P100g ¢ NESP. Nos dados que mostraram distribuigao pro- xima da normal, observaram-se algumas proprie- dades, como, por exemplo, probabilidadc, de assimetria = 0 e probabilidade de curtose ~ 3 (Ta- bela 1). Os caracteres P100g e NESP, apesar de apresentarem probabilidade de curtose diferente de 3, mostraram simetria. Assim, pode-se considerar que estes caracteres apresentam distribuig6es apro- ximadamente normais. No tocante as distribuigdes normais, 68,72% dos dos gros (PG) ¢ prolificidade (PROLIFI). dados estio incluidos entre m - 1 DP ¢ m+ 1 DP; TABELA I. Teste de Lilliefors ¢ estatisticas descritivas dos coeficientes de variagho obtidos das 66 teses consultadas. ‘Varidveis Teste de N*.de Média Desvio- Méx. Min. Assime- Probabilidade Curtose Probabilidade Lilliefors infomagdes geral —_padeo ‘via Assimetria =O Curtose = 3 2 —«664—«209”~«13,86 «280050 —OATAS 3,38 Osu. 238 9 3413 19,25 333 033 0.48ns. 246 © 0,43ns. 3 7,70 321 23,76 4,56 2,28 0,17n.s. 13,18 0,00°* 399 16,22 556 44,30 5,05 1,56 O42ns. 6,80 0,180.5. az 13,86 $57 3452 7,200 1,65 0.27ns. 615 0,01" 715 16,02 ‘S87 38,14 2.24 0,59 0,43ns. 4,76 0,17ns. 60 14,64 $04 32,05 7,30 1,28 034s. 5,31 0,08n.s. ‘AP Aitura da Planta; AF - Altura da Espiga; P100g - Pean de 100 Grins; PR Paan dn Fepign; NESP - Ne Fapigne, PG - Peso de Gros; PROLIF -Prolicidade, {.5.~ nfo ainiticativo a 1% de probabilidade pelo Teste de Lilifors. ‘+ sipitcativo a 1% de probabilidade pelo Teste de Liliefers. esq. agropec. bras, Brasilia, v.30, n.5, p.683-686, malo 1995 UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAGAO. 95,45% dos dados esto incluidos entre m - 2 DP e m +2 DP; ¢ 99,73% dos dados estfo incluidos entre m -3 DP em +3 DP. Para as distribuig6es aproxi- ‘madamente normais, as percentagens acima podem ser aproximadamente mantidas (Spiegel, 1985). Com base nos valores de maximo e minimo (Ta- bela 1), visualizou-se uma grande amplitude dos dados entre e dentro dos caracteres, o que demons- tra influéncia de grande nimero de fatores ¢ justifi- canecessidade de classificagao especifica dos CV's referente a cada cardter. 3s intervalos de CV's e as frequléncias esperadas ‘ observadas segundo a classificagto proposta, bem ‘como as frequéncias observadas segundo a classi cago de Pimentel-Gomes (1985) esto apresenta- dos nas Tabelas 2, 3 ¢ 4. As frequéncias esperadas foram obtidas considerando-se que os coeficientes de variago obtidos na experimentago com avalia- glo de materiais genéticos de milho tenham distri- buiggo normal ou aproximadamente normal. Sob normalidade, tem-se a expectativa de que a maioria, dos experimentos tenham coeficientes de variaga0 préximo da média ¢, de que coeficientes de varia- ‘¢Ho extremamente baixos ou extremamente altos ocorram, porém com baixa frequéncia. (Quanto ao caréter AP, os intervalos dos CV's se- gundo a classificaglo proposta seriam baixo (< 4,5); médio (4,5 < CV < 9,0); alto (9,0 < CV < 11,0) muito alto (> 11,0) (Tabela 2). As freqéncias ob- servadas nestes respectivos intervalos correspondem a: 16,81%; 72,41%; 8,62% respectivamente (Tabe- la 3). Segundo a classificag&o de Pimentel-Gomes (1985), ter-se-iam 96,55% dos CV's considerados 685 baixos, ¢, 3,45% médios. Nenhum dos dados seria classificado como alto ou muito alto Tabela 4. ‘Com relagdo ao cardter AE, os intervalos dos CV's, segundo a classificago proposta, seriam: bai- x0 (S 6,5); médio (6,5 < CV < 13,0); alto (13,0 < CV 16,0). As freqiién- cias observadas nests respectivos intervalos correspondem a: 18,48%; 65,97%; 14,29%, ¢ 1,26%, respectivamente. Segundo a classificagao de Pimentel-Gomes (1985), ter-se-iam 55,04% dos CV's considerados baixos e 44,96% médios, assim ‘como para 0 caréter AP, nenhum dos dados para 0 AE seria classificado como alto ou muito alto. Um aspecto interessante que altura da planta e altura da espiga s&o caracteres bastante correlacionados, muitas vezes, redundantes em de- terminados estudos genéticos. Os coeficientes de variagSo de altura da espiga sfo sempre maiores que os de altura da planta, evidenciando, nesse caso, uma influéncia da média, j4 que a influéncia ambiental, medida pelo desvio-padrao residual, deve possuir ‘magnitude semelhante para estes caracteres. Houve grande discordancia nas frequéncias ob- servadas das classificagdes para 0 caréter P100g. Segundo a classificago proposta, os intervalos dos CV's quanto a este caréter seriam: baixo (< 4,5); médio (4,5 < CV < 11,0) alto (11,0 14,0). As frequéncias observadas nes- tes respectivos intervalos correspondem a: 1,88%; 88,68%; 5,66% e 3,78%, Segundo a classificag’o de Pimentel-Gomes (1985), 88,67% dos CV's seri- am considerados baixos; 9,44%, médios, ¢ 1,89%, altos. Nenhum dos dados seria classificado como muito alto. ‘TABELA 2. Intervalo dos coeficientes de variagio segundo a classificacso proposta a partir dos dados obtidos em 66 teses anallisadas. Intervalo (96) Classificagso dos coeficientes “Alturade Altura da Peso de Peso da N Peso de Prolificidade de variagto planta espiga 100 grics espiga espiga artis Baixo 545) 565 345) 5108 580 < 100 Médio 45-90 65-130 45-110 10,5-22,0 80-200 10,0-22,0 Alto 90-110 130-160 110-140 22,0-27,5 20,0-25,0 220-280 Muito Alto >IL0 >16,0 >140 3278 3250 >28,0 esa, agropec. bras., Brasilia v.30, n.5, p 683-686, maio 1995 686 CA. SCAPIM et a. TABELA 3. Tabela de freqléncias dos coeficientes de variagio segundo a classifieasio proposta a partir dos dados obtidos nas 66 teses consultadas, SSS Frequéncia observada (2%) Clasificagto dos coeficientes: Frequéncia Alturada Alturada = Pesode = Pesoda. «= N'de = Pesode Prolifificidade se varingo csperada(%) planta espign 100 grtos_capignespigas’ gros Baixo 15386 1681 eae Tas 1082082 3334160 Médio 68,27 RAL 65,97 88,68 77,70 80,95 74,67 80,00 Alto: 13,59 8,62 14,29 $35 731 4,76 9,33 $,00 Muito alto 228 216 126 37843747267. TABELA 4. Tabela de freqiéncias dos coeficientes de variacSo segundo Pimentel-Gomes (1985), a partir dos dades obtides nas 66 teses consultadas, ‘Frequéncia observada (%) Classificagso dos coeficientes —~Alturada Alturada Peso de Peso da N¥de de varingo planta espiga 100 griios espign espigas Baixo 96,55 55,04 88,67 8,02 28,57 Medio 345 44,96 9,44 74,83 61,90 Alto. 0,00, 0,00 189 829 714 Muito alto 0,00 0,00 0,00 9.26 239 Em relago aos caacteres PE, NESP, PG e PROLIFI houve boa concordancia entre a classifi- cagtio proposta e a de Pimentel-Gomes (1985) (Ta- belas 2, 3 e 4). Observa-se uma ligeira diferenca ‘quanto aos limites da classificagao de alto e muito alto. A classificagdo proposta recomenda que 0 co- eficiente de variagtio seja considerado muito alto quando seu valor for acima de 27,5% para PE, aci- ma de 28% para PG, e acima de 25% para NESP e PROLIFI (Tabela 2). ‘Com base nestes resultados, pode-se inferir que para outros caracteres comumente utilizados no melhoramento de milho, como: florescimento mas- cculino, feminino, diametro da espiga, comprimento de espiga, nimero de fileiras de graios/espiga e teor de 6e0, a classificagao de Pimentel-Gomes (1985), provavelmente, nao seria adequada, pois estes sio caracteres pouco influenciados pelo ambiente. A insuficiéncia dos dados nao permitiu, contudo, uma anélise mais especifica para estes caracteres, CONCLUSOES. 1, Para os caracteres de rendimento como peso de espigas, nimero de espigas, peso de grios e ‘Pesq, agropec. bras, Brasilia, v.30, m5, p.683-686, maio 1995 prolificidade, houve boa concordéincia entre a clas- sificagdo da magnitude dos coeficientes de variagl0 proposta e a de Pimentel-Gomes (1985). 2. Para caracteres menos influenciados pelo am- biente, como: altura da planta, altura da espiga e peso de 100 griios, 0 método proposto apresentou-se mais adequado que o de Pimentel-Gomes (1985). 3. Pode-se inferir, quanto a outros caracteres menos influenciados pelo ambiente - com florescimento masculino e ferninino, diametro da es- piga, comprimento da espiga, ntimero de fileiras de grdos/espiga ¢ teor de leo -, que a classificagto de Pimentel-Gomes (1985) também néo seria ade- quada. REFERENCIAS GARCIA, C.H. Tabelas para classificagio do coefici- ente de variagAo. Piracicaba: IPEF, 1989. (Circu- lar Técnica, 171). PIMENTEL-GOMES. F. Curso de Estatistica Expe- imental, Séo Paulo: USP/ESALQ, 1985, 467p. SPIEGEL, MR. Estatfstica. S80 Paulo: Mc Graw-Hill, 1988. 454p.

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