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HORIZONTE De FSICOLOGIA SERGE MOSCOVICL Diego de Jorge Correia Jesuino WILLEM DOISE 1. A Mosifapto do Comportamento | Tas Joyee-Moniz ial | 2. Mudanga Sociale Psicologia S Varios DISSENSOES E CONSENSO Uma teoria geral das decisdes colectivas Serge Moscovie e Willem Doise a explicagdo deve partir do grupo ¢ centrar-se nele. Ela abordard, assim, estes problemas de um modo concreto e mais heuristico lados ¢ tentam inovar? De acordo com 0 que a a ser evidente que vamos propor uma teoria que associa estas relagdes aos seus efeitos, cujos sintomas so 0 compromisso ou 0 extremismo, E no estaremos a usar de falsa modéstia se dissermos, ¢ epetirmos, que ela é proviséria e necessita de igagées posteriores de aprofundamento, Isto é mais do que cevidente e ninguém tem ilusdes quanto & natureza efémera das hipéteses, nem quanto & dose de incerteza que os factos comportam, Para comegar, indicaremos as razées pel , em caso de diferendo, quer seja pessoal, pol tende esponta- ta de uma posigao extrema, Em seguida, exploraremos as condigdes que limitam esta propenséo, 0 que permite aprender melhor o préprio fenémeno de polarizagdo. Vere- como as decisdes que conduzem a0 consenso metamor- ‘20 mesmo tempo, as categorias do pensamento individual em ias de pensamento social. Mas mencionamos tantas vezes 0 que, antes de mais, devemos examinar as suas potencialidades, ue Ihe € préprio e 0 que de um modo geral toma o consenso Capitulo It AS FORMAS ELEMENTARES DE PARTICIPAGAO NAS DECISOES E NOS CONSENSOS 1. A NECESSIDADE DE PARTICIPAR 1 Os actos de decisao, bem como os actos de consentimento, sio, antes de mais, actos de paticipagio. Por diversas razdes, 0 seu valor sempenhar uma misso ; simplesmente dar um si ‘mundo no qual vi ressar-se poruma coi cles possam participar activamente» (1965, , 105). Eles tém, dade de saber que dependem da sua energia e da sua habilidade, juirem o sentimento de que esta energia ou esta habilidade silo necessérias e que a sua presenga € apreciada. Qu ‘améxima subtileza na frase comum «Fazer parte de ou nao fazer parte de>. Ela condensa a ideia de que fazer parte de uma familia, de um circulo, de uma assembleia, de uma categoria social € a condigio prévia obrigat6ria para uma forma de escolhae de entendimento que dé acesso as trocas que enformam a existéncia piblica de cada um. Dai 6 que se fagam tantos esforgos para nos tomarmos membros de uma associagao, ser eleitos para uma comissio, ter direito de reunir e de ‘comunicar com determinadas pessoas e assim sucessivamente. ‘Nao parece errado procurar o motivo disso numa necessidade profunda e presente em cada um de n6s. Estamos a falar da necessidade de participar, que se revela como uma necessidade auténtica na auséncia nao s6 de todo o constrangimento, como de tudo o que poderia, bloquear 0 impulso que temos dentro de nés e que nos arrasta para os ‘nossos semethantes ¢ para a accJo comum, Nenhum obstéculo, qual- quer que ele seja, pode impedir que esse impulso se manifeste em relagio a varias pessoas ¢ na vida piblica, arrancando o individuo apatiac Aindiferenca, «Daf que, observa com toda a azo Parsons, soja, a participagao de um actor numa relagao interactiva padronizada, ¢ sob ‘98 seus mais diversos aspectos, a unidade mais significativa do sistema social» (1952, p. 25) Como resposta a esta necessidade, 0 grupo deixa de ser, para aquetes que nele participam, um dado ou uma associacio exterior que ‘08 constrange a desempenhar uma fungo, a ocupar um determinado lugar, E a obra deles, aproxima-os e fi-los sentir que tudo 0 que eles fazem juntos representa uma escotha. Sim, a aviltada palavra partici- pagio designa bem essa relagao imediata e elementar na qual se passa de um estado de passividade a um estado de actividade, em que os deixam de ser apenas pedes num tabuleiro de xadrez ‘movido por regras previamente fixadas, ou os espectadores que assis- tema uma pega de teatro, Eles tém a latitude necessdria para modificar as regras, Variar 08 didlogos ou o enredo da pega. Deste modo, 0 grupo ultrapassa-os at se reconhecem como estando nna origem de! santemente para ocriar, de tal modo seus interesses e energias nele convirjam. O individuo e 0 cademos péstumos, Levy-Bruhl faz notar que «os homens nao come- gam por ser dados que em seguida entram em participagdes. P: dados, para que eles existam, € necessdrio que as participa- . Uma participago nao é apenas uma fuso, mis ide seres que perdem e entra na propria con 5 grupos? O que & que ela ‘queremos compreender 0 sentido desta nogio viva e rica de histéria, A nogo banalizou-se ¢ @ sm qualquer identidade. E como nfo pode ser, ode Arist6 mal ou um deus», ele nio pertence a nada nem a ninguém, Mas nao seria necessério nem (0 pormenorizada nem uma referencia tio erudita para © que ela tem de mais significativo, Por um lado, a partic ie0es mais intensas, mais frequentes do que o nor Ino, quer no que toca aos ccuidados familiares, quer as exigéncias de uma profissio, as relagdes dos individuos distendem-see automatizam-se. Os contactosespagam- -se, a indiferenga instala-se e a confianga desfaz-se. Basta renovar os, contactos, procurar e multiplicar as trocas para que os lagos voltem a ganhar vigor. As ideias ¢ as crengas ampliam-se & medida que se comunicam. Ninguém fica sem reagir e num s6 movimento as pessoas aproximam.se e estimulam-se. E 0 que se passa nos lugares piiblicos, cafés, bares e outros locais familiares em que se fazem e se desfazem as opiniGes piblicas. Descontraidamente, «ao reunirem-se em lugares paiblicos, escreve 0 economista Hirschman, os franceses e os ingleses escapam-se das suas actividades puramente privadas, discutem todo 0 género de assuntos de cariz piblico, desde os desportos mais populares © 0s escAndalos até aos aumentos de pregos e &s préximas eleigdes, © através disso envolvem-se na acgo com alguma relevancia para o ieresse puiblico. Ao encherem os cafés e os pubs, os franceses e os Jeses nio esto, com isso, a preferir o prazer ao conforto, mas sim tividades piblicas as actividades privadas.» (1979, p. 84). Cada individuo € constantemente solicitado a dar a sua opinido, a indicar as suas preferéncias, a persuadir ou a deixar-se persuadire, por vvezes, a adoptar sem o saber o ponto de vista comum. Mas \sreligiosas ou agrupamentos envolvendo nimeros ividuos e durante os quais estes, de algum modo, se menos se nao se abafarem as vozes que se procuram, cioeinios aparecem tanto mais justos, as aitudes eos valores tanto mais verdadeiras quanto foram vivamente combatidos por um dos lados € 68 defendidos comum. E porisso que no século passado o pensad 0 outro, com o objective de atingir a confirmagio 1és John Stuart izava.o voto piblico de preferéncia ao boletim secreto. Ele apela para que cada um participe de maneira intensa, 0 que «implica expor-se a si prdprio a novas influés ses competitivas do mundo, novas exigéncias relativamente as suas capacidades. Parece, pois, muito diferente de optar por politicas em fungao do seu inters 6 — dada a sua dificuldade — um exemplo de educagio social ¢ politica (1979, p. 80). Quanto mais numerosas sio as maneiras de pensar suscitadas na circunstancia, mais se alarga a gama de nogdes, a paleta das ideias ¢ 0 vocabulério de cada um, Mas também elas fortificam as conviegdes necessério defender nas diversas frentes, Por outro lado, os lide: o primeiro efei surgir € 0 fenémeno psiquico por meio do qual osentido de comunidade, um sentis ioso. Quem se transform recebe um nome proprio, Ora, 6 preciso resistir a esta pressio e, sem saber, cada individuo Para o individuo isso consiste em reassumir-se face a uma ameaga rréprio, do papel de actor definido pelos defende. Trata-se de dizer «nddo» a esse tendéncia para seguir a lei do menor esforgo e obedecer. Sem fazé-1o abanclonar os raciocinios e os inveresses pesso: compensa-o com uma facilidade de decisio. Mas o prego é uma cenergia e da sua iniciativa na acgio. Os les préprios para formar um conjunto vivo € 0 conjunto ele préprio para integrar os individuos. Esta & 6 necessidade que Pascal fazia notar; «A mi €confusdo; a unidade que nio dep« tar o que quer que seja, cada restabelecer o Iago de per descobrir 0 que tém em comum. Bastariam cerimés eis uns aos outros ao tomarem parte nos am qualquer certeza sobre o seu proprio 80 que cada um aspira a tornar-se act Recentemente, tem-se compat esta tem sido descrita segundo aq © ponto comum entre os indivi desempenharem um papel numa pea mas o participarem nela isso que as teorias que af se inspiraram, embora nos tenham para 0 palco ni nos deixaram penetrar nos bastidores, 2 , portanto, verdade que para nés «ser 6 paticipar». Deste modo, voltamo-nos sem dificuldade para os outros e para aexisténcia p Quaisquer que sejam as nossas tendéncias egoistas ¢ os nosso: ses diversos, a participagdo visa, em tltima andlise, satisfazer nos individuos essa necessidade de agir concertadamente, que se pode adiar mas no suprimir. Na pritica, ela depende do grau com que inicialmente aderimos e em seguida invé fo primeiro factor, entre uma certa empatia vis-a-vis dos nossos semelhantes, que nos leva «fazer eco dos seus sentimentos, a pensar 0s Scus pensamentos ea agir ‘0s seus actos. E és conseguimos tanto melhor isso quanto nos 65 famos 0s acontecimentos grandes ou pequenos — desde uma n desses momentos em que ser importiincia aos seus lade de que faz. parte as tristeza n que o prendem 6 © mulheres tém, portan relagdes no pressuposto de q conformeascircunstancias. até ao Amago 0 sentido que a fodavia, enquanto animais sociais, pertencendo do mesmo modo, pensam eles, que tomar lugar nos seus is,nas suas decisdes éa barragem contra a apatia © a depressao q\ aborrecimento que. espi Em quase todas as cul fica © mesmo. Quando chegamos ao porqué dos lagos entre estamos préximos de uma psicologia das profundezas, Mas nada obriga a ficar a superficie da psicologia, sob pretexto de que s6 podem observar coisas a proposito das quais podemos chegar a sem di deiinvestir recursos: 08 ps outros, sustentar uma acedo decidida em comum ou ay cer juntos. Bles t isfagio quanto 80 que est em. iar-se nas suas causa para aquele que escolhe entrar num grupo, ini 66 as ou aderir a um sindicato, crengas € nas suas prt abnegagio num partido, converter-se mente, Ble sente-se que se o grupo em vez. de querer dele, Medem-se melhor 0s ef quando se véo desgosto daqueles que se separam de uma igreja, de um. partido, que deixam a sua cidade natal ou o seu pais, abandonando tudo ‘© que Ihe tinham dado deles préprios. Visemos mais longe. Aquele que comecou a investir, mesmo pouco, aumenta inevitavelmente o seu lance, Nilo somente para nio perder aquilo que j4 arriscou, mas também porque, comegando a participar, ele muda e adq se alguém moe porqué, é 0 que se deduz de canos Freedman e Fraser (1966) diferente aos seus relacionado com uma ‘Voluntéios fazem os proprietériosa as a beleza da Ca de porta em porta para convencer A :m por objectivo «preservar a8 0 paz no mundo, é um tema mobilizador. Duas semanas mais tarde, pede-se a essas mesmas pessoas para i cartaz. com a frase: «Conduza devagat no . Os participantes consideram-se ‘pios. Actuam de acordo com deliberagdes de um ci ‘das pelo grupo uma parte dos parte dele, co vvam ao cidadiio que era convocado para as deliberagées pi estas condigdes nilo so satisfeitas, 0 homem fica privado dos outros homens. Digamos que a participagao se amplia proporcionalmente as 6 so s de uma colectividade dos investimentos consentidos pelos individuos e dos contactos suficientemente prolongados de: a traduzirem-sc em satisfacZo paraeles. Eevidente que muito depende, neste caso, da paixto e da forga dos ideais que eles desposam e das tradigdes do meio social, bem como do género de recompensa que dat nada a ver com a contribuigao fi una empresa, Ela tem uma maior set hhumanas tais como os peditérios de do conhecimento ou da salvagio. Act portam a sua propria recompen: ais diversos impulsos, que neces «Uma vez que se compreenda esta caracterstica da part acgio colectiva para 0 bem piiblico, comenta -lo. Mas nenhum ob: romancista american iste um beneficio que icidade sem a qual nenhum individuo e utilizar continuamente as suas capacidades. E 0 reconh« do esforgo que nds fazemos para tomar parte de modo significativo nas diversas tarefas prosseguidas em comum. De que serviria ser um born cidadio, um trabalhador 2eloso, um artista de talento, um administra- cio se ninguém o notasse, ninguém o proclamasse, ninguém consideragao? Para que serviria tudo isso se nfo se s de respeito uma condecoracdo, a eleigao para uma a? Um homem colocado A margem seria mo a sua acgHo ou a sua obra: um cidadio que um livro que ninguém Ié, uma teoria sem eco, um ‘trabalho que passa despercebido, um quadro Sobre o qual nfo se detém. © olhar indiferente. Quantos caracteres, mesmo dos mais enérgicos, niio foram destrogados pela indiferenga ou o siléncio dos seus préximos! 68 Nada arrasta mais para a participagio do que esta expectativa, cesta necessidade de ser reconhecido e incluido no seu mundo. Como acontece com o sfbio que trouxe uma contribuigdo preciosa para 0 ‘conhecimento (Hagstrom, 1965), ow o membrode um clube desportivo «que usa as suas cores em todas as competigdes. Quem quer que sea set tempo € a sua energia, 08 5 lade. E encontta jé uma certa recom- mesmo que representa o facto de sacudir a sua de estabelecer relagdes frequentes ¢ intensas com 0s outros, iente se nao fosse acompanhada de ’inguem, ou de que se distinguem . como seja 0 caso de uma equipa de futebol ou de jores. Quem deseja obter uma maior satisfagdo ¢ recompen- ‘maneira mais assfdua, de estar entre aqueles que decidem. secretério de uma associagio, do professor que esté em todas as comissGes ¢ assim sucessivamente, Para além da satisfagao que dé 0 xito, eles esperam ver-se atribuir 0 mérito e ser estimados por causa da sua contribuigao, I, ODIREITO F 0 AVESSO DAS DECISOES TOMADAS EM COMUM 1 E evidente que, quando os membros de uma comissao, de um_ partido ou de uma assembleia proviséria investem nisso, eles contam «que a sua voz. seja ouvida e que tenham peso no decurso dos aconteci- ‘mentos. Esperam, portanto, ter uma probabilidade de apresentar um ‘momento se pode recorrer & violencia para restabelecer a calma e a harmonia, Mas imediatamente a pretensio ao consenso ¢ abandonada, fa imagem de um governo que quebra as negociagdes com a oposiga0 decretar 0 estado de sitio e obrigar & submissio total, & espera lenciosa. Podemos recusar a uma categoria de pontos de vista 0 direito de tomar parte nos assuntos comuns, do mesmo modo que © parlamento inglés afasta um sector da opinio gragas a uma leieleitoral ue s6 permite que se oponham aqueles que se entendem, Isto permite 0 dues supde gua Em odo o cso, quanto maisox menor deer Digamos que sio ocasides favordveis as decisées yuscam um mesmo objectivo. E vemos porqué. F muito para as com 0s outros num grupo ce ri, ou uma descoberta dein facto que os provaguosdesnnte daupuscont ci cma pees Para além disso, é necessério tomar conscién- Sona nes fn ens arrastados para um movimento de controvérsias muito mais va do que o das preocupagées imedi Svesto co ning pdr ae made com eptar se aes nso que aja una aniteseaisponi auc aja homens pretsa fazer dela sua esac delend Ie Dese modo, objecco suscita uma resposta; cada raciocinio provoca io complementar que se entrelaga num todo dive | cM pear i ponto de vista da FS io, os in vidos que que malham o mesmo ferro, ion copes de arrasta as duas partes no movin 1864, p. 268), Nio se pode fugir a isso. Tanto mais nosh a isso, Tanto mais quanto uma e outra, do resmo modo que cada individuo que est despera de encontraralguém 70 diferente ou em oposigdo, sentem, mutuamente, uma tensio fisica dificil de apaziguar. Nao tanto em raz do contetido ou da diferenca, ‘mas porque o desacordo é manifestado através de uma outra pessoa & ser necessétio enfrenté-la, Cada um de nds sente este tipo de tensdio ‘uma reunizio em que se tem a impresstio que logo que boca, a guerra comega, Mas 6 um receio queespicaca, das partesé levada a redefinr o seu ponto de vista, aolhé-lo através dos olhos do outro e a considerar 0 ponto de vista do adversério como se fosse seu. Deste modo, ocruzamentode um grande ntimero de antiteses ede diferendos faz desviar o pensamento individual parao pensamento colectivo, Mesmo uma pergunta inocente como: «(Que pensar disto?> poe-nos de sobreaviso, Sabendo que nao €anossa resposta que estiem Causa, mas & nota para orquestrar uma sequéncia de controvérsias, «é has regras daqueles que estio envolvidos connosco que reside a ompreensiio comum da vida» (Mead, 1964, p. 192). ‘Nada é mais caracter(stico desta compreensio do que a polémica social, Mas o que fazer para que 0s membros do grupo estejam em desacordo quanto as suas escolhas sem que por isso percam a coragem ddeescolher? O que fazer para que eles aceitem debater e simultanea- mente aceitem estar dispontveis para buscar um entendimento? Sem querer resolver este problema, reparemos, no entanto, que a participa Go que agudiza 0s conflitos nos quais investimos tonifica ao mesmo {empoos lacos. Assim, no decurso das controvérsias e das réplicas, que constituem verdadeiros corpo-a-corpo, os membros do grupo exercem influéneia miitua para acentuar 0 que of aproxima. ‘uma sincronia e uma imitago que transformam cada palavra num sinal, cada gesto num modclo e cada informagao num Ergumento, Todas as formas da retGrica do pensamento e do corpo tomam-se manobras através das quais se encurtam as distincias e se amortecem as friegBes. Por s divisdes, dos mal-entendidos e das polémicas impiedosas,faz-se idade mental do grupo. ‘A tarefa mais dificil, sublinha Mead, é a realizagio do valor comum nna experiéncia dos grupos ¢ individuas em conflito» (1964, p. 365). Esta dupla dindmica do conflito e da influéncia ¢ facilmente rem qualquer comissio, jri, grupo de trabalho e assembleia deliberativa. E essa dindmica que nés simulamos nas nossas experién- ofsics fi etudada por 936) ¢ por muitos Bopdanoff vires investiga n cias. De facto, as pessoas que reunimos em grupos de quatro ou cinco «em laboratério, tendo por tarefa tomar uma decisdo por unanimidade, tém, cada uma delas, uma atitude prépria face ao problema que se hes submete. Para que as possibilidades de desacordo se manifestem, escolhemos temas apropriados, a paz, a emancipagio das mulheres, 4 ecologia, etc. E verdade que os contflitos sfo tanto mais intensos qu © tema é actual, os toca de perto e que esto autorizados a tomar pa Portanto implicados, nas trocas reciprocas. A necessidade de se ent derem obriga a um trabalho de persuasio e de sapa através. das diferengas até se conseguir sintetizar opinies e interesses. Para esca- parem aos dissabores que os desacordos provocam, as pessoas podem declarar: «Nao grave», «Nio € nada», «Nao tem importincia» Todavia, a obrigacio de atingir o consenso custe 0 que custar e de o subscrever, profbe esta escapatéria, Habitualmente, despreza-se este aspecto do conilito (e da sua implicag presente na realidade social. Nao se di distingue 0 jutzo de uma fazer uma escolha implica um maior Porum lado, a divergéncia das opinides ¢| de se pér de acordo combina o conf luéncia mitua acabamos de nos referir. Daf se deduz que os grupos heterogén ‘mudam ¢ polarizam mais do que os grupos homogéneos. E ‘outro, anecessidade reduzida mediante a discussao de grupo, 10 de participa- ‘0 de todo o grupo» (1967, p. 261). Mas eles nfo sabem por que é que esta auséncia de clareza se dissipa e faz sobressair atitudes extremas, Acabamos de dar alguns passos nesse sentido, 2 Ocxemplo mais comum desta necessidade de partcipar é talvez ©.dos rituais que as sociedades inventaram para a eles se submeterem. Elas nfo podiam deixar ao acaso as circunstincias nas quais os homens manifestam em pablico a sua adesio, nem ao arbitrio o grat em que investem na colectividade tanto tempo ¢ recursos. Instituiram, deste R adiscussio, Ecom elaa de homens falam depois de terem pensado. Se nto problemas poderiam ser exerceriam qualquer influéncia profunda. f verdade que a maioria v8 nisso uma forma de troca, em que, em vez de coisas se permutam informagdes como nos interrogat6rios judiciais, nos concelhos técni- de resolver uma dificuldade ou algo de semethante. Enquan- to que para a maior parte € um ritual de comunicagio que reiine periodicamente 0s membros de um grupo num lugar adequado — salio, café, mercado — segundo as regras prescritas. Este vinculo & utilidade aparente em que se fala por falar, por prazer, por jogo. Mas haimor parte dos easos, pelo simples facto de ser chamado-a debater, cada um Sente-se parte importante ‘membro do grupo que 0 (© que a coesio do grupo se reforga a intervalos alavras justas pronunciadas no devido tom eno momen- to preciso tém este efeito, qualquer que seja a informagdo que elas ‘comuniquem. «

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