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Teorias radicais da inflagao: uma analise critica’ Alfredo Saad Filho” Resumo {As teorias radicais da inflagdo podem ser classificadas em trés grupos: as que enfatizamo papel dos conflitos distributivos, o poder de monopélio ea intervengao estatal sobre a dindmica da moeda-crédito. Este artigo analisa estas interpretages ¢ indica como elas podem ser integradas de modo a explicar a inflagdo em sistemas monetérios nao conversiveis, preservando os supostos de endogeneidade e ndo-neutralidade da moeda Palavras-chave: Inflago, Marxismo, Pés-keynesianismo, Moeda-crédito, Conflito 0, Subconsumo, Monopélio. Cédigos JEL: B24, E31. Introdugao Entre meados dos anos setenta e oitenta, varias abordagens nao-ortodo- xas da inflagdo se desenvolveram, em parte estimuladas pelo colapso da “idade dourada” do capitalismo ¢ pelos distarbios econdmicos e sociais que a acom- panharam.' Entretanto, sua popularidade declinou com a marginalizagao das teorias econémicas “pés-classicas” (LAVOIE, 1992) nas ultimas duas décadas. Isto se deveu em parte ao acelerado movimento do debate econémico rumo a ortodoxia e, também, ao desenvolvimento natural dos interesses de muitos pes- quisadores nao-ortodoxos. Este artigo argumenta que as teorias ndo-ortodoxas da inflag&o merecem ser reavaliadas por duas raz6es. Primeiro, porque a infla- ao cria importantes problemas tedricos que nao so adequadamente tratados mentarios de Suzanne de Brunhoff, Ben Fine, Costas Lapavitsas, Maria de Lourdes Mollo, Alejandro Ramos, Malcom Sawyer e Jan Toporowski. A pesquisa para este arti- {go contou com o apoio financeiro da Nuffield Foundation (SGS/LB/203). ~ South Bank University Business School. 103, Borough Road — London SEI 0AA, UK. e-mail: asfilho@aol.com REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 199+ 67 em andlises inspiradas pela teoria quantitativa da moeda. Esta possui fundamen- tos tedricos frgeis, incluindo supostos normalmente irrealistas e inflexiveis como a concorréncia perfeita, pleno emprego e ajustamento sem custos entre distintos pontos de equilibrio. Embora estas limitagdes contribuam para tornar as andlises nao-ortodoxas potencialmente interessantes; elas permanecem num estagio de limitada elaboracdo. Segundo, porque as politicas antiinflaciondrias inspiradas pelas abordagens ortodoxas, mesmo quando bem sucedidas, normal- mente acarretam custos muito elevados, e tendem a modificar no longo prazo as relagdes de poder na sociedade em favor do grande capital ¢, em particular, dos interesses financeiros, em detrimento da maioria. Este artigo inclui esta introdugdo, trés segdes substantivas ¢ uma conclu- sao. As segdes substantivas analisam as mais conhecidas teorias radicais da inflagao, isto é, as do conflito distributivo, a andlise subconsumista ou do capi- tal monopolista, ¢ a abordagem da moeda extra. Esta no é uma lista completa das abordagens nao-ortodoxas e nenhuma delas é analisada exaustivamente. Além disso, para simplificar a andlise, a inflacdo ¢ identificada com uma eleva- 40 continuada do nivel geral de pregos, acompanhada de mudangas dos precos relativos. Esta definigao é insuficiente, especialmente por ignorar a inflagao “oculta” (quando os precos dos bens finais nao caem apesar do progresso téc- nico, dada a qualidade dos produtos). Apesar destas deficiéncias, este artigo visa dois importantes objetivos. Primeiro, explicar porque as andlises da infla- ao —inspiradas pela tradigao antiquantitativa de Steuart, Tooke, Marx, Kalecki ¢ Kaldor — sao problematicas, especialmente em sistemas monetérios nao con- versiveis. 8 dificil desenvolver uma teoria consistente da inflagao que reforce anogao de que as necessidades da produgdo e do comércio determinam a quan- tidade de moeda em circulagao (endogeneidade), e de que a moeda pode influir nas varidveis “reais” no curto e no longo prazo (ndo-neutralidade). Esse exerci- cio fica ainda mais complexo quando envolve diferentes formas de moeda, emitidas-pelo Estado e pelos bancos comerciais, cada uma delas com uma rela- go diferente com o circuito do capital. Apesar disso, é possivel delinear as condig6es gerais da inflacdo na segdo trés e na conclusao. a O segundo objetivo é o de integrar abordagens importantes que sao fre- qiientemente empregadas de forma pouco elaborada por um largo espectro de estudos radicais, incluindo autores pés-keynesianos, sraffianos, kaleckianos, circuitistas, institucionalistas e marxistas. Inflagao e conflito Pesquisadores de diferentes conviegées, especialmente pés-keynesianos, neoestruturalistas ¢ marxistas, argumentam que os conflitos distributivos sao, 62+ REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 em geral, a causa mais importante da inflagao (esta abordagem € particularmente intuitiva para os Marxistas, devido a sua aparente relagao direta com o concei- to de luta de classes). Esta segao se divide em duas partes. A primeira delineia as teorias do conflito distributivo e a segunda, critica seus supostos ¢ estrutura interna. Teorias do conflito Teorias do conflito derivam, em geral, das andlises classicas da inflagao de custos, muito populares nos anos ciniienta. Elas geralmente partem de si- tuagdes de equilibrio, supdem que a oferta de moeda é endégena, que as politi- cas fiscais e monetirias so passivas, e que alguns agentes-chave (especialmente © capital monopolista e os trabalhadores organizados) detém um poder de mer- cado substancial. A inflagdo ocorre se a soma das demandas sobre 0 produto nacional (que depende da renda real desejada, ou das fatias desejadas do pro- duto nacional, ou da taxa desejada de crescimento da renda real) excede 0 produto disponivel. Se a demanda por moeda e crédito é sempre satisfeita, a inflagdo naturalmente ocorre. Neste modelo, a taxa de inflagdo é uma funcao positiva do tamanho do conflito, da freqiiéncia dos reajustes nominais de pregos e salé- ios, ¢ do grau de utilizagao da capacidade; e uma fungdo negativa da taxa de crescimento da produtividade. As taxas de inflago podem se tornar rigidas para baixo (inércia) se alguns agentes indexarem seus pregos ou rendas. Neste caso, choques adversos tendem a gerar patamares de inflagdo cada vez mais eleva- dos. Em suma, existe inflagdo porque o Banco Central valida, direta ou indire- tamente, demandas incompativeis com o produto disponivel, na tentativa de proteger as instituigdes financeiras e manter a continuidade da produgao. Este argumento pode ser resumido de forma muito simples (KOTZ, 1987; LAVOIE, 1992, cap.7). O valor do produto nacional Y é: Y= Py= kL onde P = nivel de pregos, y = produto real, w= taxa nominal de salérios, L = volume de emprego e k = mark-up sobre os salarios (por suposto o maior componente dos custos). O nivel de pregos €: _ wl y onde L/y é o inverso da produtividade média do trabalho, v. Assim: REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999+ 69 Bohs bet Portanto, a inflagdo resulta de aumentos do mark-up ou da taxa de sala- rios além do aumento da produtividade. Este modelo pode ser aperfeigoado em muitas diregSes, incorporando niveis desejados de renda; expectativas; fungdes de rea¢do; limites nos salarios desejados, devido ao desemprego, ou nos lucros desejados, (colocar virgula) devido a concorréncia. Em geral, esta familia de modelos implica que, quando a inflagao é antecipada, o processo de transferén- cia de rendas reais através de aumentos de pregos se torna menos eficiente, ¢ a taxa de inflagdo precisa aumentar para atingir os mesmos objetivos. Segundo a abordagem do conflito, os custos da inflagdo podem se tornar tao altos que 0 Estado necessita intervir, geralmente em favor do capital monopolista (ver se- ga 2). A inflagdo pode ser analisada como tipica de uma fase do ciclo econémi- co ou como um processo estrutural que se consolida ao longo de uma série de ciclos. Em cada ciclo, a inflacdo é relativamente baixa na fase de retomada, quando existe elevada capacidade ociosa, alto desemprego e elevadas taxas de aumento da produtividade. Ela tende a crescer no final do boom, quando o de- semprego ja foi absorvido ¢ os trabalhadores se tomam mais militantes(BODDY ¢ CROTTY, 1976). As recessdes podem ter muitas causas e podem ser uma resposta deliberada das autoridades monetarias as crescentes demandas dos tra- balhadores (pode-se assumir que o setor monopolista obriga o Estado a adotar as politicas necessarias, ostensivamente para preservar a estabilidade financei- ra ou a competitividade externa do pais). Se o setor monopolista elevar os pre- ¢0s, apesar da redugao da demanda, porque a entrada de novos concorrentes & mais custosa ou para preservar a massa de lucros, e se os trabalhadores tenta- rem defender seu nivel de vida, a estagflacdo se torna possivel no longo prazo. A inflagao declinae o crescimento pode ser retomado, quando os trabalhadores ou setor competitivo, derrotados, concedem uma fatia de renda adicional para 0 setor monopolista ou recuam de suas demandas “excessivas” anteriores. A clevagao gradual da inflagao e a redugo dos aumentos da produtivida- de, em parte devidas a crescente resisténcia dos trabalhadores, foram impor- 64* REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 tantes causas do colapso da “idade dourada” (DEVINE, 1974; GORDON, 1981). No pés-guerra, o Estado “keynesiano” sistematicamente validou a inflagZo “rastejante” (reduzida, porém permanente) para estabilizar a economia e asse- gurar o crescimento do produto e da produtividade, com baixo desemprego e continuo aumento da renda real. As politicas necessarias foram facilitadas pelo gradual afrouxamento das ancoras nominais do sistema de Bretton Woods. Entre o final dos anos sessenta ¢ o final dos setenta, a reduc&o dos ganhos de produ- tividade, a crescente militancia dos trabalhadores e a competigao internacional reduziram drasticamente as taxas de lucro nos EUA e na Europa Ocidental.} A resposta inicial dos capitalistas foi a aceleragao da inflacdo. Para muitos a in- flag&o se tornou uma nova forma da crise, que tomou o lugar da deflagao e do desemprego. (Ver, por exemplo, JACOBI etal. 1975 e CLEAVER, 1989.*) Quan- do isto se comprovou insuficiente, os capitalistas reduziram o investimento doméstico, introduziram novas tecnologias poupadoras de mao de obra e mi- graram para 0 Terceiro Mundo, elevando consideravelmente o desemprego na OCDE. Ao mesmo tempo, 0 capital monopolista e o Estado atacaram os traba- Ihadores politicamente, reduzindo seus direitos legais durante recessdes justi- ficadas teoricamente pelo monetarismo e, mais tarde, pelo neoliberalismo. A derrota dos trabalhadores nos anos oitenta permitiu a elevagdo das taxas de lu- cro e, simultaneamente, a queda da inflagao.5 Quando o Estado busca reduzir a inflagao, ele pode se valer de Tecessdes, politicas de renda ou choques heterodoxos. Os economistas radicais criticam severamente as politicas fiscais e monetérias contracionistas, que sao tidas como ineficazes e custosas porque elas reduzem a inflagao apenas com longos perio- dos de desemprego ¢ baixos salarios e lucros, e grandes perdas de produgiio. As politicas de renda sao favorecidas por muitos pés-keynesianos, para quem ne- gociagbes ¢ politicas cuidadosamente escolhidas podem coordenar as deman- das sobre o produto nacional e reduzir a inflago, preservando o crescimento onivel de emprego (KOTZ, 1987; DAVIDSON, 1994). O. choque heterodoxo é um tipo de politica de renda imposta pelo Estado, ao invés de negociada entre 0s parceiros sociais. Ele pode ser necessdrio se a indexagao tornar as taxas de inflagdo altas ¢ rigidas para baixo. Neste caso, os agentes que aceitarem uma redugao da taxa de crescimento de seus pregos sofreraio perdas acentuadas de renda real no curto e no longo prazo. A implicagao politica deste jogo nfio-co- operativo é de que a melhor forma de reduzir a inflagao é através de um choque que congele pregos e salarios em torno de suas médias reais de longo prazo, ¢ que elimine institucionalmente a influéncia dinamica da inflagao passada.* REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999+ 65 Avaliagao Muitas teorias do valor, da produgao e de classes sio compativeis com a abordagem do conflito. Quando as classes s4o parceiras, é relativamente sim- ples obter estabilidade econémica através de politicas de renda negociadas. Entretanto, se é usada uma teoria de exploragao, a estabilidade econémica sé poderd ser obtida se os trabalhadores forem forgados a subordinagao, sob a ameaca de desemprego ou algo pior. Esta ambigiiidade torna as teorias do con- flito potencialmente atraentes para um largo publico. Entretanto, também as toma vulnerdveis. Por serem arbitrarias, tém seu rigor analitico reduzido. Segundo a teoria do conflito, a inflagao geralmente comega com algum deslocamento néo- paretiano da economia. O problema da alocagao de “culpa” fica, portanto, im- plicitamente colocado, e as politicas alternativas so geralmente avaliadas em termos de sua capacidade de fazer a economia retornar para 0 seu equilibrio inicial. A determinagao deste equilibrio nao é normalmente explicada. Também n&o se discute porque a economia ¢ a distribuigo de renda devam retornar a esse equilibrio. Além disso, as abordagens do conflito geralmente carecem de uma estrutura interna clara e sio compativeis com muitas teorias alternativas de emprego, demanda, renda e sua distribuigao inicial; e com regras muito di- versas de determinagao da renda desejada.’ Indeterminagées desse tipo podem ser eliminadas apenas com o estabele- cimento de relagdes organicas entre a abordagem do conflito e uma teoria eco- némica mais geral. Entretanto, muitas conexdes sdo possiveis, e nenhuma & necessaria. Em suma, as teorias do conflito sdo tipicamente de middle range (FINE e LEOPOLD, 1993). Elas derivam de um conjunto de fatos estilizados (por exemplo, os agentes exercem suas demandas sobre o produto nacional atra- vés da venda de seus bens ou servigos), que sao transformados em estruturas usadas para explicar esses mesmos fatos (por exemplo, 0 conflito distributivo levando a inflagao). Esse procedimento é tautolégico e é metodologicamente inaceitavel porque as teorias nfo se basciam numa estrutura mais ampla que sustente seus conceitos elementares e contextualize suas conclusées. A falta de uma teoria da produgdo implica que o Estado também nao pode ser adequada- mente localizado e tende a ser meramente justaposto ao conflito. O papel do Estado e as politicas econémicas derivam de outro conjunto de fatos estilizados, aracionalidade ¢ o poder das politicas nao sao explicadas e dependem muito das preferéncias do analista.* Apesar disso, as politicas econémicas sao evi- dentemente importantes e a relagao entre 0 conflito distributivo e a inflagdo depende muito da politica monetaria (ISAAC, 1991). Apesar destas criticas, a 66+ REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 abordagem do conflito é intuitivamente razoavel e potencialmente importante para qualquer teoria nao ortodoxa da inflacdo, pois é consensual que a inflagao 86 pode persistir se houver uma insatisfago generalizada quanto ao nivel e/ou distribuigéo da renda nacional (BURDEKIN e BURKETT, 1996, p.13). Monopdlios, subconsumo e inflagao Varios autores radicais argumentam que a inflago esté associada ao po- der crescente das grandes corporacées (também chamadas de monopélios). Muitos acreditam que sua influéncia tem aumentado devido a concentracio € centralizagao do capital (MARX, 1976, cap.25). Apesar de esta visio nao ser aceita através do espectro radical, é geralmente admitido que 0 processo de monopolizagao foi reforgado pelas politicas intervencionistas do “Estado keynesiano”. Essa teoria da inflagdo é geralmente acompanhada por uma visio subconsumista da economia, especialmente nos textos da “escola do capital monopolista”, para a qual as politicas expansionistas do Estado sdo essenciais para se evitar a crise’. Esta sego se divide em duas partes; a primeira delineia a teoria subconsumista do poder de monopélio, ¢ a segunda critica sua estrutu- ra interna e suas principais conclusées. Teorias da inflagao Esta abordagem argumenta que o Estado precisa apoiar os monopélios, pois este setor inclui as firmas mais dinamicas e os maiores investidores, em- pregadores, produtores ¢ exportadores, cuja prosperidade é essencial para a estabilidade econ6mica. Por isso, o Estado proporciona infra-estrutura barata para os monopélios, oferece isengao de impostos, financia direta ou indireta- mente parte de seus gastos em pesquisa e desenvolvimento, ¢ apoia sua expan- so no exterior. Além disso, o Estado despende largas somas com os salérios de servidores piiblicos e com o consumo e investimento puiblicos, financia progra- mas de satide, educago e defesa, e faz grandes transferéncias associadas com a seguridade social. Estes gastos apoiam os lucros monopolistas diretamente, através da demanda Estatal, ¢ indiretamente através das transferéncias aos consu- midores dos produtos dos monopélios. As politicas intervencionistas do Esta- do “keynesiano” proporcionaram niveis sem precedentes de estabilidade eco- n6mica, emprego ¢ crescimento, especialmente entre o inicio dos anos cingiienta © 0 final dos anos sessenta. Entretanto, elas contribuiram para a geragdo de persistentes déficits puiblicos, elevada divida publica e inflagao. REVISTA Soc, bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999+ 67 pouco claro como estes fatores contribuem para a inflagao.'* Em termos mais gerais, a causa da inflagdo varia entre as decisdes de prego dos monopélios e 0 ‘excesso de demanda induzido pelo Estado (que ¢ 0 resultado paradoxal da ten- tativa do Estado de evitar o subconsumo)."’ O impacto distributivo da inflagdo nao é analisado, com excegao do argumento de que os monopélios se benefi- ciam as custas dos trabalhadores e de outros grupos que recebem rendas fixas. Nao fica claro como isto se relaciona com uma teoria do salario ou da explora- &o."* Por fim, nao existem muitos estudos empiricos demonstrando que 0 cres- cente poder dos monopélios est relacionado com taxas de inflagdo mais eleva- das e com uma fatia menor dos salarios na renda nacional. Crédito e inflagao Uma analise alternativa foi delineada em meados dos anos setenta, expli- cando o fenémeno primordialmente como sendo o resultado de discrepancias entre a oferta ea demanda de moeda-crédito.'° A relagao entre a “economia real” € os sistemas monetario € crediticio ¢ fundamental, a qual normalmente se de- senvolve a partir da teoria do valor-trabalho (SAAD FILHO, 1997), apesar da contribuigdo de Keynes ser também importante. A primeira parte desta segao explica brevemente como diferengas entre a oferta e a demanda de moeda sao possiveis, apesar da endogeneidade da moeda; a segunda parte delineia a teoria da inflagao por moeda extra; a terceira parte mostra como essa abordagem ex- plicaa inflagdo em sistemas monetarios nao conversiveis; ¢ a quarta parte iden- tifica brevemente problemas a serem investigados no futuro. Moeda e crédito Sistemas monetérios contempordneos incluem duas formas principais de moeda-crédito: uma emitida pelo Banco Central, (que tem curso legal e paga qualquer divida) e outra criada pelos bancos comerciais (débitos de instituigdes financeiras privadas, oferecendo um direito potencial sobre outra forma de moeda). Além disso, créditos comerciais, ativos financeiros como CDs ¢ letras do Tesouro ou do Banco Central e moedas estrangeiras também podem cum- prir certas fungdes da moeda, A maioria dos autores pés-classicos acredita que a quantidade de moeda (crédito) é determinada pelo volume do produto, nivel de pregos, valor da moeda e pela estrutura institucional do sistema monetario financeiro (a velocidade de circulagdo da moeda sera suposta constante, por simplicidade). Mudangas em algum destes fatores induzem alteragdes na quan- 70* REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 tidade de moeda em circulagao, principalmente através de mudangas no volu- me de recursos entesourados (que podem incluir diferentes tipos de ativos fi- nanceiros), no volume de empréstimos bancérios e na base monetiria. Isso implica que a oferta de moeda é endégena em dois sentidos; primeiro, porque a moeda é necesséria para a produgao no capitalismo; segundo, porque sua quan- tidade e velocidade so determinadas pelas “necessidades do comércio”.” A endogeneidade da moeda nao implica que sua oferta nunca pode des- viar da demanda. Em primeiro lugar, porque a possibilidade de se determinar empiricamente a quantidade e velocidade da moeda declina conforme a andlise se torne mais concreta. Tanto a quantidade como a velocidade dependem de convengées sociais, incluindo as regras, regulamentos e a estrutura do sistema financeiro ¢ sua relago com a produgo; as relagdes internacionais e de pro- priedade na economia; 0 grau de concentragao do capital; ¢ outras variaveis que podem ser dificeis de serem estimadas na pratica. Em segundo, ¢ mais especi- ficamente, apesar de a moeda-crédito ser necessariamente criada em correspon- déncia com demandas individuais, sua oferta total pode ndo refletir as necessi- dades da economia. Este é claramente o caso quando empréstimos especulativos ajudam a inflar uma bolha especulativa nos pregos de iméveis ou agées, ou quando os bancos involuntariamente financiam a produgdo de mercadorias invendaveis.! Inflagdo por moeda extra Para demonstrar como as diferengas entre a oferta ¢ demanda de moeda podem levar 4 inflagdo, partiremos do circuito do capital. O circuito produtivo comega quando os capitalistas utilizam recursos previamente acumulados ou tomam emprestada moeda-crédito recém criada para financiar a producao. Se 0 produto ¢ eventualmente vendido ao prego normal (em termos marxistas, a0 prego de produgio), renda adicional ¢ criada, que pode ser acumulada pelas firmas, ser usada para pagar dividas ou ser distribuida como dividendos. Se o produto nao for vendido ou sé puder ser vendido com desconto, a perda pode ser absorvida de duas maneiras (de VROEY, 1984). Se as regras da economia de mercado forem respeitadas, um agente (ou conjunto de agentes) claramente definido absorve essa perda, normalmente a firma (caindo o valor de seus ativos) ou seu banco (se a firma falit). A firma pode tentar compensar essas perdas através de transferéncias de outros agentes, por exemplo, de seus trabalhadores (elevando a taxa de exploragao, possivelmente apenas no curto prazo) ou de seus clientes (se a firma tem poder de monopélio ¢ aumenta pre- REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 «71 0s em outras linhas). “Solugdes de mercado” como essas podem ser desesta- bilizadoras, porque podem gerar desemprego, subutilizacao da capacidade ins- talada, deterioracao das condigdes de trabalho e fragilidade financeira. Elas podem também levar a inflagao (se a firma aumentar pregos para cobrir suas perdas, possivelmente levando outras firmas a responder na mesma moeda) ou deflagdo (se a firma reduzir pregos para aumentar suas vendas ou se a demanda agregada cair devido ao desemprego ou a uma crise financeira). Alternativa- mente, as perdas podem ser socializadas se as regras do mercado forem viola- das. Isto pode ocorrer de duas maneiras. O banco credor da firma pode refinanciar sua divida, ou a firma pode receber subsidios do Estado (num caso extremo ela pode ser estatizada e ter sua divida “reestruturada” com recursos piiblicos). Em qualquer dos casos, ocorre uma injegiio de poder de compra na economia que eleva a relacio entre a moeda em circulaco e 0 prego de produgao do produto vendavel. Segundo de Vroey (1984), a moeda injetada na economia, contradi- zendo as regras do mercado, é a moeda extra. Os bancos ou o Estado podem criar moeda extra para cobrir perdas decor- rentes da produg’o, conforme mostrado acima. A moeda extra também pode ser criada em outras circunstancias, por exemplo, se o Banco Central monetiza déficits publicos; compra letras do Tesouro no mercado aberto; se 0 governo reduz as aliquotas de impostos (subsidiando os contribuintes); se 0 crédito ban- cdrio aumenta devido a redug4o das reservas compulsérias; se o Banco Central auxilia o sistema financeiro através da janela de redesconto; se o pais tem um superAvit nao esterilizado no balanco de pagamentos; se as firmas reduzem suas poupangas ou tomam empréstimos para aumentar a produgao, investir ou espe- cular com estoques; ou se as familias reduzem suas poupangas ou tomam em- préstimos, por exemplo, para adquirir bens duraveis.* Em cada um desses casos, a renda nominal ou a riqueza liquida do setor privado nao financeiro cresce, apesar de o valor do produto ser constante (a existéncia de equilibrio, atualmente ow no passado, é irrelevante). Se a moeda extra for gasta, ao invés de poupada ou destruida no pagamento de empréstimos, ela pode induzir uma resposta (po- tencialmente multiplicada) na oferta de setores operando com capacidade ociosa (“cenario Keynesiano”). Neste caso, haveré mais moeda e mais mercadorias em circulago, o que pode restaurar a relagdo anterior entre valor e moeda num nivel mais elevado de renda e produto. Entretanto, se a moeda extra aumentar a demanda em setores sem capacidade ociosa, e se importagées adicionais nao esto disponiveis, a relago entre moeda e valor nao é restaurada espontanea- mente. Uma nova relagao € estabelecida através de um aumento de pregos nes- REVISTA Soc. bras. Econor io de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 se mercado, ostensivamente devido ao excesso de demanda. Esta € a inflacdo por moeda extra. Esse tipo de inflacao ¢ independente da existéncia de poder de monopélio ou conflitos distributivos, apesar de ela ser geralmente um reflexo de um deles, ou de ambos. Ela pode ser devida a interven¢ao do Estado, mas 0 Estado nao é geralmente “culpado” pela inflago por moeda extra porque a moeda extra é rotineira e necessariamente criada por decisdes privadas que nao esto sujei- tas ao controle do Estado. Além disso, mesmo se ela for criada pelo Estado, é impossivel saber por antecipagdo para onde a moeda extra ira, e se ela tera um efeito prego ou quantidade, ou ambos (é possivel direciond-la, mas esta tentati- va é sempre imprecisa).2» Com 0 tempo, divergéncias entre as “necessidades do comércio” e a quantidade de moeda em circulacao sao eliminadas por mudan- gas no produto, velocidade, estoques entesourados ou no valor da moeda. En- tretanto, estes ajustes podem demorar ¢ criar instabilidade através de seu efeito sobre os pregos, a taxa de cambio, o balango de pagamentos e a taxa de juros.* Se essas discrepancias forem continuamente renovadas, elas podem levar a in- flagdo permanente, a severos desequilibrios do balango de pagamentos e A es- tagnagao prolongada, que demonstram a ndo-neutralidade da moeda e sua in- fluéncia potencial sobre a producao. Isso no implica que a moeda extra deveria, ou poderia, ser evitada, por- que sua criagdo ¢ destruicao regular é um aspecto necessdrio do circuito do capital. A opera¢ao normal do sistema financeiro, as politicas econémicas es- tatais e as relagdes internacionais do pais inevitavelmente envolvem a criacdo e destruigao continuas de moeda extra, ¢ podem levar a inflagdo ou a deflagao espontaneamente, no curto prazo (entretanto, a inflacao permanente é mais pro- vavel se o Estado intervém intensamente na economia). A coexisténcia de in- flagao ¢ desemprego € natural, porque a inflagio se deve a propagagao de des- valorizagées localizadas da moeda. Por fim, as mudangas nos pregos relativos, que necessariamente acompanham a inflago, so reflexo das diferencas estru- turais entre os sistemas de provisao.”* A teoria da inflago por moeda extra é completamente incompativel com a teoria quantitativa da moeda, porque as proposigées quantitativas de que a oferta de moeda é ex6gena e que a moeda é apenas um meio de troca e nao & entesourada so inaceitaveis. Isso porque a moeda extra é normalmente criada endogenamente pela interago entre o Banco Central, os bancos comerciais, firmas e trabalhadores, e sua quantidade nao pode ser controlada pelo Estado. Além disso, a moeda extra € ndo-neutra no curto ¢ no longo prazo; ela pode modificar irreversivelmente 0 nivel e a composig&o do produto nacional, de- REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999+ 73 pendendo de como ela é criada e como circula. Também, seus efeitos (prego, quantidade ou ambos) nao podem ser antecipados. Tudo 0 que se pode dizer é que altas taxas de utilizagao da capacidade instalada aumentam a probabilida- de de inflagao por moeda extra, mas nao deve existir uma relagao simples entre estas varidveis. As politicas fiscais e monetérias podem ser interpretadas, neste contexto, como refletindo tentativas estatais de controlar o nivel e a composi- fo da demanda agregada através de sua influéncia sobre a moeda extra. Entre- tanto, estas politicas nao sao jamais completamente bem-sucedidas, porque 0 Estado nao pode determinar autonomamente todas as varidveis da acumulacao, incluindo o nivel e a estrutura das taxas de juro, a taxa de retorno dos investi- mentos e os termos de troca internacionais. Inconversibilidade e inflagao Se a moeda é legalmente conversivel num ativo de reserva como o ouro (ou o dolar, desde que seu valor seja estavel), existe um forte efeito disciplinador limitando a criagdo de moeda extra pelos bancos comerciais e pelo Banco Cen- tral e estabilizando o nivel de precos no longo prazo.s Correndo 0 risco de sim- plificar excessivamente essa questo, no boom existe uma demanda crescente € 0s precos tendem a aumentar até que as dividas crescentes nao podem mais ser amortizadas, justamente quando os custos de produgio sao mais elevados. ‘A demanda por ouro como meio de pagamento atinge seu pico, enquanto o valor relativo do ouro é minimo. Para evitar uma catastréfica demanda por ouro, o Banco Central precisa elevar a taxa de desconto no momento em que o merca- do esta mais vulneravel, o que aumenta as dificuldades de tomadores e emprestadores simultaneamente. A grande demanda das firmas e bancos por ouro leva a deflagao e ao desemprego crescente, e a economia se contrai.2” Esse mecanismo cego ¢ custoso opera apenas se os pregos e salérios no- minais so flexiveis. Se eles nao forem (por exemplo, devido ao poder de mo- nopélio ou a resisténcia dos trabalhadores contra cortes dos salarios), a conver- tibilidade pode se tornar excessivamente custosa devido a instabilidade econ6- mica e social. A aboligao da ancora nominal permite ao Banco Central reduzir a taxa de desconto ¢ simplificar 0 acesso a janela de redesconto quando a eco- nomia entra em recessio, 0 que permite o suporte a indastria e ao setor finan- ceiro. Este apoio se da através da criacfio de moeda extra pelos setores piiblico e privado, o que reduz o impacto contracionista da crise. Ele pode, entretanto, levar a inflacdo por moeda extra paralelamente a crise, porque 0 descompasso subjacente entre a estrutura de oferta e a composi¢ao da demanda tende a per- sistir. 74+ REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n? 5, p. 61-85, dezembro 1999 A nao conversibilidade permite ao Estado (¢ aos bancos) amortecer os ciclos através da manipulagao da oferta de moeda extra, de modo a aliviar pro- blemas temporarios de fluxo de caixa e, possivelmente, apoiar diretamente fir- mas ou bancos ameagados de insolvéncia (GUTTMAN, 1994). Infelizmente, isso no € suficiente para eliminar a crise, e pode levar a inflagao permanen. te A falta de coordenagio a priori nas economias capitalistas implica que nao existe outra maneira, a ndo ser a crise, para eliminar um desequilibrio substan- cial entre a oferta ¢ a demanda, e punir estratégias financeiras irrealistas. Além disso, se a crise for postergada por tempo em demasia, a ameaga de faléncia diminui, 0 que, coeteris paribus, reduz o estimulo para a adogo de novas tec- nologias e técnicas gerenciais mais eficientes. No longo prazo, isso reduz a taxa de crescimento da produtividade, estimula investimentos improdutivos e reduz a eficiéncia econémica. Ao mesmo tempo, o reduzido desemprego tende a for- talecer os trabalhadores, Esse é 0 pano de fundo do colapso gradual da “idade dourada” no final dos anos sessenta. Em resumo, a inflag&o permanente resulta da tentativa de combinar o cres- cimento econémico continuado com a auséncia de deflagdo, o que requer a in- jegao constante de moeda extra na economia. No boom, a moeda extra é criada Primordialmente pelo setor privado, através de despoupancas ¢ novos emprés- timos bancarios para financiar investimentos e consumo. Assim, o crescimento econémico necessariamente envolve ‘violagdes continuas da relacao entre o valor ¢amoeda, ¢ ele é sempre potencialmente inflacionério (dependendo da respos- ta da oferta ¢ das importagdes). Conforme a economia cresce, desproporcgées e gargalos inevitavelmente surgem, as estruturas financeiras se tornam mais fré. geis e, a ndo ser que importagées baratas estejam disponiveis, os precos (¢, Possivelmente, os salérios) tendem a crescer. Neste estagio, a crise surge es- Pontaneamente, ou devido a adogao de politicas contracionistas. Se a crise fi- car aguda e houver ameaga de defla¢ao, 0 Estado normalmente intervém e deliberadamente injeta (ou facilita a criagdo privada de) moeda extra na economia. Isso ndo significa que economias capitalistas necessariamente devam optar entre a inflago ascendente ou 0 baixo crescimento. A inflagdo por conflito distributivo (analisada na sego 1) pode ser interrompida por uma mudanga nas relagdes de poder na sociedade (por exemplo, devido ao elevado desemprego ou mudangas na legislacao trabalhista), enquanto aumentos de pregos monopo- listas podem ser contidos por medidas de politica comercial ou industrial. A criacdo privada de moeda extra pode ser restrita por regras institucionais im- Postas pelas autoridades monetarias ou por aumentos das taxas de juro, e seu impacto inflacionério pode ser contido por uma redugo do déficit piblico ou REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 por maior disponibilidade de produtos importados. Por fim, a injegao de moe- da extra pelo Estado pode ser reduzida pelo corte dos gastos sociais ou privati- zagdes. Isso demonstra que a relagao entre a moeda extra e a inflagdo é muito complexa, e varia conforme as circunstancias da produgao ¢ circulagao. Avaliagao ‘A abordagem da moeda extra pode proporcionar um pano de fundo ade- quado para o desenvolvimento de uma teoria monetéria radical, pos-classica (e, especificamente, Marxista) da inflagaio. Entretanto, alguns aspectos essen- ciais desta abordagem ainda esto insuficientemente desenvolvidos. A andlise da questo da oferta de moeda do Banco Central ¢ de moeda-crédito privada precisa ser refinada, especialmente através da incorporacao dos desenvolvimen- tos recentes da literatura pos-keynesiana (por exemplo, ARESTIS e HOWELLS, 1996; COTTRELL, 1994; DOW, 1996), das recentes contribuigdes circuitistas (LORANGER, 1982b; NELL e DELEPLACE, 1996), e das de Kalecki (1990b, 1997; ver também MESSORI, 1991). Além disso, muito trabalho ainda é ne- cessério para clarificar as relagdes entre a oferta e o valor da moeda (DYMSKI, 1990; DUMENIL, 1980; FOLEY, 1982). A um nivel de andlise mais concreto, as valiosas contribuigdes de Minsky (1975, 1986; DYMSKI e POLLIN, 1994) sobre a instabilidade financeira intrinseca ao capitalismo contemporaneo pre- cisam ser avaliadas em detalhe. Isso tornara possivel ligar as abordagens da moeda extra e do conflito distributivo e, num estagio posterior, incorporar 0 impacto inflacionario da concentragao de capital, da liberalizacao financeira e dos fluxos internacionais de capital. Por fim, é essencial analisar em detalhe o potencial inflacionério do estoque da divida publica, cuja liquidez crescente sinénima da injegdo de moeda extra na economia (GROU, 1977; MARAZZI, 1977; MATTICK, 1978). Conclusao Este artigo analisou criticamente trés visdes radicais da inflagao e buscou contribuir para sua integragéio num corpo tedrico comum. Estas visGes sto bas- tante proximas em muitos aspectos, e argumentam, de forma diferente, que a inflagdo é um fenédmeno historicamente especifico cuja forma geral pode ser determinada abstratamente a partir da andlise do capitalismo moderno. Entre- tanto, além de um certo ponto, estudos concretos sao necessdrios para contex- tualizar a andlise. A inflagio é geralmente reconhecida como sendo potencial- 76* REVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 mente funcional para o capitalismo moderno. Ela geralmente transfere fatias da renda nacional para as grandes corporagdes, bancos ou o Estado, o que pode estimular a acumulagao através de poupangas forgadas ou ao conceder uma “segunda chance” a firmas que nao conseguiram satisfazer suas expectativas de Iucro no passado. Estes elementos funcionais foram predominantes no pe- riodo da “inflago rastejante”, entre o inicio dos anos cingiienta e meados dos. anos sessenta. Existem importantes divergéncias a respeito das causas da subsequente aceleragao da inflagao, e elas foram revistas neste artigo. Existe um largo campo para o desenvolvimento das anéllises radicais da inflacdo, bem como para uma importante troca de idéias dentro das principais correntes de pensamento nao-neoclassicas a respeito deste tema. As abordagens do conflito distributivo e do subconsumo-capital mono- polista so particularmente proximas uma da outra. Enquanto a tiltima defende que a inflagao (e, mais geralmente, a crise) é basicamente uma conseqiiéncia da forca “excessiva” do capital, a primeira argumenta que ela se deve a forca “ex- cessiva” dos trabalhadores. Isso ajuda a explicar porque uma foi relativamente popular nos EUA, onde os sindicatos eram relativamente fracos, enquanto a outra se tornou melhor conhecida na Europa.” A abordagem da moeda extra ¢ dife- ente em seus objetivos ¢ amplitude, ¢ ela proporciona a mais s6lida base para trabalhos futuros sobre os aspectos monetérios da inflagao, podendo incluir os melhores aspectos das outras duas teorias. A abordagem da moeda extra de- monstra que a inflago € necessariamente um fendmeno monetario, ¢ ao mes- mo tempo, mostra que a teoria quantitativa ¢ estéril enquanto ponto de partida. Ela indica que a moeda extra pode levar a aumentos da produgao, do emprego ¢ da produtividade, a inflacao, ou a alguma combinagao destes elementos. Em Tesumo, ela preserva as mais importantes conclusées da tradigaio anti-quantita- tiva, ¢ as desenvolve no contexto dos sistemas monetarios e financeiros con- temporaneos. A andlise acima exposta ainda precisa ser bastante desenvolvida, mas al- gumas de suas implicagdes em politica econémica so claras. Primeiro, a infla- 40 pode ser funcional (como explicado acima), mas seus aspectos disfuncionais gradualmente tendem a se tornar predominantes. A indexagdo reduz a eficién- cia da inflacao, torna 0 célculo econémico mais complexo ea reestruturagao do capital fica mais dificil, porque capitais e processos produtivos relativamente ineficientes so preservados, ao invés de aniquilados pelas “forgas do merca- do”. Segundo, a inflag&o leva a crise financeira através de seu carater cumula- tivo, por meio da formaciio de estruturas de endividamento instaveis. As crises podem ser adiadas quase indefinidamente ao se aumentar a oferta de moeda extra, HEVISTA Soc. bras. Economia Politica, Rio de Janeiro, n® 5, p. 61-85, dezembro 1999 77 mas este processo pode culminar na hiperinflagao (como em alguns paises lati- no-americanos, inclusive o Brasil e na Europa Oriental no inicio dos anos no- venta). Terceiro, pode haver inflago puramente por causas monetarias, normal- mente associadas com bolhas especulativas envolvendo iméveis, agdes e ou- tros ativos, que podem ser danosas para a acumulagao real ao drend-la de recursos. Nesse sentido, as politicas de renda podem ser irrelevantes para a prevengaio da inflagao e podem se tornar contrarias aos interesses dos trabalhadores ao impe- dir o reajuste nominal (e, portanto, real) dos salarios (LAPAVITSAS e SAAD FILHO, 1999). Quarto, a inflagio nao é inevitavel, qualquer que seja o poder dos bancos, monopOlios ou dos trabalhadores. Entretanto, a sofisticacao das estruturas financeiras, a concentragao do capital, a redugao dos fluxos comer- ciais ea militancia dos trabalhadores aumentam a vulnerabilidade da economia a inflagdo e a dificuldade de reverté-la uma vez comegada. Abstract Radical analyses of inflation tend to fall under three broad categories, those that emphasise primarily the role distributive conflicts, monopoly power, or state intervention on the dynamics of credit money. This paper reviews these interpretations, and shows how they can be integrated in order to explain inflation in inconvertible paper money systems, while preserving the assumptions of money endogeneity and non-neutrality. Key words: Inflation; marxism; post-keynesianisme; money-credit; conflict of distribution; under consumption; monopole. AGLIETTA, M. La Dévalorisation du capital: étude des liens entre accumulation et inflation. Economie Appliquée, 1980. 33 (2), p. 387-423. AGLIETTA, M. 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