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LINUX USER Papo de Botequim

Curso de Shell Script

Papo de Botequim
Você não agüenta mais aquele seu porque, em inglês, Shell significa con-
cha, carapaça, isto é, fica entre o u-
amigo usuário de Linux enchendo o suário e o sistema operacional, de
forma que tudo que interage com
seu saco com aquela história de que o o sistema operacional, tem que
passar pelo seu crivo.
sistema é fantástico e o Shell é uma

ferramenta maravilhosa? A partir


O ambiente Shell
Bom já que para chegar ao
desta edição vai ficar mais fácil en- núcleo do Linux, no seu ker-
nel que é o que interessa a
tender o porquê deste entusiasmo... todo aplicativo, é necessária a
filtragem do Shell, vamos enten-
POR JULIO CEZAR NEVES der como ele funciona de forma a
tirar o máximo proveito das inú-
meras facilidades que ele nos oferece.

D
iálogo entreouvido em uma mesa O Linux, por definição, é um sistema
de um botequim, entre um multiusuário – não podemos nunca nos
usuário de Linux e um empur- esquecer disto – e para permitir o acesso
rador de mouse: O ambiente Linux de determinados usuários e barrar a en-
• Quem é o Bash? Para você entender o que é e como fun- trada de outros, existe um arquivo cha-
• É o filho caçula da família Shell. ciona o Shell, primeiro vou te mostrar mado /etc/passwd, que além de fornecer
• Pô cara! Estás a fim de me deixar como funciona o ambiente em camadas dados para esta função de “leão-de-chá-
maluco? Eu tinha uma dúvida e você do Linux. Dê uma olhada no gráfico cara” do Linux, também provê informa-
me deixa com duas! mostrado na Figura 1. ções para o início de uma sessão (ou
• Não, maluco você já é há muito tem- Neste gráfico podemos ver que a ca- “login”, para os íntimos) daqueles que
po: desde que decidiu usar aquele sis- mada de hardware é a mais profunda e é passaram por esta primeira barreira. O
tema operacional que você precisa formada pelos componentes físicos do último campo de seus registros informa
reiniciar dez vezes por dia e ainda por seu computador. Em torno dela, vem a ao sistema qual é o Shell que a pessoa
cima não tem domínio nenhum sobre camada do kernel que é o cerne do vai receber ao iniciar sua sessão.
o que esta acontecendo no seu com- Linux, seu núcleo, e é quem põe o hard- Lembra que eu te falei de Shell, fa-
putador. Mas deixa isso prá lá, pois ware para funcionar, fazendo seu geren- mília, irmão? Pois é, vamos começar a
vou te explicar o que é Shell e os com- ciamento e controle. Os programas e entender isto: o Shell é a conceituação
ponentes de sua família e ao final da comandos que envolvem o kernel, dele de concha envolvendo o sistema opera-
nossa conversa você dirá: “Meu Deus se utilizam para realizar as tarefas para cional propriamente dito, é o nome
do Shell! Porque eu não optei pelo que foram desenvolvidos. Fechando tudo genérico para tratar os filhos desta idéia
Linux antes?”. isso vem o Shell, que leva este nome que, ao longo dos muitos anos de exis-

Quadro 1: Uma rapidinha nos principais sabores de Shell


Bourne Shell (sh): Desenvolvido por Stephen do sh e a elas agregou muitas outras. A com- C Shell (csh): Desenvolvido por Bill Joy, da
Bourne do Bell Labs (da AT&T, onde também patibilidade total com o sh vem trazendo Universidade de Berkley, é o Shell mais uti-
foi desenvolvido o Unix), foi durante muitos muitos usuários e programadores de Shell lizado em ambientes BSD. Foi ele quem intro-
anos o Shell padrão do sistema operacional para este ambiente. duziu o histórico de comandos. A
Unix. É também chamado de Standard Shell Boune Again Shell (bash): Desenvolvido ini- estruturação de seus comandos é bem simi-
por ter sido durante vários anos o único, e é cialmente por Brian Fox e Chet Ramey, este é lar à da linguagem C. Seu grande pecado foi
até hoje o mais utilizado. Foi portado para o Shell do projeto GNU. O número de seus ignorar a compatibilidade com o sh, partindo
praticamente todos os ambientes Unix e dis- adeptos é o que mais cresce em todo o por um caminho próprio.
tribuições Linux. mundo, seja por que ele é o Shell padrão do Além destes Shells existem outros, mas irei
Korn Shell (ksh): Desenvolvido por David Linux, seja por sua grande diversidade de falar somente sobre os três primeiros, tratan-
Korn, também do Bell Labs, é um supercon- comandos, que incorpora inclusive diversos do-os genericamente por Shell e assinalando
junto do sh, isto é, possui todas as facilidades comandos característicos do C Shell. as especificidades de cada um.

82 Agosto 2004 www.linuxmagazine.com.br


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tência do sistema operacional Unix, redirecionamento, que pode ser de


foram aparecendo. Atualmente existem
Com que Shell eu vou? entrada (stdin), de saída (stdout) ou dos
Quando digo que o último campo do arqui-
diversos sabores de Shell (veja Quadro 1 erros (stderr), conforme vou explicar a
vo /etc/passwd informa ao sistema qual é o
na página anterior). seguir. Mas antes precisamos falar de...
Shell que o usuário vai usar ao se “logar”, isto
deve ser interpretado ao pé-da-letra. Se este
Como funciona o Shell campo do seu registro contém o termo prog, Substituição de Variáveis
O Shell é o primeiro programa que você ao acessar o sistema o usuário executará o Neste ponto, o Shell verifica se as even-
ganha ao iniciar sua sessão (se quiser- programa prog. Ao término da execução, a tuais variáveis (parâmetros começados
mos assassinar a língua portuguesa sessão do usuário se encerra automatica- por $), encontradas no escopo do
mente. Imagine quanto se pode incremen-
podemos também dizer “ao se logar”) no comando, estão definidas e as substitui
tar a segurança com este simples artifício.
Linux. É ele quem vai resolver um monte por seus valores atuais.
de coisas de forma a não onerar o kernel
com tarefas repetitivas, poupando-o para volvidos (inclusive o próprio programa), Substituição de Meta-
tratar assuntos mais nobres. Como cada e retorna um erro caso o usuário que Caracteres
usuário possui o seu próprio Shell inter- chamou o programa não esteja autor- Se algum meta-caracter (ou “coringa”,
pondo-se entre ele e o Linux, é o Shell izado a executar esta tarefa. como *, ? ou []) for encontrado na linha
quem interpreta os comandos digitados e de comando, ele será substituído por
examina as suas sintaxes, passando-os $ ls linux seus possíveis valores.
esmiuçados para execução. linux Supondo que o único item no seu
• Êpa! Esse negócio de interpretar co- diretório corrente cujo nome começa
mando não tem nada a ver com inter- Neste exemplo o Shell identificou o ls co- com a letra n seja um diretório chamado
pretador não, né? mo um programa e o linux como um pa- nomegrandeprachuchu, se você fizer:
• Tem sim: na verdade o Shell é um in- râmetro passado para o programa ls.
terpretador que traz consigo uma po- $ cd n*
derosa linguagem com comandos de Atribuição
alto nível, que permite construção de Se o Shell encontra dois campos separa- como até aqui quem está manipulando a
loops, de tomadas de decisão e de ar- dos por um sinal de igual (=) sem espa- linha de comando ainda é o Shell e o
mazenamento de valores em variáveis, ços em branco entre eles, ele identifica programa cd ainda não foi executado, o
como vou te mostrar. esta seqüência como uma atribuição. Shell expande o n* para nomegrandepra-
• Vou explicar as principais tarefas que o chuchu (a única possibilidade válida) e
Shell cumpre, na sua ordem de exe- $ valor=1000 executa o comando cd com sucesso.
cução. Preste atenção, porque esta
ordem é fundamental para o entendi- Neste caso, por não haver espaços em Entrega da linha de comando
mento do resto do nosso bate papo. branco (que é um dos caracteres reserva- para o kernel
dos), o Shell identificou uma atribuição e Completadas todas as tarefas anteriores,
Análise da linha de comando colocou 1000 na variável valor. o Shell monta a linha de comando, já
Neste exame o Shell identifica os carac- com todas as substituições feitas e
teres especiais (reservados) que têm sig- Resolução de chama o kernel para executá-la em um
nificado para a interpretação da linha e Redirecionamentos novo Shell (Shell filho), que ganha um
logo em seguida verifica se a linha pas- Após identificar os componentes da li- número de processo (PID ou Process
sada é um comando ou uma atribuição nha que você digitou, o Shell parte para IDentification) e fica inativo, tirando
de valores, que são os ítens que vou a resolução de redirecionamentos. uma soneca durante a execução do pro-
descrever a seguir. O Shell tem incorporado ao seu elenco grama. Uma vez encerrado este processo
de habilidades o que chamamos de (e o Shell filho), o “Shell pai” recebe
Comando novamente o controle e exibe um
Quando um comando é digi- “prompt”, mostrando que está pronto
tado no “prompt” (ou linha de Shell para executar outros comandos.
comando) do Linux, ele é divi-
dido em partes, separadas por
Programas e Comandos Cuidado na Atribuição
espaços em branco: a primeira Núcleo ou Kernel Jamais faça:
parte é o nome do programa,
cuja existência será verificada; Hardware $ valor = 1000
bash: valor: not found
em seguida, nesta ordem, vêm
Neste caso, o Bash achou a palavra valor iso-
as opções/parâmetros, redire-
lada por espaços e julgou que você estivesse
cionamentos e variáveis.
mandando executar um programa chama-
Quando o programa identifi-
do valor, para o qual estaria passando dois
cado existe, o Shell verifica as parâmetros: = e 1000.
permissões dos arquivos en- Figura 1: Ambiente em camadas de um sistema Linux

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Decifrando a Pedra de Roseta $ echo \* esperando pelo teclado (Entrada Padrão)


Para tirar aquela sensação que você tem $ echo * e como também não citei a saída, o que
quando vê um script Shell, que mais eu teclar irá para a tela (Saída Padrão),
parece uma sopa de letrinhas ou um con- Viu a diferença? criando desta forma – como eu havia
junto de hieróglifos, vou lhe mostrar os • Aspas (“): exatamente iguais ao após- proposto – um programa gago. Experi-
principais caracteres especiais para que trofo, exceto que, se a cadeia entre mente!
você saia por aí como Champollion deci- aspas contiver um cifrão ($), uma
frando a Pedra de Roseta. crase (`), ou uma barra invertida (\), Redirecionamentop da Saída
estes caracteres serão interpretados Padrão
Caracteres para remoção do pelo Shell. Para especificarmos a saída de um pro-
significado. Não precisa se estressar, eu não te dei grama usamos o símbolo “>” ou o
É isso mesmo, quando não desejamos exemplos do uso das aspas por que “>>”, seguido do nome do arquivo pa-
que o Shell interprete um caractere você ainda não conhece o cifrão ($) ra o qual se deseja mandar a saída.
específico, devemos “escondê-lo” dele. nem a crase (`). Daqui para frente - Vamos transformar o programa ante-
Isso pode ser feito de três maneiras difer- veremos com muita constância o uso rior em um “editor de textos”:
entes, cada uma com sua peculiaridade: destes caracteres especiais; o mais
• Apóstrofo (´): quando o Shell vê uma importante é entender seu significado. $ cat > Arq
cadeia de caracteres entre apóstrofos,
ele retira os apóstrofos da cadeia e não Caracteres de O cat continua sem ter a entrada especi-
interpreta seu conteúdo. redirecionamento ficada, portanto está aguardando que os
A maioria dos comandos tem uma entra- dados sejam teclados, porém a sua saída
$ ls linuxm* da, uma saída e pode gerar erros. Esta está sendo desviada para o arquivo Arq.
linuxmagazine entrada é chamada Entrada Padrão ou Assim sendo, tudo que esta sendo tecla-
$ ls 'linuxm*' stdin e seu dispositivo padrão é o teclado do esta indo para dentro de Arq, de for-
bash: linuxm* no such file U do terminal. Analogamente, a saída do ma que fizemos o editor de textos mais
or directory comando é chamada Saída Padrão ou curto e ruim do planeta.
stdout e seu dispositivo padrão é a tela Se eu fizer novamente:
No primeiro caso o Shell “expandiu” o do terminal. Para a tela também são
asterisco e descobriu o arquivo linux- enviadas normalmente as mensagens de $ cat > Arq
magazine para listar. No segundo, os erro oriundas dos comandos, chamada
apóstrofos inibiram a interpretação do neste caso de Saída de Erro Padrão ou Os dados contidos em Arq serão perdi-
Shell e veio a resposta que não existe o stderr. Veremos agora como alterar este dos, já que antes do redirecionamento o
arquivo linuxm*. estado de coisas. Shell criará um Arq vazio. Para colocar
• Contrabarra ou Barra Invertida (\): i- Vamos fazer um programa gago. Para mais informações no final do arquivo eu
dêntico aos apóstrofos exceto que a isto digite (tecle “Enter” ao final de cada deveria ter feito:
barra invertida inibe a interpretação linha – comandos do usuário são ilus-
somente do caractere que a segue. trados em negrito): $ cat >> Arq
Suponha que você, acidentalmente,
tenha criado um arquivo chamado * $ cat Redirecionamento da Saída
(asterisco) – o que alguns sabores de E-e-eu sou gago. Vai encarar? de Erro Padrão
Unix permitem – e deseja removê-lo. E-e-eu sou gago. Vai encarar? Assim como por padrão o Shell recebe os
Se você fizesse: dados do teclado e envia a saída para a
O cat é um comando que lista o con- tela, os erros também vão para a tela se
$ rm * teúdo do arquivo especificado para a você não especificar para onde eles de-
Saída Padrão (stdout). Caso a entrada vem ser enviados. Para redirecionar os
Você estaria na maior encrenca, pois o não seja definida, ele espera os dados da erros, use 2> SaidaDeErro. Note que en-
rm removeria todos os arquivos do stdin (a entrada padrão). Ora como eu tre o número 2 e o sinal de maior (>)
diretório corrente. A melhor forma de não especifiquei a entrada, ele a está não existe espaço em branco.
fazer o serviço é: Vamos supor que durante a execução
Redirecionamento Perigoso de um script você pode, ou não (depen-
$ rm \* Como já havia dito, o Shell resolve a linha e dendo do rumo tomado pela execução
depois manda o comando para a execução. do programa), ter criado um arquivo
Desta forma, o Shell não interpreta o Assim, se você redirecionar a saída de um chamado /tmp/seraqueexiste$$. Como
asterisco, evitando a sua expansão. arquivo para ele próprio, primeiramente o não quer ficar com sujeira no disco
Faça a seguinte experiência científica: Shell “esvazia”este arquivo e depois manda rígido, ao final do script você coloca a
o comando para execução! Desta forma, linha a seguir:
para sua alegria, você acabou de perder o
$ cd /etc
conteúdo de seu querido arquivo.
$ echo '*' rm /tmp/seraqueexiste$$

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caprichamos, né? Então ao invés de sair


Dados ou Erros? redigindo o mail direto no “prompt”, de
Etiquetas Erradas
Preste atenção! Não confunda >> com 2>. O forma a tornar impossível a correção de Um erro comum no uso de labels (como o
primeiro anexa dados ao final de um arqui- fimftp do exemplo anterior) é causado pela
uma frase anterior onde, sem querer,
vo, e o segundo redireciona a Saída de Erro presença de espaços em branco antes ou
você escreveu um “nós vai”, você edita
Padrão (stderr) para um arquivo que está após o mesmo. Fique muito atento quanto a
um arquivo com o conteúdo da mensa-
sendo designado. Isto é importante! isso, por que este tipo de erro costuma dar
gem e após umas quinze verificações
uma boa surra no programador, até que seja
sem constatar nenhum erro, decide
detectado. Lembre-se: um label que se preze
Caso o arquivo não existisse seria envi- enviá-lo e para tal faz:
tem que ter uma linha inteira só para ele.
ado para a tela uma mensagem de erro.
Para que isso não aconteça faça: $ mail chefe@chefia.com.br < U
arquivocommailparaochefe nada a partir deste ponto até encontrar
rm /tmp/seraqueexiste$$ 2> U o ‘label’ fimftp. Você não entenderia
/dev/null e o chefe receberá uma mensagem com o droga nenhuma, já que são instruções
conteúdo do arquivocommailparaochefe. específicas do ftp”.
Para que você teste a Saída de Erro Pa- Outro tipo de redirecionamento “muito Se fosse só isso seria simples, mas
drão direto no prompt do seu Shell, vou louco” que o Shell permite é o chamado pelo próprio exemplo dá para ver que
dar mais um exemplo. Faça: “here document”. Ele é representado por existem duas variáveis ($Usuario e
<< e serve para indicar ao Shell que o $Senha), que o Shell vai resolver antes
$ ls naoexiste escopo de um comando começa na linha do redirecionamento. Mas a grande
bash: naoexiste no such file U seguinte e termina quando encontra uma vantagem deste tipo de construção é
or directory linha cujo conteúdo seja unicamente o que ela permite que comandos tam-
$ ls naoexiste 2> arquivodeerros “label” que segue o sinal <<. bém sejam interpretados dentro do
$ Veja o fragmento de script a seguir, escopo do “here document”, o que,
$ cat arquivodeerros com uma rotina de ftp: aliás, contraria o que acabei de dizer.
bash: naoexiste no such file U Logo a seguir te explico como esse
or directory ftp -ivn hostremoto << fimftp negócio funciona. Agora ainda não dá,
user $Usuario $Senha estão faltando ferramentas.
Neste exemplo, vimos que quando fize- binary • O comando user é do repertório de
mos um ls em naoexiste, ganhamos uma get arquivoremoto instruções do ftp e serve para passar o
mensagem de erro. Após redirecionar a fimftp usuário e a senha que haviam sido
Saída de Erro Padrão para arquivodeerros lidos em uma rotina anterior a este
e executar o mesmo comando, recebe- neste pedacinho de programa temos um fragmento de código e colocados res-
mos somente o “prompt” na tela. Quan- monte de detalhes interessantes: pectivamente nas duas variáveis:
do listamos o conteúdo do arquivo para • As opções usadas para o ftp (-ivn) $Usuario e $Senha.
o qual foi redirecionada a Saída de Erro servem para ele listar tudo que está • O binary é outra instrução do ftp, que
Padrão, vimos que a mensagem de erro acontecendo (opção -v de “verbose”), serve para indicar que a transferência
tinha sido armazenada nele. para não ficar perguntando se você de arquivoremoto será feita em modo
É interessante notar que estes carac- tem certeza que deseja transmitir cada binário, isto é o conteúdo do arquivo
teres de redirecionamento são cumula- arquivo (opção -i de “interactive”) e não será inteerpretado para saber se
tivos, isto é, se no exemplo anterior finalmente a opção -n serve para dizer está em ASCII, EBCDIC, …
fizéssemos o seguinte: ao ftp para ele não solicitar o usuário e • O comando get arquivoremoto diz ao
sua senha, pois estes serão informados cliente ftp para pegar este arquivo no
$ ls naoexiste 2>> U pela instrução específica (user); servidor hostremoto e trazê-lo para a
arquivodeerros • Quando eu usei o << fimftp, estava nossa máquina local. Se quiséssemos
dizendo o seguinte para o interpreta- enviar um arquivo, bastaria usar, por
a mensagem de erro oriunda do ls seria dor: “Olha aqui Shell, não se meta em exemplo, o comando put arquivolocal.
anexada ao final de arquivodeerros.
Direito de Posse Redirecionamento de
Redirecionamento da O $$ contém o PID,isto é,o número do seu comandos
Entrada Padrão processo. Como o Linux é multiusuário,é Os redirecionamentos de que falamos até
Para fazermos o redirecionamento da En- bom anexar sempre o $$ ao nome dos seus agora sempre se referiam a arquivos, isto
trada Padrão usamos o < (menor que). arquivos para não haver problema de propri- é, mandavam para arquivo, recebiam de
“E pra que serve isso?”, você vai me per- edade,isto é,caso você batizasse o seu ar- arquivo, simulavam arquivo local, … O
guntar. Deixa eu dar um exemplo, que quivo simplesmente como seraqueexiste,a que veremos a partir de agora, redirecio-
você vai entender rapidinho. primeira pessoa que o usasse (criando-o na a saída de um comando para a entra-
então) seria o seu dono e a segunda ganharia
Suponha que você queira mandar um da de outro. É utilíssimo e, apesar de não
um erro quando tentasse gravar algo nele.
mail para o seu chefe. Para o chefe nós ser macaco gordo, sempre quebra os

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maiores galhos. Seu nome é “pipe” (que $ echo "Existem who | wc -l U $ (pwd ; cd /etc ; pwd)
em inglês significa tubo, já que ele cana- usuarios conectados" /home/meudir
liza a saída de um comando para a Existem who | wc -l usuarios U /etc
entrada de outro) e sua representação é a conectados $ pwd
| (barra vertical). /home/meudir
Hi! Olha só, não funcionou! É mesmo,
$ ls | wc -l não funcionou e não foi por causa das “Quequeiiisso” minha gente? Eu estava
21 aspas que eu coloquei, mas sim por que no /home/meudir, mudei para o /etc,
eu teria que ter executado o who | wc -l constatei que estava neste diretório com
O comando ls passou a lista de arquivos antes do echo. Para resolver este proble- o pwd seguinte e quando o agrupamento
para o comando wc, que quando está ma, tenho que priorizar a segunda parte de comandos terminou, eu vi que conti-
com a opção -l conta a quantidade de li- do comando com o uso de crases: nuava no /etc/meudir!
nhas que recebeu. Desta forma, pode- Hi! Será que tem coisa do mágico
mos afirmar categoricamente que no $ echo "Existem `who | wc -l` U Mandrake por aí? Nada disso. O interes-
meu diretório existiam 21 arquivos. usuarios conectados" sante do uso de parênteses é que eles
Existem 8 usuarios U invocam um novo Shell para executar os
$ cat /etc/passwd | sort | lp conectados comandos que estão em seu interior.
Desta forma, fomos realmente para o
A linha de comandos acima manda a Para eliminar esse monte de brancos diretório /etc, porém após a execução de
listagem do arquivo /etc/passwd para a antes do 8 que o wc -l produziu, basta todos os comandos, o novo Shell que
entrada do comando sort. Este a classi- retirar as aspas. Assim: estava no diretório /etc morreu e retor-
fica e envia para o lp que é o gerenciador namos ao Shell anterior que estava em
da fila de impressão. $ echo Existem `who | wc -l` U /home/meudir.
usuarios conectados Que tal usar nossos novos conceitos?
Caracteres de ambiente Existem 8 usuarios conectados
Quando queremos priorizar uma expres- $ mail suporte@linux.br << FIM
são, nós a colocamos entre parênteses, As aspas protegem da interpretação do Ola suporte, hoje as `date U
não é? Pois é, por causa da aritmética é Shell tudo que está dentro dos seus lim- “+%hh:mm”` ocorreu novamente U
normal pensarmos deste jeito. Mas em ites. Como para o Shell basta um espaço aquele problema que eu havia U
Shell o que prioriza mesmo são as crases em branco como separador, o monte de reportado por telefone. De U
(`) e não os parênteses. Vou dar exemp- espaços será trocado por um único após acordo com seu pedido segue a U
los para você entender melhor. a retirada das aspas. listagem do diretorio:
Eu quero saber quantos usuários estão Outra coisa interessante é o uso do `ls -l`
“logados” no computador que eu admi- ponto-e-vírgula. Quando estiver no Shell, Abracos a todos.
nistro. Eu posso fazer: você deve sempre dar um comando em FIM
cada linha. Para agrupar comandos em
$ who | wc -l uma mesma linha, temos que separá-los Finalmente agora podemos demonstrar o
8 por ponto-e-vírgula. Então: que conversamos anteriormente sobre
“here document”. Os comandos entre
O comando who passa a lista de usuários $ pwd ; cd /etc; pwd ;cd -;pwd crases tem prioridade, portanto o Shell
conectados ao sistema para o comando /home/meudir os executará antes do redirecionamento
wc -l, que conta quantas linhas recebeu e /etc do “here document”. Quando o suporte
mostra a resposta na tela. Muito bem, /home/meudir receber a mensagem, verá que os
mas ao invés de ter um número oito comandos date e ls foram executados
solto na tela, o que eu quero mesmo é Neste exemplo, listei o nome do diretório antes do comando mail, recebendo então
que ele esteja no meio de uma frase. Ora, corrente com o comando pwd, mudei um instantâneo do ambiente no
para mandar frases para a tela eu só pre- para o diretório /etc, novamente listei o momento de envio do email.
ciso usar o comando echo; então vamos nome do diretório e finalmente voltei pa- - Garçom, passa a régua! ■
ver como é que fica: ra o diretório onde estava anteriormente
(cd -), listando seu nome. Repare que Julio Cezar Neves é Analista de Su-
SOBRE O AUTOR

Buraco Negro coloquei o ponto-e-vírgula de todas as porte de Sistemas desde 1969 e tra-
Em Unix existe um arquivo fantasma. formas possíveis, para mostrar que não balha com Unix desde 1980, quando
Chama-se /dev/null.Tudo que é enviado importa se existem espaços em branco fez parte da equipe que desenvolveu
para este arquivo some. Assemelha-se a um antes ou após este caracter. o SOX, sistema operacional, similar
Buraco Negro. No caso do exemplo, como ao Unix, da Cobra Computadores. É
Finalmente, vamos ver o caso dos
não me interessava guardar a possível men- professor do curso de Mestrado em
parênteses. No exemplo a seguir, colo-
sagem de erro oriunda do comando rm, redi- Software Livre das Faculdades Estácio
camos diversos comandos separados por
recionei-a para este arquivo. de Sá, no Rio de Janeiro.
ponto-e-vírgula entre parênteses:

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