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A defesa de r jee SOCRATES 4 defess de Em Atenas, hé quase dois milénios e meio, havia um Deer ae OT a ee ee CON Aa a ae ae ener na presenca de amigos e discipulos ele bebe o contetido como se fosse um trago de cachaga, Ele faz aleum co- Senge eer ae ae eee Te Cae mae Fese foi Sécrates, um esteio da filosofia grega. Ele foi ee A ome nese er ee tal extraido de plantas. EE cea Bip HP Prenat ag a ean ea ee eee ee ae ae Pee ec mace Me eae a Conor eran ie tas ae eae ae Pamala e + Um dos mais famosos classicos da filosofia grega Ore eae ice ere eee + A mais moderna no idioma portugués + Contém apéndice com dicionério, resumo e frases de Sécrates 2*edigao Tradugéo: Sérgio Avrella JN percent Fee Oe ZY Ceara ete Contém introdugao e apéndice / dicionario Platao Tradugao: Sérgio Avrella A defesa de SOCRATES elenco 2 ediga Umuarama/PR 2004 TIAATQNOX Anodoyta Lwxpé&tova PLATAO Apologia de Sécrates 28 edicéo - obra revista e ampliada (2004) A defesa de Socrates copyright © 2003 Sérgio Avrella Tradugéo, introducéo, comentérios e apéndice Sérgio Avrella Editora Elenco Umuarama / PR (44) 624-7330 editoraelenco@esol.com.br Capa. Projeto Grafico ‘Sérgio Daniel Avrella P716d Plato A defesa de Sécrates / traducso de Sérgio Avrela, ~ Umuarama Elenco, 2003. 96p. ISBN 85-903709-1-7 1. Filosofia 2.tica 3.Direito |. Titulo. ll, Tradutor. CoD: 170 £ provide a repredugto totl ou pari dese Hoo, sjam uals forem ot mele empregodos: mectnkos, ‘eogettcon grovyto ov queliqu’ ours sem permisdo por esrto da edo. ‘Perms cog de pares desde qu tad fone “Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo.” Ludwig Wittgenstein (1889-1951) “Nao é a virtude que vem das riquezas, mas as riquezas da virtude e todas as outras boas coisas para vida das pessoas, tanto para o individuo quanto para a sociedade.”” Sécrates (469-399, ac) } i Apresentacao Entramos aqui na Grécia Classica, de onde vém nossos pensamen- tos, e vamos nos concentrar neste filsofo chamado Sécrates. A defesa de Sécrates € um dos mais importantes clissicos de todos os tempos. A primeira vez que a li, foi no texto grego. A leitura fazia parte dos meus estudos. Eu jé sabia da existéncia de Socrates como filésofo, mas nunca havia lido alguma passagem de sua ‘Apologia’ - termo grego que significa ‘defesa’. No entanto, quanto mais eu avangava tanto mais o contetido me surpreendia. E até entdo, eu ndo sabia o quanto estava perdendo, ou melhor, nessas alturas, o quanto estava ganhando tendo em mfos um texto tio ‘original’, em ambos os sentidos da palavra. Jé nas primeiras frases, Sécrates aguca o interesse do leitor, A defesa de Sécrates ied Série dorelio 7 quando ele diz: “Qual o impacto que meus acusadores causaram sobre vés, Senhores Atenienses, eu nfo sei. Mas, sobre mim 0 impacto foi tal que acabei até esquecendo quem eu era, de tio impressionante que foi o discurso deles, No entanto, nada do que eles disseram € verdade”. No final, nao foi dificil entender, por que essa obra se tornou téo famosa, Por isso, sua leitura e difusao principalmente no meio université- rio brasileiro, ndo podem ser negligenciadas. Creio, porém, que 0 ‘eruditismo’ e 0 cunho abstrato das antigas verses tém dificultado © acesso. : A tradugo atual torna a Apologia de Sécrates bem mais acessivel. Ela ndo s6 vem separada de outras obras e precedida de uma in- trodugdo, mas também traz no final um apéndice-dicionério onde esto relacionados varios termos e nomes, que completam o seu entendimento. A linguagem ¢ contemporanea e ndo contém construgées rebus- cadas, enfeitadas ou por demais abstratas. Vinda diretamente do texto grego, temos aqui a verso mais modema em idioma portu- gués. Com o propésito de permanecer o mais préximo possivel do original, ela apresenta algumas peculiaridades, caracteristicas do idioma e da cultura da época, 0 que, por outro lado, toma sua leitura até mais interessante, pois, o leitor ira quase que ‘ouvir’ Socrates falando. Por estas raz6es, creio que mesmo, e principalmente, quem jé leu outras vers6es saberd valorizar as propriedades desta. O tradutor 8 A defesa de Sdcrates wad Sig Aelia ‘Adefesa de Séerates wrod Sérgio Avelle 9 Introducdo e apéndice por Sérgio Avrella Texto grego segundo John Burnet (Oxford, GB) 10 A defesa de Sécrates trad Sérgio Avaia a stn cena nnemnanancnanen Introducao Ele nasceu quase cinco séculos antes de Cristo, na cidade de ‘Atenas, Grécia, numa época de grande desenvolvimento cultural e econémico. Dedicou grande parte da sua vida investigando junto s pessoas 0 quanto elas de fato sabiam. Por meio de perguntas ¢ respostas, ele procurava abrir os olhos das pessoas em relagiio a si mesmas e mostrar que o que elas sabiam, ou pensavam que sabiam, nao significava muitacoisa. Filho de escultor, inicialmen- te ele exerceu a profisséo do pai e, como militar, participou da Guerra do Peloponeso. Por ultimo, seguiu o caminho da filosofia, convicto de que assim ele seria mais util A sociedade ateniense. Homem conseqiiente, de caréter firme, ¢ certamente também dono de uma inteligéncia prodigiosa. Isso Ihe permitiu esnobar ‘Acdofesa de Socrates trad SugieAvella 11 talento na arte de conduzir um dialogo, fazendo perguntas chaves e provocando respostas desconcertantes. Suas investigagées junto a politicos, artistas, comerciantes, arte- sos € outros proeminentes da época, tanto em seus ambientes de trabalho quanto nas pragas e mercados, o torou amplamente conhecido - amado por uns e odiado por outros. ‘As causas deste amor e 6dio ficarao claras no decorrer da leitura desta obra. Pois, no final de sua vida foram apresentadas algumas acusagées ¢ ele foi a julgamento. Para muitas pessoas, Sécrates era um sébio. Para outras um in- cémodo. Estas tiltimas foram para ele um verdadeiro tormento. Elas o apontaram como alguém que se envolvia com coisas que no eram de sua competéncia. Além de 0 acusarem de introduzir novos deuses na cidade e de nfo crer naqueles que a cidade reco- nhecia, o acusaram também de estudar os astros do céu e as coisas debaixo da terra - algo terminantemente proibido na época para pessoas ndo autorizadas. Ble foi ainda acusado de pedir dinheiro para ensinar. E a mais grave dentre elas, foi a acusagao de que ele exeroia influéncia maléfica sobre a juventude. Nota-se que esses eram na época argumentos suficientemente vilidos para levar alguém a justiga. Sécrates, no entanto, diz, no decorrer de sua defesa, que estes argumentos sto falsos, forjados para que a acusago pudesse ser aceita. Ele diz que esses argu- mentos so baseados em boatos ¢ preconceitos, que a verdade.& outra e 0 verdadeiro motivo de seu julgamento € outro, ou seja, 0 édio que surgiu contra ele. 0 piblico presente neste histérico julgamento deve ter sido bem razoavel. Além dos jurados, juizes, acusadores e amigos, muitos 12 A defesa de Sécrates trad. Sipe avello cidadios curiosos essistiram ao evento, o qual aconteceu em ‘Atenas no ano 399 antes de Cristo. Sécrates estava ent&o com 70 anos de idade e, segundo ele mesmo diz, era a primeira vez que se encontrava frente a um jiti. Fazendo um aparte, vocé lembra de Jesus Cristo? Pois é, ele tam- bém foi condenado 4 morte, por sentimentos e razdes semelhantes as que condenaram Sécrates. E vocé jé ouviu falar de Galileu Galilei? Também ele recebeu uma sentenga, no ano 1633, nao de morte, mas para se calar, por defender um ponto de vista diferente do tradicional. Esse estudioso italiano afirmou publicamente que era a terra que girava em volta do sol e no o contrério, como estava sendo ensinado na época. Jé antes de Sécrates havia homens que chegavam a conclusbes fantasticas nas drezs da fisica ¢ outras ciéncias naturais. Suas idéias, porém, raramente foram aceitas. Ou por serem muito lou- cas, ou por irem contra aos dogmas estabelecidos, ou ainda, por no poderem ser provadas. Dois exemplos: Demécrito (460-370 a.C.), filésofo grego, dizia que o que preenche os vazios so pat- ticulas minisculas, nao perceptiveis a olho nu, os atomos. Mas, como ele poderia, ento, sem aparelhos sofisticados, provar que isso era verdade? Outro estudioso grego, Anaxégoras (500-428 a.C), afirmou que o sol era uma pedra e a lua uma terra. Ele até tentou provar isso, aquecendo uma pedra, até fazé-la ficar cor de brasa. Entio ele disse: “Vocés véem essa pedra e sentem o seu calor? Pois bem, assim é o sol, uma pedra superaquecida”. O que aconteceu com ele? Foi banido de Atenas. Por qué? Porque o sol ea lua eram tidos como deuses. Apesar de tudo, na época de Sécrates, Atenas era ainda o melhor A cdefesa de Sécrates trad Sérgio veto 13 i Iugar do mundo para a prética das ciéncias naturais e da filosofia, assim como também para divulgar novas descobertas, A cidade era o principal centro politico e cultural do mundo grego e arredo- res, vivendo em regime democratico. Apés terem os Gregos, sob a lideranga de Atenas, conseguido se livrar dos Persas, travando batalhas famosas como a de Maratona (490 a.C.), Termépila (480 a.C.), Salamina (480 a.C.) e Platéia (479 a.C.), a cidade experi- mentou um excelente periodo de paz, desenvolvimento, gléria € influéncia. Sécrates, na verdade foi um expoente, um dos mais importantes, porém néo 0 tinico entre os mestres e cientistas da época, cujos possiveis escritos nem foram preservados. Nés conhecemos Sécrates, gracas a Plato (428-348 a.C.), que foi seu discipulo mais proximo e escreveu sobre ele. ‘Apés a morte do mestre, Platio dedica-se A construgio de suas pr6- prias idéias e deixa para o mundo um legado escrito de grande valia. Seu discipulo, Aristételes (384-322 a.C.), também trilha o caminho da filosofia, constréi sobre o alicerce dos mestres e os supera em volume de trabalho e conhecimento. Ah, um detalhe, Aristételes foi mestre de Alexandre o Grande (356-323 a.C.), 0 jovem imperador macedénio, um dos maiores conquistadores de todos os tempos € responsavel pela criag&io do mundo helenistico. Voltando ao julgamento de Sécrates, 0 corpo de jurados era composto por 500 homens escolhidos por sorteio dentre as 10 tribos de Atenas. Se a pessoa que acusasse alguém juridicamente n&o conseguisse convencer pelo menos 1/5 dos jurados de que sua acusagdo tinha fundamento, ela era pesadamente multada ¢ perderia o direito de no futuro entrar com outras ages. 14 A dofesa de Sécrates tad Sérgio Avrelle en) Para que uma sesstio de julgamento como essa acontecesse, deveria existir primeiramente uma acusagao formal, por escrito. No caso de Sécrates, os acusadores foram trés: Meleto, Anito Lido. Meleto o fez em nome dos poetas, Anito em nome dos artesdos € politicos e Licio em nome dos oradores. Na acusagio formal constava, como pontos principais, que ele estava fazendo mudangas no culto aos deuses e exercendo infiuéncia maléfica sobre a juventude. Durante a sesso, pela ordem, primeiramente falavam os acusado- res. Em seguida, 0 acusado apresentava sua defesa. Depois disso, havia uma pausa para que o jiri votasse, a favor ou contra o acu- sado. Sécrates obteve 220 votos a favor e 280 contra. Depois de conhecido © resultado da votag2o, quando condenado, o acusado podia apresentar uma contraproposta e colocar para si uma pena altemnativa. No final, os juizes decidiam qual delas deveria ser cum- prida, a do acusador ou a contraproposta apresentada pelo réu. Como Sécrates no pediu para que alguém fosse seu advogado, mas preferiu, ele mesmo, se defender, sua contraproposta foi, néio um castigo ou uma multa, como de costume, mas uma alter- nativa positiva. Ele propés ganhar refeigdes no Pritaneu, local onde os governan- tes costumavam tomar suas refeigdes, e onde o Estado costumava homenagear com banquetes, cidadios proeminentes, campedes olimpicos e nobres visitantes estrangeiros. Na verdade, com este gesto, Sécrates quis mostrar que pelos beneficios que sua atividade trazia A cidade, o que ele merecia mesmo era ser gratificado e nao condenado, pois ele diz que em suas andangas jamais intencionou fazer algum mal a alguém. Além disso, ele tinha o seu trabalho como uma missao divina, que A defesa de Séorates wad Sérgio Arello 15 deveria ser levada a cabo mesmo havendo risco de morte. Ele poderia, no entanto, ter apresentado uma pena alternativa mais aceitével aos juizes, como por exemplo, o exilio ou uma multa razodvel, a fim de se livrar da morte. No entanto, ele ndo quis. Entio, a maioria dos juizes votou pela manutengaio da pena de morte e Sécrates foi sentenciado a tomar um célice com cicuta - veneno mortal extraido de plantas. Apés a sentenga, Sécrates péde continuar falando no tribunal, € dirige-se principalmente aos juizes. Ele prevé um castigo para os que ele chama de pseudo-juizes, fala sobre a morte e sobre o que vern depois dela. Ele questiona 0 medo das pessoas em relagdo a ela e diz que ndo se sabe se ela € algo ruim ou justamente algo muito bom. Encerrada a sesso do julgamento, Sécrates é levado para 0 local da guarda onde recebe alguns amigos e discipulos. ‘Na seqiiéncia, nos livros Criton e Fédon, Plato relata a conversa que Sécrates teve com eles na manha que antecede o momento dele beber o cAlice. Plato conta, que Sécrates na noite anterior dormiu normalmente. E que quando Criton foi visité-lo, cedo naquele dia, ele ainda estava dormindo. simplesmente fascinante ver como Plato descreve os uiltimos momentos de seu mestre. Em momento algum Sécrates perde a calma ou 0 raciocinio. Mesmo com 0 célice de cicuta na mao, ele conserva a postura de um vencedor. Imagine vocé, agora, no mundo de quase dois milénios e meio passados, um homem de 70 anos que toma em suas maos 0 célice de sua morte € na presenga de amigos e discfpulos bebe © contetido como se bebesse um trago de aguardente, faz algum 16 A defesa de Sdcrates trad Siglo dell comentario sobre 0 gosto meio amargo, entrega o célice de volta e deita-se. Plato relata ainda sobre os efeitos do veneno e nos descreve as sensagdes que Sécrates teve aps engoli-lo. E de pasmar o intelecto. Ao mesmo tempo temos que bendizer a palavra escrita, pois, através desses textos, espiamos no passado, num pouco da vida, da morte, das atividades, idéias e sentimentos de um ser humano, que, como tantos de nés, preocupava-se coma verdade, a justiga, a educagdo, a ética e o bem da sociedade. Essa pérola da filosofia grega nos leva para dentro de um momen- to da nossa histéria. A Grécia Classica é 0 berco da filosofia e da cultura européias. Sécrates, Plato e Aristételes nos influenciam até hoje. Apesar de Sécrates nao ter deixado de sua mao escrita alguma, Plato se encarregou de imortalizé-lo, na sua defesa. Se vocé puder, leia ‘A defesa de Sécrates’ em uma s6 vez, Mas, no leia somente uma vez. Repita essa leitura e depois de algum tempo, leia-a novamente. A cada leitura, voc8 ira descobrir coisas novas. Seu intelecto i se fortalecer. Ela sera alimento, consolo e treinamento para sua defesa intelectual. Vocé jé foi vitima de preconceitos? Vocé jé julgou alguém preconceituosamente? Bem, no primeiro caso voce sofreu uma injustiga. No segundo vocé cometeu uma injustiga. A tradugao vem diretamente do texto grego e é extremamente transparente. Sécrates no era homem de falar dificil. Ele falava de forma inteligente. A defesa de Socrates wad Sérgio dvello 17 18 A defesa de Socrates. trad Sérgio Avalla A defesa “Qual o impacto que meus acusadores causaram sobre vos, se- nhores Atenienses, eu no sei. Mas, sobre mim, o impacto foi tal, que acabei até esquecendo quem eu era, de téo impressionante que foi o discurso deles. No entanto, nada do que eles disseram é verdade. Mas, o que mais me impressionou dentre as tantas coisas que eles falaram, foi a de que os senhores devem estar atentos para nfo serem enganados por mim, pois, segundo eles, sou alguém que fala muito bem. 0 fato deles néo terem tido o escripulo de afirmar isso, me parece ser 0 mais vergonhoso. Pois, os fatos j4 vao provar o contrério. Porque, endo sou uma pessoa que fala bem. Ao menos, que para ‘A defesa de Socrates rad Siga alla 19 eles, fale bem, quem fala a verdade. Se for essa a intengdo deles, entio, eu admito que sou bom orador. ‘Acontece, que nao é esse 0 sentido de suas palavras. Pois bem. Como ja disse, quase nada do que eles disseram tem funda- mento, De mim, porém, os senhores iro ouvir agora toda a verdade. Mas, por Zeus, Atenienses, sem expressdes elogiientes como as deles, ou enfeitadas com belos termos e frases. Os senhores irdio ouvir as coisas assim como elas me vém, com palavras que me aparecem naturalmente. Porque, eu estou acostumado a falar o que é certo. E ninguém precisa esperar, que hoje seja diferente. Mesmo porque, nem ficaria bem, que eu, nesta idade, estando aqui na vossa presenga, venha falar como um rapazola que enfeita o que diz. E, antes de qualquer coisa, eu vos peso principalmente isso, senhores Atenienses: que sempre que os senhores ouvirem me defender, exatamente com as mesmas palavras que costumo usar na feira junto as bancas onde muitos dos senhores j4 me ouviram, assim também como em outros lugares, n@o se espantem, nem se inquietem por isso. Essa a primeira vez que me encontro frente a.um jiri. Agora que completei setenta anos de idade. E eu estou completamente alheio A terminologia juridica. Se eu fosse, por exemplo, um estrangeiro, certamente os senhores me perdoariam por falar no dialeto e no linguajar em que fui criado. O que eu lhes pego agora, entdo, é justamente isso, que considerem como algo justo me permitirem dizer as coisas do meu jeito. Pois, assim como ele pode ser ruim, ele pode também ser muito bom. E lembrem-se de prestar aten¢do principalmente nis: eu digo é justo ou nao. Pois essa é a fing de um j orador é falar a verdade. 20 A defesa de Sdcrates wrod. Sogo Aorela Pois bem, me parece correto que em primeiro lugar me defenda das primeiras falsas acusagdes que me foram feitas e dos meus primeiros acusadores, para depois me defender das outras acusa- Ges e dos outros acusadores. Porque, varias foram as pessoas que me acusaram perante os se- nhores. E isso desde h4 muito tempo e durante muitos anos. Sem, no entanto, vos falarem uma verdade se quer. A esses homens eu temo mais do que aos que esto com Anito, muito embora, sejam esses também perigosos. Mas, os outros, senhores, os quais tomaram muitos de vés desde os tempos de crianga como seus alunos, so mais perigosos. Pois, eles tentaram vos convencer, mesmo sem colocar contra mim algo que chegasse perto da verdade. Eles disseram que existia um homem sabio, chamado Sécrates, um estudioso das coisas do céue das coisas debaixo da terra, que sabia transformar um ponto fraco em argumento forte. Foram eles, Atenienses, que espalharam essa fama. Eles é que so acusadores perigosos. Porque, os que do ouvidos a eles, pensam que aqueles que estudam essas coisas nem aos deuses respeitam. Além disso, eles sdo muitos e esto me acusando h4 muito tempo. E em terceiro lugar, eles vos disseram isso na inffincia ou na ju- ventude, quando vés estaveis mais propicios a acreditar. Eles simplesmente me acusaram sem que eu estivesse por perto e sem que alguém me defendesse. Eo pior é que nem € possivel saber ou citar seus nomes. A no ser que um certo poeta humorista tenha estado entre eles. Tanto aqueles que por antipatia ou inimizade tentaram vos enganar, A defesa de Sécrates trad Sto dela 21 Cada um deles, senhores, tem a capacidade de em qualquer lugar aonde chegue convencer os jovens a deixarem de tomar aulas daqueles de suas cidades, que os podem ensinar gratuitamente, para se juntarem a eles, enquanto eles cobram pelas aulas e ainda recebem um muito obrigado. Existe também um outro homem, de Paros, um erudito. Eu até ouvi que ele estava na cidade. Porque, eu encontrei, por acaso, um homem que pagou mais a sofistas do que a todos os outros. Ele era | Cilias, o filho de Hipénico. | Prédico de Ceos e Hipias de Elis. | , t Eu perguntei entdo a ele, que teri dois filhos: - Cilias - eu disse - se os teus filhos tivessem nascido como dois potros ou duas novilhas, entiio, nbs tomarfamos um domador e 0 pagariamos para que domasse a ambos da melhor forma possivel, dentro das qualidades de cada um. Ele seria um domador de cavalos ou um lavrador. Mas, agora que so gente, quem vocé ird contratar como instrutor? Quem esté preparado a altura para exercer a arte de educar pessoas para si mesmas e para a sociedade? Porque, eu penso, que por vocé ter dois filhos, j4 tenha pensado nisso. Existe alguém que pode fazer isso ou niio? - Com certeza, disse ele. - Quem? Perguntei. - De onde ele vem e quanto cobra? - Eveno, 6 Sécrates, de Paros, por cinco minas - disse ele. Olhem, eu felicito Bveno se ele realmente possui essa habilidade € dé aulas por tdo pouco. Eu me sentiria orgulhoso se soubesse fazer isso. Mas isso eu nao sei fazer, Atenienses. 24 A defesa de Sécrates iad Sérgio dvela Pois bem. Talvez alguém de vés queira pergunt: - Sécrates, qual é sua ocupagdo? De onde surgiram essas provo- cagdes contra voce? Porque, se vocé nao faz mais loucuras do que 0s outros fazem, ento néo teria surgido tanto boato e falatério, caso voce no fizesse algo diferente dos demais. Diga-nos que 6, para que n&o fagamos juizo precipitado. Esse que assim fala, me parece estar com a razo. E eu tentarei vos mostrar o que foi que me trouxe essa fama. Escutem-me. E talvez alguns terfio a impressio de que estou fazendo uma brincadeira. Mas, os senhores devem saber muito bem, que vou lhes contar toda a verdade. Porque, Atenienses, eu nfo ganhei essa fama por outra coisa a ndo ser por uma certa sabedoria. Mas, que sabedoria¢ essa? Talvez, seja sabedoria humana. Porque, de fato parece que sou dotado desta sabedoria. Porém, aqueles que citei ha pouco talvez sejam dotados de uma sabedoria mais elevada do que a sadedoria humana. Ou eu no saberia o que dizer dela, Eu nfo a conhego. E quem diz que a conhego est4 mentindo ¢ fazendo isso para me prejudicar. Ougam também a mim, Atenienses, sem fazer alvorogo. Mesmo que eu vos cause a impressio de estar dizendo algo extraordinério. Porque, o que vou dizer agora, néio vou dizer como uma afirmago minha. Mas, vou me basear em algo, dito por alguém da vossa inteira confianga. Pois, vos dou como testemunha da minha sa- bedoria, seja 14 qual for, a divindade que esta em Delfos. Porque, 0s senhores conheceram Querefonte. Ele foi meu discfpulo desde A defesa de Sécrates tad SirgieAvella 25 jovem e juntamente com a maioria de vés, esteve no exilio e vol- tou. Os senhores também sabem como ele era. Como era dedicado em tudo o que fazia. Pois bem, quando ele foi uma vez. para Delfos, ele arriscou pedir uma palavra ao Ordculo - como eu jé pedi, Atenienses, ndo fagam barulho -, pois ele perguntou se havia alguém mais s4bio do que Sécrates. E 0 Ordculo respondeu que nao havia ninguém. E sobre isso, 0 irmao dele que est4 sentado ali pode testemunhar, uma vez que Querefonte jé faleceu. 6 E procurem entender bem, por que estou Ihes dizendo essas coisas. Porque, eu vou Ihes mostrar de uma vez por todas de onde surgiu essa ma reputagao. Pois, quando ouvi tal coisa, eu pensei: “O que é que o Deus quer dizer e 0 que significa esse pronunciamento misterioso? Porque, estou convencido de que no sou sabio em coisa alguma, seja ela grande ou pequena. Mas entdo, por que é que ele esta dizendo que sou sabio? Pois, mentir € uma coisa que ele nao faz. Isso ndo combina com ele”. Por um longo tempo, estive me perguntando sobre o que é que ele quis dizer. Mas depois, muito contra vontade, comecei a ir atrés disso, fazendo um tipo de pesquisa. Entio, fui até um daqueles que sio tidos como sdbios, a fim de 14, com mais sucesso do que em outro lugar, poder provar ao Oréculo que: “Aquele é mais sbio do que eu, enquanto o senhor disse isso de mim”, Quando 0 coloquei a prova - e seu nome eu nio preciso dizer, pois, esse homem com quem falei era um politico, Atenienses, 26 A dofesa de Socrates trod Sérgio Amelle - percebi que ele, junto a muitas pessoas e principalmente para si mesmo, passava a impressio de ser s4bio, enquanto na verdade ele ndo era. Entdo, tentei the mostrar, que ele pensava ser sdbio, mas nao o era. Em conseqtiéncia disso, passei a ser odiado por ele e por muitos dos que lé estavam. Depois que sai de la, conclui que eu era mais sébio do que aquele homem. Porque, apesar de nenhum de nés dois saber muita coisa, ele estava convencido de que sabia. Mas, eu ndo. Eu, sabendo que nao sci, nfio fago de conta que sei. Em seguida, fui para um outro daqueles que se acham sdbios, ¢ tive dele a mesma impressio. E também de 14, sai sendo odiado tanto por ele quanto por muitos outros. Depois disso, passei a fila toda e isso me causou tristeza e medo. Porque, eu percebi que estava sendo cada vez mais odiado. Mesmo assim, me pareceu necessério colocar 0 caso da divin- dade como prioridade. Eu tive que continuar procurando saber o significado das palavras do Oréculo junto a todos os que eram tidos como sdbios. Mas, pelos cachorros, Atenienses! Eu tenho que vos falar a verda- de. E verdadeiramente eu passei por isso. Eu percebi - quando estive nesta missio divina - que aqueles que eram os mais famosos, eram também os mais carentes, e que os menos honrados tinham uma melhor visto das coisas. E eu acho necessério vos contar sobre essa caminhada. Porque, eu me esforcei para ver até que ponto a afirmag&o do Ordculo era consistente. ‘Adefesa de Sterates wad Séio ella 27 Depois dos politicos, fui até os artistas, tanto para os poetas dra- méticos quanto para os poetas liricos e outros, a fim de lé flagrar a mim mesmo como sendo menos sébio do que eles. Entio, tomando suas melhores poesias, perguntei a eles o que € que eles queriam dizer com elas, para que deste modo eu pudesse aprender deles. E olhem, Atenienses, tenho até vergonha de vos contar a verdade. Mas, tenho que conté-la. Porque, normalmente, todos tém falado melhor das coisas que eles mesmos fazem. Mas dos poetas, entendi muito rapidamente, que eles nao faziam poesias por serem sabios, mas por um talento natural que aparece enquanto eles esto em transe, assim como acontece com os profetas ¢ 0s adivinhadores. Porque, eles também dizem muitas coisas boni- tas, mas no entendem nada do que dizem. E algo assim acontece também com os poetas. E ao mesmo tempo, percebi que eles, devido & arte da poesia, pensavam que eram também em outras coisas as pessoas mais s4bias do mundo, enquanto que eles nfo eram. Assim, eu sai de lé convencido de que os sobrepunha nas mesmas coisas que sobrepus os politicos. Finalmente, fui até os artesfios. Mesmo sabendo que nada sabia, eu estava certo de que eles eram capazes de fazer muitas coisas bonitas. E quanto a isso nao me enganei. Porque, eles sabiam coi- sas que eu ndo sabia e neste sentido eram mais sabios do que eu. Mas, Atenienses, os bravos artesdos carregavam a mesma im- perfeigao dos poetas. Por serem bons nas coisas que faziam, eles pensavam ser os mais entendidos também nas mais altas coisas. E esse engano turbava a sabedoria deles. 28 A defesa de Socrates wad Série Aurela Por esta razo - até em considerago ao Ordculo - passei a me perguntar, se eu no podia assumir ser assim como eu sou, ou seja, iio sendo sabio na sabedoria deles e ndo sendo um tolo na tolice deles, ou ainda, assumir que eu tinha ambas as caracteristicas que les tinham. Entdo, cheguei a concluso que era melhor para mim e para 0 Oréculo, ser assim como eu sou. Em razio dessa jomada de investigagdes, Atenienses, muita ini- mizade surgiu contra mim. E da pior espécie. Porque, isso me trouxe muita caliinia, entre elas a de ser chamado de sdbio. E isso vem, porque os que presenciam minhas interrogacdes pensam que eu mesmo sou um entendido nas coisas que supero um outro. Na verdade, Atenienses, parece que quem & sébio mesmo, é Deus. E que ele, através das palavras do Oraculo, quis dizer, que a sabedoria humana é de pouco ou de nenhum valor. E parece que ele com isso se referiu a Sécrates, e que usou meu nome como exemplo, como se dissesse: “O mais sibio de todos vés, Atenienses, é aquele que como Sécrates aprendeu a ver que ele, com toda a sinceridade, em relagao & sabedoria nfo tem valor algum”. Por isso € que a servigo de Deus continuo indo & procura de todo aquele que se acha sdbio, seja ele daqui ou do estrangeiro. E quan- do eu acho que ele no € sdbio, provo a ele que ele nfo € sébio, a fim de colaborar com Deus. E devido a essa tarefa, nfio houve como me dedicar a algum ne- gécio rentavel na esfera piiblica ou privada. Eu vivo, pois, em extrema pobreza, por estar a servigo de Deus. Acdefesa de Sterates wad Sérgio Avella 29 10 Acontece também, que muitos jovens me acompanham espontane- amente ¢ se divertem ouvindo como interrogo as pessoas - sto eles os que tém mais tempo, filhos de familias mais ricas. E eles préprios, muitas vezes, procuram me imitar e vao interrogar pessoas. Entio, creio eu, que eles também descobrem que existem pessoas que pen- sam saber muito, mas que na verdade sabem pouco ou quase nada. Por isso, essas pessoas ficam zangadas comigo ao invés de fica- rem indignadas consign mesmas_ Flas dizem que Sécrates 6 um sujeito sujo que contamina os jovens. E quando alguém pergunta © que é que ele faz e 0 que ensina, as pessoas dizem qualquer coisa. Porque elas ndo sabem responder. Mas, para nao ficar claro que elas no sabem, elas dizem coisas que sio ditas sobre todos 0s estudiosos, como: ‘Coisas do eéu e de dentro da terra’ e ‘nao acreditar em deuses’ ¢ ‘fazer a mentira parecer verdade’. Pois, eu acho que a verdade, elas néo querem dizer, porque dai ficaria evi- dente que elas fazem de conta que sabem alguma coisa, enquanto no saben nade Como elas provavelmente so pessoas que buscam sua propria honra, sao insistentes ¢ numerosas, ¢ como falam de mim conti- nuamente € de forma convincente, elas encheram vossos ouvidos por muito tempo com caliinias pesadas. Foi baseado nisso que Meleto, Anito e Licdo me acusaram. Meleto veio defender os poetas, Anito os artesios e politicos Licdo os oradores. E como ja disse no inicio, seria um milagre se eu pudesse tirar de vossas cabegas essa caliinia que se acumulou, em to pouco tempo. Eu vos falo a verdade, Atenienses. Eu nao escondo nem deixo de falar alguma coisa, embora eu saiba que por isso estou me 30 A.defesa de Socrates wrod Sige della fazendo odiado, o que prova, alids, que estou falando a verdade e que justamente essa a causa das acusagdes contra mim. se os senhores forem verificar, agora ou mais tarde, irdo ver que Gassim que as coisas se encaixam, 1 Pois bem, contra as acusagdes que me foram feitas pelos primeiros acusadores, 0 que eu expus aqui deve ser para os senhores uma defesa plausivel. Mas, contra Meleto, o bom patriota como ele mesmo diz, € contra 0s outros acusadores, tentarei me defender a seguir. Novamente, ent&o, como se eles fossem um outro grupo de acu- sadores, vamos ver qual é a acusagao deles. Ela é mais ou menos assim: eles dizem que: “Sécrates se faz culpado porque corrompe a juventude e nao reconhece os deuses que a cidade reconhece, ‘mas acredita em outros seres divinos, a nés estranhos”. A acusagao é mais ou menos essa. ‘Vamos tomar cada ponto dessa acusagio aparte. Porque, ela diz que sou culpado porque corrompo a juventude. Mas, Atenienses, eu digo que Meleto esta se fazendo culpado, porque ele esta brin- cando com um negécio muito sério, enquanto sem pensar, estd trazendo pessoas para o tribunal, fazendo de conta que se importa € se preocupa com coisas, com as quais ele nunca se importou. E eu vou tentar tornar isso claro também para os senhores. 2 Vem ca, Meleto, me diz: - Vocé no acha que ¢ da maior importancia que os jovens se [A defesa de Sécrates. a Sérgio della 31 tomem o melhor tipo de pessoas possivel? - Com certeza. - V4 em frente, ent&o, diga-lhes, quem os faz melhor? Pois esté claro que vocé sabe, porque vocé se importa com isso. Porque, depois de vocé ter encontrado 0 corruptor da juventude, como vocé afirma, isto é, eu, vocé me traz aqui frente aos jufzes ¢ me acusa. Agora, diga, quem os faz melhor? Diga aponta quem sdo eles. Viu, Meleto, que vocé se cala ¢ nao pode dizer? Isso nao lhe parece vergonhoso ¢ néo é uma prova evidente do que estou afirmando, ou seja, que esse nao foi assunto de seu interesse? Diga-nos entéo, homem, quem os faz melhor? - As leis. - Mas isso ndo € 0 que estou perguntando, homem. Eu estou perguntando que pessoas? As quais, em primeiro lugar, de fato também conhegam as leis. - Eles, Sécrates, os juizes. - Como assim, Meleto? Vocé acha que eles so capazes de educar a juventude e fazer dos jovens pessoas melhores? = Com certeza. = Todos eles so capazes de fazer isso ou alguns sim e outros nao? - Todos. - Por Hera, agora vocé diz algo de muito bom e mostra que existe um grande mimero de colaboradores. Quem mais? As pessoas que esto nos ouvindo também fazem isso? - Blas também. - Quem mais? Também os integrantes do Conselho? - Também os do Conselho. - Mas, Meleto, as pessoas do Parlamento, os parlamentares, eles 32 A defesa de Socrates. wad. Suge dwell naturalmente nao corrompem a juventude? Com certeza, também todos eles sé fazem dos jovens pessoas melhores, nao é? -Também eles. - Parece ento, que todos os de Atenas fazem dos jovens pessoas melhores, exceto eu. Somente eu os corrompo. E isso que vocé quer dizer? - Isso mesmo. ~ Pois 0 que vocé acaba de falar contra mim é uma grande mancada. Responda-me: - Vocé nfo acha que com cavalos também é assim? Vocé nao acha que aqueles que os fazem melhores, so todas as pessoas ¢ que somente um é quem os corrompe? Ou seré o contrario, que uma pessoa é quem os faz melhores, ou em todo caso algumas, isto é, 0s domadores, ¢ que as demais pessoas os corrompem, ao lidar e fazer uso deles? Nao é assim tanto com cavalos quanto com todos os outros animais? Naturalmente que sim, queiram vocé e Anito concordar ou nfo. Seria, pois, uma grande felicidade para os jovens se apenas uma pessoa os corrompesse e as outras os beneficiassem. Aliés, Meleto, vocé esté demonstrando claramente nunca ter se importado com a juventude, e a sua indiferenga quanto a eles se torna evidente, porque, decididamente vocé no tem interesse nas coisas pelas quais vocé me trouxe a julgamento. B Diga-nos ainda, Meleto, por Zeus: -E melhor viver numa sociedade boa ou numa sociedade ruim? Responda, homem. O que estou perguntando nao é algo dificil. As pessoas ruins nao fazem mal as que estio proximas e as pessoas A defesa de Sécrates trad Sti Arita 33 boas nao fazem o bem? - Certamente. - Existe, pois, alguém que prefira que as pessoas proximas lhe fagam o mal ao invés de lhe fazerem 0 bem? ... Continue respon- dendo, homem. Pois a lei lhe obriga continuar a responder. Existe alguém que queira ser prejudicado? - Naturalmente que nao. ~ EntZo vocé me trouxe aqui porque vocé acha que corrompo a juventude ¢ torno os jovens, piores. Pois bem, eu estaria fazendo isso intencionalmente ou nao? - Intencionalmente. - Qual &, Meleto? Vocé que é t&o jovem ainda, j4 é mais sébio do que eu, que sou tao velho, a ponto de ter visto que as pessoas mas sempre fazem mal as pessoas proximas e que as pessoas boas fazem o bem, e também que eu tenha chegado a uma ignordncia tal, que eu mesmo nao saberia disso, ou seja, que correria 0 perigo de sofrer deles algum dano, estando propositadamente a fazer um to grande mal, como vocé diz? Nisso eu nao acredito, Meleto, e penso que ninguém acredita. Ou eu nfo 08 corrompo, ou se os corrompo, o fago sem o saber. E sendo assim, vocé esta mentindo em ambos os casos. E se eu nao os corrompo intencionalmente, nao é justo que vocé por tal engano me leve a justia. Justo seria se vocé me chamasse & parte para me instruir e me chamar a atengo. Pois, naturalmen- te, ao ver o meu erro, eu iria parar com 0 que nfo estou fazendo propositalmente. Mas, vocé evitou, e nao quis me procurar e me aconselhar. E vocé me traz para c4, aonde, segundo o costume, é para quem merece ser castigado e nao para quem precisa de um conselho. 34 Adefesa de Socrates wad Sig Awetlo “4 Jaesté claro, senhores de Atenas, como ja disse, que Meleto nunca se preocupou com essas coisas, nem muito nem pouco, Mesmo assim, diga-nos Meleto: - De que maneira vocé acha que eu corrompo a juventude? Segundo a acusa¢do apresentada por vocé, fica claro que € por que eu os ensino a no crer nos deuses que o Estado reconhece, mas sim, crer em outros deuses, deuses estranhos, nao 6? Vocé nao esté afirmando que eu os corrompo ensinando isso, esta? -Certamente, eu afirmo isso, com énfase. - Pois agora, Meleto, em nome destes mesmos deuses citados aqui, esclarega melhor a mim e aqueles homens ali. Porque, eu no posso entender se vocé diz que eu os ensino a crer que existem certos deuses - e que eu mesmo acredito na existéncia de deuses, ¢ que nfo sou ateista e que neste sentido nao fago nada errado - mas, que eu nao ensino a eles a crer justamente naqueles deuses que 0 Estado reconhece, mas em outros, e que é disso que vocé me responsabiliza, ou seja, que eu ensino a crer em outros deuses, ou como vocé diz, que eu mesmo, no geral, no acredito em deuses eensino isso a outros. - E isso que eu quero dizer, que vocé no geral no acredita em deuses. - Surpreendente, Meleto! Com que inteng&io vocé esté dizendo isso? Eu no acredito que tanto o sol quanto a lua sejam deuses, assim como fazem as demais pessoas? - Por Zeus, senhores do jiti, ele afirma que o sol é uma pedra e que a lua é uma terra, - Mas meu amigo Meleto, vocé pensa que esté acusando AnaxAgoras? Vocé despreza as pessoas aqui presentes a tal ponto de Acdefesa de Sberates wad Stipe Arala 35 pensar que elas néio conhecem a literatura e no saber que os livros de Anaxagoras de Clazémenas esto cheios dessas teorias? E sera que a principal coisa que os jovens aprendem de mim é aquela que | eles podem comprar no teatro por apenas um dracma, para rir de Sécrates, quando ele faz de conta que tais coisas so dele mesmo, | justamente por serem elas tio ridiculas? Mas por Zeus, parece a ‘voce que sou desse jeito? Nao acredito eu, que exista Deus? - Nao acredita, por Zeus, nao acredita mesmo. ~ Vocé nfo é coerente, Meleto, e acho que nem voce acredita no que diz. Senhores Atenienses, ele me parece muito arrogante e fora dos sentidos. Pois me parece, que ele simplesmente por uma ou outra imprudéncia, brutalidade e loucura de um rapazola tem perpetrado ‘essa acusagao contra mim. Ele parece até com alguém que nos coloca a prova, Como se colocasse um enigma: “Iria Sécrates, 0 sébio, perceber que estou fazendo alguém de tolo e que eu mesmo estou me contradizendo, ow serd que vou enganar a cle e aos outros, os ouvintes?” Pois, eu acho que ele esté se contradizendo na acusagio, como se dissesse: “Sécrates ¢ culpado porque néo acredita em deuses, contudo ele cré”. E isso é realmente proprio de um brincalhao. 45 Prestem atengio comigo, senhores, e vejam até que ponto me fica claro que ele esta dizendo isso. E vocé, Meleto, tem que nos dar respostas. Os senhores, porém, como ja vos implorei no inicio, devem lembrar de no fazer tu- multo enquanto falo, s6 porque falo da minha maneira. 36 A.defesa de Sécrates tra. Sirgodwrelo Existe alguém entre as pessoas que acredita na existéncia de coisas de pessoas, mas nao na existéncia de pessoas? - Ele deve responder, senhores, € ndo ficar interrompendo. Existe alguém que no cré na existéncia de cavalos, mas sim na existéncia de coisas de cavalos? Ou que nfo acredita na existéncia de flautistas, mas sim, em coisas de fiautistas? ‘Nao existe alguém assim, dignissimo senhor. E se vocé no quiser responder, eu direi para vocé e para os outros. Mas, me dé uma resposta a isso: - Existe alguém que cré em coisas de seres divinos, mas nfo em seres divinos? ~ No, nao existe. = Como vooé me ajuda finalmente, respondendo, mesmo sendo pressionado por eles. Pois bem, voeé diz que eu acredito em seres divinos e os propago ensinando, sendo eles novos ou antigos, e pelo menos, segundo suas palavras, eu creio em coisas de seres divinos e isso vocé também jurou solenemente em sua acusagao. Mas, se creio em coisas de seres divinos, necessariamente tam- bém creio em seres divinos, no é mesmo? E isso mesmo. E eu suponho que vocé concorda comigo, porque vocé nao esta dando respostas. E os seres divinos, nés no os temos como deuses ou filhos de deuses? Vocé os reconhece como tal ou nao? - Certamente. - Entio, se de fato acredito em seres divinos como voce diz, ¢ se seres divinos so um tipo de deuses, o caso aqui ¢ assim como estou afirmando: que vocé esta falando de forma enigmitica e zombando, porque vocé diz que eu, enquanto nfo acredito em deuses, acredito em deuses, porque acredito em seres divinos. Se os seres divinos so uma espécie de falsos filhos de deuses, nascidos de ninfas ou de m&es mortais, de quem se diz que eles Adefesa de Séerates od Sige Aveta 37 nascem, quem entio das pessoas pode acreditar na existéncia de filhos de deuses, porém nao em deuses? Isso seria tdo absurdo como alguém que acredita na existéncia de filhos de cavalos ou de burros, mas ndo em cavalos € burros, Ent&o, Meleto, voce s6 pode ter feito essa acusag%o para nos colocar a prova. Ou, porque vocé nao sabe de que tipo de crime voce deve me acusar. E impossivel que vocé possa convencer alguém que tenha pelo menos um minimo de inteligéncia, de que, de um lado, nfio com- bina com uma pessoa acreditar tanto em coisas de seres divinos quanto em coisas de deuses, e de qutro lado, de que combina com a mesma pessoa nao acreditar em seres divinos nem em deuses ¢ nem em heréis. 16 Ento, Atenienses, para mostrar que ndo sou culpado da acusago de Meleto, nao me parece necesséria maior defesa, essa jé basta. No entanto, os senhores devem prestar muita atengo no que eu jé disse no inicio, Pois, me surgiu muito édio e junto a muitos. Porque isso é verdade. E isso ¢ o que me derruba, se é que algo vai me derru- bar, e nao Meleto nem Anito, mas 0 édio e a inimizade de tantos. Isso tem derrubado muitos outros excelentes homens. E eu penso que mais pessoas serfio condenadas por isso. Ninguém precisa ter medo de que isso ira parar depois de mim. Talvez alguém possa dizer agora: “Voce ndo se envergonha de se ocupar com tais coisas, se através delas vocé agora corre o perigo de morrer?” Eu tenho contra ele, porém, um argumento vélido. “Eu digo que vooé esté errado, caro amigo, se vocé pensa que deve levar em 38 A defesa de Sécrates rod Sipe rel conta 0 correr perigo para um homem que tenha algum valor, mesmo pequeno, ao invés de somente levar em conta, em todas suas agdes, se age como justo ou injusto e se seus atos stio os de um homem bom ou mau”, Pois, segundo vocé diz, todos os herdis que morreram em Tréia, seriam homens sem valor, tanto os outros como o filho de Tétis, que em lugar de sofrer um escandalo, quando ele decidiu matar Heitor, considerou o perigo algo insignificante, quando sua mae, que era uma deusa, Ihe falou mais ou menos assim, acho eu: “Meu filho, se vocé for vingar a morte de seu amigo Patroclo e matar Heitor, vocé morrer4”. Porque, ela disse: “Imediatamente apés a morte de Heitor, vird a sua”. Ao ouvir isso, ele colocou a morte o perigo em segundo lugar, e temeu mais viver como um covarde do que deixar de vingar seus amigos. Ele disse: “Que eu morra imediatamente apés ter dado o castigo a0 criminoso. O que nao quero é ficar e me tomar motivo de zom- baria aos navios da coroa e uma vergonha para a terra”, ‘Vocé niio acha que ele se preocupou em correr perigo, no é? Porque, assim é na realidade, Atenienses. L4, onde alguém se po- siciona, por que ele estd convencido de que aquilo é o melhor, ou onde alguém ¢ colocado pelo comandante, lé ele deve enfrentar os perigos, sem se preocupar com a morte ou outra coisa, mais do que com a vergonha. 7 Porque, eu teria agido mal, Atenienses, se no tivesse permane- cido no posto onde fui designado ficar, e como qualquer outro Adefesa de Socrates wad Sie Avelia 39 no tivesse enfrentado perigo de morte quando o comandante, escolhido por vés para me comandar, me deu ordens para ficar, tanto em Potidéia quanto em Anfipolis e Délio. Assim também, se eu, quando Déus me designou, como pensei e entendi, que era necessério que eu dedicasse minha vida & filosofia, investigando a mim mesmo ¢ a outros, se eu, nesta posigao, por ter ficado com medo da morte ou de outra coisa, desertasse da minha missao. Isso seria terrivel. E ai sim alguém poderia ter me levado a julga- mento por justa causa. Porque ai, de fato, eu néo estaria acredi- tando na existéncia de deuses, devido 4 minha desobediéncia ao Ordculo, eu estaria temendo a mofte e me achando sdbio enquanto no sou. Porque, Atenienses, temer a morte nao é diferente do que parecer ser sébio sem o ser. Pois, é pensar que se sabe o que a gente nfo sabe. Na verdade, ninguém conhece a morte e ninguém sabe se ela no € para o ser humano, por sinal, o melhor de todos os bens. As pessoas a temem, tendo como certo que a morte é a pior coisa de todas. E no entanto, essa é uma grande tolice, pois as pessoas acham que conhecem algo que nao conhecem. Olhem, Atenienses, talvez me diferencio das demais pessoas também neste aspecto, porque, se eu fosse dizer que sou mais. sdbio do que um outro, entdo eu diria que € nisso, que eu, por nao conhecer suficientemente a situago no terreno de Hades, também no faco de conta que conhego. Eu sei, porém, que cometer uma injustiga e desobedecer a um superior, seja ele um deus ou um humano, é ruim ¢ vergonhoso. Entdo, ao invés de fazer aquilo que sei que é ruim, nao vou temer nem fugir de algo que no sei se por acaso nfo sio coisas boas. 40 A defesa de Sécrates mat Sérgio Awela Se os senhores me deixarem ir, nfo fazendo o que Anito pede, pois ele diz que eu nem deveria estar aqui, ou, j4 que aqui estou, que os senhores deve me matar, pois ele diz que se eu for liberado, que entdo vossos filhos, por acreditarem no que Sécrates ensina, seriam todos totalmente corrompidos. E se os senhores me disserem: “Sécrates, nés nao daremos ouvi- dos a Anito, mas lhe deixaremos ir sob uma condi¢ao, que vocé pare de investigar e de filosofar. E se vocé for pego fazendo uma destas coisas, vocé morrera”. Se os senhores, como jé disse, me deixarem ir sob essa condigao, eu vos responderia que vos respeito, Atenienses, e vos quero bem, mas que mesmo assim, iria antes obedecer a Deus do que a vés. E enquanto tiver folego de vida e forgas no cessarei de me envolver com filosofia e de vos estimular e alertar. E como tenho feito até agora, direi a quem quer que seja: “Caro amigo, vocé é um cidadao de Atenas, a cidade mais famosa e conhecida, tanto pela cultura quanto pela sua forga, vocé no tem vergonha de se esforgar para ganhar o maximo possivel de dinheiro, gléria e honra, mas, de nao cuidar nem de se importar com a ética, com a verdade e com o melhorar a sua alma?” E se alguém dos senhores contestar isso, e disser que se importa, eu nfo o deixarei ir sem antes Ihe questionar, analisar e lhe pro- var o contrario. E se me ficar claro que a verdade nio esta com ele, enquanto afirma estar, eu o culparei por estar invertendo valores, fazendo de coisas do mais alto valor, coisas insignifi- cantes e de colocar coisas de menor valor como se fossem as mais importantes. Isso farei com jovens e adultos, seja lé quem for que eu encontrar, tanto estrangeiro quanto cidadio, e de preferéncia com os cida- A defesa de Sderates rad Siglo Awella 41 daos, cuja descendéncia estd mais préxima da minha, assim como | 0s senhores. Porque, essa tarefa é uma ordem de Deus, os senhores sabem. E estou convencido de que os senhores ainda nfo encontraram na cidade um ato mais digno do que meu servigo a Deus. Pois, enquanto ando por ai, ndo fago outra coisa do que entre vés tentar convencer jovens e velhos para no estarem preocupados mais com as riquezas ou com o corpo do que com a alma, afim dela ser a melhor possivel. Eu sempre digo: “Nao é a virtude que vem das riquezas, mas as riquezas da virtude, e todas as outras boas coisas para a vida das pessoas, tanto para o individuo quanto para a sociedade”, Bem, se por dizer essas coisas corrompo a juventude, entao, isso € uma vergonha. E se alguém disser que eu digo outras coisas do que essas, ele fala bobagem. Por isso, eu posso dizer: “Atenienses, se os senhores acreditam em Anito ou nfo, se os senhores me deixarem ir ou no, como 08 senhores jé sabem, nio posso fazer outra coisa, mesmo que eu tenha que morrer varias vezes”. 18 Calma, Atenienses, nao fagam barulho, j4 pedi para os senhores ndo se agitarem com o que eu digo, seja lé o que for, mas, ougam somente. Pois, ao meu ver, os senhores somente tém a ganhar em me ouvir. Porque, eu irei agora dizer coisas contra as quais os senhores provavelmente iro protestar veementemente. Mas, decididamente, no 0 fagam. Porque, os senhores tém que saber muito bem, que se os senhores me condenarem a morte, sendo 42 Adefesa de Sderates tad Sirgio Aurela eu assim como eu digo que sou, os senhores fartio mais mal a si mesmos do que a mim. Pois, a mim, nenhum Meleto ou Anito pode prejudicar - isso nao € possivel. Pois, estou certo de que nao é justo que um homem bom seja pre- judicado por um homem mau, Ele pode até condené-lo a morte, ou bani-lo, ou tirar-Ihe a cidadania, e ele e outros podem achar isso um grande mal, mas eu considero um mal bem maior, fazer 0 que ele esta fazendo, ou seja, tentar levar um homem a morte com acusagées sem fundamentos. Esté claro agora, Atenienses, que nfo é por mim mesmo que me defendo, como alguém poderia pensar. Mas, eu estou fazendo isso para o seu préprio bem. Para que os senhores nfio cometam um erro contra a dadiva que vos foi dada por Deus, me condenando. Porque, se os senhores me condenarem a morte, os senhores ndo irdo encontrar facilmente um outro alguém, que - embora seja meio ridiculo dizer - esteja tio ligado por Deus a cidade, que como um cavalo grande e majestoso, devido ao seu tamanho, é muito lento e precisa de uma mosca mutuca para ser mantido acordado. Ao meu ver, Deus designou a mim para ser tal mosca para a ci- dade, como alguém que nfo para de cutucar, convencer e alertar cada um dos senhores, aparecendo todos os dias em todo o lugar. E alguém assim, Atenienses, nao vird até v6s facilmente. Por isso, se os senhores me ouvirem, os senhores me pouparao. Pode, no entanto, que os senhores se irritaram, como gente que é acordada enquanto dorme, e batendo em mim, ao darem ouvidos 4 Anitos, me matem facilmente. Depois, podem seguir em frente, vivendo a vida dormindo, até que Deus mande um outro, se ele se compadecer de vés. A dofesa de Sécrates trad Sige avete 43 Que eu por acaso sou alguém assim, enviado a cidade por Apolo, os senhores podem concluir do que se segue. Pois, nao me parece humano que eu tenha desprezado tudo o que é meu e tenha su- portado isso por tantos anos, e que tenha sempre vos beneficiado, indo a cada um de vés, como um pai ou irm&o mais velho, para vos alertar sobre os valores da dignidade humana. Se eu, por acaso, tivesse ganhado algo em troca, ou tivesse feito isso para ganhar dinheiro, entio sim, eu teria tido uma raz&o nor- mal para fazé-lo. Mas, agora, os senhores devem ver por si préprios que meus acusadores, embora tenham vergonhosamente apresentado tantas outras coisas, no foram capazes, nem mentindo, de afirmar que eu tenha recebido ou pedido algum pagamento, trazendo aqui alguma testemunha. Porém, a testemunha que eu vos apresento para mostrar que falo a verdade, me parece auto-suficiente: a minha pobreza. 19 Pode até parecer estranho que eu esteja fazendo meu trabalho em particular, indo de um lado para o outro e me intrometendo em negécios de outros, sem ousar servir a cidade publicamente, fazendo parte da Assembléia. O motivo disso, como os senhores muitas vezes ouviram, quando falei em diversas ocasides, que algo sobre-humano e vindo de Deus me alcanga - como uma voz -, algo que também Meleto escreveu na ata de acusago, como um deboche. Isso comegou desde quando eu era jovem. Uma voz que aparece com freqiiéncia, e sempre que ela vem, ela me segura de fazer 0 que quero. Ela, porém, nunca me instiga a fazer algo. E é isso que me segura de atuar na politica. E pelo 44 A defesa de Socrates iad Sérgio Avele que vejo, ela me segura com razio. Pois, como vocés sabem, Atenienses, se eu tivesse me dedicado a politica ha mais tempo, eu jé teria morrido, e af nfo teria sido de utilidade alguma, nem para vocés nem para mim. E 0s senhores ndo devem se irritar quando eu falo a verdade. Porque, nao existe alguém entre as pessoas que seja poupado, nem entre vés nem entre outro povo, quando ele se opor seriamente contra vés ou contra uma outra Assembléia, para tentar evitar que acontegam coisas injustas ¢ ilicitas na cidade. Por isso, é necessé- rio que quem realmente quer defender o que é direito e quer viver por pelo menos um curto perfodo, que atue em particular e néio se ligue A politica. 20 E vou Ihes apresentar uma prova de suma importéncia, nfo pa- lavras, mas, 0 que os senhores tém em alta consideracio, fatos. Ougam, pois, o que me aconteceu, para que os senhores vejam. que no desvio de alguém quando estou no meu direito, por temer a morte, mesmo que eu possa morrer se no me afastar. E eu irei vos falar de maneira vulgar e exagerada. Porque, eu, Atenienses, no ocupei nenhum outro cargo piiblico, se nfo o de membro do Conselho da cidade. E casualmente, a presidéncia estava, entiio, a cargo do nosso distrito, Antioquia, quando os senhores condenaram 4 morte de forma injusta - como todos os senhores compreenderam mais tarde - os dez oficiais que no retiraram da Agua as vitimas da batalha naval. Nagquela ocasifo, fii o nico dos Pritanes a tentar evitar que os senhores fizessem algo contra a lei, ¢ votei contra a decisao. A defesa de Socrates wad Siglo Avello 45 Embora os lideres do partido estivessem dispostos a me acusar a me prender, e embora os senhores os estivessem apoiando, considerei que, pelo que ¢ justo e pela lei, eu deveria antes correr riscos do que me tomar ciimplice convosco, sé por estar com medo de cadeia ou da morte. Porque, os senhores nfo estavam agindo corretamente. E isso aconteceu ainda quando a cidade tinha um governo democritico. Depois, quando veio a oligarquia, eles me chamaram Cipula, junto com mais outros quatro, e ordenaram que féssemos buscar Le&o, de Salamina, para matd-lo. E eles deram esse tipo de ordem a varios outros, s6 para comprometer 0 maior numero possivel de pessoas. Eu, porém, mostrei mais uma vez, nfo com palavras, mas com atos, que no me preocupo com a morte em primeiro lugar - se no for muito cru dizer isso dessa forma -, mas, que em primeiro lugar, eu me preocupo em nfo fazer algo injusto ou impio, é com isso que me importo. Othem, aquele governo néo me amedrontou a tal ponto de eu vir a cometer uma injustiga, por mais forte que ele fosse. Quando saimos da Capula, os outros quatro foram para Salamina ¢ prenderam Ledo. Eu, porém, fui para minha casa. Talvez eu tivesse morrido por isso se aquele governo nfo tivesse sido derrubado, logo depois. E muitos podem testemunhar isso para os senhores. 2 Sendo assim, os senhores nfo pensam que eu teria vivido todos esses anos se tivesse me envolvido com os negécios do Estado, se eu fosse agir como convém a um homem de bem, fosse defender ‘© que é justo e fosse colocar isso como prioridade, nao é mesmo? 46 A.defesa de Sderates ad. Sige dwell Longe disso, Atenienses. Nem com outra pessoa isso seria assim. Porque, eu fui o mesmo durante toda minha vida, tanto ao fazer alguma coisa para o Estado, quanto ao fazer algo para mim. De tal modo, que nunca fugi do que € certo, por ninguém, nem por um daqueles que, segundo meus caluniadores, seriam meus alunos. 6, que eu nunca fui professor de alguém. Mas, sempre que alguém tem prazer em me ouvir falar e ver como eu fago o meu trabalho, seja jovem ou seja velho, eu nunca neguei essa oportunidade a alguém. E no é assim que sé debato com alguém se ganhar dinheiro ¢ que nfo o fago se ndo ganhar, mas, tanto para o rico quanto para o pobre eu me pus a disposig&o para ser interrogado. E também quando alguém queria ouvir o que eu tinha para responder. E se alguém achava isso titil ou no, por isso eu nfo posso ser responsabilizado - no de uma forma justa. Porque, cu nunca prometi a alguém, ensiné-lo, o que eu também nunca fiz. Mas, se alguém disser que em alguma ocasiao aprendeu ou ouviu alguma coisa de mim em particular, algo que outros nfo fizeram também, os senhores devem saber muito bem que esse alguém nfo esté falando a verdade. 22 Mas, por que entéio alguns ficam comigo por tao longo tempo? Os senhores jé ouviram isso, Atenienses. Eu ja vos contei toda a ver- dade. E porque eles, enquanto me ouvem, sentem prazer ao verem pessoas que pensam ser sabias niio o sendo, serem interrogadas. Porque de fato é engragado. E eu, como ja disse, fui indicado por Deus para fazer isso, tanto através de oréculos como de sonhos € de todas as maneiras através das quais qualquer outra ordem divina tem vindo as pessoas, para fazer o que quer que seja. Acdefesa de Sécrates wad Sérgio Alla 47 Essas coisas, Atenienses, sio verdadeiras e faceis de serem prova- das, Pois, se eu estou corrompendo alguns dos jovens, e j4 tenha corrompido outros, eles devem naturalmente, agora que alguns deles jé so mais velhos e entenderam que quando eram jovens eu Ihes ensinei coisas erradas, se levantar e me acusar e se vingar. E se eles no quiserem, seus familiares, pais, irmaos e parentes, de- veriam se lembrar se eu os causei algum mal e virem me acusar. Certamente muitos deles esto aqui, eu os vejo. Em primeiro plano, eu vejo ali Criton, homem da minha época que morava no mesmo bairro que eu, pai de Critébulo, que estd aqui. Depois, vejo Lisénias, da cidade de Esfetos, pai de Esquines, aqui. Vejo 14, também Antifonte da cidade de Quefisia, pai de Epigenes. E também aque- les 14, cujos irmaos estiveram comigo enquanto eu cumpria com minha tarefa. Nicéstratos, o filho de Teozétides ¢ irmao de Teédoto - sendo que Teédoto ja morreu e ninguém pode solicitar que ele no me acuse. Esta aqui também Paralo, o filho de Demédoco, de quem Teages era irmao. Também Adimantas, o filho de Aristono, de quem Platio é um irmio, e Ajantédoro, irmao de Apolédoro. E tenho muitos outros para vos indicar, dos quais Meleto certa- mente poderia ter colocado um como testemunha em sua acusa¢o. E se ele esqueceu, podera fazé-lo agora, que entfo eu me retiro. Ele que fale entdo se ele tem alguém assim. ‘Mas, ao contratio, os senhores irdo descobrir que eles todos estiio dispostos a me ajudar, Atenienses. A mim, que segundo Meleto e Anito os corrompe e faz mal aos seus parentes. Os corrompidos podem talvez ter uma razo para me defender, mas, aqueles que nao foram corrompidos, que sio agora outros homens, e seus parentes, que outra razo teriam para me defender 48 A defesa de Sécrates rad Sérgio ello. hé no ser a correta, a justa, ou seja, por estarem cientes de que Meleto mente e de que eu falo a verdade? 23 Pois bem, Atenienses, o que eu tenho para minha defesa é mais ou menos isso € outras coisas iguais a essas. Mas, talvez, alguém dos senhores pode estar zangado, lembrando-se de que quando ele esteve frente aos juizes, num processo bem menos importante do que esse, enquanto trazia ao tribunal seus filhos e muitos de seus familiares e amigos, tenha implorado com lagrimas e pedido por misericérdia, Porque, eu no irei fazer nada disso, embora, pelo que posso perceber, esteja correndo perigo extremo. Talvez, que alguém agora, ao se lembrar disso, ira endurecer comigo ¢ por maldade iré votar contra. Mas, se isso est4 acontecendo com alguém dos senhores, nfio que eu ache isso justo, mas se esse € 0 caso, penso que com razio posso lhe dizer: “Homem, eu também tenho alguns familiares”. Pois, como dizem as conhecidas palavras de Homero, no nasci de um carvalho ou de uma rocha, mas de gente, de tal forma que também tenho familia e filhos, Atenienses, trés, um jé mogo e dois ainda criangas. No entanto, néo trarei aqui nenhum deles para pedir que os senho- res me absolvam. E por que no vou fazer nada disso? Nao por ser sdbio aos meus préprios olhos, Atenienses, e também nao por vos desprezar. E se sou corajoso ou nao em relagdo & morte isso é um outro caso. Mas, pela minha reputa¢ao, pela sua e pela da cidade inteira me parece melhor néo fazer isso, mesmo porque, eu j4 sou velho ¢ tenho a reputago de ser, correta ou incorretamente, um homem sabio. ‘A defesa de Sécrates wad Sugio dele 49 O que em todo caso esta claro é que jé esta constatado que Sécrates é diferente da maioria das pessoas. Porém, se aqueles que pensam que so diferentes dos senhores, seja em sabedoria, seja em coragem ou qualquer outra virtude, se comportarem como aqueles, isso seria vergonhoso. Eu jé vi homens assim muitas vezes. Sempre que tinham que comparecer ao tribunal, mesmo pensando ser alguma coisa, eles se comportavam de forma surpreendente. Como se eles pensassem que sofreriam algo terrivel se fossem sofrer a pena de morte. Como se fossem viver para sempre se os senhores no os condenassem morte. : Ao meu ver, essa gente é um escdndalo para a cidade, De tal modo, que um estrangeiro pode pensar que os Atenienses, que se sobressaem nas virtudes, aqueles que se consideram estar acima dos outros, na verdade nfo diferem de mulheres. Porque, Atenienses, essa ¢ uma coisa que os senhores nfo devem fazer, os senhores que pensam ser alguma coisa. E os senhores também nao devem permitir que nés venhamos a fazer. Mas, 0s senhores devem até demonstrar que os senhores irdo antes con- denar alguém que se presta a tais cenas, por assim envergonhar a cidade, do que alguém que se mantém calmo. 24 Mas, deixando minha reputagio de lado, Atenienses, no me pa- rece justo fazer siplicas aos juizes e através delas ser inocentado, no lugar de esclarecé-los e convencé-los. Porque, um juiz ndo esta aqui para distribuir justiga como sendo 50 A defesa de Sécrates trad Série Avela um favor, mas esta em sua fungdo para sentenciar o que é justo. E ele também jurou que no decidiria em favor de alguém segundo a sua opinido, mas, cue ele sentenciaria de acordo com as leis. Pois ento, é preciso que nés no nos acostumemos que os senhores juizes quebrem seu juramento, e é preciso que os senhores juizes ndo se deixem acostumar a isso. Porque, neste caso, nenhum de nés dois estaria agindo com seriedade. Por isso, nao esperem de mim tal atitude frente aos senhores, 0 que, alids, eu nao considero justo nem santo, principalmente agora que fui acusado por Meleto de ateismo. Se eu tentasse ganhar vosso favor e se eu fosse vos pressionar com minhas siplicas, enquanto os senhores prestaram um juramento, entio eu estaria claramente vos ensinando a nfo acreditarem na existéncia de deuses, ¢ entdo eu mesmo estaria me acusando du- rante minha defesa, de nao acreditar em deuses. Mas, tudo esté longe de ser assim. Pois, senhores de Atenas, eu acredito em deuses, como nenhum dos meus acusadores o faz. E eu coloco a decisto que seré tomada a meu respeito em suas mos e nas mios de Deus, para que seja feito o que é melhor para mim ¢ para os senhores. ‘Neste momento, hd um intervalo para que os juizes por meio do voto ‘possam se manifestar quanto & sentenca, Apis conhecida a sentenca, 0 réu pode apresentar uma ‘contrapropast 25 O fato de eu nfo estar zangado com a sentenga proferida contra A defesa de Sécrates trad Siri Aelia SY mim pelos senhores, 6 homens de Atenas, tem varios motivos, | especialmente porque esse acontecimento no me era inesperado, No entanto, o que mais me surpreendeu foi o mimero dos votos prés ¢ contras. Porque, eu nfo esperava que a diferenga seria tio pequena. Eu esperava uma diferenga bem maior. Mas agora, pelo visto, eu teria sido absolvido se apenas trinta dos votos dados tivessem cafdo do outro lado. Pois bem, em todo 0 caso, eu estou, assim, livre de Meleto. E no 86 isso, pois esté muito claro que se Anito e Licdo nao tivessem me acusado também, que ele teria atrafdo para si uma multa de mil dracmas, por ndo'ter conseguido um quinto dos votos a seu favor. 26 Mas, o homem exige a pena de morte contra mim. Muito bem. Que contraproposta eu posso vos apresentar, Atenienses? Naturalmente, que tenho que apresentar uma contraproposta digna, nfo €? E entéo? Quanto eu valho? Que sofrimento ou soma de dinheiro paga o meu valor? E, nota bene, s6 porque durante minha vida nio fiquei quieto no meu canto, mas des- Prezei aquilo que a maioria das pessoas busca, ou seja, ganhar dinheiro, cuidar da casa, carreira militar, cargos piblicos ou ou- tros cargos, associagées politicas e as passeatas que acontecem na cidade. Porque, eu na verdade me achava nobre demais para ganhar a vida através desses meios. E porque nao segui aquele caminho onde eu nao seria util, nem aos senhores nem a mim, mas porque, isso sim, eu fui l4, onde eu prestaria a cada um em 4 particular o melhor dos favores. 52 A defesa de Sécrates rad. Sérgio Amela Como eu falei, segui esse caminho para tentar convencer a cada um dos senhores a ndo se preocupar mais com os negécios do que consigo mesmo, ou seja, como se tornar melhor o mais sébio possivel. E também, para no se preocupar mais com os negécios da cidade do que com a cidade em si, e assim cuidar das outras coisas da mesma maneira. Que tipo de pena eu merego sofrer por ser alguém assim como eu sou? Algo de bom, Atenienses, se devo avaliar segundo o mereci- do. E sobretudo algo que combine comigo. Mas, o que combinaria com um homem velho que precisa de tempo livre para vos alertar? ‘Nao existe algo que combine melhor, Atenienses, com tal homem, do que receber refeigdes no Pritaneu. E mais do que se alguém dos senhores tivesse conquistado a vitéria no Olimpia, com um cavalo ou com parelhas de dois ou de quatro cavalos. Porque, isso faz com que os senhores parecam felizes, enquanto eu, eu fago com que os senhores sejam felizes. E uma coisa ndo precisa de comida, mas eu preciso. Se agora tenho que pedir o merecido segundo que é justo, pro- ponho entdo ganhar refeic&es no Pritaneu. 27 ‘Mas agora, talvez, por eu estar falando isso, os senhores acham de mim a mesma coisa que acharam quando falei sobre o ter compaixao e 0 suplicar, ou seja, que sou arrogante. Porém, isso no é assim, Atenienses. Pelo contrario, eu estou convencido de que no cometo, voluntariamente, injustiga a pessoa alguma. S6, eu no pude convencer os senhores disso. Pois, nés conversamos durante pouco tempo. Porém, eu acho que se existisse aqui uma lei, como existe em outras sociedades, onde no se pode reservar ‘Adefesa de Socrates trad Sige dvella 53 um dia somente para tratar da pena de morte de alguém, mas, que deveriam ser necessdrios varios dias para isso, entZo os senhores ficariam convencidos. Mas agora, no é facil se livrar de uma tao grande caltinia, em to pouco tempo. E por estar convencido de que no fago mal a ninguém, lo- gicamente ndo farei mal a mim mesmo, falando contra mim, como se eu merecesse algum tipo de castigo, para exigir algo desta natureza. E por que eu estaria com medo de alguma coisa? Sé para nao sofrer a pena que Meleto esta exigindo, mesmo sem saber, como ja disse, se isso é algo bom ou ruim? Por que eu deveria optar por exigir algo que eu sei que é ruim? Qual dos dois? Cadeia? Por que deveria passar minha vida trancado numa cadeia, submisso a uma autoridade, ou seja, a do Conselho dos Onze, que muda a toda hora? Ou uma multa em dinheiro, ficando preso até té-la pago? Isso é para mim o que acabei de dizer. Pois, eu ndo tenho dinheiro para pagar. Ou sera que devo optar pelo exilio? Quem sabe os senhores podem me impor isso como multa. No entanto, eu estaria demasiadamente preso a vida, Atenienses, se fosse to intitil e incapaz de levar em conta, que os senhores, mesmo sendo meus concidadios, néo tenham tido condigées de suportar minhas atividades ¢ minhas palavras por terem elas se tornado pesadas e dolorosas demais, de tal modo, que os senhores agora querem livrar-se delas. Mas, estariam outros mais dispostos a suporté-las? Longe disso, senhores Atenienses. Me seria uma vida muito bonita essa, nao é mesmo, indo sempre de uma cidade para outra ¢ sendo sempre tocado de lé. Porque, eu sei muito bem, que em todo o lugar aonde for, os jovens irio $4 A defesa de Sécrates ted Sérgio Aelia. querer me ouvir, assim como aconteceu aqui. E se eu os mandar embora, eles mesmos iro me enxotar, convencendo os mais ve- thos. Mas, se eu ndo os dispensar, entéo seus pais e familiares irao faz8-lo, em favor deles. 28 E talvez alguém possa dizer: “Mas, se vocé se mantiver calado ¢ ficar na sua, Sécrates, vocé no conseguiria continuar vivendo para nés, indo embora daqui?” E exatamente isso que é dificil de fazer entender a alguns de vés. Porque, se digo que isso & desobediéncia a Deus ¢ que € por isso que nao posso ficar quieto no meu canto, os senhores nao acredi- tam, como se eu estivesse sendo irénico no meu falar. E se digo que é justamente uma vantagem para as pessoas po- derem falar diariamente sobre virtudes e sobre outras coisas nas quais os senhores me ouviram falar quando eu questionava a mim mesmo e a outros, € se eu disser que uma vida sem ques- tionamentos nao é uma vida digna para pessoa alguma, entio, os senhores acreditarao ainda menos. Essas coisas, no entanto, so exatamente assim como estou dizendo, Atenienses, mas convencer-vos disso nio ¢ facil. Por outro lado, também no estou acostumado a me achar digno de algum mal. Porque, se eu tivesse dinheiro, eu iria exigir uma multa em dinheiro, num montante que eu pudesse pagar. Pois, isso no seria prejudicial. Mas, isso agora nfo ¢ assim, ao menos que os senhores queiram impor a quantia que eu possa pagar. Talvez poderei lhes pagar uma mina de prata. Entio, exijo esse tanto. Mas, o Plato aqui, Atenienses, 0 Criton, o Critébulo e 0 A defesa de Sécrates trad Site Aurela 5S 36 A defesa de Sdcrates wrod Simo aveite Apolodoro dizem que devo exigir trinta minas como alternativa, | pois eles proprios entram como fiador. Ento, eu coloco esse | valor como contraproposta. Eles mesmos serdo para os senhores | fiadores figis do dinheiro Neste momento os jurados votam novamente. Ha duas op¢oes: votar pela proposta dos acusadores ou pela de Sécrates. Eles voiam a favor da dos acusadores e Sécrates é definitivamente condenado 4 morte com 360, votos a favor e 140 contra sua condenagdo. Na seqiténcia, é permitido a ele fazer suas ttimas consideragbes. 2 Nao passara muito tempo, Atenienses, e os senhores serao aponta- dos por aqueles que querem se voltar contra a cidade, como sendo 08 culpados da morte de Sécrates, que era um homem sdbio. Pois, aqueles que querem vos atacar, irdo dizer que eu sou um homem sabio, mesmo nao sendo. Se os senhores tivessem tido pelo menos mais um pouco de paciéncia, 0 vosso propésito teria acontecido naturalmente. Pois, os senhores percebem minha idade, que ja esta bem avangada ¢ quase a beira da morte. Isso, porém, nao digo contra todos os senhores, mas contra Aqueles que votaram a favor da minha morte. E também isso digo a eles: “Talvez os senhores, Atenienses, pensem que fui condenado por falta de argumentos, através dos quais eu vos teria convencido se tivesse pensado que deveria fazer tudo para fugir desta sentenca. 86, que isso nao € assim. Porque, eu estou condenado, nao por falta | de raz6es, mas por falta de ousadia e sem-vergonhice. Também por | falta de disposigao para dizer aos senhores aquilo que os senhores | mais gostariam de ter ouvido, on seja, me lamentar ¢ reclamar, ¢ fazer e dizer ainda outras coisas, indignas para mim, como jé disse, coisas que estou acostumado a ouvir de outros” Mas, eu néio pensei que deveria fazer alguma baixaria por causa do perigo, e nem agora me arrependo de ter me defendido do modo que fiz. Pois, prefiro muito mais morrer depois de ter me defendido dessa maneira do que permanecer vivo fazendo igual ao que outros fazem, Porque, estando no tribunal ou estando na guerra, ndo se deve fazer tais coisas. Nao se deve fazer qualquer coisa para escapar da morte. Pois, parece que na guerra muitas vezes alguém pode escapar da morte tanto largando as armas como também pedindo misericérdia ao adversario. E existem ainda muitos outros meios de quando em perigo escapar da morte, Basta estar disposto a fazer de tudo e a dizer de tudo. Pois, da morte nao é muito dificil escapar. Muito mais dificil é escapar da vergonha. Porque, a vergonha anda mais rapido do que ‘a morte. E agora que sou velho ¢ lento, fui pego pela mais lenta. Mas, os meus acusadores, que sio répidos e espertos, foram pegos pela mais répida, ou seja, pela vergonha. Agora, eu me retiro, levando sobre mim a pena de morte imposta pelos senhores. Enquanto eles levam definitivamente sobre si, pelo bem da verdade, a vergonha e a injustiga, Eu fico com meu castigo ¢ eles com o deles. Isso talvez, tinha que ser assim, e eu creio que seja 0 correto. 30 Mas, eu quero antecipar para os senhores que votaram contra mim A defesa de Sécrates trad Sérgio della 57 © que ira acontecer a seguir. Porque, eu estou naquele ponto, onde as pessoas melhor podem prever as coisas, ou seja, quando elas estiio a ponto de morrer. Porque, eu vos digo, senhores que causa- ram minha morte, que viré um castigo, imediatamente apés minha morte. Um castigo bem mais pesado, por Zeus, do que aquele que os senhores me impuseram, me matando. Porque, os senhores fizeram isso, pensando que estariam livres de suas responsabili- dades sobre suas vidas. O resultado, porém, sera 0 contratio. Isso eu vos anuncio, senhores. Mais pessoas irdo vos acusar publicamente. Pessoas que até agora cu tenho segurado, algo alias, que os senhores nem perceberam. E eles vos sero mais importunos na’ medida que so mais jovens, € os senhores ter’io cada vez mais problemas. Porque, se os senhores pensam que matando pessoas os senhores vao impedir alguém de vos acusar de nao viverem decentemente, entio, os senhores estiio com a conclusiio errada. Pois, essa maneira de se livrar das coisas nao é nem eficaz nem correta, mas, a outra maneira sim é muito bonita e muito fécil, ou seja, ndo oprimir os outros, mas educar-se, preparando-se para ser a melhor pessoa possivel. E agora, depois de ter previsto essas coisas contra os que me condenaram, eu irei embora. 31 Antes, porém, gostaria muito de falar sobre o que aconteceu, com aqueles que votaram pela minha liberdade, enquanto os magistra- dos esto ocupados ¢ eu ainda nao preciso ir para aquele lugar onde devo morrer. Fiquem, portanto, até la comigo, senhores. Pois, nao. ha razo para nao ficarmos conversando enquanto é possivel. 58 A defesa de Sécrates trad Sig velo E estou disposto a vos mostrar, se os senhores forem meus ami- {g08, 0 que realmente significa o que me aconteceu agora. Porque, senhores juizes - © se cu os chamo de juizes, eu vos chamo no verdadeiro sentido da palavra -, o que me aconteceu é algo muito interessante. Pois, aquela inspiragiio proféttica de Deus, que estava, anterior- mente, com muita freqtiéncia comigo, ela se opunha até a coisas minimas, sempre que eu estava para fazer algo de forma errada. ‘Mas agora, me sobrevieram coisas, como os senhores véem, que so tidas pelas pessoas como o pior dos acontecimentos. E a voz divina ndo se opds a mim quando saf de casa hoje cedo. E nem quando compareci aqui no tribunal, nem em algum momento quando eu falava, nem quando eu estava a ponto de dizer qualquer coisa. Mas, em muitas ocasides, ela me impedia de falar e me segurava no meio de uma conversa. Agora, porém, durante todo o anda- mento das coisas, ela nao se manifestou contra mim em momento algum, nem junto a um ato nem junto a uma palavra. O que devo coneluir disso? Bem, senhores, parece que o que me aconteceu foi algo bom, embora ndo consigamos ter de forma alguma boa impressao do acontecido, se considerarmos a morte como algo ruim. E assim, eu recebi uma importante prova, pois, a voz certamente teria se manifestado contra mim se eu nao estivesse agindo bem. 32 ‘Vamos também levar em conta, que existem varias outras razSes para acreditar que a morte é algo bom. Porque, a morte é uma das duas coisas: ou é algo como o nada, onde o morto nao tem nogdo de coisa alguma, ou, como as pessoas dizem, ¢ uma transforma- A defesa de Sderates trad Sige vrllo 58 do e uma mudanga através da qual a alma parte para uma outra dimensio. Se no ha percep¢ao alguma, assim como num sono, quando a pessoa dorme sem nem mesmo ter um sonho, entio, a morte deve ser algo maravilhoso. Pois, eu creio que se alguém deva escolher entre uma noite onde ele tenha dormido de tal modo que nem um sonho Ihe sobreveio € comparar com outras noites e dias de sua vida, e dizer quantos dias € noites ele teve melhores e mais deliciosos do que aquela noite, eu creio que até o grande rei, quanto mais um cidado comum, iria rapidamente escolher aquela, ao invés das outras, Sea morte for algo assim, entéo a considero uma vantagem, pois, as- sim também a eternidade nao seria mais do que uma noite de sono. Mas, se a morte é algo como uma mudanga daqui para uma outra dimensio, e se for verdade, como é dito por ai, que todos os que morreram lé est&o, que bem maior existiria do que esse, senhores juizes? Pois, se as pessoas ao chegarem ao Hades, livres desses chamados juizes, 14 encontrarem os verdadeiros juizes, os quais, segundo se diz, so os juizes de 14, Minos, Radamanto, Eaco, Triptélemo € outros semideuses que foram muito justos durante suas vidas, como que essa mudanga poderia ser ruim? Quanto que cada um dos senhores nfo daria para encontrar com Orfeu, Museu, Hesiodo e Homero? Eu, pelo menos, queria morrer muitas vezes se isso for verdade. Também para mim esse lugar seria maravilhoso, para encontrar Palamedes ¢ Ajax, o filho de Telamao, ¢ outros dos antigos que foram mortos injustamente. Creio que eu seria bem-vindo por l4, a0 comparar o que me acon- 60 A defesa de Séerates trad, Siro dwell teceu com o que aconteceu com eles. E 0 que é mais importante: eu poderia continuar com minha tarefa de investigar e perguntar as pessoas de 14, como eu fiz aqui, questionando para ver quem deles é sabio e quem deles pensa ser sébio, mas nao é. Quanto, senhores juizes, as pessoas nao dariam para poder fazer perguntas ao comandante do grande exército que marchou contra Trdia, ou a Odisseus, ou a Sisifo, ou a outros milhares que se pode citar aqui, tanto homens quanto mulheres. Estar com eles, falar com eles e interrogi-los, isso seria uma felicidade sem igual. Porque, naturalmente, as pessoas de lé ndo levariam alguém a julgamento somente por isso. E também em outros sentidos as pessoas de ld sio mais felizes do que as daqui. Por exemplo: elas séo imortais para o futuro. Isso, se pelo menos for verdade o que as pessoas nos contam por aqui. 33 Por isso, também vés, senhores juizes, devem encarar a morte com confianga e ter por verdade que nada de mal aconteceré a um homem justo, nem durante sua vida nem apés a sua morte, e que seus interesses serio guardados pelos deuses. Também o que me aconteceu nfo foi por acaso, pois, para mim esté claro que a morte € a libertagtio das minhas preocupagées foi o melhor para mim. Por isso, aquela voz ndo se opés a mim, em momento algum. E no tenho motivos para estar enraivecido com os que me acusa- ram e condenaram. Mesmo que a inteng&o dos que me acusaram e condenaram nfo tenha sido essa, pois, o que eles queriam era me prejudicar. E isso motivo para reprové-los. E a tnica coisa que peo essa: que quando meus filhos forem adultos, que sejam disciplinados, senhores, e que sejam importunados assim como eu Acdefesa de Socrates wad Série dvella 61 vos tenho importunado, se os senhores perceberem que eles se im- portam mais com dinheiro do que com a virtude e se acharem ser alguma coisa nfo sendo nada, Reprovem isso neles assim como eu fiz com os senhores, porque ento, eles nfo estarao cuidando daquilo que deveriam cuidar e estardo pensando ser alguma coisa, enquanto nao tém valor algum. Se os senhores fizerem isso, tanto meus filhos quanto eu, estaremos experimentando 0 que € justo. Mas, agora esté na hora de ir. Para mim é hora de morrer e para os senhores de viver. Quem de nés iré de encontro a um destino melhor, ninguém sabe, somente Deus.” Apéndice 62 A defesa de Socrates wad Série Avila A defesa de Sécrates trad Site velo 63 64 A defese de Sécrates trad Sige Aurela Breve comentario Eu nunca li algum comentario critico sobre Sécrates onde havia alguma observagao corretiva em relagio a consisténcia de seu pensamento, a sua ética ou & sua filosofia. Um feito notavel esse, uma vez que nem Plato ou Aristételes, nem mesmo Tomés de Aquino e Kant conseguiram passar ilesos pelo crivo da critica filoséfica So claros os paralelos entre Sécrates e Jesus Cristo. Pois, ambos foram condenados a morte por motivos sécio-religiosos ¢ ambos no tentaram escapar dela. ‘A condenagao ¢ a morte de Sécrates, porém, foi bem mais demo- cratica e bem menos cruel do que a de Jesus Cristo. Basta lembrar como foi o julgamento de cada um deles. Séerates foi julgado por um tribunal composto de cidadiios ate- nienses ¢ recebeu amplo direito a defesa. Addefesa de Sécrates wad Siro velia 65 Jesus Cristo foi julgado e condenado por uma autoridade romana (governador Pilatos) e pelo Sinédrio (supremo conselho judaico), com praticamente nenhuma chance de defesa. Jesus Cristo so- freu uma morte cruel. Morte por crucificagao. Além disso, basta lembrar das torturas sofridas antes de ser crucificado. Sécrates no sofreu agressio alguma e tomou ‘livremente’ do célice com veneno. ‘Temos aqui, pois, reflexos da mentalidade da sociedade onde cada um deles viveu! Nos dias de hoje, ainda ha grande diferenga na forma de definir 0 que é justo ¢ de julgar e condenar pessoas. Os paises do norte europeu, por exemplo, parecem ter lido entendido melhor os gregos e assimilado melhor a esséncia da mensagem crista, pois promovem uma justiga social mais democrética e bem mais equilibrada do que em varias outras partes do mundo. 66 A defesa de Sécrates rad Sérgio Awell Os passos da defesa Sécrates inicia sua defesa referindo-se ao discurso dos acusadores e dizendo que esta impressionado com o que eles falaram, mas, que nada do que disseram ¢ verdade. A verdade ele iré colocar agora. Cap. 1 - pég. 19 Ele prossegue e aponta dois tipos de acusadores. Os que o vém caluniando desde ha muito tempo e os que o esto acusando formalmente. Os primeiros, ele os considera os mais perigosos ¢ mais dificeis de combater. Cap. 2~ pag. 21 Acalinia espalhada por eles é mais ou menos essa: “Sécrates esta em desobediéncia as leis. Sem permissio, ele se ocupa com coisas fora de sua competéncia. Ele estuda as coisas que ficam debaixo da terra A defesa de Sécrates trad Sto Aelia 67 as que estéio em cima no céu, Ele ainda faz parecer certo 0 que é errado e ensina essas mesmas coisas a outros”. Cap. 3 - pdg. 22 Socrates se defende, dizendo que essas coisas nao so verdadeiras e que ele nao ensina coisa alguma a ninguém, e muito menos por dinheiro, como € 0 caso dos sofistas. Ele cita como exemplo a conversa dele com Cilias, que tem dois filhos. Cap. 4 - pag. 23 Mas, qual é a ocupagio de Sécrates entio? De onde vém todas essas caliinias? Ele diz, que essa ¢ uma longa historia, até cémica, porém verdadeira. Pois, ele possui uma certa sabedoria, ¢ quem afirma isso néo é ele, mas 0 Oriciilo de Delfos. Cap. 5- pag. 25 Como assim, néio ha em Atenas um homem mais sdbio do que Sécrates? Bem, mentir é uma coisa que o Oraculo nfo faz. E para entender a afirmagio do Oréculo, Sécrates parte para uma longa jorada de investigagdes junto aqueles que sao tidos por todos, ‘como sabios. Primeiramente vai até os politicos, para interrogé- los. Ele descobre que os politicos passam a impress&io de saber muitas coisas, mas, que na verdade ndo sabem quase nada. Dai Socrates conclui ser mais sbio do que eles, pois, ele diz: “Eu, sabendo que nao sei, no fago de conta que sei”. Cap. 6- pag. 26 Ele percebe que essa investigago est mexendo com o ego das pessoas e esté Ihe trazendo édio. Mas, ele nao pode parar e vai, na seqiiéncia, até os poetas, ou seja, os artistas. Ele descobre, que os artistas no fazem o que fazem por serem sdbios, mas, por um talento natural. O vergonhoso é que cles, devido a esse talento, também se acham as pessoas mais sabidas do mundo - o que fa deles, tolos. Cap. 7- pag. 27 68 A defesa de Socrates iad Singio Aurela | Por tiltimo, ele vai até os artesfios. Mas, Sécrates descobre que 0s artesfios carregam a mesma imperfeigo que os artistas.“Por serem bons nas coisas que faziam, eles pensavam ser os mais entendidos também nas mais altas coisas. E esse engano turbava a sabedoria deles”. Ento, Sécrates achou melhor ser assim como ele era. Nao sibio na sabedoria deles e no tolo na tolice deles. Cap. 8 - pag. 28 “Na verdade, Atenienses, parece que quem é sébio mesmo é Deus” - conclui, Assim, ele entende que o mais sdbio entre os homens é aquele que vé que em relago & sabedoria, nao tem valor algum. Por isso, ele continuou sua investigagdo, a servigo de Deus, mes- mo vivendo em extrema pobreza. Cap. 9 - pag. 29 ‘Acontece que muitos jovens acompanham Sécrates nas suas investigagdes e presenciam suas conversas, que nfio deixam de ser engragadas. Também, hé jovens que vio fazer perguntas as pessoas, ¢ as pessoas se enrolam e ficam zangadas com Sécrates, ao invés de consigo mesmas. E passam a caluniar Séerates, assim como caluniam todos os estudiosos, dizendo: “coisas do céu coisas debaixo da terra, nfo acreditar em deuses e fazer a mentira parecer verdade”. Foi nessas coisas que Meleto ¢ Anito acreditaram e formalizam a acusagdo, diz Sdcrates. Cap. 10 - pdg. 30 ‘A seguir, Sécrates se defende dos que o esto acusando formal- mente. Ele é acusado de corromper a juventude e de nfo crer nos deuses da cidade. Porém, Sécrates argumenta que quem esta se fazendo culpado € o acusador, que nunca se importou com 0 assunto pelo qual ele o traz.ao tribunal. Cap. 1 - pag. 31 ‘Adofesa de Séerates tod Sérgio vrella 69 Além disso, pergunta Sécrates, quem € apto para fazer a juven- tude melhor? Nao acontece com os jovens assim como com os animais? Nao é assim que um é 0 domador e os demais que lidam, por exemplo, com cavalos, na verdade néo sabem lidar com eles. € 0s corrompem? Como pode ento alguém afirmar que todas as pessoas fazem a juventude melhor e s6 uma os corrompe? Isso ¢ tipico de quem nunca se preocupou com a educag&o nem com a juventude. Cap. 12 - pag. 31 Como que alguém seria t4o tolo a ponto de fazer uma pessoa ruim, sabendo que ela poderia vir a Ihe fazer mal? Nao ¢ assim que as pessoas més fazem o mal ¢ as boas fazem o bem? Quem, entdo, quer pessoas més na sociedade? Sécrates diz, que se ele esta corrompendo a juventude, é sem o saber. Ent&o o que ele necessita ¢ de conselho e niio de castigo. Cap. 13 - pag. 33 Quanto ao nao acreditar em deuses, Sécrates diz que ele no ¢ ‘Anaxagoras, o qual afirmava que o sol era uma pedra ea lua uma terra. Cap. 14 - pdg. 35 E possivel alguém acreditar em coisas de pessoas, mas nao na exis- téncia de pessoas? Assim também, como é possivel para alguém crer em coisas de deuses, mas ndo em deuses? Cap. 15 - pdg. 36 Nao senhores, o que vai me derrubar é o édio e a inimizade de tantos, ndo a acusagdo em si. Aliés, isso tem derrubado outros. excelentes homens, diz Sécrates, e nfo vai parar por aqui. Mas, para um homem que tenha algum valor, o correr perigo néo € 0 mais importante, o mais importante é se ele age como um justo ou injusto e se seus atos so de um homem bom ou mau. Devemos, 70 A defesa de Sécrates trod Sérgio Avrelia pois, nos preocupar mais com a vergonha do que com a morte. Cap. 16 - pag. 38 ' Os acusadores de Sécrates pedem sua morte, Porém, temer a morte - no € outra coisa do que pensar ser sébio sem o ser. Pois é temer uma coisa que nao se sabe se € boa ov ruim. Eu nfo vou parar de investigar nem de filosofar, diz Sécrates, mesmo que por isso seja condenado. Eu vou obedecer antes a Deus do que a vés. Nao vou parar de vos alertar a no inverter valores e colocar coisas de maior importéncia como sendo insignificantes. “Nao ¢ a virtude que ver das riquezas, mas as riquezas da virtude, ¢ todas as outras boas coisas para a vida das pessoas, tanto para o individu quanto para a sociedade”. E se por ensinar essas coisas eu corrompo a juventude, enti, isso ¢ uma vergonha. E eu nfo vou parar de fazé-lo mesmo que tenha que morrer varias vezes, afirma ele. Cap. 17 - pg. 39 Mas, se os senhores me condenarem A morte, iréo fazer mais mal asi proprios do que a mim, diz Sécrates. Pois, eu sou como uma mosca que mantém a cidade alerta, para que ela nfo desfalega em sua propria rotina. E isso é uma dédiva divina. Pois mesmo sem ganhar nada, ele tem trabalhado todos esses anos em beneficio da cidade. Cap. 18 - pdg. 42 Ele ndo quis trabalhar como um politico atuando na Assembléia, pois uma voz interior 0 segurou de fazé-lo. Mesmo porque, ele nao teria durado muito tempo se atuasse publicamente ¢ entio ele néo teria sido de utilidade alguma, conclui. Cap. 19 - pag. 44 Mas, nao por temer a morte, pois, ele enfrentou situagdes de risco ‘varias vezes e no recuou. Uma vez, ele votou contra a condenagao ‘A defesa de Socrates trad Sule Awelo TL de oficiais e em outra ocasido no cumpriu uma ordem da cipula | do governo, por achar ambas injustas. Cap. 20 - pag. 45 Ciente que nao duraria muito tempo se atuasse publicamente, ele atuou em particular, junto as pessoas, interrogando-as e conven- cendo-as a se conhecer melhor. Cap. 21 - pg. 46 Os jovens que acompanham Sécrates nesta jomada gostam do tra- balho dele e permanecem com ele. Durante 0 julgamento, Sécrates se dirige a eles e diz que se eles acham que esto sendo corrompidos, que venham eles ou seus familiares acusé-lo, Mas, o que acontece é © contrério, Eles defendem Sécrates. Cap. 22- pag. 47 Apartir deste momento, Sécrates passa a fazer consideragdes nao as acusagGes, mas A sua postura. Ele jé fez isso no inicio, quando disse que iria falar da mesma maneira que falava todos os dias, sem termos rebuscados e frases enfeitadas. Agora, ele diz que nfo iré fazer nenhuma cena trazendo familiares e implorando miseri- cérdia, como era de costume nos julgamentos. Sécrates achava isso vergonhoso. Entéo, pela sua reputagao e a da cidade, ele nao vai fazer tal espetéculo. Ele acha que homens que se prestam a tais cenas no diferem de mulheres. Cap. 23 - pag. 49 Além disso, ele nio acha correto fazer stiplicas aos juizes assim influencié-los em suas decis6es. Pois, os juizes nflo devem distri- buir justiga como um favor, mas sim por uma questo de direito. E aquele que faz 0 contrério est corrompendo o que é direito ¢ atuando como ateu. Cap. 24 - pag. 50 TR Adofesa de Sécrates wa Sérgio Arlo espaco para a votagao do juiri Sécrates ¢ condenado & morte. Mas, ndo se mostra zangado por isso e explica por que. Mas ele ainda pode colocar uma contra- proposta, isto é, uma pena alternativa, como era de costume em, Atenas. Cap. 25 - pdg. 51 Ele se pergunta: Quanto eu valho? Dinheiro ele nao tem. E uma pena que o ira prejudicar certamente ele nao quer propor. Entao, ele propée uma pena positiva: receber refeigbes no Pritaneu. Isso equivale a ser sustentado pelo Estado, j4 que ele precisa de tempo livre para exercer seu benéfico oficio. Cap. 26 - pdg, 52 Alguém até pode achar que Sécrates agora esta sendo arrogante. Mas, ele nio se acha culpado de nada, ¢ por isso também nfo merecedor de castigo. Por que ele iria optar por uma multa, ou por ficar preso, ou ainda ir para o exilio? E temer a morte seria arrogiincia, pois, ¢ pensar que se conhece algo que ndo se conhece, segundo ele. Cap. 27 pég. 53 ‘Além disso, se calar, ficar preso ou ir para o exilio seria desobe- diéncia a Deus. Mas, por insisténcia de seus discfpulos, ele acaba propondo trinta minas, como multa. Cap. 28 - pdg. 55 espaco para nova votagiio ‘Amaioria do juiri néo aceita a multa como pena altenativa e man- tém a sentenca de morte. Sdcrates recebe a palavra mais uma vez. Ele faz elogios aos juizes que votaram contra sua condenago, os quais ele chama de verdadeiros juizes. Mas, ele fala duramente A defesa de Sécrates trod Siglo ella 73 contra os que o condenaram. Ele diz que nao foi condenado por falta de argumentos, mas, por falta de sem-vergonhice, por nao ter feito aquilo que os jurados gostariam que ele tivesse feito, ou seja, implorar e se lamentar, Mas, enquanto Sécrates leva sobre si a pena de morte, os que o condenaram levam vergonha e injustiga, considera ele. Cap, 29 - pag. 56 Socrates prevé conseqiiéncias desastrosas para os que o condena- ram. Ele diz que livrar-se de responsabilidades matando pessoas, nao é maneira eficaz nem correta, A maneira eficaz e correta ¢ nao oprimir os outros © educar-se para que todos sejam pessoas melhores. Cap. 30 - pag. 5 Dirigindo-se aos que votaram pela sua liberdade, Sécrates fala agora sobre 0 acontecido ¢ diz que isso nao foi ruim. Pois, a voz que se manifestava em outras ocasiées nao se manifestou em momento algum durante o julgamento. Cap. 3/ - pag. 58 Sea morte é assim como um sono, entao ela é algo maravilhoso, diz ele. Assim também a eternidade é igual a uma noite de sono. Se for uma mudanga para outra dimensio, onde esto outras pessoas, serd maravilhoso encontré-las conversar com elas. Provavelmente as pessoas de lA so mais felizes, pois, sio imortais para o futuro - é sua conclusio. Cap. 32 - pag. 59 Por isso, devemos encarar a morte com confianga, certos de que nada prejudicial ira acontecer a um homem de bem. Assim, Socrates nao encara a morte como algo prejudicial para ele. Ele até recomenda aos jurados, que disciplinem seus filhos e os casti- guem se eles forem mais inclinados as riquezas do que a virtude. 74 A defesa de Sécrates trad Sérgio dele I _ Eele finaliza dizendo que para ele é hora de morrer e para os demais de viver. Quem ira de encontro a um destino melhor, somente Deus sabe. Cap. 33 - pag. 61 A defesa de Sécrates ad Sie vals 7S 16 A dofesa de Sécrates trad, Sérgio Avrella Frases de Sécrates Referindo-se ao que os acusadores disseram dele: “Bu no sou uma pessoa que fala bem. Ao menos que para eles, fale bem, quem fala a verdade". (Cap. 01) Dirigindo-se aos jurados: “E lembrem-se de prestar atencdo principalmente nisso: se o que eu digo é justo ou ndo. Pois, essa é a funcao de um juiz. E a do orador é falar a verdade”. (Cap. 01) Falando ainda aos jurados: “eles disseram isso a vés na inféncia ou na juventude quando estéveis ‘mais propicios a acreditar”. (Cap. 02) ‘Aos jurados: “Mesmo que os senhores tenham ouvido de alguém que eu ensino pesso- ‘as e que ganho dinheiro com isso, nada disso é verdade". (Cap. 04) A.defesa de Socrates rad Stra relia 77 Socrates pergunta: “Quem estd preparado d altura para exercer a arte de educar pessoas ara si mesmas e para a sociedade?” (Cap. 04) Comentério sobre o que o Ordculo de Deifos disse de Sécrates, que ele é homem sébio: “Mentir é uma coisa que ele néo faz. Isso ndo combina com ele”. (Cap. 06) Falando de um politico: “"- eu percebi que ele, junto a muitas pessoas, e principalmente para ele mesmo, passava a impressdo de ser sdbio, enquanto na verdade ele no era”. (Cap. 06) Entio ele diz ser mais sAbio do que o politico, pois: “Eu, sabendo que nao sei, nao faco de conta que sei”. (Cap. 06) Dos artistas e poetas: “Porque eles também dizem muitas coisas bonitas, mas ndo entendem nada do que dizem”. (Cap. 07) Dos artesdos: “Por serem bons nas coisas que faziam, eles pensavam ser os mais entendidos também nas mais altas coisas”. (Cap. 08) Por isso: 7 eu passei a me perguntar se eu ndo podia assumir ser assim como eu sou, ou seja, ndo sendo sdbio na sabedoria deles e niio sendo tolo na tolice deles...”. (Cap. 08) De suas investigagdes: “Porque, isso me trouxe muita caltinia, entre elas a de ser chamado de sdbio”. (Cap. 09) Da sabedoria: “Na verdade, Atenienses, parece que quem é sabio mesmo é Deus”. (Cap.09) 78 Adefesa de Socrates wad Sérgio Alla Ble no ganha nem cobra para interrogar pessoas: “Eu vivo, pois, em extrema pobreza, por estar a servico de Deus”. (Cap. 09) ‘Acusado por Meleto de corromper a juventude, ele diz: “Was, Atenienses, eu digo que Meleio esté se fazendo culpado, porque ele esté brincando com um negécio muito sério, enquanto sem pensar, esté trazendo pessoas para o tribunal, fazendo de conta que se importa e se preocupa com coisas, com as quais ele nunca se importou". (Cap. 11) ‘Além diss “Seria, pois, uma grande felicidade para os jovens se apenas uma pessoa ‘0s corrompesse e as outras os ajudassem. (Cap. 12) Sobre os jovens: “Ou eu no os corrompo, ou se os corrompo, eu o fago sem o saber”. (Cap. 13) Os acusadores dizem: “Séerates é culpado porque ele néio acredita em deuses, contudo ele ere”. (Cap. 14) Sécrates responde: “Isso é realmente préprio de um brincalhéo”. (Cap.14) Ele poderia crer em coisas divinas mas nfio em divindades?: “Bxiste alguém que nao cré na existéncia de cavalos, mas sim, na existéncia de coisas de cavalos?” (Cap. 15) Sécrates, por que vocé no deixa as coisas como esto, ao invés de correr perigo?: “Bu digo que vocé esté errado, caro amigo, se vocé pensa que deve levar em conta o correr perigo para um homem que tenha algum valor, mesmo pequeno, ao invés de somente levar em conta, em todas suas aces, se age como justo ou injusto e se seus atos so os de um homem bom ou mau”. (Cap. 16) ‘Vocé nilo vé que poder morrer por isso? “Na verdade, ninguém conhece a morte e ninguém sabe se ela nao é para ser humano, por sinal, o melhor de todos os bens”. (Cap. 17) Acdofesa de Socrates rad Stipe valle 79 Sécrates diz que nao vai parar de filosofar e alertar quem quer que seja, e dizer: “Caro amigo, vocé é um cidadao de Atenas, a cidade mais famosa conhecida, tanto pela cultura quanto pela sua forca, vocé ndo tem vergonha de se esforgar para ganhar o mdximo possivel de dinheiro, gloria e honra, mas, de ndo cuidar nem de se importar com a ética, com a verdade e com o melhorar a sua alma (personalidade)?” (Cap. 17) Ele ensina os jovens que: “Nao é a virtude que vem das riquezas, mas as riquezas da virtude, € todas as outras boas coisas para a vida das pessoas, tanto para o indivi- duo quanto para a sociedade". (Cap.17) De seus acusadores: “Estou certo de que ndo ¢ justo que um kiomem bom seja prejudicado por um homem mau”. (Cap. 18) Sobre sua missao: “do meu ver, Deus designou a mim para ser tal mosca para a cidade, como alguém que nao para de cutucar, convencer e alertar cada um dos ‘senhores, aparecendo todos os dias em todo o lugar”. (Cap. 18) Ele no quis atuar publicamente, pois: “Nao existe alguém entre as pessoas, que seja poupado, nem entre vis, nem entre outro povo, quando ele se opor seriamente contra vés ou contra uma outra Assembléia, para tentar evitar que acontecam coisas injustas e ilicitas na cidade”. (Cap. 19) Socrates recebeu ordem para prender alguém, mas considerou esta ordem injusta e niio acompanhou os demais: “Quando saimos da Ciipula, os outros quatro foram para Salamina e prenderam Leao. Eu porém, fui para minha casa”. (Cap. 20) enquanto me ouvem, sentem prazer ao ver pessoas que pensam ser sdbias nao 0 sendo, serem interrogadas. Porque de fato é ‘engracado”. (Cap. 22) 80 A defesa de Sdcrates wad Série Avela Falando dos que vém ao tribunal fazer lamentagdes: “Ao meu ver, essa gente é um escdndalo para a cidade. De tal modo que um estrangeiro pode pensar que os Atenienses, que se sobressaem nas virtudes, aqueles que se consideram estar acima dos outros, na verdade néo diferem de mulheres”. (Cap. 23) ‘Um juiz ndo deve ser influenciado: “Porque, um juiz ndo esté aqui para distribuir justia como um favor mas estd em sua fungdo para sentenciar o que é justo”. (Cap. 24) Avaliando a contraproposta: “E entéo? Quanto eu valho?” (Cap. 26) “Nao existe algo que combine melhor, Atenienses, com tal homem, do que receber refeigdes no Pritaneu”. (Cap.26) Porque: “Uma coisa ndo precisa de comida, mas eu preciso”. (Cap. 26) Ele nfo conseguiu convencer a maioria dos jurados, e considera que: .ndo se pode reservar um dia somente para tratar da pena de morte de alguém...” (Cap.27) Por outro lado: “ .eu estou condenado ndo por falta de palavras (argumentos), mas por {falta de ousadia e sem-vergonhice, ..."" (Cap.29) “B existem muitos outros meios de quando em perigo escapar da morte. Basta estar disposto a fezer de tudo ea dizer de tudo”. (Cap. 29) “Pois, da morte nao é muito dificil escapar. Muito mais dificil é escapar da vergonha”. (Cap. 29) ‘Aos juizes que votaram pela sua liberdade: “Bem, senhores, parece que o que me sobreveio foi algo bom, embora 1ndo consigamos ter de forma alguma boa impressao do acontecido, se considerarmos a morte como algo ruim”. (Cap. 31) ‘Acdefosa de Séerates wad Sérgio Aveta 81 Sobre a morte: "Se a morte for algo assim como um sono, entdo ela deve ser algo maravithoso". (Cap. 32) “Por isso... deve-se encarar a morte com confianca e ter-se por verdade que nada de mal acontecerd a um homem justo, nem durante sua vida nem apés a sua morte, e que seus interesses serdo guardados pelos deuses". (Cap.33) Seu tiltimo pedido “..quando meus filhos forem adultos, que eles sejam disciplinados, senhores, .. pois, assim, tanto eles quanto eu estaremos experimentaindo o que é justo”. (Cap. 33) A filosofia de um homem no contexto sécio-cultural de cinco séculos antes de Cristo. Poderia ser mais atual?! 82 Adefesa de Sécrates wad Sérgio Aurela Diciondrio Agamennon Rei de Micena comandante do grande exército grego que cercou Tréia durante 9 anos. Sécrates cita esse comandante, porque ele era conhecido como alguém muito arrogante, isto é, alguém que pensa que sabe alguma coisa sem o saber. Ajax Heréi legendario que aparece em uma das tragédias de Séfocles. Ajax aparece também na Iliades de Homero. Conta-se que ele foi fraudado na heranga das armas de Aquiles e por desgosto suicidou-se. Alexandre 0 Grande Rei maced6nio que viveu entre 356 ¢ 323 antes de Cristo. Ele foi discipulo de Aristételes, que foi discipulo de Platio, que por sua vez foi discipulo de A defesa de Socrates rad Sérgio della 83 Socrates, O rei Alexandre foi um dos maiores conquistadores da histéria, Depois de subjugar toda a Grécia, partiu para a Asia menor, faixa de Gaza, Egito (onde fundou a cidade de Alexandria), Babilénia e até o norte da india. Ele juntou a cultura ocidental com a oriental e foi responsavel pela transformagao cultural que se deu nas regides conquistadas, o chamado Helenismo, que durou por volta de trezentos anos, mesmo sob o dominio romano. Anaxagoras Filésofo grego que viveu aproximadamente entre 500 ¢ 428 antes de Cristo. Um dos primeiros fildsofos a se instalar em Atenas. Porém, ele, estudioso das ciéncias naturais, acabou sendo banido da cidade acusado de ateismo por, entre outras coisas, ngo considerar o sol como um deus, mas sim como uma pedra superaquecida. Anito Um dos acusadores de Sécrates. Ele era um rico industrial e comerciante beneficiador de couro, que lutou contra a tirania dos Trinta (oligarquia), em favor da democracia em Atenas. Apolo deus da justiga, da ordem, da beleza e das artes. Na Grécia, os principais locais de culto a Apolo eram Delis ¢ Delfos. Neste tiltimo, ele era prin- cipalmente o deus das revelagdes, dos oréculos. Apolo tinha também a fungio de aliviar as cargas das culpas das doengas. Ele era representado pela figura de um jovem com caracteristicas fisicas ideais. Aristofanes Representante da velha geragdo de comediantes de Atenas. Ele viveu apro- ximadamente entre 0 ano 445 e 385 antes de Cristo. A grande liberdade de expresso possibilitada pela democracia, permitiu que ele pudesse querer educar 0 povo através da comédia. Onze de seus quarenta trabalhos foram preservados. Ele era um critico de todo tipo de novidades superficiais que 84 A defesa de Sécrates wad Sto Avella surgiam nas diversas éreas da politica, filosofia e sociedade. Em uma de suas irreverentes comédias, As Nuvens, onde critica os sofistas, ele retrata ‘Sécrates como alguém que anda no ar. Aristoteles Grande filésofo grego, discipulo de Plato, viveu entre 384 ¢ 322 antes de Cristo. Mestre de Alexandre o Grande, rei da Macedénia, Aristételes foi o fundador do Liceu em Atenas, escola onde ele lecionava filosofia e outras ciéncias. Ele era natural no de Atenas, mas de Estagira, regio da Calcidia na Macedénia. Era filho de um médico da corte do rei maced3- nico. Sabe-se que o rei macedénio, pai de Alexandre o Grande, Felipe Il, destruiu essa cidade em 348 antes de Cristo e mais tarde em consideracao a Aristételes, a ergueu novamente. Aristételes foi para Atenas para estu- dar na Academia de Plato. Apés a morte de Plat&o em 348 ele saiu de ‘Atenas, mas voltou para fundar sua prépria escola, 0 Liceu. Depois da morte de Alexandre, porém, ele deixou Atenas foi para Calcis. Segundo ele mesmo disse, com a morte de Sécrates na meméria, ele nfo queria dar oportunidade a Atenas de pecar uma segunda vez contra a filosofia. Um ano depois ele morreu. A obra de Aristételes trata quase que de todas as, cigncias conhecidas na época. Desde a filosofia, ética, psicologia, metafi- sica a biologia, astronomia ¢ politica. Ele foi mais pratico do que Platao em suas idéias e se pergunta constantemente sobre a fungo ¢ o sentido de cada coisa. Pode-se dizer que na Etica e na politica ele foi um defensor da terceira via, pois, a razZio deve demonstrar superioridade nos procedimen- tos. Para ele, por exemplo, a melhor forma de governo 6 a que esté entre a monarquia e a total democracia. Assim também quanto a virtude. Uma das virtudes por ele apreciada era a coragem, a qual esté entre valentia desenfreada ¢ a covardia, Nem todos seus escritos foram preservados, mas, através do que ficou, sua infiuéncia sobre a posteridade da filosofia. foi muito grande. Algumas de suas obras: Organon (tratado principal- mente sobre légica), Metafisica (sobre a filosofia primeira), De Anima (sobre a alma, psicologia), A Etica, A Histéria dos Animais (obra sobre fisiologia e anatomia), etc. A defesa de Sderates trod Sige vale 85 Atena Atena ou Pallas so nomes da mesma deusa grega, considerada a proteto- ra de cidades e fortes. Mas ela era tida também como protetora da ordem, social, dos trabalhos femininos, e presenteadora de vitérias nas guerras, Atenas Cidade-Estado da Grécia Antiga, capital da regido da Atica e capital cultural do mundo antigo a partir do século V antes de Cristo. Atualmente Atenas é ¢ capital da Grécia, destacando-se também como um grande centro turistico. Cidade de cientistas e filésofos que deixaram suas mar- cas no desenvolvimento intelectual do ocidente. Para lé, direcionavam-se aqueles que tinham conhecimentos € desejavam obter conhecimentos mais avangados nas diversas areas do saber. No decorrer de sua hist6ria, Atenas tem sido subjugada por Alexandre o Grande, por Esparta ¢ pelos Romanos. Mas todos eles, Espartanos, Romanos e Maced6nios tiveram muito respeito para com a cultura e a ciéncia da cidade, Politicamente, Atenas tem se destacado pela pritica da democracia, ou seja, por um sistema de govemo cuja estrutura era formada com a participagdo de cidadaos das diversas classes e tribos. © Conselho dos 500, por exem- plo, que era uma espécie de camara dos deputados, era formado por integrantes de cada uma das 10 tribos de Atenas, Cada uma fomnecia 50 deputados. Sécrates foi participante deste Conselho, o qual entre outras funges, tinha como tarefa preparar as leis e as decisdes estatais. Atenas se envolveu por diversas vezes com guerras. As principais foram travadas contra os Persas, tendo Esparta como aliada, e contra a mesma Esparta na guerra do Peloponesa ulo de Sécrates. Mas, ¢ também o titulo de um dos diélogos escritos por Plato. Delfos Os santudrios geralmente estavam localizados em lugares altos, aos pés de um monte ou no cume de alguma colina, Juntamente com 0 santuério de Olimpia, Delfos foi um dos mais famosos da Grécia Antiga. Delfos ficava ao norte da Atenas, préximo da costa sul do Golfo de Corinto ¢ aos pés do monte Parnaso. Um dos deuses mais consultados em Delfos era o deus Apollo. Delfos foi saqueada no ano 279 a.C. pelos Galios. Os Romanos, no entanto, costumavam respeitar lugares sagrados. Delis ‘Santuario grego localizado na ilha de Delis, onde segundo a lenda a deusa ‘Artemis 0 deus Apolo nasceram, Delis foi um importante santuério, visitado por gregos ¢ estrangeiros. Considerada uma ilha santa, ela foi por duas vezes limpa por Atenas dos timulos ld existentes. A ilha de Delis era considerada territ6rio neutro no periodo helenistico experimentou grande crescimento econémico, principalmente depois que os Romanos declararam a ilha porto de livre comércio. Demoeracia “Governo exercido pelo povo’. A cidade de Atenas experimentou com su- cesso a democracia como forma de governo, Um caso raro na historia an- tiga. Quem estruturou a democracia ateniense no século VI antes de Cristo foi Clistenes. Ele criou um partido democrético ¢ no ano 507 implantow seu programa de governo, colocando na administragZo governamental representantes no somente de quatro, mas das dez tribos de Atenas, seguindo critérios geograficos. Cada tribo escolhia 50 representantes © assim foi formado 0 Conselho dos Quinhentos. A fungiio do Conselho era preparar as decisdes da Eclésia, ou seja, da Assembléia ou Parlamento. Em casos especiais, como o julgamento de Sécrates, atuava um corpo de magistrados, os jurados, escolhidos por sorteio dentre as 10 tribos da cidade. Na organizagio governamental de Atenas, além do Conselho e da ‘Assembléia, havia também o Corpo de Juizes ¢ o Lider Politico, chamado de Estrategista, 0 qual era ao mesmo tempo Comandante do Exército. Sob a lideranga de Péricles, a democracia teve seus melhores momentos a cidade viveu um enorme desenvolvimento econémico, cultural & 86 A.defesa de Séerates inal Sérgiaduela A dofesa de Sderates trad Sérgio Arla 87 cientifico. Da democracia, no entanto, tem-se a dizer que, apesar de sera forma de govero mais indicada, no garante necessariamente o melhor governo. O sucesso de um governo depende também das circunstincias ¢ da qualidade das pessoas que exercem o poder. Demécrito Filosofo grego que viveu entre 460 ¢ 370 antes de Cristo. Nao se sabe muita coisa de sua vida. Suas idéias esto intimamente ligadas & teoria do atomismo, pois ele foi um dos que mais defendeu a idéia de que o Universo ¢ 0 vazio ram formados por pequenas particulas chamadas de étomos, que literalmente significa: indivisiveis. O choque entre eles forma corpos compacts ou gasosos. Segundo ele, também a alma era formada por étomos. E incrivel a semelhanga, existente entre essas idéias, a quimica e.a fisica modemas. Incrivel também foi o interesse desses estudiosos gregos pelas ciéncias naturais em busca de respostas para a pergunta: Do que é feito o mundo? Deuses A historia da Grécia Antiga esta repleta de nomes, lendas e referéncias a diversos deuses, herdis e semideuses. Eles eram consultados principal- mente em Olimpia, Delfos ¢ Delis. Esses eram locais sagrados cheios de monumentos ¢ templos. Os gregos e estrangeiros consultavam deuses ara receber orientagdo na vida particular, familiar ¢ nas decisdes de Estado. Eles eram consultados sobre saiide, doenga, culpa e castigo, guerra, paz, colonizago, migrago, etc. Quem construfa um templo para um deus podia ter a certeza de ganhar a vida eterna - algo parecido com as famosas indulgéncias da igreja catélica de antigamente. As cidades possuiam templos em seus territérios ¢ dentro de seus muros, mas, eram nos lugares sagrados como Delfos ¢ Olimpia onde tanto Atenas quanto Esparta veneravam os mesmos deuses, que a religiosidade tinha sua maior expresso. Dracma Unidade monetéria grega. Em Atenas o metal utilizado para cunhar mo- 88 A defesa de Sdcrates trad Stipe dwells cedas era a prata ¢ em uma das faces da moeda aparecia a figura da deusa ‘Atena e na outra a figura de uma corujinha. O tetradracma continha em tomo de 36gr de prata. 100 dracmas formavam uma mina e 60 minas um talento. Comparar, porém, valores monetarios daquela época com os de hoje nao faz muito sentido, porque o valor dos metais é outro ¢ as relagdes econémicas e o poder de compra sto totalmente diferentes. Eaco Heréi mitolégico. Esparta Cidade-Estado capital da regio da Lacénia. Como lider da Liga do Peloponeso, Esparta foi politica e militarmente, por longo tempo, a mais forte da Grécia Antiga. Até 0 século dois antes de Cristo a cidade nao tinha muralhas de defesa. “Os muros de Esparta siios seus homens” dizia-se por 14. Sua estrutura governamental no era democrética, mas, formada por dois Reis, o Conselho dos Anciaos e o Comité de Guerra. O Executivo, no centanto, estava na mo de cinco dirigentes que controlavam entre outros negécios a politica externa de Esparta. A militarizagao de Esparta ¢ a educagiio das criangas pelo Estado tiveram inicio apés a formagao da Liga do Peloponeso, a qual surgiu logo apés a guerra contra a cidade de Tegea. ‘Na economia, a classe dominadora vivia quase que exclusivamente do trabalho escravo exercido pelos chamados helotes. Etica Um dos primeiros tratados que temos sobre Etica vem de Aristételes. O termo Etica deriva da palavra grega: éthos. O antigo significado desta palavra pode ser traduzido como costume, moral, norma, comportamento, tradiggo. No Latim, a palavra éthos era traduzida por mos que tem como plural mores, de onde vem a palavra moral. No entanto, a Btica como cién- cia tem a fungo de analisar e julgar a moral existente, ou seja, as regras € costumes de comportamento de um grupo, individuo ou sociedade. A Etica também estuda os principios da moral, a base e a ‘justicialidade’ das leis. E ‘A defesa de Sécrates ira. Stic Avela 89 uma atividade essencialmente racional. Um exemplo clissico de pritica de ética, apesar dele denominar filosofia, ¢ o que Sécrates fazia em Atenas, in- terrogando e debatendo com seus concidadaos. Hoje, no entanto, a palavra Etica é muitas vezes usada em diferentes sentidos ¢ conexdes. O ético € 0 antiético, por exemplo, so expresses que vém sendo usadas para indicar aprovagdo ou desaprovagéo. A Etica, porém, é muito mais abrangente do que 0 estudo da moral e do que a moral em si, ou, do estudo das leis ¢ das leis em si. Sua dinémica e consciéncia sao ilimitadas. Ela pode galgar as escadas mais altas da sabedoria humana e também descer até o iiltimo dograu, Ela respeita fronteiras, mas em si, como ciéncia, nao tem fronteiras, O conhecimento ¢ a aplicagao da Etica é algo simples ¢ ao mesmo tempo extremamente complicado. A Etica, fundamentada em principios justos, pode mudar para melhor ndo somente yma pessoa ou um grupo de pessoas, mas a mentalidade de um pais. Porque, ela no se atém & andlise das ages sob 0 aspecto de certo ou errado, mas analisa também sob a perspectiva do sentido ou da falta de sentido das ages. A Etica é orientadora. Nosso pais, 0 Brasil, é profundo desconhecedor deste assunto. E a modernidade social, a ‘qual se forma da modemidade individual, nao acontece adequadamente sem conhecimentos e estudos nesta érea. Pode-se ter por aqui carros modemos, fabricas modemas, edificios modemos e outras coisas modernas. O pais, no entanto, permanecera subdesenvolvido em sua ‘mentalidade’, e neste sentido pouco respeitado pelos mais ‘ricos’, enquanto o comportamento evidenciar costumes e idéias mal refletidas, Filosofia Termo derivado do idioma grego que literalmente significa ‘amor pela sabedoria’. De um modo geral, porém, filosofia significava o buscar conhecimento sobre o ser humano e 0 universo. No decorrer da histéria esses estudos foram sendo divididos em especialidades como a fisica, a logica, a ética, a teologia, a metafisica, a psicologia, etc., ficando a filo- sofia como uma ciéncia especifica que trata da ‘histéria do pensar sobre’ © do ‘pensar sobre’ em si, Em sua relagdo com a ética, até 0 inicio do século passado, também os paises do norte europeu tinham a ética como uma sub-disciplina da filosofia. A partir do inicio do século passado, no entanto, a ética se tomou uma disciplina independent. No Brasil, num contexto de subdesenvolvimento (mesmo nas universidades) nem uma nem a outra tém a atengdo e a independéncia que deveriam. Galileu Galilei Astrénomo e fisico italiano que em 1633 foi obrigado por um juiri eclesi- fstico a negar suas afirmagSes de que a terra girava em volta do sol. Ele foi condenado priséo domiciliar. Na verdade, ele defendia uma posigéo {j4 afirmada por Copémnico. Mas segundo estudos mais recentes realizados pelo historiador italiano Pietro Redondi, utilizando documentos existentes no Vaticano, Galileu teria assim sido poupado de uma condenagao mais grave, por heresia contra o dogma da eucaristia. Gérgias de Leontino Sofista da época de Sécrates. Guerra do Peloponeso Guerra entre Esparta e Atenas com suas respectivas cidades aliadas, que durou de 431 404 a.C,, descrita por Tucidides e Xenofontes. A causa principal foi o medo de Esparta em relagio ao expansionismo de Atenas. Em 404 Atenas teve que se curvar ao dominio de Esparta, derrubar as muralhas protetoras da cidade, desfazer a alianga maritima que tinha com outras cidades e entregar sua frota a Esparta, Foi depois dessa faganha que Atenas experimentou um governo oligarca, mas que logo foi derrubado, como Sécrates fala em sua apologia, Hades Na Grécia Antiga o deus do submundo do reino dos mortos. Hades é também 0 nome dado ao submundo. Os gregos antigos, em geral, ima- ginavam 0 reino dos mortos como um lugar no agradavel, nem para os bons nem para os maus. Sécrates, no entanto, pensa também sobre esse aspecto um pouco diferente da maioria. 90 A defesa de Sécrates trad Sil Avella Acdefesa de Socrates wad Sérgio Avella 91 Heitor Her6i troiano, morto por Aquiles. Helenismo ‘Nome dado & transformagéo cultural e politica causada pelas conquistas do jovem imperador maced6nio Alexandre o Grande, nas regiées da Grécia, ‘Asia Menor, Mesopotamia ¢ Egito, a qual permaneceu pelo menos du- rante os trés tiltimos séculos antes de Cristo, até a morte de Cle6patra. A cultura grega, porém, continuou se expandindo também dentro do Império Romano até depois da queda de Constantinopla, quando muitos migraram para o ocidente, A influéncia helénica nas conquistas de Alexandre deu-se através da abertura de estradas, rotas de comércio, imigragdo, casamentos entre gregos e mulheres estrangeiras @ pela fundagdo de muitas novas cidades como Alexandria e Antioquia, uma pratica que continuow também com os sucessores de Alexandre, os Seleucidas. Hera Deusa grega, esposa de Zeus. Tida como a protetora do casamento. Hesiodo Poeta e escritor grego da época de Homero, ou seja, do século oitavo antes de Cristo, Dele foram preseivadas duas grandes obras em forma de versos: Theogonia (O nascimento dos deuses) ¢ Os Trabalhos e os Dias. Essas obras falam sobre deuses, costumes, agricultura ¢ outros aspectos da vida daquele tempo. Hipias de Elis Sofista da época de Sécrates. Homero Poeta e escritor grego do século oitavo antes de Cristo - segundo estudiosos ‘mais recentes, Autor de duas obras cléssicas das mais antigas e famosas que chegaram até nés: Iiades ¢ Odisséia. Duas obras escritas em forma 92 Adefesa de Sécrates wad Série Aelia de versos, contendo cada uma milhares deles. Na Iiades, onde a guerra de ‘Tréia é narrada, aparece principalmente a histéria de Aquiles. Na Odisséia aparecem principalmente as histérias de Odisseu (Ulisses = nome latino para Odisseu) ¢ 0 Cavalo de Tréia. Os esccitos de Homero trazem também heréis, deuses e semideuses, que fazem parte da histéria e da mitologia grega. Lieto Um dos acusadores de Sécrates. NBo se sabe sobre sua ocupagéo ou posigdo social. Meleto Um dos acusadores de Sécrates, ele era um jovem poeta. Mina (mna do grego e mina do latim) ‘Unidade monetéria grega formada por 100 dracmas. Minos Foi rei de Creta e juiz. Dele se diz que governava seu povo de forma tio justa que foi indicado como juiz também no submundo. Minotauro ‘Monstro mitolégico que habitava o Labirinto de Creta. Ele aparece nos es- critos de Homero. Cada ano a cidade de Atenas tinha que levar ao Labirinto nove mogas ¢ nove mo¢os para acalmar a fome do monstro. Até que o herbi ateniense Teseu matou o Minotauro, livrando Atenas deste tributo. Museu Autor legendério de hinos e cénticos. Odisseu (Ulysses no Latim) Filho do rei de ftaca que deixou sua mulher e filho e foi para Troia. S6 voltou depois de alguns anos muitas piruetas. Citado por Sécrates como uum exemplo negativo. A dofesa de Séorates' wrod Stipe Avello 93 Oligarquia Literalmente significa governo de poucos, governo de alguns. Em sua Defesa, Sécrates se refere a um curto perfodo na politica de Atenas, quando a cidade foi governada pelo Grupo dos Trinta (404-403 a. C.), colocado por Esparta, que havia, naquele momento, subjugado Atenas na Guerra do Peloponeso. Olimpia Era um santuério na regio noroeste do Peloponeso. Para 14 iam tanto atenienses quanto espartanos ¢ outros gregos e estrangeiros, levando dadivas aos deuses e buscando ordculos ¢ indicagSes proféticas para a vida particular e politica. Esse lugar tornou-se além de famoso, também rico e poderoso. Nas proximidades de Olimpia eram realizadas compe- tigdes atléticas nacionais e internacionais. Lé estava o principal templo de Zeus, o deus Supremo. Era em honra a Zeus, que aqui hé cada quatro anos eram realizados os Jogos Olimpicos, ou as Olimpiadas. Além de modalidades como as corridas, as maratonas, arremesso de disco, langa ¢ lutas de ringe, aconteciam também as espetaculares corridas de cava- Jos com duas ou quatro parelhas. Os vencedores eram recebidos como herdéis em suas cidades. Olimpo Monte situado no norte da Grécia, medindo 2918m de altura, onde acre- ditava-se ser a morada dos deuses antigos. Oréculo Era um meio, através do qual, a vontade ou a palavra dos deuses chegava até as pessoas. Na maioria das vezes essas mensagens eram dadas pela Pitia, a profetisa, e interpretadas pelos sacerdotes. O Oréculo de Delfos foi o mais famoso da antiguidade. Orfeu Autor legendério de hinos ¢ efinticos. 94 A defesa de Sécrates wad Sérgio Avrele Palamedes Rei de Euboéia, conhecido por sua engenhosidade. Ele foi acusado injustamente de manter contatos com Priamus, rei de Tréia, e foi morto por apedrejamento. Pétroclos Amigo de Aquiles, morto por Heitor, na guerra de Tréia, descrita por Homero, na Iliades. Peloponeso ‘Nome da regiao sul da Grécia, ligada ao continente pelo Istmo de Corinto cujas principais cidades eram Esparta e Micena, Atualmente existe um canal chamado Canal de Corinto fazendo a ligago maritima entre o Golfo de Corinto ao norte ¢ 0 Golfo de Aiyina ao sul. Péricles (495-429) Estadista e lider politico de Atenas no perfodo em que a cidade teve seu maior desenvolvimento ¢ influéncia. Ele expandiu o dominio de Atenas e fortaleceu a democracia. Foi durante seu governo que a Guerra do Peloponeso iniciou (431 a.C). Plato Filésofo grego (428-348 a.C), discipulo de Sécrates, fundador da Academia, sua escola em Atenas. Ele foi o mestre de Aristételes. Como filésofo europeu, foram dele os primeiros livros preservados na integra, Ele escreveu pelo menos 34 livros em forma de didlogos, todos eles reservados. Sua principal obra chama-se Idéias. Sua contribuig&o para a filosofia ¢ enorme. Ele produziu estudos sobre varios temas do saber como sobre a filosofia, ética, politica, organizago do Estado, ciéncias naturais e a metafisica. Foi ele quem escreveu A defesa de Sécrates. Pritane Era assim chamado cada um dos 50 deputados de cada uma das dez Acdefosa de Socrates wad Sérgio Aelia 95 tribos de Atenas que compunham o Conselho dos Quinhentos. Eles faziam parte do governo democratico da Cidade-Estado de Atenas. Sua fungo era tanto propor as leis como serem jurados nos julgamentos mais importantes. Pritaneu Local oficial onde o Conselho se reunia ¢ tomava refeigdes © 0 Estado recebia convidados ilustres de Atenas ou do estrangeiro para homenaged-los com banquetes. Atletas que conquistavam vitérias nas Olimpiadas, por exemplo, eram recebidos neste lugar. Sécrates props receber refeigdes no Pritaneu, porque ele julgava ser merecedor de tal homenagem pelos servigos que ele prestava a cidade. E achava que merecia essa recompensa até mais dé’ que aqueles que conquistavam vitérias nas competigées olimpicas. Prédico de Ceos Sofista da época de Sécrates. Radamanto Herdi mitolégico. Sisifo Fundador de Corinto, rei ateista conhecido pelas suas maracutaias. Diz- se dele que no submundo seu castigo foi o de ficar rolando uma pedra ‘montanha acima, que sempre rolava novamente para baixo. Nao 6 por nada que Sécrates diz que acharia muito interessante fazer-Ihe algumas perguntas. Sécrates Filésofo grego da cidade de Atenas, que viveu entre 469-399, ¢ marca época na histéria da filosofia. Ble foi o mestre de Plato, o qual também foi o que mais escreveu sobre Sécrates, embora Xenofontes, Aristételes € Arist6fanes também o fizeram. Para Sécrates, que se preocupou muito com 96 A defesa de Socrates trad Ségo Avelio 1 ética, o mau comportamento vem da falta de conhecimento. Segundo ele, as pessoas no agem conforme o que de fato sabem, mas conforme © que elas pensam que sabem. Ele acreditava que sua miso era mostrar isso as pessoas. Aos 70 anos de idade, porém, foi condenado & morte sob a acusago de estar corrompendo a juventude e de néo cultuar os deuses da sua cidade. Ele foi um dos principais filésofos gregos ¢ juntamente com Platio e Aristételes, formam a espinha dorsal da filosofia grega e a base da filosofia ocidental. Sofistas Eram uma espécie de professores ambulantes, que indo de um lugar para outro ensinavam a quem desejasse, sobre as mais diversas matérias. Eles recebiam dinheiro por isso ¢ faziam dessa atividade sua profissio. Eles traziam idéias novas no campo da politica, da ética, das ciéncias naturais e da metafisica. Tanto Sécrates quanto Plato dirigiram fortes criticas aos chamados sofistas. Alguns deles so citados por Sécrates em sua apologia, como € 0 caso de Gérgias de Leontino. Teseu Heréi ateniense que matou o monstro Minotauro, o qual vivia no Labirinto de Creta ¢ comia came humana. Ao voltar dessa missio, esqueceu de baixar as velas pretas do seu navio, como sinal da vitéria, e seu pai, o rei Egeu, pensando que ele havia morrido, jogou-se ao mar, dando assim 0 nome ao mar Egeu. Teseu tomou-se rei de Atenas no lugar do pai. Tétis ‘Deusa grega, mie de Aquiles. Triptélemo Heréi mitolégico. Inspirado pela deusa Demeter, ele ensina a pritica da agricultura aos atenienses. Ele foi um exemplo de honestidade e justiga. No submundo € colocado como juiz. A defesa de Séerates wad Sérgio Avella 97 Zeus Na Grécia Antiga, o deus supremo, o deus do universo. Ble era o deus dos ccéus que trazia as tempestades, fazia trovoar e relampear. Ele era 0 pai dos deuses do Olimpo e assim também protetor da familia. O principal local de cultos a Zeus era no local sagrado chamado Olimpia. 98 A defesa de Sderates trad Sérgio Avele

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