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COMUNICAÇÃO

Associação de Colaboradores e Amigos de Constantino Apóstolos Doxiadis.


Atenas – Grécia 19-21 janeiro de 2007.

COMMUNICATION – for Meeting:

The Association of Collaborators and Friends of


Constantinos A. Doxiadis” - Athens, Greece,
19-21 January, 2007.

EKÍSTICA & ENSINO - TEORIA & PRAXIS


Experiência Didática no Ensino Superior

Constantino Comninos *

Professor. Membro Honorário da Sociedade Mundial para


a Ekística – Eleito em 2005. (Honorary member of the
World Society for Ekistics - 2005).

Dedicatória

Dedico esta comunicação aos meus alunos dos Cursos de


Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná e da Universidade Federal do Paraná, que, em alguns
decênios de encontros e desencontros, levaram-me a apreender
com seus questionamentos, o desbravar de muitas trilhas, na
sempre procura de caminhos que levam ao inencontrável
domínio dos processos urbanos.

RESUMO

Esta comunicação trata de apresentar as razões da utilização da


teoria Ekística de Constantino Doxiadis para alunos matriculados nos
Cursos de Arquitetura e Urbanismo de duas universidades brasileiras.
Igualmente, aplicada ao planejamento urbano de algumas cidades e regiões
do Brasil. Procura traçar os principais pontos abordados didaticamente
utilizando conceitos teóricos e trabalhos práticos. Cita a bibliografia básica
utilizada e leituras obrigatórias para o melhor entendimento da matéria.
Procura retratar os caminhos seguidos em experiência didática.

COMENTÁRIOS ADICIONAIS

Sem ser historiador, perambulei e continuo a desbravar os caminhos


da história; sem ser geógrafo, percorro sempre que posso, os traços dos
acidentes geográficos, eterno cenário onde a presença humana forja a
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inexorabilidade dos acontecimentos que traçam os fatos históricos


vivenciados pela humanidade; sem ser antropólogo, venho observando com
certa curiosidade os tipos humanos e seu fascinante comportamento nos
matizes de suas culturas; sem ser pedagogo, envolvi-me com a educação e
passei a melhor entendê-la, no eterno aprendizado do educar - educare -,
com a praxis da paidéia grega e da humanitas latina. Dedicando-me
primordialmente ao estudo e ao magistério da Economia Política, percorri
caminhos que me ensinaram a ver as questões básicas da sobrevivência do
homem em um universo contraditório; via de conseqüência, trilhei por
necessidade da compreensão econômica das coisas, os meandros da
geopolítica e das relações internacionais. A partir da poeisis – o aprender a
fazer dos gregos -, para entrar na práxis – o fazer acontecer dos mesmos
gregos -, permitiu a minha compreensão da cidade como área urbana.
Conquanto ter sido necessário desenhar uma considerável somatória de
matrizes mentais interdisciplinares, sem as quais, minha perspectiva de
mundo se perderia no micro, enquanto que, o fenômeno urbano exige
de qualquer estudioso, a observação do universo urbano em seu macro
horizonte. Resumindo: mantenho minha fascinante curiosidade no eterno
aprendizado das ciências do homem, tentando aplicar este persistente
apreender, tal qual um andarilho da vida urbana, imaginando-me como um
cidadão da polis, aliando este sonho, na procura constante do ideal
urbano em sua forma contemporânea. Este texto tem muito a ver com as
idéias do urbanista grego Constantinos Doxiádis, que revolucionou o
conceito póstero de cidade na era da modernidade.

INTRODUÇÃO

“Há (duas) razões pelas quais é


extremamente difícil ter um domínio coerente sobre
o tema do habitat - o lugar em que, a não ser quanto
a grupos nômades cada vez menores, todos os seres
humanos do mundo nascem, vivem suas vidas e
morrem."

Barbara Ward,
in A Casa do Homem, 1975

Esta comunicação tem como objetivo, expor uma experiência de


magistério, aplicando a Teoria Ekistica, na disciplina de Estudos Sociais e
Ambientais, integrada ao currículo do Curso de Arquitetura e Urbanismo
na Universidade Federal do Paraná (1970 -1995) e na Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (1979 a 2006), ambas localizadas na
Cidade de Curitiba, Estado do Paraná, Brasil. Saliento que a minha prática
do magistério foi enriquecida a partir de trabalhos urbanísticos, pela
oportunidade que me foi dada em participar durante dois decênios,
estudando realidades demográficas, sociológicas e políticas, em nível local e
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regional. Esta convivência, ao lado de urbanistas, me introduziu em uma


área antes desconhecida e que muito me gratificou. Apreendi com estes
profissionais, na medida em que os desafios físico-territoriais surgiam,
como aplicar os conceitos das ciências sociais aos espaços urbanos, com
vistas a intervir na paisagem social. Saliento, que esta é a única disciplina
que integra oficialmente o currículo mínimo do Curso de Arquitetura e
Urbanismo no Brasil, ligada as ciências do homem. Portanto, todas as
demais disciplinas são conceituais, básicas e práticas, diria, profissionais
específicas.

Há uma história que antecede as razões deste texto. Meu primeiro


contato com a Doxiadis Associates teve início quando conheci o Urbanista
Athanassis (Nassos) Hadjópoulos em finais dos anos 1960, chefe da equipe
que realizava o Plano Urbanístico do Estado da Guanabara – atual
Município do Rio de Janeiro -, único plano desenvolvido pela empresa no
Brasil.

Abro um parêntesis para anunciar, com a maior das convicções,


apesar do corporativismo e da incompreensão de alguns profissionais
poderosos, de quem a Doxiadis Associates sofreu inúmeras críticas, as
diretrizes apresentadas naquele Plano pela empresa Doxiadis, orientou a
maior parte das transformações urbanísticas que vieram a ocorrer na
cidade do Rio de Janeiro quanto a medidas que vem sendo tomadas até os
dias de hoje.

Toynbee diz, em Ciudades em Marcha: “devo a minha iniciação em


Ekística, ao Doctor Constantinos Doxiadis, o pioneiro do estudo unificado
dos assentamentos humanos, que destacou um novo nome para um novo
tema. A Ekística é nova no sentido de que, ao reunir uma quantidade de
‘disciplinas’, antes separadas, abriu novos horizontes.” Em Atenas, no
início dos anos 1970, Hadjópoulos me apresentou à Panayis Psomópoulos.
Devo a estes amigos fraternos, minha introdução à Teoria Ekística.

No campo prático, tive a oportunidade de aplicar a Teoria Ekística,


quando da realização do estudo Política de Desenvolvimento Urbano do
Paraná - PDU-PR (1972-73), integrando a equipe multidisciplinar
encarregada de desenvolver o trabalho em nível regional. Coube a equipe
deste estudo apresentar propostas de políticas públicas que viessem a
favorecer as principais cidades do Estado do Paraná – em número de 41 -,
com projetos condizentes frente às realidades urbanas e regionais.
Superados os desafios técnicos, o outro com que os técnicos se depararam,
foi o de convencer o poder público a aceitar mudanças, que faziam parte
das propostas formuladas. Aprendi que em matéria de planejamento
urbano, só se atinge o objetivo se as idéias forem práticas e se houver
vontade política que garanta a sua aprovação pelos órgãos legislativos e
posterior homologação pelo poder executivo. Exemplos práticos vivenciados
nessa experiência, enriqueceram minhas aulas.
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O professor em geral e em se tratando de curso de Arquitetura e


Urbanismo, deve ser um observador atento às realidades sociais, políticas
e econômicas, culturais, e tecnológicas, pois, é necessário informar seus
alunos o que se passa em seu ambiente interno assim como, o que ocorre em
seu ambiente externo. Trata-se de uma abordagem sistêmica dos
“saberes” urbanos, no sentido de instrumentar o conhecimento teórico
voltado à sua aplicabilidade no que concerne às áreas críticas das cidades.

Neste planeta mundializado, muitos novos cenários se interpõem, se


intercalam, ressurgem, para desafiar mentes argutas que possam
desenvolver modelos passíveis de aplicação, oferecendo soluções
plausíveis, verdadeiras passarelas de saber voltadas à organização da
sociedade urbana. Todos sabemos da necessidade de planejar as cidades,
rever sistematicamente as que se planejou, haja vista, que o crescimento
desta área de ocupação humana, aumenta assustadoramente a cada dia que
passa e em todos os continentes da “mãe terra” (TOYNBEE). Trabalhando
ao lado de urbanistas, me convenci, de que a eles devemos, com suas
idéias, algumas mais ousadas do que reformadoras, que deixaram sobre a
terra, na pedra e na madeira, desenhos de obras que destacam a criatividade
de cada civilização.

DA TEORIA EKÍSTICA E DE SUA APLICABILIDADE

A Teoria Ekística, diria, ponta de lança da obra de Doxiadis, avaliada


em toda a sua profundidade, como visionário que era, me ensinou que o
urbanismo é a eterna busca de interpretação de cenários portadores de
futuros. Creio que esta é uma experiência tão fascinante, e me atrevo a
afirmar, que vem exigir de todos aqueles que nesta área labutam, uma
perspicácia oracular, algo “délfico”.

Após me embrenhar em outros trabalhos que destacam a obra de


Doxiadis, venho abordando nas salas de aula do Curso de Arquitetura
Urbanismo, os conceitos e as nuances que a Teoria Ekística contempla:
homem, sociedade, natureza, abrigo e infra-estrutura. Como conceito
unívoco, inter-relaciono com as disciplinas auxiliares relacionadas por
Doxiadis, isto é, a economia, a sociologia, a política, a educação, a
antropologia, as disciplinas tecnológicas, leia-se informática, haja vista que
a sociedade mundial está interligada em rede (CASTELLS).

Doxiádis publicou a Teoria Ekística em 1968, quando a


informatização ainda se encontrava em fase de ovulação. Do processo olerit
até o chip, muitos anos se passaram. Doxiádis anteviu o futuro, pois,
enfatiza em sua obra, os novos horizontes que iriam ocorrer no campo da
computação.

A modernidade não é prerrogativa de ninguém. Ela é necessária à


sobrevivência da humanidade que se modernizou, produto dos processos
implantados pela industrialização. Contudo a existência de um arraigado
tradicionalismo prevalecente, que resiste às mudanças. O rompimento com
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certos segmentos do passado, que se tornam anacrônicos com o tempo, é


necessário. Venho colocando aos meus alunos, que a nova organização, não
deve esquecer o passado. A história nos alerta a cada momento, dos erros
que não devemos incorrer. Doxiadis nos ensina como trilhar sobre caminhos
sinuosos, por mais difícil que sejam, haja vista, que o urbanista se defronta
necessariamente com eternos desafios. E destes é que a mente humana
consegue criar no espaço e no tempo, os volumes que se contempla na obra
que se eterniza.

Quero crer, que Doxiadis criou uma matriz mental, fundamentada no


mundo grego antigo. Tomo como referência, o tamanho ideal da polis. A
cidade, como estrutura urbana sócio-política, é a mais significativa invenção
dos gregos (JAGUARIBE). Na vivência cosmopolita de suas cidades-estado,
os gregos antigos nos ensinaram como estabelecer parâmetros de vida
associativa em todas as formas de vida política, social, econômica e acima
de tudo cultural. A polis situava-se como unidade política por excelência,
onde suas leis se estendiam à todos os rincões de sua influência.
Aristóteles, o filósofo da política, que dispensa adjetivos, entendia que o
tamanho ideal de cidade (polis) deveria ter a “dimensão do alcance da visão
humana” (Política). Parece que este preceito perdeu-se no caudal dos
tempos, uma vez que não se pode, na era da modernidade, criar barreiras
artificiais de um lado, para traçar caminhos aos cidadãos que fenômeno
migratório seja interrompido.

Para um melhor entendimento da experiência de magistério que está


sendo relatada nesta comunicação, vou abordar alguns pontos que
considero necessários para situar o problema em si. O que segue, é um
relato sucinto do que venho apresentando. Reitero que sempre no enfoque
da Teoria Ekística.

A Ekística me situou melhor nos conceitos históricos e geográficos. De


um lado, parti do princípio de que as questões urbanas deveriam ser
tratadas conforme o tempo e o espaço vivenciados e ocupados pelas pessoas
que vivem suas vidas nas cidades. E por outro lado, por princípio, mostrar
aos meus alunos da necessidade de entender o fenômeno urbano,
basicamente no enfoque econômico-político-social em sua totalidade. Em
minhas preleções os fazia caminhar na literatura da Grécia antiga, no
surgimento da cidade-estado, isto é, a estrutura das polis, na abrangência
de critérios que a definem. Isto é, a configuração básica, constituída como
um corpo unívoco, com espaços definidos, onde a vida social fluía,
compartilhada na ágora, no teatro e no estádio, ou, quando este não existia,
na palestra – gimnásio. É notável a presença da “Paidéia como formadora
do homem grego” conforme Yaeger.

O que se lê nas entrelinhas da obra de Doxiadis é que cada cidade


tem personalidade própria. Mesmo que não tenha se consagrado como uma
cidade moderna e nem esteja bem localizada entre as melhores dentro dos
padrões indicativos de desenvolvimento, ela tem vida própria e via de
conseqüência, valores que a personificam. Uma cidade moderna, é,
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conseqüentemente, produto de idéias que nela se desenvolveram e dela


passaram a fazer parte. Vale dizer que toda cidade não é tão somente o
retrato de seus habitantes, e, nem sempre o daqueles que a idealizaram, ela
é, diria, mais daqueles que a construíram, pois, aí se encontra a
caracterização da sua cultura. E cada cultura, em se tratando de cultura
citadina, está imbuída de juízos de valor, enraizados, provenientes das
profundezas de sua forma de pensar e no desenho de sua malha, refletida
na postura de seus personagens e na silhueta de suas edificações.

Em “Between Dystopia and Utopia”, Doxiadis enumera os grandes


obstáculos que as cidades enfrentam. Enuncia a idiossincrasia de seus
homens, vale dizer, no comportamento destoante de suas atitudes em
relação a ela. Significa dizer, que muitos homens agem como se predadores
fossem da obra que idealizaram e construíram, pois, a construção de uma
cidade, passa a fazer parte da história. E a observação demonstra que o que
a história construiu não deve ser destruído por aquele que a construiu,
pois, destruí-la, é uma afronta às gerações que a edificaram.

A natureza sempre foi uma preocupação de Doxiadis. E não sem


sentido. Haja vista a Reunião do Habitat de Vancouver, Canadá, em 1976,
ter sido fundamentada em estudo de fôlego de sua autoria “the four red
books” (1975), resumidos por Bárbara Ward em livro singelo (1975), diga-se,
um clássico: A Casa do Homem.

Procurei igualmente, levar aos meus alunos, o entendimento, que a


Ekística, nada mais é do que uma metodologia de trabalho que emprega a
holística como idéia-força. Toda ação urbana é fundamentada no holos – o
todo. O homem circula na cidade em todas as suas dimensões, grandezas,
magnitudes e padrões de comportamento. O todo passou a ser um direito
do cidadão urbano, haja vista, que quem vive na cidade é um indivíduo que
não se importa em se “acotovelar” com outros indivíduos.

A qualidade da vida urbana deve ser preservada a todo custo. Contudo


as administrações municipais, notadamente as brasileiras, estarem
sofrendo todos os percalços das crises que assolam a sociedade
internacional, e com isto, muitas vezes estarem fadadas a não poder cumprir
com as metas exigidas. Entretanto, há a certeza de que é na cidade, leia-se
administrações municipais, o local para a solução dos problemas da
sociedade. Dê-se à cidade a autonomia de que é merecedora, e a maioria dos
problemas econômicos de qualquer país terão solução. Trabalhando bem no
micro, atinge-se o macro sem traumas. A industrialização, irmã siamesa da
urbanização, permitiu em reunião de grupos de alunos, salientar os
elementos ekísticos, como ponte de partida para novas idéias em novos
enfoques, principalmente políticos. Nunca encontrei dificuldade frente a
meus alunos, na análise das dicotomias existentes entre os elementos
ekísticos e as disciplinas auxiliares consagradas por Doxiadis.

Vivo em um país onde as três ondas de Toefller convivem, em algumas


regiões em conflito permanente: as sociedades pré-industrial, a industrial e a
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pós-industrial. Partindo do princípio que a maior parte das civilizações


modernas continua a se industrializar, deve-se adaptar o desenho das
cidades a este surto que polui em grande parte o planeta. Entretanto, em
alguns gêneros de indústria, os problemas são de outra natureza, devendo
ter um tratamento adequado. Vale dizer que as indústrias não são mais
como a antigamente, criando certos impactos, alguns inexplicáveis, quando
a modernidade chega a áreas pré-industriais e faz as pessoas viverem em
função de bens e serviços inatingíveis.

Um livro singelo de Doxiadis, “Os Grandes Crimes Urbanos – que nós


permitimos em nome da lei”, creio, deveria ser mais difundido. Quem sabe
com a participação de um grupo de especialistas que fazem parte da World
Society for Ekistics, poderia ser constituído para comentar trechos da obra
e acrescentar o que ocorreu após a sua publicação nestes últimos 30 anos.

Explico. Assiste-se, nos dias atuais, uma afronta à vida urbana.


Vive-se em cidades mas não se a respeita. Cria-se, em nome do moderno,
verdadeiros dinosauros urbanos, principalmente legalizados, que ao invés
de favorecer, mais agridem a vida do cidadão da polis moderna. São leis e
mais leis, tributos e mais tributos, taxas e mais taxas, tudo para ordenar o
cotidiano citadino. E muitas áreas de inúmeras cidades, viram um caos.
Tenho observado que na cidade onde moro, o centro urbano está em
decadência. Este é um novo desafio para a argúcia dos urbanistas e de todos
os especialistas das ciências sociais.

E pergunto ainda no exame do livro acima citado: Quantas medidas


reais são tomadas para que se promova a melhoria de vida dos cidadãos?
Quantas leis são discutidas, aprovadas, sancionadas e que, frente aos
problemas do cotidiano, impedem o crescimento pessoal e via de
conseqüência, criam entraves para a vida em sociedade? Quantas mais
normas são admitidas, no sentido de fazer valer mais vantagens para uns
em detrimento de outros?

É óbvio que inúmeros projetos, notáveis pela sua concepção e quando


de sua implantação, vieram adequar a vida urbana de muitas cidades, na
abrangência de um ideal societário. Somente a melhor intencionalidade de
gestores municipais pode transformar a sociedade urbana.

Não poderia deixar de citar a reunião em Delos no ano de 1972 que


consagrou alguns pontos relacionados à preservação do meio-ambiente.
Pois bem. Esta Carta é leitura obrigatória pelos estudantes, que a comentam
e realizam trabalhos analíticos relacionando-a aos problemas atuais de
áreas específicas escolhidas dentre as regiões brasileiras.

Venho utilizando a obra A Casa do Homem de Bárbara Ward, Lady


Jackson. O habitat, como teoria, segundo Ward, é parte definitiva da vida
dos seres humanos. Este livro, é um libelo às ações contra o habitat. A
Reunião do Habitat em Vancouver no ano de 1975, seguiu de perto as idéias
emanadas nas obras do amigo e colaborador Constantinos Doxiadis, o
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criador da Teoria Ekística. Para essa reunião, Doxiadis escreveu 4 volumes


sobre a matéria, produzidos ao longo dos três anos que antecederam a
reunião de Vancouver. Os títulos da obra falam por si só: Construindo a
Entropia, Ecumenópolis, Antropópolis, Ação. A visão urbana de Doxiadis era
humanista com uma ótica holística interativa. Entendia os espaços
urbanos como uma unidade na diversidade, organizando-os com
perspicácia e espírito crítico. Louvável a iniciativa de Doxiadis, ao dispor em
seu escritório, no sub-solo, uma área imensa destinada para a construção de
maquetes gigantes onde, com a equipe de cada projeto, discutia as
propostas como se no terreno estivesse.

De minhas reminiscências em minha atuação como planejador urbano


em equipe multidisciplinar, como professor, vivo a eterna busca de encontrar
no olhar crítico que a realidade urbana vem demonstrando, a mais apurada
solução para os problemas desta fronteira humana.

CONCLUSÃO

“Ninguém pode ser governante de um homem só.”

Sófocles, in Antígona.

Todo homem pode afirmar de si próprio que possui vícios e virtudes.


Como vícios, leiam-se, vícios intelectuais e até ideológicos. Coloquei os vícios
que fazem parte das idéias em primeiro lugar, porque eles são a crítica
constante do que pensamos e que todos os dias martelam a nossa
consciência. As virtudes são observadas pelos que convivem no nosso dia a
dia. Acreditamos que nossas virtudes são observadas com pontos de crítica e
elogios, mesmo silenciosos, por todos aqueles que nos rodeiam. Como cada
ser humano está, segundo Ortega y Gasset, envolvido na máxima “eu sou
eu e as minhas circunstâncias”, este momento para mim, será inesquecível.
A minha aprendizagem com Doxiadis trouxe-me até aqui. Agradeço a
oportunidade.

Por outra face, Doxiadis me deu a maior das lições: passei a acreditar
com ele, em um mundo melhor. Passei a me policiar para abandonar aos
poucos, com muita dificuldade, os vícios adquiridos. E aprendi que o melhor
se faz com muito arrojo, principalmente, quando a malha urbana de muitas
cidades está um caos por culpa dos homens comuns e pelos que detém o
poder. Mudanças são necessárias. E avaliar custos sociais, entendo, ser
obrigação de todos os envolvidos.

Se aqui me encontro, creiam, é porque prefiro afirmar que meus


vícios intelectuais são muito mais presentes do que minhas virtudes.
Explico. Considero meu maior vício, uma espécie de ideologia, um verdadeiro
ideário, qual seja, ser descendente de gregos. Nasci no Brasil, tenho um pé
na terra que me viu nascer e por lei, sou brasileiro pelo direito do jus soli.
Mas, meu outro pé, se encontra na Grécia, pois, me honro por ter nascido
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em lar grego, o que me dá o direito biológico e legal de minha ascendência, o


jus sanguinis. Ai se encontra a identidade por herança. E ser herdeiro, é de
uma responsabilidade social que coloca cada cidadão a prova de seu caráter,
neste caso, o exercício permanente da identidade grega.

Este acontecimento me leva a contar um fato. Quando me encontrava


certa ocasião nos Estados Unidos, pronunciei palestra sobre o Brasil. O
professor americano que me apresentou, disse que os alunos estavam não
apenas diante de um brasileiro, mas de “um profissional grego” e insistia em
dizer que não se tratava de “um grego profissional”. Assim é que sempre
meus interlocutores me vêem. É uma marca que sempre fiz questão de
exercitar.

Pois bem. Em Doxiadis, observei “um grego profissional” com olhos


voltados para o mundo a partir das civilizações gregas. Adotei os
ensinamentos de Doxiadis como um ideário, que é mais forte do que
ideologia, cujos caminhos por ele traçados, me permitiram caminhar por
grandes espaços, sem esquecer que nós “profissionais gregos”, temos em
nosso sangue, um processo civilizatório ímpar entre as sociedades humanas
e que nos distingue dos demais povos.

Somos, nós gregos ou descendentes, o produto de inúmeras culturas


políticas. Somos mais do que “profissionais gregos”, pois, somos acima de
tudo, membros de um imenso ideário, que se encontra na profundeza de
nossa alma. Cada grupo, nesta Grécia riquíssima em idéias, por menor que
seja, mesmo que viva nas formas mais simples da vida humana, está
integrada a uma outra cultura, que me atrevo a afirmar, como se fosse uma
outra civilização.

Os pensadores gregos da antiguidade nos ensinam até hoje muitas


lições. Entre tantas, na ótica da contemporaneidade, que somos herdeiros de
um cadinho de culturas que compõem a grande ordem civilizatória mundial
inserida na modernidade.

Com Doxiadis apreendi outra lição que me levou a romper com outro
vício adquirido: que a sociedade do mundo urbano, pertence a uma
dinâmica e suas transformações são velozes. Toda e qualquer proposta
urbana, deve estar na frente muitos anos, para que se posa dar ao “homem,
como medida de todas as coisas” (PROTÁGORAS), o conforto que venha
atingir a sua verdadeira grandeza.

Cada um de nós está convencido de que é a nossa verdade que deve


orientar as mudanças do mundo. Doxiadis nos diz que devemos exercitar
nossa mente para um conjunto de momentos pertinentes e que a harmonia
entre homem, sociedade, natureza, abrigo e infra-estrutura, são os
elementos mais simples que devemos destacar em planejamento urbano.
Utilizando-os, levaremos o ser humano a satisfazer os desejos e as suas
necessidades mínimas que cada um precisa para alcançar a plenitude da
vida.
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Concluo dizendo que estes motivos me fizeram adotar por 35 anos


consecutivos a Teoria Ekística e a obra de Constantinos Doxiadis em minhas
salas de aula.

Bibliografia básica que utilizo em meu programa


didático no Curso de Arquitetura e Urbanismo.

CASTELLS, Manuel. Problemas de investigación en sociologia urbana.


Argentina, Siglo XXI, 1972

------------------------- Luttes urbaines et pouvoir politique. Paris, François


Maspero, 1975

------------------------- Cidade, Democracia e Socialismo. São Paulo, Editora


Paz e Terra, 1980

---------------------------- A Sociedade em Rede. 3 vols. São Paulo, Paz e


Terra, 1999

DOXIADIS, Constantinos Apóstolos. Ekistics – a introcduction to the science


of Human Settlements. New York, Oxford University Press, 1968

DOXIADIS, Constantinos A. & PAPAIOANNOU J. G.. Ecumenopolis - the


Inevitable City of the Future. Athens, Athens Publishing Center, 1974

DOXIADIS, Constantinos A.. Anthropopolis, City and Human Development.


A Symposion with DUBOS et al.. Athens, Athens Publishing Center, 1975

DOXIADIS, Constantinos A.. Building Entopia. Athens, Athens Publlishing


Center, 1975

DOXIADIS, Constantinos A.. Action. Athens, Athens Publishing Center, 1976

DUBOS, René. Namorando a Terra. São Paulo, Melhoramentos, 1981

FRANK, Andrew Gunder et al.. Urbanização e Subdesenvolvimento. Rio de


Janeiro, Zahar Editores, 1969

JAEGER, Werner. PAIDÉIA – a formação do homem grego. Lisboa, Editorial


Áster, 1975

HAUSER, Philip M.. The Study of Urbanization. Chicago, John Wiley and
Sons, 1967

LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo, Editora Documentos Ltda,


1969
11

LOJKINE, Jean. O Estado Capitalista e a Questão Urbana. São Paulo,


Martins Fontes, 1977

MUMFORD Lewis. A Cidade na História 2 vol.. Belo Horizonte, Editora


Itatiaia Limitada, 1965

TOYNBEE, Arnold J. Ciudades en Marcha. Madrid, Alianza Editorial, 1973

WARD, Bárbara. A Casa do Homem – o planejamento urbano, a vida e a


movimentação do homem nas cidades modernas. Rio de Janeiro, ARTENOVA,
1976

EKISTICS, periódico, números a partir de 1970.

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* Professor de Estudos Sociais e Ambientais do Curso de Arquitetura e


Urbanismo (1977-2006) e de Economia Política no Curso de Direito (1984-
2006) da Pontifícia da Universidade Católica do Paraná - PUCPR; Mestre em
Educação – Gestão Universitária - PUCPR - (1996); Especialista em
Planejamento do Desenvolvimento Econômico e Social e em Gestão
Estratégica do Conhecimento e Inteligência Empresarial - PUCPR - (1998).
Cônsul Honorário da Grécia em Curitiba (PR – SC – RS), Brasil - desde 2001. --
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