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MARIO FERREIRA DOS SANTOS FILOSOFIA CONCRETA Tomo 1.° ENCICLOPEDIA DE CI8NCIAS FILOSOFICAS E SOCIAIS Vol. x (3 EDIGAO) LOGOS Ltwa. Rua 15 de Novembro, 187 — r — Tel.: 85-6080 SAO PAULO 415 edigao — Abril de 1957 28 eaigio — Agésto de 1950 > edigdo — Setembro de 195) ADVERTENCIA AO LEITOR Sem diviga, para a filosotia, 0 vocabulario é de asim Importancia e, sobretudo, o elemento etimolé ‘loo da composicto dos temos. Como, an ortogratia tual, io dlspensadas cartas consoamtes, mudas, en- tretanto, na linguagem de noje, néa a censorvamos apenas quando contribuem para sponter étimos que faclitem a melhor compreensto da formagio hist regado, e apenas quando Jolgamios convenlente chamar a atengio do loltor para éles. Fazemoe esta observagto somento para evitar a os. franhona que posia causar @ comservacio de tal gratis MARIO FERREIRA DOS SANTOS Obras de MARIO FERREIRA DOS SANTOS — "Ritosofia © Cosmovisio” — 6 ed, — "Logica ¢ Dialéetiea” — 4.° ed. — "Paicologia” — 4." ed. = "Peoria do Conhes — (Gnosiologia ¢ Criterio- logia) — 4." ed, = "Ontologia e Cosmologia” — (As Cidneias do Ser e do Cosmos) — 4." ed, "0 Homem que joi um Campo de Bataika” — (Prologo de “Vontade de Poténcia”, de Nietzsche") — Hegotada, r30 de Oratéria ¢ Rel — 8" ed. Homem que Nascen Postumo” — 2 vols, — 2. ed. Zaratustya” — (Texto de Nietasche, eom imb6lica) — 3." ed. 0 Discurso Moderne” — 4." ed, eo Esfinge Ralasse...” — (Com o pseudonimo de “O Um € 0 Miltiplo em Platéo’ MARIO FERREIRA DOs SANTOS 8 = Norn Competes te cea comets de aviticis® ~ comentades — 10 de Nietzsche. — de Nietzsche, — de Amiel, ‘Maado” — de Watt Whitman, INDICE Preticio sntrodugdo © Ponto Arguimsaico : Argumentos Corrélaios a Bavor da Tese Comentariog Diaéctioos = Conceitas Légicas @ Conceltos Ontologicos Prove - a Da Domonstengto {De Valor do Nosso Conligimente ‘Comentarios Subordiandos Refutagio do Agnostlelsme, do Relativiamo ¢ do Nibibieme Comentarios As ‘Toeee . Comentarios a2 Proposigées laxaminadas Comentarion a Tesen Comentarios efotagio do Atomismo Adinamico Grice & Posigo de Kant A indubizablliende do Valldez da Metaficiea Gi ‘Validea a Metafisien apes ‘Objocsas Kantianas © Respostas Correspondence: las, Segunda Kant ‘Teres Diatgerteas n 30 ot on 7 sr 101 a1 135 sat 152 16 68 167 169 x at PREFA DAL! Bb Com a publicaeao de “Filosofia Conereta”, parte da fotal de 1 Ta) Ja pubes. (2) Hoje somam’'a mals de gels centenss dt mi MARIO FERREIRA DOS SANTOS ignorom absolutumente n de grande efeito morub para levar je ecigaes, que $2 afi du possibilidade de uma tal obra, poderta obter bom WILOSOFIA concrEeTA 13 me decor segundo 0 nosso eo, ile fundamentos ont . a8 do pensem socriticonplatin de Aquins, do fia Conereta nip é uma si crise do pensamento humano. Nao é oma, pois seus pr mente conerionados was aos aque hi de ofire adequados wow e8es, expos a pelas diversas vee por thdas, que no nes senda ao nosso, 0 da Filo- = est om si mesma ¢ em suas ela. valerd na sm essax demonstragies (1). MARIO FEnnerea pos Santos ) Rate prefdclo pertence & 1 digho, Esta, que ora pro mos, tee novia contribulgies, © maltes teses aovad formin eeeee entadas, bem como multas sofveram novas femonstterden eee, 8 inves foram revamente numeradas © Aner. INTRODUGAO Para_o mais criterioso pensamento filoséfico do Oci- dente, 2 filosofia no é um mero tudus, mas sim o afanar-se na obtencao de umm saber epistémico, especulativo, teérico, ‘capaz de levar o homem a0 conhecimento das primeiras ¢ llltimas causas de L6das as coisas, Pode a filosofia, em mios poueo hibeis, ter servido apenas para a pesquisa desenfreada de tomas varios, ao sa- bor da afectividade e até da sem-razdo. Entretanto, 0 que se busea com mais seguranga no pensamento ocidental é a truco de juizos apoditicos, isto é, necessarios, suficien- te jrados, para justifiear e comprovar 08 pos- tulados propostos, e permitir que o filosofar se processe em terreno mais seguro. Sente-se, nao obstante, que a filoso- em cerias regides © em eertas épocas, fundowse mais ieos, meras asseredes de postulados acei- ma firme adesfio dos que néle viam algo adequado as suas vivéncias into Esse 0 motivo por que a filosofia, no Oriente, quase nao se separa da religido, ¢ com cla até se eonfunde, porque aquela como esta fundam-se mais em juizos assertoricos, para os ente a £6, que dispensa a demonstrago. Entre 0s. greges, inte eéptieos & pessi- a accilagio d exigia & nonstragio, » Vémo do So Paulo propoe-se cris. se eatisfazem eom'o que afi lemonstracées, The a 16 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Na Ciéncia Natural, a demonstragio 6 feta em grande ia experimental. Mas, se abservarmos = mate. syeremos que a demonstragéo se processa dentto do maior vigor ontolbgico, Esta, como ciénel 1, yerve inogivelmente de elo entre a ciéneia experimental e @ Filosofia, em quer fazer filototin com absolut seguranga deve dar tun Semonstagio 0 rigor madomaies, © une esate: er que os eaquamasy que a dilosofia constr, ao anklogos fos que a eldncia examina © estada, &, 08 jut rieos; mas 0 verda- Bastam, para a 4, os juizos assertéricos; deiro Tilésofe exige juizos” apoditioos 0 desejar-se construir uma Filosofia Conereta, isto 6, “Tootia’ que a uma vis va, mio 86 das idéias 38, no $6 do que pertence ao campo 1. como tamiém go campo da « 4a matematica, e deve justificar os seus prineipios com 2 analogia dos factos experimentais, Porque 86 assim a filosofia seré concreta, pois no pai- rravé apenas nam Cimento, mas englobar, no sel proce ‘dade epistémica do homem. Suns | ss para todas as esteras e resides do sal -nos qule, apés a vinda de Pitfgoras & Magna Gréct volvetrse tina tendéneia mareante para a demonstraglo dos postalados filos6ficos. FILOSOFIA ConcRETA aT B facil depreender que a ansia da apoditicidade, que se observa nesse filosofar, tornado exotéric, devese, dvore, intluéncia dos estudos matemstieos, e, dentre cles, & geometrie, que por exigir constantemente’ demonstragoes, Yundadas no que anteriromente fieou provade, desenvemed 4 wendéncia para o saber teérivo, que so 0 e quando [undide apoditieamente. A jtilesofia, tendendo para ésse caminho, embora par- tindo do conhecimento empirico e da dozu, tornowse hma ‘haa epistéme, um saver culte, Ese tender é asin, rma éliea do verdadeiro filosotar. ‘0s exquemas noétieos do v da conceltuagae comum, e aderéneias da sua orgem. Mas ha uma ex; jastar-se dos preconeeitos de tipo © sentido da matemétiea, eomy vemos ne. pens. rau mais elevado, em suas via ‘guns tenham divida quento A sua eabe aqui discunr, Mas feo, © vemos que é éle que , © dentre os pitagéricos que los tempos antigos. vio da filosofia € a wnlea mane ‘0s da estética ¢ das io da coneeituagao, c: sem a depuragao que a E essa ¢ a profunda razdo que levava os pitagéricos a exigir, para os iniciados, o estudo prévio da mateméica, a Platio, ésse grande pitagérieo, a considerar impreseint a8 MARIO FERREIRA DOS SANTOS vel o conhecimento da geometria para entrar na Acade- 1. Quanto ao legos anal a validex mmea de Sécrates ¢ de Plato, cuja origem etimolégi ior, set ereseido, Preclo stibul » Pligorss a ragio da gcometra ome pos eras ene emi dar exenpin a nas Pilagorss. poor ais onsegute atin (Os teoremas ato demonsirados aboditicamente, pois so Inves~ icon o iwero que nox estate & = pois aquéle reveln a verdade, © Sie yrds etna nee Sgr he err et tee Sars OS Re he gat et oaths ea dee ees ants at fo aie transcendental. FILOSOFIA CONCRETA 19 ese cum, além de aumentativo, pode ser considerado ademais ¢omo a preposigéo com, 0 que indicaria o ereen Ha sha estructura ontolégica, J Auetensa, no sd do que é afirmado como entidade tape, Gdicamente determinads, mas também das coordenadas oo dispensaveis para o seu surgimento. Gonvem atastar a acepeio comum ¢ vulgar que se tem 0 terme eon , como sendo tal apenas o eaptado pelos mos a concrecdo de algo, precisamos, ilo 86 do conheeimento sensivel da coi objecto dos nossos sentidos, mas também da. sua da sua heceidade, qui (logos) da proporc! de, ¢, também, dus leis que ps ‘cdo, A sua existéneia © perduragio, bem er ino. ‘Um comheciments conereto ¢ nium sentido semeihunte cimento que conexiona tudo . aualogado as eis (logoi analogantes), que'o detinem we ‘a ver, com a ivi suprema que rege a sin : um conheeimento har ‘analogados, subordinades & normal pela totalidade a que p Ruma, @ @ecadialéctica, Esta nfo se cinge upena lea & hhierarquieo, que estudamos em “Loe Tuas inelui também conexionamento lica © o Pensar Conereto, que reine dos Logot analogantes, analogando, to, ou um objecto em ostudo, a totalidade universais, ontologicas em sutaa. ber, através désse modo, ti conheeé-lo sensiv senheda, Mas um eonh as ae so out proporcionalidade intrinsees das figuras boreinam as normas estabelecidas por ese di 20 MARIO FERREIRA DOS SANTOS PILOSOFIA CONCRETA 2 to & mais conereto. Eo sera ainda mais, se elui_a metodologia da decad is da geometria as leis ontolégicas, da dialéctica simbéliea (1). ica, da pentadialécticn e dde nossa obra, entendemos por Filo- Desta forma, estamos certos que tédas as p ustifiea os postal ese ue postalnm os fundamentos da losin quer tector da. reall- or nos construfda, com. inde, porque as hé © hhuino sentido pitagdrieo) do. pensamento filos6 - ima mgiadisiea © onto- em juizos universalmente validos, so demon ma. psleologiea, uma historiea, ete., com dos mais habeis mieios e vias, tims co seus respectivos critérios de verdade e de certeza, umas completando o que ha de des 8 pitagéricos, que trabalha apenas com ‘as abstracgies de Jo grau, Um répido exame é suficiente para a bos elareza do wrotendemas realizar neste livro, weéssemos apenas no campo da légica for ® formalismo. Como o emprégo istrativa exelusiva pode suseitar di- ‘aos fundamentos as toses expostas, usamos, a gama da demonstragio e todas as vias jcidas © manejadas pelo ser humano. Esta 4 A es @ prova de um mesmo ypostulado. da nova demonstragio lima via diferente, Preferimos as seiu do empréigo do niimero em relagio as s © ndmero ca aritmétiea, a mimero de me dida e conta. fas o trignsulo, ne geometria, 6 um niimero (arithnés, em sentido pilagérico). ‘Podemos tomar o trian fulo isdsccles como um arithmée, independentemente da sua medida extensista, pois} 0 consideramos em sua forma, Assim também a cireunferéncia, e as outeas figuras geomé- tricas. “Todas sho urithmoi geometrikoi. Pela algebriza- gue nos oferece a Toga, a 0, podemos aleangar a um conjunto de arithmot ainda mente deductive, 0 método iuetivo ¢ deduct mais formais, que no sio meramente ficcionais, como nos iv, demonstraglo @ more geonetrcy, x demonstra prova a aplicagio da. matemat Aleangamos, afi J, a Filosofia Concreta, quando prin cipiamos ue e1 cata dos logo’ analogantes, pela dialéetica pitago ido pensamento cireular de Raimundo Lalio e, final ssa dialéctica ontolégica, que ine moe ) Nos diversos eomentérlos aos, postuladns, que apresenta- ueessivamente, daremes melhor visgo das noseas afiriativas. 22 MARIO FRRREIRA DOS SANTOS igorosa, como: anterioridade © posteriorivade, dependéncia lependéncia, sue iraultaneo, ontoldgice e éntieo, rnidade, finitivo, materiado (materi agivel, operagio, operador e opel idade, necessidade, contingéncia, etc., los esquemiaticos sejam rigorosamel jos no campo ontoldgico e no dntico. ‘So coneeitos, com os quais podemos rigorosamente eonsiruir 2 matomatizagko da filosofia, Se se entendesse por tal a sua reduetio a coneeitos da Logistileé (da mate- mitiea de edleulo, ou dos némeros sonsiveis} transformando de um rigor ontologico mais seguro, que os factos, em sus dade, servem como tostemunhos (le prova. Déste modo, justificamos, embora em linhas gexais, © ‘que empreendemo’ nesta hora, Depois de examinada a relagio entre sujeito © objec icilmente que as diversas provi- ‘com o intuite de aleangar a senca aeiual de ambos, © homem, ao fllosofar, na busca de uma eerteza apo- ‘a, devidamente demonstrada, de euja verdade nao po- ia duvidar, 0 ponto arguisnédieo, procurcy, ora na obser- vagio do mundo objectivo, os eaminhos do empi- lidade de, neste vector, ntrar a cerleza’desejada, busca-la, através de caminhos: res, através da certezu de si mesmo, para sobre r todo 0 desenvolvimento posterior dos postalados ILOSOFIA CONCRETA 28 inar a adequacio entre os juizes e 0s factos do mundo, nem sempre se estabeleceu um estado de certeza que satistizesse ao ser humano, ‘eza, encontramos & tal de adesio, © um acto d ro. O espirito adere 1. Quando se da um acto mental de adi », porém nk firme e com recejo de errar, estamos em face da doza, da opiniao, Quando 0 acto mental nao 6 adesivo, nie 6 firme, e te- me-se errar, estamos em plena di Para que a demonstragio cer certera: a firme adesao a0 Na dtivi temese que n juizo. tatistaria, deve ofere- . a adesdo da mente est em suspensio, pois seja verdadeiro o que é enunciads pelo Nao iremos agora examinar a longa polémica sdbre 0 probler le vem até os nossos dis, pois j4 0 fize- mos. do Conkecimento” © em “Noologia Geral”, Antes de examinar a conveniéneia ou no dos dois vec- tores, segul a cemonstraao das proposighes filo- soficas, precisamios estabelecer se & on no. possivel a0 ser humano provar apoditicamente alguma eoiss, no campo losotia, © se, daqueles dois veetores. Est nio 6 que’ ol & especulagao filoséfica na 8 Comecemos, portanto, por partes. Examinemos pri- meiramente as razdes pro e contra a possibilidade da ‘de monstracio, so em si; ndo podemos inteligir que elas so em si, nem poderiamos comprovar os nossos conhecimentos sbre elas, 24 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ‘a estabelece que 0 nosso conheci- As diversas fases do desenvolvi- mento intelectual do homem. + comum hoje, na filosofia, 0 ponto de vista de que nto 6 possivel a demonstraefio que resolva lewitimamento, nko 86.0 problema eritieo, como também © conhecimento exacto, a certeza, Vejamos as razées desta posiefo ynstracio & uma do premissas certas ¢ ev jos aceitos como certos. Portanto, t6da a ‘monstracéo supée necessiriamente uma verdade aceita demonstracdo 6 impossh , do contrvo, teria de deveria ser accita sem fandamento da demonstra ise, A f6 nama verdade monstrada, Outro argumento é 0 seqruinte: quem admite a demons- traco, © a exige para a filosofia, devera demonstrar suas premissas, e assim sucessivamente, © ae 9 levaré, fatal mente, 4 acettaedo de uma verdade prévia indemonstrével Foi em parte éste o pensamento de Aristoteles quando afir- ‘mava que nenhuma cféneia particular pode demonstrar os seus fundamentos (1). Convém distinguir os termes maslvar ¢ demonatr © que se mostra faz-se imedintamente sem térmo mé- dio; © que se demonstra faz-se mediatamente com térmo médio. A demonstracko, portanto, implica éste térmo méi mas fste nao impliew um outy poderia ser ev dente de per si, ¢ servir como térmo médio para as demons- trades. posteriores. es quer referie-se as citneias particu sele do universal, pois em "Metafini 0-29 0 7, 22, 3 ouéras. paseagens, mostra-nos que & inde de demonstrat a esséncia decorre de quo ava defi re que lad ‘dela. Mae pode ger ela posta éncia pela demonstragio, FILOSOFIA CONCRETA 25 © meio de combater a demonstragio & sofisma que # operacdo demenstrativa tem a Fealiza. Ela nao é gerada por ama fo A demonstraglo gera-se da demonstragio, portanto nao ria pedir um efreulo as premissas que serviram de ponto de partida para e! assim sucessivamente, porque ela no exige un ¥oca para ser suficiente, pois, em dltima a: siste na comparagio que se faz entre um jnizo e um juizo evidente, verificando-se semelhangas ¢ as difere) gas entre am] Nao é a demonstragio que gera a demonstragio, & 0 acto intelectual da comparacto entre o que ainda nfo se sabe como verdadeiro, com algo jé dado 8e poderia negar validez & demonstrat absoluta validez, que © hi Iuta valides, A demonstracdo nio alea ticismo absoluto representasse a ia justificada. se mostréssemos 0 qual » honesta, 53. nenhuma divide s A demonstragho im; Bate seria o ponto arqu Encontrado éste ponto, a Filosofia, Em “Filosofia e Cosmoviséo", no capitulo sobre o ine condicionado, examinamos as diversas posigées elassicas que propuseram um ponto arquimédieo para o homem. Bsses_pontos poi classifieados: @) fun 0 abjectivo e exterior, como procedem os as, os materislistas, os + ete., ou) numa certeza interior, como procedem alguns raeionali os Adealistas, alguns existencialistas, ete. Essex dois caminhos nfo satisfizeram por néo oferece- rem 0 ponto arquimédico desejado, A nosso ver, 0 defeito 26 MARIO FERREIRA DOS SANTOS de todas as buscas do incondicionada, na filesofia, funda-se num pre qual nap se liber- tam. Como é © homem que filos jomem, ou com Resta saber se nés, no acto de desi somos capazes de alcangar uma evidéncia, so- das. posigdes fi s poderia’ por uma divida, depois de devidamente enunciada, Partamos da diivida, © ponhamos em diivida todos os ‘um ponto do qual nao se poderia mais duvidar. Conhecemos em que pando processo cartesiano du diivida metédie: win ser fun cogitava era, dada em idéias a éle, que niio pode levar & divida, que ¢ érro, e que é Inata fiva), ‘Tres so, abelecidos por Deseartes: 3) eritério: a percepedo clara e distinta. © método cartesiano, entretanto, oferece graves difi- culdades, ¢ tem sido objecto de repulsa, porque nao nos leva FILOSOFIA CONCRRTA temos necessidade de, nesta obra, iar tat Promos tear a david att dy pny Densar que pensamos, polertanoe fron Ove pre E ha esta ce © PONTO ARQUIMEDICO Ha um ponto arquimédico, cuja certeza ultrapassa a0 nosso conhecimento, independe de nds, ¢ 6 Ontica e onto Togicamente verdad Alumna coisa hd... (1) analise dessa_verdade incontestavel. Po- ser inteligente , verdadeiro: al homem «0 mundo. Tudo isso 6 eon se, a propr afirma que ha aiguma coisa, e no 0 nada absoluto, Quando dizemos id alguma coisa, afirmamos a prosen- ga do que chamam ", embora ainda ndo saibamos que é sev, em que consiste, qual a sta esséncia, 0 que déle podemos dizer Vi-se, as remptoriamei nada absoluto é 0 mesmo que afirmar que nao hé qualquer (2) Himpregamos alguma coisa no 2entiao neutro de alge. 30 MARIO FERREIRA DOS SANTOS n absoluto, porque, admi- ‘4 contradic&o om admi- 1e alguma coisa no hd, pois pode haver alguma fe nfo haver alguma coisa, essa ou ‘alguma coisa ha”, o nada relativo aj fio 0 exclu! Portanto, ambos embota de Onde poderia estar o érr0? Se afirmo que alguna cot 0 nico @rro poderia estar em nfo haver nenbut ‘o que € nogado até pelo meu acto de pensar, a mais’ céptico acto de pensar, pois se na deria ter surgido sequer 2 ‘divide. na coisa hé & mostrada nada abso- Portants apoditiea 0 pri- meiro postulad ‘Task 1 — Algwina coisa hé, € 0 nada absolute nao hé. Tess 2 — O nada absolute, por ser imposatvel, nada porte, ja total ¢ absoluta auséncia de ser, 10 &, 0 que ndo existe, o que é poder, da, poderia’ Para nada absolute, fazer. FILOSOFIA CONCRETA 31 Porque se pudesse fazer alguma coisa, era alguma coisa, fe no nada absoluto. Mas, ja vimos que ha alguma coisa luto; portanto, nada pode mos esperar que déle provenha, porque nao é nada. latim (coisa), do verbo reor, significa pensar ou erer. Coisa, seria assim o em que se peusa on E qu espa r tal t8rmo referir-se ao ser eonereto tempe- fal o homem tem uma intuigio se io quanto ndo se pode predicar o nada absoluto, 0 'tér- ‘mo alguma, cuja origem latina, dliywid, nos revela 6 sentido de adiud (cutro) © qi outro que se distingue, que (note-se a expresso: ‘ino quer, mas de alguém que I, que $0 entende por al do qual néo se pode Ora, 0 nada absoluto néo se poe, 120 ‘dade: @ @ pura negacdo, a auséncia Jguma eoisa, do qual se pode dizer que é nada, nada. enlitas, a), significa mente no verbo, ver, pois 0 na sa” nadia pode he- Eo haver de alguma coisa, je real @ formal entre vr $6 6 € quando & de al provaremos por outros caminhos © que exige 0 t@rmo médi e forma: se alguma ‘@ que € absurdo: Esta 6 uma demonstracéo lirecta de que hé alguma FILOSOFIA CONCRETA 33. Tesz 5 — Hé proposigdes nao deducidas, inteligtveis por si de per si evidentes (asriomas). Bastaria a mera mostra de uma para dar plena validea A tese, Alguma coisa ha e 0 nada absoluto nao hd tém tais ‘0 que vem mostrar, portanto, que hé reaimente Proposigdes nao deduzidas (pois estas nao precisam de ou- jdéncia), e que sto de per mesmas o suficiente grau ‘ioma, € dispensam demons ister rerem comparadas €om outras para len. tragdo, pois nao é revelarem a sua Vi Blas se evidenciam de per si, o que prova a tese, ‘TESE 6 — Pode-ge construir a filosofia com jufzos wni- versalmente vélidos, que a filosof truida com jufzos universalmente v para todos. Wo pode ser cons 8, 1sto &, vllidos No entanto, essa afirmativa facilmente refutsi tando que so estabelega um jufzo umiversalmente valido, s6- coneretamente, ee possa construir todo ura siste- eomo 0 faremos. para a fundamentagio da Filosofia Concreta, so universal- mente validos. $6 um apélo Joucurs, refutade pelo proprio ay deria afirmar que hd o nada absoluto e nao * Esta vi ¢ louca afirmativa j& fra, pols’ mesmo. que f6ssemos uma" usfo, mesmo. que nao houeéssemos, alguma coisa ha. losofia precisamos de nés, se para comunicar idéias pi samos de nds, néo precisamos de nos para que hhaja, pois mesmo que fossemos ilusbes, seriamos a ilusko de alguma coisa que hé. Portanto, éste postulado independe dde nds para mostrar-se como evidente, | um julzo univer: salmente vilido, e € adbre éle que se fundara a Filosofia Conereta. 34 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ‘Tese 7 — 0 nada absoluto é a contradicts de ale coisa hd. Ha contradigio quando se afirma a presenga e, simulta- neamente, a auseneia do mesmo aspecto no mesmo objecto. Dizer-se que alguma coisa ha, ¢ contradizer que hé o nada absolute, porque se ha alguma coisa, o nada absoluto esté excluido, Dizer-se: hé nenhuma coisa; da absolute — contradizer-se se que nao ha alguma coisa hd. YDESE 8 — O que hi ~ 6; o-ser & ser, O que nio hi 6 Do que hi, diz-se que tem ser e € sex. O conteddo da palavra ser ndo definivel, porque, para dizer 0 que é ser, precisamos de certo modo désse couceite. Mas tudo quanto Ser, diz Suarez, € a “aptidao para existir”, Ser é © no uke mero mad (ama absoluta).. 86-0 ser pode, porque s0 ele tom aptidao, para existir, porque 0 nadd absolito, por impossivel « impotente, nfo tem aptidao nada absoluto, mas apenas que ou seja: um nada relative, © nada absoluto um ngo-ser absolut © nada relative 6 um nio-ser relative, Post te, que al © primeiro, negar-se-ia, 1 eoi8a he, Postulado o segundo (o ndo-ser relative), no se nega- ria, total ¢ absolutamente, que coisa hi, mas apenas, que esta ou aguela alguma coisa nao hi. samos total ‘gama coisa og particulares, sub-contrarios, ¢ @ verdade de um no implica necessavia FILOSOFIA CONCRETA 35 mente 2 falsidade do outro, Ambos podem ser verdadeiros, como realmente © sao, © nada absolute é imp’ der, chamamos nada, mas alguma coisa, ser. Por- 86-0 que 6 ha. Nao sabemos ainda em que consiste ésse ser, mas sa- ia coisa pode vir a acontecer, essa coisa que Se possivel, nto poderia vir iste J esta afast Portanto, a existéncia de alguma coisa depende de al- guma coisa que é& E alguma coisa que é deve sex exise tente, deve estar no pleno exerefeio de seu ser, para «qu ne existente o que era apenas possivel Porlanto, podemos aleancar com conclusio final: Alguma coisa hé, que ima diivida mais resta, come e-alguma coisa @ ser, teriamos apenas um ser po: tivo, € se tornaré, ou “io do seu ser. io, em algo no pl © que ainda é uma possibilida porque o que pode é, e, para pode ex do s pois como po se nio tem poder? 36 MARIO FERREIRA DOS SANTOS seria do nada absoluto, 0 que Esta tese ser demonstrada por outra via mais adiante. COMENTARIOS Alguina coisa € wma verdade on Na verdade logics, sabemos, hi a conformidade en- tre o intelecto e a coisa, enquanto, na ontolégica, hé con- formidade da coisa com 0 inteleeto. Mas a verdade ontol6- gica 6 a revel jogos da coisa, O julzo alguma coisa hd, possui aquela aptidao e aquela capacidade. A verdade ontolégiea decorre da andlise intrinseea da coi ou permitir que um ser ‘ha possui assim as ca- racteristicas, nfo s6 de verdade logiea, mus também onto- isa hd € uma proposigao mndo_ontologicamente considerada, pois alguma coisa implica, pelo menos, o haver de alguma Jh-que a haditudo (a correlagao) entre 0 sujeito 0 ada pela andlise, Se quisermos consider. serla, entdo, uma_proposigao an ‘se notas), cujo eonhecimento decorreria da expe- rlencis (da nossa experiéncia). Mais adiante veremos que éste jutzo pode ser considerado ainda sob outros aspectos, ‘Tanto de um modo como de outro, a proposigao alguma ia Conereta que, por qualquer via pensament sempre necessariamente evidente, © térmo necessdrio vem do latim necesse, que, etimo- Jogicamente, vem de ne e cedo, do negativo verbo cédere, cuja origem ¢ obscura. Ceda adiantar-se, retirar-se, afastar-ce, e também codet nar, renunciar, fazer cessio. Decorre, pois, que FILOSOFIA CONCRETA 37 cumente, o térmo nécesse (necessidade) indica o contelido do que nao € cedldo, do que néo se pode ceder, do que € impostergavel, do que nfio pode deixar de ser © que é. Quando, na dialéetica-ontolégi busca o nexo de necessidade,’ busea-se o conteddo eldético que tem-de-ser, 0 ‘Tem © homem capacidade de Estes sho 0s através de uma operac mq) podem ou nfo -e-que-tem-de-ser-i f Gsse vontetido vid pres ico necessario, aleancamos 0 conte te e dove apresentar excluem ou podem excluir a A. principal providéneia portanto, em bese quanto pode nao ser, até aleancar 0 y 2 contetdo ontolégien deve docorrer de uma anélise que ofe- igo afas- ta-se totalmente da opint timento da conteiidos eideéticos- dem ser ou pode: dadeiro quando afastamento total de ‘Tase 9 — A pre suf Provamos por outa A vordade notada, uma ment 38 MARIO FERREIRA DOS SANTOS si demonstragio, podia até dispensé-la Se ajuntamos algu- mas, fazemo-la apenas para robustecer, de certo modo, & su, evidencia objectiva. E dizemos eviténcia objectiva, porque nao é uma verdade subjectivamente captada por adequacéo, mas de per si suficientemente verdadeira, A verdade ligica dessa proposigao decorre de facto de porteneer 0 predicado & razio do sujeito, mas é também ontoligica por ser necessaria. TesE 10 — “Alguma coisa ha" ndo ¢ apenas wm ente de razdo, mas wm ente real-real. ‘espago, a espécie e 0 género para outros Considera-se come ente real, aquele que também tem’ uma existénela fora da mente humana (aztra inentis). Assim tas, além de ter dela uma imagem mente huimana, 6 uma realidade fora da mente, Em su- ma, para todos so entes de razio aquéles que nio assegue istincia fora da mente humana, e sio entes reais, ssa existéncia, Um ente real pode também ter uma correspondéncia existencial na mente humana, como 2 tem a imagem que formamos d mundo exterior para 03 realistas, merecer de alguns a afirmacao de que € apenas um ente de Mas se alguna coisa hd é um ente de rasfio, asse- wediatamente que nao & apenas um ente de razio, im um ente real, porque se hé um ente de nazi porque hé algo que 6 0 sustentéealo do mesmo. se algma coisa hd € mentado, entao alovma coisa ivi realmente, por- ‘que algvma coisa hd, para que alguma coisa hé. sein’ men. que prova, conseatientemente, que & real-rea caisa hd, 0 que vem robustecer, de modo apod ARGUMENTOS CORRELATOS A FAVOR DA TESE, Depois da seguranga observada no pensamento medi val, to pouco estudado hoje, sobre o que seja o ser, veri ‘0 ser passa a esvaziar-se ante seus olhos. iegar-he qualquer contetido. Para éssex, ‘aa mais, e sem significagao. Alguns pio presente sendo, (de onde TE acumulam diversas antecedéncia surgir vivas, Contd nam impr obeiza @ alguns reparos, que se tor- argumentos o: -los, para depo! Jio sempre os mesmos. Vamos espondé-los: 1) Que o ser € algo que mio vemos, nfo tocamos, no sem stima, como Vertos a cor ¢ tocamos uma moto- eiclela, Estas sao um 2) Que o termo se nada mais ‘Vejamos se hi valider nessas afirmativas. Para of gregos ser lade, prow @ physis, © 40 MARIO FERREIRA DOS SANTOS também permanéncia, 0 que mana através de, per. Conelui Heidegger, 20 examinar o pensamento dos greyos, que, para &stos, existir (eristéncia) ‘signitica nio ser, porque existir é sair do uma estabilidade surgida de si mesma, a partir de si mesma, © grande defeito que ha em geral no pensamento mo- derno sobre o significado de ser esta em confundi-lo com 0 significado meramente logico. Ora, o er, considerado ape- nas ldgicamente, é esvaziado de compreensio, por ter a mi- xima extensio, pois abrange tudo. Contudo, se 0 térmo eer preensio (pois ser € apenas ser), é ontoldgicamente o de maxima compreensio, porque tudo quanto hé 6, de certo modo, ¢ ser @ atribuido a tudo quanto ha, activa ou passiva- mente. Existir néo é um afastar-se do'ser, 6 um modo de ser no pleno exercicio de ser, é 0 ente fora de suas causas, Conceber-se 0 coneeito de ger apenas como estabilidade, como © que permanece sempre, e dai coneluir que o que existe (0 existente) € 9 que sai dessa estabilidade, portanto, & néo~

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