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Fsqusa quutaT¥A con Teno, RUSK SOM RORTY, R. (1979). Phiaopy ond the Miro of mature, Prince Princeton University Pres SWALES, J. (1983), Aspects of AnicleIntodctons. Birmi Aston University ESP Research Repo. ‘TOULMIN, 5. (1958). The Uses of Argent Cambridge: University Pres WATSON, J, (1968). The Doule Hola, Nova Longe: Ale Leitures adicionas [BAZERMAN, C. & PARADIS, J. eds) (100), Teual ‘roesions, Macon, WI Univers of Wiaconsin Pes. CORBETT, € (1965), Casio Rit forte Maden tlt ‘Oxford University ens MEYER, M. (199%) toi Language, and Reon Universi ‘Pennsylvania State University Press. 13 ANALISE SEMIOTICA DE IMAGENS PARADAS. Gonma Penn Palacracchave: acorageny, recuperago; conotacio; sistema referente;denotagio,evezamento; cone; sign indices signa olsen sgaieante; mit solo; paradigm ou conjunto as Sciaciv;sintagma. Asemiologi tem sdoaplicida em uma variedade de sistemas de signos, incuindo eardipios, mod, arquitesra, historias de fadas produtos pata consume e publicidad de todos os pos Este capita Feschie apa en mages especiamene imagens publics -Ferramentas conceptusis Asemiologia provéo anata comm conjunto deinstrumentas, ‘onceptuas para uina abordagem sstemiticn dos sistemas de si hos a fim de descabrie como eles prorizem sentido. Muito de sia precsio provém de una serie de dstingbesteoricas que sio capt as través de um vorabultioexpecficn, Eta seg trod eas ferramenta concep site nga de signe: significant gcd A semiologia naceu da discipina da lingdtica exraral, que se originou da obta do lingtistasugo Ferdinand de Saussure (1857 1918), O enfoque esruteral vé a Tinga como um sistema € tent scab "todas as regra que omantem undo” (Hawkes, 1977/19) (0 sistema lingusticn compreende onidades que Saussure chamou ‘de signos, es egras que governam sat relagSes. Saussure propos Pesquisa aunatin comsino, wacen 04 19, Anda samen ne cerns ‘um modelo simples ¢ elegante do signo lingistico como conjungio arbitra de um signiicante, ou imagem acstc,e Siguiieado, ou conceit ou ide. sta dans partes podem ser Sadas como se fossem entdades separadas, mas eas existe a ‘como componeates do signo, sto €, em virtude de ia rela proc, Saunsie inci sa expliacio sabre a natrera dl sign ‘mando que lingua nio é uma nomenclatura (1915: 68), Os Glo n30 existe anterior, ou independentemente, da ing i Simplesmente uma questo de colocarnela um rétlo. ‘Aidemais a rela entre os dois clementos é arbitra, ou ‘moval Nao hd um elo natural, ou inevitive, entre 0 dai animal de esumagio peludo, mu "gato", pedevia ser gualmente -dignsa, on conjunto asoiativo, € um grupo de ermos que so tan- {orelacionados, ou semelhantes,sobalgum aspecio, como diferen- tes, O sentido de um termo € delimited pelo conjunto de terms no escolhidese pela manetra como stersios eco 0 combi ‘dos entre eles, fin de estar uns conjuntosignifiativo sto pode ser esclareido com um exemple. Afrase"ochapéu de Alice €verde™ ns um conto sigafentivo em vr da comune de uma série de terms lingistieos(nformalmente, palavra). O valor de fada termo € determinado por seu lugar no sintagma, isto, pelos tuatrostermos,naftase, que’ precedem eo segue, e pelo conju tle termos alternatives que podem substnuo, Isto pode sr intra tl como se segue “enezespado” eis fsie aceita como tal pelos membros de Zuni camo, troposa) (onan ett, Siesina.do Pineke orem), soe 1 Sgrteodo Femagem d2 ener a ‘open ig 151 — Mae ii a lag nr sic ina eric find en (atapad de ares, 8 Embora o signo de primeira ordem seja “pleno”, quando ele ‘oma parte no sistema de segundg ordem ele é vazio. Ele se torna um ‘eiculo para significacdo. Ele expressa um conceito a mais, derivado aio do préprio signo, mas de um conhecimento convencional, cul- ural. Este € 0 ponto no qual aqueles que fazem uso psicolégico do sistema tém sua porta de entrada. Na The Rhetoric ofthe Image (1964b), Sarthes distingue os tipos de conhecimento exigidos para “agarrar™ 1 significagao em cada nivel. No primeiro nivel, que Barthes chama de denotagio, 0 leitor ne- sessita somente conhecimentos lingiiisticos e antropol6gicos. No se- gundo nivel, que ele chama de conotacao, 0 leitor necessita outros fonhecimentos culturais. Barthes chama esses conhecimentos de 1é~ xicos. Ele define um léxico como uma “uma poreao do plano simb6- ‘ico (da linguagem) que corresponde a um conjunto de praticas ¢ s" (1964b: 46). Ele pode ser pritico, nacional, cultural ou ¢s- ade ser classificado. Outros pesquisadores usam uma ter- ‘ninologia diferente para se referir a praticamente a mesma coisa, 4m recurso interpretativo socialmente partilhado: por exemplo, Williamson (1978) emprega o termo sistema referente. A liberdade interpretativa do(a) leitor(a) depende do ntimero e da identidade de seus léxicos. O ato de ler um texto ou uma imagem é, pois, um pro- eso intepretativo,O sentido €gerado na interac doleitor como ‘Teitor vai dar ir variar de acordo com.os dentro de uma cultui Uma forma de significagao de segunda ordem, a qual Barthes devotou muita atencio, foi a do mito. Para Barthes, o mito represen- ta uma confusio imperdoavel entre historia € natureza. Mito € 0 meio pelo qual uma cultura naturaliza, ou torna invisivel suas pré- prias normas e ideologia. * A significancia millégica ou ideoldgica de uma mensagem perten- ce aos sistemas de representagéo que muitas vezes parecem ser nei= 105 ¢ objetivados, mas que legitimam ¢ sustentam a estrutura de ‘poder, ow um conjunto particular de valores culturais (Curran, 1976: 9). 5 Por exemplo, em relagio a fotografia da imagem publicitéria, a mensagem denotativa ou literal serve para naturalizar a mensagem conotada. Isto é, 0 trabalho de interpretacao, ou a compreensao da Conotagio da imagem, é mantido oculto e coeso pelo fato bruto do ! 13. ANALISE SEMIQTICA DE IMAGENS PARADAS sintagma da denotagio: a conjungdo dos objetos na cena é natural, ou dado, porque ele nao requer tradugio, nao precisa de decodifica, go (Barthes, 1964a: 51). A tatefa do semidlogo é desmistificar, ou “desmmascarar” esse processo de naturalizaco, chamando a atengao para a natureza construida da imagem, por exemplo, identificando 0s conhecimentos culturais que estao implicitamente referidos pela imagem ou contrastando os signos escolhidos com outros elementos de seus conjuntos paradigmaticos, Empreendendo uma anilise semiolégica Em uma visdo geral, 0 processo de anélise pode ser descrito como uma dissecagao seguida pela articulacao, ou a reconstrucao da imagem semanticizada, ou “intelecto somado ao objeto” (George & George, 1972: 150). O objetivo é tornar explicitos o8 conhecimentos culturais necessdrios para que o leitor compreenda a imagem, Escolhendo 0 material O primeiro estagio € escolher as imagens para serem analisadas, Aescolha depenidera do objetivo do estudo e da disponibilidade do material. Por exemplo, € muitas vezes necessirio um bom tempo para ir ao encalco de comerciais especificos, ou material de campa. nha, nao mais disponiveis. A andlise semidtica pode ser bastante prolixa~ algo que pode ir desde um paragrafo mais ou menos longo até varias paginas — o que ird condicionar a quantidade de material cscolhido. Um outro fator restritivo € a natureza do material. Dito de maneira simples, alguns materiais so mais passiveis de andlise Semidtica que outros. Se o propésito da andlise é apresentar uma ex. plicagto de uma amostra representativa de material, deve-se, entao, empregar uma amostragem apropriada (randémica), e deve-se ter em mente que existem algumas dificuldades na aplicacio das técni. cas semiolégicas. © matérial aqui escolhido, como objetivo de uma discussio criti- 4, € um antincio contemporaneo de perfume (Figura 13.2), tirade de uma revista distribufda em um jornal nacional. Barthes (1964 88) justifica 0 uso da propaganda com objetivos didaticos, baseado ho pressuposto de que os signos da publicidade so intencionais Serao, por isso, claramente dlefinidos, ou “compreendidos". Sabe. nos também que a intencio ser promover a fama e as vendas do produto, Isto da liberdade ao analista para se concentrar no coma, im invent dette © sen gn idea of ements no mate, Io tose it ona or canes tenant otis no tad do mail cr Figs 139) 4 oe Iatralcmeraal come natn, eee tana a Abies sergnorad iponance taco nveneeaeehs 1, aaabordagem hema gins aur q ae so letramente soto: Bate Sage teen ‘tesco dosnt lieral do ane teen Iecesrio€ un coheed ngage spopeds © ns Binherchama decnheeinenohites aneopclaeer fac team quetio,nowo iets ot oa a Tet Grcy “Organ Ingen at pene), mulher, nde 13. AMUSE soubnCa oF MAE EAS Fe foniva = mci (ebec recope oslo eee earn nto hae a etn ‘exemple, os Bae eryeumc ears tae iy peat rope etd ore fin 0 deve ser dnecado em unidadessenores, Por ote compre do de cp da denoagt. O prio & nga: as pals aparcendo smbos da vers, O: Hot io ome da mares, “Organ, dene i ips de uma seaa tina, 11rme, ou um tecido sintetico para vestido. O segun- do componente dos elementos textuais é visual: tipogréfico espaci- al, Por exemplo, “Givenchy” aparece em cima no centro e € em caixa alta, com letras vermelho-escuras, amplamente espacadas, tipos san- serif e roman. O mesmo deve ser feito para as imagens. Por exemplo, a mulher estd de pé, olhando para frente, com um joelho levemente levanta- do, sobrepondo-se um pouco & garrafa. Ela € delgada, assemelhan- do-se & forma de uma “ampulheta”, com pele levemente (bronzeada?), cabelo preto e assim por diante. Niveis mais altos de significagao Oterceiro estdgio é a andlise de niveis de significacao mais altos, Ele é construfdo a partir do inventério denotativo ¢ ira fazer a cada elemento uma série de perguntas relacionadas. O que tal elemento conota (que associagées sao trazidas 4 mente)? Como os elementos se relacionam uns com os outros (correspondéncias internas, con- trastes, etc.)? Que conhecimentos culturais sao exigidos a fim de ler o.material? ~~ No Ambito da denotagio, tudo 0 que o leitor necesita para ler 0 comercial € um conhecimento da linguagem escrita e falada,e-um conhecimento do que é uma mulher e do que é uma garrafa de per- fume. No Ambito da conotagao, necessitamos de varios outros co- nhecimentos culturais, Em relagio ao cédigo lingiifstico, o leitor ne- cessita “saber” que o nome da companhia “Givenchy” significa “Francidade"- ao menos aos ouvidos ingleses. Isso, por sua vez, pode conotar alta moda e “chic”. “Moda” pode também estar cono- tada pelo nome do tecido “Organza”, e.0 som da palavra pode trazer & mente uma série de conotagées potenciais: “organic”, talvez (em inglés, referente a produtos naturais), ou “extravaganza” (composi Ao literdria de arate fantastico), ou mesmo “orgasm” (orgasmo). Comparada a grafia de “Givenchy”, ade “Organza” aparece per- sonalizada (escrita a pincel = escrita A mao) ¢, por isso, individuali- zada, “Givenchy” é nome genérico (nome da companhia), enquanto “Organza” € especifico (nome da marca). Essa relagio € também sig- nificada pelo desenho do antincio. “Givenchy” é 0 titulo dominante superior, enquanto “Organza” aparece em uma posigéo subordina- da, A grafia escrita A mio sugere também um segundo pensamento: 13, ANAUISE SEMIOTICA DE IMAGENS PARADAS uma legenda acrescentada a uma imagem jé completa. O Z é dese- nhado com um floreio, e as letras so maitisculas itélicas, claramente modeladas, sugerindo talvez instinto, otimismo e extroversio. Note-se que aqui a idéia de escolhas paradigmaticas é usada im- plicitamente. O valor de cada elemento é criado através da compa- ragdo das opcGes que estio presentes umas com as outras, das op- Ges potenciais que estao ausentes (as néo escolhidas), bem como através da combinacdo das escolhas. Isto pode ser expresso explici- tamente: €Sintagmo> Coixa —Orientagdo Proporgéo Estilo do tipo da letra GIVENCHY Caixa alta Roman —_Expandida__sanserif aradigmaQRGANZA Caixa Wélico Condensada_ manuscrita %, alta/baixo, apincel ESCOLHAS Caixa baixa Blackslont Regular serif etc, NAO FEITAS Ao nos movermos para a ordem de significacao conotativa, ov segunda ordem de significagio, algo da especificidade do denotado, isto é, a mensagem literal é perdida. A mulher singular perde sua in dividualidade e se torna um exemplo de um modelo fascinante. Ela € reconhecida nao por algo idiossincrético ou pessoal, mas por seu corpo alto ¢ esbelto, sua postura, etc, Podemos notar de imediato a equivaléncia intencional entre a mulher e a garrafa: sao ambas da mesma altura; ambas tém uma “‘cabeca” e um “corpo” com propor- ges semelhantes, com as “cabecas” mais escuras que os “corpos”. A “anatomia" da mulher € reproduzida na forma da garrafa, junta- mente com a estrutura estriada de sua roupa, Ambas sao levemente assimétricas. Essas correspondéncias sugerem sua equivaléncia: as conotagées da moda e da fascinagio sao transferidas da modelo para amarca (0 perfume é a mulher). Além de implicar que a mulher e a garrafa sao equivalentes, € ambém possivel valer-se de conhecimento cultural especifico para r além na interpretacio da imagem. Por exemplo, ocorre-me que x4 uma intengio de fazer a mulher parecer uma cariatide (ver Figu. 2 13.4) e, conseqiientemente, isso Ihe acrescenta conotacées classi ‘as da Antiga Grécia. A correspondéncia entre a modela @ a cari Fes¥sk QUAIATA COMTOTO, MAGE ESOM ‘de pode ser detathads: amas so figuras femininas, postando-se ‘rete olhando paraa frente, com umn joelhoFeveente leant. ‘O eatlo do vestid ¢ semelhante: ambos sfo de corpo inter, em rmangax, O tecdo parece dobrado no mico e pene em pregas pelo clit. O efit das pregas no veside ena garrafa pode também lem ‘raras estas que apatecem em muiascalunasgregas, quedo fur cotalienteequivalentes scaiides Fe 1.4 fe sin 12, vue suorexEMncES HEADS Se ua hipotese & corre, € pose, ent, trata a ferns crite ads ono ineaconas como excolas paradigms Signe owhas: Tavera dferenga mas notvel entree deer as ‘tapecttas proporgr ou compeygo. 0 cojuno pardigmatica Sql € pone forma do corporeal, alten, aqua, ee A ‘Modal €consdeavelmene is dlgada que 4 cae ao € {Kentuado pei stamens mat spend So ves da model. Duns ipocies se aprsentam pars expet a dfereng A pied € iplesent ue sem deseraepresnagio de una mulher, ce Flde¢tmbem una por seta eaegando peso. segunda Tipotese, provaeelnente a aid, € que as proporgées da mo: Dessa maneira, as criticas de Cook & Leiss¢f al. retiram da expli- agio semiol6gica sua tendéncia de focar o significado as custas do ignificante, ¢ de focar ordens mais altas de significacio as custas da lenotacao. O detalhe nao deve ser visto como puramente secunda- io, dependente da estrutura do mito: ele é importante em si mes- 10, e especialmente titil como um indice social potencial. Por exem- ‘lo, o bronzeamento da modelo no antincio Givenchy é um indice los ideais correntes de beleza. O bronzeamento conota lazer, no’ undo ocidental contempordneo; ao passo que durante 0 perfodo la Regéncia, digamos, conotava trabalho externo, ¢ as altas classes la nobreza, dadas ao lazer, empregavam estratégias elaboradas ara evitar o bronzeamento. Para concluir, uma anilise deve ser re- {proca. A abstracio deve alimentar a concretizacio e vice-versa. A ronia disso tudo, porém, € que se por um lado esse é um ponto im- jortante, por outro lado explicagdes detalhadas de denotagio ten- fem a apresentar 0 dbvio e, é claro, tornar-se totalmente repetitivo. v ‘alidade ecolégica e o problema da recuperacao Normalmente, nés nao examinamos detalhadamente as ima- jens procurando seus sentidos culturais implfcitos. Se no dia-a-dia 0 eitor nao se entretém nas imagens dle maneira meticulosa e sistema- ica, como faz 0 semi6logo, entao, qual a importancia da explicagio Jo semiélogo? Uma resposta poderia ser a preciso: a explicagio se- niolégica afina e torna explicito aquilo que esté implicito na ima- yem. Por exemplo, o leitor casual pode perceber as conotacdes clis- ticas da Figura 13.2, sem a necessidade de saber o que seja uma ca- ‘iétide, Muitas vezes nds temos apenas uma sensagio vaga de famili- aridade. De fato, essa vaga familiaridade ¢ freqitentemente intencio- nal, Referéncias que so muito precisas podem distrair o leitor da xcdo mitica que uma imagem est4 destinada a cumprir: no caso da publicidade, a transferéncia de sentido da imagem para o produto. Conseqiientemente, o semiélogo desempenha um valioso trabalho de chamar a atencio para a natureza construida da imagem. Barthes defendeu a desmistificacio c io de acio polt- tica, empregando 0 sarcasmo ¢ a ironia como as ferramentas princi pais. Contudo. os construtores de mito, como os publicitarios, sem- 13. ANALISE SEMIOTICA DEMAGENS PARADAS pre possuem um alibi ja pronto: a simples negacao do sentido dese gunda ordem, ou de sua intengao. De maneira ainda mais interes sante, a critica traz consigo uma contribuicao ao mito, certa cumpli cidade com 0 objeto de andlise. Ao criticar, digamos, o Homem di Marlboro, o mitélogo apenas acrescenta outro contributo a sua fami ea sua resisténcia: ele se torna um fcone académico. Isto & mais dc que nunca, a critica é recuperada pelo proprio mito e é colocada + servigo do mito. Esta habilidade de recuperagio provém da muitas vezes discutid: qualidade “multiforme” dos mitos. Esta qualidade é o resultado do es saziamento do contetido e da historia do signo de primeira ordem, dt -al modo que ele se torna um veiculo dispontvel para a significacao di segunda ordem. Dessa maneira, tudo pode ser usado como um signi jicante do mito, ¢ 0 mito € capaz de assimilar, ou desviar a critica. Un sxemplo de recuperacdo em acio pode ser encontrado em alguma: sropagandas de marcas de cigarros com filtro, nas décadas de 1960 « 1970, que foram produzidas como resposta aos achados cientfficos so- are 0s tiscos do fumo para a satide. Essas propagandas empregaran magens cientificas, tipicamente na forma de um cigarro dissecado ac 2stilo de um diagrama cientifico: um desenho de linhas simples, com amotagdes ao estilo de livros-texto. Desse modo, a critica cientifica ac igarro voltou-se sobre si mesma: o problema é cientifico e, do mesme nodo, evidentemente, é a solugao. Tal fato sugere que um enfoque ingémuo, ao estilo “Rumpelstiltskin” s inadequado: nao é suficiente apenas nomear o mito. O simples ate Je nomear um mito, contudo, nao deixa de ter seu valor critico. C ‘ato de nomear desnaturaliza o mito, tornando-o mais tangivel: ele ie torna uma “coisa” que pode ser manipulada e criticada (a que in eresses ele serve?). Isto 6, nomear é um primeiro passo essencial ne srocesso de critica, mas nao é suficiente em si mesmo. Sontag discu eum problema semelhante em sua andlise das metaforas da doen jt. Ela afirma que “as metdforas no podem ser afastadas apenat belo fato de evita-las, Elas devem ser expostas, criticadas, sacudidas sgotadas” (1991: 179). Além disso, Sontag prope que 0 processe Je identificacao ¢ critica das metforas deve ser guiado pelos efeito: Jas metiforas: “Nem todas as metéforas aplicadas & doenga ea seus ratamentos sio igualmente insossas ¢ levam a distorcio” (1991: (79), Contudo, isso simplesmente adia a ques ‘oras ou que mitos? E quem iré decidir? PESQUISA QUALITATIMA COM TEXTO, IMAGEM E SOM “‘Talvez mais importante ainda que apresentar explicagoes semio- légicas das imagens seja o cultivo de um enfoque critico: a apresen- tagéo dos meios para uma critica e a compreensao dos meios pelos quais 0s propagandistas de todas as cores contestam 0 espago mito- [bgico. Embora se possa argumentar que essa prética, ela propria, seja uma propaganda em favor de uma disciplina académica critica, ‘com interesses pessoais, pode-se também, do mesmo modo, afirmar aque, se tal enfoque fosse concretizado, a disciplina académica se tor- aria desnecessria, Isso ndo para negar o valor de criticas funda- mentadas: 0 tempo das pessoas para tal reflexdo critica é limitado, se comparado as infinitas possibilidades da analise semiol6gica. Para uma semiologia hibrida Essa seco final apresenta uma breve discussio de dois caminhos possiveis na discuss de alguns dos problemas identificados acima. 'h integracdo da semiologia com técnicas interativas de coleta de da- dos oferece um meio de discutir 0 problema da subjetividade, atra- yés da reintegracao do leitor leigo. O potencial para uma aproxima- (edo com as técnicas de andlise de contetido contempla um aspecto di ferente do problema da subjetividade, ao enfatizar uma abordagem sistematica A amostragem ¢ A andlise. Vatidagao comunicativa: entrevistas ¢ grupos focais ‘A fim de avaliar a extensio ¢ 0 uso de conhecimentos culturai: socialménte partilhados dentro de um determinado grupo de pes soas, a semiologia pode ser combinada com alguma forma de colet: interativa de dados. Grupos focais ou entrevistas soa escolha dbvia ‘¢o trabalho do entrevistador sera focar a atengao dos participante po material, sem conduzir suas respostas. A melhor maneira de s fazer isso € colocar perguntas gerais, tais como “Do que voces pen sam que essa fotografia trata?”, e pedir aos participantes que sejav precisos sobre os aspectos do material que lhes causam determinad impresso. A natureza subjetiva da leitura deve ser enfatizada par ajudar os participantes a se sentirem & vontade: o exercicio nao é ur teste, ou jogo de adivinhar. O pesquisador pode também pergunte sobre aspectos espectficos do material: “Por que vocés pensam qu foi usada tal cor aqui? Que impressio isso causa?” Comumente, as entrevistas devem ser gravadas e o pesquisade es do material seiam explic wafandnrine an 13. ANAUISE SEMIOTICA DE IMAGENS PARADAS. tas, para referéncia posterior. Isto fica mais facil se for feita uma gr vacio em video do material, ese 0s participantes forem encorajad aapontar as partes relevantes do material, & medida em que falar A transcrigio deve, entio, ser codificada tematicamente, relacion da, talvez, a um algum referencial ja existente. Anélise de contetido A semiologia e a andlise de contetido sao consideradas, muitas v zes, como sendlo instrumentos de andlise radicalmente diversos, m: como afirmam tanto Leiss etal. (1977), como Curan (1976), ha muit raz6es para uma aproximagio. Os semidlogos podem incorporar » procedimentos sistematicos de amostragem da anilise de contetid Isto levar, de alguma maneira, a discutir as criticas de que o enfoq. produz resultados autoconfirmadores, e de que nao é legitimo gen ralizar as conclusdes de uma andlise semiol6gica para outro materi: A sistematizacao mais aprimorada da andlise, que a anélise de conte dodefende, pode levar também a ajudar o semidlogo.a combater ac sages de seletividade (por exemplo, na construgio de inventarios ¢ denotagio e matrizes de possiveis sintagmas). A andlise resultante d vera ser mais fidedigna (replicavel) e menos dependente de idiossi crasias ¢ habilidades de determinados analistas. Além disso, a incluso de mais e6digos interpretativos (basead mais na conotacao do que na denotacio) nas andlises de contetido prova da reciproca influéncia da semiologia. Tais andlises, contud perdem seus aspectos estruturais de um enfoque puramente semi: légico: como o sentido é criado nas relagées espaciais entre eleme) tos dentro da imagem especifica. Entretanto, essa maneira de exp! sicdo, mesmo nas maos do mais perito e lacdnico dos pesquisadare requer uma grande quantidade de espago, se a anilise quiser di conta de pelo menos uma parcela do tamanho padrao de uma amo tra rotineiramente planejada pelo analista de contetido, O maic obstéculo para uma integracio completa dos dois enfoques , poi logistico. A solucio podera ser empregar os dois enfoques lado lado. Uma explicacao semiol6gica de uma pequena amostra de im: gens pode exemplificar diferentes cédigos analiticos de contetidh Por exemplo, um cédigo analitico de contetido relacionado, dig; mos, a “mitos de beleza”, aplicado quantitativamente a uma amp amostra de propagandas, pode ser ilustrado qualitativamente pc uma explicacio semiolégica da propaganda em questio. Essa exp PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM cago seria parcial, pois ela iria enfocar aspectos relevantes da ima- ‘gem, em vez de analisar a propaganda como um todo. Ela iria real- Gar a transparéncia do procedimento da andlise de contetido, tor- nando 0 método € os critérios de codificagao explicitos e abertos a0 escrutinio do leitor. Passos para uma andlise semiologica 1. Escolha as imagens a serem analisadas. Identifique as fontes ade-_ quadas de material. Que tipo de material é mais adequado para tratar 0 problema de pesquisa? Como ele pode ser conseguido?| Contemporaneo ou do passado? Por exemplo, arquivos de mi- dia, material comercial acessivel, material baixado da Internet? Selecione a amostra: quanto material? Leve em conta as exigén-| cias de tempo e do espaco dispontvel para relat6rio. Quais so os critérios apropriados de selecdo? Os achados vao ser generaliza- dos além da amostra; se afirmativo, até que ponto? Torne os cri- térios para amostragem nao randémica explicitos e comente a respeito de como a amostra resultante é nao representativa, por exemplo, efeitos sazonais. 12. Compile um inventario denotativo — um levantamento sistemat co dos contetidos literdrios do material. Inclua todo 0 texto (lin- gilistica e tipografia) e imagens. Crie uma lista, ou faga anotagbes no material, Isso ajuda ao analista a se familiarizar com 0 mate- rial e previne o problema de seletividade. Isso também da énfase a0 processo de construcéo da imagem. Acrescente os detalhe: embora nio seja possivel fornecer uma explicagio exaustiva, € importante ser 0 mais preciso ¢ explicativo possivel. O proceso de translagio para a linguagem pode ajudar a identificar aspec- tos menos Gbvios da composicao e contetido que contribuem para a significagio geral. Anote o tamanho, cor, localizagdo, etc. de todos os elementos, Reconstrugio paradigmética: quais sio as alternativas nfo escolhidas para cada elemento identificado? As alternativas ausentes contribuem para a significagdo, através de delimitacio do sentido dos elementos escolhidos. 3. Examine os niveis mais altos de significacio: conotagio, mito ¢ sistemas referentes. O que os elementos conotam? Que elemen- tos constituintes trazem contribuicdes para cada signo de ordem superior identificado? Identifique os conhecimentos culturais aos quais as imagens se referem e através dos quais elas sio interpre- 113. ANAUISE SEMIOTICA DE IMAGENS PARADAS. tadas. Elementos diferentes podem ser polissémicos ¢ podem contribuir para mais de um signo de ordem superior. O conheci- mento cultural ¢ 0s valores que se pressupde que 0 leitor possua podem ser usados para “reconstruir” 6 leitor “ideal”, on identi car indices sociais. Sintagma: como os elementos se relacionam um com 0 outro? Correspondéncias, contrastes? Hé pistas para @nfases e relacées, por exemplo, cor, tamanho, posicionamento? Como o texto se relaciona com a imagem? Ancoragem, reveza- mento? Redundancia? 4. Decida quando concluir. A anélise enfocou o problema de pes- quisa? Confira se todos os elementos do indice denotativo estao inclufdos e se stias inter-relag6es foram levadas em consideragio, por exemplo, matriz, mapa mental. 5. Selecione formas de relat6rio. Escolha o formato de apresenta- Gio, por exemplo, tabela, texto e estrutura, Inclua referéncias para cada nivel de significagao: denotacao, conotacao, mito e os sistemas referentes exigidos para compreender niveis superiores de significacdo. Preste atencao na mancira como os elementos es- to relacionados. Quando diversas anilises so apresentadas, es- pecialmente com objetivos comparativos, pode ser util indicar sua relacdo, por exemplo, empregando a mesma estrutura em cada anilise. Referéncias bibliograficas 3ARTHES, R. (1957). Mythologies (trans. A. LAVERS, 1973]. London’ Paladin. —(1964a). Elements of Semiology [wans. A. LAVERS & C. SMITH, 1967] New York, NY: Hill and Wang. =(1964b). 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