Comecei a escrever por ser feio e pobre.

Na condio de miserabilidade esttica, recebi somente a

m ateno, aquela esdruxula e jocosa, enquanto a privao material me deixava sem recursos
fortuitos para compensar tamanha desgraa. Na maldio do eterno retorno permanecia, imvel,
sem prestgio pela aparncia no-apreciada e tmido por conta das chacotas, o que me afundava
ainda mais no isolamento solitrio. Busquei as formas de reconhecimento que me eram possveis:
cumprir copiosamente as dbeis tarefas da escola, me destacar em sala de aula e receber prestgio
dos adultos, j que a popularidade entre os meus pares me era negada. O acesso a internet apenas
exps uma face mais sofisticada do narciso que me impelia a escrever; um universo no qual o
prestgio concedido no queles com habilidades de sociabilidade tradicionais, atributos
apreciveis esteticamente e fartabilidade econmica, mas aos escritores mirins, que possuam algum
domnio sobre as palavras. Como um vcio, me aperfeioei nessas tcnicas e acabei me enveredando
pela literatura e pela cincia, cada vez me afastando mais do sentido original da erudio, tola e
mesquinha, para um encantamento maior, mais nobre, que cindia em mim um deslumbramento
fascinante pela verdade assim como eu a conhecia.