Você está na página 1de 2

Pablo Neruda e o Amor

Amo-te como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a


sombra e a alma.

Sabers que no te amo e que te amo


posto que de dois modos a vida,
a palavra uma asa do silncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para comear a amar-te,


para recomear o infinito
e para no deixar de amar-te nunca:
por isso no te amo ainda.

Te amo e no te amo como se tivesse


em minhas mos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.


Por isso te amo quando no te amo
e por isso te amo quando te amo.
Pablo Neruda

Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido,
devo esquecer tambm,
Pois amor feito espelho:
-tem que ter reflexo.
Pablo Neruda

Antes de amar-te, amor, nada era meu


Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci sales cinzentos,
Tneis habitados pela lua,
Hangares cruis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Cado, abandonado e decado,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ningum,
At que tua beleza e tua pobreza
De ddivas encheram o outono.
Pablo Neruda

Amar breve, esquecer demorado.


Pablo Neruda

Ao Crepsculo

No...
Depois de te amar eu no posso amar mais ningum.
De que me importa se as ruas esto cheias de homens esbanjando beleza e
promessas ao alcance das mos;
Se tu j no me queres, funda e sem remdio a minha solido.
Era to fcil ser feliz quando estavas comigo.
Quantas vezes vezes sem motivo nenhum, ouvi teu riso, rindo feliz, como um
guizo em tua boca.
E a todo momento, mesmo sem te beijar, eu estava te beijando...
Com as mos, com os olhos, com o pensamento, numa ansiedade louca.
Nosso olhos, ah meu deus, os nossos olhos...
Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem adeus.
No era adeus no entanto, o que estava vivendo nos meus olhos e nos teus,
Era xtase, ternura, infinito langor.
Era uma estranha, uma esquisita misturade ternura com ternura, em um
mesmo olhar de amor.
Ainda ontem, cada instante uma nova espera,
Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite.
E de repente... de repente eu me sinto como um velho muro.
Cheio de eras, embora a luz do sol num delrio palpite.
No, depois de te amar assim,
Como um deus, como um louco,
nada me bastar e se tudo to pouco,
Eu deveria morrer.
Pablo Neruda

Você também pode gostar