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DOSSIE ABCiber Cibercultura e educacdo: a comunicacdéo na sala de aula presencial e online* RESUMO Este texto vem mostrar que na cibercultura as praticas de censino ¢ de aprendizagem deparam-se com o contexto sociotéenico do computador e da Internet onde emergem praticas comunicacionais que liberam o processo comu- nicacional do imperativo unidirecional dos meios de ‘massa (impresso, cinema, rédio e TV) e oportunizam a ‘multidirecionalidade em rede. Para isso, parte dos estu: dos da cibercultura e traz sugestées para a construcéo de uma agenda comunicacional capaz de expressar a dinamica que associa emissdo e recepgio como pélos antagénicos e complementares na co-criacio da comu- nicacao e do conhecimento, PALAVRAS.CHAVE cibercultura ‘educagio docéncia e aprendizagem presencial e online ABSTRACT ‘This conference argues that feacing and learning practices in a cyberculture are faced with a sociotechnical context based on the computer and Internet in which communication practices are emerging that release the communication process from the unidirectional imperative ofthe mass media (the printed me- dia, cinema, radio and TV) and provide the opportunity for network-based multidirectionaity. To thisend, the conference Starts by examining studies of ybercullure and makes arm ber of suggestions regarding the development ofa communica- fiom program that can embody the dynamics that bring together {transmission and reception as opposite and complementary po lesin the co-creation of communication and knowledge. ey woRDs cyberculture education classroom-based and online teaching and learning Marco Silva Professor da Universidade Esco de S4 -R) - UERJ/ RI/ BR ‘marcoparangole@uol.com.br Em grande parte dos cursos via Internet prevalece modelo comunicacional centrado na transmissao de in- formagées. Os ambientes “virtuais” de aprendizagem continuam estaticos, ainda centrados na distribuigao de dados desprovides de mecanismos de interatividade, de criacdo colaborativa e de aprendizagem construida. “Muito ja se questionou a pratica pedagégica baseada na transmissao para memorizacao e repeti¢ao, mas pouco se fez para modificé-la efetivamente, Doravante teremos mais do que a forca da critica mais veemente jé feita Teremos a exigéncia cognitiva e comunicacional das rnovas geracies que emergem coma cibercultura, Nacibercultura a educacio na modalidade “a distan- cia”, tradicionalmente baseada nos meias de massa (im- prensa, rédio e TV), é cada vez. mais online. A legislacdo oficial do MEC impulsiona amplamente a oferta da mo- dalidade “néo presencial”. As universidades particula- res ampliam largamente a oferta de disciplinas e cursos online com vistas no negécio promissor. A procura por cursos online aumenta surpreendentemente por causa da sua flexibilidade, mobilidade e atemporalidade. Este texto, fruto de pesquisas realizadas, vem mostrar que a dinamica comunicacional da cibercultura e das interfa- ces de comunicagio online entram em conflito com os fundamentos e praticas do ensino tradicional, em que se temo professor responsével pela producdo e pela trans- misao do “conhecimento”, Na modalidade online professor permanece ainda tratando os aprendizes como recipientes de informacéo endo como agentes de colaboracao, de compartilha- mento e de co-criagao, habitos e comportamentos que se desenvolvem com a cibercultura. Neste contexto a “logica da distribuicao”, propria dos meios de mas- sa, subutiliza as potencialidades comunicacionais da tweb, Mesmo utilizando féruns e e-mails, a interacao € ainda muito pobre. A partir da critica ao modo de comunicacao que pre- valece na educagao online, o texto sugere estratégias de organizacao e funcionamento da docencia que permi- tem redefinir a atuacdo dos professores e dos alunos como agentes do processo de comunicagao e de aprendi- zagem, em sintonia com a dinamica comunicacional da cibercultura, 1.0 cenério sociotécnico da cibercultura e perspectivas para a educagéo online A tela do computador online nao é canal de recepao para o individuo solitario. Ela 6 campo de possibilida- des para a agao do sujeito interagente que opera facil- mente com outros interagentes a partir de imagens, sons textos plasticos e dinamicos em sua condicao digital. 0 Revs FANECOS» Porto Nege« n° 37 deze de 2008 - godine Marco Silva «69-74 digital possui uma qualidade semistica intrinseca defi- rida matematicamente, em combinagées numéricas de “7” e “0”. A existéncia imaterial da mensagem online confere aos interagentes a liberdade de manipular infi- nitamente os dados digitalizados, criando ¢ recriando novas possibilidades de representacao e de navegacio, de acordo com as suas decisdes em um campo de refe- réncias multidirecionadas. Portanto, o computador online ndo éum meio de trans- isso de informagao como a televisso, mas espaco de adentramento e manipulacao em janelas méveis, plésti- cas ¢ abertas a multiplas conexdes entre contetidos € interagentes geograficamente dispersos. Para além das interferéncias, manipulagdes e modificagées nos con- tetidos presentes na tela do computador off-line, os inte- ragentes podem interagir realizando compartilhamen- tos e encontros de colaboracao sincronos e assincrones. Assim entendido, o computador online renova a rela- cao do sujeito com a imagem, com o texto, com o som, como registro, com o conhecimento, Ele permite 0 redimensionamento da mensagem, da emissio e da recepcao para além da distribuicéo de pacotes de informacio de A para B ou de A sobre B propria dos meios de massa tradicionalmente utiliza dos em educacio a distancia. "No contexto dos meios de massa, a mensagem é fecha- da, uma vez que a recepcao esta separada da producti. O emissor é um apresentador que atrai o receptor de maneira mais ou menos sedutora para 0 seu universo ‘mental, seu imaginario, sua récita. F quanto ao receptor, seu estatuto nessa interagao limita-se a assimilacao pas- siva ou inquieta, mas sempre como recepsao separada da emissao. A logica da transmissio em massa perde sua forca no cenério sociotécnico que ganha forma a partir das trans- formagées recentes do social e do tecnolégico imbrica- dos (Silva, 2006) Social. 114 um novo espectador menos passivo diante da mensagem mais aberta a sua intervencao. Ele apren- deu com 6 controle remoto da TV, com o joystick do videogame e agora aprende como o mouse ecoma tela, {ati Ele migra da tela da TV paraa tela do computador conectado a Internet. E mais consciente das tentativas de programé-lo e mais capaz de esquivar-se delas. Evita acompanhar argumentos lineares que nao permitem a sua interferéncia e lida facilmente com ambientes midié- ticos que dependem do seu gesto instaurador que cria e alimenta a sua experiéncia comunicacional; Tecnolégico. © computador conectado a Internet per mite ao interagente criacao e controle dos processos de informacao e comunicacao mediante ferramentas ¢ in- terfaces de gestao. Diferindo profundamente da TV, enquanto maquina restritiva e centralizadora, porque bascada na transmissao de informagées elaboradas por um centro de producao (sistema broadcast), o computa- dor online apresenta-se como sistema aberto aos intera- _gentes permitindo autoria ¢ co-criagdo na troca de infor- _magdes e na construgae do conhecimento, Nesse cenario sociotécnico ocorre a transicdo da I6gica informacional baseada no modelo “um-todos” (transmissao) para a Iogica da comunicacional segundo a dinamica “to- dos-todos” (interatividade). Uma modificagio pro- funda no esquema classico da informacéo baseado na ligacao unilateral emissor-mensagem-receptor (Mar- chand, 1986). (© emissor ndo emite mais no sentido que se entende habitualmente uma mensagem fechada, Ele oferece um leque de elementos e possibitidades a manipulacao do receptor: "A mensagem nao é mais emitida, ndo é mais um mundo fechado, paralisado, imutavel, intocavel, sagrado, 6um mundo aberto em rede, modificavel na medida em que responde as solicitagGes daquele que a consulta; O receptor nao esta mais em posicao de recepeao classi- «a, € convidado a livre criacdo, e a mensagem ganha sentido sob sua intervencao. Os prinetpios da interatividade podem ser encontra- dos em sua complexidade nas disposigdes téenicas do computador online. Sao trés basicamente: a) participa- cao-intervencao: participar nao € apenas responder “sim” ou “ndo” ou escolher uma opcio dada, supoe interferir no contetido da informagao ou modificar a ‘mensagem; b) bidirecionalidade-hibridagao: a comuni- cacao € producao conjunta da emissdo e da recepcao, € co-criagao, os dois polos codificam e decodificam; c) permutabilidade-potencialidade: a comunicacao supoe iiltiplas redes articulatérias de conexses e liberdade de trocas, associacies e significacées. Estes fundamentos podem garantir o sentido nao ba- nalizado do conceito e inspirar 0 rompimento com a ogica da transmissao e abrir espaco para o exercicio da participacdo genuina, isto 6, participacao sensorio-cor- poral e semantica e nao apenas mecanica (Silva, 2006) Para Couchot (1997, p. 143), “a interatividade 6 0 pao cada vez mais cotidiano de uma sociedade inteira”. Seu conceito, se depurado da banalizacao mercadologica de raxe, exprimea disponibilizacao consciente de um plus comunicacional de modo expressamente complexo pre- sente na mensagem e previsto pelo emissor, que abre ao receptor possibilidades de responder ao sistema de ex- pressao, de dialogar ecriarcom cle. No contexto da cibercultura,a interatividade manifes- ta-se nas praticas comunicacionais como e-mails, listas, blogs, videologs, jornalismo online, Wikipédia, Youtu- be, MSN Messenger, Orkut, chats, MP3 ¢ novos empre- endimentos que aglutinam grupos de interesse como cibercidades, games, softwares livres, ciberativismo, webarte, musica eletronica Nociberespaco cada sujeito pode adicionar, retirar ¢ modificar contetidos dessa estrutura; pode disparar informagoes e nao somente receber, uma vez que 0 polo da emissao esté liberado; pode alimentar lagos, Rovio FAMECOS - Pro Alegre «n° 37 «deren de 2008» quedinastl Cibercultura educago: « comunicagiona sala de aula presenile online - 6-74 ‘comunitarios de troca de competéncias, de coletivizacao dos saberes, de construcéo colaborativa de conhecimen- toe de sociabilidade (Lemos, 2002). O ciberespaco é 0 “hipertexto mundial interativo, onde cada um pode adicionar, retirar e modificar par- tes dessa estrutura telematica, como um texto vivo, um organismo auto-organizante”; 6 0 “ambiente de circulagao de discuss6es pluralistas, reforgando com- peténcias diferenciadas e aproveitando o caldo de conhecimento que é gerado dos lacos comunitarios, podendo potencializar a troca de competéncias, gerando a coletivizacao dos saberes” ; é 0 ambiente que “nao tem controle centralizado, multiplican- do-se de forma anarquica ¢ extensa, desordenada- mente, a partir de conexdes miiltiplas e diferencia das, permitindo agregacées ordinarias, ponto a ponto, formando comunidades ordinérias” (Lemos, 2002, pp. 131-145/146). Nesse contexto, 0 digital € responsavel por uma revolucao tecnolégica e cultural sem precedentes, a partir da transformacao de étomos em bits que di origem a “vida digital” (Negroponte, 1996). A codifi- cacao digital contempla o cardter plistico, fluido, hi- pertextual, interativo e tratavel em tempo real do con- teado da mensagem. A transicdo do anal6gico para 0 digital permite a criacdo e estruturacao de elementos de informacio, as simulagées, as formatagoes evolu- tivas nos ambientes online de informacdo e comuni- cago que permitem criar, gerir, organizar, fazer mo: vimentar uma documentacao completa com base em textos, imagens e sons. Ao retirar a informagao do mundo analogico - 0 mundo ‘real’, compreensivel e palpavel para os seres humanos - ¢ transporté-la para o mundo digital, nés a tornamos infinitamente modifi vel. [..] Nés a transportamos para um meio que é infinita e facilmente manipulavel. Estamos aptos a, de um s6 golpe, transformar a informagao li- vremente - 0 que quer que ela represente no mun- do real ~ de quase todas as maneiras que descjar- mos e podemos fazé-lo répida, simples e perfeitamente.[..] Em particular, considero a significagao da midia digital sendo manipulavel no ponto da trans- missdo porque ela sugere nada menos que um novo e sem precedente paradigma para a edi- a0 e distribuicao na midia. O fato de as midi- as digitais serem manipulaveis no momento da transmissao significa algo realmente extra- ordinério: usuérios da midia podem dar forma a sua propria pratica. Isso significa que infor- macéo manipulavel pode ser informagao intera- tiva (Feldman, 1997, p 4) Digital significa, portanto, uma nova materialidade das imagens, sons e textos que, na memoria do computa- dor, so definidos matematicamente e processados por algoritmos, que so conjuntos de comandos como dispo- sicdo para multiplas formatagées-intervencies-navega- {g6es operacionalizadas pelo computador. Uma ver que a imagem, o some o texto, em sua forma digital, nao tém existéncia material, podem ser entendidos como campos, de possibilidades para a autoria dos interagentes. Isto 6, por nao terem materialidade fixa, podem ser manipula- dos infinitamente, dependendo unicamente de decisdes, que cada interagente toma ao lidar com seus periféricos de interacdo como mouse, tela tail, joystick, teclado. Ha uma “geracao digital” (Tapscott, 1999) tran- sitando da tela da TV de massa para a tela do computador online, cujas disposicées comunicaci- onais requerem das escolas ¢ das universidades qualitativos investimentos na docéncia e na gestao da educacao via Internet. Em particular, a educa- co online vive uma grandiosa oportunidade com © computador online que oferece disposicdes téc- nicas que contemplam a expresso de fundamen: tos essenciais da educagao como diélogo, compar- tilhamento de informacoes e de opinides, participacao, autoria criativa e colaborativa. As disposigées téenicas conhecidas como forum de discussio, chat, portfolio e blog podem ser facilmente instaladas ou disponibilizadas no ambiente da sala de aula online, Sao interfaces online ou espagos de encontro dos cursistas. las so capazes de ensejar a construcio coletiva da comunicacao e do conhecimento na Internet. ‘A disponibilizacao dos contetidos de aprendizagem e das atividades de um curso via web precisaré se dar conta de que pode potencializar a comunicacio ea apren- dizagem e nao subutilizar as interfaces online que ret- nem um conjunto de elementos de hardware e software destinados a possibilitar aos estudantes agregacées, as- sociagSes e significagies como autoria e co-autoria, Pode integrar varias linguagens (sons, textos, imagens) na tela do computador online. A partir de fcones e botdes acionados por cliques no ‘mouse, toques na tela ou combinagao de teclas,janelas de comunicacao se abrem possibilitando interatividade no chat, forum, lista, blog e portfélio que podem estar reunidos como convergencia de interfaces no ambiente online de aprendizagem, Em suma, podemos dizer que o design de um curso pode lancar mao de proposicGes e de interfaces para a co-criagio da comunicacao e da aprendizagem em sua sala de aula online. Disposigdes que deverdo favorecer bidirecionalidade, sentimento de pertenca, trocas, critica e autocritica, dis cussdes temiaticas, elaboracao colaborativa, exploracao, experimentacao, simulacao e descoberta, Ou seja, para garantir qualidade em sua autoria, 0 professor precisaré contar ndo apenas com o computa- dor online, mas com o design de um curso capaz de favorecer a expressao do diélogo, do compartilhamento eda autoria criativa e colaborativa. Revs FANECOS «Poo Nege« n° 37 deze de 2008 - quodinestel n Marco Silva «69-74 2. Sugestées para uma docéncia interativa presencial online Na cibercultura os atores da comunicagio tendem a interatividade e nao mais 8 separacdo da emissdo recepgao propria da midia de massa. Para posicionar-se esse contexto € af educar, os professores precisarao dar-se conta do hipertexto, isto 6, do nao-sequencial, da montagem deconexdes em rede, que permite uma mult- plicidade de recorréncias entendidas como conectivida- de, dislogo e participacao. Eles precisarao dar-se conta de que, de meros disparadores de licées-padrao, deve- 180 Se converter em formuladores de interrogacées, coor- denadores de equipes de trabalhos, sistematizadores de experiéncias, Docéncia unidirecional (modelo um-todos) © docente propde o conhecimento a maneira do hipertexto. Assim se redimensiona a sua autoria. Nao mais a prevaléncia do falar-ditar, da distribuicio de in- formagao, masa perspectiva da proposicao complexa do conhecimento a participacao colaborativa dos participan- tes, dos atores da comunicacdo e da aprendizagem. O docente pode construir mediacao interativa ins- pirada nas seguintes sugestdes (Silva, 2008): 1. Propiciar oportunidades de miltiplas experimenta- ges, miiltiplas express6es; 2. Disponibilizar uma montagem de conexdes em rede que permita miltiplas ocorréncias; 3. Provocar situagdes de inquietacao criadora; 4, Arquitetar colaborativamente percursos hipertextu- 5, Mobilizar a experiéncia do conhecimento; Para operar com estas cinco sugestées para do- céncia interativa, o professor devers, por sua vez, garan- tir atitudes comunicacionais especificas: ‘Acionar a participagao-intervencao do receptor, saben- do que participar é muito mais que responder “sim” ou “nao”, é muito mais que escolher uma op¢o dada; par- ticipar é modificar, ¢interferir na mensagem (Silva, 2000) Garantir a bidirecionalidade da emissio e recepcao, sabendo que a comunicacao é produgée conjunta da cemissio e da recepco; 0 emissor é receptor em potencial e oreceptor é emissor em potencial; 0s dois pélos codifi- cam e decodificam (Silva, 2000). Disponibilizar miltiplas redes articulatorias, sabendo que nao se prope uma mensagem fechada, ao contrario, oferecemse informagies em redes de conexses permitin- doao receptor ampla liberdade de associacées, de signi- ficagoes (Silva, 2000), Engendrar a cooperacao, sabendo que a comunicagio ¢ ‘© conhecimento se constroem entre alunos e professor como co-criagao (Silva, 2000), Suscitar a expressao e a confrontacao das subjetivida- des no presencial e nas interfaces forum, e-mail, chat, blog, wiki e portfolio, sabendo que a fala livre e plural sup6e lidar com as diferencas na construcao da toleran- cia e da democracia (Silva, 2008 e 2005). Garantir no ambiente online de aprendizagem uma riqueza de funcionalidades especificas tais como: inter- textualidade (conexdes com outros sites ou documentos), intratextualidade (conexGes no mesmo documento), multivocalidade (multiplicidade de pontos de vista), usabilidade (percursos de facil navegabilidade intuiti- va), integracao de varias linguagens (som, texto, ima Rovio FAMECOS - Pro Alegre «n° 37 «deren de 2008» quedinastl Cibercultura educago: « comunicagio na sala de aula presenileanlne «6-74 Docéncia interativa (modelo todos-todos) gens dinamicas e estéticas, gréficos, mapas), hipermidia (convergéncia de varios suportes midiaticos abertos a novos links e agregacdes) (Santos, 2003). Estimular a autoria cooperativa de formas, instru- mentos e critérios de avaliacio, criar e assegurara ambi- éncia favoravel a avaliacao formativa e promover avali- acao continua (Silva, 2006). ‘No ambiente comunicacional assim definido, estes principios da docéncia interativa sao linhas de agenci- amentos que podem potencializar a autoria do profes- sor, presencial e online. A partir de agenciamentos de ‘comunicagao capazes de contemplar o perfil comunicaci- onal da geracdo digital que emerge com a cibercultura, 0 docente pode promover uma modificacao paradigmatica ‘equalitativa na sua docénciae na pragmatica da aprendi- zageme, assim, reinventara sala de aula em nosso tempo. Condlusao Este texto, fruto de pesquisas realizadas no PPGE da Universidade Estacio de $4, vem mostrar que a educa- ‘io via Internet vern se apresentando como grande desa- fio para 0 professor acostumado ao modelo cléssico de censino. Sao dois universos distintos no que se refere a0 paradigma comunicacional dominante em cada um. Enquanto a sala de aula tradicional esté vinculada ao modelo unidirecional “um-todos” , que separa emissio ativa e recepcdo passiva, a online esta inserida na pers- pectiva da dinamica comunicacional da cibercultura ‘entendida aqui como colaboracio “todos-todos” e como “faca voce mesmo” operativo, Ne ry 74 \ iB Acostumado ao modelo da transmissdo de conheci- ‘mentos prontos, 0 professor se sente pouco a vontade no ambiente digital que libera a participagao dos aprendizes como co-autores da comunicacdo e da aprendizagem. Prevalece, ainda hoje, 0 modelo tradicional de educa- «a0 baseado na transmissao para memorizagao, ou na distribuicao de pacotes fechados de informagies ditos, “conhecimentos”. Ha cinco mil anos a escola esta base- ada no falar-ditar do mestre e na repetigao. Nao ¢ facil sair desse paradigma para a interatividade, a nao ser violentando a natureza comunicacional da nova midia, repetindo o que faz na sala presencial. No ambiente online o professor tera que modificar sua velha postura, inclusive para nao subutilizar a interati- vidade propria do meio, No lugar da memorizacio e da transmissao, 0 professor prope a aprendizagem mo- delando os dominios do conhecimento como espacos, abertosa navegacio, colaboragao e criacao. Ele propée o conhecimento em teias (hipertexto) de ligagbes e de inte- rages permitindo que os alunos conduzam suas explo- ragies. De apresentador que separa palco e platéia, 0 prof sor passaa arquiteto de percursos, mobilizador das inte- ligéncias miltiplas e coletivas na experiéncia da co criagao do saber. Eo aluno, por sua ver, deixa a condicao de espectador, nao esta mais submetido ao constrangi- mento da recepcao passiva, reduzido a olhar, copiar € prestar contas. Assim, ele cria, modifica, constr6i e torna-se co-autor da aprendizagem. Revs FANECOS» Porto Nege« n° 37 deze de 2008 - godine B m Marco Silva «69-74 E preciso se colocar a par da cibercultura, isto é, da atualidade sociotécnica informacional e comunicacional definida pela codificagao digital (bits), pela digitalizagao que garante o cardter plastico, hipertextual, interativo e tratdvel em tempo real do contetdo. Para nao violentar esse aluno nema Internet, o profes- sor precisa aprender com o webdesigner e nao mais com oapresentador de TV. Enquanto esse velho conhecido é onarrador que atrai o espectador de maneira sedutora para sua récita, 0 informata constr6i uma teia de territé- rios abertos a navegacses e dispostos a interferéncias. 0 professor precisa perceber que a tela da TV é espaco de irradiacio que s6 permite mudar de canal, enquanto a do computador ¢ tridimensional e permite adentramen- toe manipulagdo dos contetidos. Precisa perceber, en- fim, que a TV é paraassistir eo computador, para intera- gir. Assim emerge uma nova ambiéncia comunicacional ~acibercultura E preciso se colocar a par da cibercultura, isto é, da atualidade sociotécnica informacional e comunicacio- nal definida pela codificacao digital (bits), isto é pela digitalizaco que garante o cardter plistico, hipertextu- al, interativo e tratavel em tempo real do contetido. A codificacdo digital permite manipulacao de documen- tos, criagao e estruturacio de elementos de informacao, simulag6es, formatagées evolutivas nos ambientes ou estagdes de trabalho concebidas para criar, gerir, organi- zar emovimentar uma documentacao. (© professor pode langar mao dessa disposicdo do digital para potencializar sua sala de aula online. Ao fazé-lo, ele contempla atitudes cognitivas e modos de pensamento que se desenvolvem juntamente com 0 cres- cimento da cibercultura. Ou seja, contempla o novo es- pectador,a geracao digital e,curiosamente,a qualidade emeducacao efetiva, isto ¢, que supoe participacao, com- partilhamento e colaboracao. Por nao perceber a nova ambiéncia comunicacional que emerge com a cibercultura, o professor tenderé a manter em seus cursos via Internet o mesmo modelo de ensino em que os contetidos sao distribuidos em sites educacionais estaticos, ainda centrados na transmisséo de dados, desprovidos de mecanismos de interatividade ce de criagdo coletiva, Em suma, este texto procurou mos- trar que a emergéncia da cibercultura vem corroborar a critica ja existente na teoria da educagao que diz: 0 pro- fessor & o responsavel pela producao e transmissio do conhecimento; 0s cursos pela Internet acabam conside- rando que as pessoas s4o recipientes de informacao; educagéo continua a ser, mesmo na tela do computador conectado em banda larga, repeticéo burocratica, trans- missio de contetidos empacotados; se nao muda 0 para- digma, a Internet acaba servindo para reafirmar o que ja se faz REFERENCIAS COUCHOT, E. A arte pode ainda ser um relogio que adianta? 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