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Breves Considerações Sobre Questões Práticas em Matéria de Direito Dos Consumidores À Luz Da Legislação Moçambicana
Breves Considerações Sobre Questões Práticas em Matéria de Direito Dos Consumidores À Luz Da Legislação Moçambicana
Legislao Moambicana
Nos prximos escritos, assumimos o desafio de abordar certas questes sociais problemticas
comuns entre ns, com inegvel relevncia jurdica e larga projeco social, em especial no
mbito dos Direitos dos Consumidores, que tem surgido da interaco entre consumidores e
prestadores de produtos e servios, onde seleccionamos os mais frequentes e que achamos serem
merecedores de destaque e tratamento na nossa humilde pgina.
Assim, por exemplo, proibindo-se a entrada de uma determinada pessoa, consumidor, com
fundamento em que essa est (aos olhos do prestador de servios) mal trajada para aceder ao
estabelecimento, consistir numa violao do princpio da igualdade prevenido no art. 35 da
Constituio da Repblica (daqui em diante, abreviadamente CRM), uma vez que este princpio
no s vincula as instituies pblicas mas tambm em igual medida vincula as instituies
privadas conforme resulta do n. 1 do art. 56 da CRM. Ademais, estando por hiptese de chinelos
num restaurante que estabelea um dresscode ou simplesmente um cdigo de vesturio que no
permite a admisso de pessoas trajadas dessa forma, um homem que pretende pagar pelos
servios, o prestador de bens e servios ao impedir a sua entrada estar em ltima anlise a fazer
uma recusa de prestao de servios ao consumidor, cometendo assim uma prtica abusiva
legalmente proibida na al. h) do n. 1 do art. 29 da lei 22/2009 de 28 de Setembro, Lei de defesa
do Consumidor (daqui em diante, abreviadamente LDC). Assim sendo, o estabelecimento de
cdigo de vesturio como condicionante a prestao de servios ilegal. Contudo, quando o
vesturio ofenda o pudor pblico, ai j teremos fundamento vlido para a restrio da sua entrada,
em ateno ao seu tratamento em sede de Direito Criminal. De outro prisma, havendo
perturbao no estabelecimento, teremos situaes que podem fundamentar a retirada/limitao
da permanncia de um determinado consumidor ou grupo de consumidores.
O grave problema do consumo mnimo que constitui por um lado um acto discriminatrio na
medida em que se processa a negao de prestao de bens e servios a uma certa camada social
economicamente desfavorecida que se encontra aqum dos limites mnimos, onde mesmo
pretendendo adquirir um bem ou servio dentro da sua disponibilidade financeira (p. ex: comprar
gua), impossibilitado, ou melhor, impedido, tudo porque deve consumir at um certo valor
quantitativo para que os servios lhe sejam prestados.
Outro problema que detectamos a espcie de coaco, que tanto pode ser ao consumo como ao
pagamento.
Esta situao observada do ponto de vista amplo ilegal uma vez que o legislador pro
consumidor, classifica como prtica abusiva e probe a imposio de limites quantitativos na al.
a) do n. 1 do art. 29 da LDC.
Quanto a coaco ao pagamento, mais notria a existncia de uma violao dos Direitos dos
Consumidores visto que este s deve pagar pelo que efectivamente consumiu e no pelo que
virtualmente, na viso do prestador, este deveria ter consumido.
Como j foi minimamente expendido, a venda casada refere-se queles casos em que o
consumidor para aderir a prestao de um bem ou servio obrigado a adquirir um outro, como
condio para aderir ao primeiro. No nosso meio a venda casada uma realidade nos vrios
meandros da actividade econmica, do mais baixo ao mais alto nvel. Pense-se naqueles casos em
que um consumidor se dirige a um local de culto vespertino e l, lhe cobrado alm do
pagamento da entrada uma certa quantia de consumo seja de comidas ou de bebidas. Ou de forma
mais elucidativa, pense-se naquelas situaes em que o consumidor se dirige a
uma lanchonete ou estabelecimento afim com o intuito de adquirir uma sandes e chegado l, no
o possa fazer sem que pague pela aquisio tambm do refrigerante e das batatas, sendo por fim
cobrado pelo conjunto num preo nico. Em ambos casos estamos em face de condicionamento
ilegal por parte do prestador que consubstancia uma prtica abusiva prevista e prevenida na al. a)
do n. 1 do art. 29 da LDC.
Agora, situao diversa e bastante questionvel a dos contratos de telefonia mvel praticados c
na Prola do ndico uma vez que o consumidor fica durante certo interregno de tempo, a pagar
no s pelo crdito telefnico como tambm pelo telemvel que foi casado ao crdito e embutido
no contrato. Nestes casos, julgamos que se est em presena de uma venda casada oculta, visto
que no se oferece ao consumidor a opo de pagar somente pelo crdito que lhe concedido
sem que com isso tenha de pagar igualmente (ainda que a longo prazo) pelo telemvel.
Nestes casos em especfico, o consumo e ou aproveitamento dos bens fornecidos pelo prestador
no corporiza uma situao de aceitao tcita no sentido avanado pelo n. 1 do art. 217 do
Cdigo Civil, uma vez que o facto de o consumidor ter aproveitado do bem prestado sem sua
solicitao, no constitui um sinal de que o mesmo se disponibiliza a pagar, tudo porque para
alm do facto de o consumidor s dever pagar pelo que houver consumido, este tambm s
dever pagar na medida dos seus pedidos.
1. A questo da no devoluo
A questo da no devoluo sem sombra de dvidas a violao dos direitos dos consumidores
mais emblemticas que ocorre em Moambique. praticamente uma regra nos estabelecimentos
comerciais encontrar uma placa escrito no aceitamos devoluo em claro desrespeito pelos
direitos bsicos dos consumidores. Este um daqueles casos que denotam o quo enraizado est
e se criou um costume mercantil contra legem com efeitos nefastos.
A no devoluo pode comportar duas realidades, sejam elas a devoluo do bem para efeitos de
troca ou reparao, como tambm a devoluo do bem para posterior devoluo do valor.
Outra face tpica dos casos de violao dos direitos dos consumidores a perda dos valores nos
pagamentos em prestaes. Sucede que a esmagadora maioria de comerciantes estipula
contratualmente que havendo incumprimento por parte do consumidor (quer porque extrapolou
os prazos para pagamento da prestao subsequente, quer porque no mais conseguiu pagar as
prestaes ou qualquer outra razo), o valor que tenha sido pago fica perdido a favor do
fornecedor de bens e servios. Esta situao bastante incmoda pois o consumidor
duplamente lesado pois perde o bem que j era (pelo menos virtualmente) seu nalguma quota, e
perde igualmente todos os valores que investiu para aquisio do bem no importando a
percentagem de satisfao do valor por referncia ao valor global da coisa. Esta situao
colocaria o fornecedor de bens e servios em um autntico enriquecimento sem causa as expensas
do fragilizado consumidor.
Atento a este tipo de situaes, o legislador alm de dispor na al. b) do n. 1 do art. 22 da LDC
que as clusulas que retirem ao consumidor a opo de devoluo do valor j pago so
consideradas nulas e de nenhum efeito, veio reforar este entendimento especificamente para os
casos de pagamentos em prestaes no art. 26 da LDC onde vem indubitavelmente robustecer a
nulidade deste tipo de clusulas