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(069 Orientaglo Vocacional Ocupacional: novos achados tericos, tSnicos ¢ instrumentais para a clinica, «escola e a empresa /organizado por Rosane Schotgues Levenfus e Dulce Helena Penna Soares. ~ Porto Alegre : Armed, 2002, 1. Psicologia ~ Orientagdo vocacional. I. Levenfus, Rosane Schotgues. II Soares, Dulce Helena Penna. Il Titulo, DU 15998 Catalogasio na publicago: Ménica Ballejo Canto - CRB 10/1023, ISBN 85-363-0015.9 ORIENTACAO VOCACIONAL OCUPACIONAL _ NOVOS ACHADOS TEORICOS, TECNICOS E INSTRUMENTAIS PARA A CLINICA, A ESCOLA E A EMPRESA ROSANE SCHOTGUES LEVENFUS | DULCE HELENA PENNA SOARES & COLS. 1on023 Geracao Zapping ¢ 0 Sujeito da Orientacao Vocacional Rosane Scho s Leventus GERACAO Z A Geragio Z nasceu plugada nesse mundo globalizado. E impossivel, para ela conceber um mundo sem computador, chats, telefones celulares. Chamamos de Geragio Z pelo seu comportamento de Zapear, ou seja, e amudade uum canal para outro na televisio sem deter-se em praticamente nenhum. Sobrepem 0 uso da internet, do video, dos CDs musicais e dos telefones com a maior naturalidade Essa geragio que nao se tranca no quarto para se isolar do mundo, mas sim para se plugar nele, tendo acesso a informagSes jamais obtidas por jovens de eras passa das, de dentro do quarto abrem N janelas para 0 mundo. E como lidam com isso tudo? Serd que se aprofundam em cada informago? Eles sabem 0 que buscam ou simplesmente zapeam as informagies, os parceiros, a I de TV esti ficando chato, 0 jovem Seéa familia, as fontes de entretenimento? Se um cal vai zapeando enquanto conversa ao telefone e ouve sua musica preferida conversa que esta ficando chata, ele mesmo tempo, ouve sua miisica preferida, que agora muitas misicas diferentes a ¢do do entretenimento. Os cantores, compositores, juventude. Sio zapeados também e vio pi melhor, em um clicar de mouse Nio fazem a menor qu seus pais nos anos 60. Adoram o conti Alé Consumir uma das suas atitudes principais Os jovens abdicaram de projetos coletivos, niio apresentam a menor intengiic em romper com 0 sistema e desejam 0 sucesso econémico sem a menor cu tem gerado muitas ar ica 0 que est rolando em um ¢ outra, pois gosta de ouvir mesmo tempo. Gosta da miisica por diversio. E a ger ‘ones dessa e tio de sair de casa para morar sozinhos como sonhavam to tecnol6gico proporcionado pelos pais. 1 disso, 6 mais barato e a adolescéncia foi prolongada a tal te jo de trabalho com menos de 30 anos. Isso tias, pois estar bem colocado em um mercado de trabalho no qual o conceito “emprego sar, Querer escolher uma profissio com garantias de estabilidade existe mais. Até mesmo porque as fronteiras entre as profissO vem desaparecendo é uma ques io ainda dificil de proces- utUTO... 1880 s esto completamente im para Orientag3o Vocacional UL fis. Hi muito tempo as frontei lolescéncia e desta para a vida outros de 22, 28 anos. fies 60 de auxilid-los a mante: imadurecam nesse mundo cada }real e o virtual }humanitério e ético em me 5, porque, embora ja possamos keorientadore: byista que nem todo comport ncia ja com Orientacio Profiss: ise ado Vocacional hi muito tempo dei }.Tentar orientar Fmuita confusio. Jmentos de timidez e de propor- fe sexo e de tio pouco uso da has e acessiveis; de torres que ente, sua fami Hlaro que estar bem informado Inada a vida de quem ain. leamente as informagses e tran Jue, entre um hambiirguer, uma fle ao computador e a controles Hade de profissionais da saad P (Vannuchi e Duarte, 2001) [ormagGes nfo acompanha o rit Jos perguntamos: como estuda Joje busca uma vaga muito con fede cursos por disciplinas, dk Jiais. Se pudessem... implantari lados, © jovem sofre com seu fem muito com isso, visto que $ universidade ho médio tem (ou deveria ter) F Além de nio ser culpa deles pocaem que Orien Drigatoriedade curricular joga 0 le decidird seu futuro fios a abandonam ainda no pri- Venfus, 1997); Pacheco, Silva, 1998; Avancini, 1998). Alguns $a insatisfacio com a escolha. bbras Vocacionais (TEV), que 0 ffurecimento emocional pablicas pouco Dé para ficar zapeando vagas na faculdade tamb a conquista foi dura. E, quando a brinca: os bancos universitirios, fazendo com que as univ cidade 1? Claro que ndo, pois afinal so da familia, e idades federais operem com metade de sua cap: OSUJEITO DA ESCOLHA. Tanto em Orientagdio Vocacional Ocupacional (OVO) individual quanto grupal tanto no procedimento Jo na clinica quanto na escola ou empre: > trabalho de orientar jovem profissionalment preciso pensarmos pectos, em qui m € 0 sujeito da escolh: Ao definir quem 6 0 sujeito que recorre 4 OVO, torna-se imprescindivel reforcar que me refiro Aqueles que procuraram servigos de Orientagdo Profissional ~ seja n escola, nos cursos pré-vestibulares, nas empresas, nas universidades — e no aqueles assaram por processos de Orientagao Profissional porque deter- minada escola os inseriu automaticamente em um program: Considerando o fator anterior, na maior parte das vezes deparamo-nos com um clientela pi 2000," 7. sexo masculino, Em su totalidade, os sujeitos concentraram-se por faixa etdria nas seguintes proporgd sdominantemente feminina, Em 1.059 sujeitos por mim atendidos entre 1995 teram do sexo feminino, contra apenas 274 Observa-se a maior concentragio em jovens que esto em vias de concluir 0 ensino médio ou que o tenham concluido recentemente Conforme outro estudo (Levenfus, 1997a), a consolidago da identi sional desponta como uma das tiltimas tarefas da adolescéncia. M busca OVO nem sempre est te, Ver en rer ao término do ensino médio, momento este que nem sempre coincide com a maturidade necessdria a essa tarefa. A identidade ocupacional nio é uma aquisi¢io independente da formulagio da identidade pessoal e se submete as mesmas leis e dificuldades que conduzem a essa conquista 54 Levenfus, Soares & Cols. Considerando+ sujeito em crise vita a OVO com deman bufram para que se Dentre outras relatos de processo ram um membro da senga constante de conseguem se decic A partirdessas cesses fatores foram apresentassem difi nadas a esses faton dai jidade do sujeito, partindo de um mminada e determinante na relagio ‘Como a identidade ocupacional é um aspect sistema mais amplo que a compreende, ‘com toda a personalidade. Portanto, os problemas vocacionais terdo que ser entendidos como problemas de personalidade determinados por falhas, obstéculos ou erros das pessoas no alcance da identidade ocupacional. (Bohoslavsky, p. 55, 1982) A partir da andlise de contetido de autobiografias (semidirigidas) realizadas pe- los 1.059 sujeitos referidos anteriormente, que procuraram espontaneamente ajuda para a resoluc2o do impasse vocacional, é possfvel observar algumas questdes.?™ Apresento, em percentuais, a freqliéncia com que determinada situagao foi identficada, podendo constar uma ou mais em cada caso: Pais separados 17.66% Reprovagio escolar 128% Qualidade dos vinculo determinantes dos vin Separagio-individuagio. 161% Alcoolismo de um dos pais 102% seria importa lescéncia normal jam bem-resolvide lados, os desejos ¢ mento que a escol Sendo uma fi derada como um acerca da sindron Morte de membro da familia mclear 10. Distirbioalime "Timidez 66% Depressi 1 sven zee ‘cam esse moment Fobia 38% pais da infincia. 1 Sofeu alguma carga 36% ences) : = adolescente defer “Transtomo Obsessivo-Compulsivo 35% Em uma sue ‘Outras mores tauméticas 27% identidade pesos nas primeiras ide Doenga psquitricana fama 7 oe Aboro rr social (Castro, 2 Para enfren Vim de abuso sewalestupro 123% PAlidos lagos af Filhova de mie solteira 095% erespeito as nece Caso contrario,¢ lugdo do process Cidade integrativ adolescéncia pre neuréticas. Dess ssa pesquisa fol realizada para fins de estudo-piloto da dssertago de mestrado de Levenfus, 2001 ‘maturagio dessa °O procedimento de aplicago de atohigrafa em Orientaglo Vocacionalenconrasedetalhado no Captulo If Com relagi | — sa sea — 7 Teseéncia consid instrumentoautobiogréfico fo aplicado em conjunto com una esala de comportamentoclaborada para este i este foci of « com o Test de Frases Incompletas de Bohoslavsky (1982) ver 0 Capitulo 19 deste ivo. O material fi submes Deirrtves desta tido& teste de fidedignidade, sendo analisado por dois professores doutores com experiéncia na técnica de And de Conteddo (Bardin , 1991). Verficou-se ser possivel utilizar para essa pesquisa apenas o material recohidoas partir das autobiografias. Orientagdo Vocacional Ocupacional $8 Considerando esses dados, percebemos que o sujeito da escolha é realmente um sujeito em crise vital, que apresenta com frequéncia crises acidentais e que vem para a OVO com demandas particulares muito importantes. Esses e outros fatores contri- buiram para que se valorizasse cada vez mais o diagnéstico de orientabilidade. Dentre outras questdes, chama a atengo a grande incidéncia de jovens com relatos de processo de separagio-individuacdo malresolvidos, de jovens que perde- ram um membro da familia nuclear por morte e, talvez menos surpreendente, a pre- senca constante de filhos de pais separados dentre os jovens vestibulandos que nio conseguem se decidir profissionalmente. A partir dessas incidéncias, todas referentes a questes de relacionamento objetal, esses fatores foram pesquisados como possiveis contribuintes para que esses jovens apresentassem dificuldades de decidir-se profissionalmente. As conclusdes relacio- nadas a esses fatores so tema dos Capitulos 10, 11 e 12. dade do sujeto, partindo de um inada e determinamte na relagio acionais terio que ser entendidos falhas, obsticulos ou erros das lavsky, p. 95, 1982) (semidirigidas) realizadas pe- aram espontaneamente ajuda bservar algumas questdes.?34 inada situagio foi identificada, 17.66% 128% Qualidade dos vinculos primérios como er determinantes dos vinculos futuros 102% Seria importante realizar, nesse momento, um breve resgate com relagao & ado- | lescéncia normal jé que, embora muitas vezes os contfitos relacionais ainda nao este a jam bem-resolvidos, a imagem de si mesmoe de seus ideais ainda estejam mal-articu- 1% lados, os desejos dos pais e as possibilidades escolares mal-elaborados. E nesse mo- a mento que a escolha profissional deve ser feita (Soares-Lucchiari, 1997). Sendo uma fase revestida de muitas separagdes e perdas, a adolescéncia é consi- a derada como um momento de luto. Por isso Knobel (1986), em seu famoso estudo 39% acerca da sindrome normal da adolescéncia, enumerou uma série de lutos que mar- cam esse momento: a perda do corpo infantil, da identidade, dos papéis infantis e dos 3.8% pais da infincia. Para 0 adolescente, essas mudangas, assim como as exigéncias do x mundo circundante, so sentidas como invasivas e, apesar do desejo de evoluir, 0 adolescente defende-se, tentando manter as aquisig6es infantis. 35% Em uma sucessio de movimentos progressivos e regressivos em busca de uma am identidade pessoal, sexual e vocacional, o adolescente ir, necessariamente, apoiar-se - nas primeiras identificages com os pais, nas relagdes intemalizadas com eles e nos Be. vinculos e suportes que a realidade externa ofereca através do contexto familiar € 16% social (Castro, 2000) —$—$—— Para enfrentar as angiistias proprias dessa fase, é fundamental a existéncia de sélidos lacos afetivos na infancia com certa autonomia no funcionamento intelectual e respeito as necessidades do adolescente e suas tentativas de organizago aut6noma. Caso contrario, o caos da realidade soma-se ao caos interno, comprometendo a reso- lug do processo adolescente na fase final da adolescéncia, sobrecarregando a capa- cidade integrativa do individuo. Em decorréncia disso, pode emergir o fen6meno da adolescéncia prolongada, fracassos totais na resolugdo dos conflitos ou adaptagdes neuréticas. Dessa forma, 0 adolescente tomna-se incapaz de desempenhar a tarefa de aturagdo dessa fase, ndio conseguindo estabelecer a identidade do ego (Lilja, 1998). Com relagZo aos s6lidos lagos afetivos na infancia, novos estudos sobre a ado: lescéncia consideram que um nivel adaptativo de apego entre adolescentes e seus pais pode facilitar os comportamentos exploratérios necessdrios & consecugio das tarefas evolutivas desta faixa etéria: a aquisigao de identidade pessoal e vocacional (Grotevant Cooper, 1985, citado por Magalhaes e cols., 1998). Verificou-se também a existén cia de vinculagao entre atmosfera familiar e escolha de carreira (Ferreira, 1992). fo de Levenfus, 2001 onra-se detalhado no Capitulo 18 portamento elaborada para este fim dest livro. O material fo subme xperitncia na técnica de Andlise sa apenas o material recolhido a Qualidade na elabora Levens, Soares & Cols Para Castro (2000), se os Tutos niio forem elaborado’ e a reorganizagio nio cocorrer, a vivencia dessas ansiedades pode tornar-se traumitica e o desenvolvimento poderd ser freado pelas impossibilidades da evolugao dos processos de simbolizagao. Haveria um transbordamento dessas experiéncias intensas que necessitariam ser mntificagdes projetivas, para o exterior, gerando uma desorganizacio e uma regresstio dos processos simbélicos. Pelas dificuldades de pro- cessamento psiquico e de simbolizaco, so utilizadas outras vias de descarga para sua externalizacio, como, por exemplo, a somatizacio. E importante ressaltar que na maioria dos pr > trabalho de uto, de uma forma geral, est envolvido essos psiquicos. Ele funciona como um fator de desligamento, tanto no desenvolvimento normal como na resolugo de disttrbios psicopatol6gicos. O traba- Iho de luto desempenha um papel central no sendo que as diferen sucesso de lutos, li Isso se rnvolvimento do ego do individuo, normal podem ser consideradas como uma dos dis mudangas, ao longo de toda a vida (Quinodoz, 1993). -onfirma com 0 conceito de luto formulado por Bromberg (1997): 0 luto nérica ao rompimento de um vinculo, a uma separacdo, Ocorre normal- mente no desenvolvimento humano, mas deve- rago ao ind etapas da evoluga levar em conta a qualidade da sepa- ar que a figura vincular € aquela que tiver oferecido uma base de seg ranga que permite ao individuo a exploragao do meio, de modo que, em situagio de ameaga ou risco, ele possa af nulo ameagador e proteger-se junto aqu Ia figura. Com a perda dessa figura, nfo ha mais esse porto seguro, tornando a exp. rigncia aterrorizante e afetando diversas freas da existéncia humana. A qualidade do Vinculo primariamente estabelecido determinard os vinculos futuros e 0s recursos disponiveis para o enfrentamento e a elaboracio de rompimentos e perdas. Vinculos ansiosos sio responséveis por relagdes de dependéncia, enquanto que os vinculos seguros permite o desenvolvimento de seguranca e da auto-estima Nesse mesmo sentido, Bardibar (1999, p. 1) ressalta que ar-se doest O ser humano necessita manter-se unido a um objeto. A desuniso a efeitos emocio nais, em especial quando a separago vem imposta pelo outro. Sobr \do, dependendo de quais foram seus primeiros objetos relacionais, seus pais, e como a sua relag3o com eles foi vivida no inicio de seu desenvolvimento, perceberemos como o sujeito se vé afetado pela separacao; se foi preparado para as futuras mudangas da vida, Assim como algumas teorias conceituam o processo de luto como uma forma de ansiedade de separagao, esta é conceituada por outros estudiosos como algo que pode desencadear processos de desorganizacio psicossomitica, pois esses sujeitos, frente a perdas objetais, teriam seu equilfbrio econémico rompido (Menezes, 2000) Independente de a perda ser real ou simb6lica, essa se somard As perdas proprias do desenvolvimento. Em termos do processo de escolha profissional, como apresentado nos Capit los 10, 11 e 12, cada tipo relacional complicador ~ morte, separago, simbiose = afetou o processo. Os grupos comprometidos com esse: sentaram preocupagde: um colorido especial. fatores complicadores apres dispersavam os sujeitos da tarefa ou imprimiam a mesma Existe ainda psicologicamente n Crise adolescente eleva Emum momet dolégicas de flexibi sagem de um model adaptacao is mudan demandas do mund ‘cubo. Seria de se es da escolha profissio Se, como apon sublimacio e de tod do sujeito com o mt quio comprometide nessa pesquisa, apre ‘ou com traumas que Se oadolescen quanta energia psiqu te muito depende da téncia de muitos trat Conforme Mag de conflito para que minaco, compara tar profissionalments 4 qualquer efeito, p Embora muitos priratarefa da decist superpdem-se a dive interpretagio e de ju ea capacidade para! escolha madura e aju ‘A questiio aqui © trabalho de luto o Proposto para a escc somadas crises acide raco dos pais? Ou, processo de separaga ‘go Vocacional, oter: inconscientes implic: preciso expandir a vi mia psiquica, dentre sucesso, pois “é da ci eapacidade de investt 1993, p. 166), Orientago Vocacional Ocuacional Existe ainda a questo do mercado de trabalho que, cada vez. m psicologicamente muito bem-estruturados (Manfredi, 1998), s, exige sujeitos ados ¢ a reorganizagio nao umiticae o desenvolvimento )s processos de simbolizacio, fensas que necessitariam ser para o exterior, gerando uma 0. Pelas dificuldades de pro- outras vias de descarga para Crise adolescente elevada ao cubo Emum momento da vida repleto de mudangas, com exigéncias externas e merca- dol6gicas de flexibilidade, somado aos achados de pesquisas que indicam que a pas- sagem de um modelo de estrutura familiar a outro exige dos membros da familia uma adaptagio as mudancas de relacionamento, papéis ¢ estrutura familiar, assim como as demandas do mundo externo, a crise adolescente fica, poder-se-ia dizer, elevada ao cubo. Seria de se esperar, realmente, que esses processos interferissem no momento da escolha profissional Se, como aponta Klein (1981, p. 297), “o simbolismo é o fundamento de toda a sublimagio ¢ de todo talento... ¢, além disso, também sobre ele se constr6i a relagao do sujeito com o mundo exterior e com a realidade em geral”, € possfvel presumir 0 quiio comprometidos estio para a tarefa da escolha profissional os adolescentes que, nessa pesquisa, apresentaram-se com dificuldades na resolucio do vinculo simbictico (ou com traumas que comprometem a fungio simbélica Se o adolescente € atropelado em sua vida pela perda prematura de um dos pais, quanta energia psiquica estaré disponivel para seus futuros investimentos? Certamen te muito depende da capacidade elaborativa, mas, nessa pesquisa, percebe-se a exis- {éncia de muitos traumas residuais nos adolescentes com tais perdas. Conforme Magalhies (1999), se o sujeito nao dispuser de recursos de ego livres de conflito para que possa exercer, sem distorgdes, as fungdes de exploracao, discri minagio, comparagao, planejamento e de teste de realidade, toda a tentativa de orien {ar profissionalmente o sujeito com uma mera apresentagao de informagies nao surti qualquer efeito, pois o mesmo no consegue projetar-se nos papéis ocupacionais. Embora muitos jovens indecisos tenham a consciéncia da necessidade de cum- prira tarefa da decisio ocupacional, fatores de personalidade, interpessoais ¢ afetivos superpdem-se a diversos outros elementos, tais como a capacidade de adaptacio, de interpretacdo e de juizo da realidade, a discriminacdo e a hierarquizacao dos objetos, a capacidade para tolerar a ambivaléncia nas relagdes de objeto necessérias a uma escolha madura e ajustada. A questo aqui discutida é a de que, se pa © trabalho de luto ocasiona uma crise temporéria que pode interferir no momento proposto para a escolha profissional, © que se poderia dizer, se a isso tudo forem somadas crises acidentais como a perda de um membro da familia nuclear ou a sepa- racdo dos pais? Ou, se a isso tudo for somado um comprometimento por falhas no processo de separacio-individuacio? Torna-se notério que, no processo de Orienta G40 Vocacional, o terapeuta precisa estar atento is diversas demandas e as motivagdes inconscientes implicadas nos movimentos que o adolescente opera nesse momento. E preciso expandir a visio de diagnéstico de orientabilidade para a questo da econo- mia psiquica, dentre outras, se for desejado que a Orientagao Vocacional ocorra com sucesso, pois “é da capacidade de fazer o luto pelos objetos perdidos que depende a capacidade de investir em novos objetos e de Ihes atribuir todo 0 seu valor” (Quinodoz, 1993, p. 166). ta forma geral, esté envolvido mfator de desligamento, tanto dios psicopatolégicos. O traba- imento do ego do individuo, ser consideradas como uma ‘aa vida (Quinodoz, 1993). por Bromberg (1997): 0 luto ma separagio. Ocorre normal- emconta a qualidade da sepa- Foferecido uma base de segu- ide modo que, em situagio de adore proteger-se junto aque- (orto seguro, tornando a expe. cia humana. A qualidade do fnculos futuros e os recursos npimentos e perdas. Vinculos fia, enquanto que os vinculos la auto-estima, Uta que: ‘A desuniao gera efeitos emocio- Jo outro. Sobretudo, dependendo S pais, e como a sua relacio com Jeeberemos como 0 sujeito se vé ‘4s mudangas da vida, -a 0 processo normal da adolescéncia §sode luto como uma forma de {studiosos como algo que pode lica, pois esses sujeitos, frente pido (Menezes, 2000). Jase somard as perdas préprias Como apresentado nos Capitu- ‘morte, separacio, simbiose — es fatores complicadores apre- ttarefa ou imprimiam a mesma 58 _Levenfus, Soares & Cols O prisma da Orientagio Vocacional ocupacional ¥ por isso tudo que prefiro conceituar a Orientago Vocacional Ocupacional de forma muito diferente do que a técnica intitulada Orientagao Profissional.® Posi- ciono-me, como Bohoslavsky (1982), entre aqueles que tratam de definir esta pritica como um processo de tomar consciéncia, no qual a Pedagogia ¢ a Psicologia se e contram, Neste campo, mostra-se importante tanto a interpretaco do que se expressa livre etransferencialmente das sobredeterminagées subjetivas da identidade vocacional, como das relagGes de producio e de poder préprias do sistema social que, por sua vez, também esti postas na parede pela mobilizacao ideol6gica do adolescente (Leventus, 1997n). Tudo isso significa que uma pritica responsdvel em Orientagio Vocacional Ocupacional nao pode ser alienada a ponto de perder-se de vista que muito do que 0 individuo pode chegar a ser éreflexo do quanto a estrutura social Ihe permite chegar ser e, por outro lado, do quanto o individuo emocionalmente so pode apropriar-se de sua escolha e se realizar, ainda que perante uma estrutura social por vezes alienante E preciso reconhecer, ainda, que o homem trabalha para viver, mas, a0 mesmo tempo, pode obter prazer das atividades produtivas. Independente do grau de riqueza € educagao, o trabalho ocupa grande parte do tempo de vigilia do ser humano. Uma das formas de prevenir os grandes conflitos psicol6gicos do homem consiste em faci- litar 0 desenvolvimento da personalidade por meio da intervengo nos pontos transi cionais do ciclo vital (Bordin, 1975). ‘Uma pessoa saudvel, em desenvolvimento continuo, ser capaz de influenciar seu préprio desenvolvimento e seu meio de forma auto-reguladora, interativa € coo perativa. Andrade (2000) aponta a Orientacio Profissional como um considerdvel fator de ajuda para que o individuo aprimore tal desenvolvimento, Dessa forma, percebendo a Orientacio Vocacional como atendimento profilético ide mental, € muito adequada a posicao de Valore, Francisco, Felipe e Monica ecessidade de se conhecer os miltiplos fatores determi nantes da escolha profissional, “para poder realizé-la de modo pessoal, consciente aut6nomo; para auxiliar na construgio de uma identidade profissional integrada identidade total do sujeito e ao seu papel social” Reservo termo Orientagdo Profisional para. os trabalhos que informam e orientam a respeto das profissties, mercado de trabalho, aplicando ténicas de aprendizagem, sem aprofundar-se nas questdes psiquicas do orientanda ‘A Orientago Profissional é um trabalho extremamente necessrioe, acreito, deveria compor obrigatoriamente os currculos escolares ~ pelo menos durante todo o ensino médio ~ 8 que € notrio o quanto a falta de informagéel redunda em escolhas equivocadas. Considero a Orientagdo Vocacional Ocupacianal um processo mais abrangentc, que diz respito no somente 8 inf magio das profistes, mas a toda uma busca de conhecimento a respeito de si mesmo, de caactriticas pessoa familiares e sociais do orientando, promovendo o encontro das afnidades do mesmo com aquilo que pode virg realizar em forma de trabalho. Classific-a, portant, c visa buscar uma identidade profissional (Levenfus, 197m), ‘Saliento que, neste livzo, utilize’ ambos os termos j& que nada foi ofiialmente insttuido com relacio a es terminologia,e em respeito 3s diversas clasificagSes uilizadas por cada autor colaborador. ‘uma abordagem psicoldgica, ou psicopedag6zica, E no final? Nada é definiti cidade de tolerar as ¢ vele solida. Mas, co! co dura tanto quanto cele demanda uma ate de modo a efetuar it cada vez.0 equilibrio ‘mudanga. A pessoa minando o movimen propria vida. REFERENCIAS BIBLIOG) 'ANDRADE, T. Sete aspectos da 'AVANCINI, M. Evasio in univer mmaio 1998, Caderno Cotidian BARAIBAR, JE. Reflexiones Intereanvis2.htm. Acesso em: BARDIN, L. Andlise de conteidh BERTELLI, S.MR.B.Evasioda L TEV. In: V Simpésio Brasile ‘Si Paulo: Vetor, 2001. p. 63. BOHOSLAVSKY, R. Orientagde BORDIN, E. Asesoria psicoldgic BROMBERG, M.HPE. Lito: an de julh.html Acesso em: 12 n¢ CASTRO, MGK. Um olhar ci adolescentes em psicoterapia. 1 Tescentes, se 2000, Gramado. JIRA, B. W. Adolescentes Alegre: Faculdade de Educaga HOTZA, M.A.; LUCCHIARI, D. Simpésio Brasileiro de Orienta Brasileiro de Orientagdo Voca i, M. Contribuicdes a psice )BEL, M. A sindrome da ado ‘ela normal. 5.ed. Porto Alegre IS,R.S. A repercussi0< sional. Porto Alegre: Faculdac Psicologia Clinica.) « Vestibular: ritual de pas Sional. Porto Alegre: Artes Mé . Término da adolescéncit “Pricodinamica da Escolha Proj « Orientago Vocacion: Psicodindmica da escolha prof 9 onal Ocupacional al Enofinal? Nada é definitivo. Poder'se-ia pensar que a pessoa que consegue adquirir a capa- cidade de tolerar as angistias da separagao sinta-se segura de si, porque se tornou esté- vel e s6lida. Mas, como bem aponta Quinodoz (1993), a busca de um equilfbrio dinami- co dura tanto quanto a vida, porque esse equilibrio jamais ¢ adquirido definitivamente; cele demanda uma atengo em todos os momentos para que se possa sentir o movimento de modo a efetuar imediatamente as correcdes de posigdo necessdrias para recuperar & cada vez.0 equilibrio que se sabe estar constantemente ameacado, pois esté sempre em mudanga. A pessoa apenas adquire um equilibrio psiquico dinimico, nao apenas do- minando 0 movimento, mas jogando com ele, como o surfista que tira seu balango da propria vida. gntacdo Vocacional Ocupacional’ a Orientagio Profissional’’ Posi- Sque tratam de definir esta prtica a Pedagogia e a Psicologia se en- lninterpretagio do que se expressa jubjtivas da identidade vocacional, dosistema social que, por sua vez, tol6gica do adolescente (Levenfus, isivel em Orientacdo Vocacional der-se de vista que muito do que 0 pstrutura social Ihe permite chegar jonalmente sio pode apropriar-se strutura social por vezes alienante. abalha para viver, mas, a0 mesmo blndependente do grau de riqueza bo de vigilia do ser humano, Uma 308 do homem consiste em faci- {da intervengo nos pontos transi- REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS IANDRADE,T. Sete aspects da orientagdo. Bole da ABOP, Campinas, n.36, pul. 2000. IAVANCINI, M. Evaso in universidade pablicachega a 40%. 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A repercussio da ansiedade de separagoc das perdas no momento da escola pofis- ontinuo,serd capaz de influenciar auto-reguladora, interativa e coo- pfissional como um considerével senvolvimento. bnallcomo atendimento profilitico lore, Francisco, Felipe e Monico lecer os miltiplos fatores determi- a de modo pessoal, consciente © entidade profissional integrada & ito, deveria compor obrigatoriamente os ional. Porto Alegre: Faculdade de Psicologia, PUCRS, 2001. 264f. (Dissertagio de mestrado em oro o quanto a falta de informagbes Psicologia Clinica.) Vestibular: ritual de passagem. In: LEVENFUS, R.S. etal. Psicodindmica da escotha profs Be que diz respeito no somente infor= Bional. Porto Alegre: Artes Médicas (Artmed), 1997}. p.199-204, ld ‘Término da adolescéncia e consolidagdo da identidade profissional. In: LEVENFUS, R.S. et al § do mesmo com aquilo que pode vir a Pricodindmica da Escotha Profissional. 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Isto E, Sio Paulo, n.1659, .82-87, 18 jul. 200 Nos Capitulo: de temas paralelos das, que surgiram que podem afetar ¢ Neste capitulo ‘momentos em que Diversos auto duo deve desincun ‘como faz que revi dade e sua integrag jovem vemrealizar tes no seu process¢ pessoa se posicio propria dessas inf Com essas ba referéncias diretar fluéncias, informa pesquisados e analisado

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