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LIVRO'T Capitulo T T 0x2 cidade! ¢ um tipo de associagt,e toda associagto & estabel tendo em vista algum bem (pois os homens sempre agem visando a algo que consideram ser um bem); por conseguinte, a sociedade politica [pélis}, a mais alta dentre todas as associagées, a que abarca todas as outras, tem em vista a maior ‘vantagem posstvel, o bem mais alto dentre todos. Estio enganados aqueles que pensam? que o governo politico én)’, o de um rei [basilikén], 0 doméstico ou do chefe de ikonomikén}*, ¢ 0 despético (despotikén)’ sejam uma sé e mesma coisa, diferindo apenas quanto ao niimero de stiditos, néo vendo que stio modos diversos de autoridade, Eles pensam que, se aquele que governa tem poucos stiditos, trata-se de um senhor; se tem um pouco mais, é um chefe de familia; ¢ se tem um nimero ainda mais elevado é um rei ou um magistrado; como se niio houvesse a menor distingfo entre uma grande famflia e uma pequena cidade, A diferenca entre o governo de um rei e 0 governo {o exereido por um magistrado], de acordo com eles, consistria no lade” no sentido da pélis grega: Cidade-Estado, Estado. (N. doT.) > Cf, Plato, 258 B-259 d.(N.doT.) 2 Isto é, 0 governo exercido;por um magisirado. (N. do T.) “0 exercido pelo chofe de fanilia, (No T.) $0 governo do senhor para coin o escravo, (N. do T.) indo um homem governa sozinho e seu cargo vi ferna no poder] trata-se do governo de um rei € 4) um homem é governante c governado, de modo alternado, causa da Constituigao, o governo € politico. ‘Mas tudo isso é um engano, pois os governos difere! espécie, como fica evidente a qualquer um que considere sunto segundo 0 método que nos tem guiado até aqui. Ne tica, assim como em qualquer outro ramo da ciéncia, para c cer as coisas compostas temos de as decompor (synthero chegarmos aos seus elementos mais simples. Dessa f¢ considerar os elementos dos quais a cidade é composta, vei melhor em que diferem entre si, e se é possivel chegar a al conelusto cientifica e prética acerca desses objetos dos acabamos de referir. Capitulo II ‘A melhor maneira, entio, de estabelecer uma teori matéria, 6 pela considerago das coisas a partir de sua ori em seu desenvolvimento. Em primeiro lugar, deve-se u pares aqueles seres que, como o homem e a mulher, no pod fiear um sem 0 outro, para a geragto; tal associagho € for no por um propésito deliberado por parte deles, mas si um outro ser a imagem de si mesmos. H4 também, por visando & conservagio das espécies, um ser que comanda ¢ 01 que obedece: aquele que é capaz de previdéncia, por sua géncia, € por natureza 0 senhor; ¢ aquele que é eapaz, pelo vigor de sew corpo, de por em agiio aquilo que o senhor prevé, stidito e, por natureza, um escravo; por conseguinte, sc escravo tem o me teresse. ‘A natureza distinguiu a mulher do escravo, porque nfo modo avaro, como os artifices [technites] de Delfos, que fe: facas para diversos fins; ela designa um fim especffico para coisa, O instrumento mais perfeito nfo € 0 que serve para varios uusos, mas para aquele que lhe.¢ proprio: Mas, entre os bérbaros, a mulher e o escravo confundem-se n mesma classe, porque Ié ndo existe“alguém que por natureze ‘comandar: é uma comunidade de escravos dos dois sexos. Por isso © poeta escreveu: s helenos tem, por direito, o poder de comandar os barbaros®, como se, por natureza, brbaro e escravo fossem uma s6 coisa, E dessas duas associagdes, entre o homem e a mulher, ¢ 0 senhor ¢ 0 escravo, que se forma inicialmente a familia (oikia]; e . foi com raziio que Hesfodo disse que a primeira familia foi composta “pela mulher e 0 boi feito para o labor™, pois o boi exerce o papel do eseravo entre os pobres. A familia 6, poi lecida pela natureza para atender As necessidades do dia-a-dia do homem, constitufda pelos, como disse Carondas, vivem da mesma A sociedade que se forma em seguida, formada por varias famflias, constitufdas nao s6 para apenas atender As necessidades cotidianas, mas tendo em vista uma utilidade comum, é a aldeia (komé), Ela assemelha-se a uma col6nia de famflias, cujos membros foram alimentadas pelo mesmo leite®, & por isso que as cidades foram originariamente governadas por reis, como ainda hoje 0 80 algumas nagGes, posto que eram constituidas pela reunido de pessoas que jé viviam sob o governo de um rei: toda casa, com efeito, sendo governada pelo componente mais yelho da familia, tal como por um rei, continuava a viver governada pela mesma autoridade, em razio do parentesco, E 0 que diz Homero: Cada um, senhor absol Para todos prescrev de suas mulheres e de filhos, “ Buripides, figenia em Auli, v, 1.400, (N. do'T,) 1 Hesfodo, Trabalho e Dias, v. 376. (N. do T.) que tiram 0 plo da mesma os honacdpous Hteralmente, “ose comem na mesma ma (N. do T.) 2 ve Os homogdlactas; o8 avés, " Homero, Odisséid, cap. IX, eneigs. (N. do.) 14. Q¥doTT) {sso porque, naqueles tempos primitivos, os homens viviam dispersos por extensos territérios. & por isso também que os homens, nos tempos antigos, que viveram sob 0 governo de um rei, diziam, ¢ 08 homens que ainda hoje vivem nessa forma de governo dizem, que os deuses vivem sob 0 governo real. Bles imaginam os deuses segundo a pr6pria imagem, e do mesmo modo atribuem a eles 0 seu préprio modo de vi E quando’ varias comunidade, a qual possui todos os mei surge a Cidade (pélis), formada o1 rmente para atender as necessidades da vida e, na seqtiéncia, para 0 fim de buscar viver bem, Assim, se em sua forma inicial essa associago era conforme ta € 0 fim daquela & justamente 0 seu [que atingiu 0 seu completo homem, um cavalo ou uma familia) est4 conforme a natureza; € que a coisa que, superando todas as outras, aproxima-se mais do desenvolvimento completo do que Ihe 6 prdprio, deve ser considerada a melhor. A causa © fim de cada coisa ¢ 0 seu mais perfeito estado, e bastar-se a si mesma 6 0 fim de cada ser e a sua exceléncia, Fica evidente, pois, que a Cidade € uma criagio da natureza, € que o homem, por natureza, é um animal politico [isto é, destinado a viver em sociedade], e que o homem que, por sua natireza e no por mero acidente, ndo tivesse sua existéncia na cidade, seria um ser vil, supetior ou inferior ao homem. Tal individuo, segundo Homero, é “um ser sem lar, sem familia, sem leis’, pois tem sede de guerra e, como nfo é freado por nada, assemelha-se a uma ave de rapina. Que o homem é um animal politico em um grau muito mais elevado que as abelhas ¢ os outros animais que vivem reunidos & evidente, A natureza, conforme frequentemente dizemos, niio faz nada em vio; ela deu somente ao homem o dom do discurso (Igas). O mero som da voz é apenas a expressito de dor ou prazer, ¢ disso stio capazes tanto os homens como os outros animais, Mas enquanto estes titimos receberam da natureza apenas essa faculdade, nés, os homens, temos a capacidade,dedistinguir-o bem do mal, o titil do Ideias se unem em uma tinica e completa para bastar-se a si mesma, "*Homero, Iiada, eap. IX, v. 63. ee © justo do injusto, Com eftito, & isso o que distingue mente o homem dos outros animais: discernir o bem e 0 ‘mal, 0 justo ¢ o injusto, e outros sentimentos dessa ordem fas quali- dades ou propriedades de suas aces]. Ora, é precisamente a comu- nicagho desses sentimentos o que engendra a familia e a cidade, Assim, por natureza a Cidade é antérior & familia e ao individuo, uma vez que o todo é necessatiamente anterior & parte. Se 0 corpo é destrufdo, no existiré nem o pé nem a mio, exceto por simples analogia, quando se diz, por exemplo, de uma mio de pedra, Todas as coisas sto definidas pelas suas fung6es; e desde o instante em que elas venham a perder as suas caracteristicas, niio mais se poderd dizer que so as mesmas coisas, e sim que tio-soment mesmo nome (homdnima). Dessa forma, é evidente que a existe por natureza e que 6 anterior ao individu rndo tem capacidade de bastar-se a si mesm cidade, est na mesma situagaio que a parte relativamente ao todo. Ora, o homem que nfo consegue viver em sociedade, ot que no necessita viver nela porque se basta a si mesmo, nfio faz parte da Cidade; por conseguinte, deve ser uma besta ou um deus. Assim, ha em todos os homens uma tendéncia natural a uma tal associagio; aquele que a fundow no prinefpio foi o maior dos benfeitores. Pois 0 homem, quando atinge esse grau de perfeicio, 6 0 melhor dos ‘mas, quando estf separado da lei e da justiga, ele é o pior todos. A injustiga armada é a mais perigosa; o homem esta provido por natureza de armas que devem servir & prudéncia e & virtude"s, as quais, todavia, ele pode usar para fins opostos. Fis por que 0 homem sem virtude é a mais perversa e cruel das criaturas, a mais entregue aos prazeres dos sentidos e seus desregramentos. ‘Mas a justiga €0 liame entre os homens nas Cidades, pois a adminis- tragio da justiga, a qual é a determinagio do que é justo, é 0 principio da ordem na sociedade politica. Capftulo It Depois de haver examinado quais siio as partes que formam a Cidade, devemos agora falandaygoyemo,doméstico, uma vez que Mio do termo grego areté, significando “vitude -xceléncia” ou “talento"y/(N, do'T.) toda Cidade é composta de membros ou partes, perfeita ou inteiramente desenvolvida), 4: escravos. Ora, como devemos comecat 0 exame do todo de elementos ou partes, e como os elementos princi simpl mulher, 0 pai e os filhos, parece que temos de consi ‘uma dossas trés partes, quais so as qualidades que as ou caracterizam. O poder do senhior sobre o escravo € 0 des 0 do marido sobre a mulher, e 0 do pai sobre os filhos so p para os quais no hé um termo particular em grego", Hé ain outro elemento que, segundo alguns, faz parte do governo dom: eza [econo: ‘que, segundo alguns, é mesmo a sua parte pri também a natureza dessa arte. ‘Comecemos por falar do senhor e do escravo, a fim de ‘© que indispensavel & composigtio da familia, procuran relativamente a esse conhecimento, néo poderfamos ol alguns'® imaginam que exista uma ciéneia do senhor, e que 0 do chefe de faratlia, do senhor de eseravos, 0 politica e o do uma tinica coisa, Outros afirmam que o poder do senhor {desp sobre o escravo contrério & natureza, ¢ que a disting escravo e homem livre existe apenas por lei ou por conve! nfo por natureza, Capitulo 1V ‘A propriedade é uma parte do. 10 doméstica, ¢ adquirir bens 6 uma parte da economia, pois nenhumn home! viver bem, ou mesmo simplesmente viver, sem estar prov’ necessirio, Portanto, como os bens fazem parte da cat de adquiti-los também fazem parte do governo domés como nenhuma das artes que tém um objeto preciso e det Cf. Evica a Nieémaco, V 1134, ai'31. (N. do T.) realiza sua obra sem seus instrumentos prprios, a economia também precisa deles para chegar ao seu objetivo. s bens fazem parte do governo doméstico, e a arte de adquirir esses bens é uma parte da economia, jé que nenhum homem pode viver bem, ou mesmo simplesmente viver, sem que esteja provido do necessirio, E do mesmo modo como nenhuma das artes que possuem um alvo determinado executa completamente seu trabalho sem seus instrumentos apropriados, assim também sucede com a economia, Ora, entre esses instrumentos, uns so inanimados, ¢ Outros stio animados, Assim, para o timoneiro do navio, o leme um instrumento inanimado, e o marinheiro que trabalha na proa é ‘um instrumento animado; em todas as artes, 0 trebalhador 6 uma espécie de instrumento. Um bem que se possui é um instrumento ‘itil para a manutengdo da existéncia, ¢ a soma dos bens possufdos é uma quantidade de instrumentos; ¢ 0 escravo, € uma propriedade animada, e em geral, superior a todas as outras. Se cada instramento pudesse cumprir por si mesmo, obedecendo ou antecipando o desejo do agente, como dizem que faziam as estétuas de Dédalo ou as tripodes de Efesto, as quais, diz 0 poeta’, “vinham por si mesmas & assembléia dos deuses”, se a langadeira tecesse por si mesma a tela, ou o arco tirasse por si mesmo o som das corcias da lira, entio nem 03 arquitetos necessitariam mais de trabalhadores bragais, nem os mestres precisariam mais de escravos. Aqui, contudo, uma outra distingéo Geve ser feita: chama-se “instrumento” 0 que realiza 0 “propriedade doméstica” o que ele produziu, Com efeito, a langadeira, por exemplo, pode produzir mais do que aquilo que lhe foi requerido, enquanto um tecido ¢ uma cama so apenas para o uso. Allém disso, como a produgio eo uso diferem quanto & espécie, © como ambos tém necessidade de instrumentos, deve necessaria~ mente haver a mesma diferenga entre esses seus instrumentos. Ora, "Nota de M. Thurot (op. 4, 6.76), foi 0 primeiro que, : “Dédalo, segundo Diodoro Sfeulo (I, am modo, dew a suas estétuas movimento de vida, pelas atitudes variadas dos bragos © pernas, 20 passo que, antes deles, a estatudria apresentava apenas 0 braco contra 0 corpo e as pertas luma contra a outra, como se v8 nos monumentos que restaram da arte eat também faz, metigio aréssa inovagio introduzida pela cestatuéria ateniense, no Eustfroy nfpodes de Efesto, do qual n ver Homero, lfada, cap. XVI aot 12, ¢ 10 Menon, c. 39. Quanto as ‘Autonjse refere nessa passagem, a6 la consiste no uso, nfo na producdo; ¢ dessa forma, o escravo 60 ‘0 da ago. A coisa possufda deve ser entendida como parte, ssa palavra exprime nflo somente que é parte de uma outra a, mas também que pertence inteiramente a esta £ assim que ocorre com a coisa possufda. O senhor é o proprietiério de seu escravo, mas nfo é parte deste; enquanto o escravo nilo somente & destinado ao uso co senhor, mas é parte deste. ‘Vitnos entéo qual 6 a natureza do escravo e para 0 que esté destinado. Aquele que por natureza nfo pertence a si, mas a outro homem, é por natureza um escravo. E uma coisa possufda pode ser definida como um instrumento de aco, separada de seu senhor, Capitulo V Mas haverd ou no um homem assim? O escravo esté conforme anatureza, para o qual a sua condigao é justa e ttil, ou a escravidio uma violagdo da natureza? De resto, nilo hd dificuldade em responder a essa questio, conduzindo-nos no terreno da raziio © dos fatos. Pois que alguns devemcomandar € outros obedecer no é uma coisa somente necesséria, mas tamb Entre os seres, desde 0 nascimento, alguns siio destinados ao comando, e outros & obediéneia; hé varias espécies, entre eles, de comandantes e comandados, e o comando mais elevado é aquele que & praticado sobre stiditos mais clevados, esse modo, comandar homens 6 mais elevado que comandar animais, pois o trabalho executado por seres mais perfeitos é ele mesmo mais perfeito, Ora, em toda parte em que h4 um que comanda, de um lado, ¢ um que € comandado, de outro lado, 0 resultado ¢ uma obra, Com efeito, em tudo que forma um composto de partes, seja ccontfauas, seja separadas, sempre se manifesta alguma subordinagio recfproca, alguma relagtio de autoridade e obediéncia, e isso se observa nfo s6 nos seres animados, mas também nos objetos que no so, propriamente falando, de vida, relativamente aos quais existe uma autoridade que preside sua harmonia. Mas isso nos afasta demasiadamente do género de-exame que adotamos aqui; ‘amos restringir-nos aos seres vivos. O Ser animado 6 composto, ‘em primeiro lugar, de uma’alma ele um‘corpo, e dessas partes, @ primeira est4 destinada, por natureza, a’comandar, ¢ a outra a ser comandada; todavia, devemos observar a natureza nos homens que trazem a marca desta, © néio naqueles em que ela esté alterada ou degradada. Por conseguinte, devemos considerar 0 homem em perfeito estado de alma ¢ corpo (que € aquele que esté em confor- midade com a natureza), porque nele podemos ver a verdadeira relago entre as duas (alma € corpo), Nos homens viciosos ou dispostos ao vicio, a alma se submete ao império do corpo, porque les siio degradados e organizados, por assim dizer, de uma maneira contréria ® natureza, Deve-se, pois, como dissemos, considerar na constituigio dos ‘eres animados a autoridade do senhor [despética] e a do magistrado politica]: a alma tem sobre 0 corpo um poder despético, e a razio exerce sobre os apetites ou afecgSes humanas um poder de magistrado ico) e de rei, B evidente que a obedigncia do corpo a alma, ea slo dos apetites A razio, é coisa itil e conforme a natureza, € Idade ou 0 comando em sentido inverso seriam muito pre- Judiciais a ambas as partes, O mesmo se dé com o homem em relagiio aos outros animais: a natureza dos animais suscetfveis de serem domesticados ou aprisionados 6 superior a dos animais selvagens; para eles é vantajoso obedecer ao homem, como um meio de preservagio. Além disso, 0 macho tem sobre a mulher uma superioridade natural, ¢ um é destinado por natureza zo comando, e 0 outro a ser comandado, Esse principio [observado em todas as espécies] necessariamente se estende também a espécie humana, Onde quer que se observe 2 diferenga que hd entre a alma e 0 corpo, entre o homem ¢ o animal, verificam-se as mesmas relagGes: aqueles que nfo tém nada melhor a oferecer que a sua forea corporal sfo destinados, por natureza, & escravidio, e para eles 6 vantajoso estar sob 0 comando de um senhor. Por natureza ¢ assim o escravo: pode pertencer a um senhor (@ de fato pértence) i necesstrio para modificar sua sensibilidade, mas nfo possui a razio em sua completude. Quanto aos outros i de nenhum modo da ra idade nfio é dirigida pela razio, mas so conduzidos unicamente pelas impressées que recebem do exterior, De resto, 0 uso dos escravos e.0:dos animais néo ¢ muito diferente: com seu corpo, ambos atendem ao servigo das neces- fades da vida. A propria nétureza:desejou dar caracteristicas tas ao corpo dos homengflivres'¢ a0 dos escravos, dotando alguns com a forga adequada ao trabalho a que siio destinados, ¢ outros, com uma complei¢o inteiramente inadequada para esse tipo de trabalho, porém tteis na vida civil, tanto na arte da guerra quanto da paz, Mas 0 contrério ocorre freqllentemente: certos individuos apenas na aparéncia do corpo so homens livres, enquanto ‘outros, embora com um corpo parecido com o dos escravos, tém a alma de homem livre. ‘Ademais, € fécil compreender que, se essa diferenga puramente exterior entre os homens fosse tio grande, como no caso das estétuas dos deuses, todos concordariam que os indiv{cuos inferiores devem ser comandados, Ora, se isso ¢ verdade relativamente 20 corpo, a distingao seré muito mais justa ainda no que tange & alma; mas niio € tio facil discernir a beleza da alma quanto 0 6 a dos ‘aro, entio, que alguns homens sto por natureza feitos res e outros para ser escravos, € que para estes tiltimos a escravidio é tanto titil quanto justa, Capitulo VI Entretanto, é facil ver que aqueles que sustentam 0 contrério tém razio em algum sentido, pois as palavras “escrav’ “escravo” podem ser usadas em duas acepgbes diferentes. © escravo € a escravidao por lei, bem como por natureza, A qual nos referimos é uma espécie de convengio segundo a qual aquele que ¢ vencido na guerra pertence ao vencedor. Mas muitos daqueles que t8m um conhecimento aprofundado das leis reclamam ‘modo que o fazem contra um orador inconstitucional. Eles abominam a idéia de que o homem que foi vitima de violéncia tome-se escravo de seu opressor e que o obedega unicamente porque este tem sobre ele a vantagem da forga bruta. Mas a esse respeito, os sdbios tém pareceres diferentes. ; ‘A origem dessa disputa e divergéncia é a seguinte: em certo sentido a coragem em alto grau continua sempre vitoriosa; a vit6ria supée sempre uma superioridade em,tudo, de modo que, com efeito, parece nfo haver nentium ponto no exerefcio da forga, que nfo suponha alguma cordgemMas a/divergéncia permanece no que diz respeito & nogio do justo: identificam a justiga com benevoléncia, enquanto outros « identificam com o proprio prinefpio ou axioma que atribui o comando Aquele que possui a superioridade seja em que género for. Se essas duas opiniGes forem isoladas, os argumentos contrétios mostram-se sem forga ou plausibilidade, e a superioridade de coragem nio dé o direito de sujeitar 0s outros. HG os que consideram a lei justa (pois a lei tem sempre alguma coisa de justo), afirmando que a escravidio que resulta do estado de guerra é conforme @ justiga, ¢ ao mesmo tempo a ne} poss(vel que a propria guerra nfio seja justa; e no se p que um homem que nfo merece ser reduzido & escravi escravo, Senio, dizem, ocorreria que homens do sangue mais seriam escravos, bem como 0s seus filhos que fossem vendidos depois de aprisionados pelo vencedor. Os que sustentam essa opiniao no querem dar o nome de escravos aos helenos, confinando o termo aos bérbaros. Mas, enfim, dizendo i questo ao escravo por natureza, do qual falamos ni ‘mesmo se aplica & nobreza, Os helenos consideram como nobres em qualquer lugar, e nfo apenas em seu pais; enquanto & nobreza dos povos birbaros consideram-na apenas como de valor somente para eles, implicando, desse modo, que ha dois ti nobreza ¢ de liberdade, Como diz a Helena de Teodectes!”; Descendendo de uma raga de deuses, ‘Quem ousaria chamar-me pelo nome de escrava? Os partidérios dessa opinito nao admitem, entre o homem livre © 0 escravo, entre 0 bem-nascido o que nio o é, nenhuma outra distingZo a nao ser aquela que existe entre o vicio e a virtude; é 0 mesmo que dizer que o homem nasce do homem e o animal do animal, assim como o homem virtuoso nfo pode nascer seno de pais virtuosos. Ora, essa é sem diivida a intengdo da natureza, mas ‘muitas vezes ela nfio se cumpre. /emos enttio que hé algum fundamento nessa diferenga de opinio; que existem homens livres e escravos pela propria natureza; © que, enfim, essas caracterfsticas se manifestam em certos in " Poeta trégico, diset 0 GB"Aristteles, Os versos citados compdem o fragmento 3 defua o ast) divfduos pela utilidade que alguns trazem pela servidao, ¢ outros pelo exercfcio da autoridade absoluta; que é justo e necessétio que alguns sejam comandados e outros pratiquem o poder com o qual natureza os destinou, Mas um mau uso dessas caracteristicas resultaria em prejufzo para ambas as partes, pois o interesse da parte ¢ do todo, do corpo ¢ da alma, so 0 mesmo; ora, o escravo é ‘uma parte do senhor: é como uma parte animada de seu corpo, mas do qual 6 separado, E por essa razio que hé entre o senhor e 0 escravo um interesse comum e uma amizade reefproca quando foi a natureza que Ihes dotou com essas caracteristicas diversas. Dé-se 0 contrério quando eles esto reunidos apenas por lei ou por efeito de incia [dos homens}. Capitulo VIT iscussio precedente mostra-nos claramente que a autoridade todas as espécies de poder nfo se identificam, a despeito do que alguns afirmam, Um poder se relaciona ao eseravo por natureza, ¢ © outro aos homens livres. O governo doméstico é uma monarquia, visto que toda casa é govemada por um civil ou politico € 0 dos homens livres e iguai De resto, a expressiio “autoridade do senhor” no se relaciona ‘com uma ciéncia (0 poder do senhor ndio é algo que se ensine}, mas a. uma condigfo ou maneira de ser. O mesmo se aplica as pal “escravidio" ¢ * para comandar Siracusa, ensinava aquele homem, mediante pagamento em dinheiro, para a instrugio de jovens escravos na fungi dos servicos domés- ticos, Pode mesmo existir um ensino completo dessa espécie de profissiio, como a arte de cozinhar ¢ outras partes do servigo domés- guns trabalhos sto considerados mais necessérios, outros mais apreciados; ¢ como diz o provérbio, “hé senhores e senhares, € hf escravos e escravos”. Tudo isso, todavia, sfo talentos ou cién- cias de escravos. A ciéncia do senhor consiste no uso que ele faz de 5; € i880 que 0 caractetiza como senhor, e nto @ posse de pessoas, Bssa cigncia, alls, nfo temnada de grandioso ou ex- ‘traordindrio: trata-se apenas de o'senhor saber ordenar o que escravos devem saber como executar. E desse'niodo os que esto em posigao de delegar a um intendente essa tarefa, desveneilham-se dela para se ocupar do governo da Cidade ou do estudo da filosofia, Quanto & ia de adquirir ¢ de conservar a fortuna, ela difere tanto da cia do governar quanto da ciéncia do executar servigos, relacio- nando-se com a arte da caga ou da guerra, Bé o quanto basta no que concemne & diferenga entre o senhor @ o escravo. Capitulo VIII Passemos agora ao exame da propriedade em geral e a arte de adquirir bens, aplicando a essa matéria 0 nosso método usual, pois o escravo é, como vimos, uma parte da propriedade, Primeiramente, poder-se-ia indagar se a ci bens 6 idéntica a ciéncia do governo doméstico [ou economi i E caso nao seja mais, indagarse ela tem com o governo doméstico @ mesma relagio que a arte de fazer langadeiras tem com a do tecelo, ou que a forja do bronze tem com a arte do fundidor de estétuas, Pois ndo se trata do mesmo género de trabalho, uma vez que as fungSes ou servigos dessas duas artes no so os mesmos: um fornece o instrumento, o outro a matéria (por matéria entendo aquilo de que se faz a obra, como a la para o tecelfo, ot! como o bronze para 0 fundidor de estétuas). Fica evidente, pois, que a arte de adquirir riqueza nfo é a mesma coisa que a arte do governo doméstico, pois o que é proprio da ita & procurar os meios, e 0 objetivo da segunda é fazer uso destes, Isso porque a arte do uso dos bens da casa nio pode ser outta seno a ciéncia do governo doméstico. Mas essa ciéncia de adquirir riqueza é uma parte do governo domeéstico ou é uma arte dist daquele que pratica essa cifi deliberar acerca dos meios de obter as riquezas e aumentar as posses (e ‘nome “posse”, do mesmo modo que “‘riqueza”, compreende muitas partes), @ cultura de terras seria uma parte da ciéneia das riquezas ou seria de uma espécie diferente? Isto é, as diligéncias para obter os alimentos necessérios & vida pertencem a arte de adquirir riqueza? Hé diversas espécies defalimentos, e, por essa raziio, diversas manciras de viver, tanto entre‘os homens quanto entre os outros is. Todos necessitam de ali ;havendo dife- em bando, outrt fem isolados © dispersos, ‘sua maneira de obter alimento. Uns s&o carn{voros, outros frugtvoros, répria natureza distinguiu e separou conforine a espécie de alimentos © a ‘A natureza niio deu a todos 0 imento: uns preferem cortos ali- is por que carnivoros ¢ os frugt- facilidade que tém para obté- mesmo gosto para utn mesmo ‘mentos, outros preferem outros. yoros tém diferentes géneros de vida. Essas diferengas igualmente se verificam na vida dos homens. Assim, 05 gue sto inclinados & indoléncia, so némades. Eles obtém ‘sem trabalho ou esforgo 0 alimento de seus animais domesticados, mudando de lugar com seus rebanhos quando estes sto obrigacos a se deslocar em busca de novas pastagens, exercendo, por assim dizer, uma cultura de viventes. Outros vivem da caga, a qual apresenta diferentes formas’ cagadores de presas terrestres [como 08 salteadores de rebanho]; pescadores, que ficam & margem dos pantanos, lagoas, rios e mar, onde ebundam os peixes; € outros, enfim, que ficam nas planicies e bosques onde habitam passaros c animais selvagens. Mas a maior parte dos homens vive da cultura da terra ¢ dos frutos desta, ‘A vida nmade, a pilhagem, a pesca, a caga: so esses os meios empregados por todos esses povos para obter a subsisténcia, bus- cando-a no que Ihes oferece a natureza, sem as trocas nem 0 comér- cio, Os que, porém, sabem misturar esses meios, vivem em abun- dancia, suprindo pot intermédio de um outro aquilo que thes faltava, como 0s que recorrem a pilhagem de rebanho, & vida némade, & caga; e do mesmo mado aqueles que procuram outros meios, levados pela necessidade. Esse género de aquisigio [isto é, a faculdade de conseguir ali- ‘mento por meios préprios] é como um dom com o qual a natureza proveu todos os seres animados, nio s6 na geraglo, mas também quando chegam ao desenvolvim pleto; oviparos trazem em seu invélucro 0 alimento suficiente até que rompam a casca do ovo; ¢ os viviparos so constitufdos de forma a ter em si mesmos o leite que.vai alimentar 0s filltos, por algum tempo. Depois do nasciments, jgualmente a natureza proveu neces- sidades dos seres animados; por.consequéncia, as plantas existem ‘em raziio das necessidades dos animais, e.estes para as neces: dos homens. Os animais que sto suscetfveis de ser domesticados sto destinados ao trabalho e & alimentagio; e quanto aos animais * selvagens, pelo menos em sua maioria, servem tanto para a alimen- tagio como para 0 vestuério ou confeceiio de utensilios ¢ outros instrumentos. Se 2 natureza nada faz em vio ou sem finalidade, necessariamente se conclui que fez tudo tendo em vista a espécie humana. ‘Assim, a arte da guerra 6, de certo modo, um meio natural de adquirir, uma vez que a caga faz parte dessa arte, que é usada no 36 contra os animais selvagens, como também contra os homens que, destinados por natureza a obedecer, recusam-se a submeter-se, de sorte que a propria natureza declara que uma tal guerra é justa, ‘Vimos, entio, uma primeita espécie da arte de adquirir, a qual 6 uma parte da ciéncia econ6mica [ciéncia do governo doméstico}: ou titeis & vida dentro de qualquer sociedade, seja civil, seja domés- tica. Esses so os elementos que constituem a verdadeira riqueza, ‘a quantidade necesséria para satisfazer completamente a tudo que é necessario para uma boa vida nao € infinita, como disse Sélon em um de seus poemas: ‘© homem nio conhece, porém, nem fim nem medida ‘Que a natureza imponha & arte de entiquecer. ‘Mas nesta como em todas as outras artes existem limites, Ne- nhuma delas tem & sua disposigo meios infinitos, seja em niimero, seja em grandeza, Ora, a riqueza € 0 produto da quantidade de i trumentos que aquele que administra, seja uma familia, seja uma cidade, possui. £ evidente, pois ,, tanto para um como para outro, uma certa arte de adquirin, Capftulo IX ‘Mas hé também um outro tipo dessa arte, comumente chamada, e com razio, a arte da riqueza, eaquesparece, com efeito, nio conhecer limites. Em virtud® da afinidgde que tem com a espécie ‘que acabamos de falar, algtins ensam,que se trata de uma e mesma coisa, mas niio so, embora gy ental muito distantes: a espécie ‘que vimos é 0 produto imediato da: hatureza, 20 passo que a segunda €um produto da arte ¢ da experiencia. Tniciemos o exame da questiio com a seguinte consideragio: ue possufmos tem dois usos. Ambos estes usos perien- Cem 8 coisa, mas nfo da mesma maneira, pois um é préprio, confor- me a sud destinagio, ¢ 0 outro é impréprio ou desviado para algum outro fim. Por exemplo, 0 sapato pode ser usado para ser calgado ou pode ser usado para ser vendido; no segundo caso, niio é o seu uso préprio, pois ele no foi feito para servir a0 comércio. O ‘mesmo Se dé com as outras coisas que se tem: nfio foram feitas pela natureza para 0 comércio, entretanto, foram levadas a isso circuns- tancialmente, em razdo de alguns homens Possuirem mais ¢ outros menos as coisas que so necessérias A vida. ‘Vé-se, entiio, que a forma de coinércio que compra para revender mais caro nao era necesséria nas pr associagdes (isto é na famflia), ¢ que surge apenas quando as sociedades se tornam de- senvolvidas. Na familia primitiva, mdo era comum a tod quando ela se dividiu em partes, os objetos foram também divididos entre estas, ficando alguns privados de algumas coisas; daf a neces- lade de trocas. Essa prética é verificada ainda hoje entre intimeros Povos barbaros: se uma tribo tem de sobra o que falta a outra, elas {rocam o que possuem a mais; por exemplo, trocam vinho pot trigo, assim por diant sénero de transago n‘io est, pois, contra a uma espécie separada da cigncia da riqueza, visto que, na origem, nio tinha outro fim senao 0 da satisfagio das necessidades da natureza, ra forma mais complexa de comércio surge, como se pode da mais simples. Conforme as relagdes de ajuda méitua entre os Estados se desenvolvem, com a exportagiio dos obj ‘que se possufa em abundancia, e a importagio do © uso da moeda necessariamente se introdu: 1. Os objet los quais necessitamos nem sempre sao facilmente transportaveis; além disso, bem poderia ocorrer que no se precisasse do supérfluo dos outros, ou vice-versa; as , foi estabelecido dar e receber recipro- camente algo que tivesse, além do valor intrinseco, facilidade de transporte ¢ manejo, como o ferro e prata, que primeiramente foi determinado pelo volume ¢ peso e depois foi marcado com um istintivo de seu valorypar as’ medig6es a todo instante. Ora, no momento em que asinecessidiades de comércio trazem a invengo da moeda, surge um novo ramoina ciéncia da riqueza, que € aquela em que se compra para revender mais caro. Inicialmente, essa nova forma se fazia de uma maneira bastante simples, mas toma-se mais complicada a medida que-os homens, pela experiéncia, aprenderam onde se deviam buscar os objetos e de que maneira se podia daf obter maior Iucro. O objetivo principal dessa nova forma de adquirir riqueza ¢ investigar a maneira de a obter em grande quantidade, e é propriamente aquela que produz. a opuléncia ¢ as grandes fortunas, Com efeito, considera-se comumente a riqueza como a abundén- cin de moeda, porque a abundiincia é 0 objetivo da arte da riqueza tanto quanto 0 do comércio de comprar para revender mais caro. Por outro lado, sustentam alguns que a moeda cunhada é uma mera ficgio, algo sem nenhum fundamento na natureza, mas apenas convencional, Se aqueles que dela fazem uso vierem a fazer uma outra convengo, a moeda nfo terd mais nenhum valor, e nfo poder proporcionar mais a menor das coisas necessérias & vida; e a um homem rico em metal cunhado poderio faltar os alimentos neces- sdtios vida, Ora, que riqueza é essa que, embora abundante, nfo impede o seu possuidor de morrer de fome? E como o Midas de que falam as fébulas, que, em punigo & sua avareza sem limites, trans- forma em ouro tudo 0 que toca. Estiio certos, por conseguinte, os homens que poem em questo esse tipo de riqueza, bem como a arte de adquiri-la, buscando aquela que é conforme a natureza e constitui o objet Ao passo que a outra forma de enriquecer, 0 comércio, faz do dinheiro o seu principal objetivo, pois a moeda 6 0 elemento e| do comét i daf resulta nfo conhi a tem por fim multiplicar a0 infinito o ntimero de curas, assim também cada uma das artes tem €o fim de todas as artes. Assim, o fim a de arte da riqueza, 0 coméreio, nto todos os bens que se podem adgu posse ou aquisigio de dinheiro, eu fim & a riqueza, como ia econémica hé um limite; im nfo € 0 da aquisigto ilimitada de riquezas, Aqui deve haver um limite a riqueza, qualquer. qe seja , embora, na prética, frequentemente se verifique o Contrério: todos aqueles que se ‘pam em enriquecer nunca julgam ter o'Suficiente, querendo n que ambe’ disp6em dos mesmos bens ou propriedade, mas mesma mancira: 0 objetivo de uma é a posse, enquanto o da ‘© aumento da riqueza possuida, E por isso que muitos pet © aumento da riqueza 6 0 alvo da ciéncia econdmica, ¢ também buscar os prazeres puramente corporais, como pende da posse de riquezas, s6 se ocupam de tentar ob ‘ikimas, Foi assim que surgiu essa outta espécie de ci riqueza. E como os prazeres corporais sto em niimero exce: para obté-los é necesséria a posse abundante de riquezas, si dos 0s meios de multiplicé-la. E se néo o fazem pela via do w cio, tentam obté-la por outros meios, usando, as vezes, sui dades de um modo contrario & natureza. Por exemplo, 0 atti coragem no nos foi dado para acumuler bens, mas para audécia ¢ confianga. Tampouco tem por fim acumular be: fissio militar ou a da medicina: uma tem por objetivo a outra @ cura, Foram, contudo, transformadas em meios riqueza: tomaram-se 0 Gnico fim de quase todos os hom entram nessas carreiras, E era isso o que tinha a dizer quanto aos meios nao natur: ‘obter riquezas [nao necessérias], havendo mostrado 0 que razbes pelas quais se recomre a tais meios. Vimos também q os meios que sto conforme a natuteza, relacionados & alim: cajo fim é a subsisténcia: tais meios pertencem ao governo dot género de aquisigao que, ao contrario do anterior, tem limites Capitulo X E assim temos a resposta para a questo que havfamos pro; ini cia da riqueza faz. ou nfo parte da e [governo doméstico] ou da administrigdio ‘des Cidades. Essa € pressuposta, pois, do mesmo modo que a politica nko faz os homens, mas se serve deles tal Gomo-estéio na natureza, xssim também é preciso que essa mesma natureza thes fomnega, seja pelo produto da terra, seja do mar ou de qualquer outra forma, os recursos para a subsisténcia; em seguida, cabe ao chefe da casa explorar convenientemente esses recursos. Um tecelio niio produz a 18, mas serve-se dela; julga se ela é de boa qualidade, c se é ou ndo prépria aos seus fins, Poder-se-ia perguntar por que a ciéncia da riqueza 6 uma parte do governo doméstico, enquanto a medicina no o ; pois, sem diivida, além de ser necessério que a familia tenha alimentos ¢ outras coisas necessécias & vida, também 6 preciso que ela goze de satide, Ora, de certo ponto de vista, o chefe da familia e o da Cidade devem manter sob sous cuidados a satide de seus membros ou cidadaos; mas, de outro ponto de vista, tais cuidados cabem mais a0 médico do que a eles. Do mesmo modo, naquilo que concerne & riqueza, hf cuidados que competem a0 ecOnomo ou outros ministros. Mas, como dissemos, a natureza que deve fornecer esses primeiros bens: cabe a ela fornecer o alimento aos seres aos quais 4 existéncia, Eis por que a espécie de riqueza que provém dos fratos da terra ou dos animais para todos os seres uma riqueza conforme a natureza, Hé, pois, duas maneiras de obter riqueza: uma pelo governo outra, pelo comézeio, A primeira ¢ indispensdvel e merece elogios; enquanto a segunda merece censura, pois niio 6 conforme a natureza e é um modo pelo qual um homem lucra sobre outro, E com muita razo que se tem aversio pela usura, pois, com isso, desvia-se a moeda do fim para o qual foi criada, Foi inventada para facilitar as trocas; enquanto a usura faz que o dinheiro sirva para aumentar-se a si mesmo; por isso tecebeu 0 nome de fokos [“pro- genitura"], por causa da semelhanca que as coisas produzidas ou engendradas guardam com aqueles que as geraram. Ora, no caso da usura, é @ moeda que torna a trazer moeda, sendo 0 meio de obter riqueza que é 0 mais contrério & natureza, Capitulo XI © que vimos acima determinou suficientemente aquilo que & relativo ao conhecimento puramente teSrico da teoria da aquisigaio de riquezas; resta-nos agora passar para a parte relativa & pratica. Em assuntos desse géneroyia teoriaitem sempre alguma coisa de 4 livre e arbitrério, enquanto a prética ou experiéncia ¢ inteiramente necessAria, As partes mais tteis dessa arte so, em primeiro lugar, 0 co- mhecimento prético das coisas que se possui — quais sio as mais proveitosas, onde se encontram, qual 6 a maneira mais vantajosa de obté-las —, por exemplo, quais so os melhores tipos de cavalos, bois, cameiros ou outros animais, qual o luger mais adequado para erié-los (pois uns se adaptam melhor em uma regio, enquanto outros vive melhor em outras). Em seguida, 6 preciso conhecer os diversos tipos de solo, cuidados com a semeadura e a plantagdo; e, finalmente, como cuidar das abelhas para a obtengio do mel, bem como de outros animais, como peixes e aves, que podem ser de utilidade para os homens, Estas so, pois, as partes principais da arte da riqueza propriamente di idido, por sua vez, em tr8s partes: navegacdo, transporte por terra € venda no préprio local, Tais partes diferem umas das outras, umas oferecendo mais seguranga, outras, mais lucro, Uma segunda parte a usura, ¢ a terceira sto os trabalhos em troca de pagamento (alguns dos quais dependem de alguma arte, ao passo que outros Tequerem to-somente 0 trabalho corporal), Uma quarta parte, intermedi imeira espécie (a natural) e a segunda (a do comérci que siio extrafdas da terrae nio sto frutos, apresentando, no entanto, a sua utilidade, como a madeira para as construgBes, ¢ em geral tudo o que se extrai das minas. A arte da mineragio subdivide-se, por seu turno, em partes (pois ha varias espécies de minas, tantas quanto os metais dela extrafdos), todavia seria cansativo enumerd-las aqui. Falam de cada uma dessas ciéncias no seu aspecto geral; quant detalhes mais exatos e particulares, eles sio wteis, sem duivida, ara a execucio do trabalho, mas seria enfadonho e fatigante nos estendermos sobre eles. Dentre essas diferentes espécies de ocupagio ou profissio, as. que menos dependem do acaso so as mais excelentes pela arte € talento; as mais vis so as que deterioram 0 corpo; as mais servis, Aaquelas que exigem exclusivamente o emprego da forga corporal; e finalmente as mais igndbeis;.que sforaquelas que nfo requerem nenhum tipo de virtude. é ‘Varios autores escreveramfacerca désses assuntos, como Carés de Paros, Apolodoro de Lentinos, coin tratados sobre a cultura de terras, © ainda outros, sobre outros temas desse género. Os que se ocupam dessas matérias devem consultar esses escritos. Deve-se também coligir a tradicio espalhada a respeito dos meios que levaram certos individuos & riqueza, pois tudo isso pode ser til ‘aos que tém aprego pela arte da riqueza. H4, por exemplo, uma anedota acerca de Tales de Mileto ¢ um estratagema que ele teria usado (na verdade um prinofpio de aplicacao universal, um género de especulagio muito utilizado, mas a ele atribufdo em virtude de sua sabedoria): todos o censuravam e faziam zombaria por sua pobreza, provavelmente para mostrar que sua filosofia era De acordo com a histéria, o conhecimento que ele tinha dos permitiu-Ihe prever que haveria uma excelente colheita de olivas, Juntando todo o dinheiro que conseguiu, ele arrendou a bom Prego (pois no havia concorrente), ainda no inverno, todas as prensas de leo de Quios e Mileto. Quando chegou o tempo da colhtita, muitos vieram ao mesmo tempo para conseguir as prensas; e ento Tales as alugou pelo prego que bem entendeu, amealhando com isso uma soma considerfvel. Assim, ele mostrou a0 mundo que 05 filsofos podem facilmente enriquecer, se assim o qui- serem, mas que a ambig&o deles era de outra espécie, Foi assim que Tales teria demonstrado a sua habilidade, porém, como ha- viamos dito, trata-se de um género de especulagto bastante comum, nada mais que a aplicagdo de um monopélio. Muitas Cidades recorrem a esse meio quando precisam de dinheiro, monopolizando a venda de cortas mercadorias ao prego que querem. icflia, houve um homem que adquiriu todo o ferro que vinha depois, quando os mercadores de vétias regides vieram para comprar o ferro, 0 tinico vendedor era ele, Nfo aumentou talentos, Quando Dionisio ficou sabendo Hi com o dinheiro, ordenando-Ihe, po- de exercer um monopélio. E é bom que os que governam as Cidades conhegam esse género de recurso, pois ¢ preciso dinhelro para as despesas piiblicas, do mesmo modo, ow até m da familia relativamente as despésas domést se ocupam da administragto da Cidaile; hd alguns que se dedicam unicamente a essa parte da,polftica, a saber, a das finangas. Capitulo XI Vimos que 0 governo doméstico divide-se em trés pa poderes: 0 do senhor, do qual acabamos de se tratar, o do marido. O chefe da casa governa sua mulher e seus fi seres livres, mas nfo da mesma maneii © poder é politico, ¢ relativamente a rei. Pois, embora haja excegSes antinaturais, na ordem macho € mais talhado para o comando que a fémea, do modo qué 0 mais velho, que atingiu o seu desenvolviment pleto, é super mais jovem e imaturo. Mas, ‘magistraturas © poder passa alternadament [isto é, comanda-se € comandado alternadamente], poi: de um Estado constitucional imp! considerados iguais por natureza, Na ‘95 que comandam de seus comandad forma dos habitos, seja pela Tinguag pode ser ilusirado pelo que disse Amas laver os pés, transformada em deus'®, macho para com a fémea € permanent da mulher; enquanto 0 poder dos pai realeza, em que se juntam a autoridade afetuosa ¢ a da isso Homero chamou Zeus de o “pai dos homens ¢ porque ele ¢ 0 tei de todos eles. E preciso que o rei te natureza qualidades que o distingam dos stiditos, co1 todavia, a ser da mesma espé« do mesmo mos 05 velhos em relagio aos jovens, ¢ 0 pai em relago a0 filho. Capitulo XIII Da discussiio precedente, fica claro que se deve dar mais atengo a0 governo doméstico relacionado aos homens do que aquele mente relacionado & posse de coisas inanimada jue conduzem a exceléncia humana do que ao: ‘aquilo que chamamos riqueza, ¢ mais & virtude do homem Em primeiro lugar, deve-se procurar saber se um escravo pode ter, além de suas qualidades puramente corporais, apropriadas para oservigo, alguma virtude superior, como, por exemplo, a moderao, a coragem, a justica ou qualquer outro hibito ou disposigao seme- Inantes. Tanto a resposta negativa quanto a afirmativa trazem difi- culdades. Com efeito, se 0s escravos so capazes de alguma virtude superior, que diferenga haveria entre eles ¢ os homens livres? Por outro lado, sendo eles homens que compartilham do prinefpio racional, seria absurdo dizer que no podem ter virtudes, ‘A.mesma dificuldade se apresenta na questo relativa as mulheres ‘©s criangas: sao suscettveis de virtudes? Por exemplo, uma mulher dove ser sdbia, corajosa ¢ justa? Uma otianga deve ser décil ¢ temperante? Enfim, devemos examinar, em geral, se aquele que a natureza fez para comandar e aquele que ela fez para ser comandado devem ter as mesmas vistudes ou estas devem ser diferentes. Pois se uma nobre natureza 6 igualmente requetida em ambos, por que deveria um deles sempre comandar € o outro sempre ser comandado? Nio é posstvel que essa diferenga seja do mais para o menos, pois 0 comandar ¢ 0 obedecer diferem em espécie e nfo em grau Seria igualmente supor que um tenha de ter virtudes e o outro nfo, Pois se 0 que comands nto é temperante nem justo, nem moderado, como exerceré sua autoridade de um modo conveniente? * E se aquele que obedece no possui essas virtudes, como poderé obedecer como deve? Pois, sendo indécil ¢ preguigoso, nio seré capaz de cumprir seus deveres. E evidente, pois, que ambos tem de ter virtudes, porém suas virtudes tém caracteristicas diferentes, E isso nos reconduz imediatamente 2quilo que dissemos sobre a alma: nela hé uma parte que a natureza fez, para comandar e uma outra para obedecer. Em cada uma reconhecemos uma propriedade ou qualidade diferente: por exemplo, a presenga da razio em uma, © a auséncia da razdo em outra, possuindo cada uma um tipo de virtude que Ihe & préprio, evidente que 0 mesmo principio se aplica em geral, ¢, por conseguinte, quase todas as coisas comandam e siio comandadas conforme a natureza. Entretanto, os tipos de comando diferem: 0 hhomem livze comanda seu escravo de uma maneita diferente que 0 ‘macho comanda a fémea, ou,que,o pai.osfaz com seu filho, Ainda que as partes da alma estéjam presentes em todos eles, elas esttio presentes em diferentes graus es i provido da faculdade de deliberar; a mulher a possui, mas débil ¢ re a _ Telagio, enumerando as virtudes, como fez Gérgias, do q ineficazs ¢ a crianga também a possui, mas nela essa faculdade ainda \des morais: todos devem possuf- Jas, mas nfo da mesma maneira e sim somente no gran que 6 tequerido para cumprir sua fungo. Eis por que quem comanda dove possuir a virtude na sua perfei¢&o; sua fungio é como 2 do arquiteto”, qual seja a da prépria razio; quanto aos outros, requer- ‘se apenas amedida de virtude que ¢ propria a sua fungiio, Claramente se vé, portanto, que todos tém Virtudes morais; mas a temperanga, 2 coragem € a justica nfo sto, como afirmava Sécrates®®, as mesmas em um homem e em uma mulher. A coragem de um consiste em comandar; a da outra em obedecer. © mesmo ocorre com as outras virtudes, como se pode ver mais claramente quando se faz a aplicago do prinefpio aos casos parti- culares, Porque ¢ ilusério contentar-se em dizer em geral que a virtude consiste em uma boa disposigo da alma, ou na prética de boas agées, ou outras coisas desse género. E melhor fazer uma 2 itar a definigdes gerais. Cada classe deve ser julgeda ni que € 0 seu atributo especial. Como disse o poeta*": ‘Um modesto siléncio é o ornato da mulher, ‘mas 0 mesmo nfo ocorre quanto se trata do homem, » Quando a erianga, 6 fécil compreender que, estando, por assim dizer, em um estado de imperfeigio, a virtude nao é nela absoluta ou relativa exclusivamente a ela mesma, mas relativa ao homem inteiramente desenvolvido que o dirige ou governa. Da mesma maneira, a virtude do escravo é relativa & de seu senhor. Conforme vimos, 0 escravo ¢ vitil para as necessidades da vida, e sua virtude est, pois, em bem executar a sua fungo; evidentemente ele necessita apenas de um pouco de virtude, somente o suficiente para néio falhar em seu trabalho, seja por indocilidade, seja por falta de coragem. " Nota de M. Thurot (op. planta que outros exeeutardo Cr, Plato, Ménon, 72 A-73.C; e A’Repitblica, livro 5. (N. do T:) 3! Sofocles, Ajax, v.293.(N#doT.)} se a conceber 0 plano ou Supondo que seja verdade o que acabamos de dizer, poder-se-ia indagar se os artffices devem igualmente possuir virtude, visto que muitas vezes eles falham por negligéncia em seu trabalho, Mas nfo 14 uma grande diferenga entre os dois casos? Pois 0 escravo vive em comum com 0 senhor, enquanto 0 artifice, pelo contrétio, & independente dele, ¢ sua virtude s6 importa na medida em que 6, que esté na sua dependénci , como todos os que prestam servicos mecfinicos [manvais], esté numa espécie de servidio limitada; enquanto o escravo 0 é por natureza, mas 0 mesmo nfo ocorre com os sapateitos ou 08 outros attifices. E evidente, entdio, que € 0 senhor que deve ser para 0 escravo a causa da virtude que lhe é prOpria, e nfio o mero possuidor Ga arte que os ensinou a trabalhar, mas a do senhor que eneomenda a obra que cles devem seguir. Aqueles que pretendem que o escravo seja um ser destitufdo de razHo, € que devem se restringir a ordenar-Ihe o que deve fazer, cometem um grande erro; é preciso repreendé-los com indulgéncia ainda maior do que para com as préprias criangas, Quanto a0 que concerne ao marido © A mulher, ao pai e aos filhos, as virtudes préprias a cada um deles, as suas trocas reofprocas, © que € honroso e 0 que é til, o que devem procurar e o que deve, evitar, € imprescind{vel a consideragtio em detalhe desses objetos em um tratado sobre o governo, Pois, visto que cada familia é uma parte da Cidade, e tais pessoas sio as partes que constituem a jamente em relagao com 0 todo, 6 preciso que a educagiio das mulheres e das criangas se faga tendo em vista a constituiedo daquela Cidade (sua forma particular de governo}, se as virtudes destes devem fazer alguma diferenca nas virtudes da Cidade, E € claro que eles tém de fazer uma diferenga: as criangas quando crescerem serfio os cidadtos, e as mulheres perfazem a metade das pessoas livres da Cidade. o 2 Ro a Capitulo I sso propésito & o de examinar qual é, dentre todas as i , a que devem preferir 0s homens para . Devemos, portanto, examinar be governadas, como também as formas tedricas de cons imaginadas pelos fildsofos, restringindo-nos as mais notive im, poderemos ver 0 que cada uma delas pode encerrar de bom ie niio se suponha que buscamos elaborar uma combinacio ica diferente de todas as conhecidas movidos por um vio desejo de ostentago sofistica: nds somente estamos empreendendo este exame porque todas as constituigBes que conhecemos apresentam algum erro. Iniciemos com o prinefpio natural apropriado para estudos como © nosso, Trés alternativas sto concebfveis para os membros de Cidade: 1) 0s cidadiios devem ter todas as coisas em comum; devem ter nada em comum; 3) devem ter algumas coisas em comum c outras nfo. Que eles possam nfo ter nada em comum é claramente impossivel, pois a Cidade é uma forma de comunidade e, desde ja, pelo menos o lugar hi de necessatiamente set comum: uma Cidade 0 serd em algum lugar, ¢ os cidadiios sio uqueles que compartilnam lugar daquela Cidade. Mas na Gidade bem organizada, os membros everiam ter tudo em comum, ou s6'algumas coisas em comum e outras néo? Pois os cidadios" poderiam, hipoteticamente, ter os filhos, mulheres ¢ bens em’ co mo Sécrates propds na Repiiblica de Platéo'; 0 que, enti, é melhor: nossa situaglo atual ou anova ordem de sociedade proposta na Republica? Capitulo I Hé muitas dificuldades apresentadas por uma comunidade de mulheres, ¢ 0 principio sobre 0 qual Sécrates apbia a necessidade de uma tal instituigdo nao se sustenta pelos seus argumentos; mais. ainda, 0 esquema, como um meio para atingir o fim que ele estabelece & Cidade é literalmente impraticvel, ¢ como devemos interpreté-lo nfo ¢ estabelecido com precistio em nenhuma parte da obra. Refiro-me & premissa da qual o argumento de Sécrates procede, “a maxima unidade de uma Cidade € 0 maior de seus bens”. Mas no € evidente que, atingindo um tal grau de unidade, a Cidade desaparece? Pois a Cidade é por natureza uma pluralidade, ¢ se se aspira & unidade méxima, de Cidade se passari a familia, ¢ de famflia a individuo, porque a familia tem mais unidade que a Cidade, € 0 individuo, ainda mais que a familia. Desse modo, mesmo que fosse possivel obter uma tal unidade, seria preciso no o fazer, pois isso significaria a destruigaio da Cidade A Cidade nfo se compée apenas de grande mimero de homens, mas sim de tipos diferentes de homens; os elementos que a compéem nfo so iguais. Nao é como uma alianga militar. Nesta ditima, a utilidade depende da superioridade de seu nimero, mesmo quando nao haja diferenga quanto & qualidade (o seu fim & a protegéo miitua); ela € como @ balanga, em que decide 0 prato ino qual hd mais peso ¢ nao o que tem menos (desse maneira, uma Cidade difere de uma tribo quando essa tribo nfo tem a populago organizada em povoados, mas vive esparsa, ao modo dos Arcades); porém os elementos dos quais uma unidade é formada diferem em espécie. Por conseguinte, conforme dissemos na Etica?, é a igualdade relativa 4 qualidade, e nfo sim- plesmente a mera igualdade a salvaguarda das Cidades. Mesmo entre os homens livres e iguais, este é um principio que tem de ser mantido, porque, visto que no podem todos governar ao mesmo tempo, devem, pelo menos, exerc8-lo por algum tempo, revezando- + 4 Repitblica, IV 423 o, v. 457.6, 46 2 Btica a NicOmaco, v. 1121; 6, 32, (N. = se a0 final do ano ou por outro perfodo qualquer, segundo um tema dado, contanto que todos, sem excegiio, passem pelo poder, O resultado € que, dessa forma, todos eles chegam a governar; é como se os sapateiros e os carpinteiros revezassem a ocupago, € 2§ ‘mesmas pessoas nio continuassem sempre sapateiros ¢ carpinteiros. E como as vezes a permanéncia na fungao pode ser melhor para a comunidede, é evidente que a mesma pessoa deveria continuar no poder, se fosse possivel; mas isso é incompatfvel com a igualdade natural dos cidadiios, e é justo que todos se alternem em governar, ¢ assim, essa submisséo, por homens iguais, 20 que governa, imitaré a sua desigualdade original, visto que alguns mandam ¢ outros obedecem alternadamente, como se nfo fossem mais os mesmos homens; e 0 mesmo cidadiio, cada vez que recebe uma magistratura, ora exerce um cargo, ora outro, Pelo que se vé cla- ramente que uma Cidade nfio é una por natureza naquele sentido gue alguns afirmaram; e aquilo que disseram ser 0 sumo bem da Cidade ¢, na verdade, a sua destruigo; contudo o bem de uma coisa tem de ser aquilo que preserva a sua existéncia’, E, deste outro ponto de vista, aquela aspiragio & unificagio extrema da Cidade claramente nao é benéfica: uma familia é mais auto-suficiente que um indi uma Cidade, mais que um individuo; e uma Cidade o € mais ainda que uma famflia, visto que uma Cidade somente passa a existir quando a comunidade é grande o bastante Para ser auto-suficiente; e, assim, a auto-suficiéncia é 0 mais desejével, mas um grau menor de unidade 6 mais desejavel que um grau maior, Capitulo 1m Mas, mesmo supondo que o bem maior da Cidade fosse o gran maximo de unidade, isso no provaria que tal unidade decorra do fato de que todos os cidados digam, 20 mesmo tempo: e ‘‘n&o meu” — prova infalfvel, de acordo com Sécrates, da unidade perfeita em uma Cidade, Pois a palavra “todos” é ambfgua; se o que ela quer dizer € que cada individuo diz “meu” ¢ “no meu’ 20 mesmo tempo, Sécrates telyez-terd entio obtido aquilo que pedi m £ 3 Cf, Plato, Reprblica, 1.353. (N.'do T,Y Porque cada um diré, falando de um mesmo menino e de uma ‘mesma mulher: “aqui est4 meu filho, aqui est minha mull mesmo relativamente aos bens e todo 0 resto. Isso, porém, ‘mesmo sentido em que diriam os homens que tém em comum, Eles diriam “de todos”, e nio “meu”. separadamente, “Todo” é, neste caso, uma evidente faléci dupla acepofo significa tanto o “uno” quanto o “outr “par” quanto o “impar”. E isso acaba se tornando uma fonte de . Seria uma bela coisa isso de todos dizerem 0 mesmo quando falam a mesma palavra; isso, porém, € imposstvel € se as palavras sfo ditas em outro senti nanimidade, Hé ainda uma outra objegtio a essa proposica aber, a de que se d4 pouca atengHo ao que € de proprieda cada qual se concentra em seus interesses privados e d se ocupa dos interesses comuns, salvo quando isso lhe concerne pessoalmente, Isso ocorre porque, entre outras razées, 03 homens tém uma tendéncia a negligenciar a obrigagio que eles esperam que outro execute, do mesmo modo que, no servigo doméstico, um grande niimero de ctiados é freqllente mente menos titil que alguns poucos criados, Se os mil filhos da Cidade fossem de cada cidadio, nfo como filhos deste, individualmente, mas como filhos de todo: tengo teriam para si, Se um menino medra, cada qual diré que € seu, e se ele nilo medra, cada qual diré que 6 seu ou de qualquer ‘outro; © mesmo filho sera “meu” de cada um dos mil ou seja Ié quanto for o mimero de cidadios; e assim nfio mais se saberé qual foio cidadio que teve um filho e se esse filho sobreviveu depois do imento*, Mas, entio, o que é melhor: que cada um diga “meu” filhos da Cidade, ou é preferivel 0 uso atualmente estabelecido? Atualmente, um homem chama de seu filho um menino, o qual um outro chama de irmao, primo, ou outro idade ou parentesco surgido por casa- ‘mento, tanto por parte dele quanto por seus parentes; ow ainda de companheiro de cld ou tribo. E muito melhor ser o primo real de alguém do que ser o filho do modelo proposto por Plato! De resto, iio se poderia evitar que, &s.vezes, alguns pais reconhecessem seus ‘Ibidem, v 463, e.(N.doT.) > filhos, e vice-versa, ou um itmio reconhecesse o irmio, em razio da semelhanga que existe entre pais ¢ filhos, e eles iriam neces- satiamente encontrar indicagdes de seu parentesco nos tragos de ‘outra pessoa, Nos esoritos de alguns autores que percorreram 0 mundo ha referénclas a cerios povos da Alta Lfbia em que mulheres stio de posse comum, e as criangas que nascem sao distribufdas segundo a semelhanga; € 0 mesmo ocorre entre algumas f8meas de outros animais, como os cavalos ¢ os bois, que produzem filhos exatamente iguais ao macho, como foi o caso da égua de Férsalos chamada Justa, Capitulo IV Hi outros danos os quais os autores de uma tal comunidade : nfo conseguiram evitar facilmente, \drias, os homicfdios (voluntétios ou nao), diseérdias alos que sto muito mais graves quando cometidos contra 0 pai, mie ou parentes préximos ’elo menos, quando esses a expiagiio legal. Além jido apenas aos amantes 0 ue hé de mais contrario & inmios; s6 pelo fato de haver amor indecente. E nfo € menos estranho apenas para evitar os excessos que poderiam advir, oll indiferenga as relagGes entre pais ¢ filhos ou entre irméos. Essa comunidade de mulheres e filhos pareceria melhor se estabelecida na classe dos agricultores em vez de na dos guardiios, porque, se eles tém mulheres eles seria menor, 0 que conduz a submisstio & autoridade ¢ evita rebelides, sendo, pois, conveniente para os dessa classe, Em uma palavra, o resultado de uma tal lel seria justamente 0 oposto do que se espera de leis justes e boas; que era.o que Sécrates pensava estar 4 Ibidem, Ml 403 a-c. (N. do T.)i propondo com sua concepgiio acerca das mulheres e os filhos. ‘Com efeito, pensamos que o bem supremo das Cidades é a amizade, a qual pode prescrvé-las das revolugdes; e na verdade Sécrates louva a maior unidade possfvel da Cidade, a qual ele © todo mundo afirmam ser produzida pela amizade entre os cidadios, Mas a amizade que ele louva seria como aquela dos amantes no Banquete’, os quais, como disse Arist6fanes, desejam, em sua afei- gio excessiva, tornarem-se, de duas, uma s6 pessoa; e, nesse caso, as individualidades, ou pelo menos uma delas, pereceriam, Mas em uma Cidade em que as mulheres e os filhos stio em comum, a amizade ficaria dilufda, nfo seriam mais ouvidas as palavras “meu filho" e “meu pai”. Do mesmo modo como a dogura de algumas gotas de mel fica imperceptivel na mistura com uma grand: dade de agua, assim também, nesse tipo de comunidade, a idéia de amizade que € baseada naqueles nomes estaria perdida em uma Cidade na qual nio hé nenhuma razio para que o filho pense em seu pai, 0 pai pense no filho e os irméos em seus irmios. Hé duas s que inspiram os homens a darem atengfo e aprego @ algo: a propriedade e a amizade, e nenhuma delas pode existir em uma Cidade como a que prop0s Plato. Ademais, a transferéncia das criangas, assim que nascem, da classe dos agricultores ¢ artifices para a classe dos guardiiios, ¢ desta para a classe inferior daqueles?, apresenta muitas dificuldades em sua execugio. Aqueles que cedem as criangas ou aqueles que executam a transferéncia nfo sabem que criangas diio'nem para quem os dio, Ser entZio quando vo ocorrer com freqlléncia os males que referimos anteriormente, tais como os ultrajes, relagdes carnais contra a lei ¢ os homicfdios, contra os quais no podem ais servir de garantia 0s lagos de parentesco, visto que 05 filhos que passam da classe dos gua nfo chamario de pai, nem mae, nem irmfios aos daquela primeira classe, e da mesma forma os filhos que passam para a classe dos ‘guardidos, E sio essas as nossas conclusdes a respeito da comunidade de mulheres ¢ de filhos. ‘Platt, Banguete, 191 * Replica, I, 415 b. das sepulturas: Diocles, por causa do horror daquele infortinio, para que a terra de Corinto nao fosse visfvel da sua tumba, € Filolau, para que o fosse, Foi por aquele motivo que eles se estabe- Jeceram em Tebas; Filolan veio a serlegislador, e 3 7 Na legislagiio de Carondas nfo hé nada de notével, exceto pelas ‘ages contra falso testemunho. Ele: isas ¢ exatas que as que as dos outros legisladores, mesmo os da atualidade, Caracterfstico de Faléas itivo com vista & igualiza¢do de propriedade, De Plato 6 a comunidade de mulheres, criangas e as refeigbes em comum de mulheres, e as leis concernentes & embriaguez, que estabelecem Que os homens sdbrios presidam os banquetes, e igualmente o treino de soldados, a fim de que adquiram pela pratica a habilidade de ambes as mios, para que um homem nao tenha uma mao til e a Drécon também deixou leis, mas ele as adaptou para uma cons- tituigdo j4 existente, e nada tem de particular nelas que seja digno de nota, exceto pelo rigor excessivo de suas penas. Pitaco, também, foi um legislador, mas nao foi o autor de uma constituigHo; tem uma lei que 6 peculiar dele: que, sc um homem ‘embriagado fizer alguma coisa errada, ele deve ser mais severamente punido que se tivesse sébrio; ele tinha em mente a utilidade da Fepressio, pois os ébrios cometem mais freqilentemente atos de violencia que os sobrios, Androdamas de Régio foi o legislador dos ealefdios da Trécia. Sio dele algumas lois sobre ho: alo fils Unless herdeirs; ‘mas nao hé nada de notvel nessas B aqul coneluimos nosso examo das vécias constituigdes que existem atualmente ou concebidas por alguns tedricos, Capitulo I aN le que investiga a esséncia e atri governo deve antes de tudo determinar o que seja uma Cidade. Até o presente esta é uma questio polémica. Alguns dizem que a Cidade pratica certa atividade; outros dizem que nfo é a Cidade, mas o oligarea ou o tirano. Vemos que a atividade do constituiedo ou governo € a organizagio dos habitantes de uma Cidade; mas esta ultima é composta naquela mesma acepgaio em que quaisquer outras coisas que so um todo, so um composto de muitas partes, Dessa forma, é evidente que devemos comegar pela pergunta “quem é o cidadio © qual o sentido desse termo?" Pois aqui novamente hé divergéncia de opinido. Aquele que é cidadio em uma democracia freqtientemente néo o seria em uma oligerquia. 86 consideraremos aqui os cidadaos por nascimento, e mio os que obtiveram esse titulo de qualquer outra maneira. O cidadiio nfo é dio porque vive em um certo lugar, pois os estrangeiros ¢ os por eles e, assi chamamos de 0s homens velhos, quejja estio(isentos dog deveres civicos. Nao dizemos que eles sejamjcidadtiog de modojabsoluto, e sim que os infames ¢ 03 banidos. Os cidadios que estamos buscando definir é um cidadiio no sentido estrito, a respeito tica & ter 0 magistraturas. Alguma suras so temporérias; nfo é permitido que a mesma pessoa a exerga mais que uma vez, ¢ tem ‘um prazo fixado de duragao, Outras no tém limite de tempo, por fungio de jurado ou de membro da. assembléia dos, oder-se-ia dizer que tais fungGes nfo sféo de modo aturas nem dio a quem as exerce participago no governo, porém seria ridfeulo dizer que aqueles que tém o poder supremo nao governam. Mas deixemos isso de lado, pois se trata ss cidaddios. Esta é de um modo geral a definigao adequada a todos aqueles que em geral so deno- re em espécie, sendo um deles 0 primeiro, outro 0 , nada ou quase nada tém, quando consi- deradas nessa relago, que soja digno de nota, em comum. De fato, ‘vemos que as constituigdes diferem em espécie, que umas so ante- riores © outras posteriores, e que as falhas ou corrompidas so necessariamente as postetiores a uma que era perfe i parecer mai © sentido em que aplicamos esses termos.) , Ser necessatiamente diferente em cada uma dessas formas de governo e nossa definiglo esté mais bem adaptada 20 cidadio da democracia, e nao necessariamente a outras formas de governo, Em algumas Cidades, 0 povo nio é reconhecido nas ‘como jurado; no sao realizadas assembléias regular- mente, mas apenas as extraordindrias, e as petic&es sto distribuidas pot segSes entre os magistrados. Na LacedemOnia, por exemplo, os éoros julgam as petigdes sobre -contratos,.enquanto os ancitios Julgam os casos de homicfio e outras causas sto julgadas por outros ‘magistrados. Um princfpio similar prevalece'em Cartago, onde os ‘magistrados julgam todas as causas. Com efeito, devemos modificar nossa defini¢ao de cidadao, para incluir essas Cidades. Nestas, 0 membro da assembléia ou do tribunal nfo exerce uma magistratura indefinida ¢ sim uma magistratura em conformidade com suas atribuig6es. Alguns deles legislam e julgam sobre todas as coisas ou algumas delas. A concepedio de cidado agora comeca a ficar clara. ‘Aquele que tem o poder de tomar parte na administragdo deli- berativa ou judicial de alguma Cidade, dizemos que é cidadtio daquela Cidade, ¢ falando em geral, uma Cidade 6 um corpo de cidadios suficiente para atender as necessidades da vida, Capitulo I Entretanto, na prética um cidadao 6 definido como aquele cujos pais s%io cidadios; outros insistem em ir mais ainda para trés, até os segundos, terceiros ou mais ancestrais. Esta é uma curta e pritica definigéo, mas implica uma outra questio: como esses terceiros ou quartos ancestrais vieram a ser cidadios? Gérgias de Leonte, em parte porque ficava em dificuldade para responder, em parte por ironia, dizia, “A argamassa 6 feita pelos atifices de argamassa, ¢ os cidadios de Larissa so feitos pelos magistrados, pois 0 offcio deles ¢ fazer larissianos”. No entanto, a questio é bastante simples, pois, de acordo com a definigdo que acabamos de dar, cidadio & aquele que participa do governo, Esta é uma definigtio melhor que a outra, pois as palavras “nascido de pais cidadios” nfio pode ser ada aos primeiros habitantes ou fundadores de uma Cidade, ‘HA mais dificuldade, ainda, no caso daqueles que se fizeram cidadaos depois de uma revolugio, como a cidadania outorgada por Clifstenes, em Atenas, depois da expulsio dos tiranos, quando ele formou tribos novas de estrangeiros ¢ escravos. A diivida af é se tais homens receberam justamente ou néo o titulo, Ha também outra diivida: se nfo receberam o titulo com justiga, entio seriam eles ilegitimamente cidad#os? E na verdade, nesse cas comesponde a “errado”, Com efeito, vemos, &s vezes, homens a governar erradamente, mas néo.podemossnegar que governem, ¢ sim dizer que governam oan: a cidadéos como aqueles que participam de algum)tipo de Magistratura judicial ou legislativa. Assim, 6 eyiente qe mesmo Homens que receberam ee lo de cidados devem ser, considerados Capitulo II Se cles deveriam ou n&o ser cidadios ¢ uma pergunta que est ligada & nossa indagagio anterior, pois levanta uma outra questo a respeito da Cidade, a saber, se determinado ato é ou no um ato da Cidade, como, por exemplo, na transigfo de uma oligarquia ou uma tirania para uma democracia, Em um caso assim, algumas pessoas pensam que no se deva hontar seus contratos ou alguma outra obrigagio contrafdos no governo anterior, alegando terem sido assumidos pelo tirano, ¢ nfo pela Cidade. Eles alegam que essa constituigio foi estabelecida pela forga e nfo tem em mira bem comum, Mas isso pode ser igualmente aplicado a democt pois esta também pode ter sido fundada pela violéncia e, entio, os atos da democracia seriio nem mais nem menos os da Cidade, do mesmo modo que o seriam no caso de uma oligarquia ou de uma Esta questiio entrelaca-se a uma outra: com base em que princfpios podemos dizer que uma cidade é a mesma que era, ou que € uma outra? O modo mais superficial de se considerar a Guestio € faz8-lo apenas pelo territério e sua populagio (pois a terra e a populagdo podem tet-se separado, ¢ alguns dos habitantes podem viver em um lugar e outros em outros. Entretanto, isso niio f4cil de resolver; 86 precisamos observar que a palavra “Cidade” 6 amb{gua, tendo varias acepeSes, Na sequéncia perguntamos: quando pode ser considerado uma Cidade una esse lugar em que homens que vivem agrupados — qual € 0 limite? Certamente essa unidade nfo é dada pelo muro que cerea, porque, nesse caso, poder-se-ia por um muro cercando todo 0 Peloponeso. Talvez a Babil6nia seja um caso desses, bem como toda cidade da qual o perimetro seja o de uma nago, mais | que 0 da cidade, Na ocasido em que houve a eaptura da Babildnia, dizem que grande parte da Cidade 6 ficou sabendo do fato trés dias depois de ocorrido, Essa questio pode ser examinada com mais proveito em outra ocasitio;-o-estadista-tem de considerar 0 tamanho da Cidade e se ela deve consistir de mais de uma raga ou nfo, Deverfamos, entdo, dizer que a Cidade em que a mesma popu- ago vive no mesmo lugar é a mesma Cidade enquanto o povo for da mesma raga, embora sempre haja alguém nascendo ou mor- rendo, do mesmo modo que dizemos que um rio ou uma fonte so sempre 0s mesmos, embora sempre esteja entrando ou saindo um novo fluxo de agua nesse rio ou fonte? Oui deverfamos dizer que as geragées de homens, como 0s rios, sfio as mesmas, porém a Cidade muda? Pois a Cidade 6 uma associagio, e uma associacio de cida- dios sob uma constituigtio; quando a forma de governo muda ¢ toma-se diferente, parece que a Cidade nfo é mais a mesma, como um coro trgico difere de um coro de comédia, embora os membros do coro sejam os mesmos. E dizemos que cada conjunto ou com- posigdo de elementos tomna-se diferente quando a forma de sua composicio se altera; por exemplo, de uma escala musical que contém 0s mesmos sons, dizemos que é diferente conforme € tocada no modo dério ou frigio. Se for assim, 6 evidente que uma Cidade continua a mesma por causa de sua constituiggo, seja ou no chamada pelo mesmo nome, sejam os seus habitantes os mesmos ou inteiramente diferentes. Se uma cidade deve ou nifo honrar seus compromissos assumidos antes de adotar uma nova constituigio outra questo, Capitulo IV ‘Hé um outro ponto estreitamente relacionado com o precedente: se a virtude do homem bom e @ do cidado bom sto as mesmas*, Mas antes de entrar nessa discuss, temos de ter, certamente, uma primeira nocio da virtude do cidadio. Como 0 marinheiro, 0 cidadio € um membro da comunidade; embora os marinheiros tenham diferentes fungBes — um 6 remador, outro € o timoneiro, outro é 0 vigia de proa, e outros tenham isso, a definicao de cada excelénci vamente a cada um, haverd, a0 mesmo tempo, uma definicéo comum aplicdvel a todos eles, visto.que todos tém um objeto comum, que é 2 ? Cf. Etica a Nicémaco}' 1130 b,'no final. (N. do T.) seguranga ni navegago. Similarmente, cada cidadio difere do outro, mas a salvaguarda da comunidade € 0 trabalho de todos eles. Essa comunidade € a constituigdo, a virtude do cidadio deve, portanto, ser relativa & cor da qual ele € membro. Se, iversas formas de governo, é evidente que nio hd apenas i ude, Dissemos que o homem bom ¢ aquele que possui uma tinica virtude, a virtude perfeita, mas é evidente que o bom cidadio nao necesita possuir a virtude que faz um homem bom. A mesma questo pode ser abordada por outra forma, pela consideragto da melhor constituigdo, Se a Cidade nfo pode ser inteiramente composta de homens bons, ¢ se cada cidadio deve desempenhar bem a tarefa relativa & sua fungo, o que 86 é possivel pela exceléncia de cada um, a virtude do bom cidadio e a do homem bom néo coincidem, Todos devem ter a cidada terio todos a virtude do homem bom, visto que reconhecemos que na boa Cidade 0s cidadios nio sero necessariamente homens bons. ‘A Cidade, uma vez que 6 composta por dessemelhantes, pode ser comparada aos seres animados, que so compostos de alma e corpo: do mesmo modo que a alma & composta do prinefpio racional ¢ das paixdes, a familia é formada do marido e da esposa, a mente, a virtude de todos os cidadaos nfo pode ser a mesma, do mesmo modo que a virtude de um corifeu nao pode ser a mesma que @ do dangarino ao seu lado. E 0 que dissemos & 0 ‘Mas entao néo haveré nenhum caso em que a virtude do bom cidado e a do homem bom coincidam? A isso tesponderemos que © bom governante é um homem bom ¢ sensato, e que aquele: que quiser ser um estadista deverd ser um homem sensato. Algumas pessoas dizem, até, que a educagdo do governante deve ser de um tipo especial; e com efeito, vemos que os filhos de reis sto instrufdos em exercfcios militares e equitagio.,Como disse Eurfpides*: » Fragmento 16, v. 2, nafeoletanegide Nauck. (N. do 7.) Nada de artes sutis para mim, mas tdo-somente o que a Cidade requet, como se houvesse uma educagio especial para um governante, Se entéo a virtude de um bom governante é a mesma de um homem bom, e supSe-se que se permanece sendo cidadéo no ato ‘mesmo de obedecer a um superior, a virtude do bom cidadio ¢ a virtude do homem bom no pode absolutamente ser a mesma (embora em alguns casos particulares possam ser), pois a virtude do governante difere da de um cidadao. Foi a nogdo dessa diferenga que levou Jasio a dizer que se sentia miservel quando nifo exercia nia, querendo com isso significar que nfo conseguia viver mo homem que no tem offcio piblico, Mas, por outro lado, louvamos tanto 0 homem que sabe mandar como o homem que sabe obedecer, e parece que 0 cidadio virtuoso & aquele capacitado nto para uma coisa como para a outra. Se admitirmos que a ide do homem bom é saber mandar, e a virtude do cidadio ‘mandar ¢ obedecer, no se pode dizer que eles sejam igualmente merecedores dos mesmos clogios. Assim, como se supée, &s vezes, que aquele que comanda e aquele que obedece devam aprender coisas diferentes, e nao as mesmas, e que, porém, ‘ocidadio deva conhecer ambas as artes ¢ partilhar as duas posigées, a inferéncia é ébyia: hé uma forma de autoridade que é a do senhor, ccuja parte relacionada aos trabalhos domésticos no requer que o senor saiba desempenhé-las, mas que saiba comandar outros para que @ executem; a outra capacidade (quero dizer, a capacidade de executar aqueles tais trabalhos domésticos) é a do escravo, Hé vérias espécies de tarefas, as quais so executadas pelas varias espécies de escravos, como por exemplo, os trabalhadores manuais, les que vivem pelo labor de suas mos, entre os quais se Iuem 0s artffices mec&nicos. Por isso, antigamente, em algumas ¢ dos trabalhadores ndo participavam do governo — um privilégio que eles adquiriram somente sob uma democracia extremada. Certamente o homem bom, o estaclsta e 0 bom cidadao aprender 0 offcio dos inferiores, exceto para seu uso se eles praticassem habitualmente essas tarefas, cessaria io entre senhor e,escré - i, contudo, um outro tipo'de anforidade a qual é exercida sobre homens livres e iguais —jima autoridade con: qual 0 governante deve render enquantg ‘governado, do mesmo yl modo que se aprende a ser general de cavalatia‘enquanto se comandado pelo general de cavalatia, ou s6 ser 0 comandante da {infantaria ap6s ter servigo sobre um comandante da infantaria e ter comandado um regimento e uma companhia de cavalaria, Esté certo, pois, aquele que disse: “quem jamais aprendeu a obedecer niio pode ser um bom comandant ide do que comanda ea do que obedece no so a mesma, mas o bom cidadio deve ser capaz de ambos; ele deve saber governar, nos dois aspectos, como um homem livre — essas so as virtudes de um cidadio, E, embora ‘a temperanga e a justiga em um governante sejam de um governado, a virtude de um homem bom as Pois a virtude do homem bom, por exemplo, a sua justica, nfo é a mesma de quando ele 6 govenado e de quando ele € livre: a que o Qualifica para governar difere daquela que o qualifica para obedecer, do mesmo modo que a coragem dos homens difere da das mulheres (pois um homem seria tido como covarde se tivesse a coragem de uma mulher corajosa, e uma mulher seria considerada muito loquaz se fosse tio comedida quanto um homem bom em uma conversagio; com efeito, a participagzo deles na administragio doméstica so diferentes, a de um € adquirir © a outra é preservar. A sabedoria Pritica € a tinica caracteristica apenas do governante; todas as Outras virtudes so igualmente proprias tanto a0 que comanda ‘quanto para o comandado. A virtude do que é comandado certamente no € a sabedoria, mas a sinceridade em dar a op le pode ser ‘comparado ao que faz flautas, € o governante, ao flautista, Essas consideragdes precedentes respondem A questo de se a vVirtude do homem bom 6 a mesma ou nio da do bom cidadio, o ‘quanto elas so as mesmas ¢ o quanto elas diferem, Capitulo V Resta ainda uma questio a respeito do cidadio: é s6 um legitimo cidadio que deve partilhar as magistraturas, ou o artifice deve ser inclufdo nisso? Se aqueles que nto podem ocupar magistraturas devem ser considerados cidadfos, entio a virtude deles nfo pode mais ser a mesma, conforme disse mos, pois.um artifice sera um. cidadio. B, se nenhum es é cic fem parte da Cidade devem ser situados, umaitvez que, sao eftrangeiros residentes propyimenteMaland6? Mii podemos responder ce aan que essa objegto € absurda, pois tampouco as eseravos eos libertos pertencem as classes que mencionamos acima? Devemos admitir que nao podemos considerar como cidadios todos aqueles que siio necessérios & existéncia da Cidade; por exemplo, criangas no sio cidadios no mesmo sentido que um adulto; este € cidadio absoluta- mente, enquanto, as criangas 0 sio incompletamente, Com efeito, nos tempos antigos, entre algumas nagdes a classe dos artifices era constitufda de escravos ou estrangeiros e é por essa raaio que a maioria deles hoje tem essa origem, A melhor forma de Cidade no deverd admitir os artffices como cidadios; mas se forem admitidos, entio nossa definigto de virtude nao se aplicaré a todo cidadio ¢ homem livre, mas apenas nos cidaclos isentos das atividades servis, eles que prestam seus servigos nas necessidades da vida aos ‘no assim chamado governo dos melhores, no conferidas de acordo com a virtude ¢ 0 mérito, poderia praticara virtude tendo uma vida de tamanho da riqueza e, portanto, nenhum assal ser cidadao, mas um artifice poderia, pois a maior Em Tebas, havia uma pela qual nenhum homem que exercesse 0 F alguma magistratura; s6 0 poderia fazer esse afastado daquela atividade hé pelo menos dez anos, o niimero de cidadtios aumenta, sto excludos da cidad: ramente os filhos de pai ou mie escravos, de| 36 mile cidada, ¢ por fim o dircito & cidadania 6 que tem pai e mie cidados. Pelo.que se véyde modo evidente que hi diferentes espécies de didadtios, e:que cifladio, no sentido pleno, € aquele que participa das magistraturas da’ Cidade. Conforme est impleito as palavras defHomero! a ‘Como algum estrangeiro desonrado, pois aquele que ¢ exclufdo da participagio nas fungées puiblicas da Cidade nao € melhor que um estrangeiro. Mas, as vezes, essa exclusto 6 encoberta, com o objetivo de a classe privilegiada tude do homem bom € a mesma do bom cidadiio, as consideragSes precedentes provam que em algumas Cidades elas sio as mesmas, ¢ em outras, diferente. ‘Quando stio as mesmas, nao é todo cidadio que é um homem bom, € sim apenas o homem polftico que, sozinho ou junto com outros, ocupa-se dos assuntos piiblicos. Capitulo VI Havendo determinado essas questées, vamos agora considerar se hd apenas uma forma de constituicdo ou se hé varias, quais quantas sto elas, e quais sZo as diferencas entre elas. Uma constituigéo € a disposicto das magistraturas em uma Cidade, especialmente a mais alta delas. O governo é em toda parte soberano, e a constituigao € na verdade o governo. Por exemplo, na democracia 0 povo é soberano, e nas oligarquias so uns poucos; e, izemos que essas duas formas de governo so diferentes, & se dé em relagio a outras formas de governo, Primeiramente, consideremos qual é o objetivo de uma Cidade is so as formas de governo pelas quais as sociedades stio reguladas, Dissemos, na primeira parte deste tratado, lo discutimos a administraca0 doméstica e o poder do senor, que o homem é por natureza um animal politico*, Por conseguinte, mesmo ‘quando 0s homens no precisam de ajuda mitua, ainda assim tém o desejo de viver juntos; eles sto levados a se associat por seus interesses em comum proporgo que conseguem alguma medida de bem-cstar. Esta € certamente a principal tanto do individuo quanto das Cidades, mas os homens lesmente para viver (no que deve haver algum sublime esde que os infortinios.da existéncia estejam contraba- ‘+ No sentido de viver na'pélis, de viver em éociedade., (N, do T.) langados com as coisas boas). Vemos que os homens se associam e mantém conjuntamente uma comunidade pol apegam a vida mesmo A custa de grande so! encontrar na vida uma dogura natural e felicidade, iculdade em distinguir as varias espécies de auto- las foram freqtlentemente definidas em nossas discuss6es, as*, O poder do senhor sobre o escravo, embora o escravo por natureza e 0 senhor por natureza tenham, na realidade, os mesmos interesses, é exercida, néo obstante, tendo em vista primariamente © interesse do senhor, e acidentalmente o interesse do escravo, pois se 0 escravo perecer, o poder do senhor perecerd com ele. Por outro lado, 0 govern do senhor sobre a esposa e os filhos, 0 qual deno- minamos governo doméstico, ¢ exercitado para o bem dos gover nados ou no interesse comum de ambas as partes, mas essencial- mente para o bem dos governados, como podemos ver que ocorre no caso da medicina, da gindstica ¢ nas artes em geral, que sio praticadas essencialmente no interesse das pessoas que a clas se submetera, mas apenas acidentalmente no interesse da prépria pessoa que a exerce, pois nfio hé razZo para que 0 treinador nfo possa, as marinheiro na tripulagao, Assim, 0 treinador ¢ o timonei deram 0 bem daqueles que esto submetidos aos seus cuidados, ‘mas acidentalmente participam dos beneficios, haja vista que 0 timoneiro é também um marinheiro, e 0 homens que treinam sob seus préprios cuidados. Assim também se passa na politica: quando a Cidade ¢ estabelecida segundo o princfpio da igualdade © equivaléncia entre os cidadios, ali os cidadios pensam ter o diteito de ocupar as magistraturas por tusno. Antiga- mente, como é natural, cada qual se alternava nos cargos; entio, alguém que estava ocupando uma magistratura olhava pelo interesse de quem nio estava, 0 qual, igualmente, olhava pelo interesse dos outros quando estivesse ocupando uma magistratura, Mas, atual- mente, com o objetivo de obter vantagens no exerc{cio dos cargos, ‘0s homens querem conservar esses cargos para si, como se 0 fato de continuar os ocupando Ihes conferisse satide (pois, nesse caso, estariam certos em querer continuar ocupando os cargos). A con- * Para o pal fora da escola; o contrdtio dbiesotérico (que é reservado 0s iniciado ; ¥ ido.) j Clustio € evidente: os governos que tém em vista o interesse comum estd constitufdo em conformidade com os princfpios de justiga e, Portanto, estruturados corretamente, mas aqueles que tém em vista apenas © interesse dos governantes so todos falhos e formas desviadas das constituigdes corretas, visto que sto despéticos, ‘enquanto a Cidade 6 uma comunidade de homens livres, Capitulo VIT Havendo determinado esses pontos, devemos considerara seguir quantas ¢ quais so as formas de govemo. Em primeiro lugar, devemos examinar quais sfo as formas correta de constituigko, ‘quando elas forem determinadas, seus desvios ficario aparentes As palavras “constituico” e “governo” tém o mesmo sentido, ¢ 0 governo, que é a suprema autoridade na Cidade, tem de estar, ou nas milos de um, ou nas de uns poucos, ou nas de muitos. Por conseguinte, as formas corretas de con quais uma tnica pessoa, umas poucas pessoas ou muites pessoas Bovernam visando 2o interesse comum; enquanto os governos que tém em vista o interesse privado, seja de um, seja de uns poucos, seja de muitos, sto desvios de co corretas, pois os membros da Cidade, se eles so verdadeiramente cidadios, devem participar da vantagem comum. Das formes de governo em que um s6 governa, chamamos a que visa 20 bem comum de monarquia; das que overnam uns poucos, os melhores homens, visando ao bem comuim, chamamos aristocracia; e quando uma grande parte dos cidadiog administra a Cidade, tendo em mira o bem comum, 6 governo é chamado por um nome genérico, “constituigio”, que é um nome comum a todas as outras. E hd uma razdo para usar essa palavra, Ao passo que um homem ou uns poucos homens podem sobrepujar or suas virtudes, quando o miimero de homens aumenta torna-se i obter perfeicio em cada espécie de virtude, embora possam Sobrepujar em virtude militar, pois esta 6 encontrada no maior niimero, Desse modo, em um governo constitucional os guerreiros temo poder supremo, ¢ aqueles que possuem armas stio 08 cidadios, Das formas de const i das, 08 desvios sto: rania 6 uma espécie Pm que apenas s¢ visa'xo‘ttteresse do monarca: a oligarquia é 0 governo no qual apenas se considera os interesses dos ricos; democracia é 0 governo no qual se tem em mira apenas © interesse da massa, nenhuma dessas formas governa para o interesse de toda 2 sociedade. Capitulo VIII Hé, todavia, dificuldades nesse assunto e, portanto, seria neces- sfrio nos deter um pouco mais para examinar a natureza de cada uma dessas formas de governo, pois aquele que pretende fazer um exame filos6fico da matéria, e nfo apenas um exame de ordem pritica, nflo deve omitir nenhum detathe e sim evidenciar a verdade em cada particular, Tirania, conforme dizfamos, é a monarquia ‘exercendo o poder do senhor sobre a sociedade politica; i € quando os donos das riquezas tém o governo em suas democracia, o oposto, quando os pobs sio 0s governantes. A primeira dificuldade & sobre a definigho: democracia é dita do governo de muitos, mas e se muitos so donos das riquezas © tém o poder em suas mios? Do mesmo modo, oligarquia é dita do governo de poucos, mas e se os pobres stio em ‘menor niimero que 0s ricos ¢ tém 0 poder em suas mios porque so ‘mais fortes? Nesses casos a distingZo que tinhamos sobre as formas de governo nfo parece muito boa, inda, que combinemos a riqueza com poucos ¢ a » € denominemos oligarquia a cons qual 08 ricos, sendo poucos, sto os governantes, ¢ democr ‘em que os pobres, sendo muitos, sto 0s governantes — isso também rigs leva a uma dificuldade, pois se as tinicas formas de governo stio ‘as que mencionamos antes, como poderfamos descrever essas outras formas de governo, que acabamos de mencionar, na qual os ricos sio mais numerosos ¢ os pobres siio em menor ntimero, ¢ 0 poder estivesse nas méos dos ticos, no primeiro caso, e dos pobres, no segundo caso? ‘© argumento parece mostrar que € acidental que poucos ou muitos governem nas oligarquias ou nas democracias, porque, em toda parte, o ntimero de ricos menor e o de pobres, maior. Mas, se é assim, hé um equivoco na causa das diferengas entre eles; a verdadeira diferenga entre democracia e oligarquia é a pobreza e a riqueza. Em toda parte que os jiomens governem em razifo de sua riqueza, sejam muitos ou poucos, hé ali uma oligarquia, e em todo lugar em que os pobres governem, ali existe uma democraci Eum fato que, geralmente, 05 ricos silo poucos e os pobre abundancia é para poucos, mas a liberdade & de todos os i riqueza e liberdade slo os fundamentos para as pretensbes ao poder | j na Cidade tanto do lado oligérquico quanto do lado democritico.

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