Você está na página 1de 5
EDIPUCRS — Golegao Memoria das Letras 6-SILVA, Marcia Ivana de Lima e. ‘A Génese de Incidente em Antares, 2000, 176 p. Os pedidos deverio ser encaminhados a EDIPUCRS Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 33, Caixa Postal 1429 '90619-800 - Porto Alegre ~ RS/BRASIL ww. pucrs.br/edipucrs! E-mail eipucrs @pucrs br Fone/Fax: (51) 3820.3523 Uma outra histéria Sobre as relag6es do jornalismo com a literatura na década de 70 Rildo Cosson ° ‘Tendo suns fronteirsconstantemente reread por frga do intereimbio de Wena, erase autores a lates que os cur sos joralitics « terri mani ente si parecer to antiga uaa popes consul do cada um dace No cas rast, ‘sas reas so eviderciadas a 66 plo fato dea tion dos nassos homens de eta stem concoilntementeexcres Joralists, come também pels exténcin da nose coca co {Statutonaveatvo canna rte o jamais aerate ‘Anda asin no 0 pcos on econ gue partklsizam a décadnde 0 camo um momento dette lpg quer tema, {quer formal, env jrasno e iterates, Devt Amaguct I pot eremplo, evominando de“Jorsal rsikmno alepona o romance ‘brasileiro recente” o debate que realizou com Flavio Aguiar, Car- Jos Vogt La Tees Wie Jato Las Late, angumetia que @ romance da ca rloms 0 sealsno ou satura através Se lara forts ligaco com as Werks da excita joraltc Antonio rid. em A ors aratina: coments que iarcada poe end ‘as muito diversas, 0 trago fandamental da arative atl no Podera debear de se" leitimagdo da plarldade onde -a he ‘0 reste na came mals serve! impacto do hom oralistico ‘nademo, do exparoeoineremento de Feviese pen sera. ‘ic, da propaganda, da elewsio, das vanguard poetics qc atuam desde o fim dos anes 50" p. 210, Tembem Helen Bure de Holanda e Mercos Augusto Concave em un falar inc ‘Yo sbre a prelio cultural da dada, efeenvsecostatemer- i Ace ods, Sto Pas: Pal 17 ete poe ena ct Sony on 97 lien hep ane bres Aa 7 Rd i: apa tae if ‘abel enasea: akin etna eins {ea uma “aproximago da lerturs edo omaliame na fg re- ceote"(p. 19 aproximagio essa que ¢ narmelmenteconfsnada pelos esrtorese eitios do perodo al entrevitados, Fras ao ‘2Poste, no ve pode deisardeindagaro que teria deternado fie particu reasgo enc trata ¢jrnalisow a decade ‘rs prima expiago dada 2 fendmeno ena censure lmposte pela diadura.Igndcio de Loyola Beancio’ em ust mace de esaio depoimenta, consiala que ros ance 700 campo da erature ft tomado pela presenga de um grande nme dc case ‘ores provenientes dos meios de comunieaio de massa, panel Palmento joralisas. A rar de tl “migrasao"esarn leds a {so da censura no mais, que empureva os oman fac ok brecha abelas no font da Iteratura, fazendo fom que sarge “ness fempo wins Iteratura que, ser flta com are nv on tant uma induinea forte do joralsmo, de documents se depot cme caniocinent i eet cna proviso" (. 178). Igualmente, Fvio Aguiar, no clade debut om Pavi Argued J argumenta que alitratrade ween tea pres a um descjo de veracdade, a um compromisso como atualidadee com a referencalidade, elementos priprios do fora smo que terminaia aseumindo vicaiomente: Fars eiied exe ‘erature assumiu o papel de resist poliicamente 4s atinane: dades de censura noe jomais eros ours melos de cominieea dlenunciand revan as vende cas no anc. et 1a mascarada pala versto ofc. Ee papel em elchrols tse «expo pelo plc, cxene Senornarte ea ‘ulgudas or otos cana A ese respeit€ lustre 0 depots mento de Ivan Angelo’ sobre seu romance A feta “fal um eo indurido cobra, peutado,porqueasoceade no tinka coma {xpressar os livros eram um dos poncoe espays onde spare cats poi sda Tudo omuisem lente conaadan nlretanto se a censura€ um fator doteminante ds aprox ‘masio eit ltratura e jomalismo ros anos 70, com recerkoorn 4 aio parte dos crticos ainda hoje nem por isu ea Gove eer toads dn eo ina cata: Nome see Se » ee Rg tr ne or me * SEG CRB UE Sy rescaietreet Ro ta ec ane pe Pipes inte a 328 Letmsse toe «Rilo Coan pica como decors da conuraa predomindncis de dois pos fe oe foes de cn dp «oman ‘sportagom, Sivlana Santiago’ adverts gue acensuira no pode Ser {omada como explcaho dita para 0 fendmeno. No sua opin, seria erneo ver uma causalidade simples enlzecenstra e emergéncia dees dos tipos de livros na década de 70 no Bas (G52). Dese mado, sea censuta cable operou restric casi- Aeriveis, nem por isso pode ser consderada como + unis rmsponsivel dos caminhos tomados pela literatura dos ands 70 inclusive na sua ligagto com o jamaisino. A mesma posto € compariihada por More Sissckind que em Litrtura ¢ vide ltr? arma see 9 censure ma pists de mo dupa que 880 expla sorinha es opie Iiterdrias dos excritore do petodo da Giladura. Para ele, une arise mais curada do contest s6cio- Utero da década revela que 2 censura, loge do se a cues sxplicagio do “cline” de jomalismo na teeatra e d3 desmobs tno da praioliriaectsa da pox aperastin Sex personage eiades nos doi tina decries (p12). A cena, devem sara dad accom ee neti oon clement aiscom a plitca de coopagio do gover ataves de oncursom prenics ¢ Comin de Srey ie ¢ proedo econdmica, que wetava elo a determinadas itor ‘Aolado de todos esses fatorescorjuntuasigads 2 enc politico do momento, aproxinaca ene iteratrae oral 1a década de 70 ¢ igiaimente determineda por raz6es inter 20 proprio campo litre. Retomando as indcagbes de Davi Arti. suc Jt. e Helosa Buarque de Holland, Hore Scssekind prope, fr Tl Brasil qual roman? qe se lea tl aproximagSo como pa fe de um naturalism endémico que emerge pecodicamente na literatura brasileta. jonalism cums ago papel azuenigo pla elénia natural na virada do seculo e pela economia 08 an03 53 isto 6 0 fornciment hlteratura naturalista de porretron Clnis eds modelos aalivas da pages, do can li €0.¢do ciclo econdmico, espectivament Domes rd,han cenei prio do capo dojo rslismo que contribs paca explica forte Bgerio entre itecara ‘oral déeads de 70. De acer com Antono Hote, fe Relages entre jmalimo e literatura na décade de 707," alem Repeater cap de sm dela de 7E Yala po Ride ce Pare Tn 9 + cp a 18, Te derek, Abn a {ss ented, Porto Age EL/EDPLCRS 16 Umacevanishide S07 dda censura e do naturalismo que se repeticia mais uma vez na lite ‘ature brasileira, um terceiro fator de aproxitmosao entee on dois liscursos consistria numa antiga aspiragto de todo jonalista de fazer literatura, uma vez que literatura & vista como uma conse. Bragio ou espago cultural superior ao jomalisme. Asst, forgados Pela censura, de um lado, e beneficiados pelo zetorno do natura lismo, de outro, os jornalistas também reallaavam o sono de fazer jomalismo com literatura ou literatura como jomelismo, Consideradas essas proposigses stravés das quais a extica procura explicar o estreito relacionamento que a literatura mante- ‘yecom ojomalismo na década de 70, é possivel que um importan. te fator tenha sido esquecido ou, pelo menos, nio explorado ade- quadamente. Nossa hipstese é que mais que as pressaes imediatas dda censura, um suposto retoeno do naturalismo e o dese de atin fit a condiglo de escritor, os jomalistas migravar em dregao § Miteratura por causa das transformagies estruturais da imprenst brasileira. Em outras palavras, acreditamos que a migragio jorna, listiea verficada nos anos 70 tenn como forga de maior propulsao © estreitamento, se nBo desapareciment, doe espagos de con \véneia entre literature ejornalismo na campo jornalistico, ita a5 transformagdes que levaram o jornalismo a integrar-se definitive: mente 3 inddstria cultural. Como se sabe, o joralismo brasileiro, como de resto aconte- ‘etl em outros paises, nasceu ligado & literatura e & politica." O) primeiro jornal brasileiro, nko sem razio initulado Corteie Brasi- liese ou Armazém Litera, de Hipslito da Costa, tazia exse card fer amplo de joralismo como eseita doutringria em bom estilo, ‘Nilo que a literatura fosse a preocupagio maior dos jocnalsias de centio. Na verdade, a literatura entrava nos jornals tanto como est Jo auniliae ou fundamento necessirio para relSrica politica, quam to-como uma atragao para os leitores, através de matétas propriae mente ficionais ou quase, como we pode verficar nos eapagos das ‘ariedades e dos folhetins de onde Se originou a erdnica, Ease pa ddrio inicial que misturava jomalismo, Iteratura e politic val se ‘manter, com as devidas alterag0es, por todo o século XIX e avanga ‘mesmo durante os primeiros anos do século XX. Paulatinamente, pporém, acomparhando as trarsformagies gerais da eociedade, 08 Jomais comecam a se transformar er diregio a ui jornaliemo Que ‘al trocara literatura ea politica explicita pela informagdo- "So geendemon aga ctvbment, segue ets une Hsia do jai ‘rast, is apenas aah elgurs das rasan moa pte 308 Lanes dots iocosson No percurso de “mexlrizasto do joraisma, as empresas joxnalistieas vio determinando un novo cost pata jomal bras Iso e apronimando-se cada ver mais Go jomaismo informatio, onforme opodto norte amercano Passos dese pereirso podem Ser vistes, por exempo, a compra stemsen ds srvigon das Agéncias denotes intemacionais No esabelecinento de ager Glas de publckede, que amplam os reninerdes des orais para ld ds classifies. Na ampli ds istalagoae gies com 2 importagio de maguinas de impressto moderna, No apersga™ eo mento das peticas de comercaizaes, a parts da malhoria da Aistbuigo. Na formagto de casein de comuricaco, cas qua os Disrios Assocadoe si oexemplo primeira" Na compet pelos arandestngens ¢ mo sorgimentoe cvacimento dos stems do 1 ee alms aus we ' "A madeeizast0 do oral nBo ¢spenae tence empresa ‘Aolado dela o propio easo rales comeca também se lt fat acompantande as mudangas gréfiess da face do Jornal. As ‘Fansformagos no eto joralstica, nou ria cama nove Jomalismo™ tam seus anacos nos jorvais Dido Coren, tiny Horm fra Bras Sto ees que intrdzem no jomalisna bea sie as ténicas usadab no jamais americaro, fie como © isi, seompanhaco por sms slo os manus de tedagh, 03 copiesques, on cademos etre 0 colanismo social c= par tamente ds pesgulsn¢ dactenentagi, entre ote tenia Tarn na pris de oral, as mudangas foram pro- fundas Na verdabe aio tno dx anon 70a profi sla Caren de uma dentidade propria, Egcever o jomal esr forma lista eam sninos ce uma atvdade intelectesl de sdvogade, pollicos, eprtoresefelondcoe do Etado que tinhom ern O° ‘uma produ esrta sem espeializageo. Os oman poi Sionas"eram poxcos e rarementecependiamapenss dessa atv dade profsional. Ena sitio comesar a maar concetamente er 1983 com a zegolamestaga de profit de joralista econ sR ire no ay Ke ce Seeks a ciaeeesentatas ormeeeranaase Siete ren oe ESrfetieet pas apem pass Riese meres + RES iaEe tah ue setdance nb" gee nn sor are Ei pereitanls ncn wea tnaras Solo eee eee Seen ae ese ‘ure ew riewdn 309 seqete reserva de mercado para os eressce das excls de oma: "smo, Eta por sua ver, se expardot numa veledade tree, Sonat, meena a etn doje esse meno period, os grandes joa lcaram a profs Sionalzao de sas redbes,atand moon Se gerne t0¢ produto de noccas mas adeyuaicn oregracde perce ne le, Aids a defintvsincorporayo do ores node caltural que val conoid 0 ovo padeto palsies, Nate sobretudo de mendes de ©, quando ac vanstornactee fonts Scones do pig gram as cones paras prrdinn mos de bers euluai ws grandes emprass omlation aeons [Processo de ‘modernizacto’." Por um lado, 0 crescimento ‘do nii- sro de llores es recsidaes decent: da concen fidio cde televsi; por oto, 0 apoio scordmica recdile as regime also que enti sens, facltandosioner eee nas terol, permit que o jotralismp soak ce ee io reguladordo compo a liga ce neeade sonsh 0" pate desis risdanas grates, elit, profs sloais gern. queiratauram um Save pedstofacciohesy Br, erase en deo a0 modelo de feaiscee ames Eta desde o ino do seule para dince steamer an suas produai cro, Para tanto dove scr abjeive coteerce alender is ecestdads ce iorunso de sees hioee Ba anal 9 ve cur ral ree seam Instinca is epeccidads do joral que egne se nts nivamente irlstia cultura ia St Reato Ora A woken bdr. So Fle: Bsns “crane ‘pen a conrae co namaren So nani arming ets do 50 090 os dnc po Ferseakire pis De soro o et mares de Mas soar rains ree Repel ts HE caments dn duran ie gare ness tas pane A f i of # ‘ t 310 Laas doieie © ue Coton ‘Aqui tem rad Carlos Eduardo Lins da Stva quar, ern O ‘Alisa da Vora a ifléncia Americana we o Jornal Bre *0"afima que o jornallamo brasieico 6 cada vex mals nflncio do peo ortasmo american. Para Lins da Siva, essa ifincia tstd dentro da inuénia geal, ecards e eral, dos Estados Unidos sobre o Brasil tom como agentes epeifios os jonaisias que, vivendo um peiodo raqule pais, volta tazendo as Yen as daquel oralismo para 9 braseia” Tamisém dever ser com- fads nesta lista os seminérios da Sociedade Inceramericana de Imprensa eos grandes fos omaliaticos, como € 0 caso Watergate, Outro agente areclado $20 25 prdpias escola de comunicacto, ura ver que seguem de prt a extrutura dos cuss de oralisn dos atadts Unidos e adotam a bliograta americana da sea, Todavia,lembra 0 auto, ese ccorhecitsento 49 iincia rio dave ser encarado em termes absolutos Meso adotando injegralmante os prncpis da liberdae e de obevidade, ent ‘a8 € dologia americans, eso pica ainda nose corclidy- yam no jrralismo brasil tal qual no jomalismo smercano. A ies dos ressncasbhegerofiaamertcana $30 Wise enon tramse em diversas dreas da atvigade jomalien. Segundo Lins dda Silva, em razto de um vago manisma predominante entre 0s jommalisas,resite-so no Beas s0 eater capitalist do formal. ow Seje. que € um negocio destinado a ger heros. Daum aca de rissiondro que cerca empresiros e profissonais do setor. Outra resisténcia tem refiexos no estilo jornelisicn. Tralase da dealin G0 do joralisno como arte nfo como uma excita proisionale Telia, Para ns, cosas dus elstencias ~o sede de miso © Lum sentido attic e/a exativo, tusteam perteltamente como os Ais ragos que restavam da convivénca ou mistura de iterata. 2 com jorialismo nas pigiras dos jomals braless foram ou ‘stavam sendo elininados em favor do nova padeioorraistica” ‘Dentro do quadro das rsstincias a tase novo pac de jor ralismo, a imprensa eltemativateve in papel de grande impor tancia, Nese sentido, as das hipdtees Ievantada por José Lulz Braga pare explica «imprereeallemalva io poulusdamerte esclaectdoras de como 0 joralima se trarafoos durante © pevind dato Para ese autor, a imprene alteative tanto kien Ree nya i i tn then * > ar le chew e elimina Ee oie emeenan naman Sabie ere ussanee Rea ppodie ser da como uma criicn pragmética da indstria cultura juan como "tum sobressalto de adaptagio, uma eopécic de fetes dictnteapascagem Ga mprens linear eacen eect {mprensa capitalista moderna de grande empresa indisiea cule Ur 0, Desa ate aad un ep ie a de ‘ques que haviam perdido a peseiblidade de se exprescar soe Por razoes politica ou por eptdio 20 novo joralisene= Tarnoes Bernardo Kucinski em sua leiture das couses que levararn hae ‘prensa alterativa reclama da adogao das ténicts gereneais ane. Ficanas que desideologizava os jorais faverdo com que torn, 4stas percessem sua autonomia intelectual N80 sem raslo, pon tanto. como consiata 0 autor, que “na origem de toda averkons altemativa, haviaaideranca de omallste,ansiosos por se liste rem das restrigoes da grande imprenaa™ (p25). Toxavia ndo fo s6 a imprensa alternativa que se consti em expaco de resisténcia ou de refgio para os jrnalistn scorns, 210s pelos novos padietes de objetividade do lornulisma braccr £0. A literatura tamlsém estava la, quer na fortna Go romance, o- ‘mo espaco de realirasio de antigaa aspiragtes, quer no romance: Feportagem. que prometia na mistura dupla e cmblgua dos dow dlscurscs tanto a tecuperacio de uma tradigio de dislogo antes 0 Jomalismo e literatura quanto a possibiidade de uma Sova ole, ‘ho ente literatura ejornalismo. De qualquer manetra, fot no cam: Bo literio ou na sua frnteiea que‘0sJornalctas encontraraeyo liberdade de ua linguager livre dos mamas, tos téenicos, uma dimensio maior para 0 ¢ denunciar a miséria social. Em suma, o fendiieno do estreltamento de relagdes entre lite- *atura e joznalismo na década de 70 6 canseqiiéncia nao 96 da com ‘sura, de um anunciado retomo do naturalisno, de aspieagdes acto, Ses dos joralistm, mas sobrod de uma reterovaliagio de Jum espaco de exercicio litersrio e politico que existia dent do brasileim e que estava sendo eliminado ou modemiza. do. Ao buscarem abrigo no campo literirio, os Jornalistas contin, mavam uma tradiglo 20 mesmo tempo que informavam de seu desaparecimento, “ara. mabe una dis nen pr fin 2 prensa shea, pots" 0 paren dete cman prune nent ae de a pene reas [ecards Kn as hers age pas a » Renta rica A tpn eta ws Baad (868 ro Per SCA/USP. oie Dameron sii 812 Laas ncie rds Cosson

Você também pode gostar