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QUE VIOLENCIA E ESSA? Abuso Sexwal Supervisao / Coordenagao Técnica do Projeto Prof. Dr. Claudio Cohen - Psiquiatra / Psicanalista Coordenacao do Projeto Marcelo Moreira Neumann - Psicdlogo Elaboracgao Arlene Rodrigues Teixeira - Assistente Social Carla Segre Faiman - Psicdloga Claudia Figaro Garcia - Psicdloga Gisele Joana Gobbetti - Psicdloga Responsaveis CEARAS - Prof. Dr. Claudio Cohen (Coordenador) CRAMI-ABCD - Dr. Emilio Jaldin Calderén (Presidente) Agradecimentos As familias que contribuiram com a estruturagao dos nossos servigos € a consequente realizagao deste trabalho. Apoio Unicef - Fundo das Nag6es Unidas para a Infancia Dados Internacionais de Catalogagao na Publicacao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Abuso sexual : que violéncia é essa? / [supervisao/coordenagao técnica do projeto Claudio Cohen]. -- Sao Paulo : CEARAS ; Santo André, SP : CRAML-ABCD, 2000. Vérios autores 1. Criangas - Maus tratos 2. Criangas - Violéncia sexual 3. Crimes sexuais 4. Vitimas de abuso sexual |. Cohen, Claudio 00-1179 CDD-362.88 indices para catalogo sistematico: 1. Abuso sexual : Vitimas : Problemas sociais 362.88 Projeto Grafico: Companhia de Imprensa Assessoria & Comunicacao Fotolito Impress3o: Grande ABC Editora Grafica S.A evido a complexidade e importancia do Abuso Sexual lenquanto manifestagao de uma violéncia contra o ser humano, duas instituig6es, CEARAS e CRAMI - ABCD, tomaram a iniciativa de estruturar esta cartilha com o objetivo de sensibilizar, tanto a populagao quanto os profissionais que trabalnam com situagdes de abuso sexual. Para isto, este trabalho esta estruturado nos seguintes temas: o que é 0 abuso sexual; 0 que o diferencia de uma relacdo sexual “normal”; suas marcas sdo sempre visiveis ou nao; ocorre sempre por uma falta de entendimento de uma das partes ou ndo e em quais circunstandias isto pode acontecer . Asatide e ajustica também sao aspectos discutidos, uma vez que sempre estao presentes quando 0 assunto € 0 abuso sexual, pois este afeta tanto a satide fisica e mental da pessoa quanto o seu direito, enquanto cidadao, em dispor da propria sexualidade. O abuso sexual 6 uma questao social, ou seja, quais sao as conseqliéncias ou Nao da sua revelacao; 0 que pode acontecer socialmente para quem o sofreu e para quem 0 praticou; como o entorno social reage em situagdes como estas. Apresentamos alguns procedimentos que podem ser tomados quando uma pessoa se depara com uma situagao de abuso: a quem recorrer, que instituigées procurar, que encaminhamentos seguir. Estes aspectos, ou seja, 0 psicoldgico, 0 social, a saUide € 0 legal apontam para a importancia em haver uma articulacao efetiva entre eles nos atendimentos em situag6es de abuso sexual. Esperamos que esta cartilha possa auxiliar vocé, leitor, em uma maior compreensao e aprofundamento das idéias que permeiam o tema. Gostariamos que este material Nao se transformasse em um manual de regras do comportamento humano em relagao ao abuso sexual e sim num conjunto de informagées que Ihe possam ser Uteis. Desejamos que as discuss6es sobre este fenémeno possam fazer emergir novas formas de pensar ou novos questionamentos em vocé. Boa leitura! Equipe de profissionais do CEARAS e do CRAMI - ABCD 0 QUE E ABUSO SEXUAL? do € 0 toque, nem a violéncia fisica e nem a falta do consentimento que vao definir 0 abuso sexual, mas sim a sexualidade vinculada ao desrespeito ao individuo e aos seus limites, a troca de sua postura de sujeito auma de objeto dos desejos do outro. Mas 0 que diferencia uma relagdo sexual “normal” de uma relacao abusiva? Marcas fisicas nao definem um abuso sexual, pois existem relagdes onde a violéncia fisica € utilizada e consentida, como é 0 caso das relagdes sadomasoauistas. Por outro lado, tm abuso sextial pode ocorrer sem deixar seqtielas visiveis, mas as sequelas afetivas sao mais dificeis de identificar e nao sao, Por este motivo, de menor gravidade. Assim, o trauma sofrido pode ndo se resumir ou mesmo nao se ater ao ato sexual propriamente dito. O consentimento também ndo € 0 limite entre uma relagao abusiva e uma nao abusiva, pois em que situagées Ppodemos ter clareza de que 0 consentimento foi dado de forma consciente, ou seja, quando acreditamos que uma pessoa tem capacidade para discriminar e decidir sobre uma relagao sexual? Uma crianga pode consentir que um adulto a toque de uma forma sexual € esta relagao nao deixa de ser abusiva. Mas sera que apenas a idade cronoldgica, como a lei determina, define esta possibilidade de escolha? Sabe-se que a maior parte dos casos de abuso sexual ocorrem entre pessoas conhecidas e proximas, muitas vezes dentro da propria familia. Desta forma, o abuso sexual pode estar presente em relacées de trabalho, relacGes familiares e etc. Assim, 0 abuso sexual de crian¢as, 0 incesto e 0 assédio sexual denunciam um jogo de poder onde a sexualidade é utilizada de forma destrutiva,constituindo-se num desrespeito ao ser humano. Nestes trés casos, pode nao existir a violéncia fisica, mas sao relagGes que implicam em Outros tipos de violéncia, como a social e a psicoldgica. O abuso sexual afeta, a0 mesmo tempo, a satide fisica e mental € © direito individual de se dispor da propria sexualidade e privacidade. Por isso, 0 atendimento a situagdes de abuso deve articular o trabalno da Saide e o da Justica para lidar com os diversos fatores envolvidos na questdo. Derma dee GF an0 0 ABUSO SEXUAL E UMA QUESTAO DE SAUDE OU DE JUSTICA? atendimento prestado pela Justica e o prestado pela Satide devem ocorrer de forma articulada, pois os dois sao absolutamente necessdrios e nenhum deles, isoladamente, é suficiente para abarcar a complexidade da questao. A VISAO DA SAUDE Oatendimento no dambito da Savide para pessoas envolvidas em abuso sexual deve levar em conta a satide em termos fisicos, do corpo, e em termos psicoldgicos, a satide mental. E muito importante que se recorra a um servico médico nas 48 horas que se seguem a um estupro, pois neste prazo pode-se evitar 0 desenvolvimento de varias doencas sexualmente transmissiveis ou de uma eventual gravidez. Deve-se verificar e tratar a presenca de lesdes de qualquer tipo e de doengas sexualmente transmisstveis. O atendimento em satide mental se faz necessario pela violéncia psicolégica que o abuso sexual representa, mesmo quando nao ha violéncia fisica envolvida. A violencia deixa marcas profundas, dificeis de serem elaboradas, que acompanham e interferem de diversas formas na vida de quem as tém. As lembrancas, mesmo distantes, podem fazer-se presentes através de dificuldades variadas, como por exemplo, dificuldade de estabelecer relacionamentos afetivos, fobias, insénia, perturbac6es alimentares, entre outras. E importante lembrar que estas dificuldades também podem ocorrer ligadas a outras situagdes que nao sejam a de abuso sexual. Observa-se também que este tipo de violéncia tende a ser reproduzida se nao houver tratamento adequado que vise 4 elaboragao psicolégica da experiéncia traumatica. A crianga que sofre abuso tem uma tendéncia maior a reproduzir este comportamento. Isto se observa pelo fato de que a grande maioria das pessoas que cometem abusos tém em seu passado a experiéncia de terem sido submetidas a situagdes abusivas. Quando 0 abuso ocorre dentro da familia, ele denuncia a falta de uma estruturagdao familiar que possa ser referencial Para o desenvolvimento psicoldgico e social de seus membros. Agrava a situa¢do 0 fato de o abuso romper o vinculo de confianga basico para o desenvolvimento da vida na familia. Por isso, nessas situagées, 0 atendimento em sauide mental deve direcionar-se 4 familia como um todo, Para poder lidar com as quest6es referentes a estruturagao familiar. A VISAO DA JUSTICA Em casos de abuso sexual a autoridade judiciaria a que se recorre (féruns, delegacias, conselhos tutelares) dara o devido encaminhamento de acordo com as particularidades da situa¢ao. Havendo uma dentincia de abuso sexual, é fungao da Justiga buscar a realidade dos fatos para balizar suas acoes. Cabe aos profissionais vinculados ao Forum realizar as pericias, isto é, as investigagdes necessarias para verificar se ocorreu ou Nao uM abuso, qual a sua natureza e que condig6es determinaram a sua ocorréncia. No caso de o abuso resultar em gravidez, existe a Possibilidade, dentro da lei, de se realizar o aborto, mediante cornprovagdao da ocorréncia do abuso. A Justiga cabe estabelecer medidas concretas que impegam que o abuso se repita, bem como encaminhar as pessoas envolvidas para tratamento e responsabilizar legalmente quem o cometeu.

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