(Precedente) Curso de Direito Processual Civil (2017) - José Miguel Garcia Medina PDF

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Curso de Direito Processual Moderno CAPITULO VIL. PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNAGAO DAS DECISOES JUDICIAIS. Capitulo VII. PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNACAO DAS DECISOES JUDICIAIS 1. JURISPRUDENCIA INTEGRA, ESTAVEL E COERENTE 1.1, Premissas. Distingdo entre entendimento firmado em precedente, jurisprudéncia e stimula 0 art. 926 da lei processual refere-se a caracteristicas que devem marcar a jurisprudéncia, que, além de integra, deve ser uniforme, estavel e coerente. Ao lado da jurisprudéncia, 0 digo menciona as stimulas e os precedentes.” ‘Tais figuras se relacionam, mas ndo se confundem. Embora haja alguma controvérsia sobre © sentido de cada uma delas, passaremos a expor a sintese de nosso modo de pensar, que procuramos construir a luz da legislacao brasileira? Usando-se a expressio “jurisprudéncia” em sentido amplo, ela compreende os precedentes e as stimulas, que, como se verd a seguir, com a jurisprudéncia se relacionam. Dos precedentes deve se extrait uma ratio relativamente geral, embora obtida a partir do julgamento de um caso, que poderd ser replicada em outros julgamentos. A sintese da jurisprudéncia ¢ apresentada em enunciados de stimulas dos Tribunais. Pode-se, entéo, referir-se a jurisprudéncia de modo a compreender todos esses, fendmenos. As ideias de integridade, uniformidade, estabilidade e coeréncia, assim, tal como referidas no art. 926 do CPC/2015, diz respeito & jurisprudéncia, aos precedentes e &s stimulas. Jurisprudéncia é conjunto de decisdes proferidas pelos juizes e tribunais. Diz-se que ha controvérsia na jurisprudéncia, p.ex., quando ha disparidade entre as decisSes judiciais sobre um mesmo tema. A jurisprudéncia deve passar a ser considerada na fundamentagdo de decisdes judiciais quando se torna constante e uniforme. Quanto maior o nivel de uniformidade dos julgados que a formaram, mais fora persuasiva terd a jurisprudéncia, Diz-se, entdo, que a jurisprudéncia é dominante? A jurispradéncia, como se disse, é formada por julgados. Cada um desses julgados, isolados, so decisdes que resolvem casos. Algumas dessas decisbes podem se destacar, por tratar do assunto de ‘modo peculiar, mais aprofundado e contundente, e por ter sido a primeira, ou a mais expressiva entre as primeiras decisdes que abordaram o tema, Quando um julgado assume tal relevancia, sendo como tal reconhecido em decisdes posteriores, diz-se que tal decisdo é um precedente. £ assim, p.ex, o sentido com que a expresso é empregada, no art. 926, § 2.° do CPC/2015: “Ao editar enunciados de stimula, os Tribunais devem ater-se as circunstincias féticas dos precedentes que motivaram sua criasio” (Gestacamos). Os precedentes (ou o precedente e os julgados que o seguem), reunidos, podem formar uma jurisprudéncia constante, que motiva, ento, a edicao de um enunciado sumular. Os enunciados de stimula, assim, ndo sdo precedentes, mas, de acordo com a diccio legal, tais enunciados so criados a partir dos precedentes (ou, como se disse, de precedente decisdes posteriores, no mesmo sentido). Desde a génese de sua criagdo, na pratica do Supremo Tribunal Federal,‘ e até hoje, a luz do CPC/2015, tais enunciados sumulares devern ser assim considerados, Como disse Victor Nunes Leal, 0 enunciado de stimula atende a varios objetivos, como, p.ex, “distingue a jurisprudéncia firme da que se acha em vias de fixago; atribui a jurisprudéncia firme consequéncias processuais especificas para abreviar o julgamento dos casos que se repetem". Hoje, muitas Vezes usa- se a expresso “simula” como sindnimo de “enunciado da stimula” (assim, p.ex., 0 art, 103-A da Constituigao, referindo-se a stimula vinculante). De todo modo, se quer com isso significar a sintese da jurisprudéncia dominante, que, por sua vez, formou-se a partir de precedentes, isso é, de julgados significativos e merecedores de destaque, proferidos em um mesmo sentido.* ‘Voltaremos a examinar cada um desses institutos nos itens que seguem. Mas, como premissa, e para que tenhamos clareza no exame de todos esses temas, pode-se sintetizar a relacdo entre jurisprudéncia, precedentes e enunciado de simula com esta frase: os enunciados de stimula sao a sintese da jurisprudéncia dominante, formada por precedentes emitidos em um mesmo sentido. £ curioso, nessa formula a que chegamos, notar que a frase esti construida a comesar por aquilo aque é mais geral (@ simula), concluindo com o particular e ligado a um caso (0 precedente). Mas 0 fendmeno, tal como observivel na pritica, ocorre (ou, ao menos, deve ocorrer)’ em sentido inverso Vejamos: Proferidos varios julgados (entre os quais, espera-se, certamente haverd pronunciamentos com. aptidao para serem reconhecidos como precedentes) voltados resolugéo de casos particulares (isto é, @ aspectos fatico-juridicos verificaveis naquele caso), de sua anélise paderd se depreender a existéncia de um fundamento que, por se reproduzir em varios julgados, é, a cada vez em que é referido, mencionado em sua generalidade, gradativamente se desprendendo das mimicias que informaram os precedentes. Normalmente, quando se alude a “jurisprudéncia dominante’, ja esta se referindo a um enunciado rais geral, enquanto ao tratar-se do precedente lembra-se, ainda, de peculiaridades nele examinadas. A medida em que casos vio sendo julgados, em determinado momento reconhece-s, neles, um denominador comum, que passa a ser citado como base em outros julgados, formando uma jurisprudéncia constante. Passa-se, entio, a se referir aquela dela geral, extraivel daquilo que se apresenta como comum nos casos anteriormente julgados, Esse aspecto mais geral é, entéo, sintetizado num enunciado de simula, (© enunciado de stimula, no extremo, acaba sendo formulado com uma linguagem que se aproxima da de um texto legal, bastante geral e abstrato. ‘Tome-se, como exemplo, o que sucedeu para se chegar ao enunciado da Simula 525 do ST], segundo @ qual “a Camara de Vereadores nao possui personalidade juridica, apenas personalidade judiciaria, somente podendo demandar em juizo para defender os seus direitos institucionais"® Um leitor desavisado poderia supor tratar-se de enunciado de texto legal, tamanha a generalidade com que foi elaborado. No entanto, trata-se da sintese do que se apresentou de comum em varios julgados. Mas os, primeiros julgados que trataram do problema, no STJ, ndo chegaram a forrmular esse principio geral, e apenas se dedicavam a aspectos mais especificos dos casos examinados. Assim, p.ex,, sucedeu no julgamento do RFsp 25.565, um dos primeiros que versaram sobre a matéria” Talvez esta decisdo devesse ter sido considerada um precedente, mas 0 fato é que, gradativamente, outros julgados foram sendo proferidos no mesmo sentido, formando uma jurisprudéncia constante sobre o tema, de modo a se “esquecer” de qual teria sido “o” precedente - cuja invocagio, em nossa prética, passa a carecer de sentido, a partir do momento que se nota ter formade jurisprudéncia constante™ - e a nao mais se referirem a aspectos especificos de casos anteriores ao mencionarem aquilo que havia de comurn, mas passando, entdo, a destacar o modo como deveria ser interpretada uma determinada disposigao legal, Por isso que, como antes dissemos, os precedentes ligam-se as circunstancias do caso, ¢ a simula (ou enunciado de stimula) ao extrato da solugdo juridica aplicdvel, de modo geral, a casos iguais ou muito parecidos, tal como resolvidos em uma série de julgados (nem sempre, como antes se afirmou, se identificando o precedente deles).* 1.2. Integridade, estabilidade e coeréncia da jurisprudéncia no Estado Constitucional e Democriitico de Direito 1.2.1, As hases brasileiras e a influéncia do direito comparado 0 Cédigo de Processo Civil de 2015 manifesta preocupaglo contundente com a ideia de integridade da jurisprudéncia. Esta, além de integra, deve ser uniforme, estével e coerente (cf. art. 926 do Cédigo). A noso de integridade que consideramos adequada, e que vimos desenvolvenda ao longo do presente trabalho, compreende, de certo modo, as de uniformidade, estabilidade e coeréncia, Como temos insistido, 0 sentido dos textos e dos principios juridicos é construido comunitariamente. {As decisOes judiciais, assim, encontram-se inseridas em um todo, n&o podendo ser consideradas, cada ‘uma delas, como se fossem partes de um amontoado de elementos estranhos e desconexos entre si. A jurisprudéncia integra é, necessariamente, jurisprudéncia construfda de modo coeso, em que as decisdes “conversam” entre si. Dessa ideia de integridade defluem as de uniformidade, estabilidade e coeréncia. "Os tribunais deve uniformizar sua jurisprudéncia’, diz o art. 926, caput do CPC/2015, de modo a que situagdes idénticas nao recebam tratamento diferente (¢, de outro lado, que nao sejam tratadas de modo idéntico situagSes distintas, algo que também violaria o principio da isonomia, que carrega consigo 0 reconhecimento do direito em ver reconhecida a diferenga, jé que tratar do mesmo modo situacdes distintas também significaria violar a isonomia). A uniformidade & detectével em uma época ou contexto histérico, isso é, ao se visualizarem pronunciamos proferidos em um mesmo ambiente. A estabilidade tem a ver com a linearidade temporal de um dado modo de decidir. Fstabilidade n8o pode significar imutabilidade, j& que a estabilidade liga-se aos elementos a serem considerados na construgao da decisia judicial: estaveis esses elementos, de igual modo deve manter-se estivel a orientacao jurisprudencial. A coeréncia, por fim, é justamente aquilo que estd na ligagSo, no relacionamento entre os julgados uniformes num momento ou num contexto ¢ estaveis ao longo do tempo. As decisdes judiciais deve. conviver harmonicamente. ‘Ajurisprudéncia que ostenta essas qualidades identifica-se com a aspiragdo constitucional, jé que a atividade desenvolvida pelos tribunais deve consubstanciar-se em uma orientaglo estavel e previsivel. Isso ndo significa que o direito brasileiro @ mais “jurisprudencial” que “Iegal’, ou que a jurisprudéncia teria assumido papel mais importante que a lei, na construgao da solugao juridica. Nao 6 adequado dizer, também, que vigora entre nés modelo precedentalista correspondente aquele observado no common law. Parece inadequado superestimar a influéncia do common law, entre nés. O entusiasmo com institutos juridicos de outros paises pode levar & sua aplicagao equivocada. P. ex,, é comum afirmar-se que recurso extraordindrio com repercussio geral reconhecida, embora ainda no julgado no mérito, é considerado um leading case. Ora, 6 incorreto atribuir tal qualidade a um caso que sequer foi julgado, Na prética do common law, 0 leading case é assim considerado posteriormente, e ndo com antecedéncia: so os julgados posteriores que o reconhecem como tal, e 0 seguem."* Nao parece correto, assim, afirmar-se que um caso a ser julgado deve ser considerado, desde j4, um leading case. Semelhante observagdo pode ser feita em relagdo ao precedente, no sentido referido no CPC/2015., Nao se trata de precedente formado tal como no common law. Extrai-se, p.eX., do art, 988, IV e § 5., TL do CPC/2015 (na redagao da Lei 13.256/2016), que cabe reclamagdo quando a decisto néo aplicar tese jurfdica firmada em acérdao proferido em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assungdo de competéncia (esse & nosso modo de pensar, embora leitura isolada do art. 988, 1V, na redagdo da Lei 13.256/2016, possa sugerir o contrério). Disso se infere que, pela lei, ao menos {formalmente surgira um "precedente", por ocasio do julgamento de um recurso especial repelitivo. Trata-se, pois, de "precedente a prior’, esse considerado pelo legislador brasileiro, que, bem se vé, nada tem a ver com o precedente de common law, que s6 € reconhecido como tal no futuro, face a interpretagdo e aplicagdo que lhe derem outros juizes.” Feita essa ressalva ~ no apenas por amor & teoria, mas, sobretudo a fim de se evitar a aplicagio errénea dos institutos tal como previstos na lei brasileira -, pode-se, porém, dizer que, de algum modo, hd um denominador comum entre as figuras previstas no direito comparado e as instituidas entre nés: ‘a preocupacio com a certeza de orientacao do direito, que sé pade ser obtida com uma jurisprudéncia integra. A manutengio de controvérsia e 0 tratamento de modos diversos de situagBes juridicas similares & algo que agride os prinefpios constitucionais da seguranga juridica e da isonoraia, A disparidade de orientagéo a respeito de qual seja o sentido da norma jurfdica pode dar-se quando 2 decisdo judicial dever se basear em textos legais que, em principio, ndo deveriam suscitar dividas interpretativas, mas, sobretudo quando a decisdo judicial fundamentar-se em principios juridicos, regras com contetido vago ou indeterminado e cldusulas gerais, Nesse caso, exige-se do juiz um modo peculiar de atuagSo."* Diante da maior imprecisio do sentido da norma juridica - que é o que ocorre especialmente nos casos em que se recorre a principios juridicos, textos com contetido vago e clausulas gerais ao se fundamentar a decisao judicial -, doutrina™ e jurisprudéncia passam a ocupar papel de destaque. Como se disse, pode surgir contravérsia sobre o modo como deve ser interpretados os textos legais, mesmo em se tratando de dispositivos a respeito dos quais exista pouca margem de diivida sobre o sentido que a eles possa ser atribuido.” Tal dubiedade, tanto quanto possivel, deve ser alastada, sobretudo quando manifestada em decisdes judiciais que tenham por objeto situagdes que mereceriam. ‘o mesmo tratamento juridico, nio fosse a existéncia de controvérsia, a respeito, Justifica-se, nesse contexto, a criagdio de mecanismos que estimulem e propiciem a integridade da jurisprudéncia. 1.2.2, Stare decisis e civil law Costuma-se vincular a doutrina do stare decisis ao sistema de common law. A preocupagdo com a qualidade da fundamentag&o dos julgados e com a estabilidade das orientagdes jurisprudenciais nao é restrita a pafses que adotam 0 modelo de common law. Para que a regra do stare decisis seja aceita entre nés, é desnecessdrio invocar as bases da common law, ou pensar que o direito brasileiro est se transformando em um modelo de common law. Como procuramos demonstrar em outro estudo," o stare decisis “nfo se confunde com 0 common law. Este surgiu muito antes daquele. Sao, pois, independentes”. A doutrina do stare decisis (ou, em sua {6rmula mais extensa, “stare decisis et non quieta movere'? de todo modo, tem por pressuposto a existéncia de uma jurisprudéncia integra. Nesse contexto: (a) E imprescindivel que os drgdos jurisdicionais respeitem suas préprias decisOes; (b) Deve haver a preocupagao em se criar decisdes das quais se poderd extrair um precedente (no sentido de orientagao, endo de “uma decisio judicial” qualquer) que devera ser seguido pelo proprio Tribunal ou pelos demais Tribunais do Pais (ou stare decisis vertical e horizontal. £ assim que viragens jurisprudenciais injustificavels néo condizem com a ideia de estabilidade & previsibilidade, insitas ao Estado de Direito. A falta de harmonia na jurisprudéncia, manifestada pela diversidade de orientagao adotada pelos Tribunais, também nao. © CPCj2015, a0 preocupar-se com o modo de fundamentacda das decisées judiciais, com vistas ao que se produziu na jurisprudéncia (cf. art. 489, § 1.°e art. 1.022, pardgrafo tinico, I do CPC/2015), bem como com a necessidade de a jurisprudéncia ser uniforme e estivel (cf. art. 926 do CPC/2015), pode contribuir para que esse estado de incerteza e inseguranga juridica seja minimizado, 1.2.3, Entre a jurisprudéncia integra e 0 modelo precedentalista Na doutrina brasileira tem havido, sobretudo nos ultimos anos, grande esforgo no sentido de se explicar as bases de um sistema precedentalista, a partir da experiéncia haurida no common law, e do ‘modo como isso poderia ser adotado, no direito brasileiro.” Esse empenho se justifica, Afinal, quanto mais incrustada entre nés a doutrina stare decisis, mais, avangaremos no sentido de se alcangar uma jurisprudéncia integra. (0 modelo do stare decisis nao é “exclusiva” do common law, como observamos no item anterior. Embora nao faga sentido a ideia de se tentar “transformar” o direito brasileiro em common law, nada impede que mecanismos que estimulem os juizes a se orientarem por precedentes ja firmados sejam, em sistemas como o brasileiro, criados pela lei Evidentemente, o precedente néo pode valer mais que a lei, o mesmo se devendo dizer das simulas. Note-se, aliés, que as decisbes judiciais, mesmo no sistema de common law, no podem “criar" a partir do nada: ao examinar um precedente, deve o juiz identificar a norma que o embasa.” 0 modelo de precedentes, contudo, pode ser util, a fim de se afastar a ideia de que, a cada nova decisao, o texto legal pode ser considerado como se nto houvesse um histérico sobre como deve ser interpretado e aplicado: No entanto, um modelo precedentalista depende, sobretudo, da mudanga de atitude dos juizes, menos no sentido de se dever obediéncia ao precedente (embora isso também seja relevante), mas, especialmente, no sentido de se produzir julgados modelares, que sirvam de referéncia, que gerem confianga aos cidadaos. Esse 6 o ponto de partida: decisdes judiciais bem fundamentadas. De certo modo, isso exige um. compromisso politico dos jutzes. Essa preocupagio deve revelar-se néo apenas em relagio a precedentes, mas, também, quanto a outros pronunciamentos dos quais se pretende obter algum carter vinculante. Tal é 0 que corre, em. nosso direito, com as simulas vinculantes. Tratase de figura importante, pois, sob certa perspectiva, permite que a consideremos mais “forte” que o prOprio texto constitucional. Na doutrina recente, afirma-se que a simula vinculante pode ser considerada norma subconstitucional® A violagio & ‘Simula Vinculante pode ser arguida mediante reclamagdo ao STF, cf. art. 103-A, § 3°, da Constituicao Federal, o mesmo nao se podendo dizer de violagao ao proprio texto constitucional, ‘A despeito de sua importdncia, hé problemas na edicio de simulas vinculantes. © STF jé criou stimulas vinculantes que ndo se basearam em reiteradas decisies sobre “casos idénticos"* Ao contrério, criou stmulas vinculantes que veiculam a orientaglo que se reputa correta a partir do julgamento de casos parecidos, apenas, ou, as vezes, a partir do julgamento de um unico caso.” Ainda que se critique o insticuto das suimulas vinculantes, é inegavel que elas podem contribuir de modo decisive para o alcance de integridade, estabilidade e coeréncia na jurisprudéncia: indicar, dentre varios modos de se interpretar e aplicar o texto constitucional, qual é o mais adequado, Para tanto, ¢ imprescindivel, contudo, que sejam observados os requisitos impostos pelo art. 103-A da Constituigso. Problemas similares aos que ocorrem por ocasiao da edigao de stimulas vinculantes podem se dar também, em se tratando do julgamento de um recurso especial repetitive, p.ex. Note-se que a tese firmada na decisio que julga 0 recurso especial repetitivo, embora nao tenha forga vinculante nos termos da Constituigde, deve, de acardo com a lei processual, ser aplicada em processos que se encontravam suspensos aguardando o julgamento daquele recurso especial (cf. art. 1.040, IM do CPC}2015), sendo cabivel reclamagao contra a deciso que desrespeitar 0 julgado proferido, no caso (ct art, 988, caput, IV e § 2°, I do CPC/2015, na redagao da Lei 13.256.2016)." A possibilidade de controle via reclamagiio, aproxima, quanto a esse aspecto, a decistio proferida em, julgamento de recurso especial repetitivo da simula vinculante (0 mesmo se pade dizer da decisao que julga incidente de resolugao de demandas repetitivas ou incidente de assungéo de competéncia).” Mas, se mal formado o “precedente” (por mal fundamentado, por nio se ter observado o contraditério ou nio ter havido amplo debate previamente & sua edigdo, o que impediu que o “precedente” fosse formado de modo mais completo), a tendéncia é que tal “precedente” seja repudiado, em maior ou menor grau, pelos juizes e Tribunais ~e isso serd imediatamente notado, a medida que sejam ajuizadas reclamagies contra as decisdes que ndo se submeterem ao precedente, Algo mais proximo de nossa realidade talvez seja a ideia, pura e simples, de integridade da Jurisprudéncia. Aqui, no se depende de um precedente a ser seguido, mas de apreender-se o sentido que tem sido dado peta comunidade a um texto, p. ex. Basicamente, a diferenca entre 0 modelo do stare decisis e o de uma jurisprudéncia integra reside no fata de que um tinico julgado pode servir de precedente, enquanto a ideia de jurisprudéncia integra decorre da observagdo de uma série de casos julgados em um mesmo sentido. Estamos mais habituados a esse modelo, e, segundo pensamos, devemos avangar mais nele, pois encontra-se acorde com a ideia de que o Poder Judiciario no exerce papel legiferante, mas interpreta e aplica a lei Vale considerar, nesse ponto, a experiéncia da jurisprudéncia da Suprema Corte da Lousiana, nos Estados Unidos da América. No Estado da Lousiana abserva-se 0 civil law, € no 0 common law. Diante disso, recorre-se, na jurisprudéncia da Corte daquele Estado, a formula jurisprudéncia constante para designar o modo como devem se comportar os juizes, em relagdo as decisdes anteriormente proferidas, Emibora se costume afirmar que, ali, ndo impera o stare decisis tal como no common law, a atividade jurisprudencial revela que, ao fim e ao cabo, acabam-se observando bases similares, na pratica.™ 1.3. Enunciados de stimula da jurisprudéncia. Simulas em geral (persuasivas) e vinculantes Tornou-se arraigado, entre nds, 0 uso de expresses “enunciado da simula” e “stimula” como sinénimas. Rigorosamente, os enunciados compdem a simula do Tribunal. A doutrina, os Tribunais e a prépria lei, de todo modo, nao raro usam a expressio “simula” para se referir a um determinado enunciado, ‘As siimulas sempre desempenharam a fungdo de apontar a orientagdo jurisprudencial adotada pelos Tribunais. Nao so, como regra, portadoras de forga vinculante e nem sempre revelam entendimento efetivamente duradouro, Pelo contrario, nao raro assiste-se ao rapido abandono do entendimento sumulado, em alguns casos, ou, ainda, a edigéo de nova simula, tratando diferentemente uma mesma matéria” Esses problemas, contudo, néo impedem que um entendimento sumular influencie, sobremaneira, (© comportamento dos julgadores. £ que a stimula representa aquilo que, normalmente, a jurisprudéncia pacffica ou dominante do Tribunal tem decidido, Diante disso, sendo uma questo submetida ao érgdo criador de determinada simula, espera-se uma decisdo coerente com aquele entendimento sumulado, Alei ea stimula nio se encontram num mesmo plano, Na verdade, a stimula deve se subordinar & lei. O que ocorre é que o texto legal, geral e abstrato, pode dar ensejo ao surgimento de duas ou mais, interpretagdes diversas, sobre um mesmo assunto2” A simula, assim, desempenha fungao importantissima, pois registra qual interpretagdo (ou sentido da norma), de acordo com 0 que se veri decidindo na jurisprudéncia, seria a correta, e, uma ver. revelada, essa interpretagio considerada acertada ird instruir julgamentos posteriores sobre o mesmo tema, Nao admira que, muitas vezes, nao se menciona, na fundamentacdo das decisOes judiciais, qualquer dispositive de lei. As decisbes judiciais devem ser fundamentadas no sistema juridico, e, porque a simula revela interpretagio jurisprudencial tida por correta, apenas nessa medida deverd ser invocada, As stimulas vinculantes contém um plus, em relagdo as demais simulas. O art. 103-A da Constituigdo Federal (inserido pela EC 45/2004) dispde que compete ao STF 0 poder de editar siimulas vinculantes em matéria constitucional. De acordo com o referido dispositive constitucional, a aprovacao de simula vinculante deve se dar quando sobre a matéria houver reiteradas decisées do STF (art. 103-4, caput, da CE/1988), e “tera por objetivo a validade, a interpretagao e a eficacia de normas determinadas’, desde que haja, ainda, “controvérsia atual entre 6rgaos judiciarios ou entre esses e a administragdo piblica que acarrete grave inseguranga jurfdica e relevante multiplicagdo de processos sobre questdo idéntica" (art. 103-A, § 1%, da CF/1988).”" A Lei 11.417/2006 dispbe sobre aspectos relativos & edigdo, & revisdo e ao cancelamento de simula vinculante pelo STF. A orientago contida no enunciado da simula vinculante deverd ser observada pelos demais, juizes e Tribunais (assim como pelos agentes da Administracao).” Desrespeitada a stimula vinculante, caberé reclamacao para o STF (art. 102, , le art. 103-A, §3.%, da CCF/1988; art. 988, III, do CPC/2015, na redacao da Lei 13.256/2016). ‘A stimula vinculante, nao obstante o destaque que ganhou no seio constitucional, deve ser gerada, rigorosamente, como uma sintese de orientacao firmada na jurisprudéncia (‘apés reiteradas decisbes sobre matéria constitucional’, diz o art. 103-A, caput da Constituigao). Esse é o sentido, também, das demais stimulas, ainda que, nos termos da Constituig&o, nao sejam vinculantes. No contexto do CPC/2015, as stimulas em geral sao tratadas do mesmo modo, no que respelta & necessidade de sua observancia, por ocasido da fundamentacio da decisdo judicial (cf art. 489, § 1, V e VI do CPC/2015), No entanto, cabe reclamagao apenas quando desrespeitada stimula vineulante (cf. art 988, III do CPC/2015, na redagdo da Lei 13.256/2016). A circunsténcia de sujeitar & reclamaglo as decisbes que as desrespeitem deixa, porém, de ser exclusividade da simula vinculante, jé que cabe reclamagdo também contra decisio que aplique indevidamente ou ndo aplique julgado proferido em julgamento de recurso extraordinario com repercussio geral, recurso especial repetitivo, incidente de resolucio de demandas repetitivas e de assungao de competéncia (art, 988, IV, ¢ § 5°, I do CPC/2015, na redacdo da Lt 13.256/2016). Nota-se, ai, haver uma gradagdo legal entre os pronunciamentos referidos no art. 927 do CPC/2015, ja que o desrespeito a alguns pode permitir o ajuizamento de reclamagio, nos termos do art. 988 do Cédigo." O direito brasileiro, portanto, adota concepgao peculiar daquilo que se poderia chamar de precedente vinculante, Trataremos disso nos itens que seguer. 1.4, Sentido de precedente, de acordo com 0 CPC/2015 1.4.1. Em busca de um sentido, de acordo com a lei brasileira, Precedente em sentido substancial e em sentido formal. Os precedentes “qualificados” 0 CPC/1973 referia-se a precedente, textualmente, apenas como o julgamento que seria objeto de simula, e que serviria & uniformizagao da jurisprudéncia." A luz do CPC/2015, a expressdo ganha sentido distinto, embora ndo exista defini¢do precisa do que seria “precedente”, nos dispositivos que a No art. 489, § 19, V e VI, do CPC/2015, o precedente ¢ colocado ao lado de simula e de jurisprudéncia, o que revela ndo haver identidade entre essas figuras.” No § 2. do art. 926 do CPC/2015, dispde o Cédigo que os precedentes poderdo ensejar a edicao de stimula, o que demonstra que, por precedente, esté-se diante de algo que pode surgir com uma decisao proferida por algum Tribunal - 0 que pode aplicar-se tanto aos Tribunais superiores quanto aos Tribunais de Justica e Tribunais Regionais Federais” - e, em conjunto com outros precedentes, pode justificar a criagdo de enunciado sumular. No art, 927, 0 CPC/2015 refere-se a stimula, jurisprudéncia (pacificada ou dominante) e a tese adotada, que, segundo pensamos, deve identificar-se com aquilo que se convencionou chamar de ratio decidendi (ou holding)” Esses dispositivos, a nosso ver, permitem entrever que tém potencial para figurar como precedente quaisquer decisdes, de quaisquer Tribunais. E necessério, no entanto, que a decisio tenha uma caracteristica especial para ser considerada precedente. Grosso modo, isso devera ser percebido por aqueles que, a posteriori, a tal deciso se referem, tomando-a por base a fim de se utilizar de seus fundamentos determinantes para resolver problemas subsequentes. Esse aspecto qualitative confere reconhecimento substancial ao precedente. A nosso ver, 6 nesse sentido que o art. 926, § 2.° do CPC!2015 se refere a ‘precedente’. Eo que ocorre, pex, no art. 988, 1V do CPC/2015 (cf. também §5.*, Tl do mesmo artigo, na redagio da Let 13.256/2016), que alude a acérdao proferido em incidente de resolugdo de demandas repettivas ¢ de assungdo de competéncia (a nosso ver, abrange-se também a hipstese de recurso extraordinério com repercussio geral reconhecida e recursos extraordinario e especial repetitives, a que se aludiu apenas no § 5. Ido art 988 do CPC/2015, na redacdo da Let 13.256/2016). Esses precedentes podem ser chamados, também, de “precedentes qualificados’.* Espera-se que ao reconhecimento formal do precedente agregue-se o substancial, isso 6, trate-se de decisdo proferida com elevado grau de qualidade (p.ex., pleno respeito ao contraditério, participacao efetiva de amici curiae, publicidade plena do procedimento, fundamentagio exauriente em resposta a todos os argumentos relacionados ao problema etc.) e que a ela se submetam os juizes e Tribunais. 0 déficit qualitativo da decisio diminuira ou, até, prejudicaré o reconhecimento substancial a tal "precedente", reduzindo sua “forca" vinculante, fazendo com que juizes nfo o respeitem e, consequentemente, se ajuize grande mimero de reclamacbes fundadas no art. 988, IV e §§ 4° € 5.° do epcya01s. Vése que o reconhecimento formal de que determinados precedentes tenham alguma forga vinculante, sujeitando a reclamagio as decisies que os desrespeitarem, nao implica no automatico reconhecimento de que tal pronunciamento ostente, substancialmente, tal qualidade. Nesse ponto, pode ser itil conferir a experiéncia do direito comparado, sobretudo do common law, a respeito, Trataremos disso no subitem seguinte. 14.2. Algumas notas, a partir da experiéncia da doutrina e da jurisprudéncia do common law. Concepgdo adequada ao CPC/2015 Devesse, & luz dos dispositivos legais referidos nos itens anteriores, buscar definicao que ajuste-se {funcionalmente aos objetivos tragados pelo art. 926, caput, do CPC/2015, no sentido de se propiciar a ‘consecugo de uma jurisprudéncia integra, estavel e coerente. Ocupamo-nos da tarefa de definir o que entendemos por precedente, com base no que se produziu no common law, em outro estudo, escrito em coautoria com Alexandre Freire e Alonso Freire.” No referido trabalho, ao procurar distinguir jurisprudéncia de decisdo, e esta de precedente, afirmamos que "um precedente judicial ndo traz a ideia de coletividade, de reuniao de decisdes harmdnicas sobre determinada questéo Juridica. Esse & um trago distintivo e caracteristico do precedente judicial quando comparado & nogio técnica e estrita de jurisprudéncia acima exposta, Precedente é uma decisio judicial, e uma decisio judicial nao pode ser considerada uma jurisprudéncia, nem mesmo qualquer conjunto de decisdes. Para definirmos, inclusive, o que é jurisprudéncia nio nos basta o critério quantitativo, pois é necessario que esse conjunto de decisdes seja harmdnico e que verse sobre determinado tema. Conquanto harménico, para que um conjunto de decisdes seja considerado jurisprudéncia, é necessério o transcurso do tempo. F por esse motivo que geralmente falamos, por exemplo, que’a jurisprudéncia do Tribunal sobre a questa ¢ de longa data’. mesmo quando falamos que uma jurisprudéncia é ‘nova’ ou ‘recente’ nao podemos considerar que ela se formou de modo imediato e repentino por meio de uma s6 decisio judicial. Antes da formagao de ‘um novo entendimento, o Tribunal deve, no minimo, sinalizar de alguma forma uma tendéncia ou seu pendor para uma nova diregio. Pelo menos, deveria ser essa a pratica comum, por se mostrar mais razodvel e sensata, e por garantir a establidade do Direito e assegurar expectativas de comportamento na sociedade ao no surpreender os jurisdicionados. Em resumo, quando falamos de precedente judicial, devemos considerar que estamos fazendo referéncia apenas a uma decisdo.® Nada obstante, devemos reconhecer que esse traco caracteristico nos leva apenas & conclusio de que um precedente é uma decisdo judicial Precisamos saber quando uma deciséo judicial é um precedente" F necessério, pois, realizar-se um esforgo adicional, a fim de se definir o que deve conter uma decisdo para ser, entdo, considerada um precedente. A respeito, assim escrevemos, no estudo antes citado: "No caso Allegheny County General Hospital vs. NLRB, julgado em 1979, a Corte de Apelacdes da Terceira Regio dos Estados Unidos explicou que ‘um precedente judicial atribui uma consequéncia juridica especifica para um conjunto detalhado de alos em um caso julgado ou decisdo judicial, pasando, entdo, a ser considerado como algo que fornece @ regra para a determinagdo de um caso subsequente envolvendo fatos materials idénticos ou semelhantes que surgem no mesmo tribunal ou em um juizo inferior na hierarquia judicial.” Tomando de empréstimo essa explicagdo, podemos concluir que, se um precedente judicial ¢ uma decisdo judicial, que a torna um precedente é o seu potencial para servir de regra para decisdes judiciais de casos futuros envolvendo fatos ou questdes juridicas idénticas ou similares. Por isso, se afirma que, ‘para compreender o case-law, deve-se compreender como é que decisdes particulares proferidas por juizes particulares para casos particulares podem ser usadas na construgdo de regras, gerais aplicaveis a agdes e transagies em geral. f esse 0 ponto-chave da doutrina das precedentes judiciais e uma caracteristica basica do common law’. Concluise, pois, que uma decisio judicial nfo sera, necessariamente, um precedente. Tem tal natureza, como observamos no estudo referido, a decisio que tenha potencial para servir de base para decisses judiciais de casos futuros que envolvam questées idénticas ou similares.” Essa potencialidade, porém, nao basta para que se considere que uma decisao é, substancialmente, um precedente, a priori S40 0s julgados subsequentes que conferirao tal reconhecimento a decisio. Dito de outra modo, rigorosamente um julgado nao pode se autoproclamar como precedente substancial. No caso brasileiro, a lei atribul, formalmente, a qualidade de precedente a determinadas decisdes, a0 exigir sua observancia e sujeitar seu desrespeito a controle exercido por meio da reclamagao, A decisdo que julga incidente de resoluggo de demandas repetitivas ou de assungdo de competéncia, ex, tem essa caracteristica, ex vi legis. Mas isso atribui a tal deciséo 0 reconhecimento de que se estaria diante de um precedente apenas formalmente, Ostentar tal qualidade formal permite que, de acordo com a lei processual, caiba reclamagdo contra a decisio que desrespeitar tal julgado - a semethanga do que sucede com a simula vinculante, cuja afronta também justifica o ajuizamento de reclamagao (cf. art. 988, III do CPC/2015, na redacdo da Let 13.256/2016). Mas se essa qualificacao formal nao for acompanhada por um reconhecimento substancial, o “precedente”, ao invés de propiciar a obtengao de seguranca ¢ contribuir para a integridade da jurisprudéncia, produzir efeito inverso, jé que 0 ndo reconhecimento de que a decisao tenha qualidade de precedente (precedente em sentido substancial) acabara determinando 0 ajuizamento de elevado niimero de reclamagves. 1.4.3. Decisées que podem ser consideradas precedentes. Precedente vinculante e persuasive, no common law e no direito brasileiro Se 6 certo que o precedente é uma decisdo, nao menos correto é dizer que nem toda decisao judicial um precedente, como se disse no item anterior. ‘Mesmo entre os precedentes, de todo modo, pode haver graus. ‘A respeito, a doutrina, a partir da experiéncia colhida no common law, faz a distingao entre precedentes vinculantes ¢ persuasivos. Camo se veré adiante, tal construgao ndo se aplica, sem reservas, ao direito brasileiro (tal como resulta do disposto no CPC/2015). Vale a mengao ao que se construiu no common law, porém, afim de se apresentar os tragos marcantes do que sucede entre nds, de acordo com a legislago brasileira decisdes, portanto, que nao vinculam um drgao judicial, mas que, por terem resolvido uma questo ainda ndo analisada pelos érgaos judiciais que os analisam ou por terem declinado importantes razSes para nao aplicarem um precedente vinculante oriundo de érgio judicial superior, merecem consideragdo cuidadosa por érgios inferiores ou superiores" que, todavia, esto livres para seguilos ou nao, Observe-se que esses precedentes podem ser oriundos da mesma jurisdigao ou de jurisdicao distinta daquela do érgao que os analisa. Por isso, sAo também chamados de persuasive authority or ‘advisory precedent.”* ‘Algo diverso sucede, de acordo com a doutrina, com os precedentes vinculantes: “Costuma-se afirmar que a natureza vinculante de um precedente decorre da méxima geral de que casos semelhantes ou idénticos devem ser decididos da mesma forma. Esta nocdo esté baseada na ideia de que as decisdes judiciais, a fim de serem justas e previsiveis, devem ser consistentes com outras decisdes proferidas anteriormente, Mas essa nao é uma razao suficiente para que os precedentes sejam vineulantes. £ que, embora diante de situagdes idénticas ou semelhantes, os juizos superiores nfo esto obrigados a seguirem precedentes de juizos inferiores. Estes, sim, por aquela razdo, estdo obrigados a seguirem seus proprios precedentes e os precedentes oriundos de juizos que Ihe so superiores.” Ou seja, a maxima de tratar casos iguais como iguais é aplicavel horizontalmente ou verticalmente. Neste liltimo caso, devido a ‘forca gravitacional™ dos precedentes oriundos de érgiios judiciais superiores".” Essas consideragbes, que fizemos no referida estudo com vistas a0 common law, servem, em alguma ‘medida, ao que sucede no direito brasileiro, & luz do CPC/2015. 0 “precedente” considerado vinculante, entre nés, no entanto, é ex vi legis. Ou seja: é a partir da lei que se deve extrair se o julgamento & vinculante, Isso se infere, a nosso ver, de disposigdes que se referem, de modo especial, a observancia do precedente por outras decisdes e & sua controlabilidade por reclamagdo (0 que aproxima 0 “precedente” vinculante da stimula vinculante). Assim, cabe reclamacao para garantir a observancia de acérdfio proferido em julgamento de recursos extraordindrio com repercussio geral, recursos extraordindrios e especiais repetitivos e incidente de assungdo de competéncia (art. 988, caput IV, € § 58, II do CPC/2015, na redacdo da Let 1356/2016). Esses pronunciamentos vem sendo chamados de “*precedentes qualificados’." A vinculatividade formal de tais decisdes 6 confirmada em outros dispositivos, que deixam claro que a tese firmada devera ser observada (cf. arts. 947, § 3°, 985, ¢ 1.040, do cPCj2015). Ve-se que a forga vinculante de tals decisdes resulta da lel. Dé-se algo diverso no common law, como se viu. Mas no direito brasileiro, como temos insistido, no devem os Tribunais que proferirio a decisdo que, « priori, é considerada vinculante (podendo ser considerada um precedente em sentido formal) contentar-se com esse reconhecimento legal. Um precedente formal fraco (isso é, destitufdo de qualidade para figurar como precedente em sentido substancial), ainda que tenha forga vinculante formal, tenderd a ndo ser respeitado, justamente por no ostentar a qualidade de se fazer ser aceito pela robustez de seus fundamentos e pelo ambiente sadio em que se formou (p.ex, com ampla publicidade, participacao de interessados, qualidade de sua fundamentagao etc). 1.4.4, Precedente “cria’ direito, ou apenas o“declara”? Costumam-se classificar os precedentes, na doutrina, em declaratérios e criativos. Basicamente, os precedentes declaratérios apenas reconheceriam a existéncia de uma norma, enquanto os criativos 'gerariam” a norma." Essa classificagdo ndo nos agrada, porgue, segundo pensamos, o juiz ndo “cria” o direito. Mesmo quando decide a partir de principios, ou resolve questées & luz de textos legais que contenham expressdes vagas, nao esta autorizado o juiz.a julgar “a partir do nada”, como se legislador fosse. Deve 0 juiz encontrar a solugéo no sistema juridico, proferinda deciséo harménica com o que se produziu na histéria e na comunidade juridica, Dito de outro modo, nao se admite que o juiz insira algo “estranho" ao ambiente juridico. A novidade do “precedente criativo" somente pode ser admitida no sentido de esclarecer algo, ou se descobrir um principio que, por assim dizer, encontrava-se adormecido, Mas mesmo af nao se cri. Por outro lado, o precedente “declaratério” ndo apenas “declara". Ora, nenhum julz, ao decidir, age como autémato, como se, com uma pelicula transparente, permitisse entrever, da leitura de sua decisao, o texto de uma lei, Os textos nao so apenas lidos pelo juiz ¢ aplicados, mas sao lidos, entendidos, interpretados em si mesmos, interpretados & luz da Constituigéo, interpretados & luz de outros artigos de lel e de principios juridicos, e, ento, aplicados a uma problemética concreta. ‘A expressio “precedente declaratério" pode induzir ao engano de que o juiz nao participa da crlagio da solugao juridica, mas que apenas “comunica" a solugdo que jé se encontraria “pronta’. 1.4.5. Dificuldades na fixagao de precedentes, frente a textos com contetido vago ou indeterminado, aplicaveis a problemas sociais variaveis Uma dificuldade adicional deve ser considerada, entre nés, no que diz respeito a fixagao de precedentes. © texto constitucional & permeado de conceitos vagos e indeterminados, cldusulas gerais etc, (caracteristicas também presentes nas leis, mas marcante, sobretudo, em nossa Constituigio). Além disso, os problemas a respeito dos quais deve se decidir so cada vez mais complexos.” Nese ambiente, fica dificil a tarefa de se fixar um precedente. Aliés, algo parecido é observado pela doutrina, em relagio a0 modo de interpretagio da Constituigdo norte-americana.” Essa dificuldade pode, talvez, se tratar de um verdadeiro limite ao madelo de precedentes: a baixa densidade normativa de uma disposicio legal ou constitucional, somada 4 complexidade, heterogeneidade e grande rapidez.com que cambiam os problemas sociais, nao raro impedira que uma dada orientagdo, adotada para se resolver determinado caso, sirva de base para se decidir casos futuros. 1.5. Fixagao de entendimentos em jurisprudéncia, simula ou precedente e sua observancia 1.5.1. Aplicagao e distingao do entendimento firmado Os entendimentos firmados em jurisprudéncia, simula e precedentes devem ser observados, pelos juizes e Tribunais (cf. arts. 489, § 1.%, e 927, caput e § 1., do CPC/2015), 0 CPC/2015, no entanto, néo aceita que apenas sejam citados precedentes, sem que a seus fundamentos se dé a devida atengao. £ necessdria demonstrar que 0 caso a ser julgado ajustase aquele considerado na formagdo do precedente (cf. art. 489, § 1.%, V, do CPC/2015; v. também art. 966, § 5.° do CPC/2015, na redacdo da Lei 13.256/2016). Evita-se, com isso, a mera confirmacdo automética, sem exame critico, do precedente." Os fundamentos determinantes dos precedentes podem deixar de ser aplicados, se a questo a ser decidida for distinta (cf. art. 489, § 1., VI, do CPC/2015). Como escrevemos em outro estudo, “no common law, entende-se por distinguishing a recusa de um érgio judicial em aplicar um precedente a ‘um caso atual por considerar este distinto o bastante, de tal modo que a aplicaco do precedente a ele geraria injustiga, tendo em vista as peculiaridades do caso atual" A distingdo ndo se confunde com a superacao de orientacdo, de que trataremos no item a seguir, pois “o afastamento do precedente nao implica seu abandono ~ ou seja, sua validade como norma universal no é infirmada -, mas apenas a sua no aplicagZo em determinado caso conereto, seja por meio da criagio de uma excecdo A norma adscrita estabelecida na decisio judicial ou de uma interpretagao restritiva dessa mesma norma, com o fim de excluir suas consequéncias para quaisquer ‘outros fatos ndo expressamente compreendidos em sua hipétese de incidéncia".® & compreensivel, porém, que um elevado nimero de distingdes possa “enfraquecer” o precedente, caso se conclua que ele j4 nao diz respeito a algo que deva ser observado como regra (mas, ao contrario, aquele precedente esteja a tratar exatamente do que é excepcional), Também nesse caso o precedente excessivamente excepcionado poderd vir a ser abandonado ou superado, 15.2. Superacio de entendimento firmado Espera-se que a orientagio adotada na jurisprudéncia mantenha-se estavel. Podem, no entanto, concorrer circunstancias que justifiquem o abandono do entendimento outrora adotado, ou sua modificaszo. Diz-se, no caso, que ha superacao do entendimento firmado. Em outro estudo, tratamos da superagdo de entendimento firmado em precedentes, & luz do common law, As razbes que justificam a superagao de precedentes, a nosso ver, também devem ser consideradas, em se tratando de stimulas e jurisprudéncia dominante, pois os §§ 2." a 4.° do art, 927 do 1015 referem-se a todas essas hipéteses. Como afirmamos no referido estudo, “um sistema juridico que adota o sistema de precedentes precisa estabelecer regras e limites para a alteragio dos entendimentos dos seus tribunais, sob pena de negligenciar a protecio dos préprios principios que ele visa garantir e proteger ao instituir o regime de precedentes, Nos Estados Unidos, hé muito se reconhece que um tribunal ‘no se considera inexoravelmente vinculado pelos seus préprios precedentes, mas, no interesse da uniformidade de tratamento dos litigantes e da estabilidade © seguranca, seguiré a regra que instituiu em casos anteriores, a menos que claramente convencido de que a regra estabelecida anteriormente estava errada ou nao mais deve ser preservada devido as alteragbes das condi¢bes sociais'** Nos Estados Unidos, portanto, compreende-se que o stare decisis nao é um comando inexoravel. Em determinados contextos, a revogagao de um precedente é justificada e, por vezes, necessdria, A questo que permanece é quais circunstancias constituem razdes legftimas para revogagao de um precedente.” Emibora um sistema de precedentes judiciais exista para garantir, dentre outras coisas, a estabilidade do direito, é inegavel que erros e mudangas de entendimentos podem ocorrer. Mas essa afirmagio ndo 6 muito esclarecedora, Para permitir a evolugio do direito, nos Estados Unidos e na Inglaterra, a0 longo dos anos, juizes e juristas passaram a desenvolver critérios para a revogacio de precedentes judiciais. 0 desenvolvimento desses critérios sempre teve como base a preacupagdo em manter atualizado o direito perante as modificagbes no estrato social. Contudo, nao bastaria modificar 0 direito para atender as demandas sociais variantes. Era necessdrio igualmente desenvolver critérios que atendessem aos principios da seguranca juridica, igualdade e coeréncia, Ou seja, embora juizes e juristas reconhecessem que os Tribunais deveriam ser maledveis as mudangas sociais, reconheciam. também que os Tribunais deveriam realizar essas modificagdes no direito de modo coerente e racional, pols, do contrério, a despeito do mérito da adaptabilidade, estariam comprometidas as expectativas de comportamentos das pessoas que ja vinham pautando suas condutas conforme as decisdes tomadas no passado pelos Tribunais. Deveria, assim, haver primeiramente razdes aceitiveis para a revogagao esses precedentes. Como esclarece Neil Duxbury, ‘se um juiz diz que um precedente ndo deveria ser seguido, é esperado que ele também diga porque ele ndo mais deveria ser seguide.” £ que, no sistema de common law, 0 que anima os juizes a seguirem os precedentes é 0 dever moral de respeito ¢ coeréncia, f por essa razéio que o autor também afirma que ‘recusar-se a seguir um precedente é algo, portanto, andlogo a recusar-se a cumprir um dever moral, tal como manter uma promessa: a obrigasao no é absoluta, a recusa justificavel para cumpri-la deve estar apoiada por certos tipos de razes.""* [Em seguida, expomos as trés razSes tradicionalmente aceitas, nos Estados Unidos, para a revogagao, de um precedente pela Suprema Corte norte-americana: “Um precedente est sujeito a overruling quando ha: uma (1) intervengao no desenvolvimento do direlto, ou seja, quando é tomada uma decisao posterior tornando o precedente inconsistente; (2) quando a regra estabelecida no precedente revela-se impraticavel; ou (3) quando o raciocinio subjacente ao precedente esta desatualizado ou mostra-se inconsistente com os valores atualmente compartilhados na sociedade. Implicita em cada uma dessas justificativas esté a ideia de que o caso que originou o precedente, se tivesse sido decidido no atual momento, teria sido resolvido de outra forma.® Uma intervengo no desenvolvimento do direito pode exigir a revogagdo do precedente por ele estar em conflito ~ ndo necessariamente direto - com outra decisdo tomada posteriormente. Se essa inconsisténcia existe, ¢ melhor que a Corte esclaresa qual decisdo vale para aquela especifica érea do direito ao invés de permitir a manutenglo do conflito em nome de uma aplicagao rigida do stare decisis. Contudo, nem todas as inconsisténcias permitem a revogacao de um precedente. A inconsisténcia precisa ser significativa o bastante para criar uma incerteza real em uma Area do direito. Em tals casos, 6 preferivel que a Corte declare explicitamente a rrevogagio do precedente ¢ restabeleca a certeza no que diz respeito aquela area ou questao juridica especifica, A revogacéo de um precedente também pode ser justificada se uma regra anunciada pelo precedente mostra-se impraticavel. sso ira ocorrer, por exemplo, se a regra nao se mostrar capaz de ser aplicdvel na sociedade. Essa justificativa nao é suficiente, porém, se tais dificuldades forem previsiveis e compreendidas pela Corte que criou o precedente, pois entendese que a Corte implicitamente rejeitou quaisquer problemas quando tomou a primeira decisdo.” Por fim, a revogacdo de um precedente pode ser justificada quando a argumentagio utilizada na decisdo mostra-se desatualizada, tendo em vista a alteragio de instituigdes sociais.” Essa situagdo pode ocorrer, por exemplo, quando condigSes sociais subjacentes ao precedente mudaram. Esta pode ser a razio mais apropriada para a revogacao de precedentes, pois ela é capaz.de manter a aparéncia da Suprema Corte como uma instituigdo justa, Isto porque essa justificativa, ao mesmo tempo que permite que a Corte rrevogue o precedente desfavordvel, implicitamente reconhece que ela estava correta na época em que (6 caso que deu origem ao precedente foi decidido. Observe-se, portanto, que revogar um precedente judicial nem sempre significa que a decisao proferida anteriormente por um tribunal estava errada, Muitas vezes, a revogagao ocorre devido a necessidade de atualizar o direito, considerando-se as alteragdes socials e tecnol6gicas. O overruling é medida que acarreta o afastamento de uma regra estabelecida anteriormente, Isso ocorre quando um tribunal resolve de moda diferente um problema juridico antes soluciondvel por um precedente estabelecido anteriormente, recorrendo a novos fundamentos que conduzem a resultado diverso. Nessa hipétese, é estabelecida uma nova regra juridica que regerd situagdes semelhantes ou idénticas”.™ Algo semethante é sustentado por Melvin Aron Eisenberg. Para esse autor, uma doutrina deve ser deixada de lado quando no mais satisfaz os padrdes de “congruéncia social” e “consisténcia sistémica”.” Esse modo de pensar é condizente com o que afirmamos acima. As alteragdes nos valores sociais ou no modo de compreensdo (doutrinaria ou jurisprudencial) de principios juridicos que serviram de base a criacao de dado precedente pode levar a sua superacao. Esses fundamentos também justificam a superagdo de entendimento firmado néo apenas em julgamento de incidente de resolugdo de demandas repetitivas e de assungao de competéncia (cf. arts, 947, § 3°, in fine e 986 do CPC/2015), mas, também, de modificagdo de enunciado de simula, de julgamento de outros casos repetitivos e de jurisprudéncia dominante ou pacificada, por forga do disposto nos §§ 2.° a 4° do art. 927 do CPC/2015."* 15.3. Modulacio de efeitos de alteragdo de entendimento firmado Controvertia-se, na jurisprudéncia, acerca da possibilidade de modulaglo, na vigéncia do CPC/1973.” A polémica resta superada, a luz do CPC/2015, que textualmente admite, em seu art. 927, § 38, a modulagio dos efeitos da alteracao jurisprudencial, De acordo com o § 3° do art. 927 do CPC/2015, “na hipdtese de alteragio de jurisprudéncia dominante do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulagao dos efeitos da alteragéo no interesse social e no da seguranga juridica’. Tal regra ajusta-se ao principio estabelecido no art. 5.°, XXXVI, da CF/1988, Como sustentamos em comentario ao referido dispositive constitucional, “ao principio previsto no art. 5, XXXVI, deve ser dada a devida amplitude, para considerar protegida ndo apenas situago consolidada a luz de texto legal antigo revogado, mas, também, a luz de sentido normativo antes consolidado na jurisprudéncia, mas, posteriormente, abandonado. Ha muito, afirma-se, na doutrina, que, firmar a jurisprudéncia, de modo rigido, nao seria um bem, nem mesmo seria vidvel. A vida ndo para, nem cessa a criagdo legislativa e doutrindria do direito, Mas vai uma enorme diferenca entre a mudanga, que ¢ frequentemente necessaria, ¢ a anarquia jurisprudencial, que é descalabro e torment. Razodvel e possivel é 0 meio termo. Razbes praticas, inspiradas no principio da igualdade, aconselham que a jurisprudéncia tenha relativa estabilidade. Os pleitos iguais, dentro de um mesmo contexto social e histérico, nao devem ter solugdes diferentes. A opinio leiga néo compreende a contrariedade dos julgados, nem o comércio jurfdico a tolera, pelo seu natural anseio de seguranga’ (Vitor Nunes Leal, ‘Atualidade do Supremo Tribunal Federal, Revista Forense, 208/15). Em situagdes excepcionais, quando presente interesse pilblico em se protegerem situaghes juridicas consolidadas, deve ser possivel a modulago dos efeitos de alteragao jurisprudencial, para se aplicar a nova orientagao firmada apenas a casos futuros (prospective overruling). Prepondera, porém, na jurisprudéncia brasileira, entendimento diverso (retrospective overruling), e a mudanga jurisprudencial acaba apanhando até mesmo os casos que se encontrem em curso (limited prospectivity), sendo mais complexa a questo, em se tratando de eficdcia ex tune absoluta (pure prospectivity; (.)). Nao raro, juizes de instancias inferiores, notando a possivel viragem jurisprudencial em tribunais superiores (implied overruling), passam, desde logo, a antecipar-se a provavel mudanga (anticipatory overruling), 0 que cria grave inseguranga juridica,"* Escreveos, ainda, em outro estudo,” que “nas hipdteses de overruling, além da necessidade de declinar razies que justifiquem a revogacéo dos precedentes, ¢ necessério que 0s Tribunais analisem. se seria adequado que suas decisdes tivessem efeitos imediatos. £ que, embora as revogagées possam ser racionalmente justificvels, ainda assim elas podem surpreender os jurisdicionados, acarretando- hes prejuizos de diversas ordens. Com isso, para garantir a seguranga e a estabilidade das relagoes, juridicas no seio da sociedade, por vezes os Tribunais dever atribuir efeitos prospectivos as suas decisdes, de modo a permitir que a sociedade possa se ajustar As novas regras sem prejuizo de qualquer ordem. Por isso, além das razSes que justificam a revogagdo dos precedentes, também é importante o efeito dessa revogagao no tempo. De um modo geral, a revogacio de um precedente acarreta efeitos retroativos. Historicamente, essa sempre foi a regra.” Assim, a nova regra estabelecida pela decisdo que revogou o precedente torna-se retrospectivamente aplicavel a todas as relagdes juridicas e eventos anteriores, Trata-se aqui de uma retroatividade plena. Essa regra sempre foi bastante criticada, Isso porque as partes ~ do caso e talvez para outros casos pendentes que envolvam, eventos anteriores a data da decisdo - contavam com a regra ‘velha, e seria injusto aplicar a seus casos a regra ‘nova.” Reconhecendo este problema, Tribunais e juristas t@m considerado se e em que medida ‘novas' regras de direito devem ser aplicadas somente prospectivamente, isto é, apenas para ao caso presente e eventos ocorridos imediatamente apés a data da decisio que inaugurou o novo precedente, Esse efeito é denominado de prospectividade seletiva, Em outros casos, se estabelece que a nova regra sé serd aplicada para casos que vierem a ocorrer a partir de uma determinada data fixada no futuro, Esse efeito, por sua vez, 6 denominado de prospectivo-prospectivo” 1.6. Pronunciamentos ‘vinculantes’; & luz do direito brasileiro. Graus de ‘vinculatividade” 1.6.1. Sentido da expresso “vinculante”. Orgios que podem emitir pronunciamento de tal natureza A expresso “vinculante” 6 empregada, no direito brasileiro, em relagio a siimulas (art. 103-A da Constituigdo) e a decisdes proferidas em controle concentrado de constitucionatidade (art. 102, § 2° da Constituigto). f, também, textualmente utilizada pelo CPC/2015 em relagio A decisao proferida em assungao de competéncia (ef. § 3. do art. 947 do CPC/2013), e, embora nao empregada expressamente em relacdo aa julgamento de casos repetitives, a vinculagda pode ser extraida de outras expressbes, que cuidam do modo como devem se comportar os érgeios jurisdicionais, em face de decisio que tem a pretensio de ser vinculante (cf. art. 985 do CPC/2015, em relagio ao julgamento de incidente de resolugdo de demandas repetitivas; art. 1.040 do CPC/2015, em relagdo ao julgamento de recursos extraordinario e especial repetitivos, segundo os quais a tese firmada sera aplicada nos termos que dispoem)" Nos casos de decisdes proferidas em julgamento de assuncdo de competéncia e de casos repetitivos, se esté, segundo nosso modo de pensar, diante de “precedentes" formalmente vinculantes." Algo similar se extrai do art. 1.030, I, a e II do CPC/2015, na redagdo da Lei 13.256/2016, em relagao a0, julgamento de recurso extraordinario com repercussdo geral A vinculatividade de tais pronunciamentos, a nosso ver, ¢ confirmada, sobretudo, pela regra que prevé o cabimento de reclamagio contra a deciso que os desrespeitar (cf, art, 988, IV e § 5., II do CPCI2015, na redagio da Lei 13.256/2016). Note-se que a lei processual, quanto a esse aspecto, equipara pronunciamentos vinculantes por forga da Constituigéo e pronunciamentos vinculantes em razao da lei que aprovou o novo CPC. A distingio entre vinculagao formal e substancial, a que antes nos referimos, aplica-se nao apenas a precedentes, mas também a simulas vinculantes.* Hé, pois, graus de vinculatividade. 0 estado étimo ‘obtém-se quando, havendo previsdo de vinculatividade formal, o pronunciamento ostenta qualidades que permitem que se faga considerar, também substancialmente, vinculante, no sentido antes referido, O art. 927 do CPC/2015, ao dispor sobre pronunciamentos que devem ser observados pelos juizes Tribunais, menciona, além dos referidos acima (cf. ines. I a IM do art. 927 do CPC/2015), outras rmanifestagbes, a saber: as stimulas editadas pelo Supremo Tribunal Federal que nao sejam, de acordo com a Constituigdo (art, 103A da CF/1988), consideradas vinculantes e, também, as stimulas do Superior Tribunal de Justiga (art. 927, IV do CPC/2015); a "a orientacdo do plendrio ou do drgao especial ‘aos quals estiverem vinculados” (inc. V do art 927 do CPC/2015). 0 julgamento de recurso extraordinario com repercussao geral nao é lembrado pelo legislador no art. 927 do CPC/2015, mas a necessidade de ele ser observado decorre do dispe o art. 1.030, I, «II do CPC/2015 (na redagao da Lei 13.256/2016). Os pronunciamentos referidos nos incs. IV e V do art. 927 do CPC/2015 nao tem cardter vinculante, no sentido antes referido, sobretudo porque nao se prevé o cabimento de reclamagao contra a decisao que os desrespeitar. Isso nao significa, porém, que as stimulas “ndo vinculantes" possam ser ignoradas, pelos juizes ¢ Tribunais. 0 mesmo se deve dizer em se tratando de orientagao firmada na jurisprudéncia. A essa conclusdio se chega ndo apenas pelo que dispde 0 art. 927 do CPC/2015, mas, também, ao se considerar a regra prevista no art, 489, §1.°, Ve VIe no art. 1.022, pardgrafo tinico, I do CPC/2015. Rigorosamente, caso se use a expresso “vinculante” em sentido amplissimo, pode-se dizer que todos os pronunciamentos referidos no art. 927 e no art. 489, § 1. V e VI do CPC/2015 0 sao, jé que nenhum juiz ou Tribunal esti autorizado a desprezar simulas (mesmo que ndo vinculantes, em sentido estrito), precedentes (ainda que ndo vinculantes, em sentido estrito) e jurisprudéncia invocadas pelas partes. Uma decisdo assim proferida nao ¢ tida por fundamentada (art. 489, § 1.° do CPC/2015), ¢ é considerada omissa, para fins de cabimento de embargos de declaragao (art. 1.022, pardgrafo tinico, 1 do CPC/2015). Usando-se a expressdo “vinculante" em sentido mais restrito, no sentido de sujeigao ou submissao de uma decisto a outra, vé-se que, rigorosamente, tal condi&o 6 6 ostentada pelos pronunciamentos cujo desrespeito pode ensejar o ajuizamento de reclamago. Tem-se, assim, que vinculante, em sentido préprio, é 0 pronunciamento que se encarte em um dos incisos do art. 988 do CPC/2015, que se refere apenas as hip6teses previstas nos ines. a IIT do art. 927 do CPC/2015. Sob esse prisma, também ostenta tal condicfo o julgamento de recurso extraordindrio com repercussao geral, ainda que no se trate de recurso repetitivo (cf. art. 1.030, I, a ¢ TI do CPC/2015, na redacao da Lei 13.236/2016), pois, também, esse caso, a reclamagio é admissivel (cf. art. 988, §5., I do CPC/2015, na redagdo da Lei 13,256/2016). © cabimento de reclamacio, nesses casos, confirma a forca vinculante que é atribulda a tais pronunciamentos por outras regras previstas no CPC/2015, a que nos referimos no inicio deste subitem." 0 fato de, nos casos previstos nos ines. IV e V do art, 927 do CPC/2015, nao se estar diante de pronunciamento vinculante, mas persuasive," niio autoriza a que o érgdo jurisdicional o ignore. Mesmo nesses casos, para deixar de seguir orientagao firmada em stimula, jurisprudéncia ou precedente “ndo vinculantes’, terd 0 érgio jurisdicional de argumentar, expondo, na fundamentacdo da decisio, “a existéncia de distingao no caso em julgamento ou a superago do entendimento” (art. 489, § 1°, VI do CPC/2015). Nesses casos, ainda que se diga que no haja forga vinculante (ou forga vinculante em sentido estrito), ha que se reconhecer que hé necessidade de algum tipo de conformagao, ja que a decisdo a ser proferida néo pode ser tida como um corpo estranho no sistema formado pelas demais, decisdes pronunciadas. Merece destaque a hipétese de julgamento de recurso extraordinario com repercussao geral, mesmo que tal julgamento se realize fora do regime de recursos repetitivos. Como se disse, a situacao nao & prevista no art, 927 do CPC/2015. O art, 1.030, 1, a e Il do CPC/2015 (na redagdo da Lei 13.256/2016), no entanto, dispde sobre a negativa de seguimento a recurso extraordinério interposto contra acérddo que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal proferido no regime de repercussio geral, e, também, sobre o ju(zo de retratagdo, se 0 acérdao recorrido divergir de entendimento do Supremo Tribunal Federal manifestado em regime de repercussio geral. Assim, a orientagio firmada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento de recurso extraordindrio com repercussio geral reconhecida também deve ser observada pelos juizes, a despeito de a hipétese ndo encontrar-se prevista no art. 927 do CPC/2015. 0 art. 988, § 5°, If (também na rredacdo da Lei 13.256/2016), por sua ver, dispOe que cabe reclamagao contra decisdo que desrespeitar acérdao de recurso extraordinario com repercussao geral reconhecida, circunstAncia que impée que se reconhega a forga vinculante de tal precedente, Os pronunciamentos vinculantes podem ser emitidos pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiga, mas, também, por outros Tribunais. Assim, a decisao de Tribunal de Justiga de um dos Estados que julga incidente de resolugdo de demandas repetitivas & considerada, pela lei processual, um precedente vinculante, ainda que formalmente, no sentido a que antes nos referimos. Se se tratar de questdo relativa a direito local (estadual ow municipal) tal precedente tera potencial para equivaler, mutatis mutantis, aqueles orjundos dos Tribunais superiores, j4 que ndo cabe recurso extraordinario ou especial nos casos em que esta em jogo a interpretacao e aplicacdo de direito local (ou, dizendo-se de outro modo, quando no houver questo constitucional ou federal infraconstitucional). Evidentemente, em razdo da posigdo ocupam, os Tribunais superiores devem desempenhar esse papel com mais destaque. A propésito, como sustentamos em outro local, na presente obra,"” papel, preponderante dos Tribunais superiores liga-se 4 definigZo do direito objetivo (muito embora também. acabem julgando casos, com o que, reflexamente, acabam também definindo o direito das partes, no processo). Essa funcio, a nosso ver, é ressaltada, no Cédigo de Processo Civil de 2015, tendo em vista a especial énfase que o novo Cédigo dé a jurisprudéncia integra, que compreende a idela de uniformidade horizontal e vertical, Mas isso no exclui, camo antes se disse, que os Tribunais locais, funcionem também como cortes de precedente, em se tratando de direito estadual ou municipal.” 1.6.2. 0 que vincula? Fundamentos determinantes, tese juridica, padrao decisério, ratio decidendi ‘Ao dispor sobre a produgao jurisprudencial a ser observada pelos juizes e pelos Tribunais, o CPC/2015 arrolou, no art. 927, caput, figuras bastante dispares entre si a algo que as une, a nosso ver, e que consiste naquilo que, realmente, deve ser “observado” pelo julgador, ao proferir a decisao em respeito a precedente, stimula e jurisprudéncia dominante, e que, no Cédigo, ora 6 chamado de "tese juridica’ (ef. § 2° do art. 927 do CPC/2015), ora de “fundamentos determinantes" (cf. art, 489, § 1, V, do CPC/2015), ora de “entendimento firmado” (cf, p.ex., art. 932, IV, 6 eV, ¢ do CPC/2015), ora de “padrao decisério” (art. 966, § 5.° do CPC)Z015, na redagao da Lei 13,256/2016), mas que, por comodidade, reunimos sob a expresso ratio decidendi, que vem a ser, como afirmamos em outro estudo os “argumentos principais sem os quais a decisio ndo teria o mesmo resultado, ou seja, os argumentos que podem ser considerados imprescindiveis""” ‘Assim, “em determinada decisAo judicial haverd ratio decidendi itil para utilizago em casos futuros no apenas quando um Tribunal decide determinada questdo de forma pontual ou direta (X deve fazer, A), Por vezes, na mesma decisdo, poder haver uma regra geral que abranja, além de X, 0s individuos YY, Z.e outros em mesma situagdo no futuro, Com isso, uma vez que podem haver varias ratios (ou, sendo mais fiel ao latim, rationes] decidendi em diferentes niveis de generalidade, umas pontuais (ou especificas) e outras gerais, entio nao ha que se falar em uma tinica ratio decidendi, Todas essas regras, portanto, tém forga de precedentes. Essas decisdes que variam em graus de generalidade, porém, precisam ser imprescindiveis ao resultado da decisio, Do contrério, nao sero ratio decidendi, mas obiter dicta, o que nos faz concluir que embora os argumentos obiter dicta possam ter graus distintos de generalidade, niio sto elas imprescindiveis ao resultado da decisio"”” O art. 489, § 1.9, V, do CPC/2015 confirma esse nosso modo de pensar: ao embasar sua decisio em ‘um enunciado de stimula, deve o juiz identificar a ratio decidendi dos precedentes que levaram a sua formagao, ratio essa que, entio, encontra-se na base do enunciado sumulado. 1.7. Instrumentos dedicados @ construgao e manutengao da jurisprudéncia integra A construgao e a manutengao da jurisprudéncia integra 6 tarefa a ser desempenhada no dia a dia, julgado a julgado, caso a caso. O tema interessa ndo apenas ao que se faz nos Tribunais, mas, também, 0s julgamentos proferidos em 1.*instdncia, em casos simples e corriqueiros. Com efeito, uma sentenga proferida em 1.” grau de jurisdigdo, ao ndo observar o que decidem os Tribunais (locais ou superiores) ou ao desprezar 0 que o préprio juizo de 1." grau antes decidira, agride a ideia de jurisprudéncia integra. Deve o érgio jurisdicional (trate-se de Tribunal ou de juizo de 1° rau) respeitar ndo apenas aquilo que se produziu em érgdos que eventualmente Ihe sejam superiores, ‘mas também o que ele proprio produziu, A lei processual prevé instrumentos vacacionados & construgao e A manutengio da jurisprudéncia ‘integra, Fundamentalmente, isso se dé através de: (@) incidente de assungao de competéncia; (b) resolugao de demandas repetitivas; e (©) julgamento de recursos extraordindrio e especial repetitives. No primeiro caso, no ha preocupagio com a repetigdo de casos. Mas a decisdo em assungio de competéncia acaba desempenhando papel semelhante ao do julgamento de casos repetitivos (decisao proferida em incidente de resolugao de demandas repetitivas e em recursos especial e extraordinario repetitivos). Ambas as figuras so habitualmente referidas concomitantemente pela lei processual, para servir a fins similares (cf. arts. 332, IT, 496, § 4°, II, 927, III, 932, IV, ¢, V, ¢, 942, § 4% I, 955, paragrafo Unico, I, 988, IV e § 5%, Il, na redacao da Lei 13.256/2016 e 1.022, pardgrafo tinico, 1, do cPcy2015). A assungao de competéncia tem cabimento quando, a despeito de ter grande relevancia social, a questéo de direito ndo se repetir em multiples processos (cf. art. 947, caput, in fine, do CPC/2015). 0 julgamento de casos repetitivos, diversamente, depende da existéncia de repetigao ou multiplicidade de processos em que se discuta uma questo comum (cf. art. 976, le 1.036, caput, do CPC/2015). Esses mecanismos, embora tenham pressupostos diferentes, aspiram a um mesmo fim: funcionarem como instrumentos que propiciem a previsibilidade, mitigando a instabilidade juridica, Em todos 0s casos, 0 norte que informou o legislador foi a busca pela jurisprudéncia integra, estavel e coerente. 0s “julgamentos de casos repetitivos” (recursos extraordinério e especial repetitivos e incidentes de resolugao de demandas repetitivas, cf, art, 928 do CPC/2015), juntamente com o incidente de assungao de competéncia (que tem cabimento quando nao houver “repetigao em miiltiplos processos", embora exista “relevante questao de direito, com grande repercussio social’, cf art. 947 do CPC/2015), Techam” sistema, De acordo com o art. 928 do CPC/2015, considera-se julgamento de casos repetitives a decisio proferida em incidente de resolugio de demandas repetitivas e de recursos especial e extraordinario repetitivos. 0 CPC/2015 confere tratamento diferenciado & denominada litigiosidade de massa."* [Nao se esté, aqui, necessariamente, diante de lides sobre direitos coletivos, pois ha situagées em que determinada questo reproduz-se em uma quantidade muito grande de processos judiciais, sem que a elas seja aplicdvel o regime das ages coletivas, notadamente se se tratar de questao de direito processual (expressamente indicadas, ao lado das questées de direito material, no pardgrafo unico do art, 928 do CPC}2015). Ademais, os casos repetitivos dizem respeito a questdes repetitivas, endo @ demandas repetitivas, necessariamente (a despeito de o legislador ter usado, impropriamente, esse termo, em rela¢o a0 incidente de resolugdo de demandas repetitivas’). Assim, pode-se estar diante de tema que ndo ensejaria 0 ajuizamento de uma ago especifica, mas que deva ser resolvido, incidentalmente, em um grande namero de agdes judiciais E inegavel, de todo modo, que, nos casos de conflitos sobre direitos coletivos, muito provavelmente poderd haver justificativa para a admissao de recurso ou incidente de casos repetitivos, e, embora possa parecer paradoxal, medidas dessa natureza terdo ainda maior serventia naqueles casos em que, Por restrigdes legals ou da propria natureza do procedimento, uma agao coletiva nao for adrnissivel ou, se admissivel, ndo solver satisfatoriamente as questdes repetitivas. Basta ver, p. ex, que o art. 1°, pardgrafo tinico, da Let 7.347/1985" limita o cabimento de agéo civil pilica em alguns casos, Além disso, a mesma lei limita territorialmente os efeitos da sentenga de procedéncia (art. 16 da Lei 7.347/1985). Nao bastasse, em ages coletivas relacionadas a direitos individuais homogéneos, a coisa julgada opera-se apenas in utilibus, em relago ao titular do direito individual (art, 103, I, da Lei 8.078/1990). 0 julgamento de casos repetitivos, de acordo com os procedimentos estabelecidos no CPC/2015, pode, nesse cendrio, servir para minimizar os problemas decorrentes da litigiosidade de massa, a que se referiu, ‘Trataremos da assungao de competéncia e do incidente de resolugdo de questdes repetitivas no item 5, neste Capitulo. Do julgamento de recursos extraordinario e especial repetitivos cuidaremos juntamente com os demais aspectos procedimentais relacionados a esses recursos (cf. tem 3.7.9). 2, ASPECTOS PROCEDIMENTAIS COMUNS DOS PROCE 1S NOS TRIBUNAIS 2.1. Visto geral Nos arts. 929 2 946, a lei processual agrupa disposigdes relacionadas ao que denomina “Da Ordem dos Processos no Tribunal Hi, entre tais artigos, regras aplicaveis a todos os feitos que tramitem no tribunal, e outras especificas, relacionadas a algum recurso em particular. Procuraremos seguir, no ponto, a ordem como a matéria é alocada no Cédigo, ao tratar dos referidos temas, adiante. 2.2, Registro e distribuigao © art, 929, caput, do CPC/2015 dispde obre a necessidade de a distribuigio ser imediata, nos tribunais, De acordo com o art. 93, XV, da CF/1988, “a distribuigao de processos sera imediata, em todos os graus de jurisdigao".* Além de dar aplicagdo & garantia da razodvel duraglo dos processos, a regra constitucional tem por finalidade permitir as partes conhecerem 0 érgio colegiado e o relator a quem 0 recurso ou a¢do foram dirigidos, a fim de que a eles encaminhem seus requerimentos (ef, p. ex. art 932, I, do CPC/2015)."" A possibilidade de apresentagio do recurso no protocolo descentralizado em primeiro grau de jurisdig4o, referida no paragrafo Unico do art. 929 do CPC/2015, aplica-se a todos os recursos, inclusive {0s recursos dirigidos aos tribunais superiores.” A distribuigao deve ser realizada de modo a assegurar a observancia da garantia do juiz natural. A alternatividade da distribuigdo assegura a isonomia, devendo-se a ela dar publicidade (cf. art. 930, caput) * De acordo com 0 art. 930 do CPC/2015, a distribuicao se realizaré por sorteio eletronico. ‘As regras regimentais devem considerar esses principios. Nao observadas as disposigdes

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