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Parafraseio o Alberto Caeiro: No bastante ter ouvidos para ouvir o que dito;
preciso tambm que haja silncio dentro da alma. Da a dificuldade: a gente no
aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele
diz com aquilo que a gente tem a dizer
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela
revoluo de 64. Contou-me de sua experincia com os ndios. Reunidos os
participantes, ningum fala. H um longo, longo silncio. (Os pianistas, antes de iniciar
o concerto, diante do piano, ficam assentados em silncio, abrindo vazios de silncio,
expulsando todas as ideias estranhas). Todos em silncio, espera do pensamento
essencial.
Para mim, Deus isto: a beleza que se ouve no silncio. Da a importncia de saber
ouvir os outros: a beleza mora l tambm. Comunho quando a beleza do outro e a
beleza da gente se juntam num contraponto. Ouamos os clamores dos famintos e dos
despossudos de humanidade que teimamos a no ver nem ouvir. tempo de renovar, se
mais no fosse, a ns mesmos e assim nos tornarmos seres humanos melhores, para o
bem de cada um de ns.
chegado o momento, no temos mais o que esperar. Ouamos o humano que habita
em cada um de ns e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima
em nos falar e nos fazer ver o outro que d sentido e a razo do nosso existir, sem o
qual no somos e jamais seremos humanos na expresso da palavra.