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REVOGAGAO EM MATERIA TRIBUTARIA nao esta no ato proposicional (ordem), mas evidentemente na pessoa emissora do ato locucionério (e na force ilocucionéria). Fato relevante foi a insergdo de novo enunciado-enuncia- dona EC n. 21/99, no que tange ao prazo de vacatio legis do ato de fala revogador dessa emenda: 36 meses, contados do inicio. da cobranca da CPME. Além disso, constitucionalizou-se a regra-matriz. da CPME, ‘Nao hd impedimento para que emenda constitucional erie tributos, da mesma forma que nao hé obstdeulos para que “repristine” lei cuja vigéncia jé havia terminado. O que nao se pode admitir é a “volta” das Leis ordinarias n. 9.311/96 e 9.539/97. Nao so elas os veiculos introdutores da nova CPMF, mas, sim, a EC n, 21/99, ‘Muito embora ja tivesse ocorrido a revogagio-aplicagao das Leis n. 9.31/96 e 9.539/97, nenbum dbice ha no sistema normati- vo para que seus enunciados-enunciados sejam reinseridos no sistema por outra enunciagéo-enunciada (no caso, a EC n. 21/99). Conclusio disso 6 que a CMPE, apés a edigao da EC n. 21/99, ndo pode ser alterada por normas inferiores as emendas. Nao houve repristinagao das Leis n. 9.311/96 e 9.539/97, mas, certamente, criagao de nova CPMF pela EC n. 21/99. E mais, com ato de fala revogador com vacatio legis de 36 meses, con- tados a partir do inicio da cobranga da “nova” CPMF. Por questao de reducdo de complexidades, alijar-se-d 0 estudo da EC n, 37/2002, por se tratar de questéo similar & ocorrida com a EC n. 21/99, a0 menos no que tange ao tema da “prorrogagéo da vigéncia’” 5.3 O caso da lei complementar n, 16/2003 e a tributacdo das sociedades uniprofissionais: est4 revogado o art. 9* do decreto-lei n. 406/68? © Decreto-Lei n, 406, de 31 de dezembro de 1968, como primeiro diploma disciplinador do Imposto sobre Servigos, 217 ‘TAREK MOYSES MOUSSALLEM estabeleceu, em seu art. 9, §§ 1° € 3%, o regime tributério dife- rengado para os prestadores de servigos sob a forma de traba- Iho pessoal do préprio contribuinte: Art. 98 A base de eéleulo do imposto é 0 prego do servigo. § 1 Quando se tratar de prestagio de servigos sob a forma de trabalho pessoal do proprio contribuinte, o imposto sera caleulado, por meio de aliquotas fixas ou varidveis, em fungo da natureza do servigo ou de outros fatores perti- nentes, nestes néo compreendida a importéncia paga a ti tulo de remuneracéo do préprio trabalho. oy § 38 Quando os servigos a que se referem os itens 1, III, V (exceto os servigos de construgio de qualquer tipo por ad- ministragdo ou empreitada) e VII da lista anexe forem prestados por sociedades, estas ficarso sujeitas a0 imposto na forma do § 19, caleulado em relagao a cada profissional habilitado, s6eio, empregado ou néo, que preste servigos ‘em nome da sociedade, embora assumindo responsabilida- de pessoal, nos termos da lei aplicavel. No ano seguinte A edicdo do Decreto-Lei n. 406/68, editou-se oDecreto-Lein. 834, de 8 de setembro 1969, cujo art. 3° prescreveu: Art 39. Decreto-lei n. 406, de 31 de dezembro de 1968, passa a vigorar com as seguintes alteragées: Lal ‘V-O artigo 98, § 3° passa a vigorar com a seguinte redacéo: § 32 Quando os servigos a que se referem os itens 1, 2, 3, 5, 6, 11, 12 17 da lista anexa forem prestados por socieda- des, estas ficardo sujeitas ao impdsto na forma do § 1%, calculado em relagio a cada profissional habilitado, s6cio, empregado ou nao, que preste servico em nome da socie- dade, embora assumindo responsabilidade pessoal, nos térmos da lei aplieével, Como se depreende, o art. 33, V, do Decreto-Lei n. 834/69 inseriu apenas novos servigos no rol daqueles que usufruiriam 278 REVOGAGAO EM MATERIA TRIBUTARIA do beneficio da tributagdo diferengada estabelecida pelo art. 98, § 38, do Decreto-Lei n. 406/68, Passados mais de 18 anos da edigio do Decreto-Lei n. 834/69, a Lei Complementar n, 56, de 15 de dezembro de 1987, presereveu, em seu art. 2°: Art.22 © § 38do art. 99 do Decreto-lein. 406, de 31 de dezem- bro de 1068, alterado pelo Decreto-lein. 834, de8 de setembro de 1969, passa a ter a seguinte redagé § 3° Quando os servigosa que se referem os itens 1, 4,8, 25,52, 88,89, 90,91 € 92 dalista anexa forem prestados por sociedades, ‘estas ficardio sujeitas 20 imposto na forma do § 18, ealculado ‘em relagdo a cada profissional habilitado, sécio, empregado ou no, que preste servigos em nome da sociedade, embora assu- indo responsabilidade pessoal, nos termos da lei aplicavel. Até a promulgagdo da Lei Complementar n. 56/87, nenhu- ma das normas referidas continha ato de fala revogador das anteriores. As normas posteriores ao Decreto-Lei n. 406/68 (quais sejam o Decreto-Lei n. 834/69 e a Lei Complementar n. 56/87) preferiam usar o termo “alteragéo” da redagéo do § 3°, do artigo 9%, do Decreto-Lei n. 406/68. Nessa esteira, artigo 34, V, do Decreto-lei n, 834/69, ape- nas “alterou a redagdo” do § 3% do art. 9° do Decreto-Lei n. 406/68. No mesmo compasso, o art. 24 da Lei Complementar n. 56/87 “alterou a redago” do “§ 32 do art. 9° do Decreto-Lei n. 406, de 31 de dezembreo de 1968, alterado pelo Decreto-Lei n. 834 de 8 de setembro de 1969”. Na complicada teoria da “alte- ragao da redagao”, tem-se 0 art. 9%, $3°, originario do Decreto- Lei n. 406/68 “alterado” pelo Decreto-Lei n. 834/68 e “meta- alterado” pela Lei Complementar n. 56/87. Para enlear ainda mais a situagéo, a Lei Complementar 1, 116, de 31 de julho de 2003, dispés, em seu art. 10: Art. 10, Ficam revogados os arts. 8, 10, 11 12 do Decreto- Lei n. 406, de 31 de dezembro de 1968; os incisos IIT, IV, V 279 ‘TAREK MOYSES MOUSSALLEM ¢ VI do art, 32 do Decreto-Lei n, 834, de 8 de setembro de 1969; a Lei Complementar n. 22, de 9 de dezembro de 1974; a Lein, 7.192, de 5 de junho de 1984; a Lei Complementar 1.56, de 15 de dezembro de 1987, e a Lei Complementar n. 100, de 22 de dezembro de 1999, Tem-se aqui verdadeiro ato de fala revogador. Aliés, varios atos de fala revogadores. Para ficar somente com aque- Jes que versam sobre enunciacées-enunciadas e enunciados- ‘enunciados referentes a tributagao das sociedades conhecidas por “uniprofissionais”, a conclusao é, portanto, a seguinte: (i 0 primeiro ato de fala revogador atinge os enunciados- enunciades 8, 10, 11 e 12 do Decreto Lei (enunciagdo-enun- ciada) n. 406/68; (ii) segundo dirige-se contra os incisos III, IV, Ve VI do art. 3° (enunciados-enunciados) do Decreto-Lei (enuneiagéio-enunciada) n. 834/69; (ii) o terceiro atua direta- mente sobre a Lei Complementar (enunciagdo-enunciada) n. 56/87, retirando, por consequéncia, todos os enunciados- enunciados dela oriundos. ‘Muito bem, Dessa situacao de sucesso normativa, a per- gunta principal a ser formulada é: 0 art. 98, § 38, do Decreto-Lei n, 406/68 pertence ao sistema normativo atual? A resposta a essa pergunta é, muitas vezes, prejudicada por desvirtuamento de enganosas questées paralelas. O ponto nevralgico da quaestio no esté em saber se o artigo 99, § 3 do Decreto-Lei n, 406/68 foi (ou no) revogado pelo art. 10 da Lei Complementar n, 116/2003. 0 assunto ¢ anterior a lei comple- mentar. O desvio do tema ocorre em virtude da mfope viséio do fenémeno revogatério por parte dos estudiosos do direito. Nao pode haver um salto temporal nem se olvidar da sucesso le- gislativa tocante ao tema. O alvo de estudos nao pode ser so- mente a Lei Complementar n, 116/2003. Portanto, faz-se necesséria a colocagao analitica da polé- mica, a fim de que no se transforme o debate em estéril con- fusdo lingufstica. 280 REVOGACAO EM MATERIA TRIBUTARIA Como ja visto, a falsa teoria da “alteragio da redagéo” pode levar 0 sujeito cognoscente a caminhar nas tortuosas trilhas dos labirintos da linguagem™, A “alteragao da redagdo” de determinado enunciado- enunciado de uma lei anterior (enunciagdo-enunciada) por lei posterior (enunciacéo-enunciada) nada mais é do que a inte- riorizagiio desta pelos enunciados-enunciados daquela, exceto aqueles “alterados”. Por outro giro, é como se a lei regulamentadora do ISS, apés 0 ano de 1969, fosse o Decreto-Lei n. 834/69 e no mais 0 Decreto-Lei n. 406/68 com as “alteragées trazidas” pelo De- creto-Lei n. 834/69. Aeedigao do Decreto-Lein, 834/69 inseriu, no sistema, alguns enunciados-enunciados do Decreto-Lei n. 406/68 (que a partir de entéo nao é mais Decreto-lei n. 406/68), além de mais alguns enunciados-enunciados que nao constavam dese Decreto-Lei. Entdo, o Decreto-Lei n. 834/69, a partir de sua publicagao, passouta ser o documento normativo regente do ISS e no mais 0 Decreto-Lei n. 406/68. Levados a erro pela enganosa teoria da “alteracao da reda- 40”, a doutrina, a jurisprudéncia e o proprio Poder Legislativo 352, Adotam a teoria da “alteragio da redagio” do art, 9° do Decreto-Lei 1, 406/68 pelos diplomas normatives subsequentes ALBERTO XAVIER e ROBERTO DUQUE ESTRADA (ISS das sociedades de servigos profssionais ea Lei Complementar n. 116/03. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord). 0 ISS ¢ a LC 116, Séo Paulo: Dialética, 2003, p. 9-18), BETINA TREIGER GRUPENMACHIER (Sociedades de profissionals e tributagao fixa frente @ Lei Complementar n, 116/93. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord.). 0 1SS ea LC 116, Séo Paulo: Dialética, 2003, p. 36-52), EDUARDO FORTUNATO BIM (A subsisténcia do ISS fixo para as sociedades uniprofissionais em face da Lei Complementar 116/03: a plena vigéncia do § 3° do art. 9® do DL 406/68, In; ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord,). 0 ISS ea LC 116, Sao Paulo: Dialética, 2003, p. 85.98) e FERNANDO FACURY SCAFF (A tributagao das sociedades profissionais mudou com @ nova Lei Complementar do ISS? In ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord). 0 ISS e a LC 116. Séo Paulo: Dialética, 2003, p. 99-108). 281 AREK MOYSES MOUSSALLEM insistem em usar e em mencionar os enunciados-enunciados do Decreto-Lein. 406/68 “alterados” pelo Decreto-Lei n, 834/69. Tal situagio leva ao absurdo de aplicar dois enunciados-enun- ciados distintos sobre um mesmo fato. Em rigor, apés o Decre- to-Lei n. 834/69, nao se hé de falar mais em aplicagaio do De- creto-Lei n. 406/68. Da mesma forma, apés a edicdo da Lei Complementar 56/87, nao se ha de falar mais em aplicacéo do Decreto-Lei n. 406/68 e do Decreto-Lei n. 834/69." Mas surge, entao, a pergunta: o Decreto-Lei n. 834/69 revogou o Decreto-Lei n. 406/68? A Lei Complementar n. 56/87 revogou 0 Decreto-Lei n. 834/69? A indagagao nao pode ser respondida sem antes atentar- se para a parte final do disposto no § 1° do art. 2* da Lei de Introdugao ao Cédigo Civil: § 1°-Allei posterior revoga le anterior quando expressamen- te 0 declare, quando seja com ela incompativel ou quando regule intetramente a matéria de que tratava a lei anterior. fato de a lei posterior, seja lei-enunciagéo-enunciada, seja lei-enunciado-enunciado, regular inteiramente a matéria 353.Interessante safda tentou arvanjar EDUARDO FORTUNATO BIM, 20 usar a distingéo entre “norma” e “enuneiado lingu‘stico” para afirmar que apenas mudot o enuneiado linguisticoe nao a norma. Concluséo direta dessas colocagées € que as leis posteriores que alteraram a redagao do art. 8, § 3%, do Decreto-Lein. 406/68 nao revogaram a “norma” a partir dele construida, mas apenas “acreseentou” outros servigos ao rol daqueles beneficiados pela tributagio diferengada (A subsist@ncia do ISS fixo para as sociedades LUniprofissionais em face da Lei Complementar 116,03: a plena vigeneia do § 3° do artigo 9 do DL 406/68. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (Coord). 0 18S ea LC 116, Sao Paulo: Dialétios, 2003, p. 85-98). Porém, tal nao parece ser a ‘melhor alternativa. Aqui também a “norma” é diferente, pois ela nao existe independentemente de uma enunciagéo espectfica. Nao adianta falar que ‘a norma é a mesma apenas em razdo de seus elementos serem os mesmos. Basta ateragfo na data da enunciagéo para que, mesmo possuindo os mesmos elementos (ou eritérios), @ “norma” construfda seja diferente. A corrente expressivista (oposta a posigée hilétiea) a que fazer alusio ALCHOURRON ‘© BULYGIN deixa isso bem claro. 282 [REVOGAGAO BM MATERIA TRIBUTARIA de que tratava a lei anterior, acarreta a possibilidade de apli- cago do art. 2%, § 1%, da LIC. Por isso, a revogagao nao é fungao da lei posterior, mas, sim, da meta-regra estipulada na Lei de Introdugao ao Cédigo Civil. Aesquematizacao do dito em atos de fala bem demonstra a sucessfio temporal das normas e a consequente revogacéo: (a) Ato de fala primério expedido no tempo t, (art. 9, § 3%, do Decreto-Lei n. 406/68). (1)S' diz S": “Quando os servigos a que se referem os itens 1, HI, V (exceto os servigos de construgdo de qualquer tipo poradministragéo ou empreitada) e VII da lista anexa forem prestados por sociedades, estas fieardo sujeitas 20 imposto na forma do § 18, ealeulado em relagdo a cada profissional habilitado, s6cio, empregado ou nao, que preste servigos ‘em nome da sociedad, embora assumindo responsabilida- de pessoal, nos termos da lei aplicével”. Em outros termos: “Obrigado p quando os servigos forem I, II, V (exceto os servigos de construgao de qualquer tipo por administragao ‘ou empreitada) e VII". (2)$' promulgou a norma que obriga a conduta “p quando ‘5 servigos forem I, IT, V (exceto os servigos de construcéo de qualquer tipo por administragio ou empreitada) e VII". (3) $' determina & S” que aplique @ norma que obriga a conduta “p" para os casos ocorridos (e a ele subsumiveis) ‘apés a edigao do ato locucionatio (1). Logo em seguida, expediu-se 0 art. 38, V, do Decreto-Lei n, 834/89, regulando inteiramente a matéria disposta no art. 9%, § 3°, do Decreto-Lei n, 406/68. Vale lembrar que, nesse caso, nao hé necessidade de haver incompatibilidade entre as disposigdes para que haja incidén- cia da regra prevista no art. 28, § 18, fine, da Lei de Introdugso 20 Cédigo Civil. (b) Ato de fala (art 38, V, do Decreto-Lei n. 834/89) regulan- do inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior, ou seja, 0 ato de fala (a). 283 ‘TAREK MOYSES MOUSSALLEM (4)S' diz SY: "§ 38 Quando os servigos a que se referem os itens 1, 2, 3,5, 6, 11, 12 e 17 da lista anexa forem prestados por sociedades, estas ficardo sujeitas a0 imposto na forma do § 14, calculado em relagao a cada profissional habilitado, sécio, empregado ou nfo, que preste servigo em nome da sociedade, embora assumindo responsabilidade pessoal, nos termos da lei aplicdvel”. Bm outros termos: “Obrigado p quando os servigos forem 1, 2, 3, 5, 6, 11, 12 ¢ 17 da lista (6)S' promulgow a “norma que obriga p quando os servigos forem 1,2, 3,5, 6,11, 12¢ 17 da lista anexa”s (6) S' determina & S” que aplique (e observe) a norma que obriga a conduta “p” para os easos ocorridos (e a ele sub- sum{veis) apés a edigéo do ato locucionétrio (4). Pela estruturagao dos atos de fala (a) e (b) ¢ fécil verificar que (b) regula integralmente a matéria disposta no ato de fala (a). Nesse caso, o sistema normativo prevé a revogagao de (a), entrando em jogo a regra constitutiva estabelecida no art. 24, § 28, da Lei de Introdugao ao Cédigo Civil, que pode ser repre- sentada em outro ato de fala revogador: (©) Ato de fala revogador (regra-constitutiva) decorrente da regulamentagio integral da matéria de que tratava a lei anterior por lei posterior: (D)S'diz S": “Revoga-se lei anterior quando sobrevier lei posterior regulando integralmente a matéria de que tratava let anterior” (6) S’ordena e revogagdo da lei anterior em caso de lei pos- terior regular inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior; (9) 5’ determina aS” que néo aplique a lei anterior para os casos ocorridos (que supostamente seriam a ela subsumi- veis) apés a edigdo da lei posterior regulamentadora da ‘mesma matéria e sobre eles (fatos ocorridos no intervalode subsungéo da lel posterior) aplique a lei posterior. Contudo, somente o ato de fala (c) néo tem 0 condéo de re- vogar a norma A anterior a B. Ele autoriza ao aplicador, diante do caso a ser considerado, expedir 0 ato de fala concreto revogador. 284 REVOGACAO EM MATERIA TRIBUTARIA (2) Ato de fala (regra-constitutiva) no caso conereto: (10)$' diz aS'? "Esta revogado o art, 98, § 32, do Decreto-Lei ‘n, 406/68, por ser anterior e por ter a mesma matéria regu- lamentada pelo artigo 38, V, do Decreto-Lei n. 834/69. (14) $' revogou (no caso concreto) o art. 98, § 38, do Decreto- Lei n, 406/68. (15) $' nao aplica o artigo 98, § 98, do Decreto-Lei n. 406/68 para. caso ocorrido (que supostamente seriam subsumiveis 20 ato locueionéric 1) apés a edigio do ato locucionério (b) e sobre ele (fato ocorrido no intervalo de subsungao da lei posterior) aplica o art, 38, V, do Decreto-Lei n, 834/69, oriun- do de (bx) Neste tiltimo caso (4), 0 aplicador faz-ser a revogagio. Constitui-a linguisticamente. Retira-a do plano da subjetividade (onde juridicamente inexiste) e objetiva-a, A existéncia denorma posterior regulamentando a matéria que tratava lei anterior é tomada como fato juridico para ter como efeito a revagacdo, sempre linguisticamente constituida, Em momento posterior do fluxo da causalidade juridica, a revogagdo é apreendida como {ato juridico cujo efeito é a inaplicacdo da norma “revogada”. Por isso, é possivel falar em revogacdo do art. 9, § 3%, do Deereto-Lei n. 406/68. Isso é reforgado pelo fato de que néo permanece no sis- tema normativo (SDP,)o art. 9%, § 3%, do Deereto-Lei n, 406/68 alterado pelo art. 32, V, do Decreto-Lei n. 834/89. 0 SDP, criado com a edigéo do artigo 3°, V, do Decreto-Lei n. 834/89 ndo con- tém art. 98, § 32, do Decreto-Lei n, 406/68. Isso ocorre sucessivamente. O SDP, criado com a edi¢ao do art. 28 da Lei Complementar n. 56/87 nao contém o art. 3°, YV, do Decreto-Lei n. 834/89 nem o art. 9°, § 3°, do Deereto-Lei n, 406/68. Por isso, bastava, como de fato ocorreu, a revogagio da Lei Complementar n. 56/87 (enunciacéo-enunciada) para que no sistema SDP, (criado apés a edigéo da LC n. 116/203) nao mais fosse aplicdvel a tributagao diferencada para as socieda- des uniprofissionais. 285 ‘TAREK MOSES MOUSSALLEM Nessa craveira, ato de fala revogador estabelecido pelo art. 10 da Lei n. 116/2003, ao menos no que tange & base de cdlculo do ISS devido pelas sociedades uniprofissionais, é um sem-sentido deéntico. Nao cabe revogagao daquilo que revogado jé est. Quando o ato de fala revogador se dirige (i) aos enunciados- enuneiados 88, 10, 11 e 12 do Decreto-Lei (enunciagéo-enuncia- da) n, 406/68 e (ii) aos incisos II, IV, V e VI do art. 3° (enunciados- enunciados) do Decreto-lei (enunciagao-enunciada) n. 834/69 para revogé-los mira enunciados-enunciados e enunciagdes- enunciadas nao mais pertencentes ao sistema do direito positi- vo SDP, Em SDP,, a0 menos no que se refere a base de céleulo das sociedades uniprofissionais, a tinica norma valida é 0 enun- ciado-enunciado (artigo) 2° da Lei Complementar n. 57/86, que, por sua vez, foi revogada (expressamente, como diz a tradigéo juridica) pelo art. 10 da Lei n, 116/203 (SDP, Enfim, conclui-se que no pertence ao sistema normativo atual (SDP,) qualquer regra ensejadora de tratamento especial de tributagao das sociedades uniprofissionais nos moldes exis- tentes em SDP,, SDP, e SDP,, 5.4 A COFINS e as sociedades civis prestadoras de servicos profissionais relativos ao exercicio de profissao legalmente regulamentada registradas no registro civil: poderia a isengao concedida por lei complementar ser revogada por lei ordinaria? Assunto imbricado com a temética da “revogacéo” é aque- le referente a isengfo (ou nao) da COFINS (Contribuigéo para 0 Financiamento da Seguridade Social) para as sociedades civis. ‘Todo o mistiforio teve inicio com a edicdo da Lei Comple- mentar n. 70™ de 30 de dezembro de 1991, que, em seu art. 6°, II, previa: 354. Como é de sabenca geral,oaludido diploma normativo teve sua constitu: cionalidade “declarada” quando do julgamento da ADC n. 1-1/DE.E mais, entendeu o Supremo Tribunal Federal que a instituigao da COFINS teve 286 REVOGAGAO EM MATERIA TRIBUTARIA Art 68, So isentas da contribuigao: Go) IL As sociedades civis de que trata 0 art. 18 do Deereto-Lei 12.397, de 22-12-1987. Por sua vez, 0 art. 18 do Decreto-Lei n. 2.397, de 22 de dezembro de 1987 assim dispunha: Art. 12 A partir do exereicio financeiro de 1989, nfo incidiré ‘© Imposto de Renda das pessoas juridicas sobre o hucro apu- rado, no encerramento de cada periodo-base, pelas socieda- des civis de prestagées de servigas profissionais relativos a0, exercfcio de profissio legalmente regulamentada, registradas, 1no registro civil das pessoas juridicas e constituidas exclusi- vamente por pessoa fisica domiciliada no pats. Com isso, as sociedades civis prestadoras de servigos profissionais relativos ao exercicio de profissao legalmente regulamentada registradas no registro civil, passaram a gozar do beneficio da isengfo tributéria. Todavia, em 27 de dezembro de 1996, fez-se editar a Lei ordinéria n. 9.430, cujos arts. 56 e 88, XIV, prescrevem respectivamente: Art, 56. As sociedades civis de prestagdo de servigos de profissdo legalmente regulamentada passam a contribuir ‘para a seguridade social com base na reeeita bruta da pres- tagdo de servigos, observadas as normas da Lei Comple- mentar n, 70, de 80 de dezembro de 1991, Art 88. Revogam-se: 9.0 XIV- 0 arts, 12 € 28 do Decreto-Lei n. 2.397, de 21 de de- zembro de 1987; por fundamento de validade o art. 195, 1, da Constituigdo Federal vigente & época, sendo, para tanto, desnecesséria a edigéo de lei complementar, bastando lei ordinéria, 287 "TARBK MOYSE'S MOUSSALLEM Sem sombra de diividas, a Lei ordinéria n. 9.430/96, em seu art. 56, expediu ato de fala incompativel com o art. 6°, Il, veiculado pela Lei Complementar n. 70/91. ‘Ademais, a Lei ordindria n, 9.430/96 estabeleceu ato de fala revogador dos arts. 1° e 28 do Decreto-Lei n. 2.397, de 21 de dezembro de 1987, que compunham o art, 6%, II da Lei Com- plementar n. 70/91. Diante desses fatos, duas perguntas afloram: (i) a Lei ordinéria n. 9.430/96, em seu art. 56, poderia tratar de matéria disposta na Lei Complementar n. 70/91?; (ii) a Lei ordinéria n. 9.430/96, ao estabelecer ato de fala revogador dos arts. 1° 2° do Decreto-Lei n. 2.397/87 revogou também o art, 6%, II, da Lei Complementar 70/91? Partindo-se da premissa adotada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADC n. 1-1/DF, néo era necesséria ei complementar-enunciagao-enunciada para inserir enuncia- dos-enunciados tributérios versantes sobre contribuigéo inci- dente sobre faturamento, tendo em vista o disposto no art. 195, I, da Constituigéo Federal vigente a época da edigdo da Lei Complementar n. 70/91. Nessa linha, conduziu o julgamento o voto do Ministro Re- lator MOREIRA ALVES™, do qual se destaca 0 seguinte trecho: Sucede, porém, que a contribuigdo social em causa, inci dente sobre o faturamento dos empregadores, é admitida cexpressamente pelo inciso I do artigo 195 da Carta Magna, no se podendo pretender tenha criado outra fonte de ren- da destinada a garantir a manutengéo ou a expanséo da seguridade social. Por isso mesmo, essa contribuigéo pode- ria ser institulda por Lei ordindria. A circunstancia de ter sido instituida por lei formalmente complementar ~ 2 Lei Complementar 70/91 ~ néo Ihe dé, evidentemente, a natu- reza de contribuigéo social nova, a que se Ihe aplicaria 0 disposto no § 4 do artigo 195 da Constituigo, porquanto 355.ADC n, 1-1/DE 288 REVOGAGAO EM MATERIA TRIBUTARIA ‘essa lei, com relagio aos dispositivos concernentes a con- tribuigdo social por ela institufda ~ que so o objeto desta agio -, é materialmente ordinéria, por nfo tratar, nesse particular, de matéria reservada, por texto expresso da Constituigdo, a lei complementar. A jurisprudéncia desta Corte, sob 0 império da Emenda Constitucional n. 1/69-e @ Constituigio atual ndo alterou esse sistema -, se firmou no sentide de que s6 se exige lei complementar para as ‘matérias para cuja disciplina a Constituigao expressamen- te faz tal exigéncia, ese, porventura, a matéria, disciplinada por lei cujo processo legislative observado tenha sido 0 da lei complementar, néo seja daquelas para que a Carta Mag- nha exige essa modalidade legislativa, os dispositives que tratam dela se t8m como dispositives da lei ordindria, Entéo, estabeleceu-se que a Lei Complementar n. 70/91, embora fosse “formalmente complementar”, seria “material- mente ordinaria”. Apesar de se entender pela desnecessidade de Lei Com- plementar no trato do tema, néo se vislumbra, neste trabalho, razéo para falar em “lei formalmente complementar” e “lei materialmente ordindria”. Nenhum obstéculo hi para se considerar pela possibilidade dea Lei Complementar n. 70/91 ser legitima lei complementar. Ocorre que, in casu, pode ser alterada ou revogada por lei ordinaria. Mas por qué? A resposta é simples. Porque além de os enunciados-enunciados inseridos pela Lei complementar se- rem afetos & Lei ordindria, inexiste na situagao em considera- go hierarquia entre ambas. Alei complementar somente seré superior a lei ordindria quando for fundamento de validade desta, como 6 0 caso do Cédigo Tributario Nacional (lei nacional) em relagao as leis federais, estaduais e municipais. Alei complementar que tratar de matéria de lei ordinéria continua vélida como lei complementar, passivel de revogagao 289 ‘TAREK MOYSES MOUSSALLEM por lei ordinéria, porquanto nao hé gradagao entre ambas. Diferente seria se a matéria fosse privativa de lei complemen- tar, Nesses casos, mesmo inexistindo a possibilidade de haver hierarquia, néo poderiaa lei ordinéria revogar a complementar, porque 0 procedimento determinado para a expedicéo do ato de fala revogadlor de lei complementar deve ser 0 procedimento de lei complementa Dessarte, apenas a edicéo do art. 56 da Lei ordinéria n. 9.430/96, por ser incompativel com 0 disposto o art. 6, Il, da Lei complementar n. 70/91 daria ensejo a aplicagéo da regra constitutiva de revogagao encontradiga no art. 2°, § 19, da Lei de Introdugao ao Cédigo Civil. O entendimente aqui esposado caminha na contramaoda Stimula 276 editada pelo Superior Tribunal de Justica: “As sociedades civis de prestacdo de servigos profissionais so isentas da Cofins, irrelevante o regime tributério adotado”. A situagéo nao € diferente no que tange aos recentes julgados do Superior Tribunal de Justi¢a. Veja-se por todos este aresto: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ‘TRIBUTARIO. COFINS. SOCIEDADES PRESTADORAS DE SERVIGO. ISENGAO. LC N. 70/91. LEI N. 9.430/96. REVOGAGAO. SUMULA 276/STJ. 1, Lei Ordinéria néo pode revogar determinagao de Lei Complementar, revelando-se ilegitima a revogagao institu {da pela Lei n. 9430/96 da isengo conferida pela LC n. 70/91 as sociedades prestadoras de servicos, por colidir com 0 Prinefpio da Hierarquia das Leis. (Precedentes da Primel- rae Segunda Turmas do STJ). Sob esse enfoque, foi edita- da a Sdmula 276 deste Tribunal, que assim dispde: “As sociedades civis de prestagdo de servigos profissionais sao isentas da Cofins,irrelevante o regime tributério adotado”. 2, Ressalva do entendimento do Relator, em observancia 20 novel posicionamento do STF, intérprete maior do texto constifucional, que no julgamento da ADC, 01/DF, assentou 290 REVOGAGAO EM MATERIA TRIBUTARIA que a LC n, 70/91 possui status de lei ordindria, posto néo se enquadrar na previsio do art, 154, I, da Constituigao Federal. Em consequéncia e consoante o principio da lex posterius derrogat priori, consagrado no art. 29, § 18, da LICC, nao padece de ilegalidade o disposto no art. 56, da Lei n, 9.480/96, pelo que, em razio de a lei isencional e a revogadora possufrem o mesmo status de lei ordinéria, le- sitima seria a revogagéo da isengdo anteriormente conce- dida, pelo que estéo obrigados ao pagamento da COFINS as sociedades civis prestadoras de servicos. Destarte, a aplicagao de norma supralegal, in casu, a Leide Introducéo a0 Cédigo Civil, toma desnecesséria a andlise de maté: de indole constitucional. 3, Agravo regimental provido (CPG, art. 557, § 1%A). (AgRESp 637.967/RS; Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma = 14/09/2004, DJ, 30/09/2004, p.232) ‘Vale ressaltar que, diante de todo o quadro fatico juridico instalado, o Ministro MARCO AURELIO deferiu pedido de liminar na Rel/RS 2613, “nao para cassar as decisées do Supe- rior Tribunal de Justiga, mas para afasté-las, até o julgamento final desta reclamagéo”, uma vez que se trata de questéo cons- titucional por possivel violagdo aos arts. 58, XXXVI, e 146, II, da Constituiggo Federal. ‘Muito embora nao haja Sbices para a revogagao da isengao outorgada as sociedades civis nos moldes aqui expostos, cum- pre esclarecer, ad argumentandum tantum, mais uma situag&o que em nada alteraria a concluséo acima, mas pode ajudar a compreender melhor o fendmeno da revogagéo. 0 enunciado-enunciado da Lei Complementar n. 70/91, ao conceder isengio de COFINS para as sociedades civis, fez mengéo expressa aquelas arroladas no art. 1? do Decreto-Lei n, 2.397/87. Posteriormente, a Lei n. 9.430/96 ejetou ato de fala revogador do referido enunciado-enunciado do decreto-lei. Pergunta-se, entdo: por esse motivo, poder-se-ia dizer que esta revogado o art. 62, II da Lei Complementar n. 70/91? 291 ‘TAREK MOYSES MOUSSALLEM A resposta é negativa. Por esse simples motivo, nao se hé de falar em revogagao do art. 69, II, da Lei Complementar n. 70/91. Duas so as justificativas para tal posicionamento: (i) 0 art. 62, II, da Lei Complementar n. 70/91 nao é “norma” depen- dente, nem “norma”, derivada nem “norma” consequente do art, 12 do Decreto-Lei n. 2.397/87, ¢ (ii) 0 art. 6, II, da Lei Com- plementar n. 70/91 inseriu no sistema normativo enunciado- enunciado diverso daquele originério do art. 1° do Decreto-Lei n, 2.397/87. Fazer simples referéncia ao artigo 1° do Decreto-Lei n. 2.391/87, néo significa torné-lo dependente. A situagéo aqui descrita seria como se o art. 6°, II, da Lei Complementar n. 70/91 tivesse a seguinte redagéo: [Art 6#, Séo isentas da contribuiga (0) II - as sociedades civis de prestagoes de servigos profissio- nais relativos 2o exerefcio de profissio legalmente regula ‘mentada, registradas no registro civil das pessoas juridicas « constituidas exclusivamente por pessoa fisica domiciliada no pals. Isso demonstra claramente que a simples referencia que ‘o enunciado-enunciado de determinado documento normativo possa fazer ao enunciado-enunciado de qualquer outro docu- mento normativo nao é revogada quando o enunciado-enun- ciado mencionado € revogado. Por outro giro, o enunciado-enunciado mencionado nao 6 revogado quando se revoga 0 enunciado-enunciado (ou enunciaggo-enunciada) por ele mencionado. 292

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