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Esfe exerplor oOyres sponte a edosti oh do fos o dekendde pala Alln Art thor Seren © ophovacto. pela cONVaS ats julgoderer Caxryies, 28 de rr Lo | ES hile 4, Onex Todor SISTEMAS, INDIGENAS DE CLASSIFICAGAO DE AVES: ASPECTOS COMPARATIVOS, ECGLOGICOS E EVOLUTIVOS ALLEN ARTHUR JENSEN Tase apresentada ao Curso de \ P6s-Graduagao an Ecologia Sda-Universidade. Estadual," de Campinas, para abtencao | do ‘titulo de Doutor em Ciéncias Orientadores: Or. Keith S.. Biown, JF. Dr. Aryon 0. Rodrigues CAMPINAS 1985. SISTEMAS INDIGENAS DE CLASSIFICAGAO DE AVES: ASPECTOS COMPARATIVOS, ECOLOGICOS E EVOLUTIVOS Sintese Sd examinados os sistemas classificatérios de aves usados por quatro tribos indigenas de anbientes e estilos de vida algo semelhantes. Trés destas tribos (Wayampi, Urubu-Kaapor e Sateré-Mawé) pertencen ao mesmo tronco linglifstico (Tupi), e a quarta (Apalaf) pertence a um tronco nao Tupi. 0 objetivo principal & entender melhor as influéncias que o ambiente fisico, 1a cultura e a linguagem desempenhan na evolug’o de cada sistema. 0 sistema. classificatério dos indios Wayampi & estudado detalhadamente (capitulo III) com respeito & taxonomia e & hierarquia émica das aves. Capftulo IV apresenta una comparagéo do sistema Wayampi com os das outras trés tribos, baseada na nomenclatura das aves e também nos membros componentes dos agrupamentos @micos. No capitulo V é discutido o papel do ambiente na evolugéo dos sistemas classificatérios das aves entre as quatro tribos indigenas estudadas. Autor: Allen Arthur Jensen Orientadores: Keith Spalding Brown, Jr. Aryon Dall'Igna Rodrigues AGRADECIMENTOS: Arealizagao desta tese envolveu muito mais do que simplesnente trabalho meu; no existe trabalho cientffico que seja individual. No seria possivel citar aqui todos os que colaboraran diretanente e, ainda menos, os que colaboraran indiretamente, proporcionando tempo, espago, material ou encorajamento. Freqlientemente minha persist@ncia nos estudos foi resultado do estimulo de meus colegas e, especialmente, de minha fanflia. Sem 0 apoio constante e o amor de minha esposa, Cheryl, e de minhas filhas, Naoni e Andrea, esta pesquisa teria sido muito mais dificil. Elas me permitiran ficar Jongos perfodos fora de casa durante esta pesquisa. Além disso, Cheryl é minha colega mais intima. A maioria das idéias apresentadas nesta tese foran examinadas primeiranente por ela. O.conhecimento e analise da lingua dos Wayampi foi un esforco conjunto con ela. Agradego também a meus pais, Harold e Verna, que me orientaran muitos anos sobre o valor do trabalho consciente e da integridade em todas as areas da vida. Neus orientadores, Dr. Keith $. Brown de. e Dr. Aryon D. Rodrigues, so pessoas de valor especial para mim. Anbos mostraram, alén do conhecimento dos assuntos relevantes para esta pesquisa, muita paci@ncia e confianga em mim, ainda quando eu mesmo nfo tinha tanta confianga. 0 Dr. Brown me sensibilizou sobre muitos aspectos, nao sé cientfficos em natureza, mas tanbén sobre mim mesmo @ sobre minha capacidade. Quanto aos tndios do Brasil, o Dr. Rodrigues é una “enciclopédia de informagées" e ele sempre teve sua porta aberta para mim. 0s membros. da pré-banca merecem agradecimentos especiais. 0 Dr. Jacques Vielliard ofereceu nao sé seu tempo e seu conhecimento cientifico, além de sua vivéncia com as aves, como também franqueou seu arquivo de gravaches de cantos da avifauna para meu uso. 0 Dr. Woodruff Benson, ecologista especializado em dinamica de populagdes e comunidades, orientou-me em ecologia de campo. 0 Dr. Luis Octévio M. Machado (ornitélogo), o Dr. Luts Carlos Cagliari (lingiiista especializado em fonética) e o Dr. Carl H. Harrison (lingtiista especializado en gramética, particularmente entre grupos indigenas do tronco Tupi) ofereceran, informages e crfticas valiosas a respeito do texto e do assunto desta tese. 0 Or. Darrell Posey (etnozodlogo da Universidade Federal do Maranhao) anpliou minha visio da ciéncia cognitiva, tendo-me inclufdo em un programa de estudes etnobiolégicos entre os indios Kayapé, no Pard. Na mesma ocasiao, David Oren, do Museu Paraense Emilie Goeldi, me orientou na drea de ecologia de aves e me ensinou os elementos basicos para a coleta e taxidermia dos passaros. Qs membros missionérios do Summer Institute of Linguistics (SIL, Insituto Linglifsitco de Ver&o) sao colegas em todos os sentidos e me ajudaran en muitas dreas. Foi o estudo de classificagao de aves entre os | Kaiwd, de John Taylor (1980) que me incentivou a fazer também um estudo das aves; agradego ao dohn por este estfmulo. Al e Sue Graham (os lingiiistas-missionaérios entre os Sateré-Mawé), Jim e Kay Kakumasu (entre os Urubu-Kaapor) e Ed e Sally Koehn (entre os Apalat) ofereceran suas casas, alimentagao, espago para trabalhar e acesso aos ajudantes indigenas para a pesquisa. Mike Navratil e Fred Niehoff, pilotos do SIL, concordaran em me _ transportar para todas as localidades onde realizei a pesquisa. iv Robert Wright, Carolynn Andrews e a digitadora, Lizbeth S. Carvalho, prepararan o manuscrito da tese no computador. Nao fosse sua colaboragao, esta tese teria levado muito mais tempo para ficar pronta. 0s colegas, Gary e Robi Olson, deixaran & minha disposigio mais de duzentos textos e' Tendas no idioma Wayampi, muitos dos quais foran valiosos para esta pesquisa. 0 Dr. Pierre Grenand fez 0 etho-dicionério do mundo vivo entre os Wayampi da Guiana Francesa (1980). A presente tese reflete em varios lugares informagdes que ele coletou. Dominique Gallois (1981) também me ensinou a respeito da cultura Wayampi e providenciou muitas informagées dteis. Agradego também &% Fundagao Nacional do Indio (FUNAI) por autorizar meu trabalho entre os indios do Brasil. Merecen agradecimentos especiais, Iberé Sassi (chefe do Posto Amaparf) e sua esposa Maeva, que sempre me deram apoio, anizade e colaboracéo. Silas e Eldna de Lima, missiondrios da Missdéo Novas Tribos do Brasil, que trabalham na aldeia Wayampi ytuwasu, me ofereceram hospitalidade e apoio total durante os dias que passei naquela aldeia. 0s ajudantes indigenas merecem meus agradecimentos, nio sé por teren compart ilhado informagies tao dteis para esta tese, mas também por terem tolerado minhas perguntas estranhas e, as vezes, tolas, durante muitas horas de estudo. 0s informantes Wayampi foram Kurikuri, Kurawa e Majawaf, da aldeia Molocapote (que nao existe mais), Piriri, Jasitu, Saramare, Kasiripina, Matapi, Sereneté e Jurara, da regio do Anaparf. 0s Sateré-Mawé foram Servo, Ranuljo, Reniwau e Sueu. Os Apalaf foran Caboclo, Jaké e Araipo, e os Urubu-Kaapor foram Pieru e Pimenta. Também quero agradecer & CAPES pela concesséo da bolsa de estudos durante os quatro anos em que realizei esta pesquisa. Finalmente, quero agradecer ao meu Senhor e Deus, Jesus, que me orientou durante as filtimas quatro décadas em termos de persist@ncia, paciéncia, estima para com a humanidade e na busca da verdade. INDICE Sintese i Agradecimentos ii Indice vi Lista de Figuras xii Lista de Tabelas xvi I. Introdugo 1 A. Consideragées sobre a complexidade de grupos indigenas do Brasil 1 B. Estudos ja realizados em etnobiologia, especialmente a respeito da biologia sistematica 3 C. Objetivos 18 Materiais e métodos 19 A. A escolha dos grupos indigenas usados neste estudo 19 8. Aves como meio de pesquisa etnobioldgica 25 C. Preparagdo do material 26 D. Os informantes 28 E. Aspectos Vinglifsticos 32 F. Qutros parametros estudados 32 Etnozoologia Wayampi e principios de nomenclatura A. Recursos lingiifsticos para a formagao de nomes 1. Recursos granaticais a. Palavra simples b. Palavra complexa c. Palavra composta i. Compostos atributivos ii. Compostos determinativos iii. Compostos cumulativos 2. Recursos Onomatopéicos 3. Empréstimos de vocabul 4rio . Critérios empregados pelos Wayanpi para a identificagao de aves ao nivel da palavra 1. Aspectos morfolégicos (biolégicos) a. Cor b. Tragos caracterfsticos c. Tamanho d. Caracteristicas em comum con outras espécies 2. Aspectos ecolégicos a. Alus%o ao lugar em que se encontra a espécie b. Alimentag%o 3. Critérios sociolégicos 4, Relagdes com aspectos do mundo religioso « Recursos culturais enpregados na formagao do sistema classificatério de aves 1, Sistema de organizagao social: chefes e subordinados 2. 0 dono e o patriminio 33 34 34 34 34 35 35 37 38 39 40 42 42 42 43 43 44 44 44 45 45 45 46 46 47 viii 3. Competig’o entre os Hayampi e certas aves 48 4. Aves como fontes de protefna e cono matéria-prima para adornos plumarios 49 D. Classificagio das Aves 51 1. Concordincia do sistema classificatério cientffico com o sistema Wayanpi 51 a. Areas de correspondéncia direta 63 b. Areas de correspondéncia 1:X 53 c. Areas de correspondéncia 2:1 54 4, Areas en que una espécie, mais ou menos atfpica, é associada com outro grupo 54 2. Relagio entre o nimero efetivo de espécies no territério do Amapd, especialmente no rio Amaparf, € 0 niimero conhecido petos Wayampi 55 3. Relagao entre o niimero de espécies incluidas numa etnofamilia e 0 nimero conhecido por nome préprio 56 4. Questo da hierarquia 58 5. Definigao Wayampi de ave (etnoclasse) 63 E. Taxonomia 63 1. Namupewar 63 2. Uruvu 65 3. Wyraupewar 67 4. Kujuipewar 70 5. Uru 2 6. dakami 72 7. Arakupewar 72 8. Pykaupewar 76 9. Ararapewar 78 10. Asigaupewar 80 ql. Anu 80 12. Tapupupewar 83 13. Nakyropewar 83 14. Wainunypewar 86 15. Uruku! apewar 88 16. Jawasipewar 90 17. Kar anamapewar 90 18. Akurupewar 93 19. Tukapewar 93 20. Pektipewar 96 21. Japupewar 98 22. Wyrasipewar 100 23. Ypepewar 102 24. Pavopewar 104 25. Wyrataja’ tpewar 106 26. Tagarapewar 108 27. Wyrapitawapewar 108 28. Piriripewar ut 29. Sa‘ imapewar 3 30. Sipewar 115 F. Conclusdes 115 IV. Estudo Comparativo 122 A. Introdugio 122 B. Aspectos linglifsticos da nonenclatura 122 1. Tinanidae 132 2. Phasiantidae 132 o 10. ll. 12. 13. 14, 15. 16. 17. 18. 19. 20. al. 22. 23. 24. 25. 26. 27. Ardeidae, Threskiornithidae, Phalacrocoracidae, Anhingidae, Cochlear iidae Anatidae Cathartidae Accipitridae, Falconidae, Pandionidae Cracidae, Opisthocomidae Psophiidae Rallidae, Charadriidae, Scolopacidae Columbidae Psittacidae Anu Cucul idae Tytonidae, Strigidae Caprimulgidae, Nyctibiidae Apodidae, Hirundinidae Trochil idae Trogonidae Momotidae Alcedinidae Bucconidae Ramphastidae Picidae, Dendrocolaptidae, Furnariidae Formicariidae Cotingidae Pipridae Tyrannidae 132 133 133 134 134 135 135 135 136 136 137 137 137 137 138 138 138 139 140 140 140 141 141 142 142 28. Turdidae 29. Icteridae 30. Thraupidae 31. Fringitlidae C. Componentes da etnofamflia e observagdes sobre os sistemas classificatérios Tupi V. A participagio do anbiente na evolugao de sistemas classificatérios A. Clima B. Relevo C. Solos D. Vegetagio E. Efeitos do anbiente nas populagdes de aves F. Ambiente, populagdes de aves e sistemas classficatérios VI. Oportunidades para pesquisa adicional VIL. Conclusdes e Resumo VIII. Summary Bibliografia Apéndices 1. Aves reconhecidas entre os Wayampi (Amapari, Oiapoque, Jari), os Urubu-Kaapor, os Sateré-Mawé e os Apalat IL. Simbolos usados na ortografia de nomes indfgenas nesta tese xi 143 143 143 143 144 153 153 155 156 161 163 165 7 178 183 195 219 Fig. 1. Fig. 2. Fig. 3. Fig. 4. Fig. 5. Fig. 6 Fig. 7. Fig. 8. Fig. 9. Fig. 10. Fig. 11. Fig. 12. Fig. 13. Fig. 14. LISTA DE FIGURAS Sistema Filoséfico de classificagao nominal da Tngua proto-Bantu. Arvore verdadeira (Durbin) . Arvore imperfeita (Durbin). Arvore biolégica (Durbin). Esquema da inter-relagdo entre as cinco categorias taxondmicas da etnobiologia e seus niveis relativos numa etnotaxononia ideoldgica. Esquema revisado da seqiincia de complexidade na nonenclatura de cores nas culturas diferentes. Esquema de seqii@ncia das "life-forms" (etnoclasses) botanicas e zoolégicas. Local izag’o das reas de pesquisa: Wayampi, Apalat, Sateré-Mawé, Urubu-Kaapor e Kaiwa. Localizagao e topografia regional das areas indigenas Apalaf e Wayampi. Localizagao da area indigena Urubu-Kaapor. Localizagao da area indigena Sateré-Mawé. Exemplos das fichas de pesquisa etnozooldgica. Composigao taxonémica de famflias de aves de cada etnofamflia Wayanpi. RelagSes por familia entre espécies de aves presentes na regiao da aldeia Taitetua (Wayampi) e o niimero conhecido por nome pelos informantes. Representagao esquenatica da visao Wayampi de relagées entre os seres vivos. 12 14 16 al 23 24 27 52 59 61 Fig. 15. Fig. 16. Fig. 17. Fig. 18. Fig. 19. Fig. 20. Fig. 21. Fig. 22. Fig. 23. Fig. 24. Fig. 25. Fig. 26. Fig. 27. Fig. 28. Hierarquia linear, estrutura etnofamilia Namupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamil ia Uruvupewar . Hierarquia linear, estrutura etnofanflia Wyraupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofam{lia Kujuipewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Urupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia dakamipewar. Hierarquia linear, estrutura etnofam{lia Arakupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofanflia Pykaupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Ararapewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Asigaupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Anupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Tapupupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Wakyropewar . Hierarquia linear, estrutura etnofanflia Wainumypewar. social social social social social social social social social social social social social social compos igao composigio compos igao composigao compos igao composigao compos igo compos igao compos i¢ao. composigao compos igao compos igo compos igao compos igo da da da da da da da da da da da da da da 64 66 68 7 73 74 15 77 79 al 82 84 85 87 Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. Fig. 23. 33. 34, 35. 36. 37. 38. 39. 40. 4. 42. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Uruku'apewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Jawasipewar. Hierarquia linear, estrutura etnofanflia Karamamapewar . Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Akurupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofanflia tukapewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Pekipewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Japupewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamilia Wyrasipewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamilia Ypepewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Pavopewar. Hierarquia linear, estrutura etnofanflia Wyrataja'ipewar . Hierarquia Vinear, estrutura etnofanflia Tagarapewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamilia Wyrapitawapewar. Hierarquia linear, estrutura etnofamflia Pirirfpewar. social social social social social social social social social social social social social social e e e e e e e e e e e e composigao compos igao composigao compos igao compos igao compos igo composigio compos igo composigao compos igo composigao conposigao compos igao composigao da da da da da da xiv 89 91 92 94 95 97 99 101 103 105 107 109 110 112 Fig. 43. Fig. 44. Fig. 45. Fig. 46. Fig. 47. Hierarquia linear, estrutura social e composigao da etnofan{lia Sa‘ imapewar. Hierarquia linear, estrutura social e composigio da etnofanflia Sipewar. Importancia relativa dos critérios de classificagao aplicados pelos indios Wayampi nos diversos nfveis taxondmicos. Contraste de conteddo e de nimero de espécies conhecidas por nome de algumas etnofamflias entre os Wayampi, Urubu, Sateré e Apalaf. Climégrafos mostrando a variagao mensal de temperatura e pluviosidade em cinco localidades préximas as aldeias indigenas estudadas. xv 114 116 121 145 154 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Ninero de espécies que ocorren na regio dos Wayampi que s%o pouco reconhecidas pelos informantes. 57 Tabela 2. 0s noes de etnogéneros cognatos entre quatro grupos do tronco Vinglifstico Tupi. 123 Tabela 3. A. Comparacio de parémetros anbientais das areas indigenas. B. Similaridade relativa de alguns aspectos anbientais entre as areas indfgenas dos Wayampi, Apalat, Sateré-Mawé e Urubu-Kaapor. 158 Tabela 4. Frutas silvestres procuradas pelos Wayampi, a época de amadurecimento e aves associadas con elas. 169 1. INTRODUGAO } A. Consideragées sobre a complexidade dos grupos indfgenas do Brasil. Nos iiitimos trinta anos tem sido de interesse crescente entre cientistas de varios campos a tentativa de estudar as origens e rotas de . dispersdo das diversas linguas indigenas faladas por todas as partes da | Anérica Tropical. Esta diversidade lingiifstica nao parece seguir padrées simples de migrag8o, como pela costa ou pelos sistemas fluviais; o quadro ) verificado parece mais una dispersdo em mosaico, sugerindo padrées complexos de migragao de grupos no passado. Ha varias disciplinas envolvidas no estudo desta complexidade usando principalmente critérios lingiifsticos e antropolégicos. Ao mesmo tempo, algunas tentativas foran feitas para associar fatores ffsicos e biolégicos a esta diversidade. Meggers (1954, 1977a, 1977b e 1979) e Lathrap (1972), entre outros, usaran dados de Haffer (1969, 1974) sobre aves, Miller (1977) sobre arqueologia, Prance (1973), Pickergill e Heiser (1977) sobre plantas, Eden (1975), Van der Hanmen (1974) e Absy (1979) sobre paleoclimas, Brown e Ab'saber (1979) sobre paleoecologia e evolugao de insetos, e outras fontes, relacionando-os com dados linglifsticos e antropolégicos, para sugerir uma possivel relaggo entre o ambiente paleoecolégico e a evolugio cultural e linglifstica en comunidades humanas. Um problema potencial como uso exclusivo de dados Vinglifsticos e antropolégicos & que ha alguns grupos indigenas que aparentemente perderam sua lingua e adotaran uma outra, embora mantendo a sua prdépria cultura. Outros grupos, por outro lado, fizeram o inverso: mudaran a sua cultura profundanente, mas aparentemente conservaran sua Tingua. threat rl rt retire Portanto, seria de grande importancia achar um critério que se aplicasse diretanente aos dados linglifsticos e antropolégicos e que fosse, de prefer€ncia, mais estdvel que estes. De interesse relativanente recente sio alguns aspectos da etnobiologia gue poderian oferecer un critério valioso a este respeito. Aspectos da biologia sistematica, conforme percebidos pelos povos indigenas, poderian fornecer un critério relativanente estdvel em comparago com os fatores culturais e Tingiifsticos, da mesma maneira que os padrées da biologia sistematica, desenvolvidos por Platio ha muitos séculos e Lineu mais recentenente, embora tenhan sofride muitas modificagdes em sua estrutura, ainda sao mantidos na biologia ocidental moderna. Isto aconteceu apesar de ter havido mudangas drésticas nas ci@ncias, nas culturas e nas 1inguas descendentes da tradigo platénica dos povos que, ainda assim, mantém até hoje este mesmo sistema classificatério do mundo natural. Nos seus estudos de trés grupos indigenas norte americanos, de origens linglifsticas diferentes, mas de culturas quase id@nticas, Bright & Bright (1965:255) mostraran que a biotaxonomia entre as trés tribos é muito mais semelhante que sua Ifngua, e, em decorréncia disto, eles puseran em dévida se a etnotaxononia seria basicanente uma entidade linglifstica ou antropoldgica. Para estes autores, aspectos linglifsticos sobrevivem por sua correspondéncia & lingua aboriginal. Todavia, um outro aspecto da taxonomia € a estrutura conceptual. Foi justamente através desta estrutura que eles acharam uma correspondéncia entre as culturas, nao evidente na estrutura linglifstica. Através deste estudo e outros semelhantes, uma pergunta ébvia &, que papel desempenha o ambiente ao determinar a maneira en que o homem organiza 0 mundo ao redor dele? B. Estudos j& realizados em etnobiologia, especialmente a respeito da biologia sistemitica. H@ muitos anos varios cientistas vém demonstrando interesse em fazer comparagées entre vocabularios indfgenas, 0 que resultou principalmente em etno-dicionarios bilfngiies. Alguns (por exemplo, Zeisberger, 1887, 1910 e Coudreau, 1892) fizeran dicionarios que inclufram segées grandes dedicadas a vocabulario de classifitagao biolégica. Estas segdes eram semelhantes: una parte dava uma visdo gers} da cultura e do povo, seguida por una lista de nomes usados para plantas e animais. As vezes foi inclufda junto con o léxico uma descriggo das maneiras em que certos animais ou plantas foran utilizados. Estudos cognitivos tém sido desenvolvidos a partir de 1954 para entender culturas hunanas como sistemas de conceitos. August Mahr foi talvez un dos primeiros cientistas a dedicar-se ao preparo de dicionarios exclusivanente biolégicos com sentido semantico e cognitivo. Ele fez primeiro un estudo da lingua Delaware, focalizando a terminologia das partes anatémicas do corpo hunano (Nahr, 1960), e tentando entender a relagio do vocabul rio com a maneira empregada para classificar as partes do corpo. Logo depois (Mahr, 1962), ele fez um estudo entre os indios da mesma tribo (os Delaware falan uma lingua da familia lingéfstica algonquina, situando-se principalmente no estado de Ohio, nos Estados Unidos), descrevendo espécies de plantas e animais em termos de sua classificagdo cientifica eo respectivo vocabuldrio em termos de sua estrutura semantica. Por exemplo, a palavra ea Delaware para Fagus grandifolia fhrh. (faia vermelha) é shawa hr notou que as duas palavras mostran para os Delaware uma sé tankhakan. espécie com dois estégios de crescimento; shawewi significa "fraco" e tankhakan significa "cesto". No primeiro estagio de crescimento, a casca da Arvore fica fraca e n&o se pode usé-lo para fazer cestas; isto é possivel somente no segundo estagio. Neste caso os Delaware classifican a arvore por critérios préticos. Curiosanente esta espécie tinha dois nones cient fficos em nossa cultura por causa das grandes diferengas morfoldgicas entre os dois estagios, até que foi demonstrado que representavan apenas una s6 espécie. A lingua Delaware d& assim informagao ecolégica, através do seu sistema classificatério. Creider (1975) mostrou que em Proto-Bantu (Africa) aparentemente existia um grande nimero de classes de substantivos distintos pelo seu 1 contéudo semantico.” Creider mostrou como os classificadores de substantivos, marcados por afixos distintos, podian distinguir um grupo de outro por critérios morfoldgicos (Fig. 1). Ao mesmo tempo, Creider demonstrou a deficiéncia deste sistema como una solugio final (ou nica) para descrever a estrutura do sistema classificatério biolégico. Os passaros serian classificados entre os animais, enquanto 0s ovos deles serian clasificados pela sua forma, sem relacionar uns aos outros. Tambén a classe semantica de "cois. {que é distinguida dos "animados") realmente inclui "animais desprezados" (além de "coisas nao animadas") como a ra, ou uma pessoa aleijada. Jan Miller (1977) também notou que os jindios Delaware, enquanto conhecian as mesmas distingées taxonémicas que os europeus, ainda tinham grandes diferengas na interpretagio semintica destas distingdes. Por exemplo, no nivel mais alto da hierarquia classificatéria, um dos grupos é 1 Embora wna proto-lingua nao permita a anlise de dados reais, a situagio mostrada por Creider & comun em 1inguas modernas. ON unidade massa forma sem forma estendido curvado redondo animado coisa N\ hunano animal 1fquido viscoso torrao intangfvel Fig. 1 - Sistema filoséfico de classificagao nominal da lingua Proto-Bantu (Creider, 1975). distinguido dos outros por possuir (1) a capacidade de raciocinio, (2) uma Vinguagen e (3) 0 poder espiritual de fazer uma obra especifica. Porén, dentro deste grupo ha deuses, pessoas, animais, passaros, arvores, plantas e milho. Claramente, o critério entre os sistemas, embora con idéias similares em termos superficiais do vocabuldrio, nao é necessariamente o mesmo semanticamente. Entretanto, ele notou que, em grande parte, os Delaware distingui an entre os grupos bioldgicos, principalmente em termos ecoldgicos. Um nivel classificatério, por exemplo, faz distingao entre animais que habitam na agua, na floresta ou na terra subterraneanente. Outros critérios na classificagao (além do habitat) sao a emiss’o de sons (canto, coro, grito, uivo, etc.), 0 movimento (rastejo, salto, vo), a aparéncia, as relagées mitolégicas ou com outras espécies, o uso e a cor. Rodrigues (1970) notou que os fndios Xeté, no noroeste do Estado do Parana, também tén un sistema classificatério que segue padrdes ecolégicos, que poderian ser encontrados através do sistema lexical. Os Xeté tém quatro verbos para “comer", segundo a natureza dos animais cuja carne se ‘ingere; pawawa € 0 verbo usado para comer carne de tamandud, jurdri, para comer carne de animal agressivo (onga, gavigo, cobra venenosa), pokai, para comer carne de animal que vive na Agua ou junto & agua (peixe, cobra d' agua, capivara, martim-pescador) e, u, para comer carne de animal n’o agressivo nen aquético (paca, macaco, tucano, larvas, etc.) Marshall Durbin {1966) propde un dos primeiros modelos no processo de estabelecer os objetivos da teoria da etno. i@ncia. Ele propde regras ordenadas (que so sensiveis ao contexto) mostrando que un modelo assim nos permitiria generalizar os dados e estabelecer grupos de uma "classe ) natural", que talvez ngo poderia ser reconhecida doutra sorte, pelo pesquisador nen pelo membro da cultura @ primeira vista. Da mesma maneira } como podemos mostrar o drvore verdadeira através de regras ordenadas: A_BC B_DE 0 E F G D_HI /\ \ /\ HOT Jd kK L M NO E_oK Fig. 2 - Arvore verdadeira (Durbin, 1966). ou arvores imperfeitas: | Fig. 3.- Arvore imperfeita (Durbin, 1966). A A_BC : c B_DE YN D E DFG INA F G Tambén se pode mostrar regras ordenadas da taxonomia, em que as expansées de cada nédulo estéo marcadas por itens lexicais, e em que as expansées representem "tipos" do nédulo mais alto. Por exemplo, a seguinte arvore: Objeto A vivo no vivo (an imado) (inanimado) mével imével (animal) (planta) hunano no hunano angioSperma gimnosperma t 1 ' ' 1 t Fig. 4 - Arvore biolégica (Durbin, 1966). Cada grupo poderia representar un nivel de hierarqui objeto vivo, nao vivo vivo mével, imévet mével humano, nao humano human. masculino, feminino Berlin (1972, 1973, 1976) e Berlin, Breedlove e Raven (1973, 1974) mudaran a @nfase da etnobiologia. Adcmais de mostrar como un mapa cognitivo de um grupo humano se distingue dos de outros grupos humanos, eles também procuraran as similaridades entre os sistemas cognitivos, Identificaran uma lista de princfpios de classificagao e nomenclatura baseada em dados de sete grupos lingiifsticos. Um dos grupos era o Guaranf, uma lfngua relacionada con © Wayampi, Urubu e Sateré, tratadas neste trabalho. Alén da lista de principios, Berlin et alii(1973) mostraran que a maioria dos seres hunanos em todas as partes do mundo usa estratégias semelhantes ao organizar conceitos biolégicos. Os princfpios sdo os seguintes: 1, Todas as culturas reconhecen grupos naturais de organisnos e os tratan como unidades descontinuas na natureza. Estas descontinuidades sao taxa. Estes taxa sao agrupados em classes por tragos similares (categorias etno-biolégicas) e podem ser agrupadas em até o maximo de cinco nfveis na hierarquia biolégica. (A) Iniciador absoluto (Unique Beginner). € 0 nivel mais alto da hierarquia bioldgica. A maioria das culturas nao tem este nivel (nio fazendo disting3o, por termes préprios, entre a planta eo animal). (B) Etnoclasse (Life-form). A maioria das culturas tem este nivel de classificagio e normalmente as subclasses sio poucas em niimero (5-10). Reconhecem-se linguisticanente por lexemas 10 principais (nao compostas, vide III.A.l.c.) @ sempre apresentan taxa subordinados a ele. Exemplos de nomes populares em portugués serian: ave, rvore, peixe, cobra,inseto e erva. (C) Etnogénero (Generic). Numa lingua, a maioria do léxico classificatério esta inclufda neste nivel. Também a maioria do léxico se ajusta em uma ou duas categorias de “Life-form". Este pode ser o nivel final de alguns taxa, Este também é 0 nivel que a crianga aprende. Normalmente o nivel genérico 6 distinguido por lexemas principais. Exemplos de nomes Populares em portugués serian: tucano, onga, palmeira, besouro, pinheiro e abelha. (0) Etnoespécie (Specific). tm geral os ocupantes deste nivel so menos nunerosos que os do genérico. Se este nivel existir, normalmente representa un grupo de organismos de muita importancia cultural. De regra, também o especffico é 0 nivel terminal e é distinguido por lexemas secundarios. Un exemplo de nome en portugu@s seria o tucano-de-peito-amarelo. (E) Etno-subespécie (Varietal). Este nivel é raro entre as culturas indfgenas e somente € usado para as espécies extrenamente importantes na cultura. 0 "Varietal é caracterizado por lexemas secunddrios. 0 conceito de género ou etnogénero é crucial em etnobiologia e de modo geral & percebido como o menor agrupamento que precisa de un nome lL distinto. Normalmente 0 etnogénero & considerado o ponto basico de referéncia num sistema classificatério. 2. As etnocategorias so organizadas de maneira hierarquica e os taxa de qualquer nivel sao mutuamente exclusivos. 3. Taxa da mesma categoria etnobiolégica normalmente ocorran ao mesmo nivel taxonmico (Vide Fig. 5). As etnoclasses, por exemplo, nonnalmente ocorren no nivel 1, enquanto os etnogéneros no nfvel 2, mas também as vezes ocorren no nivel 1. 4. Taxa intenmediarios so jinclufdos numa das etnoclasses ("life-forms") e incluem taxa etnogenéricos. Esta categoria é rara e de modo geral & tanbém sem nome explicito. De modo geral, taxa sem nome sempre se definen por critérios morfolégicos e nunca por funcdo. Berlin, Breedlove e Raven (1973) tanbén mencionaran que o niimero de palavras (nomes classificatérios) n3o pode ser multiplicado além de certos limites. 0 ntimero deve ser de tal modo restrito que cada um dos falantes da lingua possa transmitir seu conhecimento & préxima geragdo. Normalimente o limite superior do léxico classificatério é de 3000 a 4000 palavras. De interesse especial é€ 0 trabalho feito por Grenand (1980), que passou seis anos entre os fndios Wayampi (na Guiana Francesa), re?acionando os nones cientificos de espécies de aves, mamfferos, peixes, insetos, drvores, arbustos, ervas, cipés e palmeiras con os seus equivalentes em Wayampi. Ele 12 Nivel 0 Iniciador Absolute Nivel 1 etnoclasse 1 etnogtnero 1 g2..+.. gi * 7 Nivel 2. etnogénero 3. g4 g5 96... gm gn etnoespécie 1 $2 $3 34... Si ‘sj INNS Nivel 3 SL NI Nivel 4 etno-subespécie 1 “v2 Fig. 5 Esquema da inter-relacaio entre as cinco categorias taxondmicas da etnobiologia e seus niveis relativos numa etnotaxonomia ideoldgica (Berlin et alii, 1973). 13 tentou ver o mundo vivo através dos olhos dos Wayampi e fez un dicionério de 3500 termos biolégicos, incluindo o sentido semantico de muitos dos tennos. Hunn (1975, 1976, 1977, 1982) Yevantou divida se os critérios de nomenclatura (usados para definir a posigdo relativa na hierarquia taxondmica) corresponden a critérios psicolégicos. Ele diz que o modelo taxondmico de Berlin simplesmente mostra a exist@ncia de un taxon numa hierarquia sen explicar por que esté 14. Tanbém a existéncia de categorias nfo nominalizadas mostra que hé categorias cognitivas sem marcago linglifstica as quais, por este motivo, n3o se encaixam nos critérios de taxa no esquema de Berlin. Berlin e Kay (1969) descobriran (através dos padrées de cores de 98 linguas) que existe aparentemente uma seqi@ncia ou ordem em que certas categorias de cor estao nominalizadas, na maioria das linguas (Fig. 6). No esquena deles, se una Ifngua tiver uma sé categoria para as cores, esta contrastara somente o preto e branco; se tiver trés categorias, além do preto e branco, a terceira categoria seré vermelho, etc. Esta seqiiéncia se relaciona favoravelmente com a posig¢ao dos bastonetes @ cones na retina do olho. Neuro-Fisiologicamente, além do preto e branco, as cores vermelha, anarela, verde ¢@ azul sao distinguidas naturalmente (Bornstein, 1973). Ou seja, oS bastonetes responsaveis pela percepgao destas cores tém a maior distancia entre si. C.H. Brown (1977, 1979a, 1979, 1984) e Brown e Witkowsky (1982), influenciados pelas implicagées do estudo de cores por Berlin e Kay (1969) estenderan esta idéia desenvolvendo um esquena tedrico sobre a seqiiéncia em que certas categorias de "life-form" estéo incorporadas nas culturas (vide 4 RUE yelloy nacno-warre] (green or blue) RUE green Pink MACRO-RED (green or brown } orange| or blue purple ACRO-BLAC yellow blue) I u Ila W v Ww vil 1b ou aa pen os macRo-arancd] ou verde ou rosado ou azul ou ncRO- aut [you [yfnarroal J raranja VERHELHO ou verde ou racao-neso | amarelo verde violeta Fig. 6 Esquema revisado de seqliéncia de complexidade na nomenclatura de cores nas culturas diferentes (Berlin e Kay, 1969). 15 Fig. 7a,b). No esquema deles, a seqiiéncia em que novas categorias de etnoclasse sao inclufdas nas linguas obedece a uma certa orden, tal como a seqli@ncia de inclus’o de categorias de cores (Berlin e@ Kay, 1969). Por exemplo, se una Tingua tiver uma s6 categoria ao nivel da etnoclasse para plantas, a categoria seré "tree" (arvore). Se tiver duas categorias, a Segunda sera ou “grerb" (capim e erva) ou "grass" (capim) em qualquer ordem, e, se tiver tr&s, e as primeiras duas forem "tree" e “grerb", a terceira sera ou "vine" (cipd) ou "grass" ou “bush" (plantas de médio porte). Entretanto, surgiran muitas dividas sobre a correspondéncia que Brown fez entre o esquema de seqiiéncia de nomenclatura de cores e a seqiiéncia de complexidade de etnoclasses. A percepgio das cores tem fundanento neurofisiolégico, enquanto a percepgao de etnocategorias nao tem tal fundamento (Randall e Hunn, 1984). Também o esquema de Brown nao Teva em conta o fato de que o préprio anbiente determina, em parte, a importancia relativa de certas etnoclasses de plantas e animais para uma cultura humana. vine grerb grass bush [auséneta de "ite-tornfof tre grerb grass vine bush stage 1 2 3 4-6 (a) bird fuuséncia de “life-form" fish wug snake mammal stage 0 1-3 4-5 (b) Fig. 7 Esquema de seqlincia das "life-forms" (etnoclasses) botanicas (a) e zooldgicas (b)(C.H. Brown, 1984) . 17 Ainda que estas dividas se apresentem a respeito do esquema de Brown, tanto sobre o esquema en si quanto sobre a qualidade dos seus dados, as idéias tém influenciado estudos etnobiolégicos. Em resumo, muitos dicionarios etnobioldgicos tém sido produzidos con a inteng’o de associar vocabuldrios indigenas aos nomes cientfficos. Estes estudos, embora sejan interessantes, nao contribufran realmente para o nosso entendimento do sistema classificatério biolégico dos grupos indigenas, exceto possivelmente ao nivel da palavra. Também um nimero de estudos tém sido feitos usando 0 dicionario etnobiolégico apenas cono un instrumento para identificar a estrutura semantica (ou 0 sentido) dos componentes das palavras classificatérias na lingua indfgena. Tais trabalhos t&m se mostrado n3o somente interessantes, mas tanbéin muito valiosos em termos de ajudar-nos a entender as razées para a terminologia usada. Mahr (1960, 1962), Wyman e Harris (1960), Grenand (1980), Lescure et alii (1980) e Grimes (1980a,b), contribufram muito neste sentido, Berlin, Breedlove e Raven (1973) formularan hipéteses universais sobre sistemas classificatérios de cada nivel de hierarquia. Outros modelos de classificagao também tém sido avangados tentando captar (entender) o sistema classificatério do ponto de vista (psicolégico) da cultura e nao necessariamente a hierarquia da natureza (Bright & Bright, 1965, e Hunn, 1976). Também tem havido muita discussdo tedrica dirigida &s metodologias e aos modelos em termos de achar maneiras para melhor entender os universais de classificagao biolégico dentro de uma cultura e entre as culturas. Mais 18 notaveis nesta area sao os trabalhos de Creider (1975), Durbin (1966) e Werner (1966). C. Objetivos 0 interesse desta tese é testar a coesdo através do tempo de um sistema classificatério bioldgico, con a idéia de que tal entendimento poderia dar uma contribui¢ao ao estudo dos relacionamentos entre as tribos indigenas do Brasil. Isto seré feito através de wn estudo detalhado do sistema classificatério biolégico de tribos indfgenas relacionadas culturalmente e ling¥isticamente, identificando os niveis da hierarquia e os critérios usados para fazer divisées na classificagio. Depois, o mesmo estudo sera feito nuna cultura bem mais distante lingitisticamente, mas ainda de estilo de vida semelhante, para tester a hipétese de mudanga através de longo perfodo de tempo. Também se inclui um estudo comparativo dos sistemas de classificagio, jidentificando as similaridades e dissimilaridades (quais partes terian sido modificadas e quais no, através do tempo). Nao sao apenas as diferengas entre os grupos relacionados lingiiisticanente e aquele nao relacionado, mas também as semelhangas entre si (especialmente nomes cognatos) que sao importantes neste estudo. Assim, poder-se-ia avaliar a influéncia do ambiente e da cultura na evolugdo linglifstica dentro de grupos indigenas da Amazénia. Também, usando estes dados, poder-se-& discutir o valor de sistemas classificatérios como un instrumento para relacionar culturas indigenas, especialmente no Brasil. Il. Materiais e métodos A. A escolha dos grupos indigenas usados neste estudo Para atingir os objetivos desta tese, aproveitei o conhecimento ja adquirido durante varios anos de resid@ncia, junto com minha esposa, com os Hayanpi nas aldeias Molocopote (Rio Jarf) (Fig. 8) e Tataira (sistema fluvial Anaparf, Amap4). Aprendenos a manter dialogos basicos no seu idioma. Apreciei especialmente a relagio intima que estes indfgenas mant@n com o mundo natural, manifestada tanto nas suas atividades cotidianas quanto na estrutura social da cultura. Assim foi inicialmente determinado quais os aspectos etno-ecolégicos dos Wayampi que serian a base deste estudo. A lingua dos Wayampi pertence & famflia Tupi-Guarani (TG), constituindo justanente com o idioma das Emerillon, da Guiana Francesa, o nico rano desta familia situado ao norte do rio Amazonas (também a Lingua Geral Mmazonica ou Nheengatu 6 ainda falada ao norte do Amazonas, mas foi introduzida como lingua dos colonizadores, Vide também Arnaud(1971,1983) , Gal lois(1980,1983) Grenand & Grenand(1979) e Olson(1982). A familia lingiiistica TG filia-se a un agrupanento maior, que & 0 tronco Tupi (Rodrigues 1971, 1982a,b). As outras tribos foran escoThidas levando em consideragao fatores linglifsticos, culturais e ambientais em relagao aos Wayampi, e também fatores puranente logisticos. Escolheram-se duas linguas do mesmo tronco linglifsticos (una das quais da mesma famflia linglifstica que o Wayampi e anbas com estilos de vida bastante semelhantes aos dos Wayampi). Foran escolhidas as seguintes: 20 1. Urubu-Kaapor (Familia Tupi-Guaranf, tronco Tupi; Rodrigues, 1982a), localizada na floresta tropical, no sistena do Rio Gurupi no Estado do Maranhdo, 3°S, 46.5°W (Fig. 9)(vide Kakumasu, 1967). 2. Sateré-Mawé (Familia Mawé, tronco Tupi; Rodrigues, 1982b), localizada na floresta tropical, no Estado do Paré, 3.3°S, 56.9°W (Fig. 10). Também foi escolnida uma tribo nao Tupi, mas ainda de ambiente e estilo de vida comparavel aos dos Wayampi: 3. Apalai (Familia Karib, nfo filiada ao tronco Tupi; Rodrigues, 1982c), localizada na fronteira entre a floresta e “a savana tropical no Rio Paru do Leste, no Estado do Para, 1.2°N, 54.7°W (Fig. 8) (vide Koehn, Sem data). Logisticanente todas as tribos foran relativamente fdceis de visitar e estudar, sendo que a Fundagéo Nacional do Indio (FUNAI) e o Summer Institute of Linguistics (SIL) desenvolven trabalhos entre todas. Este fato me facilitou bastante, permitindo o trabalho desde os primeiros minutos em cada tribo. Os membros do SIL também providenciaran informantes (a maioria dos quais treinados em trabalho con dados lingiifsticos) e um lugar para fazer os estudos. A cidade de Belém (onde resido) fica no centro da regido habitada por estas tribos. Informagdes a respeito das tribos foram acessiveis em Belém através do Museu Goeldi, do SIL e da FUNAI. at Figura 8a. Localizacao das dreas de pesquisa: Wayampi (H, = do Jari, Wy = do Amapari), Apalai (A), Sateré-Mawé (S) e Urubu- Kaapor (Ur). Certas dados Kaiwa (Kw) também estao incluidos no CapTtulo IV. ae km Figura 8b. Localizacio e topografia regional das areas indigenas Apalai (A) e Wayanpi do Jari (W,)(acima) e da area indTgena Wayampi do Amapar (Np) (em baixo). 23 Figura 9. Localizacio da area indfgena Urubu-Kaapor. 24 56" Figura 10. Localizacao da area indigena Sateré-Mawée 25 B. Aves como meio de pesquisa etnobiolégica As aves foram escolhidas cono meio de pesquisa na interface cultura/1fngua/ambiente pelas seguintes razdes: 1. J& era evidente de que os Wayampi conheciam bem as aves e que o conhecimento delas ocupava una posiggo importante na sua cultura, manifestada através de lendas e mitos. 2. Aclasse Aves é uma descontinuidade biolégica com fronteiras fixas e facilmente observéveis, facilitando uma comparagio entre varios grupos indigenas diferentes. 3. A classificagio das espécies dentro da classe Aves pode aproveitar ampla gama de critérios morfolégicos, ecoldgicos, etolégicos e actisticos. 4. Ontmero de espécies de aves na floresta tropical anazdnica é alto, permitindo uma base ampla de dados e um estudo bastante profundo. 5. Fotografias ou desenhos detalhados de aves sao encontrados em livros facilmente disponiveis no Brasil (Frisch, 1981; Meyer de Schauensee & Phelps, 1978 e Haverschmidt, 1968), providenciando um bom instrumento de pesquisa. 26 C. Preparagio do material HA varios métodos de pesquisa etnobioldgica descritos na literatura dos Gtimos anos. 0s mais proveitosos sio os de Posey (1979, 1983), Berlin, Breedlove & Raven (1968), Berlin e O'Neill (1981), Kunn (1975), Hays (1976, 1979, 1983), Healey (1975) e A. Jensen (1984). Nao existe un dnico método adequado para a coleta dos dados necessarios; aproveitei varias sugestées oferecidas por estes autores e abandonei outras que nao se comprovaran iteis nos estudos entre os Hayampi. Aprender bem a lingua dos Wayampi foi uma necessidade. Muitas vezes informagdes foran coletadas indiretamente, transmitidas através do didlogo entre duas pessoas Wayampi, ou faladas em voz alta por um vizinho Wayampi embriagado, conversando consigo mesmo. Este tipo de informago normalimente seria inacesstvel para aqueles que n3o sao fluentes na Ifngua indfgena. Um conhecimento da granatica Wayampi foi também iti] para o reconhecimento dos sentidos das palavras; neste caso, o trabalho de Grenand (1980) foi também muito proveitoso. 0 método mais Gtil, que se tornou a base desta pesquisa, foi o uso de fichas, cada una com una fotografia ou desenho de uma espécie de ave, como na Fig. 11, 0s desenhos foran retirados principalmente do ivro de Haverschnidt(1968). Muitos outros desenhostanbém foran tirados do livro de Frisch (1981), especialmente deespécies que ocorren en outras regiées do estudo, mas nfo noSurinane. Havia no total cerca de 500 fichas, cada una con um desenhode uma espécie. Us estudos de Novaes (1960, 1970, 1973, 1974, 1978,1980), Weyer de Schauensee (1970), Meyer de Schauensee e Phelps (1978), Pinto (1978), Puyo (1978), Ruschi (1979) e Snow (1982), ajudaran a TINAMIDAE Crypturellas Parytrostrus rary urosrres Tham buxe rere Small billed “fi narnouw 12 DF 37 BY P13 (Figs) PHALACROCORKCIDAE Phalacrnceme olivaceus Neolrepic Cormomat Gigua Cotingidae ed, ramphu. Marginetus Black ~capped-Beca rd Bieo-gresse -de-Coroa - negra COTINGIDAE Vityrs cayang Black-Tailed Titym Anambé —bmaco Figura 11. Exemplos das fichas de pesquisa etnozoolégica (classificacao de aves). 28 avaliar a avifauna da cada regido para saber quais fichas usar napesquisa entre os residentes. As fotos de Dunning (1982) e as de Meyer de Schauensee (1978) ajudaran nos casos em que os fndios tiveran problemas na identificagao de determinadas aves nas fichas. D. Os informantes Aos informantes foi dado tempo adequado para que pudessem ordenar as espécies de aves (representadas nas fichas) em grupos naturais. Eu ja sabia da existéncia de chefes (rowija) de aves através das lendas Wayampi, e pedi aeles que primeiramente identificassem todos os chefes e, depois, que acrescentassem a cada chefe os membros do grupo deste. twa vez feito isso, deu para entender que existem também mini-chefes (rowija miti), cada un com seu préprio subgrupo, tal como na estrutura polftica Wayampi. Entre os Wayampi, ao todo participaran na pesquisa una mulher e dez homens. A mulher tinha aproximadamente 25 anos e os homens, mais ou menos de 20 a 50. Em termos de parentesco, os trés ajudantes do rio dar? (Majawai, Kurawa e Kurikuri) sé irmaos (do mesmo pai), enquanto que os sete ajudantes do Amapar{ tém entre si parentescos mais heterogéneos. Entre os que tomaran parte neste estudo, s6 Piriri foi considerado (por seus companheiros) como un “especialista” no conhecimento de aves. Entre os Apalai, Sateré-Mawé e Urubu-Kaapor, dois ou trés informantes foran consultados em cada caso. 0 informante Apalaf conhecido pelo nome Caboclo, também é considerado um “especialista" em aves. Un informante geralmente levava um dia inteiro apenas para dividir as aves em agrupamentos. Normalmente, nao tiveram dificuldade no reconhec imento 2g das aves. Entretanto, havia un limite maximo de atengao & tarefa. Eles no estavan acostunados a fazer este tipo de andlise tao fina de um assunto téo restrito. Posey (1979:90) no seu trabalho etnobioldgico entre os Kayapé disse, "eu achei fastidiosas as repetighes incessantes e os Kayapé as acharam ainda mais...0 limite maximo de atengio deles era de 20 minutos e o meu era apenas um pouco mais". ‘Todavia, com varios blocos de tempo entremeados de intervalos, un estudo relativanente completo pdéde ser realizado dentro de trés dias com um informante. Este método tinha de ser desenvolvido cow varios informantes, para assegurar que os resultados obtidos fossem realmente agrupanentos ben conhecidos entre varios falantes da lingua. 0 estudo completo envalveu cinco Wayampi (dois do rio Jari e trés do Rio Anaparf), com contribuigdes mais limitadas de seis outras pessoas. Nestes estudos menores foran verificados os nomes das espécies, os chefes das etnofanilias e informagées particulares 5 espécies, como sua alimentagdo e seu habitat. Estes estudos parciais foram feitos normalmente no campo, ao invés de ao redor da mesa. Para verificar os chefes das etnofamflias (vide I1I.B.2.), por exemplo, perguntei, “moma’te @ kaka rowija?" (“Quem € 0 chefe do Caracaracac’, Daptrius americanus?), ou "Ove po kapT tara ki" ("0 pipira (Ramphocelus carbo) tem parentes?"), *moma'e po amé" ("Quais s&o, entao?"). Assim, as informagdes da mesa foran verificadas no campo. A respeito de cata agrupamento, quando sabia da exist@ncia de chefes entre as aves, sempre perguntei quan era o chefe do agrupanento, 0 nome do chefe e também a quem ele chefiava. Sempre perguntei se havia outros membros do dominio dele nfo incluidos no agrupamento de fichas na mesa de estudos, Qutras perguntas versaran sobre a alimentagao, ecologia e comportanento das espécies. 30 Fiz também uma gravagao dos cantos das aves conhecidas na area ind{gena Wayampi, para verificar seu conhecimento dos sons ou cantos da avifauna, Foran gravados 81 cantos de aves diferentes nun gravador cassette (Superscope) e foran tocados para quatro individuos Wayampi, que ouviran e identificaram cada canto. 0 estudo foi muito menos completo entre as outras tribos (nao Wayampi) por razbes logfsticas e financeiras. Passei apenas trés dias entre os Apalai, de quatro a quatro dias e meio entre os Sateré Mawé e Urubu-Kaapor, no inicio de 1984. Estes estudos etnobioldgicos so superficiais e bastante preliminares. No caso dos Apalat, tanbém fiz um estudo de dois dias com Jaké (informante Apalaf) em dezembro de 1983, quando ele veio para passar alguns dias em Belén. Considero estes estudos preliminares porque somente consegui coletar nomes para as espécies e identificar as fronteiras e os chefes dos agrupanentos. No identifiquei muitos dos critérios para as divisdes e agrupanentos, nem consegui verificar informagdes dadas por dois ou tras informantes con outros. Ainda assim, creio que os dados obtidos sao relevantes e comparaveis porque se coadunan favoravelmente con as informagdes histéricas (vide Capitulo IV). No caso dos Sateré, un grupo dos homens participou do agrupamento e tinha pouca discordancia entre si mostrando que eles reconheceran os desenhos e que oS agrupanentos eran salientes entre si, Ainda que os nomes dos passaros da orden, Passeriformes (passaros pequenos), estejan incluidos no Apéndice 1, as observagdes a respeito dos agrupanentos deles nao esto inclufdas nesta tese por envolverem dados, especialmente mal verificados e também pela complexidade destes agrupamentos. A parte mais denorada do estudo foi justanente a dos 31 Passeriformes, que também sao os passaros que oferecem a maior discordancia a respeito das fronteiras dos seus agrupanentos. A comparagiio dos nomes das aves nas quatro tribos diferentes é feito no Apéndice I, sendo também distinguidos os trés grupos Wayampi. Convén observar no Apéndice I que ha varios casos en que existe discordancia de homes entre os Wayampi das trés regides (Jari, Oiapoque e Amaparf). Isso reflete em parte diferengas de terminologia. Muitas vezes os membros de uma aldeia mostraran conhecer a nomenclatura das outras aldeias, mas simplesmente responderan: mas nés chamanos ela (a espécie) assim". Ha tanbén una outra razo para algumas das discordancias. 0s — Wayampi identificam espécies de aves n&o sd por critérios de morfologia, mas também pelo comportamento e pelo canto, De modo geral, eles nao tén dificuldade em identificar espécies vivas. Entretanto, como notou Grenand (1980), a identificagéo de espécies mortas (utilizadas por ele) & mais diffcil para o indio. Desenhos e fotografias, da mesma maneira, oferecem apenas un aspecto da ave e, as vezes, alteran e distorcenm a postura ou até a morfologia, prejudicando assim, a identificagio. Sem ddvida, hd casos nesta tese que refleten essas deficiéncias das representagdes graficas. No entanto, mesmo assim, creio que os dados deste estudo mostran os conceitos basicos das terminologias indigenas analisadas. Numa mesma Vista do Apéncide I, poden ocorrer dois ou trés nomes para uma mesma espécie. fm geral nao se trata, nesses casos, de simples sinonimia, mas de diverg@ncia entre os informantes na identificagio do nome especifico. De regra, o primeiro nome mencionado é aquele sobre a qual convergiran as informagées de maior niimero de informantes ou o que foi fornecido pelo informante "especialista" em aves. 32 E. Aspectos linglifsticos A ortografia usada na escrita de palavras indigenas nesta tese e a definigdo dos simbolos usados se encontran no Apéndice I1. Be modo geral as linguas tupi neste estudo tém ortografias semelhantes, — permitindo comparagSes répidas. No entanto, j4 que fui eu quem transcreveu os nomes das aves entre os Urubu, Sateré e Apalaf, para facilitar a comparacio, a ortografia aqui nao é equivalente bs ortografias usuais nestas linguas. F. Outros parametros estudados A andlise do ambiente (da floresta e dos solos) foi feita por observagao pessoal e a informagao adicional foi verificada com os mapas do projeto RADAMBRASIL (1973-1979), Vol. 6,7,9,10 e Geografia do Brasi) (IBGE; 1977). 0s resultados e analise desses dados se encontraré no capitulo Vv. Fiz também una andlise simples de solos diferentes em todas as regides incluidas neste estudo para se comparar con os dados do Projeto RADAMBRASIL | (1973-1979), Baena & Dutra (1982), e Falesi (1964). Além de observacées sobre a cor e textura, tanbém determinei o pH e 0 contefido relativo dos elementos Ca, P, e K, usando estojo La Motte Chemical Model EL para a analise dos solos. Anostras foram coletadas imediatamente do horizonte A (solos sem restos vegetais) e secadas antes de fazer as andlises. III. Etnozoologia Wayampi e principios de nomenclatura Os Wayampi t@n um conhecimento vasto do seu mundo vivo. Como visto através do diciondrio-etnocientifico de Grenand (1980), os Hayampi tén nomes para pelo menos 3500 espécies bioldgicas que existem ao redor de sua area de habitagao. Esse conhecimento inclui espécies de todo tipo de flora e fauna visivel ao olho humano e reflete un conhecimento baseado, em parte, nas dedugdes e observacdes diretas feitas por eles atualmente e também no conhecimento dos antepassados transmitido de pai para filho ou através das Jendas e mitos que todos conhecen. A informagio inclui, as vezes, espécies nao mais vistas hoje em dia pelos Wayampi, mas como informagio guardada na mente, das descrigbes detaihadas feitas pelos seus antepassados. Esta informagao total sobre as espécies acumuladas através de muito tempo providencia informagao dtil para os que viven atualmente: informagio de como reconhecer uma dada espécie © cono esta se encaixa entre as outras dentro do ambiente em que existe. De interesse tambén é a maneira como eles tratan os agrupamentes de espécies que oferecem comparativamente menos interesse para eles, mas mesmo assim so tratados de maneira eficiente e¢ consistente con o mundo real. Como Grenand (1980) mostrou, isto pode ser visto ao nfvel do vocabulario. Um dado nome (termo de identificagto) nao sonente identifica uma espécie, mas também pode fornecer informagdes especificas sobre aquela espécie: informagées de parentesco e tanbém detalhe(s) sobre a morfolagia ou aspectos do comportamento. O nivel do vocabulario nBo 6, entretanto, a fmica maneira de transmitir informagao, como seré mostrado adiante. 34 A. Recursos lingiiisticos para a formagio de nomes 1, Recursos gramaticais 0 nome Wayampi para un taxon pode ser una palavra simples (de uma sé raiz), complexa (uma raiz con afixos) ou composta (mais de una raiz). Pode tanbén consistir na reduplicagao de sflabas ou de grupos de sflabas (para una descrigéo mais detathada, vide Jensen, C. 1984b). Nos exemplos a seguir, + indica a fronteira entre a raiz e seu afixo e #, a fronteira entre duas raizes. A maioria dos nomes vieran dos Wayanpi do Amaparf. Caso haja diferenga, 0 none da fonte aparece ao lado do none indigena. a. Palavra simples i. paku (vide Ap@ndice 11) Myletes pacou pacu (peixe) ii. pykau Columb idae pomba (ave) b. Palavra complexa i. kure’i [kure + 4] Amazona_amazonica (Papagaio + diminutivo) papagaio - pequeno ii. karau (Grenand) [kara + uJ (cara + aumentativo) cara - grande 35 c. Palavra composta Amator parte do vocabulério biolégico @ constituida de paiavras compostas en que una das rafzes é un atributo da outra ou em que uma é a detenminante da outra. i.Compostos atributivos Um nfcleo, representado por un substantivo, @ modificado por un atributo representado por um outro substantive ou por um verbo descritivo, intransitivo ou transitivo flexionado. A. Substantive # substantive niicleo atributivo 1. ywylatakulu (Grenand) (ywyle # takutu] Leguminosae sp. (arvore # pedra) (arvore de madeira dura) niicleo atributivo 2. peklitata (peki # tata] (picapau # — fogo) (picapau de cor vermelha) 36 B. Substantivo # verbo descritivo nicleo atributivo Le jawasimiti (Gavasi + miti] (martin-pescador + pequeno) Chloroceryle_aene (martim-pescador pequeno) C. Substantive # verbo intransitivo nfic 20 atributivo L. aikupekai [zikupe # kai] (dari) Tangara chilensis, (uropigio de ave # queimado) Te velia (uropigio da ave que parece que imado) nficleo atributive 2. atykai (Grenand) [aty # — kai} pus _tridactylus (preguiga # queimada) preguiga que parece queimada guig nic leo atributive 3. anyraporosu'u (Grenand) (anyra # pore + sutu] od t (morcego # gente + morder) 5, (morcego que morde gente) 37 D. Substantivo e verbo transitivo flexionado niicleo — atributivo 1, manitojatu (Grenand) [manito # ja + tu Manihot _palmata (mandioca # nés + comer) (macaxeira) (mandioca conest ivel) ii.Compostos determinativos Un nficteo, representado por um substentivo, & precedido por um determinante, representado por outro substantivo: det. niicleo A. ajawyra (aja 4 wyral Tapera naevia (espirito # ave) (ave com poderes espirituais) det. niicleo B. akykyga {akyky # ygal Inga rubiginosa (guar iba 4 inga) (ingd que quariba cone) 38 det. nécleo €. pakuwar [paku # war] Pandion haliaetus (pacu (obj.) # conedor) (comedor de peixe) iii Compostos cumulativos Qualquer dos constituintes das palavras pode ser, por sua vez, tanbém una palavra composta. A. wainumyposiasT (Grenand) — [wainumy 4 (posia 4 st)} Phaethornis sp. (beija-flor # (peito # palido)) —— nucleo z atrib. _o nécleo atrib. (beija-flor de peito pal ido) 8. ywylatakulupita (Grenand) [(ywyla # takulu) ¢ pila] Leguminosae sp. (madeira # pedra) # vermelha niicleo _atrib nficleo det. (madeira dura avermelhada) C. wyrasisi ((wyra # st) # si Egretta thula garga # branca # branca Egretta thula niicleo zatrib. Co nicleo atrib. (garga bem branca) 2. Recursos enomatopéicos 39 © none do animal pode refletir o canto, o chilreio, o grasnar, o chiar, ou qualquer som por ele monossilabico ou polissilabico. produzido. 0 0 nimero de elemento imitativo pode ser silabas reduplicadas na onomatopéia parece refletir o nimero de sflabas percebidas como formando uma unidade no canto. Frases de cantos podem ser encaixadas inteiramente no nome ononatopéico até trés sflabas. kapt Ramphocelus carbo b. paipaije Lipaugus vociferans c. arakwa Ortalis motmot d. wisiwisi Homoptera (Cicadidae) e. tewitewi Atelopus pulcher (ra) f. kurikurd Pionus menstruus (maitaca) voz: |lpi}pTl aL voz: || pai] pail Jo [ vor: |]ra] ra] kw] aan 2 \jwifsipwipst} ff vor: ||te|wilte|wi| voz: fkupripkufri]...|f 40 g. aisiriri (Grenand) Tangara velia vozs |frifrifrife ifs efl 3. Empréstimos de vocabulario A maioria dos termos acima do nfvel da espécie sao nomes caracteristicamente Tupi-Guarani. Espécies e subespécies, embora tenhan nomes também caracteristicamente Tupi-Guarani (relacionados linguisticanente com 0 etnogénero), mudaram o significado do nome da espécie, pois em muitos casos as espécies sao diferentes daquelas que os antepassados conheceram. Hé varios exemplos em que o nome da espécie aparentemente foi emprestado dos fndios Wayana ou dos Apalat (famflia lingiifstica Karib). Somente duas destas espécies s8o endémicas & regiio norte do Rio Amazonas. As outras de modo geral achan-se espalhadas em todas as areas da floresta amazdnica. Por isso, € dificil chegar a uma conclusio a respeite do motivo para os emprést imos. a. moturukua (Hayanpi) — mytylakua (Apalaf) (Homiotus_momota) wns canto comum: — julrufulrul] | (VieTliard) | canto agressivo: || tujrulru[ruf ra]. jp 41 b. makwasiri (Wayampi) makuatii (Apalat) (Thamnomanes_caesius) eto e er eee eos canto comun: C5] tata] ta ta] fa ta cayda ta fay outro canto: {[ta[ta|tilrif, (Vielliard) c. takiriri (Wayampi) takilili (Apalat) (Cotinga cot inga) Ciprifrifripri, d. peti (Wayampi) mefi (Apalaf) Rupicola rupicola (endémico na regiao) canto: || wl] |[wOl] (Meyer de Schauensee e Phelps, 1978:238) e. karamore (Wayampi) kurima (Apalaf) Psarocoliys viridis canto: |i]TfHH iil] (vietliard) f. sakyro (Wayampi) sakulal (Apalaf) Cacicus haemorrhous 7 canto: |[tr.+.|kalrul) (Viel Tiara) mI g. makukawa (sayampi) mahkawa (Apalaf) canto: }__| || “ll 42 h. arapono (Wayampi) olopono (Apalat) Cairina moschata (emprestado do Karib - Grenand, 1980:125) “2 canto: ||cua|cual| (Meyer de Schauensee) B. Critérios empregados pelos Wayampi para a identificagdo de aves ao nivel da palavra. 1. Aspectos morfolégicos (biolégicos) a. Cor: pode ser da plumagen en geral ou de uma parte conspicua do corpo. i) namupija (manu ¥ piji] Crypturellus cinereus (inanbu # preto) (inanbu preto) ii) makorokoropira {makorokoro # pira} Eudocimus ruber (Tresquiornitfdeo # vermelho) (tresquiornitfdeo vermetho) iii) wyrakasi [wyra # kasi] Spizastur melanoleucus (ave # cabega branca) (ave de cabega branca) iv) waimumyposiasi (Grenand) [wainumy # posiasi] Phaethornis sp. (beija-flor # peito palido) (beija-flor de peito pal ido) 43 b. Tragos caracterfsticos: destaca-se uma caracterfstica morfoldgica particular. i) wyratuwai [wra # tuvai] Muscivora tyrannus (ave # rabo) (ave de rabo bifurcado) ii) tukasTpuku {tuka # sipuku] Pteroglossus viridis (tucano # bico comprido) (tucano de bico compr ido) iii) pekisiwa (pekG # kusiwa} (Grenand) Dendrocolaptes sp. (picapau # desenhado) (picapau Tistrado) c. Tamanho: destaca-se espeéies grandes ou pequenas. i) wyrau {wyra + uj Harpia harpyja (ave + aumentativo) (ave grande) ii eju' aniti [ejuta # mit i] Falco rufigularis (falco # pequeno) (falc%o pequeno) 44 i) kure'i fkure + 4) Amazona amazonica (papagaio + diminutivo) d. Caracterfsticas em comum com outras espécies. i) akykywainumy [akyky # wainuny] Chrysolampis mosquitus (guariba # beija-flor) (associado ao guar iba) ii) marairataga {marai # (r + a*aga)} Opisthocoms hoazin (jacu # imitag’o) (con a aparéncia de jacu) iii) wainumyu {wainuny + ui] Agamia_agami (beija-flor + grande) (com a aparéncia de beija-flor, mas grande) 2. Aspectos ecolégicos a. Alusdo ao lugar em que se encontra a espécie: i) takuruwe [takuru + we} Columbina_passerina (pedra + sufixo) ou C. minuta (anda nos lugares pedregulhosos) ii) yamekauke'i (Grenand) — fyameka 4 uke" i] Tyrannidae sp. (camaleao # cunhada) {anda no mesmo habitat que o camale%o) 4S b. Alimentagao i) minut evar [minuta # war] Rostrhamus sociabilis (caramujo # comedor) (comedor de caranujo) ii) kusirireposiva [kusiri # (r + eposi # wa)] Buteo magnirostris (excremento de macaco # comedor) (seu alimento ocorre associado con o excremento do macaco) iii) pakuwar {paku # war] Pandion haliaetus (pacu # conedor) (alimenta-se de peixes) 3. Critérios sociolégicos i) tukdnete [tuka(n) # ete] Ramphastos tucanus (tucano # verdadeiro) (tucano tipico) Relagdes com aspectos do mundo religioso i) uruku' apaje [uruku'a # paje] Trogon rufus (surucud # pajé) (surucua com poderes espirituais) 46 ii) ajareaty [aia # (r + eaty)] P. issocephalus _t (espfrito # tio) (espirito do tio) iii) amakyja (Grenand) [emaky # ja] Myiobius barbatus (chuva # dono) (causador da chuva) 5. Imitagdo do canto (vide IIT.A.2. "Recursos lingiifsticos — onomatopéia") C. Recursos culturais empregados na formagio. © do_—ssistema classificatério de aves. 1. Sistema de organizagio social: chefes e subordinados. A organizagéo social dos Wayanpi é relativamente simples. Segundo Gallois (1983:113) 0 grupo local é formado pela associag’o de varias familias nucleares através de uma rede de relagdes entre parentes e afins. 0 chefe & quem fundou esse grupo. Nas aldeias que eu conhego, o chefe da aldeia & 0 mais respeitado e seu conhecimento é considerado o mais profundo de todos os membros. E ele quem sabe relacionar as caracteristicas do anbiente para determinar onde eles devem derrubar a floresta para fazer a roca, £ ele quem determina quando o rio esta suficientemente baixo para envenenar a Agua para a coleta de peixe. Freqiientemente ele é tanbém o mais trabalhador de todos na aldeia. 47 Da mesma forma, cada grupo de aves (agrupamento de aves consideradas afins), também vai ter chefe. Neste caso, 0 chefe serve como o padrao ou espécie exemplificadora do agrupamento. £ diffcil entender por que certa espécie foi escolhida como chefe em lugar de outra. As vezes parece que ela 6 a mais numerosa das espécies participantes, ou que tem tracgos considerados como mais no "eixo", & 0 maior, tem menos restrigées alimentares ou é 0 mais procurado pelos Wayampi. Exenplos: a) Wyrau Harpia harpyja, Gaviao real Eo chefe das aves rapineiras, nao s6 pelo seu tamanho, mas tanbém porque ele é mais oportunista do que os outros gavides de grande porte. b) Tukane'e Ramphastos tucanus, Tucano-de-bico-avermelhado Ramphastos_tucanus, E o chefe entre os tucanos provavelmente porque é a espécie dominante na exploragdo das frutas de acaf (Euterpe oleracea). Existe um alto grau de competigao entre os tucanos e os Wayampi. 2. 0 dono e o patrimdnio Para os Wayampi, o criador deles (Janejar) é 0 seu dono (Jane = gente, -gar = dono). Segundo Gallois (1980, 1983) e varios mitos coletados por Olson (1975), danejar, no contexto histérico, é relacionado intimamente aos Wayampi (apesar de que também existe um histérico de conflitos entre eles). tio sistema etnobioldgico deles, as espécies de aves no mundo vivo também tém donos, mas sio diferentes do homem (embora o Janejar tenha criado as espécies de aves mesmo como o homem). Estas espécies t@m a tendéncia de juntar-se no ambiente em que certo tipo de dono reside. Por isso, todas as 48 aves que aninham-se ao lado dos rios, que derivam o sustento do rio, ou que freqiientan areas inundadas de §gua t&n como seu dono o espfrito do rio ("moju"), Eunectes murinus (sucurije). Aves subordinadas ao moju incluem, por exemplo, os ypa (Anatidae), wyrast (Ardeidae, Threskiornithidae) e arakur (Rallidae), entre outras. Aves que aninham-se no alto dossel da floresta tém como seu dono o espirito da arvore ("kumaka"), Ceiba pentandra (samaiima). Exemplos de aves con este dono incluem as arara (Psittacidae) e algunas pykau (Colunbidae). Aves que andan no chao da selva e estabeleceran o ninho 14 t@m como seu dono o espfrito da terra, yy, e incluen os namu (Tinanidee) e a maioria dos Piriri (Formicariidae @ alguns Tyrannidae). Oespirito do céu, ya, 6 0 dono dos Cathartidae (uruyu) e alguns Accipitridae (tawato), porque o céu parece’ ser o dominio deles. 3. Competicao entre os Wayampi e certas aves Un dos critérios ecolégicos mais usados para distinguir entre etnofanflias ou etnosubfamflias de aves é relativo & fruta da palmeira wasei Euterpe oleracea (agaf): se, como una familia, eles se alimentan ow nao destas frutas. Grenand (1980:51) notou isso a respeito dos tucanos. Entretanto, os pavo (Cotingidae e alguns Turdidae e Capitonidae) tanbén sao distinguidos dos wyrataja'l (Thraupidae, e alguns Vireonidae, Parulidae e Cotingidae) porque o primeiro se alimenta de wasei e 0 segundo de outras frutas. 49 A vida dos Wayampi é semi-nénade. Nas épocas frutfferas de certas rvores, os Wayampi deixam seu lugar permanente em procura das frutas estimadas, freqlientemente nas aldeias e rogas abandonadas em tempos passados (Gallois, 1984), mas tanbén nos lugares ideais para o florescimenta das frutas procuradas, Além de agai, os Wayampi também procuran ing4, bacaba, tapereb&, cacau, castanha do Pardé, biriba, magaranduba, goiaba, bacuri, caju e sorva. Ao procurar estas frutas, aves servem como indicadores da presenga de fruta em regides no conhecidas (conversa com 0 informante Saramare). As aves que se alimentam de certas frutas indican no sé que a regigo é rica nestas frutas, mas também que tem solos favordveis & derrubada da selva e para fazer rogas, ou seja, que 0s solos so suficientemente férteis para sustentar uma roga. Saramare e Jasutu (chefes de duas aldeias diferentes) dizen que aves, plantas, manfferos e até borboletas e abelhas sao regularmente usados por eles para caracterizar um habitat. fin termos de aves, 0 que sempre eles queran encontrar numa floresta sto: a) Cotingidae, b) Colunbidae, c) Ramphastidae, d) Psophiidae, e) Psittacidae, f) Turdidae, que sé todos, pelo menos em parte, frugfvoros. 4. Aves como fentes de proteina e como matéria prima para adornos plunérios. De modo geral, para os Wayampi, as aves ou sdo ou n&o sao comestiveis, dependendo principalmente do seu tamanho e da sua fonte de nutrig3o. As aves carnivoras sao rejeitadas categoricanente cono fonte de protefna para os Wayampi do Amaparf (diélogo com Piriri, Saranare e Matapi (informantes) e também observagao pessoal). Por isso sao rejeitadas as aves de rapina e os socés e guarés. 50 Normalmente passaros pequenos néo sto procurados pelos adultos como alimento (observagao pessoal), ainda que considerados altamente conestiveis (Grenand, 1980) como as pombas. Rapazes treinando com arco e flecha freqiientemente se alimentan de sua caga que inclui passaros pequenos — principalmente Pipridae, Parulidae e Tyrannidae (observagio pessoal). Grupos de aves muito procurados por adultos sto Tinanidae (inambu), Phasianidae .(uru), Cracidae (arakui, cujubi, jacu, mutum), Columb idae (pombas), Psittacidae (araras e papagaios principalmente), Ramphastidae (tucanos) @ a maioria das Cotingidae (ananbé, uiratatd). Nao hA necessarianente uma correspodéncia entre as aves procuradas por razes alimenticias © as procuradas para adornos plumarios; uma utilizagao nfo implica na outra, Nunca vi, por exemplo, as penas dos inanbu, uru ou pomba aparecerem nos adornos plunérios. Por outro lado, muitos passaros pequenos (Thraupidae, Fornicariidae e Pipridae) contribuem para a fabricag3o destes adornos sem os Wayampi se alimentaren de sua carne. Entretanto, os Psittacidae sio utilizados tanto para adornes como para a al imentagio. Ovos de aves da selva n3o sé procurados de modo geral, embora os de aves domésticos sejam bastante utilizados como alimento (galinha, por exenplo). So mais procurados os ovos de camaledo grande, orori |yanaka (Grenand, 1980)|, Iguana iguana, de tartaruga, tawaru |tawalu (Grenand, 1980)|, Podocnemis unifilis, e de jacaré, jakare | yakale (Grenand, 1980)|, como também foi notado por Grenand (1980:91). Uma das primeiras perguntas feitas apés a chegada na aldeia 6, "masakararupi'a ove pot" ("vocé tem ovos de galinhaz"). 61 Normatmente nao se alimentam de animais ou aves domesticadas, ainda que a mesma espécie na selva seja freqiientemente procurada por razdes alimenticias. Aves domésticas sao normalmente apanhadas cono filhotes. Quands 05 Wayampi acha un ninho, simpresmente retiran os filhotes ¢ os crian na aldeia. As vezes uma caga que nao esteja gravenente ferida passaré a ser un animal doméstico também, ao invés de janta. Qualquer ave pode ser un animal domeStico, inclusive passarinhos; mais —_freqiientemente domestican-se mutun, Crax_alector; jacanim, Psophia crepitans; araras, papagaios e periquitos de varias espécies (Psittacidae) e tucanos de varias espécies (Ramphastidae). Parece que os Wayampi sust@m a necessidade de ter un certo nimero de animais domésticos. A galinha, por outro lado, também 6 considerada “nima" (animal donéstico), mas é criada por motivo alimenticio — como fonte de ovos e de carne. D. Classificagao das aves 1. Concordincia do sistema classificatério cientifico com o sistema Wayampi. Segundo Hunn (1977), em qualquer ambiente, nao existe um continuo de espécies com poucas diferengas morfolégicas entre si, mas, sim, um nimero de descontinuidades naturais que definen os agrupamentos das espécies. Por isso, nao hd surpresa em que um grupo etnobiolégico de aves possa corresponder a um agrupamento cientffico. Nota~se na figura 12, por exemplo, que a maioria dos agrupamentos etnolégicos, do ponto de vista cientffico sao independentes dos outros agrupanentos. Ou seja, em 65% dos casos, as etnofamflias nao compartilhan aves de uma famflia cientifica com uma outra etnofamilia. Familias cientificas sd conhecidas cono "like-species" (referéncias) de modo geral. Wainuny Tuhs, Tapupur hakyro uruku'a Jawasi Keraname Japu Ype Anu lyrapitana Pavo Sat iman Sin Figura 12. Fatconidae @) Rawphastidae, Ty tonidae— G Strigidae Nyctibiidae © Caprinulgidae Honot idae—, @ Trogonidac Alcedinidae Galbul idae. OO Corvidae 3 Icteridae. Turdidae <__fotin Formicariidae oe Pipridae sre?) : inamidae 1 a ©) 6 Orem: Pandionidae Accipitridse Opisthocomidae S Cracidae Phasianidae Psophiidae Scolopacidae Aramidac Eurypygidae *Rynchopidae Charadriidae Rallidae Columb idae CRAG © Psittacidae Q Phalacrocoracidae Anatidae Cochleariidae Anhimi dae — Anhingidae Het iornithidse - Arde ida SZ ardeidae Threskiornithidae Mimidae Bucconidae Vireonidae Parulidae Picidae Dendrocolaptidae 52 Namu Uruve hyrau kujus Uru dakami Arakur Pykau frave Wyrast Asigau Akuru Wyratajaa Pirini Pekil Tayara Composic%o taxondmica de familias de aves (segundo Meyer de Schauensee, 1970) de cada etnofanTlia Wayampi (nomes ind¥genas nas margens). 53 a. Areas de correspondéncia direta (33% das etnofamflias) Ha casos em que uma etnofamflia corresponde cognitivamente a uma fanflia ou a una ordem cientffica inteira, Exemplos: uruyu — urubu (Cathartidae) wainumy — beija-flor (Trochilidae) jawasi — martim-pescador (Alcedinidae) uru — uru (Phasianidae) namu — inanbu (Tinanidae) b. Areas de correspondéncia 1:X (30% das etnofamilias) Uma etnofamflia pode conter (incluir) duas ou mais famflias cientfficas completas. Exemplos: kujui — Cracidae (aracua, etc.), Opisthocomidae (cigana) uruku'a — Trogonidae (surucud), Momotidae (udu) wyras? — Threskiornithidae (coro-coro), Ardeidae (socd), Coconidae (cegonhas), Cochleariidae (arapapa), Phalacrocoracidae (bigua) e Anhingidae (bigud-tinga) Alguns destes agrupamentos fazem sentido na sistemftica cientifica, 54 c. Areas de correspondéncia 2:1 Uma familia cientifica pode ser representada por duas etnofanflias, cuja delineagio corresponde as subdivisdes sistemdticas entre os niveis de Famflia e de Género cientffico. Exemplos: asigau — papa-lagarta, saci (Cucul idae) anu — anu (Crotophagus) (Cucul idae) sa‘iman — Furnariidae (Troglodytidae, etc.) pekti — (pica-pau) (Furnariidae, Picidae) d. Areas em que uma espécie, mais ou menos atfpica, 6 associada com outro grupo. A etnofanflia corresponde a sistenatica cientifica com a tmica excegio daquela espécie atipica no seu comportamento ou uso ou associacdo alimentar. Exemplos: tukapewar — Falconidae (Daptrius americanus) wyraupewar — (Daptrius ater) pavo — Cotingidae (Ananbés) wyrataja’i — (Platypsaris minor) 55 wyrapitawa — Tyrannidae (papa-mosca, ben-te-vi, suiriri) piriri — (Tyranniseus gracilipes, Camptostoma obsoletum, Idioptilon zosterops) asigau — (Muscivora_tyrannus) 2. Relagdo entre o nimero efetivo de espécies no territério do Amapi, especialmente no rio Amaparf, e o nimero conhecido pelos Wayampi. Entre as espécies de aves avaliadas pelos Wayampi, eles reconheceran cerca de 500 (vide Apéndice I). Eu considero este o niimero de espécies encontradas na sua vida cotidiana, 0 qual & comparével con o nimero de espécies anotadas por Novaes (1974, 1978) nos seus estudos ornitoldgicos no Amapa. Destas espécies conhecidas, 271 tinham nomes préprios em que todos os informantes concordaran na identificagao da espécie. 0 trabalho de Grenand (1980) confirma, para os Wayanpi na Guiana Francesa, a identidade dos nomes compartilhados pelos Wayanpi do Amaparf e do Jari. Existem mais 67 espécies conhecidas em que a identidade de cada una esta encaixada em outra espécie. Qu seja, sio espécies identificadas de maneira genérica — sempre em relagao a outra espécie. Ainda assim, & uma identidade cognitiva, como é comprovado pelo grau de coeréncia existente entre os informantes. Existem também 132 espécies em que hd bastante confusdo a respeito da identidade exata da espécie. Os Wayampi tém mais diividas a respeito das aves dificilmente vistas de perto ou que ndo sao procuradas ativamente (vide 56 Tabela 1). Relacionado con isso, poderia ser o fato de que a maioria daquelas confundidas nao tén distingdes ébvias morfoldgicas que as destaquem das outras espécies conhecidas. Entretanto, existe uma outra possibilidade mais importante, que é@ talvez que estas espécies simplesmente representam animais pouco conhecidos ecologicanente entre os Wayampi, porque de modo geral nio oferecen interesse particular por eles. 3. Relagio entre ° nimero de espécies incluidas numa etnofamflia e 0 nimero conhecido por nome préprio. Quando etnofamilias tén seis membros ou menos, é ben provével que os Wayampi conhegan todos (vide Fig. 13). Assim, conhecen todos os namu, Tinamidae (cinco espécies), anu, Cuculidae (duas espécies) e uruvu, Cathartidae (trés espécies), kujui, Cracidae (cinco espécies) e ype, Anatidae (quatro espécies), ainda que nem todas sejan procuradas. Existe uma excegao entre os uruku'a, Trogonidae/Mimidae (cinco espécies), em que nem todos tém seu prdprio nome. Segundo a Tabela 1 @ a Figura 13, quando ha mais de seis espécies en uma etnofamflia, os Wayampi identifican a média de 68% delas por none. Algunas etnofamflias maiores t@m una porcentagen alta de aves identificadas (relativas a outras etnofanflias), entre as quais os tukéa, Ramphastidae (100% de 7); arara, Psittacidae (88% de 24); wyrau (74% de 39) e tagara, Pipridae (80% de 10). A maioria destas si etnofanilias de bastante interesse entre os Wayampi. Por outro lado, wainumy, Trochilidae (25% de 27) 6 wma etnofamilia que oferece muito menos interesse, o mesmo se dando con os wyrapitawa, sa'imen e sin (Passeriformes insetfvoros). Os 57 Tabela 1. Nimero de espécies por familia que ocorrem na regiao dos Wayampi que sto reconhecidas ou pouco reconhecidas pelos informantes. Etnofamflia nN? Etno- Ne Etno- N2 de nomes N° presente géneros espécies préprios para na regiao etnoespécie Namu 3 5 5 5 Uruvu 1 3 3 3 Wyrau 13 23 21 39 Kujui 5 5 5 6 Jakant 1 1 1 1 Uru 1 1 1 1 Arakur 6 15 ll 23 Pykau 3 iL 7 12 Arara 13 al 20 24 Asigau 3 8 7 10 Anu 1 2 2 2 Tapupur 3 7 5 9 Hakyro 2 7 5 9 Vainuny 1 19 6 27 Uruku'a 3 5 4 5 Jawasi 1 5 5 5 Karamama Akuru Tukan Pekii dapu Wyrasi Ype Pawo Wyrataja't Tagara Wyrapitawa Piriri Sa‘ iman Sin 4 19 13 12 ll 4 7 2a 30, 29 il 7 al 20 al 28 10 22 10 58 Figura 13. -Relagdes por famtlia entre c 10 20 30 40 NQ espécies potenciais pécies de aves presentes na regiao da aldeia faitetus (Vayampi) e G nimero conhecido por nome pelos irformantes. Vemos que a habilidade de reconhecer todas as espécies ee proporgado direta de uma famflia tende a deterior ao numero de especies na familia. 59 60 pykau, Columbidae, compéem um grupo muito procurado por motivo de alimento, mas t&m apenas 58% dos seus membros conhecidos por nome préprio. A maioria do restante representa pombas encaixadas cognitivanente junto com as outras espécies com nomes préprios. Os Colunbidae sio aves sem plumagen conspicua ou brilhante, que, embora tenhan um canto distinto, tanbém fregiientemente andan solitariamente no dossel da floresta ou no chao. Talvez por isso os membros destacados por nome so principalmente aqueles que andan en grupos ou gue sao menos ariscos. 4. Questo da hierarquia De acordo com o esquema de Berlin et alii (1973), 0 sistema classificatério Wayanpi teria quatro nfiveis manifestos con os seguintes nones: “life-form" (etnoclasse), que se relaciona com a classe cientifica; etnogénero, que se relaciona as vezes com a famflia ou a subfamflia ou entdo con 0 género cientffico; etno-espécie, que se relaciona com 0 género ou con a espécie cientificas e etnosub-espécie, que se relaciona con a espécie ou subespécie cientifica. Entretanto, apesar de a discussdo anterior organizar © mundo das aves ao redor dos Wayampi dessa maneira hierarquica, tenho muitas dividas quanto & subdivisdo do mundo vivo de maneira hierarquica, em que um agrupamento ou espécie 6 sempre superior ou inferior a outro. Segundo o sentido da palavra “chefe" (jowija), em Wayampi, e 0 que posso entender do ponto de vista deles sobre aves, é mais razodvel ver estes seres como organizados ao redor de un néicleo (ave-padrao) com as outras aves da etnofamflia, estando a distancias varidveis deste niicleo (Fig. 14). De acordo com o esquema de Berlin, oS agrupamentos etnogenéricos sao os mais nunerosos e€ também os mais salientes (proaminentes) das categorias da 61 Fig. 14 Representagao esquenatica da visdo Wayampi de relagdes entre os seres vivos, em que (A) = ave padr&o (chefe) da etnofanflia, (8) = aves especialmente préximas de A em termos de morfologia, (C) = parecidas com parentes ben préximos, (£) as perifericanente relacionadas com (A). (D) = Designadas como mais relacionadas com (C). hierarquia, 0 que se verifica na classificagao Wayainpi (Tabela 1). Seus homes, na sua maioria, devem ser lexemas principais, sem sentido an si, ou nlomes onomatopéicos. Entretanto, 33 (22%) dos nomes etnogenéricos dos Wayampi sto palavras complexas ou, ainda, compostas, que nfo concordan bem com o esquema de Berlin, Segundo Berlin, nomes para etno-espécies de modo geral sao lexemas secundérios (palavras compostas, vide III.A.1.c.) e normalmente incluen 0 nome do etnogénero superordenado como parte do nome composto, como é 0 caso do sistema Wayampi. Por exenplo: tukamiti = tukan (etnogénero tucano) + -miti = (pequeno). 0s casos excepcionais poderian ser classificados como etno-subg@nero, Etno-subespécies sempre sao lexemas secundarios. A etnoclasse ("life-form") @ reservada para o agrupanento que se chama wyra, © corresponde & classe cientifica Aves. 62 Embora 0 esquena de Berlin corresponda ben para alguns agrupamentos de , aves |notavelmente os wainumy (Trochilidae), os anu (Cuculidae), jakami | (Psophiidae) e jawasi (Alcedinidae)|, os outros agrupanentos de aves sempre tém de um a trés niveis, além daqueles declarados por Berlin et alii. Estes | sao niveis cognitivos subordinados ao etnogénero ou superor:/enados etnogéneros, poden ser agrupanentos de identificagdo nominal ou de | identidade latente (sem nome). Entretanto, nos trés casos, s30 agrupamentos cognitivos e salientes entre os Wayampi. Por exemplo, inambu-chorordo | (Crypturellus yariegatus) & fregiientenente identificado cono namu entre criangas, apesar de que entre os adultos, tecnicanente é um sui, um parente dos nemu (vide Fig. 3). Para facilitar, usarei o seguinte esquema de hierarquia: X etnoclasse patente ("overt") . patente etnosubfamflia latente ("covert") X — etnogénero, patente | X — etno-espécie patente X — etnosubespécie patente X = agrupamentos inclufdos no esquema de Berlin et alii. | Existen casos duvidosos em que etno-subgénero, uma categoria latente serd usado tambéu. 63 5. Definigo Wayampi de ave (etnoclasse) Do ponto de vista Wayampi (Amaparf), uma ave voa, tem bico, penas, rabo de penas, pés caracterfsticos e sua prole vem inicialmente na forma de ovos (Piriri, Mikutu). Exclufdos por definigao séo os morcegos (anyra). 0s morcegas compéan um agrupanento junto com rates (anuja). C. Brown (1984:15) mostrou que alguns grupos indfgenas juntan morcegos com as aves. Os Apalat fazen isto (vide capftulo IV). Também excluidos por definigao entre os Wayampi sa os invertebrados voadores, como a borboleta. A Vista de caracteristicas de aves acima estabelece entre os Wayampi as fronteiras da descontinuidade chanada wyra (Aves). Animais com todas estas caracteristicas tém o que Hunn (1977:46) chama de qualidade de avicularidade ("birdness"). Ou seja, t8n qualidades sistematicas para seren chamadas aves. A correspondéncia 6 direta com a classe cientifica Aves. N30 existem espécies duvidosas ou que sejan dificilmente inclufdas entre os wyra. Galinhas e jacanins, que normalmente n&o voan, ainda so wyra, pois s%o capazes de voar (Piriri). £. Taxonomia 1. Namu(pewar) | Ingmi (Grenand, 1980), inamu (dari)|. esta etnofamflia ten correspondéncia direta con a familia cientffica Tinamidae e ten a hierarquia mostrada na Fig. 15. Namu & un nome etnogenérico e, sendo nome do chefe da familia, fonna tanbén o none da famflia: Namupewar (ou a fanilia do Nemu). Figura 15. 64 a TIRAMIDAE 5 B . c °{ A Hawupewar (EF) Naw sul Nakwkawa (&6) (6) (EG) ces) 1 dass es) tes) (€5) Namusuky Hamup ij sui sued Makukawa s major Crypturellus Crypturellus Crypturellus Crypturellus cing reus variega tus soul noctivagus V 2 3 4 5 (A) Hierarquia linear da etnofamilia Namupewar. (B) Estrutura social. (C) Composicio cientifica. EF = etno- fantlia, £6 = etnogénero, ES = etnoespacie, L = nivel, 1 = 0 chefe da etnofamilia. 65 As divisées entre os grupos genéricos sao feitas pelo canto. Como os Wayampi (Amapari, Jari) dizem, os namu tém o assobio comprido e nivelado os sui té o assobio intermitente e ascendente “[-cI-7 Ie 0 makukawa ten ua série de duas notes desniveladas (|__ —|—“|). Isto encaixa bem con a realidade. Tinami major, tem o canto continuo ben cono o Crypturellus cinereus, porém, o canto deste (timo parece o assobio de apito de polfcia, mas a fregiiéncia basicanente & nivelada. As espécies so distinguidas por critérios morfolégicos. 2. Uruvu (uruwu (Grenand, 1980), uruwy (Jari)] Os uruvu t@m uma correspondéncia direta com a famflia cientffica Cathartidae (vide Fig. 16). Dentro desta etnofamflia, os Nayampi reconhecem trés espécies. 0 chefe é uruvu (Sarcoramphus papa) e as duas etnoespécies sao distinguidas por critérios morfoldgicos. Cathartes burrovianus tém nomes diferentes entre os falantes do Amapari e do Qiapoque. No Amapari o nome,pinone, corresponde ao etnogénero, e no Oiapoque, o nome, uruwupy, corresponde &@ etnoespécie, segundo 0 esquema de Berlin et alii (1973).Isto pode ser un problema de modo geral nas hierarquias apresentadas adiante. Muitas vezes dois nomes apareceram espontaneamente para a mesma espécie, &s vezes mostrando a mesma coisa cono Cathartes. Pode ser que outras vezes a identidade linglifstica para a etno-espécie tenha sido perdida, mas cognitivamente a espécie é percebida como etno-espécie. Figura 16. 66 2 : CATHART DAE 3 A Uravupewsr i) Uruyu (EG) tes) es) (es) Uruvupi sa Urave Pimine coregyps Sarcaramphus Cathartes atrotus papa Surrovianus 2 1 3 (A) Hierarquia jinear da etnofamTlia Uruyupewar. (8) Estrutura social. (C) Composigao cientifica. 0 nome, Uruvupewar, foi proposto por analogia as outras etnofamitias. 67 3. Wyraupewar [wilau (Grenand, 1980), wyrau (Jari)] Wyraupewar ten correspondéncia de modo geral con as aves de rapina (Accipitridae, Falconidae e Pandionidae), e significa para os Wayampi que os membros fazem parte da familia em que Wyrau (Harpia barpyja) é 0 chefe. 0 kaka (Daptrius ameriganys) 6 un Falconidae eventualmente entre os wyraupewar por razéo de aparéncia. Entretanto, sua alimentagio é diferente dos outros wyraupewar e, por isso, os Wayampi tém o costune de classificar o kaka junto com 0s tucanos (Ramphastidae), porque ele se alimenta de fruta e também porque tem uma aparéncia distantemente relacionada. De modo geral, tawato |tawato (Grenand, 1980)|, 6 um nome genérico que inclui a maioria das aves de rapina (vide Fig. 17). Notavelmente exclutdo dos tawato, por motivo de alimentagao, &@ o kokofteri (Herpetotheres cachinnans), tap8 (Elanoides forficatus), kak@ (j4 mencionada), tama (Daptrius ater) e wyrau (Harpia harpyja}. . A delineagao entre os etnogéneros é feita por critérios de alimentagio, morfologia e de comportanento. Ejuta (duas espécies de Falco), se distinguem pela maneira como procuran a caga (Grenand, 1980): saltan do alto para capturé-la, Japakani inclui duas espécies (Morphnus guianensis e Spizaetus grnatus), distinguidas pela crista que tém na cabega. Japakani é estreitanente relacionade com wyrakasi (Spizastur melanoleucus) pelo motivo que todos cagan macacos e animais de relativanente grande porte. Wyrakasi é distinguido de dapakani pela cabega branca (Grenand) . Tawato inclui 0s Accipiter (Tawatopane), Helicolestes e Buteo vago chimachima (tawatokunakuna). Os Tawato 68 *RO}Js2Ua19 oBd{sodwog (9) * Lepo0s eungnazsg (g) ‘wemadneadM er Lwesoura ep ABOULL BEnbaesaty (y) 9) eunBry 69 procuran a caga de relativanente menor porte e, como o nome tawatopane |tawato = rapineira, pane = frustrativo| implica, embora esta espécie tanbén procure caga de tamanho grande, ela quase sempre nao é bem sucedido (Piriri). 0 etnogénero mararijava inclui duas espécies, Heterospizias meridionalis, e Buteo magnirostris (Kusirireposiwa). Ambos se alimentan de lagartos. Os Wayampi nao saben a razdo por que B. magnirostris tém o nome assim |kusiri = Saguinus midas (sahuim), posi = excrenento, wa = comedor|. "Qs antepassados saben", eles dizen. Segundo Meyer de Schauensee & Phelps (1978), 8. magnirostris se alimenta de lagartos e insetos. Pode ser que este gavido seja apenas un oportunista, procurando lagartos (insetivoros) em lugares onde insetos se juntan, cono nas fezes dos mamfferos. Existem duas espécies de tuli, distinguidas somente pelo seu tamanho diferente. Siwi (Leucopternis) é 0 nome para gaviées de cor branca. Na Guiana Francesa, os Wayampi aparentemente chamam o Harpia harpyja com dois nomes, siwi sendo usado para o estdgio imaturo. Pakuwa (Pandion haliaetus) 6 0 etnogénero para aquele que se alimenta de peixe |paku = Myletes pacou (pacu-peba), war = conedor| . Minu'awar (Rostrhanus sociabilis) se alimenta de caranujos |minu'a = Barus oblongus (Gastropoda), war = comedor|. Os tawato (etno-subfanflia) sio procuradores de carnes de varios tipos —tamfferos de pequeno e médio porte, aves, peixes, lagartos e moluscos. 70 Wyrau no é exclufdo. € que ele é 0 chefe do grupo maior, que inclui tanbén 05 que nfo s8o tawato, cono os seguintes: koTtori (Herpetotheres » que se alimenta de cobras; Tap® (Elangides forficatus), que procura invertebrados, e os dois caracara, kaka (Daptrius americanus) e tama (D. ater), que se alimentan de frutas e insetos, respect ivamente. 4. Kujuipewar [kuyuwi (Grenand,1980), kujui (Jari)j Os kujuipewar incluem as familias cientfficas Cracidae e Opisthocomidae e sto divididos em tr&s agrupamentos, baseados no habitat (vide Fig. 18). 0 primeiro agrupamento (etno-subfanflia) é latente e inclui o chefe mais dois etnog@neros, marai (Penelope arail) © arakwa (Ortalis motmot). Eles andan na altura média da floresta e se alimentan de agat (Euterpe). Estas duas aves sao ben conestiveis (Grenand, 1980) e provavelmente esto en conpetigao con os Hayanpi. 0 kujui, Pipile cujubi (chefe da etnofanflia) tanbén se alimenta de agaf. Hytii (Crax_alector) 6 encontrada fregiientemente no chio e nio se alimenta de agai, segundo Matapi e Piriri (informantes). Provavelmente ele também € distinguido por razao de morfologia. Marairataga (Opisthocomus hoazin) ten seu none devido % semethanga de forma como marai fmarai = P. marail, rataga = aparéncia falsal. Maraira’aga nao se alimenta de agai, embora tenha unm habitat semelhante. : 71 oPtstnocon: one B c A Zo, ‘oS &() Je cracione MSs A ku suipenar . : ' (ery by (ESF) (EG) (EG) (EG) ty Marai Arakwa hujui Hyti Haraira'aga (es) (ts) ces) ves (es) : tiaras eos roivi ilo Harnieaaga Penelope ortatis Pipite Crax alector Opisthocom marald to thigt eujubi hoazt 3 2 1 4 55 Figura 18, (A) Hierarquia linear da etnofamilia Kujuipewar. (B) Estrutura social. (C) Composicdo cientifica. 72 5. Uru [ulu (Grenand,1980)] Tem uma sé espécie de wru (Qdontophorus gujanensis), mas podendo ecorrer uma nda (Colinus opi atus), que corresponde 2 fanilia cientffica Phasianidae. Una pessoa adulta quis juntar os uru con os nanu (Tinamidae), mas os outros informantes deixaran uru separado (Fig. 19). 6. Jakami [yakemi (Grenand, 1980)] Jakami também 6 una espécie sem Filiagdo com outras aves e corresponde & familia cientffica Psophiidae. Cano Grenand diz (1980:160), ele é bein procurado tanto como caga quanto como animal danéstico (Fig. 20). 7. Avakupewar [Alaku (Grenand, 1980)} Qs arakupewar correspondem as ordens cientificas Gruiformes e Charadriiformes e se dividem em trés agrupamentos (vide Fig. 21), baseados principalmente em critérios alimentfcios. Exclufdas dos arakupewar so as familias Psophiidae (acima) e Heliornithidae, Heliornis fulica (vide ypepewar, n° 23). No entanto, o restante est& relacionado na mesma etnofamflia, aparentemente por habitat (se encontran perto da agua) ou par morfologia superficial: "t&n apar@ncias semethantes", segundo Piriri (un informante). Os arakur sensu stricto se alimentan principalmente de caranujos e incluen o chefe dos arakupewar, Aramus guarauna (arakuru), Aramides cajanea (arakur) ¢ Rallus maculatus (arukuyiri). A Fig. 21 também mostra que o chefe 73 PHASTANITOAE B A Urupewar 4 (EF) Uru ‘2 (£6) Figura 19. (A) Hierarquia linear da etnofanTlia Urupewar. (8) Composicao cientTfica. Urupewar foi proposte por analogia as outras etnofamTlias. 74 -—~ PSOPHIIDAE Jakamipewar | (EF) Jakam? (EG) (ES) JakanT Psophia crepitans Figura 20. (A) Hierarquia linear da etnofamilia Jakamipewar. (B) Composicao cientTfica. 0 nome, Jakamipewar foi proposte por analogia as outras etnofamTtias. POLIESUaLO oRSesoduiog (9) *LeLo0s eungnuqsy (2) “Memedmyeay BLL guesours ep JwauL, einbuevaty (¥) “12 eunBL 76 da etnofamflia pode ocorrer taxonomicamente no nivel mais baixo. Sua posigao polftica nao 6 vista da mesma maneira que sua posigio taxondmica. 0 segundo etnog@naro, suTsu7 se atimenta de sementes e inclui Laterallus exilis e Porzana flaviventer. A etnosubfanflia tuitui corresponde 5 fanflias cient ificas Charadriidae, Scolopacidae e Eurypygidae: so aqueles que se alimentan de insetos. Presunivelmente, as distingdes entre os etnogéneros desta familia sao feitas pela morfologia. 8. Pykaupewar [PSkau (Grenand, 1980)] Esta etnofamflia corresponde diretamente a famflia cientifica Columbidae eo chefe € Columba plumbea (pykowro) (vide Fig. 22). A distingio principal entre os etnogéneros & baseada no seu habitat. Os pykau se alimentam no alto da floresta enquanto que os membros da subfamflia Jatente, que inclui irusi e takuruwe, sao encontrados no chao. Esta etnofamflia tem cinco pombas de nones préprios e quatro que se encaixam entre os irusi ou pykau, sem nome préprio, Existe uma excegio notével: Claravis pretiosa as vezes foi chanado pykausovy (pomba azul escura) e outras vezes irusi. Segundo Meyer de Schauensee & Phelps(1978), esta espécie se encontra no ch3o e até no alto da floresta. Por isso talvez ela tenha sido classificada como pykau. Entretanto, seu tananho (cerca de 22cn) é mais semelhante ao dos irusi (cerca de 20cn) do que os pykau (cerca de 33cm), o que poderia explicar por que ele foi classificado como irusi. Parece que as vezes as razbes cognitivas para certas divisdes so diferentes ainda que as divisdes basicas sejam relativanente fixas. 77 “eaygy2ualo ozd;soduoy (9) *LeLo0s eungnuysz (g) ‘“seModneyAg eLLLWeJoUZ® ep uweuLL eENdMeAaLH (Y) . 8 a 2 wees _ __ nn 5 PSSEUPAgAS "9 __t : Swe Fase Tepseds_ Fpsusuwates waa eppa03day voEsi3085 eurguni os equa 75 equnio3 equnle7 ly Anne y LaLane akg neyxkg oane yh: 1 (sa) (sa) (sat (333 (s3} (93) (93) ty aananyes nea (asa) 44 ¥ (33) \ aemadnentg "22 eanbiy 78 Muitas das pombas sao imitadas ideofonicamente e so reconhecidas por seu canto, ainda que nenhum nome reflita isso onomatopeicanente. 9. Ararapewar [alala (Grenand,1980), arara (Jarf)] Os ararapewar corresponden diretanente & fanilia cientifica Psittacidae (Fig. 23). A caracter{stica da etnofamflia é 0 bico (dados do informante Piriri), Q fato de que um grande némero deles (9 dos 20) t@n nome onomatopéico sugere também que seu canto (caracteristicamente alto e penetrante) poderia ser também caracteristico da etnofamflia. 0 chefe da etnofamflia € arara (Ara_macao), mas esta etnofanilia também tem um minichefe, jowijamiti cujo nome 6 kure (Amazona farinosa). Ele reina sobre a etno-subfamflia que se alimenta de frutas (n3o agaf) e sementes. As outras aves se alimentan de agai e nozes e as divisdes entre of etnog&neros sao feitas principalmente por critérios morfolégicos e de canto. “Eles simplesmente sao diferentes" diz Piriri. 0s g@neros cient{ficos Ara e Anodorhynchus si agrupados em duas etno-subfamilias cuja distingdo é feita pelo tamanho |Ara_macao, A. chloroptera, A. ararauna e Anodorhynchus hyacinthinus t@n tamanhos entre 84 e 90cm, enquanto Ara severa, A. manilata e A, nobilis tém entre 35 ¢ Siem (Meyer de Schauensee & Phelps 1978)|. 0s pirisT (Forpus passerinus e Brotogeris chrysopterus) sio distinguidos das outras ararapewar por seu tananho pequeno, mas principalmente por sua dieta: 0s Wayampi dizem que eles se alimentam de bagas. 79 "ROLsLJUaLD OBd1Sodwoy (9) *LeLo0s eangnazsy (¢) saewadeuesy kL] jwesouze ep AeauL, eLnbucialy (y) “ez eunBLy svormisise 80 10. Asigaupewar [asingau (Grenand,1980)] Asigaupewar inclui os membros da familia cientifica Mimidae, a maioria das Cuculidae e o Tiranfdeo, ivor (Fig. 24). Esta etnofamflia é distinguida por seus membros teren rabos compridos e dietas senelhantes (insetos). Exclufdo dos Cuculidae & 0 género Crotophaga (ani), que tem conportamento bastante diferente — s%o vistos en bando (de ndmeros grandes) ao invés de isoladanente ou en pares. Todavia, para os Wayampi eles simplesnente sao diferentes. 0 tarotaro é o etnog&nero de asigau de faixa preta ou mascara preta que cruza os olhos. 0 Tyrannidae M. tyrannus e 0 Cuculidae Coccyzus_melacoryphus tém o mesmo nome neste etnogénero, Os Mimidae sao percebidos como iguais entre os asigaupewar, as duas espécies aparecenda com duas espécies de Cuculidae abaixo do mesmo etnogénero. via (ajawyra) 6 distinguido, dizem, por motivo espiritual. 0 canto dele significa a morte de alguém (vide também Grenand 1980:127); alén de ter ua canto meie melancdlico: {J_. |—— |, ele também tem comportanento diferente dos outros Cuculidae, al imentando-se sol itarianente no chio ou préximo dele, 11. Anupewar (Anu (Grenand,1980)] Os anu sto as duas espécies de Cuculidae exclufdas dos asigaupewar (acima; vide Fig. 25). Ao nivel da etno-espécie, anupijai 6 distinguido por morfologia (anu = anu, piji = preto) ¢ a outra, anukoro (C, major) pelo 81 “RDLs12UBLD Odysoduwoy (9) “[eL90s eangnuysz (g) ‘*ueMednebisy BEL jwezouza ep wwaur| einbuewaly (y¥) ‘pz eunSis 5 + z ) 4 tox {93 2 Baki eee isy 4 i senacnesisy ¥ 1 averanang ByanuNyeAL 3a Figura 25. 82 B c CUCULIDAE 2 ma ot A L Anupewar 1 (EF) Anu bo (EG) (ES) Anukoro by ©. major ‘ 1 2 (A) Hierarquia linear da etnofamflia Anupewar, (B) Estrutura social. (C) Composicdo cientifica. Anupewar foi proposta por analogia “3s outras etnofamilias. canto (koro = canto onomatopéico). Os anu se alimentan de larvas (o informante Piriri). 12. Tapupupewar (Tapupu (Grenand,1980)] Esta etnofanflia corresponde diretanente & ordem cient{fica Strigiformes (corujas) e 6 subdividida en trés etnogéneros, conforme seus hdbitos alimenticios (vide Fig. 26). Tapupur, Pulsatrix perspicillata (chefe da etnofamflia), se alimenta de invertebrados (e vertebrados), enquanto urukure'a, Bubo _virginianus, Rhinoptynx clamator e Lophostrix cristata, se alimentam de morcegos e outros vertebrados. Otus choliba e 0, watsonii. (torovuviil) se alimentan sd de insetos. Podem distinguir os etnogéneros + fologicanente ou pelo canto. Tapupur e torovuvii sdo nomes onomatopéicos. 0 significado do nome urukure'a é desconhecido. 13. Wakyropewar (wak#lo (Grenand,1980), wakyro (darty] A etnofanilia wakyropewar corresponde diretanente % orden cientifica Caprimulgiformes (urutau e curiango), e se alimenta de invertebrados. Este agrupanento & chefiado por wakyros? Caprimulgus cayennensis, e 6 subdividido em dois etnogéneros (vide Fig. 27), conforme o habitat. Os wakyro (etnogénero que corresponde & famflia cientffica Caprimulgidae) se encontram no chio da floresta ou do campo, enquanto pirakok (que corresponde % familia Nyctibiidae) se encontra na floresta, mas nao no chao, E interessante notar que ao nivel da espécie, quatro das seis espécies t@m nomes onomatopéicos. No entanto, sendo estas espécies noturnas, ouvidas muito mais que vistas, e sendo que sio todas esp ies de cores que nao 84 TyTONLORE c sirrotone L Tapupupewar , A ier) a . _ Tapnpor Urukure’a Torovvis ‘2 (EG) (65) (eG) ces) J. L\w Tapupur—tirukure'a——tivukure*ajawa Torowivi ovovavaniti ‘3 pyisStriz puto Asie Ghigntor Otus O10 erspici}ieta virginianus Lophostrix watsonii chotiba iyto vibe riateta 1 2 3 4 8 Figura 26. (A) Hierarquia linear da etnofamTlia Tapupupewar. (B) Estrutura social. (C) Composic%o cientifica. 85 c Van (Oo CAPR EHULGI DAE, A ‘sky ropewar 4 (EF) Pirakoko Nakyro (66) (66) (es)] (ES) (es) (es) (ES) Pirakoko Usiyrost Wakyroviri Vakyro Jaykuwa Ly Nyetibius Cagrimulgus Chordeiles Caprinutqus tidronus graudis cayeniensis ~acutipennis ~ nigrescens ~aTblcollis N. griseus " nydropsal 5 1 2 ‘elimacocerca 4 3 Figura 27. (A) Hierarquia linear da etnofamTlia Wakyropewar. (B) Estrutura social. (C) Composi¢ao \-entTfica. 86 chaman a atengao, é légico que o canto seria destacado no nome. Nota-se que duas das cinco corujas também tém nomes onomatopéicos (Fig. 26). 14. Mainumypewar (wainimi (Grenand,1980), wainuny (dart) 0 etnogénero wainumy tem correspond@ncia direta con a fanflia cientffica Trochitidae (vide Fig. 28). Todas se alimentan de ipotye'egato (mel das flores). 0 akykywainumy (Topaza pella) é 0 chefe deste etnogénero, que € dividido en seis etnoespécies, conforme critérios morfolégicos. As 19 espécies cientfficas de beija-flores conhecidas pelos Wayampi si0 divididas entdo entre estas seis etnoespécies. Existem mais cinco outras espécies que todos conhecem, mas hd confusdo sobre a qual etnoespécie elas pertencem. 0 fato de que todas as etnoespécies, menos uma, t@m dois ou mais membros, indica que a etnoespécie do beija-flor 6 uma categoria que engloba as espécies cientificas con alguns tracos morfolégicos em comun, como o seguinte: O ° % O 0° S090 oOo em que beija-flor com o(s) trago(s) caracteristico(s) da etnoespécie membros da etnoespécie con caracteristicas em conun com fronteira da etnoespécie, O "ROLZLIUBLD OB5{Lsoduioy (9) *LBLIOS eungnugsy (g) ‘“aemadAunuLey, PEL gwesouge ep Weaul, eLnbuevain (y¥) "gz eunBLy 88 Os beija-flores de peito vermelho pertencem % etnoespécie akykywainumy em que Topaza_pella @ a espécie exemplar do grupo. Tajauwainumy (Phaethornis superciliosus) sd aquelas de peito pdlido. 0s de peito verde ou azul so chamados jakamiwaimmy (Eupetomena_macroura é a espécie indicadora). 0s de garganta ou cabega azul so chamadas pairasigye (Hylocharis cyanus). Teju (Lophornis ornatus) e karaju (Florisuga mellivora) sao distinguidos por razées desconhecidas, talvez por terem morfologia bastante diferente dos outros beija-~flores — uma tem crista vermelha na cabega e a outra, rabo largo e branco. Talvez os wainumy sejan identificados principalmente pela cor do peito, porque beija-Flores sto pequenos e ben ativos. Se quiserem identificar a maioria das espécies, tém que fazé-1o com o mfnimo de observagao detalhada. 15. Uruku'apewar (uluku?a (Grenand,1980), urukuta (Jarf)] A etnofanflia urukuta corresponde as duas famflias cient fficas Trogonidae (surucug) e Momotidae (udu/juruva) (vide Fig. 29). Embora se alimenten de invertebrados e frutinhas (Meyer de Schauensee & Phelps 1978), elas tém importancia especial para os Wayampf porque se alimentan de acat (Euterpe) e porque as penss sao procuradas para a fabricagio de adoraos plunarios, especialmente coroas de penas (akaneta). Presume-se que as distingGes entre os etnogéneros sao feitas por outros critérios além da morfologia, mas no se sabe o que sao. N3o & por razio da cor, nem do tamanho. Trogon melanurus e T. violaceus tém cores e tananhos diferentes uma da outra, mas sao semelhantes a outras espécies. Todas tém cantos semelhantes. 89 Honor 10A€ coy J<-THocoH LORE A bewkute pevar u (EF) t Tarvkuraba brukuta Noturukua a (6) (5) (06) «) (is (es (es) Teruburuku _Uruku"esovy —_tivwkw'apaje Ho turukua 3 Trogon Tragon Trogon Hono tus nelanurus viridis rufus uniota Leviolaceus 4 2 1 3 Figura 29. (A) Hierarquia linear da etnofamTlia Uruku'apewar. (B) Estrutura social. (C) Composic&o cientifica. 90 ) Moturukua, 0 finico Momotidae, @ distinguido dos outros etnogéneros | provavelmente en razio da morfologia. ) 16. Jawasipewar [yawasi (Grenand, 1980)} 0 etnogénero jawasi corresponde diretamente & famflia cientffica Alcedinidae (martim-pescador) (Fig. 30). Entre os cinco membros desta . fanilia relativanente pequena, existem apenas duas espécies que tém nomes fixos: jawasi (Ceryle torquata), que 6 0 chefe do etnogénero, @ jawasimiti (Chioroceryle aenea). Embora as outras espécies tenham nomes préprios, elas | sao mais freqiientemente identificadas como apenas jawasi. Parece que os Wayampi destacan a maior ave (€. torquata) da menor (C. aenea), e nao se | importan com as outras. Existen poucas diferengas morfolégicas e de canto entre os Alcedinidae na sua regigo, e os Wayanpi nao mostran muito interesse | por eles como o sistema classificatério danonstra. 17. Karamanapewar (kal amama (Grenand, 1980}] Esta etnofanilia tem correspondéncia direta con a familia cientffica Galbulidae (ariranba). Sao quatro agrupamentos ou etnog@neros (vide Fig. | 31), cada um distinguido do outro principalmente por fatores morfoldgicos. Todos se alimentan da mesma coisa — insetos — bora maratito/karanamap ijt | (Anapari), py (Guiana Francesa), Brach » se destaca por / preferir baratas. Alén de sua preferéncia alimenticia, ele tanbén se distingue por sua cor escura (karananapiji — piji = preto), e provavelmente / por seu tamanho pequeno. Jawaimi'a/jawa, Galbula dea, ten cor mais escura ainda, mas com 0 dobro do tananho do maratito. 0s Wayampi dizen que ele a Figura 30. 91 2 c Lay \7 4 A Jawes spewar (} dewasi (65) (6S) (653 (65) (es) (65) JawasisY dawasitekore'e — dawasi Jawasisia —— dawasimity Chloroceryle “Chloroceryle Ceryle Chioeoceryle Chioroceryle aina Z0 08 auiericana ~ torguata “nda aenea 2 3 1 4 5 Tinear da etnofamilia Jawasipewar. (C) Composicio cientifica. (A) Hierarquia (B) Estrutura social. 0 nome Jawasipewar foi proposta por analogia as outras etnofamilias. 92 oRd;soduoy (9) *Letoos eungnu3sy (g) wap BAe 2B, 4uyemer (sal 3varineqws "Rots Lquato “aemadeweMeiey RL {pwesours BP ARauUEL BINb4Ae4aLH (y) “Le eunbLy BUTSUOOTATT__ IAT eine Bing res ns Boao ueTeG noewey gseuruesey euRWesey (s3] (sa) (33) (93) ewewes ey (43) semadaueues ey 93 simplesmente & diferente. Karamama, dacamerops aurea, @ o chefe da etnofamflia e mostra o padrao de cores que os Wayampi consideran tipico da familia, compartilhado com karamamas? (6. galbula). Temagu (Galbula leucog @ G. albirostris), embora bon semelhante a karamema, aparentemente & distinguido por motivo das diferengas de cor (6 leucogaster tem peito mais escuro e 6, albirostris cabeca escura). 18. Akurupewar [akulu (Grenand, 1980)] A etnofamilia akurupewar 6 chefiada por Notharchus macrorhynchus, e inclui amaioria das espécies da familia cientifica Bucconidae (vide Fig. 32). Notavelmente exclufdo desta etnofanflia é@ Chelidoptera tenebrosa (sapera/wyramapape) que os Wayanpi incluen entre as andorinhas. Meyer de Schauensee & Phelps (1978:167) diz que esta espécie é bastante diferente dos outros Bucconidae, tanto na morfologia quanto no comportanento, Un none Popular em inglés 6 "swallow-wing" (provavelmente um empréstimo), sugerindo que sua morfologia seja semelhante ao da andorinha. Existen trés etnogéneros nesta etnofanflia. Akuru pode ser o padrado da cor e wyrapisuru (Monasa_atra), 0 Gnico membro preto, é destacado por 0 motivos de cor ou, como Grenand (1980:158) diz, 0 canto tanbén poderia ser indicativo. As espécies de akuru so todas distinguidas por motivos morfolégicos. 19. Tukdpewar (Luka (Grenand,1980)] Na sua maioria, a etnofanflia tukapewar corresponde & fanflia cientifica Ramphastidae (vide Fig. 33). Também 6 inclufdo entre os tukan, o kaka, Daptrius americanus (Falconidae) (vide I11.£.3.). Todos os tukSpewar 94 "ROLE LqWUSLD Ozdtsoduog (9) “Letoos eungnagsg (g) ‘wemadnunsy eLituesouza ep ueauLL eLnbsevaLy (y) "ze eanBis s ¥ £ ert z 9 aaa _S5EnT FAURSIT ET __ armas R Pidooe ay STHUSHES TssaG | TMUSuewaoN Tyee Bong TITe noiaeate eareeist) garenangy naty Lapananay mans (s3) (33) (3) (sa) $3) (23) (93) neieeasy nanay 33) semagnanyy ¥ 9 q 3vaINodons 95 oedtsodwoy (9) “[ep90s eangnu3s3z (g) "BOL gLauayo “uenedgyn BL L.uezouge ep weaut, exnduruay (¥) 3M ve SVOLISYHAl Gy) “ee eunBiy 96 se alimentan de frutas, especialmente de agaf (Euterpe) na época certa. Todos os Ranphastidae na regiso s8o conhecidos por nome. Dois etnogéneros sto distinguidos: kaka (Falconidae) e tukan (Ramphastidae). As etnoespécies so divididas em dois agrupamentos diferentes, distinguindo principalmente aqueles que seguem 0 padrao morfoldgico do g@nero Ramphastos e as outras espécies divergentes (Pteroglossus e Selenidera). Esta divisio é feita latentemente no nivel do etno-subgdnero. Linguisticanente as espécies so relacionadas a tukan (quase todos tendo nomes compostos do niicleo tukan), mas, ainda assim, um agrupamento cognitive existe, feito por causa da morfologia divergente. 0 chefe da etnofanflia é tukane'e (Ramphastos tucanus), a espécie mais comun da regiao do Anaparf e a mais procurada. As espécies sio distinguidas por seu canto ou sua morfologia. 20. Pekiipewar {peki (Grenand, 1980)] A etnofamilia pektipewar corresponde, na sua maior parte, as fanilias cientificas Picidae (pica-pau) e Dendrocolaptidae (arapagu), mas tanbém inclui duas espécies (e possivelmente mais) de Furnariidae (vide Fig. 34). Enbora Picidae e Dendrocotaptidae representem categorias cientfficas diferentes, as duas fanflias t@n aspectos semelhantes no seu comportanento, a mesma alimentagao e soban nas &rvores do mesmo modo —s6 que os Dendrocolaptidae nao bican as arvores como 0s pica-paus. N30 ha evidéncia no trabalho de Grenand (1980) de que os Wayampi da Guiana Francesa fagan una distingdo entre os pica-paus e arapacus. Entretanto, entre os do Amaparf, a disting3o é prontamente feita TRILELIUSLD OBSLsOduiOD (9) *[eLI0S eungnazsy (a) ‘uemadnyed eLLLwejouza ep ABBULL einbuesety (y¥) “pe eunBLy = 98 espontaneamente. Alguns Furnariidae sao mantidos juntos com os Dentrocolaptidae na classificagio. Como se vé na Fig. 34, poder-se-4 determinar que os siripipi representam um etnogénero. A vantagen desta interpretagao @ que nao introduz um novo etnogrupo (etno-subg&nero) que nao se encontra entre as outras etnofanilias mostradas neste trabalho. Esta interpretagéo ilustra 0 caso onde varios nomes relacionados cognitivamente com um etnogénero siripipi sao relacionados linguisticamente com outro (pekii) . Considerar o siripipi como etnog@nero, se poderia resolver o problema lingiifstico a0 considerar a raiz de palavras compostas como una raiz determinativa (vide I.A.). Semelhantenente, wainumyu (wainuny - beija-flor; u- grande) significa Agamia agami (socé-beija-flor), mas cognitivamente nio é realmente um beija-flor. 0 caso dos siripipi é mais problematico do que o caso do wainumyu, pois siripipi e pekii so percebidos como elementos da mesma etnofanilia, entretanto, wainumyu n’o pertence 2 etnofamflia dos beija-flores. 0 chefe da etnofanflia é pektiakmira (Dryocopus lineatus). Ele é a espécie mais comum nas rogas e florestas secundérias. £ também o chefe dos siripipi (arapagu). 21. Japupewar [yapu (Grenand, 1980)] Esta etnofamilia reine duas famflias cientificas: Icteridae e Corvidae (vide Fig. 35). A Gnica espécie de Corvidae conhecida no Anapa (Cyanocorax cayanus) ten un canto estridente e uma morfologia nio muito afastada de alguns Icteridae. Também se alimentam en lugares semelhantes e dos mesmos 99 “POLSLgUS!9 oBd4soduog (9) *1e}90s eangnags3 (g) ‘uemadnder eLipwesouge ep ueauLL einbuevatH (y) “se e4nBLy : : 3y01e3L91 Fyevauetes_ Trew TewTy_ a (ea) (oa) 5 PLUCENEET s v L £ (sar Loy QT 5 g (a3) vo aenaanden 100 itens — insetos e frutinhas. E por isso talvez que os Wayampi relacionan estas duas fanflias. 0 nome indfgena para a espécie & japusi, linguisticanente relacionado com o chefe da etnofanflia japu (Psarocolius decumanus). 0 japu tem dois nomes; o outro é karamaramore/karamore que mostra, mais uma vez, que o nome especffico nao demonstra necessariamente o parentesco lingiifstico. 0s etnogéneros s80 distinguidos por critérios morfolégicos e pelo canto. Japu aparentemente inclui as aves maiores enquanto japiti (Cacicus cela ¢ Gynmomystax,mexicanus) sao os menores. Sakyro (Cacicus haemorrhous) e pikua (Icterus cayanensis) so muito diferentes das outras morfologicanente — boa razdo de destacé-las nos seus prdprios etnogéneros. 22. Wyrasipewar (wilasT (Grenand,1980), wyrasi (Jarf)] Esta etnofamilia é grande e bastante heterogénea, com varias familias cientificas. Sdo cinco fanflias de duas ordens diferentes (vide Fig. 36): Anhingidae (una espécie), Phalacrocoracidae (uma espécie), Cochleariidae (una espécie), Threskiornithidae (trés espécies) e Ardeidae (dez espécies). Sa reunidos porque todos se alimentan de peixe e vivem na beira dos rios ou lagoas. 0s g8neros corresponden & fanflias cientfficas da seguinte maneira: 101 ‘Rots Equals awannow as ozdisodwog (3) *1eL90s eungnazs3 (g) *aenady seatty {liwejsouze ep aeaul, egnbueweln (y) “9g Randy 102 Etnogénero Familia Cientifica wyrast oko Ardeidae mawari wakara makorokoro -— Threskiornithidae kawawa karara ———_— Anhingidae kunuwa ———_————— Phalacrocoracidae arapapa ——— Cochleariidae 0 chefe da etnofamilia é wyrasT, Casmerodius albus, que éo maior e o mais branco dentre as espécies da etnofamflia. A dnica etno-subfamflia inclui todos os socés brancos — os mais semelhantes a wyrasi. 0s outros etnog&neros se relacionam as descontinuidades naturais (vide acima). 23. Ypepewar Ype corresponde basicamente & fanflia cient{fica Anatidae (patos), mas inclui- também Anhima__cornuta (Anhimidae), e Heliornis _ fulica (Heliornithidae) (vide Fig. 37). 0 chefe da etnofamflia é Cairina moschata (arapono/ype). Eles se alimentam da mesma coisa — insetos e agriao. 103 *eotatauata ogd4soduog (9) *[epo0s eingnags3 (g) ‘uemadad, v1 Lweyouze ep svauL, eundsesaLy (y) “Ze euNBL4 $ * L t 2 3 Teeayg Tame “Hes _—-sysvaweTeE ay ena7e3 Bub oIpTsG SoupuaG rercs) Seay Sto} Ten rer] nansayes 1006030 ouodeay saysadg pee, neat (sa) eo) (s3} (sa) 93) 2 nea teny (33) aenaaad, avalivny 2VOTHLTRYOIIIH 3 avOIMIuNy ——7 104 Anhima_cornuta 6 destacada no seu préprio etnogénero, presumivelmente por motivo da morfologia. £ 0 dnico membro da etnofanilia sem pés palmados (n&o possui os dedos anteriores ligados por membranas inteirigas). 24. Pavopewar (pawo (Grenand, 1980)] Esta etnofamflia (Fig. 38) ten muito interesse para os Mayampi, principalmente porque as aves que a compden se alimentan de agaf, mas tambén Porque as plunagens de muitas delas so iteis na fabricagio de adornos. Raranente os vi se alimentando da carne destas espécies. Parece que oS pavo So cagados porque se alimentan de agaf e, em segundo lugar, por sua plumagen (normalmente a pele inteira, inclusive a cabega). A maior parte desta etnofamilia ven da familia cientffica Cotingidae, espécies que chaman a atencao por sua plunagen ou por seu ‘canto; de modo geral nao séo espécies timidas. Este fato, além do interesse gerado economicanente, poderia explicar a aus@ncia de inclusividade dos etnonomes (un nome = una espécie), e também explicar a razdo por que ha pouca confus’o na identidade das espécies. Tanbém so incluidas nesta etnofamflia os Turdidae (sabiés), 0 g@nero Thraupis (Thraupidae), um Capitonideo, Capito Niger, € 0 Rupicolfdeo, Rupicola rupicola. Todos sio oportunistas na época da agaf. 0 chefe da etnofanflia é pavo (Querula purpurata). Distingdes entre as espécies sao feitas por critérios morfoldgicos. Ajareaty (Perissocephalus tricolor) destaca-se por ter um canto relacionado com o aspecto religioso. 105 “RILJLGUaLD OLdEsoduwo) (3) *LeL90s eungnuzsy (g) ‘uemadonrg BL Lwesougs ep weauL, eLnbucualy (Ww) "ee eanbiy omn vos AO), avaiyns109 ——™* 106 25. Wyrataja'tpewar (wiratay? (Grenand, 1980)] A etnofanilia wyrataja'ti contrasta con a etnofanflia pavo em nio se alimentar de agai (Euterpe), mas somente de outras frutas. A fanilia cientifica mais caracterfstica desta etnofanflia @ Thraupidae (75%) e o chefe @ wyrataja'i, Euphonia violacea (Gaturamo-verdadeiro) (vide Fig. 39). Os Thraupidae sdo aves de tamanho menor [13cm (9-16cm)| (Meyer de Schauensee & Phelps,1978) que 05 Cotingidae |22cm (17-36cm)|, 0 que poderia explicar de maneira puramente mecanica a divisdo das duas etnofanflias. Os wyrataja'ii no conseguem engolir a semente do agaf (mais ou menos 1,5 cm de diametro). Quanto &s outras familias jincluidas, Vireonidae e Parulidae também tn tananhos menores (10-12cm), @ 0 Cotingideo Platypsaris minor (16,5cm) aparentemente prefere outras frutas — segundo Meyer de Schauensee & Phelps (1978), ela se alimenta de bagas e insetos. As etnosubfanflias dissimuladas aparentemente engloban espécies de morfologias semelhantes. Algumas espécies do género cientffico Tangara se formam numa etnosubfamflia. Tambén as Euphonia s&o agrupadas, os Vireonidae e trés Thraupidae de géneros diferentes, todos os quais t@n faixas ou mascaras pretas sobre os olhos. Essa 6 uma etnofamilia que também, de modo geral, nao oferece para os Wayampi confus’o entre as espécies. Elas so espécies muito destacadas por teren cores espetaculares, encontradas nas dreas que os Wayampi fregiientam, € procuradas por suas plumagens. 107 *edLgLquUa!9 oed4souuoy (9) [eloos Bungnugsg (g) a enanaaiee saemadn, efeTeIAy BLL ywesouza ep ueBUL, eLNbseuatH (y) ‘6E eaNLy svatenyehs avarowr109 svaiaoauth 108 26. Tagarapewar (Tangata (Grenand, 1980)} Um dos informantes agrupou esta etnofamflia junto com os wyrapitawapewar (préxima etnofamflia). A maioria a deixou separada. € um agrupamento que tem seu préprio chefe, tagarajywara (Manacus manacus) (Fig. 40). Sa destacados porque se alimentam de bagas perto do chao. A etnofamilia Tagarapewar tem correspondncia direta con a familia cientifica Pipridae, uma correspond@ncia vista tanto pelo agrupamento quanto pelos fatores linglifsticos (todos tém nomes compostos de raiz, tagara). Una das espécies de Pipridae (Tyranneutes virescens) tem o nome tagarasinei (tagara = Pipridae, sinei = Tolmomyias spp. (Tyrannidae)|, mostrando que esta espécie tem atributos de ser tagara ou sinei, Neste caso ela é classificada con as outras tagara. Entretanto, aapimiti (Neopelma chrysocephalum) € um Pipridae inclufdo mesmo com os Tyrannidae (vide Fig. 40). Tagara sio passaros procurados para a fabricagéo de adornos plumarios. 27. Wyrapitawapewar Esta etnofanflia corresponde de modo gerat aos Tyrannidae (ben-te-vi) e 0s Hirundinidae (andorinhas), mas também inclui um Buccontdeo, Chelidoptera tenebrosa, ma mesma etno-subfanflia com as andorinhas (vide Fig. 41). Estao contrastadas as espécies que se alimentan de bagas (principalmente) versus aquelas que se alimentam de insetos. Segundo Meyer de Schauensee & Phelps (1978), algumas espécies de Tyrannidae se alimentan de bagas (além de insetos). Por isso, ha un fundamento potencial para tal agrupamento ao nivel da etno-subfamilia. Sei diffcil provar a validade deste esquema, porque pouco @ conhecido sobre a ecologia dos Tyrannidae da regio; ainda mais, nao 109 “P21443U@19 OB>4soduo (9) “eps eungnigsy (g) ‘wenadeueBe, ei Ljwesouza ep ueauy| enducuaty (y) “op eUnBLy t 2 t ’ s : soynousesty tedig Oia Kiayg souseargey emeyidese6e] unyeaebey ($3) Ga) eaeadtesstey isa v semactlede Boe Ls, von AD kel 116 "BDL 4LqUaL ORdLSOdwoy (9) *{eyo0s eungnuas3 (g) saemadenegideady eL{pwesouya ep veouy, epnbuesaly (v) “bp eanBiy i houve consist@ncia entre os informantes sobre os componentes das duas etno-subfamflias. Ao nivel de etnog@nero, a maioria dos nomes é onomatopéico, mostrando que para estas aves é muito mais facil distinguir padrdes de canto do que de morfologia, um fato evidente para qualquer pessoa que as estuda. £ muito mais facil procurar padrées entre os cantos dos Tyrannidae do que distingdes morfolégicas entre as espécies. Os Wayampi no cacem wyrapitawa, nen os Procuran pela sua plumagem. Por isso, talvez, 50% das aves conhecidas sem confusdo compartilham seu nome com outra espécie semelhante e nao tém noes préprios. Alén dos passaros apresentados na Fig. 41, ha mais 14 espécies (30% dos Tyrannidae apresentados) fregiientemente e consistentemente confundidas entre os informantes. 28. Piriripewar [pilili (Grenand,1980)] Esta etnofamilia se distingue dos wyrapitawa principalmente pelo ambiente onde se encontra — no chao da floresta ou no meio da moita ou vegetacdo rasteira. A maioria das espécies vem da famflia cientffica Formicariidae. 0 restante vem da familia Tyrannidae, principalmente Todirostrum e Lophotriccus, que tém nomes préprios (vide Fig. 42). Trés etnogéneros correspondem as descontinuidades cientfficas: uruwa corresponde aos géneros Myrmothera e Grallaria (Tovacas); wina corresponde aos g@neros Formicarius e Myrmornis (pinto-do-mato) e wyramaraka corresponde ao género Todirostrum (Tyrannidae) (sebinhos). Um relacionanento (etno-subfamflia) 6 feito pelos Nayampi consistentemente entre os wina (Formicarius), wyrateast (Gymnopithys rufiguia), e taokawar (Pithys albifrons) por razio nao verbalizada pelos Wayampi. No entanto, Gymnopithys freqlientemente é visto juntamente com Pithys e outros Formicariidae acompanhando correigdes de 112 “POL sLaUaLD OBd{sodwo) (9) *[e1D0S RuNgn4ysa (gq) “WEMAdLMidLd kL] {uesoUIa ep UeeUL| ELNbsevaLH (y) “zp BuNBY avaruata 2 Ta semaatatasg 113 formigas, se alimentando de outros invertebrados. Poderia ser que a etno-subfamflia, neste caso, fosse feita cognitivanente por causa da associagao habitual da presenga ffsica de umas espécies com as outras. Piriri (iMyrmeciza ferruginea) & o chefe da etnofamilia e é um nome ononatapéico. Abaixo do etnog@nero, piriri ha pelo menos noveespécies (Formicariidae e Tyrannidae) relacionadas con Myrmeciza pelo canto. 29. Sa*imapewar A etnofamflia sa*iman correlaciona-se principalmente com a fantlia Formicariidae, mas inclui tanbém Furnariidae do g@nero Synallaxis e todos os Troglodytidae (vide Fig. 43). Os Wayampi nao verbalizam como este agrupamento é distinguido dos piriripewar ou dos wyrapitawa. Nuitos se encontram no chao até a altura média da floresta e se alimentan de insetos. O chefe da etnofanilia, sa‘iman, Thamnophilus amazonicus, tem um canto esquisito e forte. As outras chocas (Sakesphorus canadensis, Cymbilaimus lineatus, e Taraba major com cantos do mesmo tipo) tambén fazem parte desta etnofamilia. A distingao entre os etnogéneros 6 feita principalmente por critérios mor folégicos ¢ de canto. Os Troglodytidae sto unidos latentemente na mesma etno-subfamflia e os Synallaxis so agrupados no mesno etnogénero, pelo nome onomatopéico teretere. Sietata (Myrmotherula surinamensis) esta relacionado ao nivel da etno-subfamilia com os Synallaxis, 0 que pode ser uma correlagao cognitiva feita por motivo de associagao de habitat. Meyer de Schauensee & Phelps (1978:207-8) diz que o Myrmotherula brachyura frequentemente forrageia em bandos mistos de p&ssaros.

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