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DEDALUS - Acervo - FFLCH-FIL 461 ‘© negro no mundo des beances. um | =e | } | | CORPO E ALMA 0 NEGRO DO BRASIL NO MUNDO ; San a BOS BRANCOS Diregio do ‘Prof. Fernando Henriqce Cardoso XXXVI Novembre: de 1972 INTRODUCAO Este livso retine vitios escritos, publicados em perfoclos dife- rentes, A maioria foi redigida recentemente (entre 1965 ¢ 1968), No entanto, alguns foram claborados em ¢poca mais distante (em 1942 ¢ 1943 ou em 1951 © 1958). O tema central e dominante consiste sempre nafgituagio. do niegro_¢ co mulato na sociedad busi, visa a partir de Sio Paulof Esta cidade € mais tpi eamente brasileira do que parece, no seatido do que foi tradi cional ou, no oposto, do que & moderno, ofereceado um bom campo_para_o estzdo do padrio brasileito de relacSes. raciais. Como se pode vee, através dos livros de A. Taunay, H, de Freitas, A. Ellis Jr., R. Morse, E, Silva Bruno, G. Leite de Barros ¢ tantos outros, a cidade teve um longo passado de vida tradicional, da qual despertow para urbanizar-se ¢ industrial ante ara se converter em uma “mettdpole tentacular”. ss0, as das diwensOes, que articulam as expe. i ‘0 comum, do reine escra .Seia_’s_transformagGes.mais_avancadas_da_ Foci petitive” s io inch > Brasil? Por essa razéo, quando planejamos igacio, 0 Professor Roger Bastide e eu demos grande atencio as dois focos {vistas ¢ ligados como tendéncias que chegam a torserse concomitantes, em um processo continuo — ¢ nio como polos extremos ¢ estanques de um suposto gradient valturel,, sé tuado fora € acima do tempo e do espaca, camo & de gos de uma sociologia descritiva, que teve a sta voga no Brasil [T'am- bbém no tenzamos explicar 0 presente nelo passado, ov que seria irreal numa saciedade de classes em formagdo © ero sio. Porém, combinamos a andlise = lise diacranica, num modelo quase dialético de fusgq.da perspectiva histdrica com @ perspectiva estrunutal-funciongl} fm conseqiiéncia, © passado © 0 presente foram reconstraidos conjuntamente é interligados nas pontos de juncio,lem que a sockedade de classes emengente lan- é ela deparamos coi riéncias € contatos vocrata_¢ seni 7 §#Ve Stas talzes no anterior sistema de castas © estamentos ou AOS duals a modetnizagio nto possufa bastante forea para expur- jase de hibitos, padrdes de compurtamento © fungées sociais Institucionalizadas, mais ou menos atcaicos,f Assim, tornou-se pomlvel compreender coro 0 preconccito e a discriminagao ra clais, 0 modo sepundo o qual se manifestam no Brasil, sc ex- plicam diferentemente, segndo se considere a orpanizagio da sociedade. senborial © escravocrata; os efeitos da lenticlio com que negtos e molatos foram incorporados ao sistema de classes: ou 0s complexas cle valores, atitudes e otientagSes de comporta. mento vinculados aos estilos de vida dos diversos segmentos sociais ou. dos vtios grupos. éimicos ¢ zaciais, mais ou me determinados por situagées de classes, consolidadas ow nfio/_A intengHo foi Ligar a desintegracSo do sistema de castas © esti ientos 2 formacio.e i expansfio do sistema de classes, para desco- brit como yaridvels independentes, constienidas por fatores psico- sociais ou séco-culturais baseados_na_claboraca0_h ie los Trace niffica, que impunha aos autores que © complezo “cadinho de relacées taciais”” (que se constituiu € se exansfotmou, complicandose incessantemente, em torno da cidade), fosse considerado como um fafo fotal, ou seja, sob todos os aspectos que pudessem ser relevantes para uma descricio socio- lopica e uma interptetacio causel focalizadas sobre certos pro- blemas fundamentais.Algumes andlises, que nfo puderam ser cabalmeate completadas nios trabalhos em cooperacio com Roger Bastide, foram zetomadas em obra posterior, escrita com sua generosa anuéncia. Anenss os msteriais relativos ans aspertas PsicolSgicos, explorados tengencialmente nas abordagens desen- volvidas ou nelas discutidos de forma limitada, sofreram uma exploragio que nfo fax jus 20s materiais recolhicos (1), Os enssios acui reunidos nfo foram redigidos conforme «um propésito preestabelecido. Preparados 20 sabor das citcunstin- cias, cles itm, predominantemiente, em torno dos resultados (1) (GE, Roger Rasiide « Mlorestan Fereandes, O Precowceito Racial or Sio Pavfo, Sto Paulo, Instinuto de Administeage de U-S.P., 1951; fs rcapioulos redivides ex colaboragio com Roger Basride foram pabli- ids, parecladament>, pela tev'sta Anbertbi (Vols, X-XI-N.% 30.34, 1953), ceditados em ums obra cooperativisia (Hditore Auhambi, Relucies’ Rociais entre Negres ¢ Broncos cm Sao Paulo, 1933) e finalmente publicados em vont edieio autémoms, que coal 0 projet inicial da pesaiisa eum 8 Fendmeno gen emplticos ¢ tedricos da pesquisa feita em Sao Paulo, com Roger Bastide. Embora eu tenka suplementado a pesquisa poslerior mente, colhendo mais material de campo ¢ dando maior atencio as coleges de jornais do “meio negro” ou as fontes estatisuicas, © fulcro das questes debatidas ache-se no projet inicial da investigacSo. Os seis primeitos trabelhos € 0 tltimo capitulo prendem-se diretameate 2 temética dagyele projeto, embordg_naluteza do “problema racial brisileito™ Aeja conidetada cle ws forma moa livze, direta © absixata, em virmide dos tipos de publica a que se destinavany/ Eles contém uma conizibuicgo nova em dois pontos. Primeito, porque focalizam a nossa pectliar resistéacia ao reco- nhecimento das “barteiras de cor” ¢ 3 nossa negligéacia tipica do “Impasse racial” de forma especifica,t Partindo dos resulcados da investigacio, era possivel movimelitar a discussio. com maior liberdace e ir mais ao fundo das coisas, através de zeflexGes que sio por assim dizer pedagdgicas. O conhecimento produzido tem 4 sua T6gica ¢ ela pode ser explorada racionalmente: no primeira liveo, com Bastide, ¢ no segundo livso, a verdade consistia mama verdade enzpiricamente eproximada. A verdade assim estebelecida abre novos caminhos ao entendimento da situacio ¢, quigi, sua transformacio. O socidlogo, considerado individualmente, ode fazer muito ponco em ambas as diregdes. Consciente disso, aumen- tei o meu esforgo auma dizecio educativa, em si mesma visceral- mente contritia & perpetuacio do nosso farisafsmo racial. Segundo, porque tentef empreender uma Sondagem horizontal, com os pre- citios dados estatisticos disposiveisj com o intwito de vetificar os limites dentro dos quais a exifema desigualdade racial exis: tente em Sao Paulo vem a ser mats getal do que se supde, repe- tindose em outras unidades da federacéo, O gue. se, cones sobre_a_universalizacio do trabalho escravo ¢ do_padsio_bisico de relacio racial assiméirica fazia presumis que a coaceStracto “sacial” da renda, do prestigio social ¢ do - itu un Sat orate ee fcmonstrando que a maior miscegenasi a hipoiese, estudo adicional, claborado por Roger Bestide © Pierse Var dea Berpue (Roger Bastice © Florestun Fernandes, Drescos « Negros em Jao Pasta, 22 edigio, Sto Paulo, Corapanhia Paitora Nacional, 1959; Florestan, Fer nandes, A Integracio do Nesro- nz Sociedade de Clases, Sio Paulo, Tino. grafia da Fecaldsde de Filosofia, CiSncias © Letras éa U.S.P., 1964; 2° cdicao revises, So Paulo, Dominus Edison Edicora da Universidade de Sao Paulo, 2 vols, 1963). visibidade do “negro” e do “mulato”, em condiodes de sup tolerincia humana “ideal”, nao sc ascociam a. tansformagbes SStruturais significativas na participacio racial _(€, portanto, na sstratificagio racial}. Em_conseqindls, temox de_sdmitir que o mito da demo. ccacia racial fomenta outros mites partlelos, que concortem esconder ow “para enfe! Tidade”, que pecftthadas gem be meso els, “mulatas” “ineates 4 Bahia, Minas Gérais, por exemplo, suscitam reflesden amargas, 0 que dizer dos dacos relativos a0 Rio de Janciro? Costa Pinto havia considerado 4s tendtacias descritas com grande penetragio ¢ ho- nestidade cientifica. ‘Todavia, os dados sobre a participasio edu- cacional (ou, sctia melhor dizec, a falta de participagio ednca- ional) sugerem tum quadro sombtio (freqientemente suscitado em vo pelos esponidicos mavimentos sociais que ecloditam no “meio negro” carioea). O que € surpreundente, para mim, é jie na pesquisa efemnada em Sio Paulo ouvimos uma freciieate romanticizacdo do Rio de Jancira das presumiveis “melhores condicies humanas” abertas ao negro c ao mulato, seja em tcrmos de trstamento pessoul, seja em termos de oportunidndes concreta de ascensio socinl e da ncomodacio inter-racial “‘democrética’ Essa comparagio eatre estados presumivelmente tio diferentes Jevanta vm problema fundamental para fututas investigagses: até que pont Jato” esto socializados no 6. para tolerar, "Zomo oral c até enlossar as formas. ignaldade. racial, co npo- ‘entes dinlimicas == 5 preconcelto racial dissipated kati foal gue ve cabal pels rence an argem do mundo dagio sistemdtica das outras racas ¢ dos mesticos, que se dl ficayam (on se desclassifi ms ee —possui_ pouco valor nesta discussio, Socialmente falando, ele nip ern Branee ¢, a julgar por conhee imentos que obtive ao longo de minha cat- reins profissional, continua a nio ser considetado socialmente como brace. Cheguci, mesmo, a ouvir vina caractetizagio piblica (de brasileiro racial ¢ socialmente muito Brasco), em uma cidade famosa do Notdeste, em que esse tipo de “homem branco” foi caractetizado como “verdadeico animal” (0 equivalente da besta no regime da escravidio}. Concudo, issa carece de importéncia nesta discussio preliminar. O negro foi exposto_a um social que. se_oxpanizaz_nara_as segmenios_privilegiados da raca dominaate. Tile no foi inerte 3 ese mundo. Doutro lado, esse 4 endo tambéfn nao ficou imune_ao_negro, Todos os que Jcam_ Gilbetto Froyre sabem qual foi a clupla interacio, que se esta- bbelesen nas duas direcGes. /‘Todavia, ean aenhum momenzo esas Jinflngnsss teciprocas madam o sould do processo social ©. | Ree engi see | negro_permeneceu ado que io se zmano ¢ como “igual” Quan | ace revolucio social brasileira, na qnal esse mundo se desintogra em suas ralzes — absindo-se ou tachan- dose através de wétias fondas, como assinalon Nabuco — nem | por isso cle contermplou com eaitidade as “trés ragas"” e os “mes: tices” que nascctam do sen incereruzamento. Ao contrétio, para, articjpar desse mundo, o nejro ¢ 0 mulato se vitam_compelids ‘g-ge Teentcae cour 6 Pranueamertfa palceseial e port Te Seen le salt reas naka nate a ecittiey neaee paces do “mundo dos brancos” Essa situacio constitui, em si mesma, uma terrfvel provagio, Que equilfbrio podem ter o “negro” ¢ o “mulato”” se sio expastos, par principio ¢ como condigio de rotina, a formas de auto-atir- magio. que s40, a0 mesmo tempo, foment de suonezicio? No a ee iseensao social ou no fim de um Jonge. “processo de aper- 9a indivi cobre que extral o sc Rava ee eas oe i A sua familia e A prépria ordem social caistente. Embora i sé jonalmente, rompida na inicio do rocesso,' nenhum “negro” Jato” noderia ter condigies le cizeulago e de mebilidade se niio correspondesse a seme idade eliminow accitava o céigo moral e os interesses a0_seahorial. Os éxitos beneficaram 0 negro como tal, 1 obra_da capacidade de imitagio_¢ da.“box_cepa’ ou do “bom. exeinplo” do prdprio brance. Os insucessos, por sua vez, eram airibuidos ditctamente 2 incapavidade residual do “negro” de igualar-se 20 “branco”. Hssas figuras desempentsacam, dessa ma neita, © papel completo da excecio que confirma @ repre. For neciam as evidéneias que demonstratiam que o dominio do negro pelo branco & em si mesmo necessdrio ¢, em vltina inseincia, se faaia, ean beneficia do pedprio negro. } [Ror af sc y@ 0 que resultou da ordem social vinculada a escravidao. Como nfo podia deixar de sucedcr, miscepenacio Mobilidade social vertical operavam-se dentro dos limites © se Bundo as conveniéncias dasucla ordem social, na qual eles preen ching fungSes sociais relevantes para a diercaciacio e a continu dade da estratificaco_racial_engendrada_pela esceavidto.| Apds 2 Abolicio, sem que se manifestasse qualquer tendércia ou pro- cesso de recuperacio humana do negro © do mulato, esses fend sucnos foram focalizados 4 luz dos requisites. ccondmices, furidicus € politicos da ordem social competitiva. | Passouse_a_ver nesses fendmenos a matrix da democracia racial ca fonte-de-sohicio/' pacifica pam @ questao racial no Brasil, A parte o que haja dé verdade €m tais verbalizcies, o [2t0 ¢ que ainda hoje a_misce- genacio nifo far parte de um processo sogietielo de integracio das racas” em coadigacs de ipnaldade social)/A universalizacsio do. / tabalho livte nao heneficiou 0 “negra™€-0 “‘mulato” schmersos na economia de scbsistincia (0 que, «lids, também acontecen com os “brancos” que fizessem parle desse setor); mas, nas condigdes cm que xe eferuoy, cm regta prejudicou “negro” € 0 “mulato” qve fariam parte do sistema de ocupacoes assala- Hadas, mais ou. menos vitimados pela competicue com o emi grante. ]O resultado foi que, trés quartos de século ands a Abo- Tigao, ainda. sé0- pouco numetosos os segmentos da “populacdo de cor” que conseguitam se integra, efetivamente, na sociedade competitiva e nas classes sociais qque_a compécna-—7As evidénctas a respeito eo conelusivas (} © indicam que afida temox um bom caminho a andar pata que a “papulacio de cot”, sob hindtese de crescimento econdmico continuo ¢ de persisténcia da livre competicio interracial, alcance resnlradas cquivalentes aos das brancos pobres que se beneficiaram do desenvolvimento do Pals sob o regime do trabalho livre. (3) Subse o assunto cf. especialmente L.A, Costa Pinto, O Negro 0 Reo de Janciro, ce3. TET; Florestan Fernandes, A Trntegragio’ do Negro 8 Sociedad? de Classes, pp. 100-133. 28 Teresce no s6 que niio se processou, uma democratizacio real da tenda, do poder e do prestigio social em termos racais. As opormnidades ‘sungichs foram aprovettadas pelos grugos me: ‘Thor Tocilizndos da “raca dominante”, o que conteibulu para aoménrar a concentragio racial da senda, do poder ¢ do prestigio social em beneficio do sranco. No contexto histérico surgido ap6s @ Abali¢fo, portanto, a 1d@@ da “democracia racial” acebou sendo um expediente inicial (para nfo se enfrentarem os proble- mas decozrentes da destitvigho do esezavo ¢ da espeliaczo final de que foi vitima o antigo agente de trabelha) e vima forma de aco- inodago a ma duta tculidade (que se mostrou com as “popula- ges de cor" nas cidades em que clas se concentraram, vivendo piores condigées de desemprego disfarcado, miséria sistemética ¢ desorgenizagio social permanente). |O “negro” teve a opoi tunidade de ser livre; se nfo conseguic iguglat-se ao “branco”,.” © problema era dele — nfo do Mbranco”f So a égide da idéia de democracia racial jystificouse, pois, «unis extrema_indif Fenga ¢ fafa de soliditiedade para com um sor ds coletiidat “Gie io possule condigoes prSprins sara enfrentar as_mudancas , tciriétatas pela cniversalizgao do trabalho live e da competsio, “Ao mesmo tempo, assim que surgizam condigéea para que o pro testo negro eclodisse (logo depois da primeira grande guerra e, em particular, no fin da década de 20), sais manifestagbes foram_prosctitas como se constitufssem um “perigo para a socie dade", [Fm consegiigncia, as primeiras manifestagdes espontineas do “degro” na Tuta por certas condigdes de igualdade racial cm bases coletivas ecloditam no wuzio, nfo sensibilizaram o “branco” endo chegaram a dinamizat nenbum mecanismo eficiente (en ten- déncia atenuada que fosse} de democratizacia racial da_renda, do prestigio social ¢ do poder. Esse quadro revela que a chameda “deniocricia racial” no tem nenhuma consisténcia e, vista do Angulo do comportamento coletivo das “populagées dle cor”. constitui um mito cruel! Ainda assim, mau grado 03 contornas negatives desse quadro, existem certos elementos potencialmente favorivels & emergéncia € a con- solidaggio de uma auténtica dlemocracia racial no Brasil. Primeito, na economia de subsisténcia, para onde refleiu grande parte da popnlaciio de arigem esctava au mestica, o nivefamento € um Fato / incontestivel ¢ contribuin (ou est4 cortribnindo) para eliminar| 0 efeitos econmicos, sociais e culturais daa diferencas raciais Segundo, o desenvolvimento econdmico recente (inicialmente, \ da industrializagio acelerada no Sul, a partir de 1945; em seguida, } 29 {com a politica de recupcracio econdmica do Notdleste e de outras | Areas ei que a populagSo mestica € preponderante), tom favo. ‘recido, ats que 20 passado, a “populagao de cor) Os dados ‘mostfam que os seus componentes contam, atualdnents, com oper. tunidades comparveis 4s aproveitadas pelos imigrantes no fim do séeulo passado © no comeso do século XX. Embora tooo ja seja uma desvantayem, significa oportunidades de emprego e de integracfo no sistema de classes. (Tercciro, com a desagtegacio da oxdem escravista, se nfo houve um aumento répido da tolerin- ela racial, por causa da persiseéncia do antigo padigo tradiciona- lista de relagdes raciais, ocotret pelo menos um abalo nos focos que mantiaham ss barteiras socials que sepatavam as “rages”. Daf resultoz um abrandamento on uma atenuagio dos critérios intransigentes de avaliagfio racial, que prejudicavam o “negro” ¢ 0 “mulato” de forma itremedifvel ¢ sisteméticag) Esses trés elementos abrem novas possibilidades, pois com a ctescente opor- tunidade de emprego o negro conta, pela primeira vez, com pro- Dabilidades de ascensao social que o Classificam na préptia estru- tura da sociedade de classes; ¢ com as tendéncias de suavizacio dos critétios de avaliagio racial o negro deixa de ser, inexoravel mente, a mera “excecdo que confirma a regra”. Essas potencial dades so significativas e, se continuarem a se expandit, 0 Brasil # poderg converter-se na primeira grande democracia racial do mundo criado pela expansio da civilizago ocidental moderna, As Perspectives Faturas Essas_ conclusiies sin altamente promissoras. Entretanto, sfio notézios os efeitos de certas influéacias que contrariam a via- bilidade ¢ a normalidade de tal desenvolvimento. As peculiati dades do Brasil, a esse respeito, também sio notéveis. O isco, no caso brasileito, no procede (pelo menos por enquanto) do Bgtavamento das tensOes raciais ¢ das perspectivas (pelo menos imediatas) de uso erdnico do conflito racial como técnica de mu- danga, Ele prowém da persisténcia de estruturas atcaicas que atravessam mais ou menos incdhumes as grandes transformagées ‘Que esto aletando ¢ sociedade brasileiza, Aqui, € preciso atent para o fato de que a modetnizacio no se processa de forma j igual- mente homogénca em todas as esferat da vida social. A implan- tagao_ da ordem social competitiva teve conseqiiéncias profundas, principalmente para o desenvolvimento econdmico e a otientacio do capitalismo numa ditegZo tipica do mundo moderno. Todavia, 30 a orden social competitiva néo se impés por igual em todo Brasil. [De um lado, seu desenvolvimento répido coincidiu com a expansdo do calé ¢ com o surto urbano-industrial do Sul. Bhs beneficiou os cfreulos da “raga dominante” que ocupayam po: sigées estratégicas na estrutura de poder econdmico politico ¢, numa extensiio um pouco menor, de inicio, os imigrantes europeus. De outro lado, ela alimentou 9 comportamento inovador das elites no poder ¢ dos grupos ascendentes de modo confinado, Ninguém se preocupo com as qluestées que cafam fora das exi géncias mais premences das condigées ccondmicas, politica: ¢ juridicas da expansio do capitalismo (no imbito da protectio do café e do estimulo a0 surto industrial) [As contradigdes sociais herdadas do pasado ¢ que entravavam a integracio do “negro” edo “mulato” & ordem social competitiva emergente nfo interes- savam seniio a “populagio de cox”, de resto a tinica diretamente prejudicada pot aquelas contradicées, Nao é de estranhar, pois, que 08 setores favorecidos pela dinamizaczo do desenvolvimento capitalista voltassem as costas ao drama humano dos descendentes dos ex-escravos ¢, ainda mais, que ignotassem as implicagSes nega- tivas da falta de integracdo da sociedade nacional a0 nivel das relagbes raciais]/ Eles no se mostraram sensfveis a outras mani- festagdes do mesmo fendmeno em niveis que os afetavam de for: ma mais direta, como por excmplo o da falta de integrasio do mercado em escala nacional © o da falta de integrcio politica da Naso, No conjunto, a polftice que fomentaram tevelouse eficiente no plano restrito do crescimento econémico mais aces- sivel, mas no levava em conta o problema do equilibrio da socie- dade nacional come uma ordem multi-racial Em conseqiiéncia, a reintegragio do sistema de relagdes ra- ciais ficou entregue a processos sociais, espontineos,/ Na conjun- tura histético-social que abarca os trés quartos de século da era republicana, isso significou que qualquer mudanga estrutural na csfera das relagdes raciais iria depender do impacto do crescimento econémico, do desenvolvimento urbano e da expansfo do regime de classes, Ora, até 1945, grosso modo, esses fendmenos tiveram por cendtio um palo limitado: 0 Sul do Brasil, especialmente 0 cixo RioSio Paulo ¢ os brancos que comandavam a economia © a politica dessa regio, com os contingentes de imigrantes que se inclufram na torrente histérica. /Operowse, pois, mum contexto de mudanga sécio-econémica relativamente acelerada, uma grande concentracio social, regional e racial da renda, do prestigio social € do poder, Os dois resultados gerais desse fenémeno se expri- 31 mem: 1°) aa absorgo do antigo padio de relaggo racial pela sociedade de classes; 2.°) na estaguacio relativa de outras écas do Pais ¢, em particular, das dreas em que prevalecia a economia de subsisténcia, A isso corresponden, naturalmente, uma tendén- cia generalizada de persisttncia de fatores arcaicos ¢ atcaizantes na esfera das rclacées racials) De wm lado, porque « urdem social competitiva mio expargou a sociedade brasileia de avalisgées taciais inconsistentes com o regime de classes ¢, dado o estimulo 3 concentragio racial da renda, do prestfgio social e do poder, incentivou nowos focos de dinamizagio do “preconceito dé car”, segundo formas mais explicitas ¢ chocantes que no passado,) De outro lado, porque a relativa estabilidade das outras regides con- tribuiu podcrosamente pava conservar mais ou menos intatos vi- tios aspectos da ordem cradicionalista que colidiam com a inte- stasfo € © desenvolvimenta de uma sociedade nacional. Tntre esses aspectos estava, naturalmente, 0 das relagdes racials. O tinico sector que poderia contribuiz para a difusio de avaliagées raciais igualitéries, que cra o da economia de subsisténcia, estava bloqueado e 0 nivelamento social que ele fazia era um’ nivela- mento pot e para buixo, pois “brancos” ¢ “negtos” se confun- diam denteo dele como parte da “tale” on da “geate baixa”, 10 perigo potencial de semelhances desenvolvimentos tem sido peteebicos socialmente. Primeiro, porque as disparidades de distribuicio social da renda forcaram distingSes sociais que se tornaram demasiado rigides cm compsragio com o que se admite consensualmente,’ Como essa distingGes eclodem com maior nitides nas relagées de “brancos” ricos com “negros” ou “mestigos" pobres, engin o temor agentuado de que eles “intro- duzam no Brasil © conflito racial”! Segundo, porque as mesmas dispatidades agora envolvem brancos com tradigées culturais di- diferentes. Descendentes de imigrantes de varias origens fazem parte das elites no poder e emhora compartilhem da ideologia racial dominante, fazem-no em funco das tradi¢Ges culturais que transplantaram de outras comunidades nacionais. Por ai também se instilam formas dle avaliacio ¢ de comportamentos que calidem com a propensio de decoro ¢ de harmonia aparente que as {2- milias tredicionsis brasileiras sempre procuraram fomentar no trato com o “negro”. Terceito, porque a ascensio social do negro e do mulato estd §e processando, de manciza crescente, de forma que dificulta a preservacio das antigas técnicas de sociali- zagfo e de controle do negro e do mulato) Nao sé muitos repelem oy conhecidos mecanismos de acomodagao racial inerentes & mo- 32 bilidade per infiltragiu; a prupensdio do “nave: negro”, mais ou menos sensivel 4s exigénciss da ordem social competitiva, entra cam conflite ctescente com 4 manipulacio de sens interesses, sea- timentos ¢ aspiracties de acordo com @ model da “excegto que confirma a regra”./ Esse “novo mcgro” uspira a viver como 0 “branco” de nivel social equivalente © prefers isolar.se social. mente a praticar um comércio racial que prejudicaria sua con- cepefo ds dignidade humana. Neste foco surgem as evidéncias ue atormentam mais profindamente ¢ desoricntam as avalingSes dos cfrenlos conservadores da “raca domminunte”, pois véem nessa propensio uma reheldia “contra 9 branco” ¢ um “petigo racial” a ser contornado. © exemple fornecido pelo que acontecen em Sio Paulo em conexio cam o segundo ciclo da tevolugio industrial mostra que a mudanga social expontines tem probabilidades de sassz essas pequenas fontes de rensies.Depois de 1945, o erescimento eco Bémico constante ¢ a necessicade de procurar a mio-de-obra dentro da sociedade nacional abriu muitas portas que antes esta- van fechadas ao “negro” © ao “mulawo%® Mesmo firmas que / fazem restrigSes abertas ao “‘crabalhador de cor” tiveram de pro- ceder de modo mais ou menos tolerante. Isso facultou a inclusfio a0 sistema de trabalho a maior némero 5 “pessoas de cor”; @, de outro lado, ajudou a provoear migragdes inteznas que zendem a redistribuir “‘nogros"” © “mestigo:” deatro do Pais! (o que aumenta, concomitantemente, a visibilidade do “homém de cor” ¢ sua tolerancia telativa por segnentos mais ou menos exclusi- vistas da “raga dominanie”). Contudo, esse process. € anvito deat, O seu resultado de maior envecgadwra foi © aparecimento de uma classe média de cor {sob muitos aspectos uma classe média aparente}, que nao revela muita disposigio a romper com ‘os bloqueios que impedem o aproveitamento mais rapido do “bomem de cor” ¢ anvlam ou restsingem os efeitos de sua mobi- lidade social vertical. HA matéria para pensar-se, portanto, em risces potenciais. (Na medida em que os diereates cfrculos da “populacdo de cox” passcm a purticipar ativamente das aspiracbes de emprtgo, nivels de vida ¢ opactunidades de ascenso social gue se tendem a universulizar graces ao desenvolvimento urbano, & presumfvel que a tolerincia do “negro” e do “mulato” diante das “injustigas sociais” que sofrem info evoluir da passividade & agressividadeJIDoutro Iado, a questio racial também afeta_o equilibria da sociedade sacional, Nao poderd haver intepraso nacional, em bases de um regine cemocritico, se os diferentes 3 33 estogues riciais nfo contareim com oportunidades equivelentes de participagio das estrutares nacionais de poder. | [PA conjutagdo desses riscos s6 poderd ser obtida através de um radical muxlangs de atitudes diate da questio tacial. Im: porta, em primeiro lugar, que se inclus 0 “ © Stulato” (como outras “minorias €nieas, racials ou nacionais”) na_pro- gramacio do desenyalyimento sécio-ccanémica e nos” projetos que visem a svmentar a eficscia da integragfo nacional, Dada a concentracio racial da rencla, do prestigio social e do poder, a “populugio de cor” nfo possui nenhuma vitalidade para en- frentar ¢ fesolver seus problemas materials ¢ montis, Cabe a0 governo suscitar ltcrnativas, que vicium, alids, tardiamente, Nessas alternativas, escolarizacio, nivel de emprego ¢ deslocs- mento de popnlagdes precissriam ganhar enorme relevo, Em soma, af se necessita de um progratna de combate 2 miséria e a sens efeitos no ambito dessa populacio.\Em segundo lugar, seria necessirio que o “negro” ¢ a “tmulato” midassem suas atitudes diante dos dilemas do “homem de coz”J/Como os vinicos inte ressadoo diretos nos risultedos desea inlegrecio, deveriam devo tar-se a tal objetivo com maior tenacidade ¢ discernimenta, seja para conquistar uma posicfio na saciedade nacional como € en. quanto “grupo”, scja para forcar ajustamentos mais frutfferos por parte dos “‘brancos”. Em terceizo lugar, cabe aos psdprios “brancos” um esforco de recducasio, para que deixem de falar em “clemocracia racial” sem nade fazer de coneseto a seu favor ¢ faxendo multe no sentida contriziol Serf diffell que o govern’ ou 03 pidptios componeatcs da “populagio de cox” consigam éxito diante da indiferenca do “branco” nesse assunto. [I pre- \ clso que se compreends que uma socicdade vaciunal niu pode sez homogénea ¢ funcionat equilibradamente sob a permanéncia persistente de fatores de desigualdade que solapam a solidariedade nacional, Além disso, cém de evoluir pura nogSes menos tos € egoisticas do que vem a ser uma democracia/) Nada disso se ‘ conseguini dentro de um prazo curto, porém, através dos efeitos da mudanga social espantinca. O que ela podia produzit estd patente € mostra que, em vex de climinarmos as contradicées, aumentamos as tensoes antigas ¢ criamos outras novas, de poven- Galidade destrutiva ainda maior. Convém, pois, que se_ inicie ‘um program nacional voltado nara o dilema social das minorias que nao tém condicdes aucdnomas pata resolver rapidamente 03 problemas cle sus integracdo & ordem econdmica, social ¢ politica inetente 2 sociedade nacional, 34 BIBLIOGRATTA SUPLEMENTAR AZEVEDO, ‘Thales: Les Blites ote Couleur dans Une Ville Brésticune, Paris, UNESCO, 1953, BASTIDE, Roger ¢ lemances, Flore 22 ed. teviva © auilinds, 5 1859, BICUDO, Vizginia Leoni: "Auiwudes dos laren des Grupos Bscolaces em Religio com a Cor de Seus Col XESCO-ANIIEMBI, Relagies encre Negros ¢ Broncos 2 Aphembi Linda, 195%, pp, 22731; Molatos em Sas Pauls", Sociologia, Vol. IXN 3, Sio Paulo, 1947, pp. 195219, CARDOSO, Femando Hencique: Gapitetiono e Bscravidéa na Bra) Me- ridional, Sio Paulo, Ditusio Furopeia do Livre, 1962. CARDOSO, Ferntodo Henvigue, € Tani, Octivio: Cor « Mabitidade Sosiet ‘em Hlorandpolis, S80 Paulo, Companhia Editora Nacional, 1960. COSTA PINTO, L. 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Broncos ¢ Negros em So Palo, rachis Tditora Nacional, 35 MOREIRA LETTE, Danse: “P:econceiio Racial ¢ Pattiotismo om Seis Lintos Dicticos Primirios Brasileiros’, Bolecinr de Psicologia, No 2, 0p. ak, pp. 206-231 NOGUMIRA, Otey: “Relactes Raciais no Municipio de Ttspetinings”, UNESCO-ANHEMBI, 02. cit, pp. 362-554; “Pseooneeizo dé Marca ¢ Precouceico Racial de Origen”, Anais do XXXI Cangresso de Americaniseas, Sao Panjo, FAitosa Aahembi 1.143, 1955, Vol, L (09134; “Aitudes Desfavoniveis de Alguns Anunciantes de S30 Pan‘o om Relegio aos Empregaclos de Cor", Sociologia, Sao Paulo, Vol, IVINS 4, 1942, pp. 328-558 PIERSON, Donald: Braneos e Pretos se Buble, Sio. Paulo, Companhia Esfior Nacional, 2045; “Le Projugé Racial d'Aprés !Btude. des Situsslone ‘Raciales", Badletin Lnrerationsd dex Sciences Soctles, Pasis, Vol. 11 N? 4, 1950, 3p. 486:500. PRADO JUNIOR, Caio; Formsyao do Brasil Contemportneo. 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Tsso ocort jAaturalmente, como uma manifestagio de concra-ideologia racial. No eatanto, o fator psico-social dinimico ¢ a defesa do status, da possibilidade de tzansmitilo como paste de seu legado & familia c das perspectivas de “continuat subinlo”J/ Para atingit tais objetivos, parcialmente inconscientes, a negro eo mulata véem-se forgedos a Iutar contra as {uneéics sociais do preconceito ¢ da discriminacio raciais, nas formas que ambas assumem no Brasil, ¢ aeriar uma nova tradic3n de competisio com o brancu em todos os nfveis da vida sockil, Gragas a esas otientagées, no sé am- pliam os afveis de pparticipacio sdcioecondmica e. cultural. Tam- bém passam a dominar as técnicas sociais usades pelo branco das diversas classes soviais para galgar as posigGes mais ou menos acessiveis as suas prodabilidades de ascensio social 56 QUADRO I Populacio Brasileira, segundo as Regides Fisiopréficas ¢ a Cor .ecenneamento Geral) Be BR SR SR SE FS 3 | $8 ge BS ke Se be Fe Pe eed ef] $8 88 BS BS oe Be Hy) $3 SS 85 BS £2 Ss & = = BR LV SS He Se 28 2 | 38 "8 43 S* =a S38 E oe oR R £ sy} 2 ea = e 2 | 88 AR SR Re =e SE 2 | 88 88 RS he ce ge S| 8S 89 58 8 ER ze Sas = £ | 8° BR ee 8° gx gs ire BR” BN BY gi Se a é « By 4 a g g £2 4 a3 ; se ft 2 8 welhoy Necional de U'statitica, Recenseumenty Geral do Grifico do IB GT, 1956 (Volume I, p. 5). ica — igo ilelro de Geogralla © Estat 1950), Rio de Janeiro, ‘Ser VILL Fonte: Instinsto Beas QUADRO 1 istribaicdo Percentusl da Popatsito Brasileira segundo a Cor, pelos Regibes Fisiogrijicas do Pais® (19503 QUADRO IV Diswribuigo percentud das Pessoas Keonamicamente Alieas da Populagio Brasileira, segunda a cor, em 1950 Regis Brawcos | Mudator | Negros | Amarefor ie T | forte | 18% | 85% 16% | 048% INordeste 179% | 36,79 241% | 0,059 [Leste 308% | 435% ne | 18% sul 463% | 5.1% 192% | 96,298 [CeatroQeste | 56% | 4% 31% | 1,596 IBeasél 400g | 100% 100% | 100% et Dt * Fotam omiticas as respostas sem cit dodarada QUADRO rr Posicio wa Ocupucio das Pessoas Beonumicamente 4 Brasileira — 1950* jivas da Popubspio POSIGRO NA OCUPAGAO lz ; Cor | Empre-| Emprey j Conta Sent i eee doves | Prépria Dect. de i ' osifz0 ABR 31% 28,3056 44.90% 1.84% 342290) 091%, 095% 245155] ast] 9298 | 317% Quapro ¥ Diplomedis cate 19 wtas © welt va Populate: Meo += 3950 4949919 6083% voi2 41 23,50% 15,36% 25003 031% 13661 10056 | | ' ' 1249 578 | 19460 | 319197 82,6605, 78483 12,49% 3,09% 11018 15% 628123 100% Eneprege | Per Conta Basra 2.873 663 S901% 1457496 29.93% 505.968 10359 33998 70% 41869 LE 10088 Monbro de Rosie | 17329 6170% | 799 824 | 27,56% 274 988 j 37% 36793 | 127% 2902 134 100% Fonte: op. eit, vol. 1, pe 20, * Forum omitides as respostas sem dedazagio de posicio, Brancos | ‘Molaro Amarclos 4 Fonte: Op. city ol I, ® Focam omitides as respostas sem declaracio de cor e de geau de casino. 4523535 84,10% 551.410 30.25% 228 890 426% 74652 139% 928905 94.22% 4Lgio 420% 6734 059% 8744 099% Superior 152.934 56,87 3568 226% 448 0,28%5 om 0.59% QUADRO ¥I Pasigio sa Ocapacto eas Pessous Economicesrente Aticas da Popelecao da Babia — 1950* Empress | Come Meosbro | dores |_Prégris_ | Fanclia Beancos 322-704 2ai7e | 177378 93.457 231% =| SLBP% | 29.39% | 28;38% Mulatos 263452 | omer | sotosz | 193.484 840% 38369 | Sos | 5236% Negros 147074 5m | msm | pox 258% 975% | 20.26% 85% Amarelos ~ | w arf 4 eons. 99am | opm | omni Total 533.259 54320 | 604085 | 291977 00% =} = “1009 | 100% «| «1009 a | Sa a | Ponte: Instituzo Brasileito de Geografia ¢ Estatistica — Consetho Na- onal de VI Recenseantento Geral do Bresi-1950, série Re tional, Vol. Xcomo 1, Bitedo de Rabie, Rio de Yonsiro, eervigo gif do LB.G-E., p. 30 © Foram omitices es respostas sem declaracées de posicéo, QUADRO Vir Diplorndos com 10. soe ¢ mais no Popsisto da Babe, segundo « Cor ~ 1950" Cursos Realizador I I 1 T Brancos | 115410 25767 | 50% | sae 256% | BRZIG Mulatos | 78742 472 518 | 376% 15,2395 10,14% Negeos 17732 se | 88 ; oe 214% 13085 Amarclos | 42 4 6 | ona aig 0.196 Tost | 211.926 31.209 3698 | “1008 100% 100% te Atieas de Populacio do 1959" POSIGAO NA OCUPACAO: Car Tneprege | Conta | Membro gedos | ae Pripria Favsitis. Brancos 1846445 146 145 461 502 SAG 97% are Mutetos 83336 | 1386 12586 a 296 Negros: | 238.169 2561 28 526 1 1% {16% | “52% Amarcos «| 21320 | 979 20794 1% 58% 5AM Tors? 2189 070 159-281, (530208 100% 100% 100% Fontes Instivuzo Bresiieiro de Geopratin ¢ Escatfstica — Conselho Nacional de Boctsten, VI Recesteanvenso Gerat do. Brasil — 1950 — Série Re- gional, Vol, XXV_— tomo 1, Ersado de Sao Paulo, Rio de Yracixo, Secvigo Gnlfice do I.B.G.E.E, 1954, p. 30. * Foramm omitidee as sespostas sem doclaragio de posisio. QUADRO DX Diplomados com 10 anor ¢ mois na Pepalario Br one, sepmndo @ cor | Brancos 1617436 zones | 44562 90,286 963% | 978% Pardos 31585 iss | * 1 18% 05% 04% Negros 76652 1879 95 43% 96% | 02% Amarclos 65723 7614 618 | 3,68 23% 135% sem Deteraio | 214 20 28 de Cor t 01% 007% | 006%. teas | Laps sevens | asz29 100% oom | tom Komte: op. cit, p. 24, © Fores: omitides 3. r¢spostes sexi declerartio de coc © de gran de casita: Foute: op. ci, p24 * Foram nepligerciadas as respostas sem decleragio em de ensina, CAPITULO Ut AALEM DA POBREZA: O NEGRO EO MULATO NO BRASIL? 1. Istredugio: © aspecto da situagio racial no Brasil, que mais impressiona, Spatece sob a negacio incisive de qualquer problema “Heil” oc ik cor”. O preconceito ¢ a diseriminscio ‘eaciais, bem eemonn Seategasio racial, so encarados como uma espécie de eoado ¢ de Febortamento vergonhoso, Dessa maneita, temos dois nivcis dhfecentes de percepeio da realidade © de cio ligador cones ‘cor? € a “rasa”: primeito, o nivel manifesto, em que a igualdade racial ¢ a democracia racial se presumem e proclamane segendo, 0 nfyel disfareado, em que funydes colateras agem através chance © além da cstcatificigio social Essa supetposigdo no é exclusiva das relagies racias, Apa ape can os ifteis da vida social, No caso das relagbes de rapa, Supe Como produto evidente da ideologia racial e da ntonia ta, cial prepoadesautes, ambas construidas éurante a escravidio pelo estrato branco dominante — os senhores Turais ¢ uzbanos. A exctividlfo nfo entrava em conflito com as leis ¢ a ttadieao cut tral portuguesas. A legislacdo romana oferacia is ordenagdes da Coroa os elementos merce dos quae seri possivel classificar os “Indios” ou os “africanas” como coisas, como bene inéveis, (52, © brsschte mubatho foi apresectado, acle primeira vez, em versio goadenseda, por octsifo dos semineios scbre Minorlet as Avie Foe Fonacer 3 4224 Unidos (The College of the Fiaser Lakes, Come, ene Ree 3 fe detente de 19699. Batlcarso patie: “Bead Peeks Nae Aegzo and the Muletio in Brazil", Journd de la Sacién ae Américanistes, M.S. Pats. Miso de [Homune, i849 (Tomo LVHE pe sree ee FO poctugn Manors ‘Carano. ‘estabelecer a transmisséo social da posigae social atraves da mae (de acordo com 0 principio parts seauitur ventrem), c negar 80 escravo qualquer condigéo humana (serous pertonanh non do fet, ele...-). Pot outro lado, a escravidéo era praticada em Pecuena escala em Lisboa, ¢ foi teatada nos Acores, Maceica, Gabo Verde ¢ Sao Tomé, preparande 0 caminko para © moclecnt sivtema agrétio. A escravidéo, todavia, enteava em conflito com « religiio € com os costumes criados pela concepeio catélicn do undo. Mas esse conflito, de netureza moral, nfo propercionon fo escravo, de umn modo geral, melhor condigio nem um tre, tamento mais hamano, como acreditava Frank Tanaebaum, Pro. wocou apenas uma tendércia para disfarcar as coisas, separando © permissivel do real. Niio obstante, o Brasil tem uma boa teadigGo incelectual de conhecimento penetrante, realista e desmascarador da situacsa racial. Primeizo que tudo, 0 orgulbo conservador dera origem & distingSes muito claras {como acontecia, de ordinério, cony os senhores e algumas famflay bruncas aristocréticas ¢ attogante, mente auto-afitmativas em questées de desigualdade racial « dite. Tencas de ragas). Em segundo Iogar, algumas figutas de prol, Hideres dos ideais de emancipacio nacional cu do abolictoniemo, caine José Bonifécio de Andrada e Silva, Luiz Gama, Perdigio Milheitos, Joaquim Nabuco, Antonio Bento etc, tenteram mos, frat a natureza do comportamento e das orientagdes de valor dos [pfancos em relislo aos negros ¢ mulatos. Em terceiro higar, os “movimeatos negras” depois da Primeita Guersa Mundial (sion mente em Séo Prulo ¢ 20 Rio de Janeico, durante os anos 20, 30 © 40), assim come as conferéncias de intelectuais negros sobre felagoes de raga contribuiram Para uma percepeio ¢ uma expla- hiagilo novas e realistas da complexa situacio racial brasileing (Os resultados de modemas investigagGes sociolégicas, antto- PoWbiuicas ou psicolégicas (Samuel Lowrie: Roger Bastide. ¢ Flo. Hestin Fernandes; L. A. Costa Pinto; Oracy Nogueira; A. Guen telro Ramos; Octavio Tani, Fernando Henrique Cardoso e Rec tito Jardim Moreira; Thales de Azevedo; Charles Wagley, Mar. vie Harris, Henty W. Hutchinson e Ben Zi merman; René Wibelto; Joao Baptista Borges Pereira; Virginia Leone Bicudo: Anicla Ginsberg; Carolina Martuscelli Roti; Dante Motcira Leite ts), confismatam © aprofendaram os dados descobertos por Autores anteriores, No presente exame, limitar-mec a trés tGpicos pais: as raizes da ozdem social competitiva do Brasil; algu. wt Provas objetivas de desigualdade racial e o sen significado 63 socioldgico; modelo brasil saciais, 2. As Raines da Ordem Social Conipetitiva nu Brasil: « Como ocosreu em todos os patses madernos em que ¢ dun: lao esteve Tigacta 2 explaragio colonial ¢ ao sinremng de plancas &@o. 8 sociedade brasileira enfrentou grinces difieuldndes oh dif fEe,¢ a ategractio di ozdcm social competiciva, Literalmeate te lendo, essa orden saci! suryla cons a tuptuta’do vole a colonial, mas a sua evolucio foi antes uin fenémeno urbana, até @ dermdcito quartel do século XIX, A escravidio ¢ a aces importiacia dos libertos como origem de umn categoria socfal Sun Poder aguisitivo forum um grande obstaculo a dferenctucte ©. wunfversalizgio da ordem social competitiva, “A guste gone Ginhecida. Como assinalon Lovis Couty, a desvalorinacio et dlegridacio do tubalbo produzidas pela escravidio Inyreaicocon

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