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Revista Jurídica da Presidência Brasília v. 13 n°100 Jul/Set 2011
 
p. 227 a 261
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Apontamentos sobre Hermenêutica Jurídica
MARIÁ BROCHADO
Doutora em Fiosoa do Direito (UFMG). Professora Adjunta de Fiosoa do Direito e de Introdução ao Estudo do Direito (UFMG).Artigo reebido em 14/01/2011 e aproado em 27/08/2011.
4
SUMÁRIO: 1 A interpretação do Direito 2 A superação dos métodos de interpretação mediante  puro raciocínio lógico-dedutivo 3 O método de interpretação pela lógica do razoável
4 Referências bibliográcas
RESUMO: O texto em questão apresenta uma abordagem panorâmia da Herme
-
nêutia Jurídia ássia, apontando distinções reeantes e os rumos que a emprei
-
tada metodoógia de ompreensão do Direito em tomando após as rítias da Hermenêutia Fiosóa e da tese da ógia do razoáe
.
PAlAvRAS
-
cHAvE: Hermenêutia
 
Interpretação
 
Apiação
 
Razoabiidade.
 
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Apontamentos sobre Hermenêutia Jurídia
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Notes on Legal Hermeneutics
ABSTRAcT: This artie presents an oer
-
iew on assia lega Hermeneutis.
 It underlines relevant distinctions and in-
diates the diretion that the methodoo
-
gia projet undering the interpretation of law has foowed after the ritiism deried from Phiosophia Hermeneu
-
tis and luis Reaséns Sihes’ theory of the ogi of the reasonabe.KEYWORD: Hermeneutis
 
Interpretation
 
Appiation
 
logi of the Reasonabe.
Notes sur l’ Herméneutique Juridique
RÉSUMÉ: cet artie présente une appro
-
he panoramique de ’Herméneutique  Juridique assique et indique des dis
-tinctions importantes et la direction
que e projet méthodoogique de a ompréhension du Droit a pris en on
-
séquene des ritiques proenant de de ’Herméneutique Phiosophique et de a théorie de a ogique du raisonnabe.MOTS
-
clÉS: Herméneutique
 
Interpré
-tation
 
Appiation Raisonnabiité.
 
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Mariá Brohado
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A interpretação do Direito
1.1
Introdução etimológica
A 
paara hermenêutia deria do adjetio grego
hermeneutike
, também reatio ao erbo
hermenêuein
. “Signia dearar, anuniar, interpretar ou esareer e, por útimo, traduzir. Apresenta, pois, uma mutipiidade de aepções, as quais, entretanto, oinidem em signiar que aguma oisa é ‘tornada ompreensíe’ ou ‘eada à ompreensão’” (cORETH, 1973, p. 1). O Deus grego mensageiro-aado Hermes era um mediador entre a inguagem diina e a humana, esareendo, re
-
eando aos humanos o sentido das proposições diinas. Portanto, a paara herme
-
nêutia proaemente estaria igada à atiidade de Hermes, que tinha a missão de transmutação, “no sentido de transformar tudo aquio que utrapassa a ompreensão humana, em ago que essa inteigênia onsiga ompreender” (PAlMER, 1997, p.24).
 Já em Roma, encontramos a palavra
interpretatio
, equiaente à hermenêutia no
 
grego, e a referênia reigiosa também é aqui susitada. Espeua-se que a atiidade
do
áugure
, espéie de intérprete que tinha por missão reear a ontade dos deuses aos homens, espeiamente do goerno romano, tenha sido referênia para a paara interpretação. Os augures tinham por função
[...] aonsehar os goernantes, iis ou miitares, om base na iênia dos presságios: a signiação do ôo dos pássaros, da disposição das íseras de um anima, ou do apetite das gainhas sagradas, por exempo. Graças a esse poder reigioso, os áugures aabaam deidindo a reaização de as
-
sembéias, ou jugaam a aidade das mais ariadas deisões dos agentes púbios. Sua inuênia era tão grande que uma das primeiras deisões de Augusto, ao se tornar imperador, foi a de se dearar prínipe e mestre do oégio augura. (cOMPARATO, 2006, p.53)
Suspeita-se que a eitura feita peas íseras, enontrando sentidos entre
 
elas,
teria dado origem à paara interpretação, pois que isumbrados “inter partes”, e daí
interpretatio
, omo a atiidade de ariação, esareimento a partir dessa eitura feita entre as partes internas do anima.
1.2
A finalidade da interpretação
A naidade da interpretação é a ompreensão, ou seja, a apreensão de ago já onstruído por outra mente (a do autor da obra) om a qua o intérprete estabeee

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