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ESCA UTNE LA VATA AT TO MTT 7 CW iy. bein Ml YA VIMY UL HENS TIN IST ATW RTT URES: “san zalile el ET 7) 3 A pesquisa baseada nas artes: propostas para repensar a esquisa educativa® Tradugao de Tatiana Fernadez [ Fernando Hernandez foenaee Versio modificada e atualizada em 2010 de “La investigaci6n basada en las artes: propuestas para repensar la inves- tigacion en educacién”. Universidad de Barcelona 86, Educatio Siglo XXI, n. 26, p. 85-118, 2008. 39 ene iiiiiees ad Um ponto de partida ho como professor na Faculdade de Be sidade de Barcelona, onde pro- de aprendizagem ¢ de pesquisa adamentayio disciplinar das artes, las Artes da Unive move experié relacionadas especialmente a partir da Psicologia da Arte, ¢ da ural das representagdes 10 também relagdes en- anilise do significado f) tre cultura visual, artes visu: » inicio da minha relagio com o campo das artes visuais tentei explorar alternativas daquilo que se ifica”,” de ma- ce ¢ dos artistas, Pesqu 10. Desde e edue: considera como “investigagio cien » ficassem exclu- neira que o rigor e as demandas 1 idas das formas de indagagdes que tratam de captar processos vinculados a diferentes formas de experi- Uma delas seria a artistica (HERNANDEZ, a qual vinculo as artes & edu éncia 2006). Esta pos cagio, tem estado presente em minha trajetoria, tanto em projetos de investigagio competitivos (HERNANDEZ, 2003-2006; LINDBLAD, 2004- 2007; SANCHO, 2003-2006) como em orientagdes de teses doutorais (MARGAL, 2006; SANCHEZ DE SERDIO, 2007) e em ages especificas de for- magio de professores (HERNANDEZ; SANCHO, 2006). Os primeiros passos desta relagao entre arte € educagao s4o os que agora aponto. A partir da publicacéo do livro que José Gimeno ¢ Angel Pérez (1983) coordenaram, tive 4 oportunidade de descobrir, pela primeira vez, uma influéncia e aporte das artes 4 educagéo que ia além das contribuigées da Educagao Artistica, Refiro-me & proposta de avaliacéo que Elliot Eis. ner (1981) propds com base nos procedime le (PEREZ, 1983), Quando, 1980, Eisner propés beta nacre aries rece tos da nos anos avaliagdo le estava assinalando o Neste capitulo, “Investigacién” ome foi tra Some “Investigagio”. (NT) |! "duzido literalmente 40 caminho que colocava em relagéo conhecime, experigneias derivados das artes visuais on cepgdes e priticas relacionadas & educacio Naquele momento nio tive a consciencig MOS @ \ ™ con. escolar, da im. portincia que esta relagio teria na minha poser trajetéria como docente pesquisador no campo da educagao, das artes visuais e da cultura Visual, Mas serve aqui para marcar um primeito esbees da minha relagao com a tematica que exploro Neste capitulo. Alguns anos depois, em 1993, a partir da mj. ‘aha proximidade a proposta de educacio em arres da Arts Propel, que o grupo Zero da Universidade de Harvard apresentava sob a lideranga de Howard Gardner ¢ David Perkins, encontrei, pela primeica vez, a sugestio de introduzir 0 uso do portfélio de artista como estratégia para a avaliacio compreen. siva (SANCHO; HERNANDEZ, 1998). Tampouco era consciente de como a representacéo do pro- cesso de aprendizagem por meio de portflios itia influenciar na minha maneira de favorecer a cons- trugio de experiéncias de aprendizagem na escola ¢ universidade, Estas experiéncias constituem uma porta de entrada que me permitiram explorar os transitos entre as artes € a educacao. © mesmo pa- rece acontecer agora com o movimento denomina- do Investigacion Baseadas en las Artes (IBA)* que se iniciou como parte da virada narrativa na pesqui- sa em Ciéncias Sociais (CONELLY; CLANDININ, 1995, 2000; LAWLER, 2002) a principio dos anos 1980 ¢ que vincula, a partir de uma dupla relacio, a investigagao com as artes. Por um lado, a partir de uma instancia epistemolégica-metodologica, da qual se questiona as formas hegeménicas de inves- tigagao centradas na aplicagao de procedimentos que “fazem falar” 4 realidade; e por outro, por meio do uso de Procedimentos artisticos (literarios, ees panko), r0* © Investigacién baseada en las artes (IBA), em es- an A ' © seu equivalente em Pesquisa Baseada nas Artes, b Portugués, ¢ Arts-based Research (ABR) em inglés. s, perarmatives, wasicats) ps NEMS © EXPETIENCLAS 96 dari Neste capitulo, estes dois eixon s: ent rebigdo come a nevessidude de explo posigdes alternativasy ty mas de represen reahdade que permitan mostear, complevidude, experigneias e rel P AS © relagdes que morn ate Sie tor Auhas invisiveis pelas n cionais de dar conta das evid neias © andilises « serv mde fundamento A nare iva de invest Wsio. O contexto da investigacao baseada nas Artes Desde que o empirismo, ini Imente, © 0 positivismo, mais tarde, estabeleceram as bases do denominado método cientitico, naturalizot relagdo de carter univoco entre pesquisa cientifiea ¢ investigagio. Neste vinculo, a pesquisa cien 1 aquela que, de uma maneira ou de outra, se upde objetiva de inte a aplicagio de uma sé- sustenta na observagio, que s um fendmeno, ¢ medi mos de controle ¢ fiabilidade. As rie de_mecani condigdes deste tipo de investigagio devem gerar resultados que possam ser reproduziveis, verificé- veis, extrapoliveis, generalizaveis e aph visio da pesquisa cientifica pode-se locali que marcou © pensamento tro da corrente dualis ocidental durante quase trezentos anos € que signi- ‘ou, por exemplo, aceitar como necessiria a se- paragdo entre 0 sujeito que observa e pesquisa, 0 objeto observado, ¢ sobre o que se pesquisa. Além dera que tanto © processo como os do mais, cor resultados da pesquisa convém que sejam matema- tizados, isto é, reduzidos a términos: numéricos, em defesa de maior objetividade e confiabilidade. As condigdes para que se realize este tipo de pesquisa so, sobretudo, as que acontecem no laboratério. ao como forma nento desta tradigao com cnr. me forma tig? iderar Oo que é(€ nao €) pesquisa a ce nets jas Experimentais ave cientistas vinculados as Cine! 1s E oe realiz en pesquisa (de verdade), € 4 estabelece! me na vis 5 hierdrquica a este respeitr bém uma visio/posi co re ‘os cientistas sociais ow quem : manidades. De 44a) Jidade presente por exemplo, 1s no campo das Hui suas tarefar i racional er modo, a hegemonia da , se ; yuisa nay Ciéncias Experimentals projetou tna pesquisa nay Cié me fos outros Ambitos do conhecimento hum ; ulo XX, Assim, € por extensio, no comego do SEN comegourse a falar de Cigncias da Educagies 9°" cias da Linguagem, Cigncias Humanas, ae tando de estabelecer um proceso 6 4o da nogdo de método Sociais, trat magio mediante a incorporac lerava seu ley Gitncia - e daquilo que se consid : de investigagio — a qualquer outro campo discipli- nar, Desta maneira, um Ambito do conhecimento humano € legitimado quando se vincula com 0 substantivo ciéncia, ¢ a ciéncia tem sua razdo de ser enquanto realiza investigagdes adotando as condi- ‘Ges estabelecidas pelo método cientifico. Deste afa de mimese eles se derivaram, como aponta Bruno Latour (2000, p. 114), que “a imitagao das ciéncias naturais pelas ciéncias sociais tem sido uma comé- dia de horrores”. Mas depois da crise das teorias do positivismo edo cientificismo (IBANEZ, 1981, 2001a), a nogao de investigagao e a forma aborda-la foi se amplian- do ¢ estendendo para além da limitada nogao de Pesquisa cientifica, que nao permite o estudo de fendmenos complexos ¢ fluidos, como sio aqueles que encontram maneiras de doté-los de significa- dos das atuagées e experiéncias dos seres humanos. A esta linha de pensamento contribuiu de manei- ra notével 0 posicionamento ‘construccionista® (GERGEN, 2000; IBANEZ, 2001b) de onde se vem questionando as seguintes considerages, que conformaram a visio moderna sobre a investigacao 41 visuais, performativos, musicais) para dar conta dos fendmenos ¢ experitncias se dirigem ao estudo em questao. Neste capitulo, estes dois eixos sio postos em relagio com a necessidade de explorar, entre posigdes alternativas, formas de representagio da realidade que permitam mostrar, a partir de sua complexidade, experiéncias e relagdes que normal: mente so tornadas invisiveis pelas maneiras tradi- cionais de dar conta das evidéncias ¢ anilises que servem de fundamento a narrativa de investigagao. O contexto da investigacao baseada nas Artes Desde que o empirismo, inicialmente, e 0 Positivismo, mais tarde, estabeleceram as bases do denominado método cientifico, naturalizou-se uma relagao de caréter univoco entre pesquisa cientifica ¢ investigacdo. Neste vinculo, a pesquisa cientifica seria aquela que, de uma maneira ou de outra, se sustenta na observagio, que se supe objetiva de um fenémeno, e mediante a aplicagao de uma sé- tie de mecanismos de controle e fiabilidade. As condigdes deste tipo de investigacio devem gerar resultados que possam ser reproduziveis, verificé- veis, extrapolaveis, generalizaveis e aplicdveis. Esta visio da pesquisa cientifica pode-se localizar den- tro da corrente dualista que marcou o pensamento ocidental durante quase trezentos anos e que signi- ficou, por exemplo, aceitar como necessiria a se- paragdo entre o sujeito que observa ¢ pesquisa, 0 objeto observado, e sobre o que se pesquisa. Além do mais, considera que tanto 0 processo como os resultados da pesquisa convém que sejam matema- tizados, isto é, reduzidos a términos numéricos, em defesa de maior objetividade ¢ confiabilidade. As condigdes para que se realize este tipo de pesquisa sio, sobretudo, as que acontecem no laboratério. dicho como forma sta trae quis le- z (endo 6) PES Iams de some ne em omente a vou, eS 3s Ciencias eee realizam pesquisa (de verdade)» ¢4 S006 0 peito, bem uma visio/posigao eee os realiza os einai om OT gua alidade presente projetou-se © enraizamento de: cientistas por exemplo, suas tarefas no campo das Hl quer modo, a hegemonia da racion: s Ciéncias Experimentais mento humano- do séeulo XX; nna pesquisa na: nos outros ambitos do conheci eI mego Assim, e por extensio, 10 CO! nan 5 Ciencias da Educagao, Ciém Humanas, Ciéncias rocesso de comegou-se a falar de cias da Linguagem, Ciencias Sociais, tratando de estabelecer um process: legitimagao mediante a incorporacéo da nosio ds Ciéncia — e daquilo que se considerava seu método de investigagdo - a qualquer outro campo discipli- nar. Desta maneira, um ambito do conhecimento humano é legitimado quando se vincula com © substantivo ciéncia, e a ciéncia tem sua razao de ser enquanto realiza investigagdes adotando as condi- Ges estabelecidas pelo método cientifico. Deste afa de mimese eles se derivaram, como aponta Bruno Latour (2000, p. 114), que “a imitago das ciéncias naturais pelas ciéncias sociais tem sido uma comé- dia de horrores”. Mas depois da crise das teorias do positivismo e do cientificismo (IBANEZ, 1981, 2001), a nogo de investigacao ¢ a forma abordé-la foi se amplian- do ¢ estendendo para além da limitada nogéo de pesquisa cientifica, que nao permite o estudo de fenémenos complexos ¢ fluidos, como séo aqueles que encontram maneiras de doté-los de significa- dos das atuagGes ¢ experiéncias dos seres humanos, A esta linha de pensamento contribuiu de manei- ta notavel o posicionamento ‘construccionista’ (GERGEN, 2000; IBANEZ, .2001b) de onde s vem questionando as seguintes consideragées, ; qu conformaram a visio moderna sobre a investg, eet cientifica e a natureza do conhecimento que a rege: a) as origens sociais do saber: 0 saber, a raza, @ emogao e a moralidade nao residem na mente do individuo, mas nas relagées interpessoais; b) 2 in- fluéncia central da linguagem: as descrigdes que fa- zemos do mundo tomam forma na linguagem ou por mcio de ‘jogos de linguagem’; portanto, € 2 linguagem que possibilita e condiciona sua compre ensio; c) a investida politica do saber: a distingao entre fatos e valores é indefensavel, assim 0 sentido de objetividade tem que estar entre paréntese; d) 0 eu na relagao: 0 que esta na mente de um individuo ndo tem um cardter essencialista, mas € efcito da esfera social circundante. Nesta hist6ria, Bruner (1991) foi um dos au- tores que participou do questionamento critico do cognitivismo na Psicologia que se encontrava a de- riva, Para ele, 0 conhecimento e a criagio humana se dividem em duas modalidades. A ‘paradigméti- ca’, que busca a experiéncia baseando-se na prova légica, andlise racional e observagao empirica; ¢ a ‘narrativa’, que est mais centrada no ser humano, nas suas intengdes, experiéncias, desejos € neces- sidades. Bruner considera que 0 equilibrio entre essas duas modalidades, entre pragmatismo e ima- ginagao, é essencial para uma narrativa do eu sau- davel e, portanto, para uma construgdo identitéria ponderada. Para Bruner, seré a narrativa biogrétfica, 0 relato de vida, que opera de uma maneira simi- lar a uma conversagio entre o modo pragmético € © modo narrativo/imaginativo, onde cristalizam Fepresentagdes que possam influir e mudar as per- cepgves da identidade do autobidgrafo, O impacto dessas ideias nao s6 supdem abrir a investgagio a outras formas narrativas que re- Presentem geografas da experincia humana que fcaram ocultas ob a capa do objetivismo, mas tam- s6 um tipo de investigasio, mas gue nag forma de investigacdo possivel. Tratarse © Sigg de investigar fendmenos relacionados 7°", mentos humanos, relagdes sociais oy oe simbélicas. E por este motivo que, nq os se fala de investigacao etnogréfica, Vogl : eérica, narrativa, performativa (BOL ivan he 4 19 Com base nessas perspectivas que otham «2% SUjeitg ¢ a narrativa que dé conta da expetiéngs » Ei (1998, p. 283) aponta que se trata de site [1] abrir novas vias de pensamenty como chegamos a saber e explo’ formas, através das quais o que sien ® faz pblico. Tas formas, com ayer © cinema, a poesia € 0 video se uti durante anos na nossa culuta pars as pessoas a ver e compreender quetag, acontecimentos importantes. Emma siges se uilzaram na realizagio de pa sa educativa, Estudamos 0 ensino con he ramentas estadisticas muito poderos rara vez. estudamos também come ny arte pratica. Meu propésito € defender on tros modos de ver como pode se redizarg pesquisa em questées educativas, Para abrir essas novas vias € necessario refor- mular a crenga que estabelece que 0 conhecimento 86 se produz a partir do raciocinio que, de forma indutiva ou dedutiva, se relaciona com uma base empfrica. Um efeito desta reformulagio se reflee na virada narrativa na pesquisa das Ciéncias Sociais (DENZIN, 1997) e na perspectiva feminista de in- vestigagao (DAVIS; SRINIVASAN, 1994; VAULT, 1999). Esta tltima tem sido chave para questionat @ Posicao dos investigadores que ‘fazem falar’ & real dade, em lugar de permitir - atuando como medit- dores ~ que a realidade fale por si mesma. Out duas questées que também provém desta perspest va € a centralidade narrativa que se outorga 3V0r® 4 experiéncia do investigador € dos colaboradore © © resgate que se faz do biografico como elem fo central da reconstrugao da experiéncia vivida Destas e de o4 p de outras influéncias se mute clas volearei mais adiante, Aaui, 0 que isn, isner (1988) prope, de Dewey (1949), €queoconhenn® bem derivar da ex, ini a IBA, ea nna tradigao ‘isuais situando. a * -a.em relagio a tr Paradigmas: o interpretative, re co. Sullivan ary ‘an argumenta que as teorias explicativas € transformativas da aprendiza © empirista € o criti- Pesquisa e que ab. : s loazar na experience em 2004, p.109), Esta é uma das duos tadeoce eon” da qual se pode reconstnt ngeneas do an ir a génese da IBA. A ou- tra tem a ver com o auge da arteterapia, no final dos anos 1960. Este movimento levou muitos artistas a0 campo da arteterapia e da educacéo. Este transi- to fez-Se necessério para introduzir procedimentos que deram conta ~ incluindo formas artisticas - dos Processos terapéuticos e educativos. Como indica Speiser (s.d.), com este propésito se formula uma série de temas para serem abordados na perspectiva de investigacao que inclui processos ¢ representa- gGes artisticas [...] cada um dos pesquisadores apresenta exemplos dos seus intentos de dar signifi- cado a questées que s4o importantes a tra- vés de uma indagacio artistica. Todos esto implicados em seus processos criativos, Alguns exploram temas em torno do eu e identidade. Outros afrontam a questio da mudanga nos sistemas terapéuticos e edu- cacionais ou nas relagées cliente/estudante. Em cada um destes campos 0 compromisso do autor se vincula a uma forma particular de arte que Ihe serve como meio-guia para a indagagao e como veiculo através do qual emerge a investigagao. cia, como aponta MeNiff vineula-se (1998) em seu livro Art-Based Research fa diante de wecessidade de justificar o arteterapent are a que Ihe desse 2 Pos” e tinham. men- Esta segunda tende outros profissionais, de maneira sibilidade de se legirimar ¢ demonstrar du | que se dedicavam a saide tal. Contudo, além desta finalidade de legitimas ss pode-se observar que existe uma série de elemen’ : ‘comuns entre a tradigao da IBA vinculada a virada narrativa na pesquisa ¢ a necessidade de reconheci- mento da experiéncia artistica a partir da artetera- pia, Ambas utilizam métodos comuns para coletar evidéncias que dio conta da experiéncia, como 0 diglogo, a observagdo e a observagao participante- Além de procedimentos interpretativos similares de carater heuristico, hermenéutico, fenomenolégico € ‘sustentativos’ (vinculados a ‘grounded theory” ~ Teoria Fundamentada em Dados). Em ambas as tradigdes também se faz referéncia as quest6es éti- cas da arte, & propriedade da interpretagao ¢ a uma definigéo relacional da arte, que inclui habilidades que permitem trabalhar de maneira simultanea com 0s componentes visuais e verbais. Neste ponto ¢s- tamos em condigées de delimitar os possiveis signi- ficados da IBA, ‘um lugar entre os Que significa uma Investigacao Baseada nas Artes? Para Barone ¢ Eisner (2006), nao se pode Tesponder a esta pergunta sem formular previamente outras interrogacdes: em que medida as artes po- dem dar conta de um processo de investigacio? Em ue medida, tomando as artes como referentes para uma investigagao em um campo ‘fora’ das artes, se aportam significados que de outra maneira nao Poderiam emergir? Em que medida esta pergunta questiona 0 sentido comumente accito sobre 0 que € investigar - desvelar o que nio foi dito? 43 Para responder a essas perguntas, € necessi- rio primeiro explorar algumas das relaco, as atividades artisticas e de investiga @ Publicacao que acothe este capitulo, educagao. Pode-se apreciar uma primeira relagio aie S¢ Poderia denominar como tautologica que assume que em toda atividade art Propésito inves 10 ¢, devido + também a ica existe um stigativo, Ao tempo de uma finalida- de Pedagégica, no sentido de que constroem ¢ pro- ram FePresentagdes sobre parcelas da realidade, maneiras de olhar e de se olhar séo fixadas. A outta Posigdo, de carter complementar, considera que algumas atividades de investigag3o contém e mos- tram elementos estéticos ¢ aspectos de design que estio Presentes em todas as atividades educativas. Quan- to mais visiveis estejam mais podem se caracterizar ‘como Investigacdo Baseada em Artes (IBA). Os ele- mentos de design ou de ordem estética utilizados, Por exemplo, na Investigago Educacional Baseada em Arte, podem variar de acordo com o tipo de artes que utilize o investigador. a afetam, Estes elementos, por outra parte, Temos, assim, uma primeira definicao, que procede da reflexio de Barone e Eisner (2006), que configura a IBA como um tipo de pesquisa de orientagao qualitativa que utiliza procedimentos artisticos (literarios, visuais e performativos) para dar conta de priticas de experiéncia em que tantos os diferentes sujeitos (investigador, leitor, colabo- rador) como as interpretagées sobre suas experién- cias desvelam aspectos que nio se fazem vistveis em outros tipos de pesquisa. Mas esta nao é a tinica definicao. Para Leggo, Grauer, Irwin e Gouzouasis (2004, 2006), que formam parte do grupo de pes- Quisa A/ritografia da University of British Columbia, Canadé, os pesquisadores que seguem esta pers- Pectiva incorporam formas de investigagio visual, performativa, poética, musical e narrativas em seus Projetosinovadoresdepesquisa. Alémdeexpandirem 44 limites de préticas da pesquisa em Cién, Pesquisam como estas formas de das em Artes (PBA) podem ser util tad Icias Sociais, Pesquisas Basea. izadas, represen- 2s ¢ publicadas para audiéncias académicas, pro- fissionais ¢ de puiblico em geral. Para Huss ¢ Cwikel (2005), a finalidade da PBA é utilizar um método, uma forma de an: todos esses elementos de as artes como ‘lise, um tema, ou -atro da pesquisa qualitati- vas €, como tal, estaria dentro do grupo de formas alternativas de pesquisa utilizado na pesquisa em edueagio, cién rapia. Mullen (2003), por sua vez, considera que existe, na bibliografia sobre pesquisa qualitativa, uma ‘explosio’ de formas de PBA. © que estas for- mas de pesquisa tém em comum € que ao investigar sobre a criatividade (os contetidos da investigagio) € sua interpretacao (uma explicagao dos contetidos) © participante na investigagao se fortalece, a rela- cdo entre 0 investigador académico ¢ 0 investigador participante se intensifica e se faz mais igualitatia, € os contetidos sao culturalmente mais exatos e ex- plicitos, dado que se utilizam tanto formas de co- nhecimento emocionais como cognitivas. Por sua vez Mason (2002) e Sclater (2003) enfatizam a re- levancia dos métodos utilizados na PBA, na medi- da em que consideram que desenhos, histérias ou a utilizagao de vinhetas ou fotografias nao sé atu: am como aparatos atrativos numa entrevista, mas podem também ajudar a conectar abstracGes ide- olégicas a situacées especificas, ao utilizare, tanto elementos pessoais quanto coletivos da experiéncia cultural. Silverman (2000), por sua vez, considera que a finalidade de qualquer investigagao é permiti aceder ao que as pessoas fazem e nao s6 a0 que dizem. Neste sentido, as artes levam ‘o fazer’ a campo da investigacao. As definigses de PBA podem se localiza além dos autores citados, em outros, como Kapita (2003), Hervey (2000), McNiff (1998), All (1995) ¢ Linesch (1995), Baseando se na defini¢ de MeNiff’s (1998, p.13) Speiser (-d.) a considera como “um método de pesquisa que utiliza elemes. incluindo © fazer arte por parte do pesquisador, como maneivas de compreender 0 significado do que nés fazemos dentro da nossa pritica € do ensino”. Destas def nigdes pode-se re tos da experiéncia das artes criativas, alizar a seguinte caracterizacao da PBA de Barone e Eisner (2006): + Unilisa elementos artisticos @ estéticos. En. quanto a maioria das pesquisas em Hume. midades, Cigncias Sociais ¢ Educagio utiliza elementos lings ticos € numéricos, a PBA utiliza elementos nao linguisticos, relaciona- dos com as artes visuais ou performativas; + Busca outras maneiras de olhar e representar 4 experiéncia. Diferentemente de outras pers pectivas de pesquisa a PBA nao persegue a certeza, mas a ampliagao das perspectivas, a sinalizagao de matizes e lugares nao explo- rados. Por este motivo, nao busca oferecer explicagdes sélidas nem realizar predigdes ‘confidveis’, mas espera outras maneiras de ver os fenémenos aos que se dirige o interesse do estudos + rata de desvelar aquilo do qual nao se fala. ‘Também nao pretende oferecer alternativas € solugdes que fundamentem as decisées de politica educativa, cultural ou social, mas que propoem uma conversagdo mais ampla e profunda sobre as politicas e as priticas, tra- tando de revelar aquilo que costuma se dar como fato e que se naturaliza. E necessario reconh “er que estes propésitos nao sdo exclusivos da PBA/IBA. Existem perspec- tivas ps-modernas de pesquisa baseadas em tex- tos que tém uma proposta similar, como seria 0 caso dos diferentes tipos de pesquisa biografica (BOLIVAR, 1998); mas, na opiniao de Barone Eisner (2006), estas pesquisas nao possibilitam a transformagao dos sentimentos, pensamentos € imagens de uma forma estética, O desafio da [BA € poder ver as experiéncias ¢ os fendmenos aos que dirige sua atencao a partir de outros pontos de vista ¢ formular questes que outras maneiras de fazer pesquisa nao sao capazes de realizar. De cer ta forma, o que a IBA pretende é sugerir mais per- guntas que oferecer respostas. Quando pensamos na IBA s6 podemos fazé-lo considerando a utiliza- sao das imagens ou representagdes artisticas visu- ais ou performativas como elemento essencial da Tepresentagio das experiéncias dos sujeitos. Mas 0 ‘componente estético nao se refere s6 a estas repre- sentag6es visuais. Também se vincula & utilizacao, de textos que permitam, devido ao formato cle- gido, literdrio, poético, ou ficcional, conseguir 0 Propésito heurfstico que esta perspectiva possibi- lita. Textos que permitam aos leitores formularem questées relevantes € se olharem neles & maneira de um espelho que lhes interrogam. Neste sentido, Barone e Eisner (2006) for- mulam as trés formas de linguagem ou trés tipolo- gias de textos, que costumam se utilizar na PBA ¢ que esto resumidas no quadro 1. Y a/r/tografi aco erred nasi ada na pratica’ Rit i aL. Irwin e Stephanie Springsay| Traduca lucao de Tatiana Fernandez ne Springgay (°° prelo), “Alf ean "Este a tog thao € raphy as € uma versa ieee nate da di ised research”. ada do artigo publicado anteriormence como Irwit 1237 presentamos a8 caraci apreseni aan Recorremos a erudisio °% da pesquisa-agao jrica de arte -orias feministas © da critica i ve a merodologia relugar onde © de Neste capitulo, risticas da a/r/tografia. da fenomenologia, 0, das te pordnea para teorizar sob! com atengio no én wultineo da linguage™ po. contemy alr/rogrifica, sentido reside no uso sim il imagens, materiais, situagdes, esPa60 © ‘A afritografia cresceu de um senvolvimento, de fluida e-em constante desenvolvint NT capitulos desta obra sio uma evidéncia d38 01" compreensoes € préticas inerentes nesta mero’ oO’ gia, Os capitulos nio pretendem apontar uma && trutura linear ou rigida com que possamos definie funcionam em tens6es rentando € se a alr/tografia, Em ver disso, reciprocas, algumas vezes se complem estendendo, outras sendo discordantes. Esta ten- sao € importante para a evolugéo da metodologia ¢ para os aspectos substanciais da propria pesquisa. A pesquisa a/r/togrétfica nao esté sujeita a critérios estandardizados; antes permanece dindmica, fluida ¢ em constante movimento. No que segue, estabelecemos os aspectos teéricos do fazer da pesquisa a/r/tografica e sobre se tornar um a/r/tégrafo, As secdes teméticas se- guintes desenvolvem conceitos a/s/togrificos e dio exemplos do que é estar no meio de uma pesquisa arhografica, sae Fstamos esperando pelo dnibus que viaja a0 sul 3 pent Rus Granule, em Vancouver, na Columbi Brita ~, ie i : “Hanica, Canad, Durante semanas, ando do da rua, onde para o énibus, 1 estivemos ma vitrine que © que estévamos preseng;, 4 andy recente exibigao do artista (°° canade, fag Koh na Galeria Catriona Jetieg a Ge wm recentes exploragdes de Koh — sue e situagdes que definem © cong oP tm piiblicos e privados. Feito de atyes ® eq ¢ compensado, Koh modicoy oh Home da fachada de vidro da galeria, Uy 8? Pigg eruido dentro do epago, colado sy Foon . ite, da galeria, mas com um cristal removig © arg Pry mitir acesso livre da rua a estrutura, Em com a galeria, © pablico tem acesso an 24 horas por dia. Lembrando uma goa bus ¢ conjurando metéforas de conchae en (SZEWCZYK, 2005), este espago de entrclipa nao é, pablico ou privado. Expoe avulnerayig® do espago privado, a fragilidade da seguran - clusio e propriedade (KOH, 2005). Coma an Monica Szewezyk (2005) no texto da exponigs espago de Koh acentua tanto a contemplaiy tempo como o desperdicio, o “matar o tempo”, A intervensao arquitetdnica de Koh € um esug, transit6rio, esperando set preenchido e intern do, invitando a participagao no entrelugat. £ neva abertura, nesta incerteza e nesta exposicio de vn. tido que se situa este trabalho, e outros, como ato potencial que nos permite indagar e criat novos modelos de pensamento e de condurir a pesquisa Da mesma maneira que Koh apresenta um esp $0 vulneravel entre 0 privado e 0 pablico na sua Obra, podemos comegar a pensar na metodologia de pesquisa como situagdes relacionais que provo- cam sentido através da contemplagio, complicagio © como modelos alternativos de espago ¢ tempo? Atografia € uma metodologia de pesquis! Aue se enreda ¢ funciona como um rizoma, como ‘ine Por ale Deleuze e Félix Guattari ee = a — 1 se move € ae oe ‘wndinamico, O rizomaoperapor » Petversa mutagao e por fluxo de intensidads ue penerram 0 sentido, abrindo-o a0 que Jacq Derrida (1978, P. 293) chama de “o aind, vel, que comesa ase autoproclamar”, Ey versticial, aberto € vulnerével onde espago ©8 significa dos ¢ as compreensdes sio interra Jos © rompi- dos. Construindo sobre o conceito de rizoma, a at) rografia transforma radicalmente a ideia de teoria como um sistema abstrato distinto e separado da pricica. Em ver disso, a teoria € entendida coma tum intercimbio critico que € reflexivo, responsi. yo € relacional, que esté em continuo estado de reconstrugio € conversio em outra coisa. Assim, a teoria como pratica se converte em espaco vivo ¢ corporificado de pesquisa (MESKIMMON, 2003), Por sua vez, os rizomas ativam o entrelugar; uma incitagao para explorar os espacos intersticiais da criagio artistica, da pesquisa e do ensino, De acordo com Elizabeth Grosz (2001, p. 91: O espago do entrelugar € 0 local para as transformagées sociais, culturais e natu- rais: nao é simplesmente um espaco conve- niente para movimentos € realinhamentos; mas de fato € 0 Gnico lugar — 0 lugar ao re- dor das identidades, entre as identidades — onde se realiza, se abre a futuridade, supera © impeto conservador por reter a coesao € a unidade, Como a obra Shell de Koh, o entrelugar per- turba o dualismo (privado e publico ou nenhum). Similarmente, nao € simplesmente uma locagao ou tum objeto, mas um proceso, um movimento e des- locamento do significado (GROSZ, 2001). A crit cada arte contemporanea argumenta que a relagéo entre o artista e o lugar é um discurso complexo onde o lugar € re-imaginado como “situag4o”. O lugar se desloca de uma categoria geografica fixa 4 processos constituidos de relagdes sociais, eco- nomicas, culturais ¢ politicas (DOHERTY, 2004 KWON, 2002). © proceso se faz miiltiplo e in- fertextualmente situado no contexto das operagdes discursivas. £ antes um processo de invengSo que tf interpretagto, onde ou concelton estio marca: dos pelos compron iss08 © encontros sociais, Outra vex volts nos a Deleuze © Guattari (1994, p. 23) € seus argumentos: “os [clon itos* sao centros de vibragio vibragio, cada um em si e todos em relagio a todos 08 outros, f invés de coerir ou corresponder um ao outro”. O significado e Por isto que todos ressoam ao @ compreensio nao sio mais revelados ©u Pensados para emanar de um ponto de origem, antes so complicados por ser relacionais, rizomati- COs € singulares,* A alr/tografia como Pesquisa Baseada em Arte (PBA) esta situada no entrelugar, onde a teoria- como-pratica-como-processo-como-complicagao intencionalmente altera a percepgio e o conheci- ‘Mento através da pesquisa viva (SPRINGGAY et al., 2008; IRWIN et al., 2009). Nosso capitulo exami- hard 0s construtos ¢ as condigdes para uma pesqui- Sa a/r/togréfica: como uma PBP, como comunidades de pratica, como estética relacional e através de seis renderings* de compromisso. Este capitulo com- Plica © espago do fazer na pesquisa a/t/tografica, 2 De “[cloncepts” no original. (N.T.) A singularidade neste caso deriva-se das teorias do “ser plu- ral-singular”, de Jean Luc Nancy (2000). Para Nancy (2000), S€F um corpo é ser “com” outros corpos, tocar, encontrar ¢ se expor. Em outras palavras, cada corpo individual é trazido & vida por meio dos encontros com outros corpos. Ea relaciona- lidade entre 05 corpos que cria uma compreensao particular da existéncia compartilhada. A relacionalidade depende da singu- laridade. Um corpo singular, argumenta Nancy (2000, p. 85), “nao é individualidade; é, cada ver, a pontualidade do ‘com? que estabelece uma certa origem do significado e 0 conecta a uma infinidade de outras possiveis origens". Peter Hallward (2001, p. 3) incrementa isto com: “O singular procede inter- namente ¢ & constituinte na sua propria criagio. O singular, em cada caso, é constituinte de si mesmo, expressivo de si mesmo, imediato a si mesmo”. O critério nao é externo, mas esti de- terminado por meio de suas agoes. Nikki Sullivan (2003, p. 55) nos di mais uma explicagio: “Cada ‘um’ € singular (que nao & ‘a mesma coisa que dizer que cada ‘um ¢ individual) enguanto simultaneamente esté relacionado”. A singularidade, como um construto tedrico, demanda que 0 eu e 0 outro nao estejam mais em posigdes opostas. Corposleu nao podem existir sem ‘outros corpos/eu nem so ambos reduziveis um a0 outro. +0 termo renderings, no contexto da a/r/tografia, nao tem uma tradugio exata ao portugues, sio praticas conceituais. 1239 fe de questées sobre as posst- ta forma de Pp séri desdobrando uma bilidades e desafios de praticar ¢s quisa qualitativa. Suportes tedricos baseados na pratica io da PBP é alimentada pelas Nossa compreens pela pés-estruturalista, hermencutica rias feminista, s de conhe- ¢ outras que compreendem a produ cimento como diferenga, assim produzindo dife- rentes maneiras de viver no mundo (ST. PIERR 2000). Uma forma de compreender isto é atra vés das teorias do toque € da intercorporeidade (SPRINGGAY, 2003, 2004a, 2004b, 2005a, 2005b, 2006; SPRINGGAY, FREEDMAN, 2007). O pen- samento do Ocidente foi influenciado, fundamen- talmente, pelo racionalismo cartesiano que isola 0 ” do mundo sujeito distinto e auténomo, cuja “Vi estd separada e distanciada do objeto percebido. O significado de “Eu vejo” € comumente entendido como “Eu sei”. Portanto, a visio distante, objetiva € um meio para julgar ou examinar 0 fendmeno. No entanto, uma aproximagao fenomenoldgica, fe- minista e/ou a/t/togréfica para compreender através do toque re-configura as maneiras como percebe- mos os objetos, dando acesso 8 profundidade ¢ & superficie, a0 que esté dentro ¢ a0 que esta fora (GROSZ, 1994; MERLEAU-PONTY, 1968). O to- que expressa envolvimento ativo com o tema, O toque se converte em um modo de conhecimen- to através da proximidade e da relacionalidade ¢ aponta diferentes formas de dar sentido ao mundo, desafiando o mecanismo da percepgio visual, Si. milarmente, conduz nossa atengio as experiénciag Sensoriais € ao conhecimento que esta interconecta- do com nossos corpos ¢ com outros, Em contraste com o pensamento racionalsta que ee sistema ¢ ordem, classificando € cate- Borzando © mundo em termos dualistas (onde a 140 nsciéncia individual & considerag, pendente ¢ invisivel), as teo 8 do toque que os sujeitas ESCO intercomectaday. oe Maurice Merleau-Panty (1968, p, 144), ess ender € apreender por coexistencia®, 44 fe Naney (2000) reitera este conceit argumen Ie aque 0 significado ests consticuido entre yy te i s ayrfeorafia reside neste espago intercorpin j 00d aengiio as formas ¢ dobras dos corpos voy, gS Eun pensamento que rellete sobre a inerorpoy de, sobre seres)-em-relaio © sobre commaye de pritia, A pesauisa resulta em um proce ‘io esté separad do eorpe, mg intercambio que emerge do entrelagado de corpo e mente, ey, outro ¢ através das nossas interagies com o mundo © que emerge dessas comsideragées 6 um en, tendimento da corporeidade como um “estar em movimento” (ELLSWORTH, 2005). Todavia, exe “estar em movimento” no & 9 ato da mio meen. do 0 pincel, ou as pernas de uma dancarina send catapultadas no palco. Tal compreensio das anes € da corporeidade & limitante ¢ superficial, segun- do a teoria das miltiplas inteligéncias de Gardner, Enquanto 0 “movimento” pode ser corporifcado, nao & sempre assim, Dessa mancira, o pintor pode estender seus bragos cruzando a tela e pode ser uma agio descorporificada, Antes, a corporificagio esi constituida através do movimento, forga, agio ¢ transformagao do proprio corpo no proceso de“ fazer” (ELLSWORTH, 2005). Da mesma maneira, Elizabeth Ellsworth (2005, p. 121) argui: “a corpo- Tificagao nos coloca numa relagao de movimentos com forgas, Processos e conexdes com outras mane fas que sio imprevistas pela consciéncia e descone tadas da identidade”, Este corpo imediato, vivo ¢e™ desdobramento esté enredado com a compreensi? da situagao local e da especificidade do corpo- ident A corporeidade nao € sobre a ident on Per se, um tépico de ee a formativas, mas sobre subjetividade. tah a comporcidade nao € um sj eutivel de identidade, mas um semifcante cde multiplicidade existente na aoe Ue compreens6es © signifcasies celat {GAROIAN: GAUDELIUS, 2007, p92 ‘Assim mesmo, € perigoso sugerir que as artes jo mais adequadas para as formas de aprenina seme pesisa conporificada, Ito continoa a pe nara divisio cognitivalcorporal entre as artes ¢ Pr ptras disciplinas (sérias” ou “pesadas”), Em ver jhe, como Ellsworth (2005, p. 156) argumenta valgunssaberes nao podem ser transmitidos arcavés da linguagem” e, como tal, convida-nos a “tomar “onhecimento da existéncia de modos de saber que fecapam os esforcos da linguagem para referenciar jim mundo ‘consensual’, ‘literal’, ‘real”™. Este saber, entender Ellsworth, leva-nos além da “expli- casio” que pode ser mercantilizada, capturada, ¢ em essencia “ensinada”, em direcao a modos de sa- ber enraizados na corporalidade que esta em movi- mento, relacional ¢ singular. As artes, ou a pesquisa airtografica, argumentamos, oferecem potenciais intervalos de tempo-espago para “chegar a um sa- ber” (ELLSWORTH, 2005, p. 158). Pelo momento, um corpo recente de litera~ tura nas Artes ¢ na Educagao esté explorando as priticas inerentes no trabalho dos artistas ¢ edu- cadores como verdadeiras formas de pesquisa. O trabalho intelectual, imaginativo e perspicaz criado pelos artistas e educadores praticantes se baseia em formas de pesquisa recursivas e reflexivas compro- metidas com a teorizagdo para a compreensdo. Esta perspectiva contrasta com tradigses de longa data que empacotaram as artes € a educagao, onde a pes Quisa se compreende como um meio de coletar € interpretar a informagao usando tradig6es baseadas nas disciplinas das Ciéncias Sociais, como a sociolo- 8, histéria e antropologia, ou em Ciéncias Natu- Tals, como a biologia. Ainda quando estas tradigdes © seus paradigmas de pesquisa apontaram questOes tendem a pesui ls sa como ut fendmeno ou p. m meio para explicar 0 'ara revelar o significado, a PBP en- tende a Pesquisa como uma disposigdo para criat conhecim en to € compreensio através de atos de te- orizaca areas cn coma. Na primeira iestiniay a oe usadas para encontrar res- Gece 7 Na PBB a teorizagao através do oe F ocura oentendimento por meio — sees internas ao proceso de re. Em outras palavras, os ba te pase anaes em uma constante mento, uma procura, se desejar. Esta instancia ativa para a criagdo de conhecimen- to através da pesquisa revela suas praticas, fazendo suas pesquisas temporais, emergentes, gerativas e Fesponsivas a todos aqueles envolvidos. Muita gente vé os artistas como praticantes (BIRD, 2000; BROWN, 2000) € os educadores como praticantes (BRITZMAN, 2003). Graeme Sullivan (2005, p. 74), um defensor da pratica da arte como pesquisa, argumenta pela PBP ¢ aponta que a teorizago para a compreensio através da pratica esta “baseada na prixis do envolvimento humano € rende resultados que podem ser vistos como individualmente libertadores ¢ culturalmente iluminadores”. Ele continua afirmando: “Se a me- dida da utilidade da pesquisa € vista como a capaci- dade de criar novo conhecimento que seja individu- ale culturalmente transformadora, entio o critério precisa ir além da probabilidade ¢ da plausibilidade 3 da possibilidade” (SULLIVAN, 2005, p- 72). Estas ideias ressoam com o trabalho de Terrance Carson € Dennis Sumara (1997), que falam sobre pesquisa-agdo como uma pritica viva nee ve educacionais, a pesquisa do, professof ae a de pesquisa-asao baseada no praticante. Carsor 14 (LEGGO, 20015 SULLIVAN, 2000). Ay 4a, bases formas de compreender a exper, entre estas inca jo. integrals a uma inter € IDtratextualidage A ‘ticay medi jdeias e formam 0» fundamentos para a afr, viva que Peter Todas a es Formas de de educadores ues fe Sumara (1997, p. x¥) falam d shee adores de agio, estao profundat como pesquisa eraSig i Prey, der a experitneia ~ theoria, préxis poesig — tao envolvidas € comstituem formas rizomatica experimentar o mundo. Isto € importante ny me mento de apreciar a a/r/tografia como pesquisa, 4, sim, as praticas da pesquisa-agao (e da a/r/togras., sao praticas profundamente hermenéuticas e pig modernas, porque “nao s6 reconhecem a impor. tancia da interpretago propria € coletiva, mas ela, compreendem profundamente que estas interpre. tagdes esto em estado de devir € nunca podem se ee fixar em categorias predeterminadas € estéticas Como todos os artistas sabem, ogrande de: (CARSON; SUMARA, 1997, p. xviii). Enquanto as Safio de produzir obras que interrompam —Giversas formas de pesquisa se interessam em re. formas normalizadas de perceber ¢ com- jortar 0 conhecimento que jé existe ou em encon- preender é aprender a perceber de mancira P : fresca... Aprender a perceber diferente- trar conhecimento que precisa ser desvendado, a mente, entio requer se envolver em Pra pc.auisa-acdo e a alr/tografia esto interessadas ¢m cas qu, de certa maneira, nos removam de confortiveis habitos familiares. (grifo dos autores). € compreensao através de um proceso carregado de pesquisa (IRWIN et al., 2009), comprometidos com pr 1s: “experi¢ncias i ade das relagdes ent n a necessidade de pla abertura & complexi e pessoas”. Embora cles 50 um compromisso com a escritura P: eles também reconhe ara mudar ara viver uma em 0 vida de consciéncia, ° isso artistic Pi potencial do compromisso j os habitos de expresso. Dessa forma, as praticas eiras de ser confortaveis dadas de ante- iadoras de aprender a .s nassas praticas no so mane mao; so antes praticas desafi perceber diferentemente dentro das Carson € Sumara (1997, p. xvii) argu- coti criar as circunstancias para produzir conhecimento Quando perguntados sobre como conduzir uma vida comprometida com a pesquisa-agao edu- cativa, eles sugerem: Comunidades de pratica Quem somos fica completamente envolvi- A PBP € necessariamente sobre si mesmo, do pelo que sabemos e fazemos. Isto efeti- vamente elimina 0 cansativo problema da teoria/pratica que continua nas discussées__individuos comprometidos com a pesquisa estio ds pesquisa agdo educatva,jé que sugere sieuados em comunidades de pritica. Deborah gue aquilo que é pensado, aquilo que é re- presentado, aquilo que € atuado, sio todos _Britzman sugere que, para os professores, aspectos interligados da experiéncia vivida € como tal, nao podem ser discutidos ou interpretados separadamente. (CARSON; SUMARA, 1997, p, xvii, grifo dos autores), mas € também sobre comunidades de pritica. Os Teorizar sobre a propria experiéncia signi- fica se comprometer com as proprias capa cidades reflexivas para ser um(a) autor(a) da experiéncia... As fontes da teoria, entio, esto na pratica, na vida vivida dos pro- fessores, nos valores, erencas, profundss Convicgdes representados na pratica, mas de pensamento importantes para a alritografia contexto social que encerta tal pratica,enas telagdes sociais que animam os encontros Irfamos um passo a frente dizen do sab Gheoria), Lees fazer (praxis) ¢ ctiar (poesis) sao trés for- 142 lee prams O01, ps Oh enclizagen, HTZMAN, ») 4 petspectiva dialégica, ne eHAL € on pr jeanntes pre atividades reve sncialiente (ranstorn depen- tdoras por meio da de rans toorranleta As relages em MIO AE ENTE Os professores, catunlintes € socicdule S20 importantes para esta poctiva dtaleiion, Histo t a 1 € verdade para his © instar aqetistass tui alates dep Wes. AY relagdes nay . ica sd0 igualmente importan. tes. Os artistas nO CriaMt no vazio, O trabalho del $ nado ae trabalho dos eee no meio de comu- je relaci ext neces outros, © (eOTIZAGAO ACO niglades ale aillagto, Seia como artista, educador ou posnisador, os ar/tdgrafos reconhecem o trabalho dos outros na documentagao do préprio trabalho, muitos, isto sigznificaria assistir a exposigdes ou performances ou ler sobre artistas © comparti- thar estes conhecimentos no préprio trabalho a/s/ togeitico. ‘Também significaria ler sobre pesquisa educativa © compartithar 0 trabalho de pesquisa- dores educacionais. Priticas de citagio sio impor- tantes para uma comunidade de PBP que queira comprcender um corpo de literatura ¢ trabalho em set campo enquanto posicionam seu trabalho entre estes ¢ outros potenciais campos. Ainda mais, assim como os alr/tégrafos trabalham com outros, este potencial existe para muitos individuos € grupos que podem vir a ser a/r/tégrafos de uma maneira que scia apropriada a cles. Assim, professores do cnsino fundamental podem ser a/r/tégrafos traba- thande © m jovens criangas que podem se engajar em formas apropriadas de pritica a/r/tografica, Al- fernativamente, artistas baseados em comunidades Poem ser a/r/tégrafos trabalhando com membros deuma Comunidade que, por sua vez, podem che- SP a Ser a/r/tégrafos se refletirem sobre formas Pressupostas de ser na stncia, s suas comunidades, Em es- ‘Jo as situagdes intertextuais que provocam 4 Pesquisa a/rftogratica, Ado necessariamente as in- tengdes académicas, A alr/tografia se sustenta em praticas de artis: tas-educador cadores comprometidos com pesquisas vivas €M processo e € esta equi 7 - Uae de on cit Desi gue expoe aiden Squisador, As identidades de artis- ta/pesquisado ‘Wpesquisadorfprofessor existem contiguamente 2 Felagio uma a outra (SPRINGGAY; IRWIN. on KIND, 2005). Nas comunidades de "iografos, pode acontecer que existam comuni- dades separadas de artistas, educadores e pesquisa~ dores, no entanto € mais provavel que comunida- des hibridas de artistas, educadores € pesquisadores s¢ localizem nos espagos do entrelugar, para criar identidades autossustentadas inter-relacionais, que informem, melhorem, evoquem e/ou provoquem umas as outras. E aqui que uma definigao de artista ¢ educador deve ser considerada. A afr/tografia como pesquisa viva necessaria- mente abre o caminho para descrever e interpretar a complexidade da experiéncia entre os pesquisa- dores, artistas e educadores, assim como a vida dos individuos das comunidades com as quais eles in- teratuam. Em consequéncia, abre também os t6pi- cos, contetidos e condigdes da pesquisa, Ainda que a a/r/tografia privilegie as identidades de artistas, pesquisadores e professores dentro da sua denomi nagdo, € necessario estar atento sobre como estas identidades devem ser conceituadas. Por exemplo, educador pode ser um titulo mais inclusivo para a identidade do individuo que estamos imaginando. Muitos artistas e educadores questionaram as fron- teiras colocadas nas suas identidades ¢, como tal, interromperam a hegemonia da escolarizacao como um primeiro lugar para a educagio (BARONE, 2001), assim como a hegemonia das instituigdes do mundo da arte como primeiros guardides da arte € .s da arte. Com isto dito, ¢ importante 4o no contexto da a/r/tografia para significar qualquer das instituigde ressaltar que a educag: amplamente concebida 143 na compre- contexto interessado na aprendizagem, ‘ira, os edu- ‘ensio e na interpretacdo. Dessa mane! cadores que se consideram a/t/tografos 880 aqueles atos de aprendiza- cerpretagio dentro imilar, individuos comprometidos com compreensao ¢ int De maneita si icado da arte € am- tado aos gem, ensino, de comunidades de aprendizes. dentro da a/t/tografia, 0 signifi oduto orien plamente concebido como pr do ou questionado sentidos, entendido, interpreta através de compromissos empreendidos ¢ encon- tros com o mundo. Os artistas estéo comprome- tidos, entio, com atos de criagao, transformags0 € resisténcia. Os artistas engajados na a/r/tografia nao necessitam viver da sua arte, mas precisam se cOm= prometer com 0 engajamento artistico através da pesquisa viva em andamento. Os educadores enga- jados na alr/tografia nao necessitam ser professores de todos os niveis escolares nem educadores do en- sino superior, mas precisam se comprometer com 6 engajamento educacional que esteja enraizado na aprendizagem e nas comunidades de aprendiza- gem através da pesquisa viva em andamento, Des- sa maneira, tanto artistas como educadores podem ser encontrados em muitos contextos usando uma gama de ideias e materiais. Talvez 0 mais impor- tante, as relagdes entre artistas e educadores nao ficam claras usando nossas definig6es. Tanto artis- tas como educadores esto interessados na aprendi- zagem, mudanga, compreensao e interpretacio. E neste complexo espaco do entrelugar que a dispo- sig4o para a pesquisa nos proporciona uma identi- dade de pesquisador por meio de um compromisso implicito e explicito com a pesquisa viva em anda- mento através dos domfnios da arte e da educacéo (BARONE; EISNER, 2012; FELS; BELLIVEAU 2008; KNOWLES; COLE, 2008; LEAVY, 2003), sam ss en ie ee ee mhecimento € compreender através de processos que tendem a pesquisa. De fat . 0, 05 144 ajeftGgrafos se interessam na criagio de anna ae que produzam conhecimento © compreesan, steavés de processos artisticos e educaciong ig tendem a pesquisa. Oentrelugar relacional do espacoeo tempo ‘Aaajr/tografia é um processo de desdobramen- to da arte ¢ do texto juntos (arte nesse sentido po. deria signifi pesquisa artis que intenciona complica a compreensio, a maneira como chega- mos a saber € viver no espago € no tempo é subse- quentemente alterada. Desde a década de 1960, o artistas visuais se engajaram no que chegou a ser co- nhecido como site-specific’. Miwon Kwon (2002) identifica varias permutagoes desta forma, incluin- do o site-determined, site-oriented, site-referenced, site-responsive e site-related.* Todos estes termos esto interessados nas relagdes entre a obra de arte ¢ 0 lugar, em como a produgao, apresentagao € re- cepcao do trabalho incorporam as condigées fisi- cas de uma locago particular (KWON, 2002). No car poesia, miisica ou outras formas de ica). Como metodologia de pesquisa mente desestabiliza a percepgio ¢ entanto, como argumenta Kwon, o préprio termo “site” (lugar) necesita ser redefinido, no através de termos fisicos ou locais, mas como uma figura complexa na relacao instavel entre a locagao € a identidade. Em outras palavras, os lugares nao es- to geograficamente ligados, mas informados pelo contexto, onde o “contexto é um impeto, um estor- Vo, sujeito de inspiragdo e pesquisa para o proces- so do fazer artistico” (DOHERTY, 2004, p. 8). 0 “ Conceito de site-specific refere-se a obras de arte criadas : paar Para um lugar determinado. (N.T.) cee . Sonctito a apresentam como sfe-daterm lugae, sttaveferencad on lugar, site-oriented ou orientado pelo epeaetferenced ow referente a0 Inga, steresponsive Ou a0 lugar e site related ou relacionado ao lugar. (N.T) lugar nao é uma categoria fixa, mas estd consticuido econémicos, culturais, ¢ politicos que Nicholas Bourriaud (2001, 2002, 2004) chama de estética relacional. Como Kwon, Bourriaud argui que, na arte realizada para um, lugar especifico ou para “situagses” (DOHERTY, 2004), 0s processos € resultados estio marcados pelo engajamento social. Estes encontros rompem as relagées convencionais entre artista, obra de arte ¢ audiéncia, Os artistas e as obras de arte que so 0s sujeitos de investigagio de Kwon e Bourriaud criam arte como uma atividade social til: “As for- mas que [0s artistas] apresentam ao piblico nao constituem obras de arte até que sio efetivamente usados ¢ ocupades pelas pessoas” (BOURRIAUD, 2004, p. 46). Nesta instncia, a audiéncia vai de contemplar a arte (intérprete) a interlocutor (ana- lista). Em muitas instancias, as audiéncias séo efeti- através dos processos sociais, vamente chamadas em um tempo e lugar especifi- cos onde se tornam participantes ativos na obra de arte e, assim, argumenta Bourriaud (2004), modos alternativos de socializacao s4o criados. Shell exem- plifica este deslize entre o tempo e 0 espago como. uma condigao de estética relacional. A criagio de sentido na estética relacional esta encarnada nas ne- gociagées intercorporais entre as coisas. Outra maneira tebrica de compreender a relacionalidade entre tempo e espaco é através da teoria da complexidade. De acordo com Carson e Sumara (1997, p. xviii), a teoria da complexidade “sugere que o mundo est organizado e padroni- zado de maneira que pode ser matematicamente modelado; mas nao de uma maneira previsivel, linear, ou deterministica”. A compreensio emerge “das relagdes associativas entre interagées comple- xas” (CARSON; SUMARA, 1997, p. xix). Portan- to, a maneira como fazemos sentido das i agens € textos € contingente nas relages entre artistas (ou, neste caso, a/r/t6grafos), obras de arte, texto e audigncia € contexto social, cultural, econdmico € Politico, € a maneira como estas relagées sio alte- radas pelo que Derrida (1978, p. 293) chama de “ainda inomindvel que comega a se proclamar” — aquilo que nao é logo aparente. Assim, o relacio- nal € mais do que s6 0 contexto que suporta os “sitios” particulares; mas as potencialidades e “ou- tros ques” (SPRINGGAY; IRWIN, 2004, grifo do tradutor) que continuamente evolucionam e Pprovo- cam sentido. Merleau-Ponty (1968) escreve sobre este tecido entre si mesmo ¢ os outros, dentro € fora como uma maneira de chegar a se envolver em um encontro poroso que leva as aberturas entre os sujeitos. Cada sujeito € criado nos encontros com outros, € € este com que cria a contiguidade e dis- tingao das formas estéticas (NANCY, 2000). Nas culturas de Ocidente, o tempo € tipica- mente percebido como algo que flutua de maneira uniforme sem se importar com os individuos, even- tos ou contextos. O espaco € tipicamente percebi- do como um contéiner ou como um vazio vasto (espago exterior). Mas artistas, poetas, performers, novelistas mésicos percebem 0 tempo e 0 espago diferentemente. Geralmente falam do tempo como pausado, duradouro, cambiante, interrupto ¢ espa- ado e falam do espaco como aberto, fragmentado, continuo, confinado e conectado. Os artistas veem © tempo € 0 espaco como condigées de vida: condi- s6es de compromisso com o mundo através da pes quisa. Depois de tudo, 0 modo como percebemos © tempo € o espago no mundo afeta 0 modo como nos comprometemos com 0 mundo. Os educadores veem também 0 espaco € 0 tempo de maneiras particulares. As teorias da com- plexidade da aprendizagem (DAVIS; SUMARA; LUCE-KAPLER, 2000) descrevem a aprendiza- gem como participativa e evolutiva. A aprendiza- gem, portanto, nunca é previsivel e € compreen- dida como uma participacao no mundo, um tipo de coevolugao dos que aprendem juntos. Assim, os aprendizes teriam interesse em manter o ritmo com 145, evolutivas- es, mas € Jizagem Fel entescorP> as circunstaneias cambiant ae Podemos chamar isto de aprenstie atidades contiguas come ae nid cor rapesquisndor TORSO aay dicoramnicas, mas CST naquela teoria/pritica, OU que nio sio separadas oF ¢ me desdot e RA; LUCE-KAPLER, faz m: da outra” p. 73) ais sofistica~ “envolvidas & (DAVIS; SUMAI a medida que @ da, flexivel ¢ eva nogio de dobra ou dot 2004a, 20046) é importa que sugere um niimero in aprendizagem S€ iva denero dos aros relacionals A i rradura (SPRINGGAY, 2003+ re para a a/r/ropratia POT finito de entidades on- 1 separadas em partes: itas dobra- grafia dulantes que nao podem set de fato, através do des/dobramento, mu 1m resultar. Compreender a a/t/t0} luras pode aa se entidades como desidobrando 0 fendmeno e/ou sendo estudadas “pode ser simultaneamente visto como um todo, como parte de um todo, ou como uma compilagio complexa de pequenos todos” (DAVIS; SUMARA; LUCE-KAPLER, 2000, p. 73)- essa maneira, a aprendizagem se interessa com os conceitos criticos antes que com fatos isolados, ¢ na interconexao entre conceitos-aprendizagem como rizomaticos. Praticas conceituais: renderings As condigées de pesquisa da a/t/tografia resi- dem em varias nogées de relacionalidade: pesquisa relacional, estéticarelacional e aprendizagem rela- = Micke Bal (2002) e Irit Rogoff (2001) in- ueneiatam nosso trabalho através das de interdisciplinaridade. Rogoft gu Enfase sobre o processo an me mite um espaco ative discusses que uma es que no método per. procuramos em Bal a compreensig gy. com estes aspectos relacionais, Ej", 7 4 as es an - We gala 2 interisciplnaridade “deve rogue heuristicas € metodolgicas em conceit, ‘em métodos” (BAL, 2002, p. 5). Interpretamos 08 COnceitos com jy xiveis, intersubjetivos, em cua anilise mee se formam novas compreensoes ¢ Signiticagy ny tes conceitos ou representagses, como Prefer, chamé-los, guiam nossa participagéo atiyy a trugio de significados através da pesquisa educacional e criativa. As representacées ofgs possibilidades para 0 engajamento e nag = sozinhas, mas em relagao recfproca. Apesae tentador sugerit que estas representagtes sig! critério para a a/r/tografia, s40 mais bem percehian como possibilidades de representagio, As representagdes esto embebidas no py, cesso de pesquisa artistica (em qualquer forma de arte, como miisica, danga, drama, poesia ¢ ane, visuais) e escritura, Estar engajado na althografg significa pesquisar no mundo através de ambos og res aco AMisicg Processos, notando que nao sao separados ou pro. cessos ilustrativos, mas processos interconectados, A pesquisa relacional, através da estética relacional € da aprendizagem relacional, € constitutiva antes que descritiva ¢ pode representar o trabalho de un nico a/r/tégrafo, uma comunidade de a/t/tOgrafos c/ou © processo de construgio de significado de : im e dao forma a Pesquisa viva. Por tan- ee so conceitos que ajudam os 'ratar as condi¢des do seu trabalho a outros. membros de uma audiéncia. rece, Outras ocasiées, interpretamos cada IRWIN, oe em grande detalhe (SPRINGGAY: deste capytul ‘ON KIND, 2005), Para o propésto te cada = qh gostariamos de descrever brevemet Pesquisa i 4% seis representagdes: contiguidade, Verberagie Va, metdfora/metonimia, aberturas, !e S € excessos, contiguidade Contig a representagto que nos compreender as ideias contidas na ar/to, fia que se encontram aajacentes uma a outra, se J ourra ou existem na presenga de ou tea. bro avontece de muitas maneiras. Em primeiro uidhde se encontea com as identidas pesquisador ¢ professor que existem neamente do lado do outro. A ra () ow dobradura rerrata este ato de contiguidade, Em Joh entre wat, a contiguidhade se encontra nas rela- to & entre a modalidade da arte e da escrita com, em ou sobre rte © gral gies © fendmeno, E, em terceiro lugar, a contiguidade se er contra no ato da dupla formagio de imagen entre a arte como atividade ou produto e a a/t/te como uma re- presentagio simbalica das trés identidades consti- tuinres. Viver a vida de um a/r/tégrafo € viver uma vida contigua sensivel a cada uma destas relagdes ¢ particularmente aos entrelugares, ‘star atento do entrelugar abre oportunidades para uma pesquisa viva dindmica. Os a/r/t6grafos podem visualizar estes espagos de entrelugar como parte de uma dobra interminavel, ou como dobras dentro de dobras, ou como conceitos ligados. Os alt/t6grafos aos espago podem ou nao escolher incluir texto como parte das suas modalidades artisticas, mas sempre vio in- cluir materiais textuais no seu proceso em curso (RICHARDSON, 1994). Isto inclui citar e se enga- jar com o trabalho de outros artistas, pesquisadores ¢ educadores enquanto os a/r/tégrafos perseguem suas pesquisas. Estes atos de contiguidade assegu- ram uma pesquisa relacional e uma aprendizagem inseridas na atengao da estética relacional. Pesquisa viva A pesquisa vivaéoutrarepresentacio, refere-se As priticas de vida em andamento do que é ser um artista, pesq detinido adore educador. Antes haviamos 8 pesquisa viva como “um encontro cor Porificado constituide através de compreensses ¢ experiéncias visuais € textuais antes que em meras FepresentagSes visuais e textuais” (SPRINGGAY; IRWIN; WILSON KIND, 2005). Ainda que esta definigdo privilegie o visual, qualquer forma senso- rial pode ser aplicada. A pesquisa viva € um com- promis de vida com as artes e a educagio por meio dos atos de pesquisa. Estes atos sio formas TeGricas, praticas € artisticas de criar significado através de formas recursivas, refletivas, responsi- vas, mas resistentes de compromisso. A a/r/tografia € uma metodologia de corporificagao, de compro- misso continuo com o mundo: que interroga, mas que celebra o significado. A a/r/tografia € uma prati- a viva, uma vida criando experiéncia examinando nossa vida pessoal, politica e/ou profissional. Usa uma orientagio fluida entre as relagdes contiguas descritas antes. Seu rigor procede da sua continua disposicao refletiva e reflexiva ao engajamento, anélise e aprendizagem. Isto pode incluir qualquer forma de coleta de dados qualitativa, como entre- vistas, artigos jornalisticos, didrios de campo, cole- ses de artefatos ¢ documentagio fotografica, mas também pode incluir qualquer forma de pesquisa artistica, como pintura, composigéo de miisica escritura de poesia, € pesquisa educativa, como ar- tigos jornalisticos de estudantes, didrios do profes- sor, narrativas e entrevistas com pais de familia. A disposigao refletiva e reflexiva para a anélise estard em curso e poderd incluir aspectos das formas tra- dicionais de pesquisa etnogrifica, como comparar constantemente temas que emergem dos dados. 0 que é importante € a atengdo que se da ao anda- mento da pesquisa por meio de uma evolugao das questées da pesquisa ¢ das compreensées. Este € 0 ponto em que a diferenga entre tese e exegese € importante. Muitas pesquisas sio desenhadas para responder, enderegar ou criar uma proposicao que 147 S€ antecipa no argumento, Isto se chama de tese Na a’r/togratia ¢ em outros typos de pesquisa bat es. ma ENEKESE dda nas artes ou intormada pelas expheayio, a exegese € um, do trabalho, Nas ar € mans adequada, Un critica do significado dent para m frequen tes, uma evegese & estendida inchiir qualquer documentagio que contestualize © trabalho (SULLIVAN, 2005) € ajude a eriticar Alguns. ou proporcione diregio as ideias tebric. mentagio ndo seja feoricos sugerem que esta doe considerada pesquisa, mas 0 método pelo qual as ieias si concebidas (FREITAS, 2002). Nos prefe- rimos ver o proceso da pesquisa viva, tanto quan- to a compreensio criada através da pesquisa, como into de pesquisa, Uma parte de todo o empreendim exegese proporciona oportunidades para fazer exa- tamente isso. De tempos em tempos, os a/r/tégrafos podem escolher compartilhar suas pesquisas com outros, € € aqui que os produtos sio refinados ¢ compartilha dos. Estes momentos de pesquisa viva nio so re is, mas compreensées de experiéneias de sultados finai através do tempo. Assim, a a/r/tografia necessi tum seguimento continuo através do tempo enquan- to se procuram maneiras de disseminar aspectos do trabalho em momentos particulares do tempo. Os artistas podem querer mostrar ou desempenhar suas obras em locais particulares enquanto os edu- cadores podem querer compartilhar seus engaja- jcos em outros locais. Ainda que mentos aca estes intentos ndo sejam separados, ha tempos em ue certos aspectos podem ser ressaltados para au- diéncias anicas. Metdfora e metonimia Os a/t/tégrafos naturalmente usardo a ter-

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